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Prospecção & Pesquisa de Jazigos Minerais

Mais do que ouvir muitas vozes, interessa ouvir as vozes


certas (Manuel Lagarto, Nuno Longle e Sílvia Dias)

AMOSTRAGEM NA PROSPECÇÃO E PESQUISA


MINERAL
INTRODUÇÃO

Todo projecto de prospecção e/ou pesquisa mineral desenvolve-se


por etapas que se justificam por meio de resultados obtidos a partir
de amostras, sejam elas:

(1) Espécimes físicos (rocha, minério, sedimentos de drenagem,


concentrado de bateia, água, rejeito de mina, e assim por diante);

(2) Dados estatísticos (medidas estruturais, teores químicos e


geoquímicos, medidas geofísicas, percentagens de composição
mineralógica, entre outros); ou

(3) Informações qualitativas (descrições de regiões, afloramentos e


amostras).

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OBJECTIVOS DA AMOSTRAGEM
Amostragem consiste em seleccionar parte (amostra) de uma
população para observar, de modo que seja possível estimar alguma
coisa sobre toda população (Steve Thompson).

Amostra é uma porção reduzida de um corpo ou população


infinitamente maior, que resume, em si mesma, determinadas
características do todo.

Para que ocorra esta representatividade, é preciso adoptar critérios e


métodos que permitam manter os erros intrínsecos de cada etapa,
desde a colecta da amostra até a interpretação dos dados, dentro de
limites aceitáveis e controlados.

Ao contrário do que se afirma comummente, a amostra não representa


um corpo de rocha ou minério, mas exclusivamente as suas porções
fisicamente acessíveis, e os seus dados podem ser extrapolados apenas
às zonas de influência estatisticamente definidas.
OBJECTIVOS DA AMOSTRAGEM
O objectivo final de toda amostragem é a determinação de um
parâmetro de qualidade, ou atributo, dentro de uma população: teores
geoquímicos, mineralogia, humidade, porosidade, densidade,
susceptibilidade magnética, e assim por diante.

É preciso não esquecer que um depósito mineral é uma mistura de


minerais em proporções que variam de ponto a ponto da sua massa,
consequentemente, as proporções de seus “metais” também variam de
um local a outro, por isto, é extremamente improvável que uma única
amostra represente com eficiência a composição global do depósito. O
erro existente diminui com o número crescente de amostras, mas não
desaparece.

Toda amostragem envolve, portanto, um erro intrínseco. Os objectivos


da amostragem devem incluir, por isto, a busca do equilíbrio entre o
menor número de amostras e o maior grau de precisão possível.
OBJECTIVOS DA AMOSTRAGEM
Os objectivos gerais da amostragem podem ser assim relacionados:

• Representar depósitos naturais ou artificiais (stocks e rejeitos) de


rochas, minerais e minérios.

• Determinar propriedades físicas e químicas dos materiais


amostrados.

• Aplicar os dados assim obtidos para:

(a) classificação de rochas, minerais e minérios;


(b) avaliação de potencialidade económica;
(c) cubagem (quantificacao) de reservas;
(d) selecção de processos de tratamento e transformação
industrial;
(e) interpretação dos processos de formação.
PRINCÍPIOS DA AMOSTRAGEM

A amostragem deve ser sempre sistemática, independentemente


da etapa e dos objectivos do trabalho.
Isto significa que ela deve sempre obedecer aos critérios e métodos
da sua teoria. Não existe vantagem em se recorrer a procedimentos
mais fáceis, quando eles prejudicam os resultados, pois, talvez seja
preferível não ter dados do que tê-los falsos ou com erros acima dos
limites aceitáveis.
Toda amostragem envolve erros, em todas as etapas, desde a
colecta até a interpretação dos dados. Estes erros devem ser
mantidos sob controlo, por métodos apropriados, para que se
mantenham conhecidos e dentro dos limites admissíveis para cada
caso. É fácil de se verificar o quanto este princípio deixa de ser
obedecido nos projectos de prospecção, pelas raras referências feitas
nos textos aos limites dos erros observados em cada tipo de
amostragem.
PRINCÍPIOS DA AMOSTRAGEM
Uma amostra só pode representar uma zona de homogeneidade
para um determinado atributo. Isto pode corresponder a uma zona
visivelmente uniforme do corpo amostrado, por meio de alguma
propriedade aparente (ex., variações litológicas e zonas de alteração
por meteorização), ou a uma zona de influência determinada
estatisticamente. O primeiro tipo de zona homogênea tem valor
somente quando é confirmado e coincidente com o segundo, pois a
representatividade é um conceito estatístico.

