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Edson A. Scobin
PARTE UM
O início do caminho para o conhecimento
Estou um pouco sem rumo e até mesmo um pouco depressivo, porque quando
passamos a perceber o mundo verdadeiro, entendemos que tudo é muito
simples e o que acontece em nosso dia a dia, a nossa rotina, poderia ser muito
diferente, o trato entre as pessoas, a vida em si, enfim, nossa evolução ficaria
muito mais fácil, por que então é difícil enxergarmos o óbvio?
Tudo quanto podemos querer está disponível, mas para que querer tudo, se
tudo o que realmente precisamos já está dentro de nós. Espero que esse
entendimento chegue um dia a todos e parem de procurar ao longe e possam
encontrar a si mesmos.
O despertar do Eu interior traz essa sensação de vazio, pois muitas vezes não
há com quem abrir o coração e você se sente solitário, em um mundo que
parece não ser o seu.
Isso tudo é complicado e tem fases da vida que temos que ser mais humildes,
nos recolher e nos prepararmos para o que tem por vir e se forçarmos a barra,
em vez de aprender vai se perder, então é preciso aproveitar esses momentos
com sabedoria e paciência.
Estou aqui, tentando aprender a viver minha real essência espiritual, enquanto
passo por esta curta existência humana, é um caminho longo e sem volta e às
vezes solitário, mas é o único caminho que leva a evolução do ser, é o
caminho da verdade.
Um homem da mesma idade que a dele, 45 anos, com uma barba rala e de
fisionomia bem magra e até frágil, de 1,70 m de altura aproximadamente e
vestia paletó e gravata, pois sua profissão é advogado, veio fazer um convite
ao Liviêr.
Então, por nenhum motivo especial, talvez para não dizer não ao amigo, ele
aceitou o convite, que se tratava de uma reunião na própria casa do Oliver e
esse também foi outro dos motivos de aceitar aquele convite, pois não teria
que ir a lugares como igrejas, centros espíritas, ou outros locais desse tipo,
com pessoas diferentes, que realmente o deixavam desinteressado e sem
querer interagir com quem lá frequentavam, que em sua convicção eram
pessoas sem ideias próprias. “Isso não é pra mim, tenho minha religião dentro
de mim”, pensava “falo com Deus diretamente”, o que claro, nunca fazia,
nem uma prece sequer, só se lembrava de Deus quando tinha problemas, ou
em blasfêmias, quanta arrogância e descaso.
Mas então seu amigo começou a explicar o que seria a reunião, a princípio
bastante superficialmente para não o afugentar, pois se lembrava de suas
tentativas anteriores frustradas e não queria que acontecesse o mesmo dessa
vez.
Ele esperou alguma reação ou indagação, mas nada, então ele continuou.
É também conhecida pelos nomes: vegetal, daime, yagé, caapi, nixi, hoasca,
natema, vinho da alma, abuelita, chá misterioso, entre outros. O nome mais
conhecido, ayahuasca, significa "liana (cipó) dos espíritos".
Ainda que definido comumente como chá ou decocção, a ayahuasca é um
concentrado, uma redução das fervuras, resultando em um líquido marrom,
de gosto forte e normalmente acidificado. Seu feitio é realizado em
ritualísticas especiais e depois armazenado.
**Fonte: internet
— Este trabalho é na linha indígena, é xamanismo, não tem a ver com as
religiões que você conhece — completou Oliver.
— Bom, não sei, eu já ouvi falar sim do Santo Daime e acho que isso não é
pra mim, mas como você está falando que será nessa linha indígena, aí atiçou
minha curiosidade, mas só vou porque é você que está chamando e vou
chamar a minha esposa para ir junto, tudo bem?
Após o encontro com seu amigo Oliver, ele não pensou mais no assunto, nem
sequer pesquisou a respeito, simplesmente deixou para lá.
Ao longo daquela semana, a única vez que ele lembrou sobre o compromisso
foi quando convidou Vanessa, sua esposa, para participarem juntos da
reunião, falou muito breve sobre o que seria, até porque ele também não sabia
nada a respeito e ela concordou de imediato, mais por ele, porque ela sempre
o apoiava, ainda mais um convite desse tipo para o lado religioso e vindo do
Oliver, em quem ela confiava totalmente. Ela era uma mulher com cerca de
1,60 m, com 43 anos, tinha uma energia esplêndida, com cabelos castanhos e
espessos, que estavam quase sempre pintados com tons avermelhados ou
marrons, olhos cor de mel, que, quando iluminados, ficavam com um
esverdeado claro, olhos realmente lindos. Sempre apoiando o Liviêr em tudo,
segurava a barra quando ele pisava na bola, o que ocorria com certa
frequência.
Então Oliver começou a explicar com mais detalhes sobre a sessão que
estariam prestes a iniciar.
— É isso mesmo, quatro horas e não pode sair durante a sessão — retrucou
Oliver.
E o Oliver continuou:
— Se começarem a sentir mal, tem uns colchonetes que vou deixar perto das
cadeiras para deitarem, ok? Outra coisa que pode acontecer é a limpeza, então
vocês poderão ter ânsia de vômito que é bem normal, ou diarreia que é mais
difícil, mas pode acontecer, o importante é que se sentirem a necessidade de
vomitar ou ir ao banheiro, não fiquem segurando, uma que não dá — e deu
uma risadinha — vai logo, quero dizer que não é para ficar lutando contra a
sensação.
— Bom, pessoal, vocês que já participaram das sessões aqui comigo e estão
acostumados não se importem se eu der um pouco mais de atenção ao Liviêr
e à Vanessa, pois é a primeira vez para os dois, ok?
E continuou.
— Eu vou preparar as doses, que será mais ou menos 100 ml, e quando cada
um pegar seu copo, espere para bebermos todos juntos, vou dizer uma
pequena prece e todos repitam comigo, em seguida tomaremos, ok?
E então iniciou.
Todos repetiram e o Oliver continuou com mais uma prece em voz baixa e
quando terminou, falou:
O Liviêr não achou nada demais com relação ao gosto da bebida, era como
vinho azedo, tomou sem pestanejar e ainda pensou “Já bebi coisa bem pior e
não reclamei” e inclusive recusou a fatia de maçã oferecida a ele.
Ele foi tentando se acalmar e relaxar, afinal não tinha o que fazer a não ser
esperar e tentar dar uma cochilada, ali mesmo na cadeira, o que ele fazia bem,
dormia em qualquer lugar.
Ele não sabia o que pensar nem o que fazer, o desespero foi aumentando e de
repente sua visão mudou, o desconforto diminuiu, luzes começaram a girar,
mesmo com seus olhos fechados, como um caleidoscópio, nesse momento ele
entrou em êxtase, maravilhado com a experiência visual que estava
experimentando.
E de repente veio novamente à onda de mal-estar e junto a sensação de ânsia,
então se lembrou do que o Oliver havia explicado e correu para o tanque que
havia na lavanderia, ao lado da garagem, que era bem ampla. Além do tanque
fixado na parede oposta da parede que dividia os dois ambientes, também
havia uma máquina de lavar com toalhas esticadas em cima, colocada
estrategicamente para essa eventualidade. Na parede do fundo, havia uma
churrasqueira de alvenaria e um balcão de mármore suspenso, preso entre a
churrasqueira e a parede que dividia a garagem e a lavanderia, em cima do
balcão um caldeirão de ferro de tamanho médio, ardendo em fogo, algo que
ele não havia percebido e que o Oliver não havia mencionado, também havia
duas gaiolas, uma com um casal de periquitos e a outra com uma calopsita
amarela, muito bonita.
Ele voltou para a garagem, parando junto a um pequeno portão, que dividia
os dois ambientes e olhou para todos, percebeu que a Vanessa estava com
olhos fechados e deitada no colchonete, os dois rapazes e a mulher
continuavam sentados nas cadeiras, com os olhos também fechados, todos
aparentemente não se deram conta do que havia acontecido com ele, o que até
achou engraçado, pois realmente todos pareciam em um transe profundo e
não percebiam o que acontecia em volta. O Oliver estava no colchonete,
porém sentado com as pernas cruzadas, em posição de semilótus, com os
olhos fechados, mas quando o Liviêr estava parado no portão, ele os abriu e
acenou com a cabeça, como quem pergunta se está tudo bem. O Liviêr
também acenou e sorriu, dando a entender que estava tudo ótimo, então
Oliver voltou a fechar os olhos e se concentrou novamente.
O Liviêr voltou meio cambaleando para seu lugar e, mesmo com os olhos
abertos, ele via as luzes e a sensação de bem-estar tomou conta dele. Ao
deitar-se, fechou novamente os olhos e as mirações iam e vinham, nas cores
do arco-íris, estava encantado e começou interagir com as músicas, conforme
ouvia as letras e as melodias, ele podia ver a música transformando-se em
imagens. Ele começou a vislumbrar o que aparentava ser a imagem de um
pássaro, mais precisamente de um beija-flor, pois estava tocando naquele
momento à música da Elisa Cristal, Voo do Beija-flor, foi a primeira música
que ele conseguiu acompanhar a letra, com a força da “burracheira” lhe
envolvendo, e viajou na onda e nas cores da música e gargalhou alto em uma
felicidade imensa.
Voo do Beija-flor
Então, quando ele menos esperava, o Oliver quebrou o silêncio que reinava
no ambiente, exceto pelas músicas, que também cessaram.
Oliver disse:
— Senhores, chegamos ao fim da sessão, espero que todos tenham tido uma
boa experiência.
— Então, Liviêr, estou preparando outra sessão para daqui a 2 dias, eu queria
te convidar para participar novamente, o ideal é uma sessão a cada 15 dias,
pois, durante esse período, a ayahuasca ainda trabalha em seu organismo e
agora seria a hora de renovar todo o processo, o que você me diz?
Ele ficou pensativo, ficou de falar com a esposa e dar uma resposta, pareceu
meio evasivo, mas Oliver manteve as esperanças.
No dia da sessão, ele foi à casa do Oliver e chegou com boa antecedência,
dessa vez já se encontrava lá um antigo amigo de ambos, o Rinaldo, um
homem na casa dos 40 e poucos anos, bem alto, de mais de 1,80 de altura,
moreno, com um rosto bem peculiar. O Liviêr não o via há muitos anos,
porém ele o reconheceu no mesmo instante, os três foram companheiros na
juventude de várias peripécias e eles ficaram muito felizes com a surpresa do
encontro depois de mais de vinte anos sem contato, surpresa essa preparada
pelo Oliver, que não havia comunicado a ambos sobre quem estaria
participando daquela sessão.
E tudo se iniciou como a sessão anterior, porém desta vez o Liviêr aceitou a
maçã, pois o gosto da bebida já era bem mais acentuado, apesar de ser
exatamente a mesma, sentindo certo desconforto no estômago só em segurar
o copo.
A diferença foi o Rinaldo, que não teve uma experiência positiva. Apesar da
conversa descontraída que se deu antes, ele estava muito ansioso e não
conseguiu entrar na força e ficou bastante desconfortável durante todo o
tempo, o Oliver teve que se desdobrar para mantê-lo tranquilo, pois ele queria
ir embora durante a sessão, até que o Oliver decidiu levá-lo para a sala e o
deixou mais acomodado, com a TV ligada com o som o mais baixo possível.
“Uma pena”, pensou Liviêr, que ficou sem entender como alguém poderia
não ter experiência com a ayahuasca, mas era apenas a segunda vez que ele
estava participando e com certeza haveria muitas outras coisas que ele ainda
não entendia e coisas que ele nem desconfiava, que estariam por vir.
Como da vez anterior, nos dias seguintes, ele tentou mudar seu jeito de se
relacionar com as pessoas, principalmente em casa com a esposa e filhos,
mas novamente o de sempre, a rotina o engoliu e após algum tempo tudo
voltou à estaca zero, para o vazio.
Ele participava das sessões com o Oliver, acreditando que poderia mudar e
realmente pensava assim, que aquele era o caminho, pois o conhecimento
proporcionado pela Professora Divina estava começando a entrar em sua
mente, mas lhe faltava forças, sua rotina vazia era o mundo em que ele estava
habituado, sair daquela condição lhe parecia impossível, deixar coisas como
o álcool, conversas em bares, uma vida desleixada e sem compromissos
firmes parecia fora de seu alcance.
