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5ª TURMA RECURSAL DOS JUIZADOS ESPECIAIS CÍVEIS E CRIMINAIS DA

BAHIA

PROCESSO Nº 0006474-81.2013.8.05.0271
CLASSE: RECURSO INOMINADO
RECORRENTE: COELBA – COMPANHIA DE ELETRICIDADE DO ESTADO DA
BAHIA
RECORRIDA: NILZEA VIANA DA CRUZ
JUIZ PROLATOR: JÚLIO GONÇALVES DA SILVA JÚNIOR
JUIZ RELATOR: ROSALVO AUGUSTO VIEIRA DA SILVA

EMENTA

RECURSO INOMINADO. RESPONSABILIDADE CIVIL.


SUSPENSÃO IMOTIVADA DA PRESTAÇÃO DE SERVIÇO DE
ENERGIA ELÉTRICA. DÍVIDA JÁ LIQUIDADA. DANOS MORAIS
CONFIGURADOS. ARBITRAMENTO EM VALOR ADEQUADO
AOS FATOS. MANUTENÇÃO INTEGRAL DA SENTENÇA. NÃO
PROVIMENTO DO RECURSO.

Dispensado o relatório nos termos do artigo 46 da Lei n.º 9.099/95.

Circunscrevendo a lide e a discussão recursal para efeito de registro,


saliento que a Recorrente, COELBA – COMPANHIA DE ELETRICIDADE DO
ESTADO DA BAHIA, pretende a reforma da sentença lançada nos autos que a condenou ao
pagamento de indenização por danos morais em favor da Recorrida, NILZEA VIANA DA
CRUZ, no valor de R$ 5.000,00 (cinco mil reais), em razão da suspensão do fornecimento
do serviço de energia elétrica sem dívida pendente de pagamento.

Presentes as condições de admissibilidade do recurso, conheço-o,


apresentando voto com a fundamentação aqui expressa, o qual submeto aos demais membros
desta Egrégia Turma.

VOTO

A sentença recorrida, tendo analisado corretamente todos os aspectos do


litígio, merece confirmação integral, não carecendo, assim, de qualquer reparo ou
complemento dentro dos limites traçados pelas razões recursais, culminando o julgamento do
recurso com a aplicação da regra inserta na parte final do art. 46 da Lei nº 9.099/95, que
exclui a necessidade de emissão de novo conteúdo decisório para a solução da lide, ante a
integração dos próprios e jurídicos fundamentos da sentença guerreada.

A título de ilustração apenas, fomentada pelo amor ao debate e para realçar


o feliz desfecho encontrado para a contenda pelo MM. Juiz que atuou no primeiro grau,
alongo-me na fundamentação do julgamento, nos seguintes termos:

Informam os autos que o serviço de energia elétrica prestado à unidade


consumidora de responsabilidade da Recorrida foi suspenso de forma imotivada, já que a
fatura referente à dívida alusiva já tinha sido paga, tendo havido ainda demora no
restabelecimento por parte da Recorrente.

A suspensão imerecida de serviço público essencial é evento apto a gerar


1
prejuízo de natureza moral1.

Encontrando previsão no sistema geral de proteção ao consumidor inserto


no art. 6º, inciso VI, do CDC, com recepção no art. 5º, inciso X, da Constituição Federal, e
repercussão no art. 186, do Código Civil, o dano eminentemente moral, sem consequência
patrimonial, não há como ser provado, nem se investiga a respeito do animus do ofensor.
Consistindo em lesão de bem personalíssimo, de caráter subjetivo, satisfaz-se a ordem
jurídica com a demonstração do fato que o ensejou. Ele existe simplesmente pela conduta
ofensiva, e dela é presumido, sendo o suficiente para autorizar a compensação indenizatória.

Com isso, uma vez constatada a conduta lesiva e definida objetivamente


pelo julgador, pela experiência comum, a repercussão negativa na esfera do lesado, surge a
obrigação de reparar o dano moral, sendo prescindível a demonstração do prejuízo concreto.

