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#11

Propriedade Intelectual

Guia do
Empresário
por
Centro
Tecnológico
do Calçado
de Portugal
Índice

Por que razões é importante a


Propriedade Intelectual (PI) 06

PI e estratégia da empresa 20

Criar PI na empresa e geri-la 28

Melhores práticas de gestão da PI 36

Dar atenção à PI em alguns pontos sensíveis 44

Conclusão 60

Bibliografia 62

Anexos 64

2 #11 Propriedade Intelectual Guia do Empresário . CTCP #11 Propriedade Intelectual Guia do Empresário . CTCP 3
Propriedade Intelectual

© SALTO ALTO ctcp criativo


Por que razões é importante a
Propriedade Intelectual? Definições Com efeito, é a existência de um direito
de PI, neste caso a marca, que possibilita
A Propriedade Intelectual (PI) desig- preservar o mercado e garantir que este
na um conjunto de direitos que incidem não é raptado por um produto suscetível
sobre ativos das empresas que não são de causar confusão quanto à origem em-
palpáveis fisicamente – as patentes, mar- presarial, que nos leva a encará-lo como
cas, desenhos ou modelos, Know-how, um bem, contabilizável no ativo da empre-
segredos comerciais ou industriais entre sa, com determinado valor monetário. Tal
outros. como uma máquina ou uma ferramenta,
a marca, ou mais genericamente qual-
Estes direitos, quando bem utilizados pelo quer Direito de Propriedade Intelectual,
empresário, podem assumir uma tremen- (DPI) é assim um dos bens do ativo que
da importância, tendo impacto na forma contribui para a criação de riqueza pela
como a empresa angaria negócio, se dis- empresa.
tingue da concorrência e protege as mar-
gens de lucro. A propriedade intelectual pode ser usada
de diferentes maneiras e vista sob dife-
É ilustrativo do valor destes direitos a se- rentes perspetivas.
guinte história: os responsáveis pela com-
panhia norte-americana Coca Cola Inc., Este manual abordará diferentes aspetos
quando interrogados sobre a possibilida- com relevância na vida das empresas e a
de de sobrevivência da empresa no caso que o empresário deverá dar atenção para
das suas instalações, veículos, fábricas e tornar a empresa mais inovadora e com-
equipamentos serem destruídas por uma petitiva, preservando as margens, aumen-
catástrofe natural, afirmaram que isso não tando a quota de mercado e tornando-se
representaria grande problema desde que mais competitiva e sustentável no longo
o direito de marca permanecesse intacto. prazo.
A exclusividade proporcionada por este di-
reito seria suficiente para que rapidamen-
te a empresa se reerguesse. Pelo contrá-
rio, se a marca se perdesse, o dano seria
superior à reconstrução.
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#11 Propriedade Intelectual Guia do Empresário . CTCP 7


Propriedade Intelectual como instru- O empresário, ao apostar num novo ne- Se, na fase de realização, os lucros forem total ou parcialmente a clientela do pro-
mento de proteção do investimento gócio, tem uma representação mental do insuficientes para compensar o dispêndio duto inovador no qual, esperançadamen-
em inovação mesmo de acordo com o esquema ilustra- de dinheiro na fase pré-comercial, tratou- te, se investiu.
do na figura 1. A uma fase que alguns cha- -se de uma operação ruinosa.
Toda a inovação requer um investimento: mam de ideação e de validação, em que se Daqui a importância que o empresário deve
um período de tempo em que aquilo que faz a preparação para a entrada no merca- O gozo de lucros, suficientes para com- dar ao portefólio de direitos de propriedade
inicialmente começou por ser uma ideia é do, sucede-se a fase de realização em que pensar o investimento, tem maior proba- intelectual que protegem os produtos da
reduzido à prática, seja a invenção de um a inovação é vendida gerando lucros. bilidade de não se verificar se o produto sua empresa. Quanto mais “blindado” esti-
novo produto ou processo, um design, um não estiver protegido por um ou mais di- ver um produto, do ponto de vista dos direi-
método organizacional ou uma nova mar- Se, na fase de realização, os lucros forem reitos de propriedade intelectual e a cur- tos que o protegem, mais difícil será para os
ca para assinalar um produto ou serviço. maiores do que a verba investida, tratou-se va de realização se apresentar de acordo concorrentes capturarem o valor por eles
de uma operação bem sucedida e lucrativa. com o esquema da figura 2. gerado para a empresa.

A figura ilustra o caso em que, para além Os produtos no mercado atualmente, mes-
da resposta do mercado não ter sido de mo quando se fala de produtos de setores
acordo com o esperado, verificam-se lu- tradicionais como o calçado, estão frequen-
cros pouco expressivos porque não foram temente protegidos com um “blend” de
criadas condições, através da PI, para se direitos de PI, para se tornarem robustos
gozar de um grau de exclusividade co- na luta concorrencial. Uma solução técnica
Fase de ideação/validação Fase de realização
mercial. Neste cenário, um ou mais con- pode estar protegida por uma ou mais pa-
400 correntes, dando-se conta da ausência de tentes, uma linha estética por um ou mais
proteção, colocaram um produto similar desenhos ou modelos, e o próprio direito de
240
– com as caraterísticas técnicas equiva- marca é usado para proteger aspetos esté-
lentes ou com um design confundível e ticos, a título de marca figurativa.
80
praticando preços mais baixos, desviaram
Dinheiro

-80

Fase de ideação/validação Fase de realização


-240
400
-400
1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14
240
Tempo

Dinheiro 80

Dinheiro
-80
Figura 1 - Cash Flow da Inovação
-240

-400
1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14

Tempo

Dinheiro

Figura 2 - Cash Flow da Inovação sem proteção

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Figura 4 - Modelo comunitário
nº 001946542-0001 da ICC
Figura 3 – Caixa de sapatos da Lambda®

Lambda & Ómega, Lda. querer apresentar novidades, a imaginação ICC – Indústria de Comércio e Calçado S.A. > Bota de proteção electricamente isolan-
humana dispõe de recursos ilimitados e te
A empresa Lambda & Ómega, Lda., de pode desenvolver soluções técnicas que A empresa ICC, de acordo com a visão do > Meios de fixação de atacadores utiliza-
Lousada, pode ser citada como exemplo contornem a proteção. O próprio direito de seu Presidente, pretende “produzir cal- dos em calçado de segurança
de uma entidade que recorre a uma utili- patente é efémero, embora com uma dura- çado que contribua para a saúde do utili- > Inserto para testeira de calçado de se-
zação combinada de vários direitos de PI. ção de 20 anos. zador, adoptando a definição de saúde da gurança
Tendo-se especializado em sapatos de Gol- organização Mundial da Saúde, a qual se > Calçado de caça com protecção do pé
fe, os quais ostentam a marca Lambda®, Não obstante ter requerido a patente, a refere a um bem-estar físico, psicológico contra perfurações.
a empresa desenvolveu um processo de Lambda & Ómega, Lda. regista também e social e não somente um estado de au-
fabricação de solas que confere aos sapa- um portefólio de modelos comunitários, sência de doença”. Dentro desta lógica a Entre muitas outras (para consultar a ati-
tos propriedades de impermeabilização, para obter protecção para o design espe- empresa pretende produzir sapatos que vidade de patentes, pesquisar com “ICC
flexibilidade, leveza e respirabilidade. O cífico ou aparência estética de alguns dos não desenvolvam deformidades nos pés e calcado” em nome do requerente em es-
processo de fabrico e o produto resultante seus produtos (para consultar os modelos façam a sua prevenção. “No fundo produ- pacenet).
foram submetidos a protecção por patente registados, pesquisar com Lambda em zimos calçado com produtos que não são A par deste portefólio de direitos de pa-
internacional (para consultar as patentes, nome do proprietário em RCD online). nocivos para a saúde dos pés, que prote- tente, a ICC tem ctividade de registo de
pesquisar com Lambda em nome do reque- jam adequadamente de quedas de obje- modelos, designadamente comunitários,
rente em espacenet). Regista ainda várias marcas, designada- tos, perfurações, temperaturas elevadas para proteger a aparência estética das
mente comunitárias, para garantir a apro- ou frio excessivo e que sejam agradáveis solas (para consultar os modelos regista-
O patenteamento tem associado um efeito priação do uso, para sapatos, do nome à vista e contribuam para o bem-estar de dos, pesquisar com ICC em nome do pro-
dissuasor junto dos agentes económicos Lambda® e os elementos gráficos e figura- quem os usa”. prietário e Portugal como local de origem
que os leva a não fabricar ou comercializar tivos que acompanham a designação (para do proprietário, em RCD online).
sapatos de acordo com o método reivin- consultar a actividade de marcas comuni- Contribuindo para este objectivo, a em-
dicado, considerando o receio fundado de tárias, pesquisar com Lambda em nome do presa tem um portefólio considerável de Finalmente, em matéria de marcas a ICC
um processo judicial. Com isto, a empresa proprietário em CTM online). patentes que protegem diferentes solu- aposta nas marcas comunitárias “Lavoro®
consegue delimitar um certo domínio tec- ções técnicas, como por exemplo: by ICC” e “GO Safe®”.
nológico em que reina. Naturalmente que Uma marca é sempre um processo de co-
o empresário não poderá simplesmente municação entre um fornecedor de produ-
dormir sobre os louros da patente ou da tos ou serviços e a sua clientela. Quaisquer
marca e esperar que as coisas aconteçam. informações relativas à marca a afectam.
Deve manter uma postura vigilante para Neste sentido, o facto de existir uma ou
manter esse domínio, sabendo que lhe mais patentes associadas a um produto ou
compete agir sobre a concorrência pelo linha de produtos transmite para o merca-
uso dos próprios direitos de PI. Recorde- do as ideias de exclusividade e mérito tec-
-se que o mercado funciona de forma mui- nológico que, quando associadas à marca,
to dinâmica, as empresas estão sempre a contribuem para o seu prestígio. Figura 5 - Marcas da ICC

