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APOSTILA DE CARACTERIZAÇÃO - CAP1e2 PDF
APOSTILA DE CARACTERIZAÇÃO - CAP1e2 PDF
ENGENHARIA DE MINAS
CAMPUS JOÃO MONLEVADE
CARACTERIZAÇÃO
MINERALÓGICA E TECNOLÓGICA
DE MINÉRIOS
- NOTAS DE AULAS –
Como qualquer outra fase de um projeto industrial, a Caracterização de Minérios tem por
fim o estudo e a geração de produtos que atendam as especificações de Mercado. Sendo
assim, cabem a esta etapa, também, as seguintes funções:
Todos estes fatores fazem com que a etapa de Caracterização de Minérios seja
determinante para o aproveitamento do recurso mineral de forma otimizada, assim como um
rendimento global elevado da planta de processos.
A complexidade crescente dos minérios, tanto sob os aspectos físicos, quanto químicos,
tem exigido cada vez mais, que estudos de caracterização das propriedades dos seus minerais
constituintes precedam o desenvolvimento de seus processos de concentração. Também,
aquela que poderia ser chamada de caracterização de acompanhamento ou monitoramento
dos produtos de cada uma das etapas do processo de concentração faz-se imprescindível. Não
apenas pelas questões intrínsecas aos minérios, mas pela necessidade de se atingir a melhor
qualidade do produto, como já ressaltado, ao menor custo e à menor geração de impacto
ambiental.
Pode-se citar como informações importantes, provenientes do estudo dos minerais, para
alguns trabalhos de caracterização: Clivagem, Dureza, Densidade, Tenacidade, Brilho, Cor,
Diafaneidade, Pleocroísmo, Refração e Reflexão da luz, Luminescência, Propriedades
magnéticas e morfológicas em geral. Existem, portanto, uma gama de características
intrínsecas aos minerais que possuem significativos empregos para a caracterização de
minérios.
Por definição, pode-se entender uma espécie mineral como uma substância sólida natural,
formada por processos inorgânicos, de composição química definida e estrutura atômica
ordenada. Estas duas últimas características, em muitos casos, fornecem subsídios na
determinação de grande parte da assembléia mineralógica de um dado minério, visto que, por
possuírem composições químicas e estruturais bem definidas e particularidades entre seus
átomos, alguns métodos e instrumentos de medidas foram propositalmente desenvolvidos em
função destes fatores.
Finalmente, pode-se concluir que o planeta Terra é repleto em sua maioria de minerais
constituídos, principalmente, da sílica (SiO2), muitos constituídos do elemento ferro (Fe), caso
de nossas rochas itabiríticas e hematíticas, do alumínio (Al), lavrado em determinadas rochas
ou presente como contaminante no minério de ferro, em forma de alumina (Al2O3), o cálcio
(Ca), principal constituinte do Calcário (CaCO3), etc. E raros minerais constituintes dos
elementos cobre (Cu), chumbo (Pb), etc, como é evidente a menor proporção de jazidas destes
elementos, até então descobertas no planeta Terra.
1.2)ESTÁGIOS DA CARACTERIZAÇÃO
Não existe uma regra definida, ou uma “receita de bolo” para se definir uma rota de
estágios e técnicas de caracterização, pois cada análise está relacionada aos objetivos iniciais
do trabalho, dos resultados que se deseja alcançar e das particularidades do minério ou
mineral em estudo. Por exemplo, um engenheiro ou um técnico responsável por um trabalho de
caracterização de amostras de rejeitos de uma usina de beneficiamento de fosfato, pode
determinar rotas e fluxogramas de testes completamente distintos das de um geólogo que
deseja conhecer as tipologias rochosas de um determinado depósito de minério de ferro. Ou
seja, os objetivos e os tipos de minérios em questão possuem particularidades distintas e
exigem ações diferentes dos responsáveis.
Contudo, de acordo com vários trabalhos que são constantemente realizados nos diversos
centros de pesquisas e laboratórios envolvidos, é notável que algumas técnicas estão quase
sempre presentes e, que alguns estágios possuem forte interdependência entre si, mesmo não
existindo uma ordem bem definida entre eles.
De uma forma geral, quando a amostra é enviada ao laboratório fora dos padrões
granulométricos considerados ideais, esta deve ser inicialmente britada e moída a um tamanho
de partícula máximo (top size), adequando-se a faixa de tamanho necessária para se iniciar os
testes. Este procedimento pode ser também necessário para garantir a representatividade da
amostra de cabeça e das suas diversas alíquotas. Logicamente, fragmentos de rochas da
amostra primária, também podem ser separados para estudos petrográficos e mineralógicos,
antes de serem cominuídos.