A escolha de qualquer esquema de amostragem exige a definição


do comportamento estatístico dos atributos pesquisados através
do corpo amostrado. Por isto, as regras empíricas aplicam-se
somente às fases preliminares de qualquer pesquisa, pois elas se
baseiam em modelos genéricos. Toda amostragem sistemática exige
uma fase inicial para determinação do comportamento estatístico dos
atributos investigados que é definido pelo coeficiente de variabilidade,
e planeamento do esquema de amostragem .
COEFICIENTE DE VARIABILIDADE DOS DEPÓSITOS MINERAIS

O coeficiente de variabilidade é um conceito estatístico de


aplicação universal para a caracterização do comportamento
estatístico dos atributos medidos numa população. A sua equação é
simples:
V = (d / x )* 100%
d: desvio-padrão dos valores
x: média dos valores

O coeficiente de variabilidade é parâmetro fundamental para a


escolha dos métodos de amostragem litológica.
COEFICIENTE DE VARIABILIDADE DOS DEPÓSITOS MINERAIS

O coeficiente de variabilidade permite classificar os depósitos


minerais em três categorias de variabilidade:

1. Depósitos regulares
V = até 40%

Maciços ou em camadas, são depósitos nos quais os minerais de


minério constituem a grande massa. Os parâmetros de qualidade
variam essencialmente em função da composição química destes
minerais e das propriedades físicas do corpo de minério. Exemplos:
depósitos sedimentares de carvão, calcário, enxofre, ferro, manganês,
fosforite, sais de potássio, bauxite, argilas e materiais de construção.
COEFICIENTE DE VARIABILIDADE DOS DEPÓSITOS MINERAIS

2. Depósitos irregulares
V = 40% a 100%

Filonianos ou disseminados na massa de rochas ígneas ou


sedimentares, raramente metamórficas, estes depósitos contêm
minerais de minérios formando a mineralogia essencial dos filões e
das disseminações. Os teores globais (não os de cada veio, portanto)
variam basicamente em função da composição química dos minerais
de minério e da geometria dos corpos mineralizados (tamanho,
forma e distribuição). Exemplos: depósitos filonianos e
disseminados de Cu, W, Mo, Sb, Hg, Co, fluorite, calcite, barite.
COEFICIENTE DE VARIABILIDADE DOS DEPÓSITOS MINERAIS

3. Depósitos erráticos
V = acima de 100%

São filonianos ou disseminados na matriz de brechas ou


conglomerados, nos quais os minerais de minério representam
porções menores da mineralogia dos corpos mineralizados,
descendo ao nível de minerais acessórios. Os teores variam
basicamente em função da composição e da concentração dos
minerais de minério. Exemplos: depósitos filonianos e disseminados
de Sn, W, Mo, Au, Pt, Be, Li, REE e depósitos detríticos de Sn, W,
Nb, Ta, Ti, Au, Pt, Zr.
TIPOS DE AMOSTRAS LITOLÓGICAS
As amostras litológicas podem ser classificadas, segundo a forma de
colecta, em: pontuais, que podem ser simples (blocos) ou compostas
(lascas e punhados); lineares, que podem ser obtidas por meio de
canal, testemunho de sondagem ou pós de perfuratriz; planares, que
são em camadas; e de volume, que podem ser colectadas em poços,
galerias ou pilhas de estoque
Amostras pontuais
Para McKinstry (1977), as amostras pontuais, ou de lascas, nunca
devem ser usadas em trabalhos de prospecção/pesquisa, mas apenas
no controlo de qualidade em frentes de lavra, quando o método já foi
comparado com canais e aprovado como suficientemente preciso.
Mesmo as compostas, ou de punhados, colectadas em pilhas de
estoque e desmonte (frentes de fogo), aplicam-se somente a minérios
cujos teores não dependem do comportamento do minério e do estéril
à explosão, ou a stocks já homogeneizados.
TIPOS DE AMOSTRAS LITOLÓGICAS

Amostras pontuais
Tanto as amostras simples quanto as compostas, embora sejam
frequentemente usadas na prospecção, apresentam erros
inadmissíveis. A sua aplicação é limitada a estudos petrográficos,
porque a própria técnica de análise exige este tipo de amostra, e à
dosagem química dos constituintes essenciais de rochas
tipicamente homogêneas.