O ser contraditório enxerga um caminho que lhe parecia o correto e até quer
segui-lo, mas permanece no caminho que estava habituado, por ser mais fácil,
não conseguindo quebrar paradigmas.
— Então, Gênio, estou fazendo as sessões com o Oliver e está sendo muito
bom, tudo que vem em minha mente, durante a experiência, me mostra o
caminho certo, mas quando chego aqui no dia a dia, fico perdido e quando
venho aqui para almoçar, já fico nessa expectativa de tomar uma cerveja,
você sabe como é. — E deu uma risada.
— O pior é que eu sei disso, mas sou um safado, isso sim — falou em tom de
brincadeira.
Naquele dia, ele ficou bem introspectivo, era véspera do fim de semana e
ficou em casa sem falar muito durante todo o tempo. A Vanessa estranhou,
porque ele não quis sair, nem ir à casa da mãe dela, coisa que eles faziam
praticamente todos os fins de semana, e lá havia um bar bem em frente, que
ele gostava muito de frequentar junto com os cunhados.
Durante a semana que se seguiu, ele manteve o controle e foi ao bar do Saulo
para almoçar normalmente, mas não pediu bebida alcoólica, deu uma
desculpa que estava doente e tomando remédios, então todos estranharam e
fizeram brincadeiras a respeito. O Gênio o acompanhou durante toda semana,
como sempre, eles sentavam juntos no balcão, no mesmo lugar, já eram
lugares cativos e se alguém estivesse sentado no local, quando chegavam, se
levantavam e sediam o lugar. Era muito difícil o dia que os dois não estavam
juntos ali e quando isso não acontecia, todos estranhavam, realmente era uma
dupla inseparável, pelo menos naquele local, porém o Gênio não comentou
sobre os motivos de ele não estar bebendo a costumeira cerveja, que inclusive
sempre dividiam a garrafa, ele sabia o porquê e o apoiou incondicionalmente,
realmente era um bom amigo.
Quando chegou novamente o fim de semana, tudo foi por água abaixo e
aquele pequeno período de abstinência ficou para trás, pois os cunhados
combinaram um churrasco na casa de sua sogra, regado a cervejas e outras
bebidas mais fortes e ele se entregou totalmente à bebedeira e a rotina na
semana seguinte voltou ao normal.
E assim seguia sua vida vazia, sabendo o que precisava ser feito, mas sem a
força necessária para fazê-lo.
Dessa vez, quando ele estava no tanque fazendo a limpeza, ele começou a
perceber algo muito estranho, ouviu muitas vozes de pessoas parecendo
querer entrar no local, ouviu vozes ameaçadoras, seguida vezes.
— Vamos entrar aí, está acontecendo uma festa aqui. — E muitas risadas. —
Deve ter cerveja, então vamos entrar. — E mais risadas, porém em tom
ameaçador.
Liviêr desesperado gesticulava para o Oliver. Com muito medo, ele pediu
para abaixar o som, o Oliver se levantou e foi até ele e tentou acalmá-lo.
— São pessoas passando na rua falando alto, calma, não se preocupe. — Mas
ele não entendia.
— Se eles voltarem, vai ter que chamar a polícia, eu já os ouvi pelos menos
duas vezes ameaçando entrar aqui, você não ouviu?
O outro rapaz, que aparentemente ainda não tinha entrado na força, ficou
sentado acompanhando a movimentação e os sussurros dos dois.
— Olha aí eles novamente, vão querer entrar aqui, vamos chamar a polícia,
vocês não estão ouvindo?
— Calma, Liviêr, não tem ninguém querendo entrar aqui, foram pessoas que
passaram falando alto, mas já se foram, já te falei, deita aí e relaxa — falou
em um tom imperativo.
Então ele se deitou, mas tudo estava estranho, tudo estava muito escuro, não
havia a sensação de mal-estar físico, mas um sentimento de desespero e
começou a pensar que o Oliver havia colocado algo diferente na bebida.
“Filho da mãe, ele me ferrou, o que ele fez comigo? Quando isso acabar, vou
tirar satisfação e nunca mais volto aqui”, pensava ele desesperado.
Novamente ele estava tendo sensações difíceis com a ayahuasca, seu único
pensamento agora era que acabasse e, se ele não morresse no processo, não
tomaria nunca mais.
Apesar de o desespero ter passado, ele não via às mirações, porém começou a
sentir algo novo, um zumbido no ouvido muito forte, como se o Oliver
tivesse ligado um ventilador bem próximo a ele. Era uma vibração diferente
e, assim que o zumbido diminuiu, ele começou a ouvir vozes, sempre do lado
de fora, um pouco mais ao longe agora. Novamente veio a sensação de medo,
mas ele tentou se controlar e pensou que aquilo era só da sua cabeça, mas o
som era tão nítido, que ele se sentou e estendeu a cabeça, virando o ouvido
para perceber melhor. A essa altura, ele nem se preocupava mais com as
músicas, ou se o Oliver havia posto algo diferente na bebida, ele estava
intrigado e agora eram mulheres jovens, falando um monte de coisa
incompreensível, todas falando ao mesmo tempo, gritando e xingando.
— Meu Deus, Oliver, o que aconteceu, vocês não ouviam os caras aí fora e
depois as mulheres brigando e xingando? — perguntou ansioso.
— Foi muito nítido tudo o que eu ouvi, hoje foi tudo diferente do que as
últimas vezes, você colocou alguma coisa misturada junto com a ayahuasca?
— Claro que não, é o mesmo chá, olhe ali as garrafas, a “burracheira” foi que
te pegou de jeito, você pensou que seriam só luzes, é? — falou rindo. — A
coisa é séria, meu amigo, e tudo tem seu lado sombrio, ela te mostrou isso, a
vida é assim, nem tudo são flores.
— Nossa, realmente foi dessa forma, tudo escuro, fiquei sem rumo, sem
saber o que fazer e essas vozes, o ruído em meu ouvido e aquelas músicas
indígenas pesadas que você tocou no início, meu Deus, que desespero.
— Eu tive que trocar as músicas, achei que você ia ter um colapso, realmente
você ficou perturbado — disse Oliver sem parar de rir, achando a situação
hilária.
— E o que você acha que aconteceu, Oliver? — perguntou Liviêr com um
semblante sério.
E continuou.
— Eu até comentei com você que também passei vários apuros no começo,
quando tive contato com a força da ayahuasca, e de vez em quando tenho
umas sessões pesadas, mas já entendo que isso é necessário. Naquele dia em
que o Rinaldo falou que não teve experiência, na verdade ele passou é mal,
não fisicamente, mas internamente, pois logo na primeira vez ele já foi pego
de jeito pela “burracheira” e não soube lidar. Muitas vezes isso acontece para
mostrar ao ser que ele ainda não está preparado. Tanto é que ele não quis
mais participar, foi uma das vezes que falei sobre isso, de como tive
experiências negativas e até mesmo algumas vezes achei que como o Rinaldo
não havia tido experiência alguma e fiquei muito frustrado, como aconteceu
com ele, e você não prestou atenção ou não deu importância e aí está. Todos
que realmente buscam um aprofundamento nos ensinamentos da professora
divina têm que passar por isso. Então vamos seguir em frente, vamos nos
aprofundar na experiência — falou Olivier sorrindo.
O amigo do Oliver não participou da conversa, até porque ele ainda estava
um pouco na força e ficou deitado em seu lugar e nem prestou atenção no que
estava acontecendo.
Então o Oliver fez um sinal para ele se levantar e juntar-se a eles para tomar a
segunda dose, mas ele se recusou e apenas balançou a cabeça negativamente.
Oliver insistiu perguntado se ele tinha certeza e ele novamente apenas
balançou a cabeça confirmando a decisão e fez um sinal que estava bem.
— Lembre-se, tudo tem começo, meio e fim, acalme-se que tudo vai ficar
bem.
Logo após essas palavras, a sensação de enjoo foi passando e Liviêr ficou
com aquelas palavras na cabeça, isso o acalmou profundamente, ele
enxaguou o rosto, se secou com uma das toalhas que estava em cima da
máquina de lavar como sempre e até pensou como a esposa do Oliver é
cuidadosa, mesmo não participando das sessões ela deixava tudo organizado,
então ele voltou para o tanque e abriu a torneira, para se certificar que tudo
havia ficado limpo.
Voltou para o seu colchonete e deitou-se, desta vez ele teve as mirações e
ficou mais aliviado, achando que na segunda parte as experiências seriam
como ele estava acostumado, porém não foi bem assim.
Então seu nome ficou bem claro, a princípio ao longe e aos poucos mais
próximo, porém do lado de fora do outro lado da lona, ele ficou muito
assustado e perturbado, se levantou em um salto e quis chegar mais próximo
à lona, mas se conteve e sentou novamente.
Sentado, ficou olhando para a lona azul e várias partes dela estavam
iluminadas pela luz da vela e outras com sombras, criando formas e ele ficou
prestando atenção às formas que variavam conforme fixava o olhar, eram
rostos humanos de pessoas velhas, passando às vezes para demônios, que o
deixavam atônico e rapidamente fechava os olhos, quando abria, a imagem
humana voltava a aparecer. Ficou naquela “brisa” por um longo período, as
vozes nesse meio tempo diminuíram e então ele se deitou de costas para a
lona e voltou a atenção para as músicas, ficou assim por algum tempo.
Então de repente, ele pensou ter ouvido a lona balançar, girou o corpo
permanecendo deitado, olhou para a lona e viu algo que o arrepiou da nuca
até os pés. Entre o chão e a lona, em uma pequena fresta de uns cinco
centímetros, ele viu sombras caminhando, porém quando ele olhou a lona,
não havia formas de pessoas por trás, somente no rodapé, a impressão que ele
teve é que essas pegadas sombrias pararam mais ou menos em sua direção.
Ele sentou rapidamente para ver melhor e tentar entender à sua visão, as
pegadas sombrias se movimentaram, seguiram a lona até o final e
desapareceram. Seu coração disparou, ele não podia acreditar que era algo
real, lógico que era tudo em sua mente. Ele olhou para o rapaz deitado e para
o Oliver também deitado, ambos com os olhos fechados, quando ele virou-se
novamente para a lona, as pegadas voltaram em sentido contrário, foram e
voltaram de um lado para o outro por algumas vezes. Ele estava estarrecido,
aquilo era tão real e ao mesmo tempo sobrenatural, que ele não podia ignorar
aquilo e pensar que tudo era só em sua mente, ele estava com os olhos bem
abertos e olhando fixamente para o fenômeno, que duraram alguns minutos e
desapareceu.
Ele queria chamar o Oliver para falar sobre aquilo, mas desistiu. O que iria
dizer? No fim da sessão ele comentaria o fato. E começou a rir sozinho em
silêncio, percebendo que havia tido uma experiência espantosa e
sobrenatural.
Ficou olhando mais algum tempo para a direção da lona, para ver se
apareceria algo novamente, mas nada aconteceu. Ele olhou para a lona
tentando visualizar as imagens que vira anteriormente, entre a variação de luz
e sombra projetada pela vela, que estava em cima da mesinha dobrável na
parede oposta e, por mais que ele tentou, era só a lona azul, com luzes e
sombras normais.
Então ele voltou a deitar-se com a barriga para cima e a prestar atenção nas
músicas. Entre uma voz e outra que vinha e ia em seus ouvidos, na qual não
dava mais atenção e nem o incomodava tanto apesar de não conseguir ignorá-
las, ele seguiu a experiência de uma maneira mais tranquila até o fim, pois
achava que mais nada podia surpreendê-lo, quanta ingenuidade.
— Senhores, chegamos ao fim de mais uma sessão, espero que todos tenham
tido uma boa experiência.
— Fiquei muito relaxado, mas não tive nenhuma visão, mas foi muito bom.
E o Liviêr deu uma risada, balançou a cabeça como sem saber o que dizer e
falou:
— Bom, o que posso dizer é que foi diferente, realmente não sei o que
aconteceu, ainda estou meio atordoado com tudo isso, as vozes e as visões
que eu tive no início foram assustadoras, depois fui tentando ser mais
racional, mas realmente ainda não sei o que pensar a respeito.
