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NUTRIÇÃO DA PLANTA

Apostila Tecnica

www.adaptasertao.net
INTRODUÇÃO

A
agricultura traz ensinamentos milenares de cultivo respeitando o meio ambiente e produzindo
alimento através dos tempos. Com o advento da Revolução Verde, na década de 1950, o
melhoramento genético, os adubos químicos altamente solúveis e os agrotóxicos mudaram o
aspecto da agricultura, implantando as monoculturas, ignorando o conhecimento adquirido e criando
dependência dos agricultores de produtos químicos.

Nos países mais industrializados há uma diminuição significativa no uso de agrotóxicos, sem que haja
redução da produção de alimentos, enquanto que em paises como o Brasil, cuja economia está se
expandindo rapidamente, o consumo de agrotóxicos, de sementes transgênicas e melhoradas e de
fertilizantes químicos estão em processo de aumento contínuo. Vários estudos mostram que isso causa
sérios impactos ambientais como poluição das águas superficiais e subterrâneas e desequilíbrios no
ecossistema, aumenta o numero das fontes de toxicidade aguda e carcinogenicidade para os seres
humanos, cria maior dependência de insumos externos e pode aumentar o risco de endividamento dos
agricultores. No 2008, o Brasil chegou ser o primeiro pais do mundo em termos de volume de compra de
agrotóxicos. Hoje, cerca de 400 mil agricultores brasileiros tem contaminação aguda ou semi-aguda por
agrotóxicos, sem contar a população que compra os alimentos contaminados.

Em movimento contrário a esse circulo vicioso, vem a agricultura orgânica, que dá importância a
relação entre o ser humano e o meio ambiente, para obter uma produção agrícola com o menor impacto
possível. O primeiro ponto da agricultura orgânica é o agricultor e seu núcleo familiar, pois sem a
conscientização do agente principal, nada acontecerá. Em seguida ela busca o conhecimento e a produção
de insumos de forma local, para tornar o produtor independente de insumos externos e principalmente de
origem química. O terceiro ponto é a relação do agricultor e do cultivo com o meio ambiente, representado
pelo convívio com a diversidade da flora e da fauna e para manter um ecossistema saudável e equilibrado.

Quando nos propomos a trabalhar com uma agricultura que visa a harmonia do ecossistema
precisamos olhar a propriedade como um único ambiente e interligar todos os recursos disponíveis de forma
equilibrada: mão-de-obra, água, energia, criação de animais, restos vegetais e resíduos de animais que
podem ser transformado em insumo para o cultivo, comercialização. Desta forma, devem ser preconizadas
boas práticas de cultivo: utilização de fertilizantes orgânicos, utilização de caldas orgânicas e controle
biológico, manutenção na propriedade de outras espécies vegetais e animais diferentes daquelas de
interesse econômico, manutenção de vegetação nas fontes de água e beira de rios, revolvimento mínimo do
solo no preparo, plantio em nível para evitar erosão, quebra vento, cordão de contorno, área de refúgio,
rotação de culturas, consorciação de culturas.

Os nutrientes no solo e a nutrição da planta são dois aspectos fundamentais para garantir uma
produção orgânica de qualidade porque grupam e ligam todas as outras funções que foram mencionadas
acima. Todo processo vital dos organismos vivos, sejam eles vegetais ou animais, está na dependência da
satisfação das necessidades primarias. Porém, a planta será atacado somente quando seu estado
bioquímico, determinado pela natureza e pelo teor de substâncias nutritivas conteúdas no solo e que podem
ser absorvidas pela planta, corresponder às exigências tróficas (de alimentação) da praga ou do patógeno em
questão. Os fertilizantes sintéticos e os agrotóxicos proporcionam este desequilíbrio.

Os princípios da agricultura orgânica ajudam manter o solo vivo, nutrindo a planta com equilíbrio e em
um ecossistema funcional que propicia a criação de plantas mais resistentes e saudáveis.

Este manual é para os técnicos e agricultores que querem aprofundar o próprio conhecimento sobre a
nutrição da planta.