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O que dizem os empresários da PI? disso uma cultura de empresa excessiva- É demasiado caro... A minha empresa é demasiado peque-
mente assente no segredo, impede-a de na: a PI é para os grandes...
Propriedade Intelectual (PI) é um con- se abrir a colaborações externas cada vez É verdade que os custos totais em pro-
ceito que alguns empresários terão difi- mais necessárias e importantes. A estru- teção, sobretudo quando se mantém um O que torna a empresa única são as ideias
culdade em reconhecer ou definir. Todavia turação e formalização da PI da empresa portefólio de direitos em vários países, e a capacidade de as implementar de to-
se mencionarmos Patentes, Marcas e Di- em diferentes direitos, patentes, marcas, podem atingir valores elevados. Todavia, dos os que nela trabalham. A PI permite
reitos de Autor ou Copyright, praticamen- design, Know-how, permite articular mais uma gestão de direitos que relaciona os valorizar toda essa realidade projetando-
te todos terão uma ideia formada sobre o efetivamente as colaborações sem que se custos com proteção e a faturação deles -a para a luta concorrencial, aumentando
assunto. perca PI (o que aconteceria se um segre- derivada, pode fazer chegar à conclusão quotas de mercado e criando oportunida-
do ficasse na posse da concorrência, por que se trata de um custo pouco importan- des também junto de agentes económicos
Portugal é um país em que, tradicional- exemplo). te. Por outro lado, numerosas atividades de maior vulto.
mente, há uma grande relutância em gas- relacionadas com PI não terão custos,
tar dinheiro com PI. Todavia a recuperação Basta mudar um parafuso... como por exemplo, pesquisar nas bases
económica dos setores tradicionais como de dados de patentes, de design ou de A construção de uma marca
a indústria do calçado, vem demonstrando Muitos estão convencidos de que os direi- marcas ou formalizar os conhecimentos
o acerto em apostar em inovação e na sua tos de PI não são efetivos na luta concor- criados. A Fly London® lançou, em Berlim, a co-
proteção e, a pouco e pouco, o empresário rencial e as proteções por patente, marca leção de roupa que pretende tirar par-
interessa-se cada vez mais por tudo o que ou design são facilmente contornáveis. Se é É muito complicado... tido da “força” da marca de sapatos e
é característico e distintivo no seu negócio. verdade que é possível desenvolver produ- é mais um passo para o projeto de ter
É por querer manter essas diferenças re- tos e processos que cumpram as mesmas Alguns aspetos da PI, especialmente a lojas próprias em Lisboa e em Londres.
lativamente aos concorrentes, que acaba funções sem violar direitos antecedentes, condução dos processos de registo, ou “Na nossa lista de clientes, cerca de
por interessar-se pela PI. ignorar a PI representa um duplo prejuízo: contratuais requerem a intervenção de metade das lojas são de moda”, explicou
por um lado pelo desperdiçar de oportuni- especialistas. Todavia a gestão da PI pela um dos sócios da Kyaia, que há 15 anos
Quais são então as principais hesitações dades que esta cria no jogo concorrencial, empresa é algo que pode ser facilmente lançou a Fly London®, acrescentando
dos dirigentes das empresas? por outro pelo risco acrescido de incorrer apreendido e eficazmente utilizado por que a “força” da marca levou a empresa
em infração de direitos existentes. todos. portuguesa de calçado a aventurar-se
Em seguida passamos em revista alguns na diversificação da oferta.
dos argumentos usados para justificar a Não é uma prioridade em tempo de Não disponho de ninguém para tratar Segundo Amílcar Monteiro, “a ideia é
inexistência de portefólio de direitos de PI crise... do assunto... continuar a alargar a marca a novas
nas PMEs. gamas de produtos”, adiantando que os
As crises criam oportunidades de mudan- Numa PME pode ser realmente desade- acessórios serão a próxima aposta da
O segredo é a melhor protecção... ça. Não é raro que as invenções surjam em quado ter uma pessoa que se ocupa ex- Fly London®, que foi considerada pela
fases de aperto. “A necessidade cria o en- clusivamente da gestão da PI. No entanto, revista inglesa “Drapers” a melhor mar-
Se é verdade que uma arma concorrencial genho”. O uso da PI para garantir a apro- para uma PI forte e eficaz pode ser sufi- ca de calçado de mulher e a segunda
importante é o segredo, é necessário dar- priação das soluções descobertas durante ciente que o empresário saiba quais as melhor de homem em 2009.
-se conta que a partida de um colaborador, a crise pode ser um fator decisivo para a vertentes e balizas por onde orientar-se e
que lida com um segredo, para a concor- empresa se destacar da concorrência no os aspetos a que deve dar atenção. In Jornal i, 21/01/2010
rência pode levar à sua perda. Para além tempo das “vacas gordas”.

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Em que consiste, concretamente a PI? > para o político a PI é um instrumento de Diferentes criações intelectuais – dife- > os programas de computador sem con-
política industrial que funciona como in- rentes formas de proteção tributo técnico – por direito de autor
Trata-se de um domínio em que os dife- centivo à invenção e ao investimento;
rentes profissionais que com ele lidam O ponto de partida para implementar uma > os sinais distintivos do comércio (no-
têm uma perspetiva diferente. > para o empresário a PI é uma ferramen- política de PI na empresa é perceber mes, logos) – por marcas
ta que agrega as funções mencionadas e quais os mecanismos de PI que devem
Assim: por ele operada ao serviço da estratégia ser atuados para proteger especificamen- > o design ou aparência dos produtos e
da empresa e em função do contexto eco- te as diferentes criações da empresa: suas embalagens – por desenhos ou mo-
> para o jurista, a PI é sobretudo o Código nómico, laboral e social em que se move delos
da Propriedade Industrial e as diferentes num dado momento. > as invenções de novos produtos – por
normas jurídicas em vigor numa dada ju- patentes ou modelos de utilidade > os segredos comerciais ou industriais
risdição; (proteção de informações não divulgadas,
Propriedade Intelectual – proteger o > os novos processos de produção – por direitos de autor)
> para o economista, a PI são os ativos núcleo da identidade da empresa patentes ou modelos de utilidade
imateriais e a forma de os fazer constar > os audiovisuais usados na divulgação
no balanço ou na arquitetura do grupo em- As empresas expressam sob a forma de > as invenções implementadas por com- dos produto – direitos de autor
presarial; produtos ou serviços o produto da ativida- putador – por patentes
de intelectual das pessoas que formam a
> para o comercial, a PI são os meios de empresa.
lutar contra as cópias;
Invenções (patentes)
Uns sapatos que ostentam um design ape-
> para o engenheiro, a PI são sobretudo lativo ou novas funcionalidades resultam
os aspectos técnicos das invenções; do esforço intelectual dos concetores Marcas
desse design ou invenção.
> para o gestor de inovação, a PI é uma Desenhos ou Modelos
(Design registado)
linguagem comum que ajuda as equipas a A PI é um corpo jurídico que permite à
inovar; empresa impedir terceiros de se apro-
Propriedade Industrial Indicações Geográficas
priarem desse esforço intelectual, o que
> para o especialista em “inteligência em- permite proteger a identidade específica
Propriedade Intelectual
presarial”, a PI é uma mina de informa- e única da empresa. Por outro lado uma
ções (bases de dados de patentes, mar- correcta política de gestão de PI em vi-
Direitos de Autor Escritos Obras musicais
cas, desenhos…); gor na empresa pode contribuir para uma
elevada motivação e co-responsabilização
Obras dramáticas Obras audiovisuais
> para o sociólogo, a PI é um indicador da dos que nela trabalham.
capacidade de inovação das empresas e
dos países; Pinturas e desenhos Esculturas

Obras fotográficas Obras de arquitectura

Registos sonoros Representações

Emissões radiofundidas

Figura 6 - Direitos de PI

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Contextos de utilização da PI O domínio da cultura de PI, levará a em- próprio portefólio de direitos de PI, para
presa a saber contornar proteções em poder negociar com base na referida tro-
A PI pode ser usada de diferentes formas vigor, sobretudo de patentes, porque se ca de licenças. Sem PI própria, e perante
e diferentes contextos segundo as cir- sabe determinar o âmbito de proteção uma acusação de violação flagrante, só
cunstâncias e o momento que a empresa identificado pelas reivindicações e, a par- resta à empresa retirar o produto do mer-
atravessa. tir daí, desenvolver soluções que atinjam cado e pagar as indemnizações requeridas
os mesmos objetivos da patente, mas com pelo concorrente.
A Figura 7 mostra a utilidade da PI em di- diferentes características técnicas.
ferentes situações A empresa portuguesa detentora da
Protecção legal marca de calçado Eject® viu-se con-
frontada com uma violação de design
Redução de custos Expandir a PI e os lucros
Um dos eixos de atuação do empresá- protegido de modelos de calçado, por
rio é verificar a “liberdade de operação”, um grossista, no mercado de um certo
(“freedom to operate”) relativa aos seus país europeu. Levou o caso a Tribunal
Eliminar ou evitar royalties Gerar royalties e receitas
produtos, isto é, deve saber, antes de co- que culminou com uma sentença que
Reduzir royalties Licenciamentos, simples, dependentes e obrigatórios locar um novo produto no mercado, se lhe deu razão e determinou o pagamen-
Aferir de acções de dissuasão Joint ventures e Standards este viola algum direito de PI estabeleci- to de uma indemnização de 1,7 milhões
Evitar litigação
PI Diferenciação de produto do nesse mercado. de Euros. Todavia, uma parte substan-
Negociar acordos Preços premium cial desse dinheiro teria que ser pago
Só em casos extremos se deverá levar pelos retalhistas. A empresa conseguiu
Prevenir ações em tribunal Criar / Proteger novos mercados
até à sentença judicial uma guerra entre cobrar a indemnização, mas teve que
empresas assente em direitos de PI. Apli- suportar a retaliação por parte dos re-
Proteção legal Competitividade comercial ca-se neste domínio o conhecido ditado talhistas que lhe diminuiu substancial-
“mais vale um mau acordo que uma boa mente as vendas nesse mercado.
Ações defensivas Ações ofensivas
demanda”. Para uma parte lesada que tem
100 para receber, aceitar receber 70 é um Acções ofensivas
Figura 7 - Contextos de utilização da PI
mau acordo, a não ser que a boa demanda
lhe custe os 100 a que tinha direito. Uma PI robusta (que se obtém normal-
mente por um portefólio rico em qualida-
Para evitar custos com tribunais e com de e quantidade) poderá estar na base de
Ações defensivas às tecnologias ou marcas de entidades ex-
advogados e um desfecho com algum lucros consistentes e sustentáveis, por-
ternas, aliciando-as para a adoção de um
grau de incerteza é sempre desejável che- que os concorrentes não conseguem en-
Redução de custos ou mais dos seus direitos em vigor, e desta
gar a um acordo extra-judicial. Para que trar no domínio tecnológico protegido pela
forma, isto é, trocando autorizações, não
isso aconteça, a empresa tem que “saber empresa sem a sua autorização.
As empresas estão frequentemente de- ter que pagar nada para obter o desejado
com que agulhas se cose”. Nesse contex-
pendentes de fornecedores de tecnologia acesso, ou, pelo menos obter uma redu-
to é indispensável “conhecer as regras A empresa é soberana para decidir se a
que estabelecem, mediante contratos, ção nos royalties a desembolsar.
do jogo”, ou seja, aquilo que é típico em sua estratégia é de autorizar ou negar a
obrigações de pagamento de royalties a
situações de guerra similares no mercado terceiros a permissão para utilizar a tec-
título de autorização para uso de um ou Por outro lado, a existência de competên-
em causa. Todavia, nenhum acordo será nologia por si protegida.
mais direitos de PI que detêm. cias internas em PI, na empresa, levá-la-
possível se a empresa não detiver o seu
-ão a aferir da veracidade de eventuais
O fato da empresa deter, ela própria, di- cartas de dissuasão, enviadas por con-
reitos de PI, permite-lhe, em certas situ- correntes, as quais poderão não ter fun-
ações, negociar vantajosamente o acesso damento legal.