— É, você deu uma surtada, fiquei preocupado e até mudei as músicas, senão
você ia entrar em parafuso — falou o Oliver dando risadas.
— É, vamos ver como que fica a mente depois de tudo isso — disse o Liviêr.
Ele ia entrar no mérito das pegadas sombrias, mas achou melhor deixar para
depois e falar a sós com o Oliver em outro momento.
Quanto ao rapaz que participou daquela sessão, o Liviêr nunca mais teve
notícias e mesmo o Oliver também não ouviu mais falar dele, nem mesmo
lembrava-se de seu nome.
E Liviêr voltou ao seu dia a dia junto à família e para seu trabalho. Como
sempre após as sessões, ele prestava mais atenção em seu comportamento e
tentava assimilar o que aprendia em sua rotina, porém não era tão fácil e
passando alguns dias ele estava de volta em seu mundo vazio, mesmo sem se
dar conta, já estava envolvido em seus vícios e comportamentos costumeiros.
— Naquela sessão, além das vozes que eu ouvi no início, dos caras querendo
entrar na sua casa, teve bem mais, realmente acho que tive uma experiência
mais profunda envolvendo vozes e visões, não quis comentar naquele dia,
pois não estava à vontade com aquele rapaz.
— Mas o que você ouviu e viu além daquela loucura do início? — E deu uma
risada. — Fiquei preocupado com o seu comportamento, mas isso acontece,
como foi a primeira vez, sei que é complicado, no momento em que você
estava fazendo a limpeza, passaram uns rapazes falando alto sobre bebidas e
festas e aquilo ficou na sua mente em um looping, por isso você ouviu a
mesma coisa algumas vezes e isso trouxe a confusão, agora por que você
achou que eles queriam entrar na minha casa só a sua mente para responder.
— Entendi, vou fazer uma força de ir com você na próxima sessão no centro
espírita.
— Não vou convidá-lo mais, quando você achar que deve ir, é só me falar
que te levo, ok?
— Uma coisa eu sei — completou o Liviêr — nessa sessão perdi a
ingenuidade achando que era só luz, dessa vez só foi sombras.
E depois daquela ocasião, ele foi por várias semanas seguidas ao centro e
inclusive começou um curso de mediunidade, que teria a duração de dois
anos, querendo buscar mais conhecimentos além das sessões com a
professora divina.
Pena que em sua vida vazia nada ia até o fim em termos de buscar
conhecimento, ele já havia desistido da Faculdade de Engenharia de
Software, que parou no segundo ano, depois fez até o primeiro ano outra
faculdade de Administração e há pouco tempo iniciou outra faculdade de
Filosofia, fez somente seis meses, dessa vez com o curso de mediunidade não
seria diferente.
Ele sabia que passou muito mal porque no dia anterior e até mesmo durante o
dia da sessão ele havia ingerido álcool e comeu sem reservas, portanto a
ayahuasca cobrou o preço do descaso.
E o Liviêr tinha a sorte de ter pessoas assim ao seu lado e ele também sentia,
no fundo da alma, essa necessidade de se ajudar.
— E aí, Liviêr, faz tempo que não faço uma sessão, mesmo depois que
melhorei da infecção do pulmão e terminei os remédios, dei um tempo, não
estava me sentindo à vontade.
Ele não havia comentado a fase difícil que passara, até para não parecer que
estava ali por conta disso, para falar sobre ayahuasca, mas no fundo o contato
e a ideia do churrasco teve essa finalidade, pelo menos lá no fundo ele tinha
essa esperança de o Oliver entrar no assunto e para sua felicidade isso estava
acontecendo.
— Eu estou bem — não dando o braço a torcer —, mas se você for fazer eu
estou disposto a participar, até porque as duas últimas foram complicadas,
você sabe, e preciso tirar a prova para saber se sigo no caminho ou se a
professora divina está me dizendo que não está mais disposta a me mostrar
seus desígnios.
— Vou ver com o pessoal quem está disposto a participar e marcar a data, aí
te informo, ok?
E assim foi, terminaram o domingo, que para o Liviêr foi bem proveitoso e
seguiu a semana.
— Oi, Liviêr, então, vou fazer a próxima sessão daqui a três dias, tudo bem
para você?
— Tranquilo, então seremos oito, vai ser a sessão com mais pessoas que vou
participar com você, como vai fazer com os colchonetes? Ou vai usar
cadeiras, porque eu tenho quatro colchonetes, posso levar.
— Com certeza vou querer sim, então vou contar com eles, ok?
Assim foi feito e, nos dias que antecederam a reunião, foi uma tortura para o
Liviêr, pois parecia que o tempo não passava, a ansiedade foi grande, ele
passou aqueles dias se preparando totalmente, ficou sem ingerir bebida
alcoólica e comeu muitas frutas, verduras e comidas leve, não queria passar
pelo apuro que havia passado na última vez, queria estar preparado na
plenitude para ter uma boa experiência, pois se fosse ao contrário, então
entenderia que não era para ele continuar o trabalho com a ayahuasca.
— Que bom que você chegou cedo, tenho uma novidade para hoje, mas não
vou oferecer para todos, por isso marquei com você e com o Paulo um pouco
antes, na verdade são duas as novidades, olha isso aqui.
Ele foi pegando o instrumento todo animado, pegou também a baqueta e foi
batendo no tambor, saindo um som grave e bem alto, explicou que ele
deixava perto do fogo para aquecer o couro, para esticá-lo.
— Esse é meu novo brinquedo — falou rindo e meio abobado. — Vamos ver
se na hora eu toco, não sei ainda o que vai acontecer, comprei com o cara que
eu pego a ayahuasca, como viriam mais pessoas, fui buscar um litro e
também comprei o tambor e isso aqui. — Mostrou um frasco de uns 10
centímetros com um pó marrom dentro e dois instrumentos de bambu com
ornamentos, parecendo artefatos indígenas, um maior como um trapézio e um
menor em V.
O Liviêr, a princípio, não achou aquilo muito atraente, ele conhecia o rapé
comum de tabaco e ele também não fumava, pelo menos esse vício ele não
tinha e não ficou muito entusiasmado com a ideia.
— Bem, Oliver, não sei não, esse negócio de tabaco não é comigo, não fiquei
muito empolgado com isso aí não.
— Bom, vamos aplicar uma vez para você conhecer, se não gostar, fica pela
experiência, você não vai virar fumante ou viciado em tabaco por conta disso.
— E deu uma risada.
O rapé nunca deve ser inspirado, deve sempre ser assoprado, tanto ao
autoaplicar-se ou receber o sopro por alguém preparado, deve-se conter a
respiração por alguns segundos para que o rapé não desça pela garganta e
cause algum desconforto, também é importante que a respiração seja feita
pela boca, até que a medicina comece a agir energeticamente.
Então veio a sensação do rapé impregnando todo seu ser, a primeira coisa foi
a ardência em seu temporal frontal e começou a lacrimejar muito, em seguida
parecia que ia desmaiar, teve a sensação de seu cérebro apagar por um
segundo, tudo ficou escuro, isso tudo com a aplicação em apenas um dos
lados do nariz, foi com certeza uma das piores sensações que já vivenciou.
Ainda tinha o outro lado, o qual ele estava determinado em não deixar o
Oliver aplicar, mas não deu tempo, sem ele pensar o Oliver colocou o
aplicador na outra narina e assoprou, ele engasgou sentindo o ardume do rapé
em sua garganta se acentuar, pois ele já estava com a ardência da primeira
aplicação, sua mente rodopiou e todo seu corpo começou a formigar,
novamente a sensação de desmaio veio e seu cérebro apagou novamente, ele
praticamente perdeu os sentidos por alguns milésimos de segundos. A tosse o
trouxe de volta, engasgando, tossindo, lacrimejando, jogou a cabeça para trás,
pois não conseguia ficar ereto e piorou, pois o rapé desceu e travou sua
garganta não conseguindo respirar.
O Oliver falava.
Mas ele não conseguia ouvir nada, estava babando e seu nariz queimava
muito, então o Oliver lhe deu papel higiênico para poder assoar o nariz.
Assim que assoou a queimação diminuiu e ele conseguiu se recompor,
enxugou a boca e assoou novamente o nariz com toda a força, tentado
eliminar o excesso, novamente ele vivenciava uma sensação de desespero, só
querendo que tudo terminasse.
— Oliver, você quer me matar, maluco — falou brincando. — Que coisa foi
essa, meu amigo? Meu Deus, nunca senti nada tão desconfortável, até a surra
que levei da ayahuasca na última sessão não se compara a isso, a diferença é
a duração do mal-estar, pelo menos foi rápido, porque se durasse mais,
realmente acho que iria morrer.
— Isso é medicina indígena, meu amigo, e tudo que cura cobra seu preço. —
E sorriu feliz pelo amigo estar melhor.
— E você, não vai fazer o rapé? Jogou a gente nessa e vai ficar de boa.
E o Liviêr falou.
— Agora estou melhor, mas não passo por isso nunca mais, não curti nenhum
pouco essa experiência, é melhor deixar isso para os índios, é coisa de doido.
— E todos riram muito.
Aparentando ser o mais sóbrio dos três, o Walter era também o mais alto,
com quase 1,80 m de altura, e também o mais velho, com uns 35 anos, bem
magro, sem barba, porém como se estivesse por fazer há alguns dias, cabelos
cortados à máquina quase raspado, com os olhos castanhos claros, vestido
normalmente com camiseta e calça jeans, se tivesse tatuagem não estava
aparente, sua fisionomia carrancuda o fazia parecer antipático, sem ser de
muita conversa.
Realmente cada sessão era bem distinta e não havia como prever como
seriam as experiências a serem vivenciadas. O Liviêr seguiu naquele ritmo de
balanço, entrando em transe e visualizando imagens nítidas e coesas, onde
estava andando em floresta, cavalgando e até mesmo como se estivesse
voando.
O Oliver usando o maracá, o qual ele sempre usava nas sessões, porém com a
novidade do tambor, variando entre um instrumento e outro junto com os
ritmos das músicas, levaram as sessões a outro nível. No final da primeira
parte, todos estavam eufóricos, a energia que estava emanando no ambiente
era espetacular, todos haviam entrado na força e estavam radiantes, até aquele
momento a sessão estava perfeita.
Todos tomaram a segunda dose e seguiu na força, ninguém fez a limpeza
dessa vez e a energia no ambiente continuou elevada, porém com o tambor
continuando a fazer a diferença, principalmente nas músicas indígenas e de
umbanda que o Oliver costumava tocar sempre na segunda parte.
Nisso já era quase metade da segunda parte da sessão, logo depois ele se
deitou, pois seu corpo estava meio dolorido, principalmente as pernas por
conta de mantê-las cruzadas e do balanço que ele fez durante quase todo o
tempo e seguiu assim até o fim.
— Que é isso, eu que agradeço sua presença, aliás, a de todos, pois sem vocês
não haveria sessão — respondeu Oliver cordialmente.
— Hoje foi tudo perfeito, a novidade foi ficar balançando para frente e para
trás, foi sem pensar, simplesmente comecei e me levou a um transe total.
Ele quis dividir um pouco mais aquelas emoções, mas, no fim, após algumas
tentativas, ele chegou à conclusão de que certas experiências só vivenciando,
não há como as descrever, também não comentou sobre as sombras, achou
melhor falar com o Oliver em outro momento.
E continuou.
— Mas hoje foi acima de todas as minhas expectativas, estou muito eufórico
ainda e não queria que a experiência terminasse. Agora é tentar mais uma vez
processar tudo isso e tentar tirar proveito para o dia a dia, tentar mudar a
rotina e, como todos, só tenho um sentimento profundo de gratidão. —
Completou entusiasmado.
— Sim, tive, eu já havia tomado antes e já tinha uma ideia de como seria,
mas hoje foi um pouco diferente da vez em que fui ao Santo Daime, hoje
parece que fiquei mais à vontade por ser um grupo menor, muito bom e muito
obrigado.
— Ah “véio”, foi muito louco, estou sem palavras, sei lá, eu me vi falando
comigo mesmo, me dando umas duras, depois também como o nosso amigo
Liviêr falou, eu estava em outros lugares, não consigo explicar direito, só sei
que foi demais, mano. Estou sentindo muito amor, sei lá, é que posso dizer,
cara, muito amor e agradecer a você e a todos.
