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5ª TURMA RECURSAL DOS JUIZADOS ESPECIAIS CÍVEIS E CRIMINAIS DA

BAHIA

PROCESSO Nº 0003255-28.2014.8.05.0141
CLASSE: RECURSO INOMINADO
RECORRENTE: BRUNO DEL SARTO AZEVEDO
RECORRIDO(A): BANCO DO BRASIL S/A
JUIZ PROLATOR: GLAUCO DAINESE DE CAMPOS
JUIZ RELATOR: ROSALVO AUGUSTO VIEIRA DA SILVA

EMENTA

RECURSO INOMINADO. AÇÃO INDENIZATÓRIA. FILA EM


BANCO. DEMORA NO ATENDIMENTO, ULTRAPASSANDO
LIMITE TEMPORAL MÁXIMO ESTABELECIDO EM LEI
MUNICIPAL. SENTENÇA QUE JULGOU IMPROCEDENTE A
PRETENSÃO DO CONSUMIDOR. MANUTENÇÃO INTEGRAL
DO JULGADO. NÃO PROVIMENTO DO RECURSO. Não é todo e
qualquer ilícito que gera danos de natureza moral. Na hipótese em
julgamento, o simples fato de ter permanecido na fila bancária mais
tempo que o prazo previsto na legislação municipal para o
atendimento, não representou para a consumidora envolvida dor
íntima intensa, sofrimento psicológico agudo, padecimento, aflição,
angústia, humilhação, vergonha, intranquilidade psíquica ou qualquer
outra grave consequência relacionada à personalidade humana, sendo
mero aborrecimento, comum da vida cotidiana, incapaz de merecer
compensação pecuniária.

Dispensado o relatório nos termos do artigo 46 da Lei n.º 9.099/95.

Circunscrevendo a lide e a discussão recursal para efeito de registro,


saliento que o Recorrente, BRUNO DEL SARTO AZEVEDO, pretende a reforma da
sentença lançada nos autos que julgou improcedente a pretensão deduzida, através da qual
busca a condenação do Recorrido, BANCO DO BRASIL S/A, ao pagamento de
indenização por danos morais, por ter permanecido sem atendimento na agência bancária
informada, por sessenta e três minutos, integrando fila, descumprindo a Lei Municipal n.º
1.493/99 que impõe atendimento em 20 minutos.

Presentes as condições de admissibilidade do recurso, conheço-o,


apresentando voto com a fundamentação aqui expressa, o qual submeto aos demais
membros desta Egrégia Turma.

VOTO

A sentença recorrida, tendo analisado corretamente todos os aspectos do


litígio, merece confirmação integral, não carecendo, assim, de qualquer reparo ou
complemento dentro dos limites traçados pelas razões recursais, culminando o julgamento
do recurso com a aplicação da regra inserta na parte final do art. 46 da Lei nº 9.099/95, que
exclui a necessidade de emissão de novo conteúdo decisório para a solução da lide, ante a
integração dos próprios e jurídicos fundamentos contidos do julgamento de primeiro grau.

A título de ilustração apenas, fomentada pelo amor ao debate e para realçar


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o feliz desfecho encontrado para a contenda no primeiro grau, alongo-me na fundamentação
do julgamento, nos seguintes termos:

Restou provado que, após ingressar na agência bancária informada, o


Recorrido integrou fila organizada no local, somente logrando atendimento após duas horas
de espera.

Embora seja inegável que a demora no atendimento causou ofensa à Lei


Municipal n.º 1.493/99, que prevê, em regra, o atendimento ao consumidor no prazo máximo
de vinte minutos, entendo que o evento apurado através desta ação por si não gerou prejuízo
de natureza moral passível de compensação pecuniária.

Embora seu conceito esteja em permanente construção, entende-se por


dano moral ou extrapatrimonial aquele que atinge, fundamentalmente, bens incorpóreos, a
exemplo da imagem, honra, dignidade, privacidade, auto-estima, prestígio social, reputação
etc.

Indenizável é o dano moral sério, intolerável para o homem médio, aquele


capaz de, em uma pessoa normal, provocar uma perturbação nas relações psíquicas, na
tranquilidade, nos sentimentos e nos afetos, extrapolando a naturalidade dos fatos da vida
social.

Não é todo e qualquer ilícito que gera danos de natureza moral. A situação
que merece compensação pecuniária deve adequar-se à moral do homo medius da
comunidade onde vive a vítima, não podendo escapar ao sentimento comum da pessoa que
vive em sociedade e deve se acostumar com seus acasos.

Ao Juiz cabe a tarefa de distinguir o dano moral do mero incômodo ou


aborrecimento do dia a dia, do simples inconveniente ou desconforto, a serem creditados às
dificuldades do relacionamento humano ou da vida em sociedade, que também podem causar
tristeza de ordem pessoal, sobretudo nos indivíduos de sensibilidade frágil ou comprometida
por algum abalo psicológico. A análise das características do suposto fato gerador poderá
fazer concluir não ser ele apto a ocasionar dano moral.

A organização de fila para atendimento ao público é fato cotidiano no


exercício da cidadania. Sempre existiu e sempre existirá.