Adapta Sertão visa disseminar um modelo de expansão da


agricultura familiar que se baseia no uso eficiente dos
recursos hídricos e naturais locais para uma produção de
pequena escala orgânica e sustentável do ponto de vista
social, econômico e ambiental e resiliente a mudança
climática e suas conseqüências.

1
DEFINIÇÃO

A
adubação (para a planta) e a fertilização (para o solo) consistem no fornecimento de todos os
elementos necessarios para que a planta tenha um desenvolvimento saudável e equilibrato.
Geralmente adubação e fertilização são usados como sinonimos, embora o primeiro se refere
mais especificatamente a planta e o segundo ao solo.

A fertilização e adubaçao organica são aquelas praticas que completam a nutriçao da planta com
elementos de origen natural e sem ter sido previamente alterados ou transformados quimicamente. A
fertilização e adubaçao orgânica diferem da fertilização e adubação convencional porque o primeiro usa
insumos com uma baixa concentraçao de nutrientes que não são quimicamente manipulados enquanto o
segundo usa uma alta concentração de nutrientes previamente manipulados.

MODELO ADUBAÇÃO PRÓS CONTRAS

Gera desbalanço nutricional


na planta. Gera uma planta
Convencional com Fornece nutrientes para
mais sensível a ataque de
altíssimas produções.
fertilizantes pragas e doenças. Provoca
químicos acidificação e salinização de
Fácil de aplicar.
solos. Gera muitas perdas
altamente solúveis por volatilização e lixiviação.
Pode contaminar o lençol
freático.

Mantém a planta equilibrada


nutricionalmente. Libera os
nutrientes de forma gradual,
de acordo com necessidade
da planta. Sofre pequena Precisa ser planejado e feito
ação de lixiviação (drenagem com antecedência. Não tão
Orgânica dos sais) devido a sua alta fácil para aplicar. Precisa de
CTC. Produz alimentos sem mais cuidado e trabalho do
agrotóxicos, menos agricultor.
perecíveis e que o mercado
geralmente paga mais.
Mantém o meio ambiente
mais saudável e preservado.
Tabela 1. Prós e contras da agricultura orgânica e convencional

As plantas são organismos que tem uma função de alimentação totalmente diferente dos seres
humanos porque apesar de produzirem seu próprio alimento (os açucares são produzidos pelo processo
fotossintético na planta), elas necessitam de um suprimento contínuo de elementos minerais para
desempenhar essa função. Esses nutrientes são derivados do processo de degradação químico-fisica dos
minerais durante a formação do solo, da decomposição da matéria orgânica no solo ou de adubações
suplementares e são absorvidos fundamentalmente pelo sistema radicular. Os nutrientes que são mais
prontamente disponíveis às raízes são aqueles que se acham dissolvidos na água dentro do solo. Vamos
entender melhor como funciona uma planta.

2
O FUNCIONAMENTO DO METABOLISMO DE NUTRIENTES NA PLANTA

O
s minerais que se encontram no solo, embora requeridos em pequenas quantidades, são de
fundamental importância para o desempenho das principais funções metabólicas da célula.
Em outras palavras eles são uma ”comida” necessaria para o desenvolvimento da planta.
Existem três categorias de elementos nutritivos pela planta: os elementos essenciais, benéficos e tóxicos.

Quando a planta não vive sem um determinado elemento, este é considerado essencial. A maioria dos
pesquisadores concordam com os critérios de essencialidade originalmente propostos por Arnon e Stout
(1939) são aqueles mencionados na figura abaixo. Quando uma dessas três condições é atendida, o
elemento é considerado como nutriente essencial.

Quando Ou Ou
O elemento é O elemento deve
parte de algum estar diretamente
constituinte ou envolvido no
Um elemento metabólico metabolismo da
é essencial essencial para a planta como
quando... planta, não constituinte de
podendo ser molécula,
substituído por participar de uma
outro elemento reação, etc

Há os elementos chamados de benéficos, que não são essenciais, mas aumentam o crescimento e a
produção em situações particulares. Há divergência entre pesquisadores sobre quais seriam estes
elementos e encontramos citações sobre sódio, silício, cobalto, selênio, alumínio e níquel.