Todos riram com o jeito espontâneo que ele falou e então o Oliver perguntou
finalmente ao Roger.
— Poxa, Oliver, como todos falaram, para mim não foi diferente, a
experiência foi formidável, me aprofundei em minha mente e vi o que precisa
ver e, claro, coisas que não são tão boas, mas faz parte. Acessei muitas
lembranças e estou muito feliz, só espero ter a oportunidade de poder
participar mais vezes e me aprofundar ainda mais nessas experiências. Como
todos, também quero te agradecer por nos aceitar aqui na sua casa, pessoas
que você nunca viu e nos recebeu com toda essa simpatia e alegria, obrigado
mesmo.
— O que é isso, eu é que agradeço a todos, estou muito feliz, por você e por
todos. Como falei antes, sem vocês aqui não teria sessão, ainda esta de hoje
que realmente foi especial, a energia estava diferente, ninguém passou mal, a
não ser o Liviêr que fez a limpeza na primeira parte, mas foi de boa. — E o
Liviêr concordou com a cabeça e ele continuou: — Eu usei a primeira vez o
tambor, estava sem saber se tocaria, mas essas coisas parece que não é a
gente que comanda, de repente eu simplesmente peguei e comecei bater e aí
foi, não sei se incomodei, mas foi. — E todos riram.
Após uma ótima noite de sono e apesar de ter dormido por volta das três
horas da manhã, ele acordou cedo e bem-disposto, acordou a Vanessa com
muito carinho, que claro estranhou, mas ele queria demonstrar todo o amor
possível à família. Depois foi acordar os filhos, primeiro o Murilo com 16
anos, já um rapaz com um 1,75 de altura, olhos grandes e castanhos, um bom
porte físico, sendo um rapaz bem atraente, que acordou resmungando da
hora, também estranhando o carinho excessivo do pai. E por último a sua
filha Isis, com 14 anos, os olhos castanhos bem claros, de vez em quando
pareciam esverdeados como os da mãe, cabelos também castanhos claros, um
pouco mais baixa que o irmão, com a pele também clara e o corpo bem
harmonioso, uma menina realmente muito bonita, que também fez manha
para levantar, mas todos entraram no clima do pai, que estava muito feliz e
conseguiu transmitir a todos aquela felicidade e seguiu o domingo naquele
clima de harmonia.
Durante aquela semana, ele foi almoçar como de costume no bar do Saulo,
encontrou o Gênio, em seus lugares de sempre trocaram muitas ideias. Liviêr
falou sobre todos os detalhes da sessão, porém nos três primeiros dias da
semana ele se conteve e não dividiu a costumeira garrafa de cerveja com o
amigo, mas depois seguiu sua rotina normal que incluía o álcool.
Toda aquela euforia que o Liviêr estava sentindo após a sessão se seguiu nos
primeiros dias, porém, ao longo da semana, foi se perdendo. A rotina o
engolia muito fácil e tudo que vivenciara ficou para trás e como sabia que
teria a próxima, se apegava a isso, na esperança da mudança definitiva.
A Molécula de DMT
Essa mensagem é com frequência algo pessoal para você ou algo que
somente se aplica à lógica do universo em que ela foi ensinada. Essas
entidades, com frequência, são oniscientes e podem tomar qualquer forma,
mas algumas são de aparência comum a vários viajantes. Essas formas
geralmente incluem humanoides extremamente inteligentes e sem corpo,
alienígenas, ou seres de luz.
Uma vez que esse efeito acaba, você se encontrando imediatamente de volta
na realidade com efeitos geométricos visuais fortes, isso é acompanhado por
uma sensação de euforia incrível e uma admiração que satura todas as
partes de seu corpo e mente. A geometria visual permanece por vários
minutos antes de desaparecer completamente, deixando efeitos corporais
benéficos que permanecem por alguns dias, acompanhados de uma sensação
de bem-estar e claridade mental que pode permanecer por semanas após
uma boa viagem.
Efeitos na Saúde, Potencial para Dependência e Tolerância
Equívocos
Essas ideias foram apresentadas pela primeira vez por Rick Strassman no
livro DMT: A Molécula do Espírito e foram então popularizadas por Terence
Mckenna, em suas obras com mais de vinte livros sobre o assunto.
Isso não é algo que o consenso científico apoia, mas foi provado
conclusivamente que traços de DMT foram encontrados no sangue, urina e
fluído espinal cerebral de alguns mamíferos incluindo os humanos, o DMT
também foi encontrado nas glândulas pineais de ratos, mas isso não significa
que temos qualquer motivo para acreditar que essa substância é liberada
durante o nascimento, morte e sonhos.
Com as informações que havia adquirido nas pesquisas, que pela primeira
vez se propôs a fazer, se sentia ainda mais preparado para a próxima sessão e
estava novamente muito ansioso.
Nos dois dias que antecederam a reunião na casa do Oliver, ele também se
preparou fisicamente, sem o consumo de álcool por mais difícil que poderia
ser, mas era por um bom motivo e também cuidou da alimentação, então
estava se sentindo totalmente pronto quando finalmente chegou o dia.
Ele chegou à casa do Oliver pelo menos uma hora antes do horário
combinado, ajudando a preparar o local. Os dois estavam bem animados e o
Liviêr perguntou quem havia confirmado.
— Então, você caiu do cavalo, vim sim preparado, inclusive fiz várias
pesquisas na internet a respeito do rapé e também do princípio ativo da
ayahuasca e outras medicinas indígenas e vou fazer o rapé sim.
— É aos poucos vou pegando o jeito e um dia chego ao seu patamar e viro
um mestre. — E deu uma gargalhada.
— O que é isso, meu amigo, eu sou tão aprendiz quanto você. Vamos esperar
o pessoal chegar para fazer o rapé todos juntos, ok?
E ficaram ali revendo se estava tudo em ordem, até que os rapazes chegaram.
Quando o Oliver abriu o portão para recebê-los, entrou primeiro o Roger, que
os cumprimentou com um grande abraço, demonstrando uma grande
satisfação por estar ali, depois o Lucimar que procedeu da mesma forma e por
último entrou o Regis, que trazia uma sacola com lanches e sucos, que
entregou ao Oliver ao cumprimentá-lo, depois se dirigiu até o Liviêr, se
apresentaram e cumprimentaram-se. Era um rapaz de uns 30 anos, com 1,70
de altura mais ou menos, muito magro, usando uma calça jeans bem apertada
e uma camiseta de rock, também todo tatuado, inclusive o pescoço, cabelos
pretos raspados dos lados da cabeça e a parte comprida caindo para o lado. Se
mostrou bem simpático e amigável, logo de cara o Liviêr gostou do rapaz.
— Pessoal, hoje vamos iniciar a sessão com a aplicação do rapé, ok? Todos
vão participar?
E aquela noite tudo fluiu muito bem, com o tambor, o maracá, as músicas
elevando a introspecções profundas aos participantes.
E a vida do Liviêr durante os meses que se seguiram foi nessa toada, sempre
participando das sessões, logo após passando por um período de calmaria e
depois de uns dias voltando à rotina que estava acostumado.
Assim se formou um laço de amizade muito forte entre os três, que estavam
sempre em contato e juntos nas sessões.
Além dos três, quem tinha uma presença mais constante era o Regis, porém
seu trabalho, que era no período da noite, o impedia de participar sempre.
E assim foi durante quase seis meses, sem muitas variações, tanto nas sessões
como na vida do Liviêr, então o Roger apresentou dois novos membros, que
integraram o grupo.
Nessa sessão, a qual os dois participaram pela primeira vez, estava presente
também o Marcos, o Regis, o Henrique, o Roger, o Liviêr, o Paulo, a Marta e,
claro, o próprio Oliver, num total de dez pessoas, onde todos esses já haviam
participado e seria a sessão com mais participantes até então.
Assim foi feito e, na noite da sessão, como de costume o Liviêr chegou mais
cedo para ajudar o amigo a preparar tudo.
Após voltarem, ele avisou que não fariam o rapé no início, mas sim durante a
sessão e também no final para quem quisesse.
Então ele preparou as doses com a ajuda do Liviêr, fizeram as preces e todos
beberam, sempre com aquela sensação de que não ia descer na garganta, pois
o chá causava essa sensação desconfortável ao se tomar, apenas os novatos
não fizeram cara feia.
O Oliver tomou uma quantidade menor que os demais, ele explicou que,
como tinha muitos participantes e ainda dois principiantes, ele queria estar
mais alerta se algo não estivesse bem. Se tudo corresse normalmente, então
ele tomaria um pouco mais durante o processo, assim ele se sentiria mais
tranquilo.
O Liviêr já o conhecia bem e sabia que a aquela atitude era bem típica dele,
queria sempre estar no controle, se preocupava com os detalhes, por isso era
advogado.
Mais uma vez a sessão foi espetacular, com a energia de todos fluindo de
maneira harmônica e com muitas luzes. O Liviêr, porém, foi fundo na visão e
interação com sua esposa e filhos, a qual ele sentia a algum tempo que estava
distante e até correndo risco de perdê-los. Mesmo com toda a mudança que
ele conseguiu com a professora divina, ainda assim ela não se encontrava em
seu dia a dia e essa situação veio fundo em sua experiência.
Após a segunda dose, ele voltou pro seu lugar, ficando sentado como toda a
primeira parte, tentando se concentrar nas músicas, para ver se a segunda
parte seguisse por um caminho mais suave, porém, logo na sequência, ele
precisou fazer uma limpeza, o que não tinha acontecido no início e foi para
valer, as dores abdominais foram fortes e ele vomitou muito, ficou no tanque
por pelo menos uns 15 minutos. O Oliver foi até ele umas duas vezes para ver
se estava tudo bem e dar um apoio moral, pois ele sabia que não tinha nada o
que fazer.
Logo após passar a ânsia de vomito, ele ficou bem, melhor que esperava,
porém a “burracheira” aparentemente havia passado, ele se sentiu frustrado,
até quis voltar para o assunto com ele mesmo, mas nada aconteceu, tentava
entrar no transe com as músicas, fazendo o balanço com o corpo para frente e
para trás, sentado com as pernas cruzadas, mas também não fluiu, então ele
se deitou e ficou ali por um bom tempo, ele tentava chorar, mas não
conseguia.
Então ele chamou o Oliver e pediu para ele aplicar o rapé, para ver se ele
conseguia relaxar. De pronto eles se postaram no colchonete e veio aà
aplicação na primeira narina, o Oliver assoprou com vontade e sua têmpora
ardeu como se tivesse entrado uma faca por entre seus olhos, as lágrimas
inundaram seu rosto, ele respirava pela boca enquanto o Oliver preparava a
aplicação na segunda narina. Liviêr se postou rapidamente para receber o
segundo sopro, parecia que ele estava se punindo e veio a segunda onda,
ainda mais forte, sua cabeça ardeu como se várias facas estivessem entrando
pela sua testa. Ele pôs a mão na cabeça segurando-a, mas não adiantava, o
rapé entrou fundo em sua garganta, ele se sentiu sufocado, logo após a
ardência na cabeça diminuiu e ele assou o nariz e melhorou um pouco, seu
olhos lacrimejavam como nunca. Oliver se levantou e ele ficou sozinho no
seu colchonete e começou uma música que o levou a uma emoção profunda,
então as lágrimas não só rolavam em sua face, ele soluçava, colocando para
fora toda uma emoção que ele nem sabia que era possível. Chorou e soluçou
por mais de uma hora, durante esse choro arrebatador, ele falava consigo
mesmo sobre sua esposa, o quanto ele a amava e se cobrando, pois não sabia
mais agir como tal e nem demonstrar sua afeição a ela e aos filhos. Pedia
perdão e percebia todo o esforço e sacrifício que ela fazia para manter aquela
união, o quanto ela o valorizava e o quanto ele também a valorizava, que tudo
teria que ser diferente, chegaria em sua casa e, mesmo durante a madrugada,
iria acordá-la, beijá-la, abraçá-la, demonstrar todo o amor e afeição que ele
tinha por ela. Percebeu que muitas vezes dava mais valor aos outros do que à
sua própria família, que era o centro do seu mundo. Entendendo o quanto
estava no caminho errado, então ele estava decidido que no dia seguinte seria
outra pessoa.