Em algumas situações, o objetivo dos testes pode ser apenas a determinação do “índice de
trabalho” do material, ou Work Index (WI) (que será estudado adiante). Este índice se relaciona
diretamente com o desempenho (resistência física) do material frente às operações de
fragmentação. Sendo assim, o número de estágios para realizá-lo é mínimo, ficando restrito
apenas ao auxílio de um moinho de laboratório, como equipamento principal.
Após cominuição, a amostra deve ser homogeneizada e quarteada para obtenção das
alíquotas para os diferentes ensaios. Uma alíquota pode ser separada para análise química e
mineralógica (identificação da assembléia mineralógica e sua quantificação – caracterização
mineralógica) da amostra de cabeça (head sample), outra para cálculo de liberação, uma
terceira para análise granulométrica e fracionamento das fases (estágios de caracterização
tecnológica dos minérios), e assim por diante. Após os estágios de separação das faixas
granulométricas e distinção das fases pelas técnicas de fracionamento da amostra,
eventualmente, há a necessidade em se analisar novamente as propriedades químicas e
mineralógicas dos produtos fracionados. Simplesmente para se conhecer a assembléia
mineralógica dos produtos, ou como forma de se calcular as recuperações e eficiências do
fracionamento (obviamente, quando este é o objetivo do estudo).
Como já ressaltado, é impossível definir uma regra geral para seqüência dos testes, pelo
fato de que cada estudo de caracterização possui um objetivo próprio e cada minério possui
uma propriedade física, química e mineralógica específica.
Os principais estágios presentes nos estudos de Caracterização Mineralógica e
Tecnológica de Minérios podem ser resumidos, seguindo as seguintes macro-divisões:
Análise Granulométrica:
Fracionamento da Amostra:
fragmentabilidade fragmentação
Análise de imagens.
Liberação:
Análise Química:
A figura 1.3 ilustra um resultado parcial de caracterização realizado para uma determinada
amostra de itabirito, onde foram avaliados: distribuição granulométrica, composições química
por faixa e identificados os minerais presentes, também por faixa granulométrica.
Figura 1.3 – Resultado granuloquímico e identificação de fases de uma amostra de itabirito
Vários outros estágios e métodos que não foram citados podem ser empregados para
outras análises em função das necessidades dos resultados.
Podem-se citar alguns dos principais métodos e técnicas encontrados nos diversos
estágios de caracterização:
Separabilidade Magnética:
Separador Magnético de Tambor;
Frantz;
Separabilidade Gravimétrica
Funis de separação;
Separação em Líquidos Densos (Bases aquosa e orgânica);
Liberação:
Medição, previsão e simulação;
Método de Gaudin;
Microscopia óptica;
Lupa;
Microscópio estereoscópico;
Propriedades exploradas: cor, brilho, clivagens, fraturas, etc;
Difração de raios-X:
Difratômetro de raios X;
Determinação da composição de fases da amostra (composição mineral);
A seqüência completa de operações, desde a pilha inicial do minério até a etapa na qual o
ensaio desejado será realizado pode ser dividida em uma série de estágios de preparação e
amostragem.
A amostragem propriamente dita pode ser realizada pelos métodos de partilha (lotes
manuseáveis) e colheita (lotes não manuseáveis) para operações industriais contínuas. Em
qualquer caso, cada amostragem equivale a uma redução de peso da amostra e qualquer
seqüência de operações que precedam à redução de peso seriam os estágios de preparação.
Uma amostragem perfeita envolveria grandes volumes de material que fosse homogêneo e
o uso de técnicas perfeitas de amostragem. Os minérios são, em geral, heterogêneos em
relação aos seus constituintes mineralógicos e, portanto, em relação às propriedades físicas e
físico-químicas destes minerais. Além disto, algumas análises desejáveis na prática podem
envolver quantidades de minério tão pequenas quanto 1 (uma) grama ou frações ainda
menores, como são as necessárias nos casos de técnicas de difração de raios-X e microscopia
eletrônica de varredura (MEV).
ERROS DE AMOSTRAGEM
Em uma amostragem completa o erro total pode ser considerado como uma soma dos
erros de operação e os de amostragem propriamente dita.
Os erros de amostragem por sua vez podem ser considerados como a soma de sete erros
independentes, quais sejam:
Todos estes erros podem ser minimizados através do uso de técnicas adequadas, e pela
teoria de Pierre Gy, que será apresentada a seguir.
