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Endurecimento do aço

Um problema

Várias brocas foram devolvidas ao fabricante porque elas haviam


se desgastado no primeiro uso.

O supervisor da fábrica descobriu a falha da fabricação das bro-


cas: elas não tinham recebido tratamento correto. O lote foi reco-
lhido e retrabalhado, ficando evidente a importância do tratamento
térmico.

Têmpera

Houve um grande avanço tecnológico quando o homem descobriu


como conferir dureza ao aço. Os dentes da engrenagem, o enga-
te do trem, o amortecedor do carro, as brocas devem ser fabrica-
dos com aço endurecido, para suportarem os esforços a que são
submetidos.

A têmpera é um processo de tratamento térmico do aço destinado


à obtenção de dureza. Uma têmpera feita corretamente possibilita
vida longa à ferramenta, que não se desgasta nem se deforma
rapidamente.

O processo consiste em aquecer o aço num forno com temperatura


acima da zona crítica. Para o aço-carbono, a temperatura varia de
750º a 900ºC. A peça permanece nessa temperatura o tempo ne-
cessário para se transformar em austenita. O que distingue essa
forma de tratamento é o seu processo de resfriamento. A peça é re-
tirada do forno e mergulhada em água. A temperatura cai de 850ºC
para 20ºC. Trata-se de um resfriamento brusco.

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Quando a austenita é resfriada muito rapidamente, não há tempo
para que se transformar em ferrita, cementita ou perlita. A auste-
nita se transforma num novo constituinte do aço chamado mar-
tensita.

Vimos que ao aquecer o aço acima da zona crítica, o carbono da


cementita (Fe3C) dissolve-se em austenita. Entretanto, na tempe-
ratura ambiente, o mesmo carbono não se dissolve na ferrita. Isso
significa que os átomos de carbono se acomodam na estrutura
CFC de austenita, mas não se infiltram na estrutura apertada -
CCC - da ferrita.

No resfriamento rápido em água, os átomos de carbono ficam


presos no interior da austenita. Desse modo, os átomos produ-
zem considerável deformação no retículo da ferrita, dando tensão
ao material e aumentando sua dureza.

Vamos fazer uma experiência. Pegue um pedaço de aço, de


qualquer tamanho, com espessura de 20mm, com teor de carbo-
no entre 0,4% e 0,8%. Ligue um forno na temperatura de 850ºC e
aguarde. Enquanto isso, verifique a dureza do material, antes do
tratamento.

Agora coloque a peça no forno e deixe-a por 40 minutos. Decorri-


do esse tempo, retire-a com uma tenaz e submeta-a a resfriamen-
to imediato em água.

Verifique a dureza do material tratado. Percebeu a diferença?


Pois bem, você realizou um tratamento de têmpera.

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Cuidados no resfriamento

O resfriamento brusco provoca o que se chama de choque térmi-


co, ou seja, o impacto que o material sofre quando a temperatura
a que está submetido varia de um momento para outro, podendo
provocar danos irreparáveis ao material. Mas o resfriamento brus-
co é necessário à formação da martensita. Assim, dependendo da
composição química do aço, podemos resfriá-lo de forma menos
severa, usando óleo ou jato de ar.

Revenimento

O tratamento de têmpera provoca mudanças profundas nas pro-


priedades do aço, sendo que algumas delas, como a dureza, a
resistência à tração, atingem valores elevados. Porém, outras
propriedades, como a resistência ao choque e o alongamento, fi-
cam com valores muito baixos, e o material adquire uma apreciá-
vel quantidade de tensões internas. Um aço nessa situação é i-
nadequado ao trabalho.

Para corrigir suas tensões, é preciso revenir o material. O reveni-


mento tem a finalidade de corrigir a dureza excessiva da têmpera,
aliviar ou remover as tensões internas. O revenimento é, portanto,
um processo sempre posterior à têmpera.

Logo após a têmpera, a peça é levada ao forno, em temperatura


abaixo da zona crítica, variando de 100ºC a 700ºC, dependendo
da futura utilização do aço. Decorrido algum tempo (de uma a três
horas), retira-se a peça do forno e deixa-se que ela resfrie por
qualquer meio.

Vamos fazer uma segunda experiência. Faça revenimento de dois


aços já temperados, um a 150ºC de temperatura e o outro a
550ºC, ambos durante 2 horas no forno. Depois de retirar a peça
do forno, vamos fazer o ensaio de dureza. O revenido da peça em
baixa temperatura apresenta pequena diferença de dureza, com-
parada com o valor do temperado. Já o revenido na peça aqueci-
da em alta temperatura apresenta grande queda de dureza. Isso

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demonstra que quanto mais alta a temperatura de revenimento
maior será a queda da dureza de têmpera.