16 #11 Propriedade Intelectual Guia do Empresário . CTCP #11 Propriedade Intelectual Guia do Empresário . CTCP 17
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No caso da empresa conceder autoriza- Competitividade comercial
ção, poderá começar a faturar royalties,
o que significa receber sem nada ter que A PI gerada na empresa vai contribuir de-
gastar (apenas haverá que manter os di- cisivamente para diferenciar os produtos
reitos em vigor). Poderá trocar licenças e da empresa dos produtos concorrentes.
ter acesso a uma tecnologia protegida de Soluções técnicas patenteadas contri-
um concorrente. buem para dotar os produtos de carac-
terísticas que conferem acréscimo de
Estas dimensões da PI abrem perspetivas utilidade ou vantagens práticas para o uti-
completamente novas que desafiam a es- lizador. As marcas contribuirão para cap-
tratégia e vocação da empresa. Por exem- tar ou fidelizar a clientela que reconhecerá
plo, um acordo entre empresas resultante nos produtos da empresa as referidas van-
de uma posição relacionada com PI pode- tagens e aumento de utilidade. O design
rá levar a empresa a posicionar-se na van- protegido é mais uma forma de dissuadir
guarda tecnológica porque, por exemplo, a concorrência da imitação ou cópia. Por
passa a poder aceder a funcionalidades tudo isto, a empresa estará em posição de
protegidas por outra empresa. lutar contra o esmagamento dos preços
que é sempre o resultado de uma competi-
Neste último caso, ou noutros contextos ção entre produtos indiferenciados.
em que detém uma ou mais invenções re-
levantes, poderá ser chamada a participar Preço médio de €19,49
na elaboração de standards relativos à
adoção de tecnologias que importa disse- Analisando a Balança comercial entre
minar. Isto poderá representar uma nova Portugal e a Itália recorrendo aos da-
oportunidade de expandir as vendas. dos do Instituto Nacional de Estatística
(INE), verifica-se que Portugal fica a
A consciência do valor da PI levará a perder ao nível do preço, uma vez que
encará-la como uma realidade autónoma exportou calçado com um preço médio
que pode ser negociada separadamente de 19,49 euros e importou a 22,28 euros.
do capital físico e esta perspetiva ajudará
na arquitetura de joint-ventures e outras De acordo com a APICCAPS, “a dife-
formas de cooperação empresarial. rença é, no entanto, cada vez menor, à
medida que a imagem do calçado portu-
guês nos mercados externos vai sendo
Um empresário com uma marca conhe- aprimorada”.
cida decidiu vender o negócio. Mas em
vez de vender a fábrica e a marca em In Expresso: 4/12/2011
conjunto, transacionou só a infraestru-
tura física e manteve sua a marca o que Uma dinâmica interna de geração de PI
lhe permitiu receber royalties pelo uso através da inovação irá conduzir a empresa
da marca durante 10 anos após conclu- a um maior arrojo na internacionalização
ído o negócio, de acordo com o que foi e daí que uma das utilizações da PI seja a
estipulado contratualmente. criação e proteção de novos mercados.

18 #11 Propriedade Intelectual Guia do Empresário . CTCP


PI e estratégia da empresa
égia de negóc
trat io
Es
até gia de I
tr &D
Es
é g ia de pat
at e

nt
r
Est

es
Segredos
Posição comerciais e Posição
atual industriais futura

Figura 8 - Estratégia da empresa em círculos concêntricos

Muitos empresários portugueses tendem publicadas por autores estrangeiros. Nela


a não atribuir importância à Propriedade se identificam, em círculos concêntricos,
Intelectual, considerando-a um custo que representam âmbitos de actuação,
desnecessário. a estratégia de negócio, a estratégia de
Investigação e Desenvolvimento, a es-
Todavia, a progressiva conquista das mar- tratégia de patenteamento e os segredos
cas portuguesas dos mercados nobres e comerciais e industriais.
o aumento de notoriedade e prestígio de
que as referidas marcas vão gozando, Torna-se mais claro compreender o sig-
implicará uma atenção redobrada a estes nificado desta figura recorrendo a um
aspetos da competição empresarial, por- exemplo concreto.
que nestes mercados a concorrência faz
uma grande utilização da PI e uma em- Assim, consideremos por exemplo um
presa que a não use corre o risco de ser caso em que a empresa já produz sapa-
eliminada desse mercado. tos de golfe e goza de alguma reputação e
quer vir a ser a empresa que produz sapa-
Este guia tem como ambição alertar o tos de golfe de qualidade imbatível.
empresário para os aspetos da vida em-
presarial que necessitam do seu cuidado, Estratégia é um termo militar que se re-
tentando ao mesmo tempo estabelecer fere a um plano de ação desenhado para
um enquadramento que lhe permita hie- atingir um determinado fim.
rarquizar e arrumar as ideias a respeito
da PI. O empresário, ao pensar a sua empresa
e os fins que pretende atingir, pensa em
Dentro deste enquadramento mostra-se seguida num plano de ação. Ora, é aqui
© Kalim - Fotolia

particularmente informativa para o em- que o esquema da Figura 8 o pode ajudar.


presário, a ilustração da Figura 8, que é Porque, trata-se de organizar os meios de
baseada noutras figuras de cariz similar acordo com o referido esquema.

#11 Propriedade Intelectual Guia do Empresário . CTCP 21


Assim, no referido exemplo, e sabendo Finalmente, no centro da estratégia está a Case Study: Geox®
que um aspeto crítico da qualidade dos informação confidencial relativa a aspec-
sapatos de golfe é a sua impermeabilida- tos que são deixados de fora das patentes,
de em condições de uso muito exigentes, como os segredos comerciais e industriais
a estratégia de negócio poderá ser o pla- e o Know-how.
no que integra a totalidade dos meios que
contribuem para esse posicionamento: A vantagem do modelo integrar o círcu-
I&D, PI, produção, marketing, comercial, lo das patentes é perceber de que forma
etc, que estejam de acordo com a ideia de se encaixa a atividade de patentear na
“sapatos de golfe de impermeabilidade estratégia da empresa. A relevância do
garantida”. patenteamento consiste na preservação
do lucro da empresa ou vantagem sobre
Subordinada à estratégia de negócio e os concorrentes, impedindo-os de prati-
dentro deste âmbito, a empresa estabe- carem as mesmas soluções técnicas das
lece uma estratégia de I&D. Trata-se de protegidas por patente. Claro que os se-
Figura 9 - Uma das primeiras patentes de Mário Polegato
identificar os fins (por exemplo inventar gredos também concorrem para esse fim,
um x número de soluções técnicas ade- no entanto, há aspetos das invenções que
quadas aos desafios que se colocam à im- não são susceptíveis de ser mantidos em A Geox®, marca italiana criada em 1995, ajuda de uma indústria de peles ligada aos
permeabilidade dos sapatos de golfe e os segredo porque o produto que as incorpo- rapidamente se expandiu para um número negócios da família.
meios (humanos, materiais, financeiros) ra ostenta a própria invenção, permitindo muito significativo de países, possuindo
para chegar a esse objetivo. aos concorrentes replicarem-na. atualmente fábricas na Roménia, China, Depois de tentar negociar a invenção sob
Indonésia, Brasil, Eslovénia, Índia, Ma- patente com alguns fabricantes, Mário faz
Em alinhamento com as anteriores estra- cau, Tailândia e Coreia do Sul. um teste ao mercado através da produção
tégias, deve estar a estratégia de paten- e lançamento de uma série de sapatos
teamento que a leva a estabelecer como O crescimento explosivo explica-se em para criança. Em seguida lança a marca
meta criar um portefólio de patentes que grande parte por uma bem sucedida im- Geox® e começa a fabricação em massa.
protegem aspectos técnicos críticos das plementação da estratégia da empresa
soluções desenvolvidas e mantê-las em articulada em torno de I&D e PI. Desde os começos que a marca Geox®
vigor num certo número de países rele- investe fortemente em I&D. Mantém atu-
vantes. Tudo começou com a ideia do seu funda- almente em Montebelluna, na Itália, um
dor, Mário Polegato. Sem qualquer ex- centro de pesquisa e inovação que em-
periência do sector do calçado, apenas prega mais de 15 engenheiros, químicos
familiarizado com o negócio de família e físicos os quais desenvolvem soluções
dos vinhos, Mário teve a ideia de fazer uns relativas a formas de tornar os sapatos
buracos na sola dos seus sapatos com um mais confortáveis.
canivete suíço, quando estava no Nevada,
E.U.A., para assistir a uma conferência re- O portefólio de patentes da Geox® ascendia
lacionada com o negócio da família. Isto a 646 pedidos, em 01/01/2012 (para con-
porque o clima desértico e quente desta sultar as patentes, pesquisar com Geox, em
região lhe sobreaqueceu os sapatos e os nome do requerente em espacenet).
© Yahia LOUKKAL - Fotolia

pés.
Quanto à faturação, atingiu, passados 10
Esta ideia foi posteriormente desenvolvi- anos da criação da marca, os 600 Milhões
da, até se tornar um produto viável, com a de Euros.