Enquanto ele se banhava em choro, o Oliver veio ver seu estado e acalmá-lo,
naquele momento o Liviêr estava transbordando de amor e disse o que o
amava, que ele era seu melhor amigo. Oliver lhe deu um abraço e disse o
mesmo, percebeu o quanto tinha sorte, além da família, aquele amigo
espetacular, que se não fosse por ele, não estaria ali naquele momento tendo
todo aquele sentimento aflorado. Só o que restava era ele fazer a sua parte e
também os amar, não só em palavras e sentimentos, mas em atitude, pois
todos que o amava já faziam.
— Que bom, Paulo, eu estava preocupado por ter mais participantes que o de
costume hoje e ainda com o Arthur e o Alexandre sendo a primeira vez, mas
também senti a energia como você e, no início, me controlei para acompanhar
a todos, mas, depois de um tempo, percebi que tudo estava fluindo bem e
tomei a outra metade da dose e me entreguei — falou Oliver, que na
sequência perguntou a Marta.
— E você, Arthur? O que pode nos acrescentar como foi essa primeira
experiência? — perguntou Olivier.
— Quando o Roger nos convidou a vir participar, ele nos falou dos
sentimentos, das mirações, de como tudo é intenso, então eu já vim com uma
expectativa, porém quando estamos aqui, não há como descrever em palavras
e fui fundo em minha mente, foi muito diferente das minhas experiências na
umbanda. No princípio, passei uns perrengues, mas aos poucos me soltei e,
principalmente na segunda parte, fui levado às sensações que pelo que vi foi
na mesma linha de todos. Então é isso, agradeço também a oportunidade de
estar aqui e se possível participar novamente para me aprofundar ainda mais.
— É isso aí, todos hoje tiveram uma boa experiência, fico feliz e você, meu
amigo, como foi? Acompanhei sua limpeza e que limpeza, hein? O que pode
nos contar? — perguntou Oliver ao Liviêr, fechando o grupo.
— Bom, meu amigo, não achei que seria possível uma jornada interior tão
profunda e renovadora como hoje, não há palavras para descrever e o único
pensamento que tenho agora é pôr em pratica o aprendizado. E digo a todos,
se de agora em diante eu não conseguir levar esse aprendizado para minha
vida e mudar meu cotidiano, então não mereço estar aqui e aí tenho que
desistir, pois não teria o porquê continuar, pois o mais difícil é enxergar a
verdade e não saber lidar com ela.
E assim foi a mudança naqueles primeiros dias, foi grande e a Vanessa e seus
filhos ficaram intrigados e felizes com o comportamento dele, que inclusive
ficou sem ingerir álcool por umas duas semanas, porém com o decorrer do
tempo ele voltou a beber e a ter algumas atitudes mais estúpidas com todos.
Apesar de ter melhorado seu comportamento e estar se policiando para evitar
magoar principalmente à sua família, sua transformação ainda não havia se
iniciado completamente e a rotina se seguiu por mais um tempo sem muitas
novidades.
Na ocasião, além dos seis, participariam também mais quatro pessoas que já
haviam participado anteriormente na casa do Oliver em outras reuniões.
Foram em dois carros e chegaram ao fim da tarde, porém ainda com céu
claro, o que permitiu conhecer bem o local.
Ao lado direito da casa, havia um terreno com uma área aberta que terminava
em uma pequena mata. Não havia vizinhos desse lado e, entre o espaço onde
ficava a casa e a mata, existia um pequeno vale que corria um riacho,
realmente era um lugar espetacular.
Programaram de fazer uma sessão mais longa para aproveitar bem a ocasião,
com seis horas de duração.
Por volta das nove horas da noite, o Liviêr acendeu a fogueira, após alguns
minutos, ela tomou uma bela forma e o fogo ficou consistente e todos se
reuniram a sua volta.
O Oliver preparou a mesa onde estava a ayahuasca, serviu as doses nos copos
e convidou a todos para a comunhão da bebida sagrada.
Tudo correu muito bem, a tônica da noite foi o deslumbre do céu estrelado,
era lua cheia e tudo estava iluminado com uma mística mágica.
Para o Liviêr, foi mais uma vez especial, com reflexões importantes sobre seu
despertar, sendo respondidas perguntas que o incomodavam e então uma voz
interna começou a debater com ele.
Com tudo isso bombardeando sua mente, ele mais uma vez teve a certeza de
que a transformação de seu ser era uma necessidade, mas como e quando isso
ocorreria de fato era uma incógnita.
PARTE DOIS
O despertar
O que poderia acontecer na vida do Liviêr para as coisas tomar um rumo
diferente? Ele tinha aquela necessidade desde a juventude, de sair da rotina,
mudar sua vida radicalmente, sempre estava esperando algo acontecer, havia
vezes que até torcia para que algo ruim acontecesse para vivenciar algo
diferente, mesmo que fosse ruim, porém diferente.
Ele era um homem bem-sucedido em seu ponto de vista, sempre se deu bem
na área profissional, não era de grandes posses financeiras, mas se
enquadrava na dita classe média e sua família estava sempre bem cuidada,
apesar de momentos de má fase, como acontece para todos os seres, para ele
não era diferente, mas isso nunca o atrapalhou e, no geral, sua vida era
realmente tranquila, então por que aquela sensação o perseguia?
Nos últimos anos antes do encontro com a professora divina, sua vida havia
sim dado uma guinada. Na área financeira, ele começou a trabalhar por conta
própria, junto com sua esposa Vanessa e um sócio chamado Aurélio, uma
sociedade que deu muito certo desde o início. O Aurélio era uma pessoa
muito engenhosa, inteligente e, apesar de ser mais novo que o Liviêr, sempre
houve um respeito mútuo entre os dois, as ideias batiam, o entrosamento
entre eles era perfeito e se tornaram grandes amigos.
O pai do Aurélio era muito próximo a ele e não gostava das visitas do Liviêr
ao bar do Saulo com aquela frequência e impedia o Aurélio de acompanhá-lo,
achava que o Liviêr era uma má influência para o filho. Apesar do Aurélio ter
já seus 30 anos, ele obedecia ao pai fielmente, era uma relação bem diferente
de pai e filho que ninguém entendia.
Então ele disse que não aguentava mais a pressão do pai e eles iam tocar o
negócio por conta própria. Mesmo bastante contrariado, o Aurélio acabou
saindo da sociedade.
Naquela mesma época, foi quando o Oliver convidou o Liviêr para participar
da primeira sessão. Ele sempre comentou em detalhes com o Aurélio sobre
suas experiências e sempre ficou em aberto a possibilidade de ele participar,
por mais que o Liviêr insistisse, nunca deu certo.
— Por isso que eu adoro vir aqui, vocês sempre me põem para cima.
— Eu vou me matar.
— O que? Que loucura é essa que você está falando? — E o Liviêr deu uma
risada meio sem graça. — Essas coisas não são para pessoas como você,
inteligente, perspicaz e que sabe o que faz.
— Mas é sério, eu estou planejando tudo e vai ser mais rápido que você
pensa.
— Ô, Aurélio, eu sei que você está falando isso sem pensar, são esses
remédios fortes que você fica tomando, depois fica sem noção, mas se você
está falando isso, o que eu posso te dizer ou fazer para você parar com essas
ideias loucas? Você sabe que pode contar comigo para tudo, me diz aí o que
eu devo fazer?
— Não se preocupe, eu sei que se precisar posso contar, por isso estou aqui
agora. — E deu um sorriso tranquilizador e se levantou e pegou mais uma
garrafa de cerveja, quando sentou mudou totalmente o assunto.
O Liviêr não pensou mais a respeito do que o Aurélio havia dito e seguiu com
sua rotina normalmente, pois no fundo ele não levou a sério aquela ameaça.
Após algum tempo, o Aurélio pediu ao Liviêr para que se encontrassem após
o expediente que ele queria conversar, o Liviêr achou estranho pelo horário,
mas foi ao encontro dele.
Foi em uma quarta feira e foi uma noite agradável, falaram sobre vários
assuntos e nada a respeito daquela ideia idiota que o Aurélio havia dito antes.
Eles foram a três bares diferentes, um que o Liviêr conhecia, outro que o
Aurélio conhecia e outro que os dois frequentavam juntos de vez em quando.
Beberam e se divertiram até por volta das 10 horas da noite, quando se
despediram e seguiram para casa.
No dia seguinte, tudo estava bem, o Liviêr ligou para o Aurélio para saber se
depois do encontro ele havia ido direto para casa e ele confirmou que sim e
que estava tranquilo. Mais uma vez o Aurélio agradeceu pela companhia da
noite passada e se despediu de uma maneira um pouco formal, o Liviêr até
achou estranho, mas deixou para lá e seguiu em seu dia normal de trabalho.
— Liviêr, o que aconteceu com o Aurélio? Estou tentando ligar para ele e
não estou conseguindo, me falaram que ele deu um tiro na cabeça, mas eu
não acreditei, como não estou conseguindo falar com ele, eu te liguei para
saber o que está acontecendo?
— Pelo amor de Deus, que conversa é essa, meu amigo? Não estou sabendo
de nada, mas acho que isso não é verdade, inclusive estava com ele antes de
ontem e falei com ele ontem e estava tudo bem.
— Então, mas parece que aconteceu algo sim, pois não foi só uma pessoa que
me falou. Vai até casa dele e verifique o que pode estar acontecendo.
— Está certo, vou lá agora e depois te falo, mas não deve ser nada.
Então o Liviêr pegou a Vanessa e foram até a casa do Aurélio, que era
próxima da casa da mãe dela, onde eles estavam naquela noite.
Chegando lá, havia várias pessoas do lado de fora da casa, então ele percebeu
que realmente a coisa era séria. Ele ficou no carro sem saber o que fazer, a
Vanessa foi procurar alguém para conversar e entender o que estava se
passando.
Ela encontrou com uma amiga da família que confirmou a tragédia, o Aurélio
havia dado um tiro na cabeça durante a tarde e foi fatal.
Aquela noite foi uma das piores na vida do Liviêr, não dormiu e ficou a noite
toda tentando compreender e entender o que deixou de fazer para poder ter
ajudado o amigo, que confessou a ele que tomaria aquela atitude. Ele não se
conformava e se culpava de não ter feito algo para impedir aquela tragédia.
Toda aquela lembrança veio à tona na mente do Liviêr sem piedade, logo
após a sessão na chácara, como se o cobrasse que, se houvesse uma mudança
anteriormente, o seu amigo, sócio e irmão, talvez não tivesse saído da
sociedade por causa de suas atitudes, ele estaria vivo naquele momento,
forçando a barra interiormente para ele ter coragem e tomar uma atitude que
mudasse de vez seu jeito de ser e agir, principalmente com sua esposa e
filhos, pois talvez fosse ele a perder tudo e depois não teria mais volta como
aconteceu com o Aurélio.
Não que de fato ele tivesse culpa de o amigo ter se matado e, por mais que
ele pudesse pensar dessa maneira, isso era mais uma forma de pensar que o
mundo gira em torno dele mesmo, o Ego falando mais alto, pois por certo
havia fatores que levaram o Aurélio a tomar aquela atitude que o Liviêr não
poderia nem desconfiar. É até ridículo ele achar que era tão importante assim
na vida do amigo, que poderia levá-lo aquela atitude por sua causa.
Mas isso martelava em sua mente e ele começou a agir um pouco diferente
em seu dia a dia, ele não parou de vez de tomar bebida alcoólica, mas
diminuiu bem, principalmente durante o período do meio da semana, até
pediu ajuda ao Oliver para conseguir uns remédios para poder parar de beber,
pois lá na chácara uns dos participantes era seu amigo psicólogo que indicou
um remédio que seria muito bom para aquela finalidade.
Então se seguiu aquela nova rotina na vida dele e da família, trabalhando com
mais dedicação durante o dia e durante a noite ele começou a ler, coisa que
sempre gostou, mas que o amigo egoísta não permitia. Mesmo ingerindo
álcool apenas nos fins de semana, ele ainda não estava contente, ele queria
parar de vez e aguardava que o remédio fizesse o efeito.
