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GABRIELA ALANA
RIO DE JANEIRO
2015
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ECONOMIA AÇUCAREIRA E MINEIRA NO
BRASIL COLONIAL
Maria Elisa Scovino
INTRODUÇÃO
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Fernando Novais aponta para uma acumulação primitiva metropolitana, em vez de colonial, dando
ênfase no comércio internacional: “... a expansão européia, mercantil e colonial, processa-se segundo
um impulso fundamental... na transição para o capitalismo industrial... acelerar a primitiva acumulação
capitalista é pois o sentido do movimento...”(NOVAIS, pág. 70)
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para financiar um sistema de produção desse porte, era necessário para tal, a criação de
riquezas e um mecanismo de crédito eficiente.
Um dos pontos a se indagar seria a origem social das parcelas portuguesas que
vieram povoar a colônia e efetivar o domínio metropolitano. A Alta Aristocracia
portuguesa se instalava em Portugal constituindo a corte e aceitavam a administração de
colônias até o Marrocos. Sendo assim, o conjunto que desembarcou na colônia advinha
de famílias com poucos recursos, uma nobreza secundária e pouco imponente e alguns
poucos atraídos pelo excesso de benefícios concedidos pela Coroa. Assim, grande parte
dos primeiros colonizadores era de origem social pobre que irão compor a futura elite
colonial açucareira. Este contingente pobre não teria os recursos necessários para
empreender no plantation, assim a justificativa de alguns autores seria que a produção
de aguardente era usada para a aquisição de escravos que forneceria o lucro necessário
para o investimento açucareiro. Fragoso aponta que a hipótese de colocar a origem da
economia de plantation no comércio internacional de escravos não se sustenta, pois os
registros dessa época (1610-13 e 1630-36) relatam um grande movimento de compra e
venda de terras e poucos recursos em navios e lojas necessárias para impulsionar um
comércio de alta magnificência. Fragoso atenta para a grande relação entre os primeiros
conquistadores e as missões bandeirantes, afirmando que os futuros senhores de
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Segundo Braudel o comércio com o Oriente seria a primeira grande economia-mundo, sendo
suplantada por Antuérpia, esta por Gênova, depois Amsterdam e Londres. Braudel não inclui Portugal
como centro de convergência de capital na sua análise.
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engenhos praticavam essas atividades adentrando no território brasileiro para a captura
de índios. Estas teriam fornecido a primeira mão de obra e recursos para o início da
cultura canavieira. Outra forma de acumulação primitiva havia sido justamente o tráfico
negreiro, mas não apenas. Muitos futuros senhores haviam sido comerciantes, e
utilizavam seu capital acumulado para investir na produção açucareira. Outro fator que
contribuiu foi a produção de alimentos e de cana. Assim os futuros senhores de engenho
praticavam diversas atividades como captura de índios, comércio, agricultura,
percebendo que não era uma elite lusitana com recursos elevados e sim originários de
diversos ramos e níveis sociais. Porém eram famílias que chegaram por volta de 1600-
1620 que formaram a grande elite agrária e dirigiam a administração da vida pública
colonial, mantendo seus status por mais de três gerações seguidas. A apropriação dos
recursos (terras e homens) e o domínio da câmara foram as principais e mais eficazes
formas de acumulação de capital para a formação da plantation: “Entre as famílias
senhoriais que mantiveram o seu status e engenhos por mais de três gerações, cerca de
2/3 descendiam de conquistadores/primeiros povoadores/ oficiais do rei. Ao mesmo
tempo, foram tais personagens que, ao longo dos seiscentos, dominaram os assentos da
câmara.” (FRAGOSO, pág. 42).