22 #11 Propriedade Intelectual Guia do Empresário . CTCP #11 Propriedade Intelectual Guia do Empresário . CTCP 23
Como integrar a PI nos projectos de Depois, para proceder à apropriação da são hoje em dia facilmente acessíveis,
Case study – as reviravoltas de um pro-
inovação da empresa? inovação: confirmando-se a novidade, a desde que se disponha de um computador
jeto
nova ideia merece ser aprofundada, de- com ligação à internet. Assim, as bases
Um projeto de inovação é sempre uma dicar-lhe tempo, fazer testes e protótipos de dados de PI são um importante recur-
Uma empresa pediu a um estagiário que
aventura para a empresa, porque trata-se que permitam chegar a uma invenção pa- so que serve de inspiração para qualquer
fizesse um levantamento do estado da
de um salto no desconhecido onde não há tenteável que se deposita num instituto de projecto de inovação, porque a informação
técnica publicado em patentes de um
“mapas de estradas”. patentes. Uma estratégia de apropriação a que se acede nessas bases de dados é o
novo produto que vinha desenvolvendo
pela PI deverá ser definida e aqui entra que podemos considerar a nata das infor-
há meses. Dois dias depois, o estagiá-
Ter uma ideia é relativamente simples, em jogo a panóplia de direitos: há aspetos mações estratégicas das empresas. Para
rio descobria uma patente, publicada
mas transformá-la em inovação requer que deverão manter-se sob segredo, ou- além de fonte de inspiração, são também
há três anos, que protegia uma solu-
um grande esforço. Thomas Edison, um tros que poderão ser objeto de apropria- informações preciosas para avaliar da dis-
ção praticamente idêntica! Esta notícia
dos inventores mais prolíficos da Histó- ção por um portefólio de direitos de marca ponibilidade jurídica de um direito que se
naturalmente, desestabilizou comple-
ria, com 1093 patentes, afirmou: “O génio ou design. queira obter para si, ou para avaliar a já
tamente a equipa de desenvolvimento.
consiste em 1% de inspiração e 99% de referida liberdade de operação que garan-
Que fazer? Finalmente, após algumas
transpiração”. Uma cultura de PI estabelecida na em- te a possibilidade de explorar industrial
peripécias tudo se tornou claro: afinal
presa irá permitir gerir melhor os talen- ou comercialmente um novo produto que
era apenas um pedido de patente publi-
Também, na empresa, as necessidades tos, aproveitar as ideias de todos os cola- resulte de um projeto de inovação.
cado que não resistiria ao exame porque
detetadas pelos comerciais, de clientes boradores e contribuir para a motivação,
uma patente norte-americana anterior
cada dia mais exigentes, pressionam a porque todos se sentem a participar de Bases de dados de patentes
punha em causa a novidade. Por sua
empresa a inovar respondendo a essas um esforço comum e identificados com a
vez, um contacto com o titular da pa-
necessidades. Por outro lado, as empre- trajetória de posicionamento que a empre- Portugal tem oficialmente a sua base de
tente norte-americana revelou interes-
sas concorrentes surgem por vezes com sa descreve. dados de patentes, publicada no Boletim
se por uma competência específica da
produtos que materializam ideias comple- da Propriedade industrial, acessível online
empresa e pediu-lhe se poderiam fazer
tamente novas, e daqui resulta uma outra Para isto, poderá ser útil implementar o através do site www.inpi.pt. São possíveis
um acordo de trocas de conhecimento,
fonte de pressão para inovar, que é o risco chamado “Formulário de comunicação buscas por requerente, por número de
acordo que se revelou ganhador para
da empresa se tornar obsoleta pelo apa- da inovação” (ver exemplo no anexo 1), processo e por palavras-chave em língua
ambas as partes….
recimento de concorrentes que apanham mediante o qual os trabalhadores da em- portuguesa, do resumo e epígrafe. Os re-
o mercado da empresa, por cativarem o presa dão a conhecer à gestão ideias de sultados são os dados bibliográficos dos
Adaptado de : PME, pensez Propriété Intellectuelle
mercado com novas soluções técnicas ou inovação (técnicas, comerciais, estratégi- pedidos e nalguns casos é possível aceder
um novo design, mais atraente. cas, organizacionais, etc.) e o seu estado ao conteúdo integral do documento de pa-
de avanço (para consultar diferentes tem- tente.
A PI como mina de informações gra-
A PI é útil para o empresário cultivar um plates deste tipo de formulário cf. “For-
tuitas
ambiente propício à inovação dentro da mulário de comunicação de invenção”, ou Já a base de dados da Organização Euro-
empresa, de várias maneiras. “Invention disclosure form” ou “Memo- peia de Patentes, http://ep.espacenet.com,
As empresas recorrem à PI para prote-
innovation”, disponíveis na internet). permite pesquisar documentos de patente
ger realidades que consideram muito im-
Em primeiro lugar, para verificar a liberda- de todo o mundo, em língua inglesa, e ace-
portantes. Qualquer pedido apresentado
de de operação: a implementação de uma A partir deste simples instrumento, po- der à totalidade dos documentos de paten-
numa entidade oficial de PI implica uma
nova ideia técnica não irá infringir direitos derá desenvolver-se melhor toda a es- te (Descrição, Reivindicações e Desenhos).
publicação oficial. As correspondentes
de terceiros? Uma pesquisa em bases de tratégia da empresa e cultivar o tão am-
publicações em suporte digital, gratuitas,
dados de patentes (cf. espacenet) irá con- bicionado ambiente criativo e propiciador
tribuir para responder a esta questão. da inovação que todos os empresários
desejam.

24 #11 Propriedade Intelectual Guia do Empresário . CTCP #11 Propriedade Intelectual Guia do Empresário . CTCP 25
Uma nova ideia técnica, e mesmo não téc- Também registáveis são os slogans (que Os nomes comerciais vão evoluindo e há Bases de dados de design
nica, merece ser rapidamente submetida significa “grito de guerra” em gaélico es- uma linguagem de marketing que con-
ao teste da sua novidade recorrendo a cocês) que são frases curtas e apelativas vém dominar e que as pesquisas darão a Contrariamente às marcas, em que facil-
uma pesquisa ao estado da técnica. O que que identificam uma marca ou uma orga- conhecer. Por exemplo o sufixo X tende a mente se imagina uma marca já registada
é que outros já pensaram sobre o assun- nização. assinalar um produto tecnológico (razão por terceiros, no caso do design, é difícil
to? Normalmente a boa ideia inicial tem pela qual Geox® termina em X). que um design criado seja igual a um ou-
que ser refinada. Não se inventou nada de Alguns slogans de marcas portugue- tro já registado. Também as pesquisas
excepcionalmente novo, mas os detalhes sas: O mosaico de informações sobre marcas se podem revelar difíceis porque seria
da ideia podem fazer toda a diferença. A é acessível online. Para as marcas nacio- necessário pesquisar a mesma imagem.
técnica evolui por pequenos passos e são Cerveja Super Bock - Sabor autêntico nais o INPI fornece a pesquisa por nome Todavia, também nestas bases de dados
esses pequenos contributos que são obje- Água Serra da Estrela - O que a serra tem da marca, por número do processo, por há uma classificação (de Locarno) que
to de patentes. Por outro lado, a vistoria de melhor proprietário ou por produto ou serviço. agrupa os produtos em 32 classes. Podem
dos resultados da pesquisa poderá aportar Compal - Compal é mesmo natural assim pesquisar-se por exemplo apenas
outras perspetivas de desenvolvimento. A Triunfo - O que faz, faz bem Com caráter cada vez mais importante, sapatos, ou solas ou caixas, bastando
combinação nova de coisas já conhecidas, Azeite Gallo - A cantar desde 1919 de referir que são também registáveis a para tal restringir a pesquisa à classe de
desde que proporcionem um efeito não Millennium BCP - A vida inspira-nos componente figurativa da marca: o lette- produtos pertinente.
previsível, é matéria patenteável. Worten - Worten sempre; o nosso forte é ring ou grafismo do nome, o símbolo, o ró-
o preço tulo, a aparência estética da embalagem, O INPI disponibiliza, no já referido site, a
A utilização destas bases de dados poderá o logo, a mascote. base de dados de design.
fazer-se pontualmente ou de forma mais Slogans para o calçado português:
sistemática, por exemplo, para monitori- De referir a base de dados da marca co- O Instituto de Harmonização do Mercado
zar a atividade de patenteamento de um Designed by the future munitária “ctm online”, que possibilita Interno disponibiliza no site “rcd online” a
concorrente. The sexiest industry in Europe pesquisas multi-critério no acervo de base de dados de design.
Calçado Guimarães: a diferença no andar marcas comunitárias e que vem assumin-
Bases de dados de marcas …e no gastar! do uma importância crescente. O uso destas bases de dados possibilita-
Fly London ever changing, ever developing rá, aos colaboradores que participam nos
A adoção de um nome comercial ou de um projetos de desenvolvimento, a extração
slogan é um processo importante que im- de um conjunto diversificado de informa-
plica criatividade, por um lado, e, por ou- ções: técnicas, comerciais, jurídicas, que
tro, prudência para, antes da adoção, con- irão re-alimentar o processo de desen-
firmar a disponibilidade jurídica do nome. volvimento. Servirão de base, em con-
Muitos nomes que parecem perfeitos para junto com a informação sobre aquilo que
assinalar um produto ou serviço poderão se desenvolveu, para a entrevista com o
ter sido registados antes e não estão dis- consultor de PI externo à empresa, que
poníveis juridicamente. Todavia, o direito aconselhará a pedir esta ou aquela paten-
de marca é atribuído apenas para uma, ou te, registar ou não uma marca, depositar
mais, classes de produtos ou serviços. O este ou aquele design.
mesmo nome poderá ser usado para um
produto ou serviço de uma outra classe,
das 45 classes existentes.

26 #11 Propriedade Intelectual Guia do Empresário . CTCP #11 Propriedade Intelectual Guia do Empresário . CTCP 27
Criar PI na empresa e geri-la
Estratégia e
táticas
da empresa Avaliação da
Processo
competitividade
Processo de seleção: Avaliação da Matriz
Portefólios
de inovação pedir patente, oportunidade produto /
de PI
marca, design, mercado
segredo

Obter a Processo de
tecnologia decisão acerca Extração
externamente dos modos de valor (€)
de extração
de valor

Avaliar a
Obter a
necessidade Posicionamento
tecnologia Armazenar
de nova estratégico
internamente
tecnologia

Adaptado de Davis, J. e Harrison, S., 2001, Edison in the Boardroom, Wiley, NY

Figura 10 - Sistema de Gestão da PI na empresa

Muitos empresários reconhecem o inte- É claro que Portugal é uma outra realida-
resse e importância da PI, mas não im- de, em que a PI é normalmente votada a
plementam na sua organização mecanis- algum ostracismo. No entanto, o esque-
mos de gestão que lhes permitam gerar ma não deixa de ser válido, sobretudo
continuamente nova PI e gerir racional- para aqueles que, tendo reconhecido a
mente a existente, alinhando-a perma- sua importância, porque vendem produ-
nentemente com os objectivos e estraté- tos inovadores em mercados nobres, que-
gias que se vão definindo ao longo da vida rem apostar em PI detida pela empresa e
da empresa. dela extrair valor, quer por exemplo atra-
vés de licenciamentos ou franchising quer
O esquema da Figura 10 mostra como como arma concorrencial, dissuasora da
se articula o processo de inovação com contrafação.
o sistema de gestão da PI na empresa,
de acordo com a literatura de gestão da Neste esquema os círculos identificam
© Konstantin Li - Fotolia

especialidade, procedente sobretudo da decisões e os retângulos atividades.


realidade norte-americana.
O desafio que se coloca ao empresário é
montar um esquema destes na empresa e
colocá-lo a funcionar.