Na situação em análise, a Recorrida não precisava fazer prova da


ocorrência efetiva dos danos morais decorrentes do evento descrito. Os danos dessa natureza
se presumem pela suspensão do serviço de energia, tido como essencial, de forma abrupta e
sem justa causa, não havendo como negar que, em razão deles, a Recorrida sofreu angústia,
desconforto e transtornos, tendo a esfera íntima agredida ante a atividade negligente da
Recorrente.

Quanto ao valor da indenização, entendo que, não se distanciando muito


das lições jurisprudenciais, deve ser prestigiado o arbitramento do juiz que atuou no primeiro
grau que, próximo dos fatos, pautado pelo bom senso e atentando para o binômio
razoabilidade e proporcionalidade, respeita o caráter compensatório e inibitório-punitivo da
indenização, que dever trazer reparação indireta ao sofrimento do ofendido e incutir temor no
ofensor para que não dê mais causa a eventos semelhantes.

Lembrando que não é a primeira vez que a Recorrente responde por fatos
semelhantes no Sistema de Juizados Especiais da Bahia, o que ressalta os traços de
negligência e realça a necessidade de admoestação compatível com a gravidade de sua
conduta para que não continue desrespeitando os consumidores, entendo que o MM. Juiz a
quo fixou indenização em valor adequado, que não caracteriza enriquecimento sem causa da
Recorrida e não provoca abalo financeiro à Recorrente ante ao seu potencial econômico.

Quanto ao momento da incidência dos juros moratórios, também não


merece reparo o julgamento de primeiro grau, já que, ao contrário da correção monetária que,
em casos da espécie, onde envolve responsabilidade contratual, incide a partir do
arbitramento, os juros são computados a partir da citação2.
1
- APELAÇÃO CÍVEL - INDENIZAÇÃO - INTERRUPÇÃO DO FORNECIMENTO DE ENERGIA ELÉTRICA -
RESPONSABILIDADE OBJETIVA - DEFEITO NA PRESTAÇÃO DO SERVIÇO – DANO MORAL – CORTE DE ENERGIA
ELÉTRICA - 1- RESPONSABILIDADE CIVIL - Configura conduta ilícita o corte de serviço de fornecimento de energia elétrica
por concessionária, em razão de débito não imputável ao consumidor. Responsabilidade civil insculpida no art. 37, §6º, da CF c/c o art.
22 do CDC. 2- DANOS MORAIS. A prova desta modalidade de dano torna-se difícil e, em certos casos, até impossível, razão pela qual
esta Câmara orienta-se no sentido de considerar o dano moral in re ipsa, sendo dispensada a sua demonstração em Juízo. 3-
QUANTUM INDENIZATÓRIO. Em relação ao quantum indenizatório, a indenização por dano moral deve representar para a vítima
uma satisfação capaz de amenizar de alguma forma o sofrimento impingido. A eficácia da contrapartida pecuniária está na aptidão
para proporcionar tal satisfação em justa medida, de modo que não signifique um enriquecimento sem causa para a vítima e produza
impacto bastante no causador do mal a fim de dissuadi-lo de novo atentado. NEGARAM PROVIMENTO AO APELO. UNÂNIME.
(TJRS - AC 70023527138 - 9ª C.Cív. - Rel. Des. Odone Sanguiné - J. 18.03.2009)

2
– RESONSABILIDADE CIVIL – ATO ILÍCITO – DANO MORAL – INDENIZAÇÃO MANTIDA – JUROS MORATÓRIOS –
INCIDÊNCIA DESDE A CITAÇÃO INICIAL – CORREÇÃO MONETÁRIA – DEVIDA DESDE A CONDENAÇÃO –
RECURSO PARCIALMENTE PROVIDO – DECISÃO UNÂNIME – 1) Configurada a responsabilidade da apelante pelo dano
moral sofrido pelos autores, justo é o direito a indenização. Valor fixado dentro dos princípios da eqüidade, da proporcionalidade e
razoabilidade, quando então foi sopesada a capacidade econômica do responsável, a culpa do agente e a extensão danosa. 2) Nos
2
Assim sendo, ante ao exposto, voto no sentido de CONHECER e NEGAR
PROVIMENTO ao recurso interposto pela Recorrente, COELBA – COMPANHIA DE
ELETRICIDADE DO ESTADO DA BAHIA, confirmando, consequentemente, todos os
termos da sentença hostilizada, condenando-a ao pagamento das custas processuais e
honorários advocatícios que arbitro em 20% (vinte por cento) da condenação pecuniária
imposta.