Tratamento isotérmico

Na aula anterior, vimos que as transformações da austenita em


ferrita, cementita e perlita ocorriam numa velocidade muito lenta
de esfriamento (ar ou forno). Entretanto, se aumentarmos essa
velocidade, ocorrerá um atraso no início da transformação da
austenita, devido à inércia própria de certos fenômenos físicos,
mesmo que a temperatura esteja abaixo da linha A1 (abaixo da
zona crítica).

O diagrama, a seguir, indica as transformações da austenita em


diferentes velocidades de esfriamento.

Para ficar mais claro, vamos dar uma olhada no diagrama TTT -
Tempo, Temperatura e Transformação.

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A interpretação é a seguinte:
• curvas - representam o início e o fim de transformação da aus-
tenita.
• cotovelo - parte central das curvas com transformações abaixo
do cotovelo, obtêm-se perlita, ferrita e cementita. Como trans-
formações abaixo do cotovelo, obtêm-se bainita e martensita.

Austêmpera

Esse tratamento é adequado a aços de alta temperabilidade (alto


teor de carbono).

A peça é aquecida acima da zona crítica, por certo tempo, até


que toda a estrutura se transforme em austenita (posição 1). A
seguir, é resfriada bruscamente em banho de sal fundido, com
temperatura entre 260ºC e 440ºC (posição 2). Permanece nessa
temperatura por um tempo, até que sejam cortadas as duas cur-
vas (posição 3), ocorrendo transformação da austenita em bainita.
Em seguida, é resfriada ao ar livre (posição 4).

A dureza da bainita é de, aproximadamente, 50 Rockwell C e a


dureza da martensita é de 65 a 67 Rockwell C.

Para ficar mais claro o tratamento por austêmpera, segue o dia-


grama TTT - tempo, temperatura, transformação.

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A interpretação é a seguinte:
• acima de 750ºC: campo da austenita;
• curva à esquerda (i), curva de início de transformação da aus-
tenita em perlita ou bainita;
• curva à direita (f), curva de fim de transformação;
• Mi – início de transformação da austenita em martensita;
• Mf – fim de transformação.

Martêmpera

A martêmpera é um tipo de tratamento indicado para aços-liga


porque reduz o risco de empenamento das peças. O processo é
ilustrado no diagrama, a seguir.

A peça é aquecida acima da zona crítica para se obter a austenita


(posição 1). Depois, é resfriada em duas etapas. Na primeira, a pe-
ça é mergulhada num banho de sal fundido ou óleo quente, com
temperatura um pouco acima da linha Mi (posição 2). Mantém-se a
peça nessa temperatura por certo tempo, tendo-se o cuidado de
não cortar a primeira curva (posição 3). A segunda etapa é a do
resfriamento final, ao ar, em temperatura ambiente (posição 4).

A martensita obtida apresenta-se uniforme e homogênea, diminu-


indo riscos de trincas.

Após a mantêmpera é necessário submeter a peça a revenimento.

Teste sua aprendizagem. Faça os exercícios a seguir e confira


suas respostas com as do gabarito.

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Exercícios

Marque com X a resposta correta.

1. Para aumentar a dureza e a resistência à tração dos metais


ferrosos, usa-se o tratamento térmico de:
a) ( ) fundição;
b) ( ) têmpera;
c) ( ) aquecimento;
d) ( ) resfriamento.

2. O processo da têmpera consiste em aquecer o aço à temperatura:


a) ( ) normal, de 20ºC;
b) ( ) elevada, próxima a 100ºC;
c) ( ) acima da zona crítica;
d) ( ) dentro da zona crítica.

3. Para corrigir a excessiva dureza do aço provocada pela têm-


pera, usa-se o processo de:
a) ( ) martêmpera;
b) ( ) austêmpera;
c) ( ) normalização;
d) ( ) revenimento.

4. O constituinte da têmpera é:
a) ( ) perlita;
b) ( ) cementita;
c) ( ) martensita;
d) ( ) ferrita.

5. Um aço endurecido por têmpera deve ser resfriado por meio de:
a) ( ) ar;
b) ( ) forno;
c) ( ) água;
d) ( ) cinzas.

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Gabarito

1. b

2. c

3. d

4. c

5. c

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