#11 Propriedade Intelectual Guia do Empresário . CTCP 29


Explicação dos componentes do sistema: medida que o processo de patenteamen- Avaliação de oportunidade Avaliar a necessidade de nova inovação
to vai avançando. As ideias que são boas
Processo de inovação mas não estão particularmente alinhadas Relativamente a cada inovação, deve fa- O sistema de gestão culmina na decisão
com a estratégia da empresa deverão ser zer-se uma avaliação do seu valor antes a tomar pela empresa acerca da neces-
Todas as empresas têm um processo de mantidas sob segredo. Pertencem ao por- de se implementar um rumo de ação. Essa sidade de nova inovação, a qual poderá
inovação em funcionamento. Algumas tefólio de direitos de PI, pelo que também avaliação deverá incluir uma descrição provir de um esforço interno de inovação
terão um laboratório de I&D com uma essas deverão estar documentadas. Ou- acerca da forma como o uso da inovação ou da relação com uma entidade exterior
equipa de investigadores que desenvolve tras ideias que relevam da área do design traz valor à empresa. Sempre que possível, (por exemplo licenciamento, aquisição de
novas soluções com vista à introdução de e marcas acrescem ao portefólio de direi- esse valor deverá ser quantificado. empresa, contratação, etc.).
novos produtos no mercado. tos de PI da empresa.
Avaliação de competitividade Instaurar na empresa um clima favo-
Outras, sobretudo da área de serviços, O portefólio de ativos intelectuais rável à inovação e à criação de PI
utilizam criativos. Trata-se de avaliar a competitividade da
O portefólio de ativos intelectuais consis- Propriedade Intelectual relativamente à Para a criação interna de PI, é necessário
Muitas outras contam com os seus cola- te no conjunto de direitos de propriedade PI dos concorrentes. instaurar na empresa um clima que pro-
boradores para a produção de ideias ino- intelectual de que a firma dispõe, devendo picie a inovação. Para isso, o empresário
vadoras. considerar-se como parte integrante do Estratégia e táticas da empresa. Ma- poderá adotar uma ou mais das melhores
mesmo, outros documentos de interesse triz produto/mercado práticas seguidas nas empresas:
Qualquer que seja a fonte de inovações potencial para a empresa, tais como lis-
para a empresa, o processo que as gera tas de clientes, tabelas de preços, práti- É uma atividade que consiste em verifi- > instituir formalmente uma iniciativa de
designa-se de processo de inovação. cas de negócio e processos internos, bem car qual é a PI detida pela empresa que inovação, vinda da gestão de topo, por
como quaisquer suportes que contenham suporta a estratégia, as táticas e a matriz exemplo um slogan que aponte para a in-
Processo de selecção ideias ou inovações com potencial para produto/mercado. O resultado da ativida- venção ou inovação;
gerar lucros. de é uma decisão sobre os modos concre-
Para avaliar as ideias que surgem do pro- tos de utilização da PI detida que suporta > dedicar recursos à inovação, incluindo
cesso de inovação, as empresas dispõem Um empresário perdeu um colaborador as referidas estratégias e táticas. o recurso de tempo; alguns dos grandes
de algum mecanismo para selecionar as chave que lidava com um processo de assassinos da inovação são cargas de tra-
ideias em que vale a pena apostar. Al- fabrico e documentação importante. Processos de decisão acerca dos mo- balho desumanas e uma excessiva com-
gumas de entre elas serão selecionadas Quando interrogado sobre se o produ- dos de extração de valor petição entre departamentos;
para patenteamento. Para a proteção in- to da empresa seria copiado pelo dito
ternacional das invenções vai ser preciso empregado, agora que trabalhava na Relativamente à PI selecionada, o siste- > assegurar que os empregados não
contar com cerca de 50 000 Euros para concorrência, afirmou que não estava ma de gestão de PI deve integrar a deci- caiam na rotina, permitindo que mudem
manter a proteção válida (em 10 países preocupado porque o dito empregado são sobre como efetivamente se poderá de funções e proporcionando formação,
durante 10 anos), o que significa que só nunca tinha tido acesso ao nome do extrair, para cada PI, o valor correspon- para que sejam confrontados com novos
as ideias que se mostram particularmen- fornecedor de um componente crítico. dente. A PI poderá ser comercializada, desafios que estimulem a criatividade;
te interessantes, por se integrarem na usada para obter um posicionamento
estratégia da empresa, é que deverão O nome de um fornecedor de um com- estratégico ou guardada até que uma ino- > fomentar os grupos de trabalho que me-
ser patenteadas, uma vez que, como é ponente crítico é um dos ativos intelec- vação posterior possa tornar mais comer- lhorem o desempenho e contribuam para
evidente, os fundos para PI não são ilimi- tuais da empresa que deve ser acres- cializável uma PI anterior. a auto-estima e o sentido de responsabi-
tados. Note-se que a mencionada verba centado ao portefólio e visto como um lidade;
não é paga à cabeça mas vai ocorrendo à ativo intelectual pelo empresário.

30 #11 Propriedade Intelectual Guia do Empresário . CTCP #11 Propriedade Intelectual Guia do Empresário . CTCP 31
> melhorar a comunicação, dando a co- > um prémio monetário ou uma placa por Normalmente os inventores e criativos Querendo posicionar-se no mercado tec-
nhecer casos de sucesso de inovação ocasião da concessão da patente. inventam e inovam por uma motivação nológico, mesmo que seja de sapatos, a
através de boletins oficiosos, comunica- intrínseca que os leva a encontrar satisfa- empresa deve estabelecer um conjunto
dos, notas de imprensa, etc.; Algumas empresas oferecem também ção na resolução de problemas concretos de direitos que possam servir como mo-
um incentivo extra, em função do uso que e práticos. Ou seja, a política de incenti- edas de troca junto de outras empresas
> incluir a inovação como um dos items a empresa faz da nova tecnologia. vos tem um papel pouco importante na que exploram os mesmos mercados.
a avaliar na empresa, o que abrange apti- atividade inventiva enquanto tal, porque
dões como liderança, competência técni- Os incentivos não monetários são uma nasce sobretudo de uma auto-motivação Uma empresa pensa duas vezes antes de
ca; relações com os outros, criatividade; boa alternativa, seguida por algumas em- que provém do interior da pessoa quando processar outra que tenha uma patente
estes atributos devem ser avaliados em presas, que frequentemente combinam confrontada com o desafio. O incentivo que interfira com a sua atividade. Além
todos os empregados especialmente jun- ambos os tipos de incentivos. joga um papel mais importante à hora disso, através do mecanismo das licenças
to daqueles que gerem equipas de I&D; de pôr por escrito a invenção. Frequente- cruzadas, é possível fazer acordos para
mente esta parte da criação de PI é vis- partilha de tecnologia. Uma tecnologia
> apoiar os empreendedores internos, i.e Incentivos não monetários: ta como uma carga administrativa pelos protegida por uma empresa, pode ser li-
os empregados que se mostram críticos, inventores/criativos, desempenhando o cenciada a uma outra empresa que detém
cujas ideias poderão ter mérito; > almoços ou jantares para celebrar a incentivo uma forma de compensação por uma tecnologia interessante para a pri-
inovação esse esforço. meira empresa. Este mecanismo permite
> estabelecer um programa de reconhe- > oferta de cartão presente estar sempre a incorporar inovações nos
cimento e recompensa da inovação: os > placas, distintivos ou outras recom- Outro aspeto importante é a questão da produtos, independentemente de terem
empregados respondem a recompensas pensas qualidade das patentes ou outras criações sido criadas dentro da empresa. Recorde-
monetárias e não monetárias. > menção honrosa no boletim informa- intelectuais, para não se fomentar uma -se que os mercados são muito dinâmicos
tivo da empresa “corrida às patentes”, artificial e desgarra- e podem surgir inovações de caráter dis-
Recompensar o mérito inovador > mais tempo livre da dos objetivos da empresa. O foco aqui ruptivo ou com o potencial de estabelecer
> formação gratuita deverá ser posto na qualidade das inova- um novo padrão. Para não ser secundari-
Numerosas empresas de países avança- > nomeação para o conselho de inova- ções e no valor que aportam à empresa. zada ou mesmo excluída, por não poder
dos tecnologicamente oferecem prémios ção da empresa Também deve evitar-se que se torne ad- incorporar essa tecnologia no produto,
monetários aos inventores, cientistas, en- > visitas de estudo de inovação quirido, por parte dos colaboradores, um em virtude de haver patentes da concor-
genheiros para os incentivar a comunica- estatuto que deve ser atualizado. Certas rência que protegem essa inovação, a em-
rem à empresa possíveis descobertas ou Incentivos monetários: empresas estabelecem programas de in- presa tem todo o interesse em deter tam-
invenções que possam ser patenteadas. centivo anuais para poderem articular o bém patentes que protegem inovações
Tipicamente são estabelecidos os seguin- > subida de salário (pagamento mais programa de incentivos com os objetivos apetecíveis por outras empresas e desta
tes tipos de prémios: elevado para inventores bem sucedidos) da empresa. Por exemplo, podem esta- forma, chegar a um acordo para que am-
> prémios monetários belecer como desafio, inovar numa certa bas as empresas ganhem na adoção das
> um prémio monetário para cada revela- > promoções área específica e dizer aos empregados: tecnologias protegidas.
ção de invenção (que poderá ser de 25 a > pagar dividentos “este ano gostaríamos de ver mais comu-
100 €); > partilha de resultados nicações de invenção na área da imperme-
abilização de sapatos”, e no ano seguinte
> se invenção for eleita para patente- mudar para outro objetivo.
amento, outro prémio monetário (por
exemplo 500 a 1500€) por altura da sub-
missão de patente;

32 #11 Propriedade Intelectual Guia do Empresário . CTCP #11 Propriedade Intelectual Guia do Empresário . CTCP 33
© viappy - Fotolia
Poder-se-ia pensar que o calçado é um se-
tor tradicional em que este tipo de conside-
rações não é relevante. Todavia, recorde-
-se que nenhum mercado, nem mesmo os
mercados específicos de produtos tradi-
cionais, é insensível às inovações e melho-
rias técnicas que todos os dias aparecem.
A afirmação da qualidade pela empresa
faz-se pacientemente, ao longo de anos
de atividade, com melhorias qualitativas
no processo de fabrico e, aqui, muitas in-
formações críticas serão segredos comer-
ciais e industriais, e será essa a melhor
maneira de as proteger. Mas é importan-
te assinalar que essa afirmação também
se faz pela proteção de características
que acrescentam utilidade aos produtos,
tornando-as proprietárias e atribuíveis à
empresa. Não deixa de ser surpreendente
constatar que a já referida GEOX®, marca
de calçado que goza de uma imagem no
mercado de conforto e inovação, a nível
mundial, detém atualmente um portefólio
de mais de 600 patentes espalhadas por
vários países, de acordo com pesquisa na
base de dados da Organização Europeia de
Patentes (espacenet).