Naquele período, as sessões haviam mudado, não estavam sendo mais na casa
do Oliver, pois o número de participantes havia crescido após aquela sessão
espetacular na chácara e ele precisou ir atrás de outro lugar para receber a
todos. Na verdade, há algum bom tempo o Oliver comentava com o Liviêr
que queria achar outro lugar para as sessões, pois ele se preocupava com as
consequências de tudo que poderia ficar implicado em sua casa.
Ele foi apresentado a Mariza por seu amigo psicólogo, uma pessoa realmente
iluminada, uma moça na casa dos 30 anos com os cabelos claros e compridos,
magra, corpo bem feito, bonita e com um semblante bem calmo. Sua
aparência fazia jus ao trabalho que ela praticava, ela tinha um espaço
holístico onde ela ministrava várias atividades como Ioga, Shiatsu, Reiki,
entre outras voltadas ao equilíbrio do corpo e da mente, um local com as
dimensões e a energia ideal para o evento.
E assim foi pelo menos umas quatro sessões naquele ambiente agradável, que
era uma casa ampla, onde o salão com uma área de quatro metros de largura
por seis metros de comprimento acomodava bem umas 20 pessoas deitadas
nos colchonetes, com dois banheiros e uma cozinha que antecedia a sala, era
realmente um lugar perfeito.
Ele voltou com o corpo inteiro para dentro do banheiro e então se agachou de
frente ao vaso. Durante todo aquele processo que parecia uma eternidade,
estava tocando a música “Ayahuasca Luz Divina Ilumina”, e então ele se
concentrou na música e a força da ayahuasca envolveu todo o seu corpo e sua
mente, e então veio o vômito, forte e abundante, que durou alguns minutos e,
durante a limpeza entre as contrações do abdômen, ele sentiu algo
impressionante. Ele percebeu como se uma sombra fosse puxada pelas suas
costas, por cima de seus ombros, ele inclusive olhou para cima e viu com
toda nitidez possível a sombra, já alguns centímetros acima de sua cabeça e
acompanhou aquele movimento até a sombra sumir pelo teto do banheiro.
Foi no romper na madrugada, que se ouviu os pássaros cantar, anunciando o povo e as matas que
rei Huascar vem chegando.
Vento que sopra, fruta cai e ninguém percebe quanto tempo leva a cigarra a cantar.
Suaves canções, os elementais, os cristais coloridos feito o arco íris.
Oh, íris, nos teus olhos claros, íris.
Oh, íris, ayahuasca luz divina ilumina.
Foi no romper na madrugada, que se ouviu os pássaros cantar, anunciando o povo e as matas que
mestre Yajé vem chegando.
Vento se lança, luz se derrama, senhor das plantas, ama Magé da paz, curandeiro das matas, nosso
guia nos ensina.
Rei Huascar, mestre Agé na água luz refletia.
Cipó que agarra folha sagrada, rainha de luz ilumina, a luz divina.
Oh, mina d’água cristalina.
Oh, mina!
Mina d’água cristalina.
Foi no romper na madrugada, que se ouviu os pássaros cantar, anunciando o povo e as matas que
mestre Yajé vem chegando.
Várias visões de sua família vieram nitidamente em sua mente, ele seguiu
deitado e interagindo com as visões de olhos fechados, seguindo dessa
maneira até o fim da primeira parte.
— E aí, Liviêr, como foi sua experiência, parece que foi boa, né?
— Ah, foi sim, Roger, eu tive uma sensação muito forte de libertação, depois
de um início complicado, senti muita dor física e depois de uma meia hora fui
ao banheiro e foi complicado. — E ele contou ao amigo o que se passara.
— Caramba, foi pesado, então. — E deu uma risada suave. — Para mim está
devagar, não entrei na força, estou meio frustrado.
— Poxa, que pena, Roger, mas fica tranquilo que na segunda parte vai ser
diferente e você vai ter as experiências, se for o caso, toma uma dose um
pouco maior.
— É, eu já falei com o Oliver e ele vai colocar um pouco mais pra mim.
Seguiu então a segunda parte daquela sessão, que ele ainda não sabia, mas
seria um divisor de águas em sua vida. A sensação de relaxamento
permanecia, quando a força da professora divina chegou renovando toda a
energia em seu corpo e ele se entregou às experiências profundas e
introspectivas, prestando atenção a toda as visões e informações que vinham
em sua mente.
Logo após aqueles pensamentos e meio sem entender, veio então uma
profunda sensação de frustação. Ele olhou para o lado procurando o Oliver,
mas ele não estava em seu lugar e nem a Marisa, pois foram as duas pessoas
que ele quis ver. Ele estranhou, mas ficou sentado aguardando eles
aparecerem. Depois de algum tempo, a Marisa entrou e foi direto até o
notebook e mudou a música, na verdade, já estava no fim da sessão e ela
voltou algumas músicas, que se repetiram.
Quando saiu na parte externa do salão onde estavam, era um quintal bem
amplo e inclusive onde estavam estacionados os carros, ele viu o Oliver
deitado em um colchonete passando mal, se aproximou e passou a mão na
testa do amigo que olhou para ele com um riso desconcertado e falou.
E o Oliver sem olhar para ele fez um sinal de positivo e ficou deitado com os
olhos fechados.
O Liviêr voltou ao seu lugar e ficou ali sentado. Já com a força da ayahuasca
o deixando, olhou para todos que, aos poucos, também voltavam da
experiência e se sentavam, aguardando o fim da sessão.
De repente, tudo voltou a sua mente, estava desconcertado com tudo aquilo.
Então ele se levantou e foi até o Roger, pois, apesar da música continuar,
todos já haviam entendido o que estava acontecendo e estavam esperando o
Oliver melhorar. E falou ao amigo sobre tudo o que ocorrera.
— Olha, Liviêr, isso tudo é muito complexo, você sabe que é difícil falar a
respeito, você terá que processar isso para saber o que significa.
— Que estranho você me falar isso, pois eu ia comentar com você a mesma
coisa, que eu não ia vir mais aqui. Senti desde o início essa sensação de
desconforto por estar aqui neste ambiente, tanto é que eu não tive uma
experiência profunda, na verdade, na segunda parte eu dormi.
— É, meu amigo, hoje foi tudo muito estranho, até o Oliver está passando
mal no final, nunca o vi assim.
Após algum tempo, o Liviêr tomou a frente, acendeu a luz e deu a sessão por
encerrada, convidou a todos ao lanche costumeiro que eles faziam ao fim das
sessões e foi até o Oliver que já estava mais disposto e já havia se levantado.
— Já, apesar de ainda estar meio zonzo, não me lembro da última vez que
fiquei assim.
— Pois é, fiquei meio sem saber o que fazer, pois todos ficaram conversando
e esperando você melhorar. Aí finalizei a sessão acendendo as luzes, até
porque está ficando meio tarde e fiquei preocupado com o pessoal.
— É, Oliver, desde o início eu estava achando que algo estranho estava por
acontecer hoje, eu tive uma revelação estranha de que eu não participarei
mais de sessões, não sei se aqui na Marisa ou em qualquer lugar. — E o
Liviêr relatou sua experiência ao amigo.
— Não fique com isso em mente, vamos esperar para ver o caminho que se
mostrará a você, muitas vezes não entendemos as mensagens recebidas pela
professora divina.
Aquela foi a última sessão antes das festas do final de ano e, como todos os
anos, o Liviêr e sua família passava o Natal em uma chácara no interior, junto
com a família da sua mãe e seus irmãos e esse ano, inclusive, a família de sua
sogra e de sua cunhada, iriam passar todos juntos.
A expectativa para aquele Natal era a melhor possível, pois todas as pessoas
importantes na vida do Liviêr estariam lá e seria quatro dias de festas, tudo já
preparado com antecedência, sendo que aquela ocasião estava sendo
preparada desde o meio do ano em todos os detalhes.
O dia do Natal seria no domingo e o Liviêr com sua família chegou quinta-
feira na chácara, junto com a família de sua sogra e da cunhada. Quando
chegaram lá, estavam no local outros familiares que os receberam com muita
alegria e toda aquela expectativa de festa preencheu o ambiente e a todos os
presentes.
E assim foi até no sábado à tarde, quando a maioria resolveu ir até ao centro
da cidade e, apesar de o Liviêr não querer ir, pois queria ficar na chácara e
aproveitar a piscina já que estava muito calor, porém a Vanessa insistiu e ele
acabou indo junto.
No centro da cidade, cortava um rio muito bonito, com uma forte correnteza e
com várias quedas d’água, formando algumas pequenas cachoeiras.
Acompanhando uma das margens, havia um parque linear de uns 500 metros,
onde todos foram caminhar e admirar o rio.
O Liviêr e seu concunhado resolveram sentar em uma pedra saliente dentro
do rio, próxima à margem, onde a água batia com certa força em suas costas e
a correnteza passava ao lado deles. Ficaram ali por um momento, porém
todos começaram a caminhar descendo o rio, então resolveram sair. O
concunhado do Liviêr estava mais próximo da margem e se levantou para
sair, nisso a força da água arrancou sua bermuda, o deixando só de sunga.
Liviêr em movimento tentou pegá-la, porém a força da água em suas costas o
lançou para dentro da correnteza, que o levou rio abaixo. Ele começou a
tentar nadar para a margem, porém a correnteza muito forte o deixava à
deriva, seguindo o fluxo da água. Foi levado por uns 20 metros até cair em
uma queda d’água de uns 4 metros, onde foi jogado com força para o fundo,
bateu a cabeça nas pedras e ficou desmaiado e preso no fundo.
Todo aquele acontecimento foi acompanhado pela filha do Liviêr, que assim
que ele foi lançado para dentro da água, ela foi acompanhando os
movimentos dele e vendo com exatidão o local de sua queda.
Abaixo daquela queda d’água formava uma piscina natural, onde havia
alguns jovens na faixa de uns 15 anos nadando por ali e a Isis começou a
gritar aos meninos para socorrer seu pai e ela apontava o local onde ele havia
caído.
Segurando a toalha, ela conseguiu puxá-lo mais um pouco para fora d’água e
aumentou ainda mais seu desespero, ela viu muito sangue saindo da cabeça
dele e gritando e chorando, pedia desesperada para chamarem o resgate.
Ela começou a passar a toalha molhada na cabeça dele para tentar avaliar o
tamanho do corte. Dando um alívio profundo em sua alma, ela viu o Liviêr
abrir os olhos e a expelir água pela boca, então com a sensação de desespero
misturada com alívio. Ela começou a xingá-lo e dar tapas no braço dele,
porém logo ela se recompôs e começou a tentar falar com ele para ver seu
real estado, mas ele apenas balbuciou algumas palavras inteligíveis, então ela
ficou ali sentada com ele sem saber o que fazer e com as pessoas em sua
volta esperando o resgate chegar.
O Liviêr acordou por voltas de umas oito horas após o acidente, assim que
abriu o olho ainda atordoado, olhou em volta entendeu que estava em um
hospital, ao seu lado viu a Vanessa, tentou dar um sorriso para aparentar que
estava bem e foi dizendo:
— Você acha mesmo que vai poder sair daqui hoje? Você foi entubado, está
desacordado há mais de oito horas, levou pontos na cabeça, estão esperando
você acordar para fazer vários exames, estávamos com medo de você ficar
em coma, você quase morreu — falou ela com ar de choro.
— As crianças estão aqui esperando você acordar para te ver, vou chamá-las.
— Ele balançou a cabeça que sim.
Os dois entraram no quarto, que era uma enfermaria com várias camas, seis
ao todo, a dele estava no canto do quarto próximo à parede com uma janela.
Se aproximaram ao mesmo tempo ao lado dele, que deu uma risada sem
graça e falou:
— Agora, né, pai, mas como íamos ficar tranquilos com o que aconteceu —
falou o Murilo com um tom de reprovação.
— Nossa, Liviêr, que horror! Suas costas, nádegas e coxas estão todas muito
roxas — falou com um ar de desespero.
Se qualquer fator fosse diferente, ele não estaria mais ali, se o rapaz
demorasse alguns segundos a mais ou a Isis não fosse a menina determinada
que é insistindo com o rapaz o local exato em que ele caiu, em vez de estar
acordado ao lado da Vanessa, estaria morto.