Já elemento tóxico é aquele que não pertence às categorias anteriores e que diminui o crescimento e a
produção, podendo levar à morte da planta. E' importante observar que os mesmos elementos benéficos
podem se tornar tóxicos se forem suprimidos em quantidades elevadas, muito além do que necessário.

O crescimento e o desenvolvimento das plantas depende de três elementos essenciais: o carbono,


oxigênio e hidrogênio, mais alguns sais minerais que são essenciais e benéficos em pequenas quantidades
mas tóxicos em grandes quantidades.

O carbono, oxigênio, hidrogênio e os outros elementos não estão disponíveis diretamente para planta.
Eles se encontram no ar e na água. Então a planta precisa “processar” o ar e a água do solo para tirar o
carbono, oxigênio, hidrogênio na quantidade desejada.

Mas como faz a planta para usar esses nutrientes? Essa é a ação da fotossíntese que usa a luz do sol
junto com a presença de dióxido de carbono para fazer esse processamento. Através do processo da
fotossíntese, as moléculas de carbono, oxigênio e hidrogênio são ligadas entre si, formando os açucares que
são fonte de energia para planta.

Os sais minerais são denominados nutrientes minerais por derivarem dos minerais no solo, e o
processo pelo qual as plantas os adquirem é denominado nutrição mineral que funciona assim: os nutrientes
minerais estão presentes no solo e vem dissolvidos pela ação da água da chuva ou da irrigação. Assim que a
raiz da planta estiver em contato com essa região do solo que contem água, conseguirá absorver os
nutrientes minerais. O processo de absorção se dá com gasto de energia da planta. Ela queima os açucares
que foram formados pela ação da fotossíntese para absorver minerais como cálcio, magnésio, potássio,
trocando uma quantidade equivalente de hidrogênio. Depois de adquiridos, todos eles são incorporados às
plantas pelo mais diversos processo de formação, desenvolvimento e manutenção das suas partes.

O carbono, oxigênio e hidrogeno fazem parte de praticamente todas as moléculas orgânicas dos
vegetais e são responsáveis entre o 94% e 97% do peso seco de uma planta. Os demais nutrientes que são
absorvidos e fixados na planta a partir dos minerais presentes na água do solo, são responsáveis entre o 3% e
6% da peso da planta.
3
A RELAÇÃO ENTRE OS VÁRIOS NUTRIENTES
PARA O BOM FUNCIONAMENTO DA PLANTA

A
lguns nutrientes minerais essenciais nos tecidos vegetais estão presentes em diferentes
proporções. Essas proporções dividem os nutrientes minerais em duas categorias:

· macronutrientes ou nutrientes necessários em grandes quantidades,


os quais estão todos listados a seguir:

(N) nitrogênio, (P) fósforo, (K) potássio, (Ca) cálcio, (S) enxofre e (Mg) magnésio.

· micronutrientes ou aqueles necessários em pequenas quantidades


os quais estão todos listados a seguir:

(Fe) ferro, (Mn) manganês, (Cu) cobre, (Zn) zinco, (B) boro, (Mo) molibdênio e (Cl) cloro.

A divisão entre micro e macronutrientes não tem correlação com uma maior ou menor essencialidade.
Todos são igualmente essenciais, só que em quantidades diferentes. Uma conseqüência da essencialidade
por igual dos nutrientes é a chamada "Lei do mínimo" de Liebig (Figura 1). Essa lei estabelece que todos os
nutrientes tem que estar disponíveis para planta na quantidade e proporção ideal. Se não tiverem disponíveis
nesta proporção, não será atingida a produtividade esperada e a produção será limitada pelo elemento que
está presente em quantidade proporcionalmente menor. Nesse caso, mesmo se aumentarmos a
concentração dos demais nutrientes, não haverá um aumento da produtividade.

Por exemplo, se imaginarmos um tonel de vinho e sendo cada fertilizante uma ripa lateral, o vinho,
como a produção de uma planta, nunca atingirá o máximo se uma das ripas estiver quebrada, pois o vinho
escoará por ela. A mesma coisa acontece na planta: a falta de um nutriente compromete toda a produção.