34 #11 Propriedade Intelectual Guia do Empresário . CTCP


Melhores práticas de gestão da PI
Em seguida descreve-se um conjunto de tais como as medidas de garantia da con-
melhores práticas ou recomendações, fidencialidade na empresa e acordos de
selecionadas de entre um conjunto de não revelação com terceiras partes;
melhores práticas propostas por Davis e
Harrisson (2001), para as empresas que > acordos de confidencialidade (NDA ou
estão a iniciar-se na gestão da PI. “Non Disclosure Agreements”) com o
pessoal de I&D;
Melhor prática 1: Fazer um balanço
daquilo que se tem > documentos relativos a contratação ou
despedimento de tecnólogos ou pessoal
Depois de se dar conta da importância que lida com informação sensível;
de deter um portefólio de direitos de PI
(DPI), a empresa empenha-se na obten- > contratos de licença (em que a empre-
ção de um leque o mais vasto possível de sa é licenciadora ou licenciada) incluindo
patentes, marcas, segredos documenta- informação crítica como os nomes das
dos, design, licenciamentos, etc., até que partes, datas de expiração do contrato,
chega a um ponto em que se torna impor- direitos concedidos e todas as restrições
tante fazer um balanço para se perceber pertinentes como o território e a transfe-
exatamente aquilo que se tem. O exercí- ribilidade;
cio é relativamente simples quando ape-
nas se tem um número reduzido de pa- > qualquer documentação relacionada com
tentes ou outros DPI, mas pode tornar-se Know-how proprietário, como por exemplo
extremamente complexo à medida que o uma descrição e a identificação de onde se
portefólio aumenta. localiza bem como a pessoa ou pessoas
que são detentoras desse Know-how;
É recomendável fazer-se então uma audi-
toria que conduza a uma lista de intangí- > acordos de não competição e não reve-
veis que identifique: lação com terceiras partes;

> todas as invenções que não foram ainda > acordos de joint venture ou quaisquer
objeto de patentes mas podem vir a sê-lo parcerias que envolvam a partilha de pro-
e a sua documentação de suporte – ori- priedade intelectual;
gem, data da conceção, data de redução à
prática, inventores, etc. > os direitos de Propriedade Industrial
da empresa: patentes, marcas e design,
> todo o software desenvolvido pela em- incluindo estado jurídico (em fase de pe-
presa; dido, em pleno vigor, etc.);

> todos os segredos que trazem uma van- O primeiro passo para uma gestão da PI
tagem económica para a empresa; é obter uma noção precisa daquilo que se
tem.
> documentos que refletem ou identifi-
© Les Cunliffe - Fotolia

cam a política da empresa relativa à cria- A partir daqui, torna-se mais claro identi-
ção, manutenção e proteção de segredos, ficar prioridades.

#11 Propriedade Intelectual Guia do Empresário . CTCP 37


Melhor prática 2: Obter PI e garantir a Uma boa forma de perceber como é que a Se, por exemplo, se desejar recorrer ao de ações ofensivas vindas de terceiros
liberdade de criação de PI empresa lida com a PI é fazer um check-up franchising para expandir o negócio, os di- que é conveniente garantir a liberdade
ao produto, pouco antes do seu lançamento reitos de PI assumem uma grande impor- de operação e de criação, colecionando
Independentemente de se ter identifi- que responda às perguntas: tância porque são estes direitos que estão um portefólio de direitos, uns que prote-
cado apenas alguma PI na empresa ou na base do controlo da operação. Assim, gem o core business da empresa e outros
já muita PI, é sempre bom encorajar a > quais são as invenções que têm que ver os franchisados venderão produtos ou trocáveis. A proteção do core business
criação ou aquisição de mais patentes ou com o produto; serviços que do ponto de vista jurídico es- pode conseguir-se através, por um lado
outros DPI. > quais as publicações; tarão protegidos por marcas e outros DPI de, patentes concedidas a reivindicações
> quais os segredos; e é com base nestes direitos que o licen- abrangentes e, por outro lado uma plura-
O caldo de cultura da inovação protegida é > quais os designs. ciador ou master franchise exerce o con- lidade de patentes num domínio técnico
documentação: documentação de suporte trolo sobre a sua rede de franchisados. específico.
da invenção ou do design, documentação A empresa pode querer aceder a inven-
de suporte do segredo e documentação ções de outras empresas, sobretudo Outra hipótese que pode ser colocada Reivindicações abrangentes
que se publica e que visa assegurar que quando se trata de tecnologias ou con- sobre a mesa da estratégia é pedir a uma
outros não se assenhoram da inovação, ceitos protegidos (extensivo a marcas, outra empresa autorização para incorpo- Uma atenção particular deve ser con-
pedindo eles a patente ou o desenho. design) de caráter disruptivo, nas mãos rar no produto da empresa uma patente cedida ao patenteamento criando com-
de pequenas empresas que se movem interessante, oferecendo em troca, a par- petências internas à empresa e tendo a
O motor gerador de inovação da empresa rapidamente e que muito provavelmen- tilha de um DPI que se possui, normal- capacidade de apreciar criticamente uma
é pois o inventor/criador que documenta te vão acabar por invadir uma área pro- mente outra patente ou design apreciado patente. Não basta uma patente qual-
a sua invenção ou criação, depois de ter tegida ou ter interesse num Know-how pelo mercado. quer, é preciso uma que proteja um certo
percebido o que é uma invenção e as suas específico detido pela empresa. Neste conceito inventivo, de preferência muito
implicações. É importante que a cultura caso é necessário ter material que possa A empresa pode vir a ser ameaçada de abrangente, para que cubra uma série de
da empresa tenha assimilado a diferença ser negociado com vista à negociação de contrafação ou violação de DPI por uma implementações.
entre uma invenção e um design. Sempre licenças cruzadas. Esse material consis- empresa concorrente. Normalmente tudo
que um novo design comporte acréscimo te em direitos de Propriedade Industrial começa com uma carta de “cease and de- Pluralidade de patentes num domínio téc-
de utilidade, (que pode ser por exemplo (patentes, marcas, design). Desta forma sist” que visa parar rapidamente a ativida- nico específico
uma melhoria funcional, o ser mais prá- é possível evitar casos em Tribunal que de contrafatora. No caso de se manter a
tico, mais ergonómico, mais económico), representam um custo por vezes excessi- acusação, a ação da empresa concorrente Trata-se de “amuralhar” um certo campo
entra-se no domínio da invenção. A partir vamente elevado para a empresa. poderá evoluir para queixa junto das au- de especialização técnica. Enquanto que
daqui a ponderação sobre se se deve ou toridades económicas ou alfandegárias e uma patente poderá ser facilmente neu-
não patentear deve ter lugar, porque uma O co-branding, que consiste numa parce- finalmente os tribunais. O desfecho des- tralizada por um produto que habilmente
patente é uma arma concorrencial muito ria em que se jogam duas ou mais marcas, tas diligências poderá ser mais ou menos contorne os limites da proteção, já se tor-
forte. Se a empresa domina esta verten- é também uma oportunidade de expansão rápido em função da jurisdição em que os na mais difícil contornar várias patentes
te, isto é, o dar importância à PI gerada do negócio tirando partido da força de fatos ocorrem. Uma ação que conduz a re- que protegem diferentes aspetos técnicos
sabendo ver e documentar o valor das mercado proporcionada pelas marcas. sultados rápidos consiste no recurso a in- específicos relacionados com a área téc-
próprias invenções/criações e a melhor junções ou providências cautelares. Isto nica de especialização em que a empresa
forma de as proteger, destaca-se dos Os licenciamentos com base em direitos pode muito bem acontecer a uma empre- desenvolve soluções. Para além disto, se
concorrentes. de patente, marca e design, podem ter sa que inadvertidamente violou um direito uma for atacada pelos concorrentes e for
uma configuração o mais diversa possível. num dado mercado. Neste contexto, uma anulada, a existência de várias tornará
defesa possível consiste em propor, atra- mais cara a ofensiva a ponto de a poder in-
vés do mecanismo das licenças cruzadas, viabilizar e desta forma, permanecerão de
uma partilha de DPI. É também porque a pé direitos de PI que protegem o produto.
empresa é suscetível de sofrer este tipo

38 #11 Propriedade Intelectual Guia do Empresário . CTCP #11 Propriedade Intelectual Guia do Empresário . CTCP 39
Publicação defensiva Para garantir que não viola algum direito ser considerado pelo Juiz como uma cir-
Pensando em desenvolver num certo
em vigor, será necessário, antes do lança- cunstância atenuante, ditando uma sen-
mercado uma rede de franchisados e
A estas duas formas de garantir a liberda- mento de algum novo produto, verificar se tença menos desfavorável à empresa.
à hora de preparação do contrato, uma
de de criação e de operação, deve acres- este não conflitua com as patentes, mar-
certa empresa constatou que alguns
centar-se uma terceira que consiste na cas, design que abrangem o mercado em Há muitas vezes a tendência, sobretu-
dos designs e patentes com que tencio-
publicação defensiva. Esta prática consis- questão. É um exercício denominado de do em produtos em que o fator moda é
nava vincular os franchisados tinham
te em tornar públicas todas as matérias “product clearance” na literatura de ne- o principal condicionador das soluções
caducado o que levou a uma comple-
que não são objeto de segredo, nem são gócios. Na prática, trata-se de investigar, técnicas e de design do produto, para
ta reformulação do negócio para esse
objeto de patente mas que podem ter va- com base na informação contida em bases cortar caminho e não integrar quaisquer
país.
lor. Esta prática destina-se a impedir que de dados de direitos de PI, se a comercia- considerações sobre PI no desenvolvi-
terceiros se apropriem dessas inovações, lização de um dado produto, olhado sob mento do produto, agravada pela ideia
O fato de direitos de terceiros poderem
pedindo patentes que possam vir a per- diferentes perspetivas, comporta algum disseminada de que a intervenção dos
caducar, pode gerar oportunidades de ne-
turbar a atividade da empresa. risco de infração de direitos de terceiros. consultores externos em PI da empresa,
gócio e não seria a primeira vez que uma
Tendo em conta o valor das já referidas atrasam o processo de desenvolvimento.
empresa explora lucrativamente tecno-
Segredo indemnizações, particularmente eleva- Esta tendência poderá vir a revelar-se
logia patenteada de um concorrente que
das nos mercados nobres, a empresa terá fatal no longo prazo da empresa, porque
caducou num certo mercado.
As invenções são como as cebolas: uma todo o interesse em garantir, antes da co- se desperdiçam oportunidades de ouro de
sucessão de camadas de informação. Sa- mercialização, que o produto se apresen- afirmação no mercado pela PI uma vez
Melhor prática 4: Respeitar a PI de ter-
bendo isto, o empresário astuto saberá ta como isento de risco de violação de PI. que a empresa não é capaz de diferenciar
ceiros
diferenciar a informação suficiente para a Apesar de todas as diligências feitas pela aquilo que merece ser protegido por pa-
patente e aquilo que pode e deve ser man- empresa, não é possível afirmar com uma tente, por design ou por segredo. Assim,
A empresa que quer ser reconhecida
tido em segredo, reforçando desta forma certeza absoluta que esse risco é nulo, pode desperdiçar-se a oportunidade de
no mercado pela qualidade, inovação e
a proteção. porque há sempre aspetos que podem proteger por patente uma certa invenção
distintividade dos seus produtos abster-
ser desconsiderados na avaliação ex-ante importante, apenas porque não há o me-
-se-á de copiar ou contrafazer produtos
Melhor prática 3: Manter os DPI da em- e que se manifestam ex-post-facto. Em canismo de triagem da PI. Uma invenção
dos seus concorrentes. Não só porque tal
presa em vigor e não permitir que os todo o caso, a minimização desse risco é tornada pública é insuscetível de prote-
prática lhe acarretaria uma má reputação
melhores caduquem um imperativo em certos mercados em ção por patente.
como, e sobretudo, porque pode ser-lhe
que as indemnizações alcançam somas
movida uma ação em Tribunal por crime
A empresa deverá ter o cuidado de man- de milhões de Euros. Para além dos aspetos relacionados com
de violação de Propriedade Industrial,
ter em vigor os diferentes direitos de PI, o respeito da PI verificando que o merca-
fazendo-a incorrer no pagamento de in-
pagando as taxas de manutenção em vi- A já referida documentação da invenção do está livre, é conveniente que a empre-
demnizações que poderão alcançar mon-
gor que são devidas periodicamente. Re- ou do design, que prova a autoria inte- sa zele pela documentação que se refere
tantes perfeitamente proibitivos. Alguns
gra geral as patentes e o design vencem lectual das invenções ou das criações da a tópicos sensíveis da atividade de rela-
países levam muito a sério a disciplina
anuidades. Já no caso das marcas as ta- empresa, será útil num contexto de litígio cionamento com outras empresas, com
da concorrência e dispõem de leis que re-
xas devem ser pagas de 10 em 10 anos. para provar a não intencionalidade do ato fornecedores, com inventores, criativos
primem estes fenómenos de forma muito
de infração no Tribunal. Não sendo des- ou designers, e, de um modo geral, todos
eficaz, por exemplo as chamadas indem-
Torna-se pois necessário instituir um me- culpa para a não observância dos direitos, os que têm acesso a PI da empresa.
nizações punitivas, de um valor que pode
canismo que garanta a observância dos a prova de desenvolvimento próprio pode
triplicar os prejuízos e que alguns países
prazos de pagamento e a sua efetivação. preveem nas suas legislações.
Nada pior do que constatar que um ou
mais direitos caducaram inadvertidamen-
te num certo país ou países em que a em-
presa tem uma operação importante.

