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O emprego de uma “arqueologia” voltada para a comprovação dos relatos bíblicos deixou
de ser um consenso logo nos primeiros anos do surgimento da chamada “arqueologia
bíblica”. A expressão tem sido empregada no âmbito cristão conservador como um
instrumento da teologia histórica, ao lado da história da igreja cristã e história das
doutrinas cristãs (SHÜLER, 2002, p. 447). Mas na década de 70 Willian G. Dever iniciou
uma intensa discussão ao propor a expressão “arqueologia da Siro-Palestina”, com o
propósito de que fosse tratada como um campo da arqueologia em geral, vinculada a ela
nas mesmas preocupações e métodos, sem a interferência de ideologias religiosas
(HOFFMEIER, 2004, p. 25). Um claro exemplo dessa nova tendência foi a mudança, em
1998, do nome da revista publicada pelas Escolas Americanas de Pesquisa Oriental (ASOR).
O antigo nome, “Biblical Archaeologist”, foi substituído por “Near Eastern Archaeology”
(DEVER, 2003, p. 523).
A pedra Moabita
"Eu Mesa, filho de [deus] Quemós [...], Rei de Moabe, o dibonita –
o meu pai reinou sobre Moabe 30 anos e eu reinei depois do meu
pai – fiz este lugar alto para Quemós, Qarhoh, porque ele me salvou
de todos os reis e me fez triunfar de todos os meus adversários. No
que toca a Omri, Rei de Israel [Setentrional], este humilhou Moabe
durante muito tempo, porque Quemós estava irritado com sua
terra.[...] E dali os tirei [...] de YHVH, arrastando até diante de
Quemós” (trecho da Pedra Moabita, séc. IX, atualmente no museu
do Louvre em Paris).
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Código de Hamurabi
Um dos mais antigos conjuntos de leis já escritas, o código de
Hamurabi, elaborado pelo rei que lhe deu o nome, foi escrito no
século XVIII a.C. Algumas semelhanças com as leis mosaicas são
evidentes:
Art. 196 – “se alguém arranca o olho a um outro, se lhe deverá
arrancar o olho”.
Art. 200 – “se alguém parte os dentes de um outro, de igual
condição, deverá ter partido os seus dentes”.
A estela de Merneptah
Única referência a Israel em textos egípcios. Datada
para o século XIII a.C., relata a destruição de um
“Israel” por tropas enviadas pelo Faraó Merneptah:
“Israel está devastado, sua semente não existe mais”.
Manuscritos do Mar Morto – Foram descobertos entre 1947/56 em cavernas próximas ao Mar
Morto. São cerca de mil anos mais antigos que os manuscritos do A.T. disponíveis até então.
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Textos de Nuzi – Os textos de Nuzi, descobertos entre 1925 e 1931, foram datados para o
século XV e XVI a.C. e contém textos jurídicos que correspondem a alguns costumes
observados no relato bíblico a respeito dos patriarcas, tais como a adoção de um estranho,
por vezes um escravo, como filho e herdeiro (cf. Gn 15,2) e a cessão de uma serva fértil ao
marido, quando a esposa legítima era estéril (como no caso de Lia, cf. Gn 30,9-13). Alguns
estudiosos (como Van Setters) observaram que tais costumes também eram praticados no
período neo-assírio (séc. VII a.C.), o que invalidaria o uso desses documentos como
evidência da historicidade dos relatos patriarcais.
Textos de Ras Shamra – Os textos foram encontrados nas ruínas de uma escola de escribas,
na antiga Ugarit (atual Ras Shamra) em 1929. Contém parte da literatura religiosa e
mitológica dos cananeus as quais frequentemente aludem ao Antigo Testamento
(referências a El, o deus supremo, Baal, divindade ligada às forças da natureza e Anat, deusa
da fertilidade). Alguns temas dos hinos de Ugarit figuram nos Salmos, como a vitória de
Yahweh sobre Leviatã, o monte Sião como cidade da paz e a projeção da corte terrena para o
céu. Os documentos foram datados para 1.400 a.C. aproximadamente.
Cartas de Amarna – Amarna era a capital do Egito sob o governo do Faraó Akenathon,
famoso por ter instituído o monoteísmo no Egito. As cartas de Amarna, descobertas
acidentalmente em 1887, contém registros de correspondências oficiais entre o governo
egípcio e cidades palestinas, como Jerusalém, Megido, Geser, Laquis, Filisteia e Síria. Elas nos
dão uma boa ideia sobre a situação da Palestina no século XV a.C.
Na medida em que o foco das pesquisas foi se deslocando para a Palestina, a iniciativa das
escavações, inicialmente lideradas por grandes museus em Londres, Paris e Berlim,
despertou interesses religiosos e políticos1. Grandes avanços foram feitos sobretudo pela
atividade do arqueólogo, linguista e ceramista William Foxwell Albright, com suas
escavações na Palestina em 1920. O otimismo em relação à descoberta de evidências que
pudessem provar a historicidade dos patriarcas tomava conta de pesquisadores como John
Bright, G. E. Wright, Roland de Vaux e A. Parrot.
1 Um excelente artigo de Thomas L. Thompson a respeito dos múltiplos interesses que norteiam a atual
pesquisa arqueológica em Israel pode ser lida no seguinte endereço:
<http://www.bibleinterp.com/opeds/politics.shtml>. Acesso em 16 de abril de 2012.
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11.1 As controvérsias
não obteremos conhecimento algum sobre os patriarcas, mas somente sobre as épocas
em que as narrações que lhes dizem respeito se formaram entre o povo israelita. Essa
época posterior, com suas características – tanto as profundas como as superficiais -,
foi inconscientemente projetada na noite dos tempos, onde se reflete como uma
miragem glorificada (WELLHAUSEN, 1885, p. 278)2.