E pensou “teria sido uma morte tranquila, se simplesmente não acordasse ali,
como seria? Em vez de abrir os olhos no hospital, ter despertado em outro
plano, ou simplesmente não acordar e ser um sono eterno”. Aqueles
pensamentos de como seria a morte o consumiu por alguns momentos até
adormecer novamente.
Por volta de umas 6 horas da manhã, ele acordou com a maca em movimento,
a Vanessa não estava do lado dele, a enfermeira que empurrava a maca não
falou nada com ele, mesmo percebendo que havia acordado. Ele também
permaneceu calado e, naquele momento, decidiu que ia ser o melhor paciente
possível, não ia reclamar de nada e suportar as dores e procedimentos que
fosse submetido.
Chegou ao quarto, onde havia duas camas, uma delas já ocupada por um
senhor de uns 65 anos, estava dormindo com os tubos de soro e remédios
pendurados em um pedestal ao lado da cama, com uma mangueira que levava
até seu braço esquerdo. O Liviêr o olhou, mas não viu seu rosto, pois ele
estava deitado de lado voltado para a parede. A outra cama ficava ao lado da
parede com uma janela, onde, com muito esforço, ele saiu da maca e deitou-
se. A cama era bem mais confortável que a maca, mas as dores do seu lado
esquerdo o incomodaram muito pelo esforço da manobra de trocar de lugar.
Na parede à frente, tinha uma porta que dava acesso ao banheiro e, ao lado da
porta no alto, um suporte com uma televisão de 14 polegadas antiga.
Só então ele prestou atenção que estava com uma mangueira enfiada em sua
uretra e na hora ele sentiu um desconforto enorme. Depois de algum tempo,
entrou no quarto o enfermeiro moreno e bem forte, que cordialmente avisou
que iria retirar a sonda, que iria sentir um ardume e um desconforto quando
fosse retirada a mangueira e sem cerimônia puxou. O Liviêr se contorceu
dobrando as pernas e levando a mão ao local, porém não fez nem uma
menção de reclamar da dor. O enfermeiro balançou a cabeça positivamente,
como um apoio moral e avisou que iria ajudá-lo para tomar banho. Quando o
Liviêr estava no chuveiro que ele conseguiu ver o quanto era grande o
hematoma em seu corpo.
Ele não havia pensado na Vanessa naquele tempo em que chegara ao quarto
e, quando voltou para cama se sentindo melhor, pensou em todos, como teria
sido o clima na ceia de Natal, lembrou-se dos seus filhos e como a Vanessa
teria dormido, se teria ido para chácara e se estava ali sozinha em alguma
cadeira sentada, esperando sem nenhum conforto. Uma sensação de culpa o
invadiu e ficou deprimido, não lutou contra, simplesmente fechou os olhos e
deixou a tristeza o envolver.
Depois de algum tempo com a presença da Vanessa ali, ele se sentiu melhor,
então tentou relaxar. Apesar das dores no lado esquerdo, queria dormir para o
tempo passar mais rápido. Com os olhos fechados por algum tempo em vez
de dormir, começou a ter umas visões estranhas.
Ele estava em uma estrada batida de pedras pequenas e redondas, que cortava
uma montanha. Ele descia em direção a uma planície, do seu lado direito
havia um precipício. Ele enxergava toda a planície abaixo para onde se
dirigia, a visão era turva e sombria, a montanha ao seu lado esquerdo era
vermelha, parecia que larvas vulcânicas escorriam por toda sua face. Ao
longe na estrada, ele podia ver outras pessoas caminhando à sua frente na
mesma direção, as visões eram muito vividas e parecia que ele realmente
vivenciara aquela experiência e podia perceber todos os detalhes e continuou
a percorrer aquele caminho.
Ele conversou um pouco com a Vanessa, mas não falou sobre as visões, ela
tinha puxado conversa com o homem na cama ao lado e os apresentou. Ele já
estava ali há uma semana, com um problema em seu dedão no pé direito, que
estava muito inflamado. Apesar do tempo ali no hospital, estava com boa
aparência e com a barba feita, não parecia uma pessoa doente, mas o
problema dele era sério. Ele contou que, se seu pé não melhorasse, os
médicos tinham lhe dito que teria a possibilidade de amputar, o problema era
realmente sério, ele era diabético, o que dificultava ainda mais o processo de
recuperação e de diminuir a inflamação e falou com ar bem calmo: — Talvez
se me dedicasse mais à minha saúde, não precisaria estar aqui perdendo as
festas do fim de ano com minha família, mas é sempre assim, não nos
dedicamos as coisas que é realmente importante.
No meio da tarde, ele estava tranquilo, bem relaxado e com os olhos fechados
e novamente a visão das pessoas em volta das árvores naquele ambiente
cinzento e pantanoso veio nitidamente em sua mente. Ele estava tentando
chegar perto de uma daquelas árvores, porém, quando caminhava em sua
direção, ele percebia que, apesar de ter muitas pessoas aglomeradas, elas
estavam distantes dele. Conforme caminhava, o espaço se abria e a árvore
ficava mais longe. Ele parou intrigado e olhou em volta e tinha pessoas em
sua volta, porém distantes dele e na frente da árvore se aglomeravam de
novo. Então, após algum tempo parado no mesmo local, ele olhou para baixo
e viu o chão lamacento, reparou que havia crânios e ossos espalhados e
afundados na lama. Ele sentiu uma sensação de repulsa e medo, quando
olhou novamente para frente, estava diante da árvore, o tronco era enorme de
quase 2 metros de diâmetro. Ele colocou a mão direita no tronco e
imediatamente uma luz intensa e branca o cegou. Abriu os olhos e viu a
Vanessa ao seu lado, ela estava mexendo no celular e ele não falou nada com
ela, ficou tentado assimilar aquela visão. Ele já havia passado por várias
experiências como aquela nas sessões com a ayahuasca, mas ali, naquele
momento, estava tudo muito estranho e ele não entendia o que estava
acontecendo. Pensou então que era só efeito dos remédios ou coisa do tipo,
porém, durante alguns dias, ele ficou sonhando com aquelas imagens e, em
outras ocasiões, teve aquelas visões novamente como se estivesse acordado,
sempre naquele contexto.
Ele ficou no hospital até a tarde do dia 28. Quando teve alta, eles foram para
casa de seus parentes ainda na cidade do interior onde estavam seus filhos,
foram recebidos com muita alegria e todos fizeram piadas sobre o acidente,
mas no fundo era a maneira de deixar o clima mais leve e seguir a vida em
diante e assim foi. No dia seguinte, o Liviêr e a família seguiram de volta
para casa, deixando todo o ocorrido para trás, porém, na mente do Liviêr,
estava tudo muito claro e nada do que aconteceu iria ser em vão, o quanto
drástico e inesperado haviam sido aqueles dias, drástica também seria sua
transformação.
Após as festas do final de ano, que o Liviêr passou tranquilo, sem consumo
de álcool e com uma alimentação mais leve, até porque os remédios que ele
continuava a tomar o obrigavam a se controlar. Ele tentou voltar à sua rotina
normal e ao trabalho, porém, durante aquelas primeiras semanas, ele passou
por uma situação complicada, com insônia, dores no corpo e com muito mau
humor, acabou ficando sem trabalhar por uns dias. A televisão ficou
insuportável e nada o satisfazia, foi um período complicado, também para a
Vanessa e para seus filhos, era a abstinência.
Durante um desses dias em que ele não foi trabalhar, se sentindo entediado
foi até a prateleira de livros, na qual ele tinha muitos títulos. Escolheu Júlio
Verne, Vinte mil léguas submarinas, um livro que ele tinha há anos e sempre
quis ler, mas aquela vida desleixada que ele vinha levando até aquele
momento não deixava espaço para esses prazeres mais profundos.
Então, ele se afundou nas aventuras pelos sete mares com o capitão Nemo,
novamente ele sentia um prazer que só um livro pode proporcionar e, ao
terminar, ele imediatamente leu outro e outro, livros clássicos, de aventura,
filosóficos e de tudo que estava à mão. Lia em média um livro a cada três
dias, isso o tranquilizou e aquelas sensações de angústia, mau humor, tédio,
as insônias, tudo melhorou, inclusive o relacionamento com sua família.
Passando o período dos remédios, sem esforço algum ele continuou longe de
seus vícios, com vontade de ler várias coisas diferentes e se lembrou do livro
a Erva do Diabo de Carlos Castañeda. Ele foi a um sebo próximo ao seu
trabalho e encontrou além do que estava procurando, mais seis títulos do
autor e se dedicou aos ensinamentos do feiticeiro e xamã mexicano Dom
Juan de Matos, relatados com exuberância por Castañeda.
Ele via nos ensinamentos de Dom Juan sobre as ervas de poder uma relação
com o que ele aprendera com a Professora Divina, sentiu então uma
necessidade enorme de participar de outra sessão com o Oliver, já fazia uns
três meses que não participava e, apesar de o contato entre eles continuar
próximo, após aquela última sessão em dezembro antes do acidente, não
falaram mais sobre o assunto, porém agora era diferente e o Liviêr ligou para
ele para conversar a respeito.
O Oliver falou que, desde aquela última sessão de dezembro, havia feito
outras três em sua casa e não mais na Marisa, havia voltado às origens, porém
não o havia chamado pelos remédios fortes que estava tomando e que, na
próxima semana, faria uma sessão e, se ele estivesse se sentindo bem, seria,
claro, muito bem-vindo.
Quando o Liviêr chegou à casa do Oliver naquela noite, ele não encontrou o
pessoal de sempre e foi logo perguntado sobre o Roger e sua turma. Oliver
falou sem muito detalhe que eles não estavam vindo mais, só o Arthur e o
Alexandre que continuavam vindo e que os dois logo estariam chegando,
porém os demais estavam seguindo outra linha.
O Liviêr estranhou, mas não insistiu sobre o assunto, foi logo cumprimentar
os outros participantes daquela noite, que já se encontravam ali, dois deles o
Alfredo e o Fernando, ele conheceu na última sessão que participara na
Marisa e havia mais um casal que ele não conhecia. Logo após, chegaram o
Arthur e o Alexandre, ele ficou muito feliz em revê-los e os cumprimentou
com um forte abraço.
Durante aquela semana, o Liviêr ficou com tudo aquilo martelando em sua
mente e, apesar de ter achado a princípio que a experiência em si não foi tão
profunda, ele estava enganado, aquele sentimento com a professora divina e
as palavras do Alexandre, que tudo vem ao seu tempo, o fizeram perceber
que tudo o que vinha acontecendo com ele desde o primeiro contato com a
ayahuasca até aquele momento era uma preparação e que o tempo de sua
transformação havia chegado a um ápice, que daquele ponto em diante não
havia mais volta.
— Se teremos esta conexão, quero fazer um acordo, sei que tentar entender
tudo isso ainda não deve ser possível para mim, mas me permita ter um
vislumbre do que você vê, de como você vê e eu me entrego de corpo e
mente.
O salão era muito alto e uma abóboda gigante parecendo ser de vidro
envolvia todo o teto. Espalhados pelo ambiente, havia vários itens eletrônicos
e transparentes, era perceptível os botões e caracteres estranhos aparecendo
em visores e, mais ao longe, em um portão enorme, o qual não era possível
mensurar seu tamanho, entrava e saia o que pareciam ser naves ou aviões de
pequeno porte.
De tudo que foi dito, pouca coisa o Liviêr se lembrava e conseguia repetir, os
demais que o ouviram conversando sozinho também não podiam dizer o que
realmente foi dito, pois todos estavam na força da ayahuasca e cada um em
suas próprias experiências, além das músicas em som alto, que dificultava a
compreensão das palavras.
Mas o Liviêr havia entendido bem tudo que se passara com ele naquela noite,
era uma experiência interna e que seria difícil ele expressar algo com clareza
a outras pessoas naquele momento, que aquelas informações seriam
importantes em seu crescimento pessoal ao longo do processo e aos poucos
ele as entenderia.
— Mas parecia ser algo de outro planeta, foi muito diferente do que eu
imaginava. — Deram uma risada e se juntaram na conversa com os demais
sem se aprofundarem no assunto.