40 #11 Propriedade Intelectual Guia do Empresário . CTCP #11 Propriedade Intelectual Guia do Empresário . CTCP 41
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Melhor prática 5: Construir uma repu-
tação de fazer respeitar a própria PI

Para que o esforço financeiro e de mobi-


lização de recursos com PI faça algum
sentido, é necessário que o portefólio de
direitos obtidos seja respeitado.

Este respeito não é um efeito automático


derivado do simples registo. Exige uma
postura realmente vigilante e ativa por
parte da empresa, a qual tem que estar
preparada para o caso de ter que ir a Tri-
bunal com algum concorrente que tenha
violado a própria PI.

Isto não significa que qualquer patente


ou outro título que seja violado tenha que
ter uma correspondente ação judicial por
parte da empresa.

É necessário obter uma ideia dos custos


da ação judicial e compará-los com os
benefícios que se podem obter. Mas deve
também acrescentar-se à ponderação a
reputação que daí resulta.

As empresas não devem querer ser co-


nhecidas como tendo medo ou sendo ad-
versas a todo o tipo de litigação porque
o resultado dessa reputação será um
completo desrespeito por toda a PI da
empresa.

42 #11 Propriedade Intelectual Guia do Empresário . CTCP


Dar atenção à PI em alguns pontos
sensíveis Em seguida passam-se em revista alguns
pontos particularmente delicados da vida
Daí o interesse em instituir o mecanismo
de comunicação da invenção, bem como
das empresas em que interferem ques- adotar um ou mais dos sistemas de reco-
tões de PI, de tal forma que o empresário nhecimento de inventores/criadores/ino-
esteja alerta e introduza práticas que per- vadores como os já propostos no capítulo
mitam não desperdiçar e, pelo contrário, “PI e estratégia da empresa”.
potenciar a competitividade da empresa
pela via da PI. Mas, para além do mundo das invenções,
há também Know-how que pode ser re-
Identificar o Know-how com valor duzido a escrito e constar do acervo de
documentação confidencial ou secreta.
O Know-how consiste no conjunto de O Know-how da empresa poderá ser um
competências detidas e exercidas por to- universo vastíssimo e nem tudo deverá
dos os colaboradores da empresa e que ser reduzido a escrito. Neste contexto
permitem à empresa extrair valor do mer- poderá ser útil colocar-se as seguintes
cado pelo exercício da sua atividade. questões:

Uma parte deste conhecimento pertence > qual é o Know-how da empresa que os
ao conhecimento geral comum, porque concorrentes/clientes/fornecedores da
está acessível ao público através de dife- empresa gostariam de copiar?
rentes meios de publicação: livros, inter-
net, revistas da especialidade. > este Know-how está facilmente acessí-
vel? É do domínio público?
Outra parte do Know-how são conheci-
mentos adquiridos no exercício da pro- > qual seria a perda para a empresa se
fissão, quer por transmissão de um outro este Know-how se perdesse por comuni-
colega de trabalho, quer pelo desenvol- cação ao exterior?
vimento de competências próprias. Esta
parte do Know-how é normalmente de A resposta a estas questões conduz a
natureza sigilosa e reside nas próprias uma ideia mais precisa acerca de quais
pessoas que a integram. os domínios críticos de conhecimento de
valor em relação aos quais a empresa
No processo de desenvolvimento de com- deve estar atenta para preservar a sua
petências próprias, as pessoas adquirem proteção.
um conhecimento específico, de natureza
inventiva ou não. Este conhecimento ou Independentemente da forma de prote-
Know-how pode ter um maior ou menor ção escolhida pela empresa, para que o
valor para a empresa. Know-how esteja juridicamente protegi-
do, deverá ser reduzido a escrito, datado
A empresa tem todo o interesse em for- de forma a poder provar-se a data em Tri-
malizar o Know-how para que ele fique bunal (por exemplo por autenticação no-
residente na empresa e não simplesmen- tarial) e tornado não acessível ao público
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te com o colaborador. ou secreto.

#11 Propriedade Intelectual Guia do Empresário . CTCP 45


Como forma de complementar a prote- Durante a vigência do contrato de traba- Depois de deixar a empresa o trabalhador Aplicam-se a criações do espírito como
ção da confidencialidade, os contratos de lho, o trabalhador está assim legalmente pode reutilizar: obras literárias, fotografias, desenhos,
trabalho, os NDA (acordos de não revela- obrigado a guardar sigilo das informações esculturas, vídeos, filmes, músicas, pro-
ção), os contratos de cooperação e com- confidenciais a que tenha acesso durante > tudo o que tinha direito de usar antes de gramas de computador, programas de
pras, poderão ter cláusulas específicas a prestação da sua atividade. chegar à empresa; TV… Nalgumas profissões é um tema par-
relativas a confidencialidade. ticularmente sensível (jornalistas, fotó-
Para que este dever de confidencialidade > tudo o que pertence ao domínio público; grafos, designers, agências de comunica-
PI em contratações seja recordado, os empregadores tendem ção, criadores de websites, etc.). Daí um
atualmente a incluir cláusulas de confi- > os elementos de Know-how da empresa especial cuidado sempre que a atividade
Por virtude da evolução económica e da dencialidade nos contratos de trabalho. somente nos casos em que adquire esse da empresa se oriente para o desenvolvi-
natureza do trabalho que as empresas re- Desta forma visam proteger a empresa de direito. mento ou contratação de produtos ou ser-
alizam, cada vez mais apoiado no conhe- fugas de informação durante a vigência viços que utilizem este tipo de intangíveis
cimento, pode ser aconselhável prever no do contrato dos trabalhadores e também Dentro da mesma linha, algumas empre-
contrato de trabalho cláusulas que refor- após a cessação do contrato. sas produzem um pequeno guia da con- Os direitos sobre uma obra seja ela soft-
cem o dever de confidencialidade. fidencialidade que fornecem aos novos ware ou qualquer outra criação dividem-
Estas cláusulas assumem forma escrita e contratados. -se em Direitos Morais e Direitos Patrimo-
Manter a confidencialidade da informa- podem constar da minuta inicial do con- niais:
ção é uma forma de proteger o valor da trato de trabalho ou de um aditamento, Direitos dos inventores assalariados
empresa e impedir que a empresa perca acordado pelas partes, em face da alte- Direitos Morais sobre uma criação:
controlo sobre o conhecimento de valor, ração das funções desempenhadas pelo Os inventores assalariados têm certos di-
especialmente das informações secretas, trabalhador na empresa. reitos e deveres: > Reivindicar autoria - O direito de ser ci-
nomeadamente (i) informações de ca- tado, de assinar a obra.
rácter técnico ou industrial respeitantes Por regra, assumem uma natureza me- > o dever de respeitar a confidencialida-
a procedimentos de fabrico, software, ramente declarativa, limitando-se a re- de das criações técnicas potencialmente > Conservar obra inédita - Cabe ao autor a
desenhos industriais ou Know-how es- cordar ao trabalhador a sujeição ao dever patenteáveis; escolha de publicar ou não sua obra.
pecífico da empresa; (ii) informações co- legal de confidencialidade, mas podem
merciais, incluindo listas confidenciais de igualmente sujeitar o trabalhador ao de- > o dever de informar o seu empregador > Defender a integridade da obra e opor-se
clientes e fornecedores ou estruturas de ver de confidencialidade no período pós- das soluções eventualmente patenteá- a modificações que denigram sua honra.
preços e (iii) informações organizativas e -contratual. veis que concebeu;
financeiras da empresa constantes de re- > Modificar - alterar a sua obra a qualquer
latórios sociais e económicos, contratos, Ao elaborar a cláusula, o empregador > o direito de ser mencionado como inven- momento.
planos de atividade ou projetos. deve ter a preocupação de delimitar com tor na patente;
precisão quais as informações abrangidas > Retirar de circulação - assim como é o
O dever de confidencialidade está legal- pelo dever de sigilo bem como a forma de > o direito a ser remunerado de acordo autor que escolhe quando a obra é publi-
mente previsto na legislação laboral por- acesso à informação pelo trabalhador. com a importância da invenção e com as cada, também lhe cabe escolher quando
tuguesa, no âmbito do dever de lealdade Para além disto, deve ter-se em conta, na regras que existem sobre matéria na em- retirar de circulação.
(alínea f) do número 1 do artigo 128.º do redação das cláusulas de confidencialida- presa.
Código do Trabalho) e enquadra-se igual- de pós-contratual, que são nulas, por via > Ter acesso a exemplar único de obra
mente no âmbito do princípio da boa fé, de regra, as cláusulas do contrato que, Direitos de autor rara - um escultor, por exemplo, por mais
consagrado no artigo 126.º do Código do por qualquer forma, possam prejudicar o valiosa que seja sua obra, tem direito de
Trabalho e, em termos gerais, no número exercício da liberdade de trabalho, após a Os direitos de autor não são aplicáveis às ter acesso à obra, esteja ela onde estiver.
2 do artigo 762.º do Código Civil. cessação da relação juslaboral. invenções.

