Sophia, psicóloga clínica de 32 anos, descreve sua busca pelo autoconhecimento através de várias escolas esotéricas e sua experiência com a ayahuasca. Ela foi introduzida à ayahuasca por uma amiga e teve sua primeira cerimônia na União do Vegetal, onde teve uma experiência intensa que aprofundou seu conhecimento de forma coesa. Embora grata à UDV, Sophia acredita que o livre pensamento e a religião são antagônicos e que o autoconhecimento foi sua grande
Descrição original:
Entrevista com uma pessoa que fez uso da Ayahuasca.
Sophia, psicóloga clínica de 32 anos, descreve sua busca pelo autoconhecimento através de várias escolas esotéricas e sua experiência com a ayahuasca. Ela foi introduzida à ayahuasca por uma amiga e teve sua primeira cerimônia na União do Vegetal, onde teve uma experiência intensa que aprofundou seu conhecimento de forma coesa. Embora grata à UDV, Sophia acredita que o livre pensamento e a religião são antagônicos e que o autoconhecimento foi sua grande
Sophia, psicóloga clínica de 32 anos, descreve sua busca pelo autoconhecimento através de várias escolas esotéricas e sua experiência com a ayahuasca. Ela foi introduzida à ayahuasca por uma amiga e teve sua primeira cerimônia na União do Vegetal, onde teve uma experiência intensa que aprofundou seu conhecimento de forma coesa. Embora grata à UDV, Sophia acredita que o livre pensamento e a religião são antagônicos e que o autoconhecimento foi sua grande
Pode me chamar de Sophia, atuo profissionalmente como psicóloga
clínica, meus hobbies são a dança do ventre e as artes plásticas, mas, dançar é infinitamente mais prazeroso. Conheci a ayahuasca através de uma amiga, que frequentava uma religião chamada União do Vegetal. Para adentrar no contexto e compreender melhor minha experiência, é importante antes, falar um pouco sobre minha busca pelo autoconhecimento. Desde minha tenra infância tenho tido experiências que são desenhadas como exóticas e incomuns, refiro-me a clarividência em certos aspectos e uma busca inconsciente por compreensão dos fenômenos não explicados da natureza. Sou filha de pais católicos com inclinação ao kardecismo, o que de um lado trouxe certa repressão diante de questionamentos teológicos desafiadores num âmbito familiar e certa curiosidade estimulada pela literatura espírita guardada de forma sedutora em certas prateleiras das estantes cheias de livros numa sala de minha casa, início de uma orgulhosa biblioteca que mantenho até hoje. Aos 13 anos tive minha primeira projeção lúcida. Em outras palavras, pude ver-me fora do meu corpo e contemplar tal experiência em meu quarto. Não foi sonho e nem delírio, foi uma experiência espontânea, que hoje consigo provocar com relativa facilidade. A partir dessa experiência, sonhos e acontecimentos foram ocorrendo obedecendo certo sentido e sincronicidade. Comprei livros, revirei a internet e busquei pessoas que pudessem explicar o que se passava comigo. Era o estágio de neófita. Sinais e pessoas, encontros e reuniões. Aos 20 anos, com uma base ainda frágil de conhecimentos dessa natureza, fui iniciada na Antiga e Mística Ordem Rosacruz, escola que responde a todas as perguntas que um ser humano pode trazer em si. Estimulada ao autoconhecimento, como iniciada da AMORC, fui mais profundamente em meus estudos, ampliando saberes e adquirindo novas práticas. Passei a fazer parte também do grupo dos estudantes da Sociedade Teosófica e o vasto jardim cultivado pelas flores de Madame Blavatsky me conduziram a Haja Yoga, a teoria do ocultismo verdadeiro que pude constatar, estavam plenamente alinhadas as práticas rosacruzes e sua bela alquimia secreta. Paralelo a essas escolas que pertenço, estudei com muito afinco o reiki, a cura prãnica, a magia sexual pela escola tântrica, o tarot e seus símbolos, a astrologia e toda a ciência velada por cada configuração astronômica e também a importância das ervas. Conhecendo a Conscienciologia compreendi ainda mais aspectos do reiki e a manipulação de energia na prática, onde estudei transversalmente o mesmerismo e o magnetismo animal, a hipnose, e percebi que tudo estava perfeitamente explicado nos ensinamentos do Hermetismo, sintetizados pelos princípios contidos no Caibalion e nas obras da Doutrina Secreta, com muita similaridade dentro dos ensinamentos do budismo tibetano. Aqui estou com os meus 32 anos e com muito a explorar e aprofundar. Antes que me pergunte pela ayahuasca, digo que soube a respeito durante uma viagem a Recife com mais duas amigas para um encontro da Tradicional Ordem Martinista e posteriormente, uma iniciação em uma Ordem Hermética, também em Recife. Os eventos caíram no mesmo período e estávamos as três nesse