TEORIA DE PIERRE GY
(Eq. 1.1)
Onde:
(Eq. 1.2)
Quando a massa do material a ser amostrada (W) é muito grande, pode-se considerar que
a razão 1/W tende a zero.
A fórmula de cálculo final do erro total de amostragem fica, portanto, em função de d, C e
w: (Equação 1.3):
(Eq. 1.3)
2. MINERALOGIA APLICADA À CARACTERIZAÇÃO DE MINÉRIOS
2.1)CONCEITOS BÁSICOS
O mineral pode ser considerado como uma unidade básica da geologia (do grego geo =
terra + logos = estudo), e é definido como uma substância sólida natural, formada por
processos inorgânicos, de composição química definida e estrutura atômica ordenada. Assim
sendo, o quartzo, de composição química SiO2 e simetria atômica trigonal, é uma espécie
mineralógica típica. Podem ser constituídos por composições atômicas bastante simples, como
o diamante (C), e o enxofre (S), até combinações complexas como a mica muscovita
[KAl2(Si3Al)O10(OH,F2)], por exemplo. Até o final dos anos 90, cerca de 3600 espécies minerais
já haviam sido determinadas.
Quando qualquer espécie mineral possui faces planas, lisas, assumindo formas
geométricas regulares, ela é designada de cristal. E ao conjunto de cristais agregados
denomina-se de drusas. Um caso particular de drusa é o geodo, que são corpos ovóides onde
os cristais crescem de forma concêntrica no seu interior.
Figura 2.1 – Importância do mineral na geologia e as derivações que podem ser feitas a partir da sua
conceituação
Os minerais não ocorrem na natureza ao acaso. Na crosta terrestre (a porção superficial de
nosso planeta), existem misturados em estado natural 90 elementos químicos. Esta mistura é
extremamente desigual em termos de abundância relativa, pois 74,3% dela é formada por
apenas dois elementos químicos: oxigênio e silício (Tabela 1). Sete outros (alumínio, ferro,
cálcio, sódio potássio, magnésio e titânio) compõem mais 25% do total, restando, portanto
somente 0,7% para todos os demais 81 elementos. Muitos dos elementos, metálicos ou não,
que são largamente utilizados pela civilização moderna, como o cobre, o chumbo, o estanho, o
flúor, etc., perfazem cada um menos de 0,01% de abundância relativa na crosta terrestre. Os
minerais constituídos por tais elementos, por conseguinte, não podem ocorrer em grande
abundância.
Enxofre S 0,052
Cloro Cl 0,048
Cromo Cr 0,037
Carbono C 0,032
Níquel Ni 0,020
Todo mineral possui um ordenamento atômico interno, que nem sempre se manifesta em
seu aspecto externo. Um mineral deve ser constituído por um número muito grande de
unidades excessivamente diminutas, dispostas segundo uma ordem tridimensional que se
repete de modo contínuo. Essas unidades estão dispostas como pontos definidos em um
retículo tridimensional, de tal modo que todas possuem vizinhanças idênticas. O retículo é
definido pelas três direções espaciais e pelas distâncias, ao longo delas, nas quais a
mesma figura aparece repetida.
De acordo com Bravais (1848), existem 14 tipos de retículos espaciais, isto é, somente são
possíveis 14 combinações de unidades de retículos espaciais, de modo que a vizinhança em
torno de cada ponto seja idêntica àquelas em torno de todos os outros pontos (Figura 2.2).
A unidade mais simples de um retículo é um poliedro virtual conhecido como cela unitária.
Cada poliedro (cela unitária) possui subdivisões (14 tipos) em função das disposições dos
pontos nos vértices, no centro ou nas faces, dos comprimentos das várias arestas e dos
ângulos (α, β, γ), entre as arestas. A partir destas subdivisões todos os minerais podem
mostrar, para cada arranjo de suas faces, uma simetria definida, que permite agrupá-los em 7
classes distintas, como é mostrado na tabela 2.2.
Tabela 2.2: Sistema Cristalino dos minerais
α = β = γ = 90º
Tetragonal Coluna quadrada Zircão, rutilo
a=b≠c
α = β = γ = 90º Olivina,
Ortorrômbico Paralelepípedo
a≠b≠c ortopiroxênio
α≠γ≠β Paralelepípedo
Triclínico Plagioclásio
paralelogonal
a≠b≠c
As unidades estruturais, que estão dispostas no espaço sobre a estrutura reticular para
formar os cristais são átomos ou grupos de átomos. Com freqüência, os átomos possuem
cargas elétricas, constituindo os íons, positivos (cátions) ou negativos (ânions). A maioria dos
arranjos cristalinos dos minerais constitui-se de íons ou grupos de íons unidos entre si por
forças elétricas originadas entre massas carregadas com cargas opostas, formando,
conseqüentemente a estrutura do cristal.