CI Fe P N
B Cu S
K
Produtividade potencial

Ca
Mg

Zn
Produtividade

FIGURA 1. Representação da "Lei do mínimo de Liebig". Onde estão representados todos os nutrientes essenciais, nitrogênio,
fósfofo, potássio, cálcio, magnésio, enxofre, zinco, cobre, manganês, ferro, boro, cloro, molibdênio, cobalto.

4
A
lém de se levar em conta a Lei do mínimo, é necessário considerar que também há um máximo
para a utilização. Isso quer dizer que a produção máxima quase sempre não é a produção mais
rentável.Quando ocorre deficiência de algum nutriente, isto pode ser visualizado pela formação
de "sintomas de deficiência".

O quadro sintomatológico depende principalmente de 2 fatores:


·
A função ou as funções do elemento. Cada elemento tem uma função principal na planta. Dependendo
de qual componente da planta o nutriente faz parte, a função é onde ele mostra a deficiência. Por exemplo, o
cálcio, que faz parte da formação da parede celular, fica fixado nas partes mais velhas da planta e não
consegue ser translocado até a parte nova da planta. Assim a deficiência de cálcio se mostra nas partes
novas.
·
A mobilidade do nutriente na planta. A mobilidade do nutriente mostra se ele é ou não redistribuído, de
partes velhas para partes novas (em formação) da planta. Os nutriente podem ser classificados em moveis,
pouco moveis e muito pouco moveis. A mobilidade dos nutrientes é importante para determinar qual nutriente
está deficiente. Um mesmo sintoma de deficiência pode ser mostrado, mas se ele aparece na parte nova da
planta é um nutriente e se aparece na parte velha, é outro nutriente. Também é importante para que se
conheça como aplicar alguns nutriente em condições de deficiência. O cálcio e o boro, por exemplo, são
muito pouco móveis e não adianta colocar fonte de cálcio no solo pois a planta não se recuperará a tempo.
Neste caso é melhor fazer pulverizações até que o fluxo de nutrientes dentro da planta seja reestabelecido.

MÓVEIS

! N, P, K, Mg, Cl e Mo

! Os sintomas aparecem em folhas velhas, pois


eles são retirados destas para serem utilizados pelas
folhas novas.

POUCO MÓVEIS

! S, Cu, Fe

! Mn, Ni e Zn

MUITO POUCO MÓVEIS

! Ca

!B

Antes do aparecimento dos sintomas de deficiência, o metabolismo e o crescimento já foram


comprometidos de alguma forma. Um monitoramento dos teores de nutrientes foliares ou do solo é uma ação
preventiva porque ao aparecimento dos primeiros sintomas, pode-se fornecer aqueles nutrientes que estão
comprometindo o metabolismo e crescimento da planta

5
SOLO-PLANTA

A
solução do solo é o compartimento de onde a raiz retira ou absorve os elementos essenciais. O
encontro dos nutrientes com as raízes pode envolver três processos diferentes (Figura 2): fluxo
de massa, interceptação radicular e difusão. Nos primeiros dois processos, é a solução aquosa
do solo contendo nutrientes que chega em contato com a raiz. No terceiro (difusão) é a raiz que vai em contato
com o nutriente. De todos os macronutrientes somente o cálcio é interceptado pela raiz.

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Figura 2 Esquema de nutrição de uma planta

A transpiração, ou seja, a perda de água pelas folhas e caules, é importante para os nutrientes que
entram em contato com a raiz principalmente por fluxo de massa. Neste caso, a atmosfera retira água da
planta, que retira água do solo, que contem alguns nutrientes que vem puxados dentro da planta. Por outro
lado, o tamanho do sistema radicular é muito importante para a absorção de elementos que entram em
contato com a raiz por difusão e interceptação radicular, pois havendo um sistema radicular vasto, com
muitas radicelas absorventes, haverá a maior chance de encontras os outros nutrientes essenciais, como
fósforo, potássio e cálcio.