É óbvio que em algumas situações a demora no atendimento extrapola o


aceitável, vindo em boa hora a Lei Municipal n.º 1.493/99 para coibir os excessos.

No entanto, o simples descumprimento da legislação municipal não


importa, por si só, em danos morais ao consumidor, havendo de se perquirir caso a caso.

Na situação em análise, o simples fato de ter permanecido mais tempo que


o prazo previsto na legislação municipal para o atendimento, não representou para o
consumidor envolvido dor íntima intensa, sofrimento psicológico agudo, padecimento,
aflição, angústia, humilhação, vergonha, intranquilidade psíquica ou qualquer outra grave
consequência relacionada à personalidade humana, sendo mero aborrecimento, comum da
vida cotidiana, incapaz de merecer compensação pecuniária, conforme bem concluiu a MM.
Juíza a quo.

Em se arbitrando indenização em casos singelos tais, nada mais do


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convívio humano, que represente ilícito e seja levado à apreciação do judiciário, perderá a
conotação de danos morais, banalizando o instituto.

Embora o assunto não esteja pacificado na jurisprudência, havendo


inclusive precedentes favoráveis ao entendimento esposado pelo Recorrente, aos julgados
trazidos à colação pela MM. Juíza que atuou no primeiro grau, contrários a essa concepção,
acrescento outros:

- INDENIZAÇÃO - FILA DE BANCO - PERMANÊNCIA - LEI MUNICIPAL Nº 4.069/2001 - DANO


MORAL - NÃO OCORRÊNCIA - Não demonstrado nenhum abalo à honra e nem qualquer situação de
dor, sofrimento ou humilhação, não há falar-se em dano moral, uma vez que a permanência em filas
bancárias, por si, não exterioriza dano que exceda a esfera dos aborrecimentos por qualquer um
suportáveis na vida em sociedade. (TJMT - RIn 7799/2009 - Rel. Luiz Octavio Saboia Ribeiro - DJe
09.09.2010 - p. 185)

- RESPONSABILIDADE CIVIL - CEF - NÃO CONFIGURAÇÃO DE DANO MORAL - MERO


DISSABOR - APELAÇÃO IMPROVIDA - I- Não restou comprovado nos autos dano moral passível de
indenização, não bastando a simples alegação de demora no atendimento bancário para fazer incidir a
reparação por danos morais. II- Para se configurar dano moral, é necessária a ocorrência de fato
extraordinário, o qual resta ausente no caso concreto, uma vez que o tempo que se despende em filas de
banco, em que pese não ser agradável, é advento comum, cotidiano até. III- O mero dissabor,
aborrecimento ou simples mágoa estão fora da órbita do dano moral. IV- Apelação a que se nega
provimento. (TRF-2ª R. - AC 2007.51.14.000219-8 - 6ª T.Esp. - Rel. Des. Fed. Reis Friede - DJe
31.03.2009 - p. 136)

- CIVIL - INDENIZAÇÃO POR DANOS MORAIS - ESPERA POR TEMPO SUPERIOR A 15


MINUTOS EM FILA DE BANCO - MERO ABORRECIMENTO - IMPROVIDO - 1- Trata-se de
Apelação Cível interposta contra sentença do Juízo a quo que julgou improcedente o pedido do autor de
indenização por danos morais em razão de ter aguardado por atendimento na CAIXA ECONÔMICA
FEDERAL por mais de 15 minutos. 2- A indenização decorrente de dano moral visa ressarcir a ofensa à
honra, à imagem, a dor moral. O mero aborrecimento não pode ser alçado ao patamar de dano moral. 3-
Não demonstrou o autor que o tempo gasto na fila do banco, por período de uma hora e quarenta
minutos, foi capaz de ensejar qualquer sofrimento ou lesão psicológica. 4- Apelo improvido. (TRF-5ª R.
- AC 2009.85.00.000693-9 - 2ª T. - Rel. Des. Francisco Barros Dias - DJe 23.04.2010 - p. 314)

- INDENIZAÇÃO - DANO MORAL - ESPERA EM FILA DE BANCO - ABORRECIMENTO DO


DIA-A-DIA - A espera em fila de banco, ainda que gere aborrecimento e irritação, não agride os direitos
da personalidade, pois decorrentes do dia-a-dia da vida moderna, não configurando portanto dano
moral. (TJRO - AC 00120070003091 - 1ª C.Cív. - Rel. Gabriel Marques de Carvalho - J. 29.04.2008)