As descobertas arqueológicas feitas até então foram capazes de preencher muitas lacunas
no entendimento das narrativas bíblicas, mas por outro lado começaram a surgir
problemas que não encontravam solução nas teorias destes pioneiros arqueólogos bíblicos.
Fortes críticas à metodologia empregada pela escola de Albright vieram Paul Lapp, um
aluno de G. E Whight. Em sua opinião, só um arqueólogo secular seria capaz de produzir
uma história objetiva da Bíblia. Ele também acreditava que a arqueologia bíblica deveria
2 Fiz uma tradução livre do inglês. No original: “It is true, we attain to no historical knowledge of the
patriarchs, but only of the time when the stories about them arose in the Israelite people. this later age is
here unconsciously projected, in its inner and its outward features, into hoar antiquity, and is reflected there
like a glorified mirage”.
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estar sujeita aos mesmos métodos da arqueologia geral. A harmonia entre o relato bíblico
e as descobertas arqueológicas entrou em colapso (DAVIS, 2004, p.123-144).
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3 Muitas informações sobe as escavações em Khirbet el-Maqatir podem ser obtidas na página dedicada ao
tema pela Associates for Biblical Research: <http://www.biblearchaeology.org/page/Join-us-in-our-search-
for-Joshuas-Ai.aspx>. Acesso em 11 de maio de 2012.
4 A frase é de Yigael Yadin, cf. Yigael Yadin, Hazor: The Rediscovery of a Great Citadel from the Bible
(London: Weidenfeld and Nicholson, 1975), p. 187 apud MORE, Megan Bishop; KELLE, Brad E. Biblical
History and Israel’s Past. Grand Rapids, Michigan: Wm. B. Eerdmans Publishing Co, 2011.
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5 A edição americana da revista National Geographic publicou uma matéria em fevereiro de 2010
apresentando opiniões diferentes sobre o valor da descoberta.
<http://ngm.nationalgeographic.com/2010/12/david-and-solomon/draper-text>. Acesso em 16 abr 2012.
6 O artigo pode ser lido no site da Biblical Archaeology Review (BAR), de mai/jun/2010: http://www.bib-
arch.org/bar/article.asp?PubID=BSBA&Volume=38&Issue=03&ArticleID=04&Page=0&UserID=0&. Acesso
em 11 de maio de 2012.
7 Tentativas de tradução das cinco linhas do óstraco foram publicadas no Qeiyafa Chronicle Ceramica: <
http://qeiyafa.huji.ac.il/ostracon2.asp>. Acesso em 21 de maio de 2012.
8 O comunicado de imprensa pode ser lido no site do Israel Ministryof Foreign Afairs:
http://www.mfa.gov.il/MFA/History/Early+History+-+Archaeology/Cultic_shrines_time_King_David_8-
May-2012.htm
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israelense Haaretz (09/05/12), Nadav Na’aman, da universidade de Tel Aviv, explica que
os cananeus também não comiam carne de porco9. A ausência de ossos do animal apenas
indicaria que o sítio não é filisteu, povo conhecido por apreciar a carne suína.
É um erro comum associar os minimalistas aos ateus, céticos dispostos a provar ser a Bíblia
uma farsa. Na verdade o que eles defendem é a necessidade de provas concretas que
possam sustentar a historicidade das narrativas bíblicas. Os antigos hebreus, defendem os
minimalistas, escreviam suas histórias sem preocupação em relatar os fatos como
realmente aconteceram. A intenção era religiosa e não científica. Dentre o grupo de
pesquisadores minimalistas pode-se destacar Niels Peter Lemche, Thomas L. Thompson
(ambos da Dinamarca), Philip R. Davies (Reino Unido) e Mario Liverani (Itália).
Os maximalistas, por outro lado tendem a ser vistos como fundamentalistas ingênuos, mas
isso está longe de ser verdade. Esse grupo até aceita que as narrativas bíblicas sofreram
acréscimos, interpolações e reelaborações, mas insiste que a ela possui, ao menos, fundo
histórico. Famosos representantes dessa escola são Albright (Chile), G. E Whight, John
Bright (Inglaterra), Roland de Vaux (França), Eilat Mazar , Yosef Garfinkel (ambos de
Israel) e William G. Dever (EUA).
9 Disponível em:<http://www.haaretz.com/news/national/archaeological-find-stirs-debate-on-david-s-
kingdom-1.429087> acesso em 17 de maio de 2012.
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REFERÊNCIAS
DAVIS, Thomas W. Shifting Sands: The Rise and fall of Biblical Archaeology. New York:
Oxford University Press, 2004.
DEVER, William G.; GITIN, Seymour. Symbiosis, symbolism and the power of the past.
Eisenbrauns, 2003.
FINKELSTEIN, Israel; SILBERMAN, Neil Asher. La Biblia desenterrada: Una nueva visión
arqueológica del antiguo Israel y de los orígenes de sus textos sagrados. Madrid: Siglo
Veintiuno, 2003.
HOFFMEIER, James Karl; MILLARD, Alan (Edit.). The future of biblical archaeology:
reassessing methodologies assumptions. Michigan: Eerdmans Publishing, 2004.
MERRILL, Eugene H.; ROOKER, Mark F.; GRISANTI, Michael A. The World and the
Word: An Introduction to the Old Testament. Nashville, Tennessee: B&H Publishing
Group, 2011.
MOORE, Megan Bishop; KELLE, Brad E. Biblical History and Israel's Past: The Changing
Study of the Bible and History. Grand Rapids, Michigan: Wm. B. Eerdmans Publishing Co.,
2011.
THOMPSON. John A. A Bíblia e a arqueologia: quando a ciência descobre a fé. São Paulo:
Vida Cristã, 2004.