Em um sistema radicular de uma planta, didaticamente podemos encontrar três partes:

a) Parte de crescimento é a região que fica nas pontas das raízes somente.
b) Parte de fixação e absorção de água são as raízes grossas e grandes, que são profundas no solo.
c) Parte de absorção de nutrientes e de água são as raízes bem finas, da espessura de um barbante,
geralmente de cor clara. Ficam na parte mais rasa do solo

As raízes crescem preferencialmente nas zonas do solo que permanecem úmidas e com nutrientes
disponíveis. Por exemplo, ao fazermos uma adubação superficial ou muito localizada, estaremos
estimulando o crescimento das raízes de um modo também concentrado. Esse tipo de crescimento é
prejudicial para a planta já que, em condições onde a água ou outros nutrientes possam ser escassos, um
sistema radicular profundo e diversificado seria mais vantajoso. Um exemplo é um cultivo de milho, onde haja
parte do campo com uma raiz profunda e parte com raiz rasa. Se faltar água, as plantas que tem raiz profunda
terão acesso a água por mais tempo que as plantas de raízes rasas, onde o solo seca rapidamente na falta de
chuvas.

7
FUNÇÕES E ORIGEM DOS ELEMENTOS ESSENCIAIS.

Essa secção lista e descreve as funções e a origem dos elementos essenciais.

Nitrogênio (N)

A matéria orgânica do solo e a fixação biológica de nitrogênio (FBN) são as principais fontes naturais deste
nutriente que costuma ser exigido em quantidades superiores aos demais nutrientes minerais. O nitrogênio
atua diretamente na produção de açúcares na folha e influencia sobremaneira na produção intensiva de
folhas e ramos.

Fósforo (P)
Depois do nitrogênio, o fósforo é o elemento mais freqüentemente limitante nos solos brasileiros que são
pobres deste nutriente. Assim a planta não consegue se desenvolver e produzir adequadamente. A falta de
fósforo é o que mais restringe a produção agrícola no Brasil. O fósforo atua no processo de formação de
açucares, atua para haver uma boa floração e para que a planta cresça mais rapidamente. As principais
fontes para agricultura orgânica são os fosfatos de rocha e os termofosfatos. Os fosfatos de rocha são
naturais e pouco solúveis, e há algumas jazidas no Brasil. O termofosfato é quando processamos fisicamente
(moer) e termicamente (sob alta temperatura) o fosfato natural, para melhorar sua solubilidade, que pode ser
usado na agricultura orgânica.

Potássio (K)
Depois de N e P os solos são mais comumente deficientes em K. Devido a isso são comuns as formulações
de fertilizantes com N-P-K. O K é importante no controle de água dentro da planta, pois ele comanda a
abertura e fechamento dos estômatos (“poros”) das plantas. Ele transloca também os açucares para os
frutos, regulando a doçura e produção deles. As principais fontes de potássio são as cinzas, palhas de café,
sulfato de potássio e restos vegetais.

Enxofre (S)
A maior parte dos S das plantas encontra-se nos aminoácidos metionina e cisteína. As principais fontes são
os sulfatos, que são minerais naturais, processados fisicamente nas empresas. As principais fontes naturais
são os restos orgânicos de vegetais. Sua função é promover a nutrição protéica da planta para seu
crescimento.

Cálcio (Ca)
É’ importante para o crescimento e estruturação da planta e confere resistência da planta a pragas e doenças.
Seu fluxo na planta depende muito do fluxo transpiratório. Sua principal fonte é o calcário.

Magnésio (Mn)
Faz parte da clorofila, que dá cor verde a planta. Suas principais fontes são o calcário e o sulfato de magnésio.
Sua função principal é fazer que as folhas fiquem ativas para a fotossíntese.
Micronutrientes. Afetam todas as reações químicas dentro da planta, inclusive sua produção. Suas principais
fontes são os sulfatos, ácido bórico e matéria orgânica. Os micronutrientes são: ferro, zinco, cobre,
manganês, boro, cloro, molibdênio e cobalto.

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PRINCIPAIS FATORES QUE AFETAM A AQUISIÇÃO
DE MICRO E MACRO NUTRIENTES
A disponibilidade dos nutrientes é afetada principalmente pelas seguintes características do solo:

PH.
O pH afeta a disponibilidade de praticamente todos os nutrientes do solo (figura 4).

A CTC (Capacidade de Troca de Cátions) do solo.