INDENIZATÓRIA - CONSUMIDOR - FILA DE BANCO - LONGA ESPERA PARA


ATENDIMENTO - FATO INSUFICIENTE, POR SI SÓ, PARA CARACTERIZAR DANO MORAL,
QUE NÃO SE DÁ IN RE IPSA - INDENIZAÇÃO AFASTADA - A simples espera, por prolongado
período, para atendimento em fila bancária, ainda que seja motivo de aborrecimento, não acarreta, por si
só, dano de ordem extrapatrimonial. Hipótese concreta em que a espera não passou de mero dissabor,
comum da vida cotidiana, sobretudo em se considerando que a parte autora não preenche os requisitos
para atendimento prioritário, o que poderia gerar, por excepcionalidade, situação desencadeadora de
dano moral. O desatendimento das imposições da Lei municipal apontada na sentença (nº 5611/02), que,
de fato, tem o condão de gerar sanção de cunho administrativo, não autoriza a conclusão de que daí
decorra a obrigação de indenizar. RECURSO PROVIDO. (TJRS - RIn 71002709681 - 2ª T.R.Cív. - Relª
Fernanda Carravetta Vilande - J. 15.09.2010)

- APELAÇÃO CÍVEL - AÇÃO DE INDENIZAÇÃO POR DANO MORAL - INSTITUIÇÃO


FINANCEIRA - DEMORA NO ATENDIMENTO BANCÁRIO SUPERIOR A 15 MINUTOS -
APLICAÇÃO DO CÓDIGO DE DEFESA DO CONSUMIDOR - INEXISTÊNCIA DOS REQUISITOS
PARA A CONFIGURAÇÃO DOS DANOS MORAIS - MERO DISSABOR - RECURSO PROVIDO.I - O
fato de o consumidor ter esperado na fila do banco por período superior ao previsto na lei municipal nº
2.636/98, não configura lesão moral, mas apenas meros aborrecimentos. Precedentes. Recurso conhecido e
provido. Decisão unânime. (TJSE - AC 2010200160 - (3760/2010) - 1ª C.Cív. - Relª Desª Clara Leite de
Rezende - DJe 07.05.2010 - p. 30)

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Vale ressaltar, por fim, que o Recorrido disponibiliza aos seus clientes
diversos canais de atendimento, sendo o contato físico com funcionário do banco, salvo raras
exceções aqui não comprovadas, opção pessoal do consumidor, que, como é sabido, tem
suas inconveniências.

Assim sendo, ante ao exposto, voto no sentido de CONHECER e


NEGAR PROVIMENTO ao recurso interposto pelo Recorrente, BRUNO DEL SARTO
AZEVEDO, para confirmar todos os demais termos da sentença hostilizada, deixando de
condená-la ao pagamento das despesas processuais porque esta Turma Recursal tem
reconhecida a impossibilidade quando a sucumbência atinge os beneficiários de gratuidade
judiciária.

Salvador-Ba, Sala das Sessões, 14 de julho de 2015.

Rosalvo Augusto Vieira da Silva


Juiz Relator

COJE – COORDENAÇÃO DOS JUIZADOS ESPECIAIS


TURMAS RECURSAIS CÍVEIS E CRIMINAIS

PROCESSO Nº 0003255-28.2014.8.05.0141
CLASSE: RECURSO INOMINADO
RECORRENTE: BRUNO DEL SARTO AZEVEDO
RECORRIDO(A): BANCO DO BRASIL S/A
JUIZ PROLATOR: GLAUCO DAINESE DE CAMPOS
JUIZ RELATOR: ROSALVO AUGUSTO VIEIRA DA SILVA

EMENTA

RECURSO INOMINADO. AÇÃO INDENIZATÓRIA. FILA EM


BANCO. DEMORA NO ATENDIMENTO, ULTRAPASSANDO
LIMITE TEMPORAL MÁXIMO ESTABELECIDO EM LEI
MUNICIPAL. SENTENÇA QUE JULGOU IMPROCEDENTE A
PRETENSÃO DO CONSUMIDOR. MANUTENÇÃO INTEGRAL
DO JULGADO. NÃO PROVIMENTO DO RECURSO. Não é todo e
qualquer ilícito que gera danos de natureza moral. Na hipótese em
julgamento, o simples fato de ter permanecido na fila bancária mais
tempo que o prazo previsto na legislação municipal para o
atendimento, não representou para a consumidora envolvida dor
íntima intensa, sofrimento psicológico agudo, padecimento, aflição,
angústia, humilhação, vergonha, intranquilidade psíquica ou qualquer
outra grave consequência relacionada à personalidade humana, sendo
mero aborrecimento, comum da vida cotidiana, incapaz de merecer
compensação pecuniária.

ACÓRDÃO

Realizado julgamento do Recurso do processo acima epigrafado, a


QUINTA TURMA, composta dos Juízes de Direito, EDSON PEREIRA FILHO, ROSALVO
AUGUSTO VIEIRA DA SILVA e ELIENE SIMONE SILVA OLIVEIRA decidiu, à
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unanimidade de votos, CONHECER e NEGAR PROVIMENTO ao recurso interposto
pelo Recorrente, BRUNO DEL SARTO AZEVEDO, para confirmar todos os demais
termos da sentença hostilizada, deixando de condená-la ao pagamento das despesas
processuais porque esta Turma Recursal tem reconhecida a impossibilidade quando a
sucumbência atinge os beneficiários de gratuidade judiciária.

Salvador, Sala das Sessões, 14 de julho de 2015.

JUIZ EDSON PEREIRA FILHO


Presidente

JUIZ ROSALVO AUGUSTO VIEIRA DA SILVA


Relator

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