Apesar do processo aparentemente rudimentar de colecta, a


regularidade deve ser mantida tanto no tamanho das lascas, assim
como, no espaçamento entre os pontos de amostragem. O tamanho
de cada fragmento e de cada amostra depende da granulometria do
material, enquanto o espaçamento da amostragem depende da
regularidade espacial do atributo medido.
TIPOS DE AMOSTRAS LITOLÓGICAS

Amostras de canal

Amostras de canal são as mais recomendadas e utilizadas na


pesquisa de rochas e minérios tabulares - filões ou camadas. Nestes
corpos, os constituintes distribuem-se com variações tipicamente
anisótropas, isto é, com graus de variabilidade muito mais altos
através da espessura do que ao longo da direcção e da inclinação.

Canais irregulares ou linhas de fragmentos são frequentemente


usados como se fossem amostras de canal, mas este é um erro
grosseiro que deve ser evitado, porque não há termos de comparação
entre as representatividades dos dois tipos de amostras.
TIPOS DE AMOSTRAS LITOLÓGICAS

Amostras de canal

A principal característica da amostra de canal não pode ser


deformada e ela justifica a universalidade da sua aplicação: a
regularidade de volume da amostra ao longo de uma dimensão do
corpo amostrado.
TIPOS DE AMOSTRAS LITOLÓGICAS

Amostras de canal
TIPOS DE AMOSTRAS LITOLÓGICAS
Amostras de canal
Existem duas importantes vantagens em se amostrar
separadamente cada unidade homogênea:
• isto evita erros de enriquecimento ou empobrecimento, quando
se colecta mais material rico do que pobre, ou vice-versa;
• há maior precisão nas informações sobre as variações de teores
em correspondência às mudanças litológicas.

A divisão do canal também deve ser feita em função das variações


de outros atributos das rochas: mineralogia, alteração, cor, dureza,
textura, estrutura e assim por diante. Acontece que são elas que
servem de guia visível para a escolha do fraccionamento da
amostra, o que se justifica do ponto-de-vista petrológico e
geoquímico, uma vez que raramente as mudanças de aspecto não
são acompanhadas por variações composicionais nas rochas.
TIPOS DE AMOSTRAS LITOLÓGICAS
Amostras de canal

O canal deve cortar a rocha no sentido da maior variabilidade


composicional, que corresponde quase sempre à espessura dos
corpos tabulares e lenticulares.
TIPOS DE AMOSTRAS LITOLÓGICAS
Amostras de camada

São usadas em veios ou camadas muito delgadas e de minérios


irregulares, em que o canal acaba sendo a superfície de exposição do
corpo mineralizado, isto é, extrai-se uma camada delgada de
material ao longo da área aflorante. Não existem regras para o seu
dimensionamento. Elas podem ter espessuras de 5 a 10 cm e
extensão de 1 m, ou correspondente à própria exposição. O controlo
pode ser feito pelo peso.

Entretanto, estas amostras são geralmente tão demoradas e difíceis


de se colectar em materiais duros que só devem ser colectadas em
veios delgados de minérios altamente irregulares, como filões
auríferos com pepitas, ou para controlar outras amostras em
depósitos de pequena espessura.
TIPOS DE AMOSTRAS LITOLÓGICAS
Amostras de volume

Estas amostras são normalmente usadas em avaliações de


depósitos, para determinação das características tecnológicas dos
minérios, na escala de laboratório ou industrial. No entanto,
mesmo nas fases iniciais de projectos, elas são usadas para
fornecer informações preliminares sobre minerais industriais.

Outros minérios podem exigir amostragem de volume, quando são


altamente irregulares em teores e granulometria (por exemplo,
conglomerados e brechas com mineralizações disseminadas na
matriz), porque os erros das demais amostras são muito grandes.
Estes depósitos são normalmente de W, Sn, Mo, Au, Pt, micas e
gemas.
TIPOS DE AMOSTRAS LITOLÓGICAS
Amostras de volume

Não existem fórmulas disponíveis, fora da Geostatística, para a


determinação de seus volumes, mas apenas indicações genéricas.
Para minérios de W, Sn, Mo e Au, recomenda-se iniciar com 1 a
1,5 t ou, se o material for posteriormente concentrado ou
quarteado, com 2 a 3 t.

Para ensaios tecnológicos, é recomendável manter a amostra em


seu estado natural, com estrutura e humidade preservadas. Isto se
obtém por armazenamento especial: sacos plásticos ou tambores
fechados.
A ESCOLHA DO TIPO DE AMOSTRAGEM

A selecção do tipo de amostragem é feita normalmente em


função dos seguintes parâmetros:

• forma e tamanho dos corpos de rocha ou minério;

• estrutura interna dos corpos de rocha ou minério;

• grau de homogeneidade composicional do material, indicado


pelo coeficiente de variabilidade;

• destino das amostras.