As superfícies limitantes de uma cela unitária dependem tanto da forma das unidades
quanto do ambiente onde eles se formam (temperatura, pressão, natureza da solução,
velocidade do crescimento, tensão superficial e direção do movimento da solução), portanto
cristais do mesmo mineral procedentes de localidades diferentes podem ter aparência
inteiramente distinta.
ÍNDICE DE MILLER
As faces do cristal são definidas mediante a indicação de suas interceptações nos eixos
cristalográficos. Assim, ao descrevermos uma face do cristal é necessário determinar se ela é
paralela a dois eixos e corta o terceiro, ou se é paralela a um eixo e corta os outros dois, ou
ainda se corta os três eixos. Além disto, deve-se determinar a que distância a face corta os
diferentes eixos. Para a face de um cristal que corta os eixos cristalográficos a estas distâncias
relativas (tomadas como unidades de distância) as interceptações seriam dadas como 1/a, 1/b,
1/c ou simplificando 1a, 1b, 1c. Este estudo se baseia num outro tópico da cristalografia
denominado de Índice de Miller.
Deve-se notar que, quando se desconhecem as dimensões exatas das interceptações das
faces com os eixos cristalográficos, é conveniente usar um símbolo convencional “hkl” para os
índices de Miller (h, k e l representando, cada um, um número inteiro simples). Neste símbolo,
h, k e l são respectivamente as inversões de interceptações racionais porém indefinidas, ao
longo dos eixos a, b e c.
O entendimento das principais propriedades físicas dos minerais torna-se muito importante,
na medida em que elas vão nos permitir seu reconhecimento pela vista desarmada, ou
mediante alguns testes muito simples e rápidos. As principais propriedades físicas que ocorrem
como conseqüências da estrutura atômica do mineral são as seguintes:
São magnéticos os minerais que, em seu estado natural, são atraídos por um ímã. Os
dois principais exemplos de minerais magnéticos são a magnetita (Fe3O4) e a pirrotita (FeS).
Muitos outros minerais, especialmente os que contêm ferro em sua composição química,
podem ser atraídos pelo ímã no campo magnético de um eletroímã eficiente. Por isto, o
eletroímã (o mais comum deles é o Separador Eletromagnético Frantz – que será discutido
mais tarde), é um meio importante para separar mistura de grãos de minerais pesados (areias
ricas em minerais econômicos – por exemplo), os quais possuem suscetibilidades magnéticas
diferentes.
Podem ser determinados por vários fatores, dentre os quais citamos a natureza da solução,
a velocidade de crescimento cristalino, e as condições de temperatura e pressão do ambiente.
Os minerais podem ser divididos em classes de acordo com seus arranjos químicos. São
elas:
Elementos nativos: Minerais que se encontram como minerais sob forma não
combinada. Ex.: Ouro nativo (Au), Cobre nativo (Cu), grafita (C), diamante (C), etc;
Óxidos: Combinações do ânion óxido (O2-) com cátions metálicos. A maioria dos
óxidos metálicos apresentam coloração preta e constituem minerais-minério. Ex.:
hematita (Fe2O3), cassiterita (SnO2), cuprita (CuO), etc;
1-
Nitratos: combinações do radical aniônico nitrato (NO3 ) com cátions metálicos.
Ex.: nitro (KNO3);
Boratos: combinações do radical aniônico borato (BO31-) com cátions metálicos.
Ex.: bórax (Na2B4O2.10H2O);
2-
Sulfatos: combinações do radical aniônico sulfato (SO4 ) com cátions metálicos.
Ex.: barita (BaSO4);
Silicatos: classe química que constitui cerca de 1/3 dos minerais, embora 75% em
peso da crosta terrestre, normalmente incluindo múltiplos elementos e constituindo
4-
estruturas químicas muito complexas, entre o radical aniônico silicato (SiO 4 ) com
outros ânions e/ou cátions metálicos. Entre os silicatos se reconhecem seis
subclasses, em função de suas estruturas cristalinas. (1) Nesossilicatos (ex.:
zircão, ZrSiO4); (2) Sorossilicatos (ex.: grupos de piroxênios e dos anfibólios); (5)
Inossilicatos (ex.: grupo das micas); (6) Tectossilicatos (ex.: grupo dos feldspatos).