SÍNTESE DO TEXTO: “MEU NOME É ÁFRICA” DE MIA COUTO
A história do Continente Africano até o presente parece marcado por visões
generalistas, preconceituosas e estereotipadas. O referido texto de autoria do escritor, jornalista e biólogo Antônio Emílio Leite Couto, conhecido como Mia Couto, vai transcorrer sobre algumas questões fundamentais sobre a construção desse passado africano e as condições do governo, cultura, economia e sociedade atuais do território. O O autor relata como muitos dos problemas estão associados a essa visão deturpada na formação de uma memória, a estagnação interna e falta de uma produção intelectual própria que esteja voltada ao desenvolvimento da população que ali vive. Denunciando o descaso da elite e governos e demonstrando preocupação em como a própria identidade está sendo formada e reconhecida dentro do Continente, Mia Couto procura alertar que a mudança deve partir de dentro, o que modificaria a própria imagem internacional da África. O autor inicia pontuando o problema da falta de identificação dos seus alunos universitários de Moçambique com outras regiões de seu próprio país, reconhecendo a formação de “cidadanias diversas” no interior da sociedade divididas em urbanos, periféricos e rurais, sendo os primeiros estando mais associados com uma cultura estrangeira do que trazendo uma ideia de pertencimento com outras áreas e categorias de Moçambique. Apesar disso, Mia Couto declara que existe um diálogo intercultural muito forte dentro do país. Prossegue fazendo uma crítica a como é concebido o passado, e que isto afeta presente e futuro. Como a história africana é vista erroneamente como se o Continente pré -colonial fosse atemporal, igualitário e harmônico, se cria uma interpretação de culpabilidade única e exclusiva da interferência externa. Assim, o autor busca negar essa isenção de responsabilidade interna, chamando atenção para o fato de que a escravidão existia antes do tráfico transatlântico de negros africanos para as Américas, e que esse comércio negreiro beneficiou e teve permissão dos líderes africanos que lucraram com a escravidão dos reinos inimigos vizinhos. Então, o autor vai criticar essa vitimização inerte reivindicando maior atuação dos africanos para uma mudança efetiva que deve iniciar com a produção de pensamento autônomo. Outra preocupação de Mia couto, é que os projetos de desenvolvimento são elaborados de forma superficial e apenas para aparência baseados em jargões internacionais, sem pretender promover uma mudança real. O continente africano está ameaçado de ficar marginalizado no mercado e política mundial e pelo próprio governo e elites internas que servem a interesses alheios a população. A corrupção e abusos de poder são outros dois grandes obstáculos para a mudança, assim como a ação de missionários que difundem teologias que enfraquecem ou condenam povos inteiros. Os casos de mortes e absurdos políticos contribuem para a naturalização da ideia de que os conflitos e desordens são inerentes a África. É preciso desconstruir essa imagem, e reforçar a pluralidade e a mestiçagem que esses elementos sim fazem parte de sua configuração. A identidade africana entra na discussão levantada por Mia Couto, como algo que se busca, que está confusa e misturada a conceitos estrangeiros, mas o autor defende que é preciso encontrá-la partindo de dentro, da formação de perspectivas próprias e originais, buscando soluções e construção de uma nova imagem da África. Mia Couto levanta grandes problemáticas que afligem o Continente Africano. Porém, acaba por não explicar de forma objetiva alguns dos temas comentados. Existe corrupção, roubos e abusos de poder, mas quais são esses líderes políticos, porque permanecem no poder e como a corrupção está afetando diretamente a vida dessa população são questões que não entram em pauta. A exportação de ideias é um fenômeno global e político, principalmente nos países de passado colonial, no qual o pensamento do colonizador, que se resume a basicamente à Europa, muitas vezes prevalece ou exerce grande influência na produção intelectual desses países. Com a globalização o pensamento das nações hegemônicas são cada vez mais exportados e adentram nas diversas áreas e nações. A crítica de autenticidade do pensamento parece pouco refinada e inteligível para por em prática. Quais seriam as formas e caminhos para buscar um pensamento mais autônomo? Estudar as culturas dos povos mais tradicionais? Ficou um pouco vaga essa proposta ou então genérica, pois trata-se de um problema amplo a europeização e a imposição de um pensamento ocidental, assim como sair dessas bases se constitui como uma grande discussão. O texto de Mia Couto tem grande importância por ser tratar de um intelectual africano que se propõe a pensar seu próprio continente e identifica diversos problemas pertinentes. Apesar de breve, por vezes não esmiuçar e identificar falhas de forma objetiva, e trazer uma proposta um tanto genérica, são feitas criticas relevantes contendo exemplos de casos, e informações ricas sob o olhar de um africano.