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RESENHA DOS TEXTOS REFERENTES AOS AUTORES CLÓVIS MOURA e

AMAURI MENDES PEREIRA.

Os estudos e questões que envolvem o negro no Brasil ganharam recentemente


maior força e visibilidade perante a sociedade como um todo. Os autores aqui
levantados buscaram tratar em seus trabalhos, como a presença histórica dos negros
alcança relevância nas pesquisas, como a visão sobre a população negra foi se
modificando ao longo do tempo, e ainda como foi se dando o engajamento político de
luta e resistência contra o preconceito a partir de lideranças e do Movimento Negro.
Clóvis Moura procura demonstrar como a análise das relações inter-étnicas e raciais
vem ganhando relevo, sempre se entrelaçando com o problema do escravo e de seu
enquadramento histórico como inferior na visão eurocêntrica e cientificista do XIX.
Relata que o grande problema dos trabalhos sobre a temática consiste em dividir o
antropológico do sociológico, defendendo uma abordagem que unisse o social e o
cultural formando o conjunto dos valores culturais africanos como resistência social.
Moura levanta os estudos da historiografia sobre o negro no Brasil, sendo Nina
Rodrigues o percussor, que apesar de algumas ideias etnocêntricas, ao comparar a
sobrevivência das instituições africanas no Brasil, compreender a procedência de traços
culturais afro-brasileiros, as reminiscências linguísticas e o mundo religioso. Ainda,
percebeu essa cultura negra como dinâmica, elementos se perdiam ou perduravam de
acordo com as situações de resistência de cada momento. Sobre Arthur Ramos relata o
grande problema que teve em analisar aspectos culturais em diferentes contextos sem
lhes atribuir diferentes significados. Gilberto Freyre surge como importante autor que
derrubou a tese de inferioridade do negro, porém critica como trata a relação entre
senhor e escravo como dócil e complementar. Por fim referencia Edson carneiro que
realizou um estudo consciente logo demarcando a influencia banto na Bahia na vigência
de exclusivismo sudanês de Nina Rodrigues. Também fez uma pesquisa importante
sobre sobrevivências religiosas afro-brasileiras. Clóvis Moura ainda discute o conceito e
a “negritude’ que surge como movimento literário de intelectuais negros europeus que
denunciavam a diferenciação feita à raça negra. Porém o movimento se resumia ao
estético, não se consolidando como um protesto social e político. Na África pelo
contexto de luta política o conceito foi bem incorporado, porém no Brasil ficou
estagnado nessa tendência elitista até após o Estado Novo, ganhando novos significados
com o advento da juventude negra. O conceito, então deve ser tido como dinâmico,
modificável de acordo com a realidade social e reinvindicação dos grupos
marginalizados que deverão a seus propósitos incorporar a ideia de negritude.
Amauri Mendes aborda a formação do Movimento Negro iniciando com atuação
de militantes de São Paulo no início do século XX até as mais recentes organizações.
Trata de forma mais pormenorizada o contexto referenciado por Clóvis Moura, dessa
emergência política, em primeiro momento, da Frente Negra Brasileira que foi fechada
pelo Estado Novo. Depois surgem movimentos e organizações no qual predominavam
uma militância negra de classe média aliada ao crescimento da importância das
manifestações culturais-religiosas afro-brasileiras, e estes eram administrados pelo
poder e valores dominantes incorporando leis de proteção para controlar os conflitos,
mas na realidade prática o racismo prevalecia. Ainda surge o mito da Democracia racial,
de igualdade de todos, como mecanismo de desmobilização. Amauri se posiciona contra
uma subjugação passiva do mito da igualdade racial pelos negros, pontuando que o
período foi de ganho significativo de direitos que levou a um certo aproveitamento
dessa ideia. Nas décadas de 70 e 80 o Movimento Negro ressurge, combatendo a
tendência marxista de homogeneização do proletariado, e através de inúmeras
militâncias, que perpassa pela Juventude Negra, os movimentos tomaram forma,
conquistando espaço com a criação de inúmeras entidades nas diferentes regiões do
Brasil, com a ascensão dos movimentos de valorização cultural, da maior visibilidade e
personalidades negras históricas, sendo generalizado pelo Brasil com a emancipação
desse lugar de fala e de diálogo.
Clóvis Moura faz um importante levantamento dos estudos sobre a população
negra no Brasil, elencando problemas e importantes contribuições dos autores, e
tratando do conceito de negritude, como foi formado e utilizado nos movimentos
reivindicatórios que surgiram. Amauri Mendes também aborda o tema dos Movimentos
Negros, e nesse sentido ocorre a relação entre os autores. Enquanto Amauri descreve
detalhadamente a emancipação de organizações políticas e de militância afro-brasileiras,
Moura oferece esse conceito, sua origem e remodelação, que explica como diferentes
frentes vão perceber e lutar oferecendo um sentido próprio a sua forma de resistência.
Duas maneiras de abordar essa temática, que se complementam. Ambos os autores
realizam um excelente trabalho, talvez faltou ao Moura afirmar essa nova abordagem de
Gilberto Freyre, de converter a categoria raça à concepção de cultura, que deveria ser
valorizado por suas singularidades, bem apontado por Amauri. Mas os autores, como
afirmei, se complementam; a leitura de Clóvis pede a leitura de Amauri.
BIBLIOGRAFIA
“MOURA, Clóvis. Brasil: Raízes do protesto negro, p.76-105. Global Editora, São
Paulo, 1983.

PEREIRA, Amauri Mendes. Emergência e Ruptura: Uma abordagem do Movimento


Negro na sociedade brasileira. Palestra realizada no Seminário História do Movimento
Negro no Brasil – Pós-graduação em sociologia – Univ. Federal Fluminense –
Novembro, 1999.

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