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tarde em engenhos e se tornaram senhores criando uma relação próxima e familiar com
os integrantes das câmaras. Esta relação provocou a criação de um vínculo de
reciprocidade que Fragoso intitula Economia do bem comum. Assim a Coroa concedeu
diversos privilégios para que se instalassem na colônia, como o monopólio da carne, do
açúcar, facilidade no tráfico negreiro e mercês a determinadas pessoas, tudo em
benefício ao bem comum. A Coroa escolhia certo grupo para oferecer o monopólio de
bens e serviços em detrimento do resto da população que enfrentava a concorrência
desleal ou se submetia aos senhores da colônia. Assim através dessa Economia do bem
Comum, os privilegiados controlavam o comércio e a produção, e através das vantagens
concedidas criava-se uma hierarquia social excludente. 3Privilégio de uma minoria. A
ascensão social dependia da concessão real. Assim os colonizadores originários da
pequena aristocracia portuguesa se tornaram as melhores famílias da terra.
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Antônio Carlos Jucá de Sampaio em Os Homens de Negócio do Rio de janeiro
e sua atuação nos quadros do Império Português aborda o período da mineração na
colônia e afirma que ao longo do século XVIII o Rio de Janeiro vai prevalecer sobre
Salvador, passando a desempenhar um papel estratégico dentro da economia mercantil.
Por volta do século XVII- XVIII ocorre a transição do domínio da nobreza agrária
açucareira para uma elite mercantil que transformará a capitania fluminense no centro
comercial da América Portuguesa vinculado ao comércio interno da região das Minas.
Nem os negociantes lusitanos nem os do Rio de Janeiro monopolizavam o comércio
Ultramarino, e existia pouco investimento nessa atividade por Portugal por não consistir
em lucro seguro e por uma tradição conservadora. A atividade comercial fluminense
estava ligada a grande economia de exportação vinculada à metrópole, pois se
concentravam nas rotas de comércio significativo como o tráfico negreiro 4necessário
para a própria manutenção da sociedade colonial. As documentações apontam para
investimento em grandes embarcações ligado ao comércio de longa distância, este
realizado por um grupo restrito que possuía os recursos necessários de alto custo. Mas
essa relação da classe comercial fluminense com o comércio mercantil do Atlântico era
indispensável para o controle das atividades comerciais dentro da colônia. A atuação
desses comerciantes tanto no tráfico negreiro como no mercado interno demonstra a
diversidade de ramos dessa classe. A interação com essas duas extremidades fazia do
Rio de Janeiro uma ponte e uma região de controle dessas duas áreas:“...é inegável que
tais negociantes estavam situados numa das mais lucrativas encruzilhadas do Império
Português na primeira metade do século XVIII, servindo como a principal ponte entre
as regiões auríferas e o comércio ultramarino.”(SAMPAIO, pág. 85).
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Há grande discussão historiográfica acerca da autonomia colonial mercantil, a abordagem de Jucá se
contrapõe as linhas tradicionais que afirmam o sentido da colonização como Caio Prado Júnior e
Fernando Novais: “... em função dos mecanismos e ajustamentos dessa fase da formação do capitalismo
moderno... Nesse sentido, a produção colonial orienta-se necessariamente para aqueles produtos que
possam preencher a função do sistema de colonização no contexto do capitalismo mercantil...” (NOVAIS,
pág. 69).
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também contribuía para criação entre uma cadeia que ligava pessoas com ligação
comercial que se vinculava com a concessão de crédito entre esses círculos. O
empréstimo também consistia numa forma de acumulação de capital para os
concessores, e ainda era um mecanismo de manutenção da hierarquia social e de
solidariedade entre senhores de engenho e negociantes.
