Você está na página 1de 4

Momentum

O panorama, de uma janela mais ampla e alta

Marcos Gouvêa de Souza, diretor-geral da GS&MD – Gouvêa de Souza

Uma série de eventos conjugados permitiu uma visão mais ampla do momento
particularmente especial que vive o Brasil, quando olhado de fora para dentro.
Inicialmente alguns encontros em Paris, depois de visitas em Lyon, também na
França, nos novos conceitos Carrefour Planet inaugurados no final de agosto,
como parte de um esforço em âmbito mundial para reinventar o negócio de
hipermercados.
Seguidos de três dias de discussões sobre as perspectivas do varejo global, no
World Retail Congress (WRC), evento que a GS&MD - Gouvêa de Souza
representa no Brasil e que aconteceu em Berlim, reunindo perto de 1.100
dirigentes, empresários e executivos do setor de todo o mundo, com forte
participação de empresas européias, asiáticas e do Oriente Médio. Muito
possivelmente, o evento mais realmente global do varejo.
A esse encontro seguiu-se o segundo evento anual do Ebeltoft Group, aliança
que congrega 18 empresas em 16 mercados, e que comemorou os 20 anos de
sua fundação com uma reunião histórica, ocorrida em Cambridge, próxima a
Londres, onde foram debatidos a situação e o momento de cada um dos países
participantes. A GS&MD - Gouvêa de Souza integra o Ebeltoft Group desde
2002 e representa os países latinoamericanos, tendo assento no Board da
organização desde 2004.
Do conjunto desses eventos e das inúmeras discussões e análises realizadas,
algumas delas por nós mesmos em Paris, Berlim e Cambridge, é possível
tentar destilar algumas considerações que poderiam ser incorporadas como
uma visão maior do cenário global e seus impactos no mercado brasileiro.
1) A economia mundial vive um período de cautelosa recuperação, balizada
pela retomada do mercado norte-americano, e a visão, quase consensual, é
que essa recuperação será gradual e com leve crescimento, afetando com isso
o nível global de importação e exportação, gerando problemas para as
indústrias brasileiras mais dependentes do mercado externo;
2) A gradual recuperação do mercado externo se fará mais rapidamente nos
países em condições de retomada do consumo interno, como é o caso da
Alemanha e Inglaterra, que apresentam um melhor desempenho em seu
varejo;
3) A China e a Índia continuam a puxar a economia global, porém, no caso da
Índia, sua intransigência em abrir seu mercado poderá gerar alguma forma de
sanção não ostensiva, o que foi sinalizado, nas entrelinhas, na última visita
feita na semana passada pelo presidente Barack Obama àquele país. É
importante considerar que China e Índia, no indicador de maturidade do varejo
global (GRMI), estão entre aqueles que apresentam os menores números e
sua variação recente é relativamente pequena, a despeito do aumento da
presença de <i>players</i> globais no varejo da China, mas com participações
ainda relativamente baixas;
4) Outros mercados da Ásia apresentam melhores potenciais de crescimento,
porém são relativamente restritos em tamanho, o mesmo acontecendo com os
diversos países do Oriente Médio que estão sendo afetados pela retração
global, mas beneficiados pela recuperação dos preços do petróleo;
5) A Europa como um todo ainda sofre fortemente as consequências da
retração global. O crescimento médio dos países da zona do Euro previsto para
2010 é de 1,6%, depois de uma queda de 4% em 2009. O desemprego
continua a ser o maior problema, tendo alcançado no mesmo mercado 9,4%
em 2009 e deverá aumentar para 9,6% em 2010. Nos países do Leste
Europeu, apesar da recuperação econômica de países como Rússia e Ucrânia,
com crescimento previsto de 4,9% e 4,3% em 2010, respectivamente, o
desempenho não é suficiente para reverter o quadro geral de desestímulo e
desemprego, que tende a manter o mercado andando de lado nos próximos
anos;
6) Em todos os eventos dos quais pudemos participar, nunca o Brasil foi
lembrado de forma tão positiva. Existe uma percepção generalizada de que o
conjunto de fatores que permitiu ao país ser menos afetado pela crise
econômica global permanece e que uma pequena recuperação pode ajudar
ainda mais o país;
7) De outro lado, existe uma razoável clareza na percepção de que eventos
como a Copa do Mundo e Olimpíadas, associados com o pré-sal, criam uma
situação particularmente interessante para o país; e que cabe apenas ao Brasil
saber estruturar e organizar-se para capitalizar tudo que será mostrado,
promovido, ressaltado e falado, o que poderá gerar um divisor de águas entre o
passado incerto e um futuro seguro. Parece haver consenso que o acaso e
alguma visão nos trouxeram a um ponto de transição quântica para o país e
que tudo, aparentemente tudo, depende quase exclusivamente de como vamos
administrar de forma competente e visionária o caminho para o futuro;
8) Parece haver também razoável consenso, aos olhos dos analistas
internacionais, de que a eleição presidencial no Brasil não deverá afetar, ao
menos no curto prazo, o comportamento da economia e do mercado
brasileiros;
9) A consequência mais destacada em todos os momentos é a atratividade
atual do mercado brasileiro, por seus próprios méritos pela ausência de outras
opções tão interessantes como as que o país oferece no momento;
10) Dentre os aspectos estruturais destacados, devem ser mencionada a idade
média da população brasileira, inferior aos 30 anos, que gera uma forte
predisposição à experimentação e ao consumo. Destaca-se também o nível de
urbanização superior a 80%, um dos mais altos do mundo, que cria
consumidores que se comunicam e são facilmente acessados pela mídia, de
massa ou segmentada;
11) Outro fator que tem sido destacado é a predisposição ao novo e ao
moderno pela população brasileira, que a colocou entre as maiores propensões
ao Neoconsumidor e ao Metaconsumidor, como mostrado pelos estudos
realizados pela GS&MD - Gouvêa de Souza;
12) A atratividade do mercado brasileiro já está aguçando o interesse dos
conglomerados globais do varejo, sendo que os que aqui já estão concentram
investimentos na expansão e muitos outros querem entrar e buscam parceiros
ou sócios para tal;
13) Vale destacar que o varejo brasileiro apresentou no período 2004-2009 um
crescimento no seu nível de maturidade de 87,7%, o maior dentre todos os
mercados pesquisados pelo estudo sobre o Índice de Maturidade do Varejo
Global (GRMI), como resultado do seu esforço de reposicionamento e
pensamento estratégico, proporcionados pela economia estabilizada e mais
bem planejada;
14) O conjunto de todos esses fatores, se de alguma forma caracteriza
elementos altamente positivos, também gera preocupação com o aumento do
inevitável nível de competitividade, que deverá pressionar a margem bruta das
empresas do setor, ainda que com crescimento das vendas;
15) E, finalmente, as empresas precisam aprender a pensar em termos de
economia estável por um horizonte de até dez anos, processo que nos últimos
tempos foi relegado a plano secundário e agora precisa ser resgatado para a
real prática do pensamento estratégico.

Você também pode gostar