A princípio, o Liviêr não deu muita importância àquele assunto, mas depois
isso seria de fundamental importância no seu desenvolvimento espiritual.
Após aquela sessão, o Oliver ficou um tempo sem poder fazer outra
novamente, pois sua esposa ficou doente e, durante a recuperação dela que
durou quase um mês, ele ficou impossibilitado.
Nesse período, Liviêr lia tudo que podia sobre incorporação, se aprofundando
também nos conhecimentos sobre a ayahuasca, ele precisava entender aquela
experiência e precisava de resposta.
Ele e a Vanessa foram algumas vezes visitar o Oliver e sua esposa e, durante
as visitas, o Liviêr quis entrar no assunto sobre a possibilidade do Olivier
fornecer um pouco da ayahuasca, pois ele pretendia fazer uma sessão em sua
casa, junto com a Vanessa e um primo deles que já havia participado uma vez
das sessões na casa do Oliver, mas ele desconversava e ficou bem claro que
não iria atendê-lo.
Então, em suas pesquisas pela internet acessando alguns blogs, ele teve
contato com uma pessoa da capital mesmo, que poderia fornecer a sagrada
bebida e de pronto ele combinou para ir buscar. Como era no meio da semana
e ele só iria no sábado, naquele meio tempo o Liviêr teve uma intuição de
falar com Roger, pois estava sem vê-lo naquele período e não sabia se ele
teve contato com a Professora Divina.
Então resolveu ir até seu estúdio para explicar que ele conseguira esse contato
e se ele gostaria de ir junto.
— Fazia tempo que eu não ia às sessões com Oliver, desde aquela última na
Marisa. Eu só voltei naquela que participamos juntos, fui mais para me
despedir e entregar este desenho, que acabei me esquecendo de levar. — E
deu uma risada.
— Houve uma divergência com o pessoal novo que estava indo na Marisa e
resolvi dar um tempo, como eu não me senti mais à vontade, eu procurei
outros caminhos.
— Então, Roger eu não sei qual o caminho você está procurando, mas eu
também estou em busca de algo. Na verdade, eu estou com um contato para
ter acesso a ayahuasca e quero fazer um trabalho sem ficar dependendo de
outros fatores. Vim aqui para ver se você gostaria de ir comigo buscar e
também ficar com o contato e ter acesso a ela também.
— Que bom, então não foi só eu que ficou se sentindo preso. — E o Liviêr
deu uma risada discreta.
— Mas vamos fazer o seguinte, Liviêr, vou pegar também um litro com o seu
contato para ter outras fontes, vou te dar o meu contato também. — E a
propósito — prosseguiu Roger — neste sábado vou fazer uma sessão aqui,
você quer vir participar?
O Liviêr levou um maracá que ele havia adquirido há alguns dias atrás e uma
machadinha de pedra que ele havia confeccionado, para energizá-la durante a
sessão e transformá-las em objeto de poder, conforme ele aprendera em suas
leituras e pesquisas sobre xamanismo.
Após esperar algum tempo, a amiga do Roger chegou. Seu nome era Solange,
uma mulher jovem aparentando uns 30 anos, morena com os cabelos pretos e
lisos, olhos castanhos escuros, com um pouco mais de 1,70 de altura,
aparentando ser bem tímida e estar meio sem jeito.
Na segunda parte, eram mais mantras e o maracá não encaixava muito e ele o
usou pouco. Os mantras o levavam a uma introspecção mais profunda e, em
um relaxamento total com os olhos abertos, sua visão estava estrábica e
olhava para o teto fixamente, quando de repente ele começou a visualizar
uma imagem extraordinária, algo que ele procurava desde que começou essa
sua nova fase.
Ele viu uma imagem clara de um ser flutuando próximo ao teto, era um
pouco diferente dos seres que ele havia visualizado antes, mas também era
envolvido por uma áurea azul e brilhante, o corpo era fino e muito comprido,
aparentava não ter membros, era um Ser de Luz que aparentava olhar
fixamente para ele enquanto flutuava no mesmo lugar. Liviêr tentou
racionalizar e procurar uma fonte de luz que projetava aquela sombra, mas
logo percebeu que não era possível ser uma sombra projetada, pois não era
próximo a uma parede e sim no ar, no meio do estúdio. Ele sorriu e cutucou o
Arthur que estava deitado no colchonete ao seu lado e, sorrindo apontou para
o alto, ele não entendeu e o Liviêr falou:
Ele voltou sua atenção novamente para o Ser de luz, que ainda estava lá
flutuando, ele sentiu uma energia forte percorrer seu corpo, a interação com o
Ser de Luz durou algum tempo e, durante esse processo, ele percebia ideias
fluindo em sua mente.
E uma dessas ideias falava sobre a luz, de que toda luz do universo existe
apenas de uma única maneira, a luz é proveniente da energia, só existe luz
onde existe energia, portanto todos os seres vivos também são Seres de luz,
pois seus corpos produzem energia o tempo todo, porém são luzes não
visíveis ao olho humano e essa frequência de luz interage entre os seres.
Entre outras informações, essa ficou gravada na mente do Liviêr nela, porém
ele não a entendia naquele momento.
Durante algum tempo, ele ficou olhando fixamente para o ser e tentava
perceber todos os detalhes, se convencendo de que era real. Então aquela luz
fez um movimento em sua direção e foi afinando ainda mais até se
transformar em um fio luminoso, comprido e sumir.
O Liviêr estava radiante com um sorriso enorme na cara e começou a dar
socos leves na parede atrás dele, o Arthur olhou para ele e ele olhou de volta,
balançou a cabeça e disse:
O Liviêr ficou ali parado com os olhos e boca aberta olhando para o teto,
tudo durou alguns minutos, mas para ele havia durado muito tempo e quando
se deu conta, as músicas pararam e o Roger estava falando que a sessão havia
terminado.
Até que, então, uma noite ele acordou de madrugada e percebeu um zumbido
em seu ouvido, a principio intenso e que foi diminuindo aos poucos, porém
não sumiu e, a partir daquele momento, ele começou a percebê-lo
constantemente, principalmente quando se deitava, em momentos de mais
silêncio, ou quando ele se concentrava.
Isso o motivou a trabalhar ainda mais a sua glândula pineal, pois sabia que
um dos meios de saber que ela estava trabalhando, é justamente os zumbidos,
pois seriam os cristais de apatitas vibrando.
Sons binaurais
Binaural é o som capaz de alterar o comportamento do cérebro, foi
descoberto em 1839 pelo cientista alemão Heinrich Wilhelm Dove. Ele
descobriu que, quando os sinais de duas frequências diferentes são
apresentados separadamente — um para cada ouvido —, o cérebro detecta a
variação de fase e tenta conciliar essa diferença sincronizando o
funcionamento dos hemisférios esquerdo e direito. Isso resultaria em ganhos
terapêuticos.
Em 1973, uma pesquisa publicada pelo biofísico Gerald Oster no Hospital
Monte Sinai, em Nova York, usou as batidas para comprovar que a
estimulação auditiva melhorava o funcionamento do cérebro.
Profissionais que aplicam o método dão conta de que os áudios têm o poder
de acessar o subconsciente humano. As combinações das batidas e ruídos
seriam capazes de causar frenesis cerebrais ou aquietar a mente por
completo, desencadeando um sono profundo.
O cérebro influencia diretamente o estado da mente. Definidas pela
frequência com que pulsam, as ondas cerebrais são correntes que fluem
pelas ligações neurais.
Frequências do cérebro:
Delta: são as mais lentas e estão associadas ao sono profundo. É o reino do
inconsciente.
Theta: entre 3 e 7 Hz, presentes na meditação profunda e sono leve. Reino do
subconsciente.
Alfa: entre 8 e 13 Hz, ligadas à tranquilidade e relaxamento com olhos
fechados e repouso sensorial. Acessadas durante a meditação.
Beta: as mais rápidas. Estão associadas ao estado de vigília, à lógica e ao
raciocínio.
Além de ajudar durante as meditações, as batidas binaurais ajudam a
descalcificar a glândula pineal.
** Fonte: internet
Então, com todo esse empenho de se transformar, tendo como principal
caminho a ayahuasca, a professora divina, que o guiava desde o inicio dessa
nova jornada, e agora trabalhando sua glândula pineal, para ajudar em seu
desenvolvimento espiritual e o despertar de sua consciência, se abrindo para
possibilidade de conhecer novas entidades, outras dimensões, projeção astral,
meditação e em muitos outros meios que mostram quanto nossa realidade é
apenas uma fração de um todo de que está aí ao nosso redor, ele percebeu que
tinha muito a aprender e o caminho a percorrer estava só no início, porém já
desperto para essa nova realidade.
O Roger foi daquele momento em diante seu grande companheiro nessa
jornada, não que o Oliver não continuava sendo, muito pelo contrário, porém,
mesmo o Roger sendo mais jovem, tinha umas ideias e conhecimentos mais
voltado para que o Liviêr estava procurando, em uma linha fora da religião,
diferente do Oliver que é espírita kardecista e estava a algum tempo fazendo
as sessões neste intuito religioso. Tanto o Liviêr como o Roger estavam
procurando a expansão da consciência, desenvolver a espiritualidade, acessar
o eu interior, onde a unidade entre os seres é a tônica e, nesse ponto de vista,
a religião pelo contrário divide, levando a doutrinas e ideias especificas, onde
os membros se colocam diferentes dos demais e muitas vezes não aceitando
ideologias diferentes gerando preconceitos, segregação, conflitos e também
não entendendo que, no fim, todos procuram o mesmo caminho, então porque
todos não caminharem juntos.
A única lei universal que todos os grandes seres iluminados, Jesus, Buda,
Maomé, dentre outros, ensinam e pregam é o amor pleno e incondicional a
todos os seres, inclusive a si mesmo. Se essa simples e verdadeira lei fosse de
fato honrada, todas as demais ficariam sem sentido e, por consequência, as
religiões com suas doutrinas, dogmas e mandamentos.
Então, seria muito mais fácil a evolução da humanidade, mas isso o Liviêr
sabia que ainda era uma utopia.
Um belo texto que ilustras as ideias sobre religião e
espiritualidade
A religião é para aqueles que necessitam que alguém lhes diga o que fazer e
querem ser guiados. A espiritualidade é para os que prestam atenção à sua
Voz Interior.
A religião lhe busca para que acredite. A espiritualidade você tem que
buscar.
Pois bem, acho que o start da transformação do ser pode se iniciar quando,
em algum momento, ele se encontra em uma situação que nada à sua volta
faz sentido. Ele busca de várias maneiras se saciar com coisas que
ilusoriamente lhe dão um bem-estar momentâneo e depois vem à desilusão e
a depressão, tudo vai se desmoronando, aí chega o famoso fundo do poço.
Quando esse start não é acionado, é por que, para a maioria dos seres, a vida
se mantém estagnada, nem boa nem ruim, simplesmente não faz diferença.
Até talvez queira a transformação, mas aí faz pequenas mudanças, que não
levam a nada e são rápidas, porque mudança não é transformação e quando
você está realmente lá no fundo, aí vem outro problema, falta à força de
ignição para dar o start inicial, como virar a chave do carro e ligar o motor de
partida, tem que ter alguma força para dar o start inicial, como, no caso do
carro, tem uma energia elétrica armazenada na bateria que faz a ignição e o
processo de transformação começar, transformando o combustível em força,
gerando a energia necessária para o movimento. Igual é para o ser, a energia é
que faz a transformação acontecer e o combustível é nossa determinação, sem
determinação não há transformação, talvez só mudanças superficiais.
Então, será que é preciso que algo aconteça, um acidente ou uma perda
profunda, uma desilusão? Será que realmente é preciso chegar a essa situação
para começar uma transformação pessoal e de como entendemos a vida?
Hoje entendo que não, esses fatores colocam os seres em uma encruzilhada e
dão a oportunidade de começar de novo, de escolher um novo caminho, mas
essa escolha pode acontecer em qualquer momento da vida, o que se precisa
para isso é somente uma grande e verdadeira DETERMINAÇÃO.
**As informações, pesquisas e textos obtidos pela internet são
meramente informativas e não compõem o conjunto da obra do
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