O CTC é calculada pelas analises químicas do solo. É uma indicação da capacidade do solo de trocar
nutrientes com a planta. Quanto maior a CTC do solo, maior será a disponibilidade potencial de nutrientes. A
disponibilidade real é determinada pela alta concentração de bases e baixa concentração de íons de
hidrogênio e alumínio.

Várias Interações entre nutrientes.

Essas interações podem ser sinérgicas, quando um nutriente ajuda o outro a ser absorvido, como o fósforo
com o cálcio, ou antagônicas, onde um atrapalha a absorção do outro como o fósforo com o zinco.

Relação C/N (carbono/nitrogênio) do material vegetal depositado no solo.


Se for de alta relação (maior que 20-30) o N ficará imobilizado nos microorganismos. As leguminosas
normalmente têm relação C/N entre 12-15 de modo que mais N ficará disponível. Isso indica que se
colocarmos muita palha crua no solo, ele “roubará“ nitrogênio do solo, gerando uma deficiência nas plantas,
pois a tendência de qualquer matéria orgânica é reduzir a relação C/N (processo de decomposição da
matéria orgânica). A relação C/N ideal é entre 20/1 a 30/1.

Fixação biológica de N.

A fixação biológica de N torna disponível o N da atmosfera para o solo através da fixação de microorganismos
de vida livre ou diretamente para os vegetais simbiontes. Muitos microorganismos do solo “trabalham” junto
com algumas plantas para coletar o nitrogênio presente na atmosfera e fixá-lo no solo. Com a morte dessas
plantas, todo o nitrogênio fica disponível para as plantas do próximo cultivo.

Ferro, Cobre,
Manganes e Zinco.
Molibdenio
e Cloro.
Grau de disponibilidade

Fósforo

Nitrogênio,
Enxofre e
Boro

Potássio,
Cácio e
Alumínio Magnésio
4,5 5 5,5 6 6,5 7 7,5 8 8,5 9
pH
Figura 3 - influência do pH na disponibilidade de nutrientes.
Os nutrientes são mais disponíveis quando tiver valores de pH do solo de 6 a 7.
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PRAGAS, INSETOS INVASORES E DOENÇAS DERIVADAS
PELA AGRICULTURA CONVENCIONAL

N
os sistemas orgânicos, há alguns conceitos fundamentais que precisam ser entendidos para explicar
a desenvolvimento de pragas ou insetos invasores que são geralmente causados pela agricultura
convencional:

Equilíbrio ecológico
É a condição de um ambiente natural em que ocorrem relações harmoniosas e equilibradas entre os
organismos vivos e o meio ambiente ao longo do tempo.

Diversidade biológica ou biodiversidade


Compreende todas as formas de vida do planeta (animais, plantas e microorganismos), suas
diferentes relações e funções e os diversos ambientes formados por eles.

Simplificadores de cultivo
Os produtos químicos conhecidos por agrotóxicos são agentes simplificadores do meio ambiente,
pois matam todos os insetos, fungos e bactérias presentes. Isso causa a seleção negativa das pragas
agrícolas porque por critérios evolutivos tem indivíduos que podem resistir aos agrotóxicos e que podem se
proliferar com grande rapidez. Os agrotóxicos matam os insetos benéficos e os maléficos são selecionados
pelos seus indivíduos mais resistentes. Isso tudo leva a uma produção sem fim de agrotóxicos cada vez mais
caros e mais venenosos. Com o extermínio de insetos benéficos, outros insetos, que normalmente não são
pragas, tornam-se pois não há mais controle da sua população pelo ambiente.

Designa-se como praga o surto de determinadas espécies nocivas ao desenvolvimento agrícola de


determinadas culturas. Embora se refira geralmente a insetos, também se pode aplicar a consideradas
plantas invasoras. Esta condição é gerada por algum tipo de desequilíbrio ambiental quando elos da cadeia
alimentar são quebrados e ocorre a perda dos inimigos naturais que regulamentam o eco-sistema.