percurso esotérico. Fomos no carro de Ana e enquanto essa dirigia, Olga, nossa companheira, falava de uma viajem que programara para o México, na busca em conhecer o mescalito, peyote, após ter lido “A Erva do Diabo”, de Carlos Castañeda. O relato de Olga despertou minha curiosidade e não pude deixar de relatar o depoimento dela para outra amiga, semanas depois já em Maceió. Charlene e eu fomos iniciadas juntas na Ordem Rosacruz, mas o destino, ou melhor, seu coração, como disse Dom Juan em “A Erva do Diabo”, escolheu outro caminho: “Se o caminho que você busca tem coração, então esse é seu caminho”. O caminho da União do Vegetal. Charlene não se identificou com a ritualística templária das escolas de mistério, não conseguia se concentrar, estava em um momento difícil de sua vida. As noites e o álcool estavam acabando com ela. Era uma perfeita praticante de ioga, mas as asanas (posturas de ioga) mais fáceis estavam difícil de executar. Como metáfora de sua vida: Perdeu o emprego de professora em todos os colégios que lecionava, seu noivo a deixou e prestes a fazer uma cirrose hepática, uma prima sua a conduziu e a apresentou na UDV. O resultado é que o vegetal, a ayahuasca, conseguiu curar Charlene do vício e degradação. Filha de uma família tradicional de Alagoas, chegou a ser símbolo de escândalos na época e motivo de vergonha na família. Enfim, recuperada! De acordo com Charlene, ela nunca aceitou as imposições machistas e dogmáticas da UDV, sua experiência com o vegetal, sua base na ioga, foi quem a tirou da dependência química. O contato direto com a Rainha da Floresta a conscientizou. Seu relato me impressionava e como descrevia suas retrocognições, regressões a vidas passadas, visões, me encantava. Era como conversar com “Castañeda” sobre as vivências xamânicas. Eu havia estudado um pouco de xamanismo, participei de alguns rituais, mas nunca imaginava algo do tipo. Para adiantar o andar da carruagem, fui convidada e semanas depois eu estava em Guaxuma, na UDV, segurando um copo americano com a mão direita, aguardando o momento de receber o vegetal e retornar ao meu lugar ao lado da Charlene. A sede de conhecimento havia me levado até ali. A vontade de conhecimento e inconscientemente a busca para integralidade do ser, me colocou diante de um liquido de cor acastanhado e cheiro azedo, ainda capaz de me causar repugnância, só pela lembrança do aroma. Uma breve oração cristã e todos viramos o copo na boca, gole seguido de gole, sem interrupção, até esvaziar o copo, diante de um gosto amargo e horrível, uma verdadeira iniciação, aguardando para conhecer “O Mágico de Oz”, como brincou Charlene. Sendo Alice, eu estava correndo atrás do coelho branco, até adentrar em sua toca e desvendar o “País das Maravilhas”. Estava frio e já passava-se quase quarenta minutos ali sentada na cadeira preguiçosa contemplando o silêncio e uma hipótese de enjoo. O corpo estava ficando pesado, meus olhos... no entanto minha mente estava lúcida e presente. Senti a presença dos elementais da mata do entorno a minha volta. De olhos fechados os vi claramente, vi a mata brilhante, mesmo estando numa grande sala aberta, minha mente estava livre e consciente. Um xamã diante de meu espirito entoou um mantra sagrado “Minguarana”... Mandalas de luz infinita explodiu ao meu redor... som, cores e formas eram um só bloco... Outra dimensão... Gratidão por ter chegado ali com uma boa base de conhecimentos sobre as leis ocultas da natureza. Em uma fração de segundos todos os meus conhecimentos foram percebidos por mim de forma coesa. Coisas que eu não entendia tornaram-se compreensíveis, tudo desvelado, tudo elucidado, não existe separatividade... Eu havia sido aceita pela Rainha da Floresta, dentre outros aspectos de fórum íntimo, eu estava diante da experiência mais intensa de minha vida. Não fui buscar cura, apenas uma vivência e vivi mais do que esperava. Dentre a UDV e outros círculos ayahuasqueiros, passei por incontáveis comunhão com o Vegetal. Sou grata a UDV pelo acolhimento, embora nunca tenha me associado, por entender que o livre pensamento e a religião são antagônicos. A prática com a ayahuasca elevou meu conhecimento a respeito de tudo, não consigo entender essa magia libertadora dentro de um aspecto restritivo como a religião, embora entenda essa necessidade porque é uma experiência aberta para qualquer pessoa, e a imensa maioria das pessoas ainda precisam da religião como elemento ameaçador para promover uma conduta humana e pacifica. O autoconhecimento foi minha grande motivação na senda da Ayahuasca e ela mesma me ensinou que eu posso ser plena em minha busca, até mesmo sem ela. E sempre bem-vinda, quando desejar voltar.