Salvador-Ba, Sala das Sessões, 07 de abril de 2015.

Rosalvo Augusto Vieira da Silva


Juiz Relator

COJE – COORDENAÇÃO DOS JUIZADOS ESPECIAIS


TURMAS RECURSAIS CÍVEIS E CRIMINAIS

PROCESSO Nº 0006474-81.2013.8.05.0271
CLASSE: RECURSO INOMINADO
RECORRENTE: COELBA – COMPANHIA DE ELETRICIDADE DO ESTADO DA
BAHIA
RECORRIDA: NILZEA VIANA DA CRUZ
JUIZ PROLATOR: JÚLIO GONÇALVES DA SILVA JÚNIOR
JUIZ RELATOR: ROSALVO AUGUSTO VIEIRA DA SILVA

EMENTA

RECURSO INOMINADO. RESPONSABILIDADE CIVIL.


SUSPENSÃO IMOTIVADA DA PRESTAÇÃO DE SERVIÇO DE
ENERGIA ELÉTRICA. DÍVIDA JÁ LIQUIDADA. DANOS MORAIS
CONFIGURADOS. ARBITRAMENTO EM VALOR ADEQUADO
AOS FATOS. MANUTENÇÃO INTEGRAL DA SENTENÇA. NÃO
PROVIMENTO DO RECURSO.

ACÓRDÃO

Realizado julgamento do Recurso do processo acima epigrafado, a


QUINTA TURMA, composta dos Juízes de Direito, WALTER AMÉRICO CALDAS,
EDSON PEREIRA FILHO e ROSALVO AUGUSTO VIEIRA DA SILVA decidiu, à
unanimidade de votos, CONHECER e NEGAR PROVIMENTO ao recurso interposto
pela Recorrente, COELBA – COMPANHIA DE ELETRICIDADE DO ESTADO DA
BAHIA, confirmando, consequentemente, todos os termos da sentença hostilizada,
condenando-a ao pagamento das custas processuais e honorários advocatícios que
arbitro em 20% (vinte por cento) da condenação pecuniária imposta.

termos do art. 405 do Código Civil, os juros moratórios devem incidir a partir do momento da citação inicial. 3) O marco inicial da
fluência da correção monetária é a data da decisão condenatória. Jurisprudência do STJ. (TJPE – AC 119429-6 – Rel. Des. Jovaldo
Nunes Gomes – DJPE 19.01.2008)
– CIVIL - INDENIZAÇÃO - PRELIMINAR – RESPONSABILIDADE CIVIL CONTRATUAL – DANOS MORAIS -
QUANTUM - CORREÇÃO MONETÁRIA E JUROS DE MORA – TERMO INICIAL - Ao fixar o valor da reparação, deve o
julgador cuidar para que não seja tão alto, a ponto de tornar-se instrumento de vingança ou enriquecimento sem causa do
prejudicado, nem tão baixo de maneira a se mostrar indiferente à capacidade de pagamento do ofensor. Em se tratando de
indenização decorrente de responsabilidade civil contratual, a correção monetária deve incidir desde a data da prolação da sentença,
momento em que foi fixado o valor dos danos morais, e os juros de mora a partir da citação, a teor do art. 219 do cpc e art. 405 do código
civil vigente. (TJDFT - APC 20050110485128 - 4ª T.Cív. - Rel. Sérgio Bittencourt - DJU 12.11.2008)

3
Salvador-Ba, Sala das Sessões, 07 de abril de 2015.

JUIZ WALTER AMÉRICO CALDAS


Presidente

JUIZ ROSALVO AUGUSTO VIEIRA DA SILVA


Relator

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