No caso de insetos, por exemplo, a abundância de alimentos gerada por monoculturas e a falta de
predadores ou inimigos naturais gerada pelo uso excessivo de inseticidas nas lavouras pode gerar uma
“condição praga”. No caso de plantas invasoras ou também chamadas espontâneas, o uso excessivo e
localizado de fertilizantes químicos alimenta tanto a cultura como as demais plantas nativas presentes no
local. Usualmente estas plantas nativas conseguiram se adaptar naturalmente ao clima, ao solo e aos
organismos do meio ambiente. Quando fertilizantes químicos são introduzidos no local, essas plantas
nativas acabam se desenvolvendo mais rapidamente e com mais vigor que as plantas cultivadas,
transformando-se em plantas invasoras.

As doenças podem ser causadas principalmente por fungos, bactérias ou vírus que se desenvolvem
quando encontram condições específica adequadas. Plantas saudáveis, equilibradas nutricionalmente são
mais resistentes ao ataque de doenças.

Fungos
São transmitidos mecanicamente, ou seja, pela circulação de seres vivos como insetos, pelo vento,
ferramentas agrícolas de cultivo ou mesmo pela circulação do homem na lavoura. Os fungos penetram na
planta quando esta sofreu algum tipo de ferimento, seja causado por insetos ou pelo homem. São
identificados por manchas na planta. Existem fungicidas sintéticos e naturais. Os principais fungicidas
naturais serão ensinados nas fichas técnicas, como a Calda Bordaleza, a Calda Sulfocálcica e a Calda
Viçosa.

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Bactérias
São transmitidas via água, seja pela saliva de vetores, em gotículas de água de irrigação contaminada
ou água que escorre no canteiro. Uma planta doente é facilmente identificada pelo amolecimento e o mau
cheiro que exala. As medidas de controle de bactérias são culturais, como a rotação de culturas e eliminação
de plantas atacadas entre outras. Também faz-se aplicação preventiva de bactericidas naturais, como o
extrato da planta Nim e a calda bordaleza. Depois que a planta foi infectada, ela deve ser eliminada.

Vírus
São as piores doenças que as plantas podem ter, fazendo-as murchar, amarelar e não crescer. Vão
definhando, definhando até morrer. Seu principal disseminador é o pulgão, um inseto sugador que vai
inoculando o vírus. Primeiro pica a planta doente e depois pica as plantas sadias, transmitindo o vírus e as
contaminando. Não há como recuperar plantas com viroses, portanto devem ser arrancadas e queimadas.
Os vírus vivem no solo ou nas próprias plantas. A erradicação e controle são difíceis. O mais indicado é a
prevenção.

A teoria que rege o modo como a agricultura orgânica vê doenças e pragas é chamada de teoria da
trofobiose. Essa teoria fala que os insetos ou pragas só atacam plantas doentes nutricionalmente, ou seja,
que tenham alimento livre e facilmente digerível, como aminoácidos na seiva. Nesse momento as pragas e
doenças atacam as plantas para se alimentarem.

Figura 4. Ação ilustrativa de agrotóxicos e fertilizantes altamente solúveis sobre a planta sadia.

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HÁ ALGUNS FATORES QUE INFLUENCIAM NO DESENVOLVIMENTO
DE DETERMINADAS DOENÇAS:

Interação de temperatura com umidade


Alguns fungos se desenvolvem em velocidade muito rápida em situação de alta temperatura e alta
umidade do ambiente. Por exemplo, oídio em quiabo se assemelha a uma camada de algodão bem fina
sobre a folha do quiabo.

Hospedeiros nas plantas espontâneas


As plantas invasoras, por serem geralmente mais adaptadas ao ambiente que as cultivadas, podem
ser hospedeiras de doença, mas não serem afetadas. As doenças podem ser transmitidas de uma planta
para outra por seres vivos que se alimentam da planta doente e depois se alimenta da planta cultivada, ou
pela água.

Melhoramento genético de plantas cultivadas


As plantas cultivadas atualmente passaram por um longo processo de melhoramento genético para
aumentar a produção ou mudar o aspecto e tamanho da parte comercializável. Isso fez uma seleção
negativa para plantas que tem capacidade de produzir substâncias que promovem a sanidade vegetal.
Assim, essas plantas são mais sensíveis a pragas e doenças.

