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previamente instalada se esgotaria. Para a realização dessa última, seria necessário a
importação de bens de capital, mas a falta de divisas geraria uma nova substituição.
Para que tudo isso ocorresse era imprescindível o aumento da demanda interna,
no entanto, essa demanda era afetada por problemas estruturais brasileiros. A instalação
de uma indústria moderna no Brasil, afetaria os postos de trabalhos pela substituição por
máquinas e o setor agrário não absorveria essa mão de obra disponível pois não crescia e
pagava pouco aos seus trabalhadores, não resultando portanto, em aumento de demanda
de bens de consumo e, para isso, muito contribuía a estrutura fundiária do país que
favorecia a concentração de renda. Dessa forma, só seria possível continuar crescendo se
houvesse aumento de um mercado consumidor específico: uma pequena parcela da
população de alta renda que demandava produtos sofisticados.
Os liberais como Eugênio Gudin e Octavio Gouveia de Bulhões, por sua vez, não
tratavam o Brasil diferentemente de outros países, e relegavam seus problemas
econômicos à intervenção do Estado e ao populismo econômico. Para eles era necessário
deixar que o próprio mercado regulasse seus preços.
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de poupança que permitiu que a classe média investisse com garantias do governo. Além
disso, houve fomento às exportações, como isenções no IPI e imposto de Renda e criou-
se também o Banco Central que ficou responsável pela execução de fiscalização da
política financeira do país.
Era necessário criar também um mecanismo de reajuste salarial que não gerasse
pressões inflacionárias, parte importante nesse plano era a despolitização das negociações
salariais, além de dar maior flexibilidade nas relações trabalhistas. As indenizações pagas
pelo empregador foram substituídas pelo Fundo de Garantia por Tempo de Serviço
(FGTS), um fundo de poupança compulsório controlado pelo Estado que serviria para
ampliação dos investimentos públicos e um Pano Nacional de Habitação.
Esse período foi de grande vulto econômico, fazendo com que a década de 1970
conhecesse o termo “milagre brasileiro”. Tal crescimento ocorreu por que Costa e Silva
abandonou a política de austeridade de Castelo Branco, pois o cenário pós reformas com
capacidade produtiva e de investimentos públicos também o permitiram. Muito
contribuiu para essa mudança de prioridades as insatisfeitas expectativas públicas, e as
reivindicações pelo reestabelecimento da democracia, inclusive de setores golpistas e
algumas previsões lançadas em algumas publicações a respeito da economia mundial que
apontaram o Brasil como um país de baixo crescimento no final do milênio, apontando
para uma estratégia nacionalista.
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Tornava-se primordial a promoção uma política de crescimento que desse
legitimidade ao governo para não desgastar o próprio regime que, nesse momento se
institucionalizava, com a primeira sucessão. Costa e Silva lança o Plano Estratégico de
Desenvolvimento visando uma taxa de crescimento de 6% ao ano que seria induzida pelos
gastos públicos, articulada a uma política gradual de controle inflacionário.
Os dois planos visavam uma taxa de crescimento anual de 9%. Entre 1968-1973
o PIB ganhou mais um dígito, surpreendendo a muitos. A conjuntura externa impulsionou
a exportação brasileira que quase triplicou, a disponibilidade de divisas favorece também
a importação de bens de capital e instala indústrias modernas. Ademais, um país com uma
economia em crescente, e taxas de inflação em queda, consegue crédito fácil, ainda mais
em um momento de grande vulto do sistema financeiro. Tal cenário não ocorre, no
entanto, apenas como um reflexo do cenário externo, pois a mudança de ênfase na política
econômica.
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privados visava o aumento do seu papel no crescimento e desenvolvimento econômico
do país, havia nela embutida um controle das taxas de juros e até tabeladas.
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impulsionavam a economia e criavam pari passu aumento da dívida externa – que nesse
momento não era visto como problema.
No final de 1973, o Brasil crescia, junto a sua dívida externa, porém, esse
crescimento não era distribuído e um mal-estar surgia. Esse ponto fraco foi constatado
com o censo de 1970 e era justamente o foco das críticas feitas pelos economistas da
oposição que debatiam como era possível aquele vultoso crescimento sem as reformas de
base.
Essa tese foi confirmada por outros estudos e publicações acadêmicas que
criticaram a política governamental. Análises sobre o Censo de 1970, identificaram que
a desigualdade da distribuição foi a combinação de ganhos relativamente pequenos nos
grupos de renda próximos ao salário mínimo, e de ganhos muito elevados nos grupos de
renda alta.
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de obra qualificada. Ademais, seguindo seu raciocínio, chega-se à conclusão que o
aumento da desigualdade está relativamente ligado a redução da pobreza
A década de 1970, foi marcada por mudanças na política externa dos EUA com
relação aos países subdesenvolvidos. Ela foi marcada pela mudança nas taxas de câmbio
que se tornaram flutuantes promovendo mais instabilidade econômico, além disso, a crise
economia internacional atingiu as taxas de exportação do Brasil e dificultou o pagamento
da dívida externa, problema que caiu no colo de Ernesto Geisel, obrigado a voltar à
escolha entre estabilização ou crescimento.
Em síntese, o texto nos permite perceber que não foram apenas as medias austeras
liberais e as reformas em setores financeiros, creditícios e trabalhistas que dinamizaram
e propiciaram o crescimento. Foi também e principalmente a necessidade de legitimação
pela eficiência e a priorização pelo crescimento que mudaram as políticas relativas ao
controle inflacionário, à subvenção de diversos setores e a disponibilização de crédito.
Isso só foi possível, por sua vez, pela não alteração da estrutura econômica do país, tendo
uma de suas principais características, a concentração de renda e consequente
desigualdade social, servido de base para as elevadas taxas de crescimento que não
suscitaram, entretanto, a distribuição de renda e o crescimento da maioria da população.
Por essa razão, não podemos justificar o autoritarismo do regime e tampouco podemos
cogitar chamar o período ditatorial brasileiro de revolução, visto que para haver uma
revolução é necessária a ocorrência de mudanças estruturais na política, na economia e
na sociedade como um todo.