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geográfica explicando os motivos para a concentração populacional em determinadas
áreas da colônia seria as condições climáticas e recursos econômicos. Fragoso se
contrapõe a essa preponderância ao fator geográfico: “Parece-nos que a geografia
física pesa muito pouco no estabelecimento de hierarquias econômicas” (FRAGOSO,
Pág. 88), quando fala da economia mineira relatando que se assim fosse O Rio Grande
do Sul não estaria submetido ao capital carioca desde o início da colonização. Caio
Prado Júnior relata a modesta proeminência do comércio interno, colocando o foco no
comércio Ultramarino e o constante desvio das riquezas americanas que eram
direcionadas a Europa. Esses autores se dirigem ao estudo da circulação monetária do
período mercantil, no qual Novais nomeia “fase do capitalismo comercial”, que segundo
Marx seria uma fase precedente ao capitalismo que nasce com a Revolução Industrial já
que o comércio seria uma etapa estéril e apenas se consolidaria tal sistema com presença
de uma estrutura de produção.
Esta acumulação foi importante para a formação da elite agrária brasileira que
por volta do século XVIII seria suplantada por uma classe comercial devido a
decadência da economia canavieira e a descoberta do ouro na região de Minas. Fragoso
procura destacar que essa estrutura de Antigo Regime baseada em valores tradicionais e
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diferenças sociais permanece mesmo com a ascensão de uma nova conjuntura
econômica. Casamentos de negociantes e nobres continuam para a manutenção da
hierarquia social excludente. A proeminência dos comerciantes não significou a quebra
da estratificação elevada na sociedade colonial:
“Por último, se foi certo que aquela nobreza e suas práticas de acumulação, como
fenômenos majoritários, cederam espaços, em algum momento dos setecentos, a outras
relações sociais mais baseadas no comércio, a prática da exclusão social do
público(para além dos escravos) continuaria como uma das chaves para a acumulação
de riquezas nas mãos de um pequeno grupo de pessoas.”(FRAGOSO, pág. 71).
Antônio Carlos Jucá defende a existência de uma classe comercial com mais
força nos quadros da mineração, e uma elevação significativa do mercado interno. Jucá
afirma que o Rio de Janeiro assume uma posição estratégica como uma ponte entre o
mercado metropolitano e o comércio do interior da colônia. O grupo de negociantes
fluminenses estariam ligados ao comércio internacional de longa distância o que
permitia altos lucros e esta elite teria financiado e possibilitado a criação de um núcleo
de comércio na área mineradora. Como esse frágil comércio não tinha condições de
investir num comércio de grande porte como o ultramarino, havia por meio dos
financiamentos dessa elite mercantil do Rio de Janeiro, encontrado condições para
formar um comércio menor e local, porém subordinado a classe fluminense. O autor
aponta a grande autonomia dessa elite do Rio, no qual as fontes empíricas demonstram
que a atividade mercantil mesmo dirigida a Portugal era realizada com capital
fluminense: “... a documentação com que trabalhamos, sobretudo as escrituras de
formação de sociedades, nos mostra a grande autonomia que essa elite mercantil
carioca tinha em face de sua congênere portuguesa. As sociedades formadas com vistas
ao comércio com Portugal e/ou ilhas atlânticas eram, na sua maioria, compostas
somente por homens de negócio baseados no capital fluminense.”(SAMPAIO, pág. 94).
Aponta inclusive que não havia uma hierarquia entre os comerciantes lusitanos e
fluminenses, apesar da nítida preponderância do comércio da metrópole. Afirma que
não havia uma subordinação da classe mercantil do Rio de Janeiro em relação a
Portugal, que a elite mercantil acaba por estabelecer alianças com os grupos comerciais
da colônia: “...os quais não pretende, ou melhor, não é capaz de retirar de cena ou
subordinar.”(SAMPAIO, pag. 96).
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CONCLUSÃO
BIBLIOGRAFIA
PRADO JÚNIOR, Caio. História Econômica do Brasil. São Paulo, Brasiliense, 2006.
PRADO JÚNIOR, Caio. Formação do Brasil Contemporâneo. 23° Edição, São Paulo,
Brasiliense, 1994.
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BRAUDEL, Fernand. A Dinâmica do Capitalismo. Tradução Álvaro Cabral. Rio de
Janeiro: Rocco, 1987.
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