Cultivos sucessivos e monoculturas.


Quando se realiza cultivos sucessivos da mesma planta na mesma área se induz a perpetuação e
multiplicação de determinados tipos de microorganismos, que podem ser patogênicos, pois sempre há
plantas para ser colonizada. Quando há grandes plantações, o excesso de um mesmo material genético
influi no aparecimento de um excesso de um mesmo microorganismo.

Manejo da cultivo
O uso de máquinas agrícolas nas entre linhas de plantas perenes, como as frutíferas, pode danificar
as raízes que ficam nessa área e servir então como porta de entrada para fungos e bactérias.

Uso de fertlizantes solúveis


Fertilizantes solúveis provocam alterações nas quantidades de nutrientes dentro das plantas de
forma anormal, e principalmente em relação ao nitrogênio. Ocorre a formação de aminoácidos livres dentro
da planta, os quais servem como alimento pronto para pragas e doenças.

Escolha de sementes e mudas


A escolha de mudas e sementes sadias é fundamental para iniciar um cultivo sem doenças. Assim, as
sementes devem vir de empresas ou entidades idôneas. A produção própria de semente, no caso de cultivo
de variedades, deve ser em área destinada para isso, onde o monitoramento de pragas e doenças deve ser
redobrado.

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Trato cultural adequado em plantas perenes (árvores)
Um cultivo agrícola, além dos processos normais de adubação, monitoramento de agentes nocivos e
colheita, também deve haver tratamentos de limpeza e poda, onde se retira galhos doentes, frutas passadas
e faz-se podas que permitem a entrada de radiação solar direta dentro da copa da planta. Isso impede a
formação de um microclima dentro da copa da planta, que favorece o aparecimento de doenças.

Irrigação

As plantas irrigadas sofrem menos estresse. Assim não há a perda excessiva de folhas nos períodos
secos, nem a liberação da aminoácidos e radicais livres dentro da planta, os quais aumentam a sensibilidade
a pragas e doenças.

Ferramentas, veículos e implementos

Todas as ferramentas, veículos, implementos tem que ser periodicamente limpos. Além dessa revisão
periódica, quando se passa de um cultivo a outro, ou quando são cultivos de agricultores diferentes, deve-se
realizar tal limpeza.

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REFERÊNCIAS PARA CONSULTA

Título: Controle alternativo de pragas e doenças


Autor: Silvio Roberto Penteado
Editora: Via orgânica

Título: Manual prático de agricultura orgânica


Autor: Silvio Roberto Penteado
Editora: Via orgânica

Título: Defensivos alternativos e naturais


Autor: Silvio Roberto Penteado
Editora: Via orgânica

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Coordenação Geral
Emilio Lèbre La Rovere, Centro Clima/Universidade Federal do Rio de Janeiro
Thais Corral, REDEH Rede de Desenvolvimento Humano

Coordenação Técnica
Daniele Cesano, REDEH Rede de Desenvolvimento Humano

Execução
Nereide Segala Coelho, Coopsertão Pintadas
Florisvaldo Mercês Guimarães, Coopsertão Pintadas
Fabio Santana da Silva, Coopsertão Pintadas
Agnaldo de Souza Ribeiro, Coopaf Brumado
Pablo Rocha, Coopaf Brumado
Gilson Rocha de Magalhães, STR Quixabeira
Everaldo Alves Oliveira, STR Baixa Grande

Pesquisa Cientifica
Martin Obermaier, Centro Clima/Universidade Federal do Rio de Janeiro
Debora Cynamon Kligerman, Centro Clima/Universidade Federal do Rio de Janeiro
Maria Regina Maroun, Centro Clima/Universidade Federal do Rio de Janeiro

Capacitação e Material Técnico de Suporte


Daniela Benatti, consultor
Marcelo Bastos, consultor
Daniele Cesano, REDEH Rede de Desenvolvimento Humano

Comunicação
Fábio ACM, REDEH Rede de Desenvolvimento Humano

Financiamento
UBA/Federal Environment Agency of Germany (Umweltbundesamt)
www.uba.de

Rio de Janeiro, Novembro do 2009

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