A Tabela a seguir resume os critérios e esclarece o seu uso na escolha do tipo de


amostra mais adequado para cada caso, constituindo, desta forma um guia geral de
consulta no campo. Esta orientação deve ser seguida em fases regionais de
prospecção, pois, em avaliação de depósitos é recomendável o uso da Geostatística.
A ESCOLHA DO TIPO DE AMOSTRAGEM
RECOMENDAÇÕES FINAIS

1. Leve sempre para o campo o material necessário e adequado para


a colecta e embalagem de qualquer tipo de amostra.

2. Aplique rigorosamente os critérios científicos da amostragem


litológica, não admitindo negligência em nenhuma das suas etapas.
Isto é, colecte o tipo certo de amostra e da forma correcta para cada
objectivo e cada tipo de material.

3. Registe sempre, na caderneta de campo e nos relatórios técnicos,


as condições e os critérios de amostragem, para a análise crítica e o
julgamento da qualidade dos resultados.
RECOMENDAÇÕES FINAIS
4. Para economia de custos, recorra ao critério da amostra
combinada. Isto é, sempre que o orçamento disponível impedir
uma amostragem tão representativa e abrangente quanto a que seria
necessária para um determinado objectivo, colecte as amostras
dentro do dimensionamento ideal, combinando as amostras
adjacentes e correspondentes aos mesmos tipos de materiais
litológicos, para que os resultados analíticos acabem representando
da melhor forma possível as unidades pesquisadas.

5. Etiquete a amostra imediatamente, anotando pelo menos o


número da amostra, o local da colecta, o tipo de rocha e o destino
da amostra. A classificação da rocha é a de campo, evidentemente,
mas deve ser confirmada ou revista após uma descrição de
laboratório, com auxílio de lupa e outros recursos para identificação
de minerais.
RECOMENDAÇÕES FINAIS

6. Complemente, sempre, a descrição dos afloramentos com a


descrição macroscópica das amostras colectadas. A falta de uma
descrição mais detalhada das rochas amostradas no campo é causa
importante do baixo nível dos estudos litológicos.

7. Desbaste as amostras para ficarem com tamanhos mais ou menos


regulares. Um bom tamanho é 10 cm x 7 cm x 5 cm. Tamanhos
maiores são justificados apenas para amostrar feições especiais
(fósseis maiores, estruturas complexas, arranjos minerais especiais,
etc.) ou para ensaios específicos.

8. Tenha muito cuidado com frentes de pedreiras, onde são comuns


blocos instáveis e soltos nas paredes, furos carregados e não
explodidos, animais escondidos sob os entulhos, entre outros riscos à
segurança.
RECOMENDAÇÕES FINAIS

9. Escolha amostras sãs. Alterações de rocha podem ser amostradas


exactamente para estudar os efeitos mineralógicos, físicos e
químicos da alteração, mas não servem como amostras litológicas
representativas.
10. Amostras de determinados materiais, como água e carvão, devem
ser acondicionadas apropriadamente e enviadas imediatamente ao
laboratório, para evitar oxidação e outras reacções químicas que
alteram os resultados das análises.

11. Segundo recomendações do USGS, uma amostra de rocha não


precisa pesar mais do 0,9 kg e uma de carvão deve pesar de 1,8 a 2,3
kg.
12. Um bom padrão de saco de amostra é o de plástico com 0,006 a
0,15 mm de espessura, com capacidade de pelo menos 2 litros e com
etiqueta impressa.
RECOMENDAÇÕES FINAIS

13. Nas frentes de lavra, colecte também amostras de concentrados


e outros materiais prontos para entrega ao consumidor, para
compará-los com as rochas em estado bruto. Se houver pilhas com
produtos de diferentes granulometrias, colecte uma amostra de cada
para verificar em que fracções ocorrem enriquecimentos dos
materiais de interesse para o seu projecto.

14. Quando você obtiver autorização para colectar amostras dentro


de uma propriedade mineira, assuma o compromisso de
encaminhar os resultados para a empresa e envie-os na forma dos
laudos de laboratório, sem transcrição nem simplificação. Esta é
uma obrigação considerada fundamental no exercício da geologia.
Isto não impede que você solicite sigilo por parte da empresa, se o
seu projecto assim o exigir

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