46 #11 Propriedade Intelectual Guia do Empresário . CTCP #11 Propriedade Intelectual Guia do Empresário . CTCP 47
Direitos patrimoniais tratos de trabalho. O empregador pode ter Como encontrar o Laboratório mais ade- pagamento inicial, no caso de se tratar de
interesse em introduzir cláusulas seme- quado? uma licença exclusiva.
> Direito de Reprodução lhantes nos contratos celebrados com os
> Direito de Comercialização clientes, os fornecedores ou os prestado- O caminho natural para o empresário do Contrato de colaboração
> Direito de Locação res de serviços, uma vez que também es- calçado é dirigir-se ao CTCP e colocar a
> Direito de Autorização de Modificações tes podem ter acesso a informações im- questão, sendo encaminhado a partir daí. Este é o modo mais frequente de valoriza-
> Direito de Utilizar a obra por qualquer portantes e confidenciais, as quais, uma Mas, como é evidente, nada obsta a que a ção. A ideia aqui é combinar a experiência
meio vez divulgadas, podem conduzir à prática empresa escolha o laboratório pelos seus industrial de uma empresa e os conhe-
de atos concorrenciais desleais e ao des- próprios meios, pelos contactos que de- cimentos científicos de um laboratório.
Os direitos patrimoniais não são do autor perdício de oportunidades de obtenção senvolve e as pesquisas que efetua. A colaboração estabelece-se com base
obrigatoriamente, normalmente perten- de direitos de propriedade industrial, de- num programa comum de investigação
cem à empresa que paga pelos serviços signadamente patentes. Nestes casos, o Tipos de cooperação para adaptar uma técnica ou um Know-
de desenvolvimento do autor. empregador deve ter uma preocupação -how aos constrangimentos industriais;
acrescida em introduzir cláusulas de con- Existem muitas formas de cooperar com melhorar uma técnica ou um produto de
Os direitos morais são intransferíveis, ine- fidencialidade, claras e bem delimitadas, um laboratório, um instituto de investiga- forma a torná-lo mais eficaz ou eficiente
gociáveis e irrenunciáveis. nos respetivos contratos. ção ou uma Universidade. A colaboração de forma a poder fazer-se uma futura ex-
pode incidir sobre a aquisição duma tec- ploração; desenvolver em parceria uma li-
Já os direitos patrimoniais são negociá- Relacionar-se com parceiros nologia já desenvolvida pelo laboratório, nha tecnológica a partir de uma pesquisa
veis, transferíveis e renunciáveis, sendo o um pedido de estudo para validar e otimi- fundamental.
conjunto desses direitos o que garante a Laboratórios de investigação e Universi- zar uma inovação iniciada pela empresa
rentabilidade, por exemplo, de um produ- dades ou uma colaboração mais perene sob a O programa de trabalho fixa o cronogra-
to de sofware no mercado. forma de acordo de parceria com um la- ma, a repartição de tarefas e os meca-
A cooperação com um laboratório de um boratório. Estes modos de colaboração nismos de revisão do projeto. O contrato
Embora o software enquanto tal não pos- centro tecnológico, de um instituto de in- implicam diferentes tipos de contrato. deve conter provisões relativas a:
sa ser patenteado, podem proteger-se vestigação ou de uma Universidade per-
por patente as invenções implementadas mite à empresa aceder a competências Contrato de licenciamento > direitos e deveres dos investigadores
por computador. Neste caso, pode dese- científicas e meios de laboratório de que em matéria de publicação;
nhar-se uma estratégia de proteção que não pode dispor. Trata-se da situação em que a Universi-
transcenda a proteção por direito de autor dade ou o instituto de investigação detém > a propriedade e os direitos de explora-
apoiando-a também em patente(s). Nalguns caso pode ainda aceder a tecno- uma ou mais patentes, os direitos sobre ção dos resultados;
logias próprias criadas nesses centros. um ou mais programas de computador
A vantagem desta estratégia é obter um ou, mais raramente, uma marca, que a > o financiamento dos trabalhos: o labo-
âmbito de proteção maior e preparar a Para os laboratórios e centros de inves- empresa deseja explorar industrialmen- ratório assume normalmente os custos de
empresa para negociações com concor- tigação esta cooperação representa a te. A licença pode ser acompanhada de estrutura e a empresa o custo adicional;
rentes detentores de portefólio de paten- oportunidade de complementar receitas uma transferência de Know-how ou de
tes para poder aceder ao mecanismo das provenientes de fundos públicos e, além uma assistência técnica para implemen- > as modalidades de remuneração equi-
licenças cruzadas. disso, permite-lhes o confronto com pro- tar a tecnologia. A empresa ganha porque tativa no caso de exploração e que deve
blemas concretos que fazem progredir o adota uma tecnologia sem violar direitos tomar em consideração a importância
Proteção da PI da empresa na contra- conhecimento e a ciência. de PI e acede também a competências do financiamento que cada parte realiza
tação com clientes, fornecedores ou para continuar a desenvolver a inovação. bem como outras fontes (designadamen-
prestadores de serviços Todavia, este diálogo, que teoricamente A licença pode ser exclusiva, ou não, e dá te financiamentos do Estado e Europeus).
parece fácil, na prática revela-se, em mui- lugar ao pagamento de royalties e de um
Note-se ainda que as cláusulas de confi- tos casos, um caminho algo conturbado.
dencialidade não são exclusivas dos con-

48 #11 Propriedade Intelectual Guia do Empresário . CTCP #11 Propriedade Intelectual Guia do Empresário . CTCP 49
Contrato de prestação de serviços em conta que a exposição de resultados, > antes de assinar o acordo, verificar se a De realçar que um aspeto importante do
sem revelar os detalhes acerca das op- empresa pode fundamentar as alegações contrato refere-se às regras sobre a PI,
Trata-se de uma relação que permite à ções técnicas, não são atos de divulgação de conhecimento proprietário (cadernos que devem ser definidas à partida. Em
empresa aceder aos meios técnicos e que possam comprometer a patenteabili- de laboratório, pedido provisório de paten- particular, de quem é a PI que resultar do
experimentais de um laboratório como dade de uma invenção. te) não divulgado; projeto de cooperação.
testes, análises, medidas, ensaios, in-
terpretação de resultados, preparação No entanto podem ser desde logo toma- > organizar e aplicar as medidas de resti- Criar uma marca eficaz
ocasional de produtos, estudos bibliográ- das medidas para proteger aspetos com tuição ou de destruição das informações
ficos, etc. O laboratório não contribui com implicações na PI da empresa: confidenciais no fim do acordo, se o projeto A escolha da marca que os produtos os-
nenhuma atividade inventiva. A relação da não tiver tido seguimento. tentam é um aspeto a dar importância para
empresa com o laboratório é uma relação > ter um ou mais cadernos de laboratório; que a diferenciação da empresa se faça da
cliente – fornecedor. O Memorando de entendimento (MOU - melhor maneira.
> ter datados os documentos com descri- “Memory of Understanding”)
A empresa deve assegurar a cobertura ções do(s) projeto(s); Há no mercado fornecedores de serviços
financeira da totalidade da operação in- Um projeto de cooperação é normalmente de relações públicas da empresa, de pu-
cluindo os custos indiretos. > depositar um ou mais pedidos provisó- iniciado pela assinatura de um protocolo blicidade e marketing que podem dar uma
rios de patente; de acordo (MOU) que fixa o quadro geral ajuda.
Contrato de consultoria da cooperação, estabelece quais as obri-
> assinalar com a menção “Confidencial” gações de cada parte incluindo a obrigação O empresário deverá ter algum sentido crí-
Trata-se de uma prestação intelectual de quaisquer suportes de comunicação com de confidencialidade. Este documento per- tico para fazer as melhores escolhas den-
tipo consultoria (análise pericial, diagnós- o parceiro bem como a sua origem. mite avançar de forma mais confiante para tro das opções que lhe são apresentadas.
tico, vigilância tecnológica, etc.) efetuada uma fase que implica troca de informações Podem identificar-se algumas regras a que
a título pessoal por um investigador que O acordo de confidencialidade confidenciais. devem obedecer os bons sinais distintivos:
não utiliza os meios do laboratório. O in-
vestigador pode, por exemplo, fazer parte O chamado acordo de não revelação (NDA A etapa final do começo de um projeto de > Escolher ou criar um nome fácil de fixar
de um conselho científico da empresa e - “Non Disclosure Agreement”) consiste cooperação consiste em elaborar o con- e pronunciar
aconselhar os dirigentes da empresa so- num acordo que visa garantir a confiden- trato de colaboração que tem por base o
bre as opções tecnológicas. cialidade das informações trocadas com MOU. > O nome selecionado deve ser adequado
outra empresa. Trata-se de uma prática ao que se quer vender
Relacionamento com outras empresas empresarial cada vez mais frequente e O contrato
normal em contexto de cooperação e não > Adotar um nome que possa ser bem re-
O relacionamento com outras empresas pode ser vista como um sinal de descon- Frequentemente os contratos são vistos cebido pelo público-alvo
pode conduzir a parcerias que têm por fiança. como um constrangimento e não como
objetivo cooperar, tecnicamente, comer- uma ajuda. Há muitas vezes a ideia, so- > Não escolher um nome genérico
cialmente ou industrialmente. Que coisas devem constar num acordo bretudo junto das pessoas ligadas à I&D
deste tipo? da empresa, que os contratos degradam > Escolher um nome distintivo
Este relacionamento deve rodear-se de a confiança entre os parceiros. Muitas
alguns cuidados para que não sejam di- > a identificação clara do objeto do acordo vezes também, ao terminar o contrato, > Escolher uma designação lícita e não
vulgadas inutilmente informações confi- e os documentos relacionados (relatórios, não se fica com uma ideia clara sobre os ofensiva
denciais. planos, pedido de patente ainda não publi- direitos e deveres recíprocos. Para que o
cado, etc.); contrato seja bem sucedido é importante > A escolha tem que recair num nome ju-
Os primeiros contactos são prospetivos que os atores do projeto se coloquem al- ridicamente disponível
e não há necessidade de assinar nenhum > prever um processo de transmissão de in- gumas questões como as que constam do
acordo de confidencialidade. Deve ter-se formações clara e passível de ser provada; anexo 2. > Apostar num nome adequado a uma
eventual aposta no mercado internacional

50 #11 Propriedade Intelectual Guia do Empresário . CTCP #11 Propriedade Intelectual Guia do Empresário . CTCP 51
Que fazer quando se é copiado ou acu- Custos envolvidos com uma ação de con- Convém, nestes casos, avaliar todos os A avaliação dos intangíveis pode ser feita
sado de contrafação? trafação cenários possíveis, e com a ajuda de um recorrendo a um ou mais dos seguintes
especialista de PI prever as consequên- tipos de métodos:
A PI é uma arma mas, como qualquer, Dependendo da jurisdição em que os atos cias desta ou daquela linha de atuação.
arma, deve ser usada com precaução. de contrafação têm lugar, a ação judicial Métodos baseados no valor de mercado,
pode demorar mais ou menos tempo e ser Deteção das contrafações que fazem referência a transações de
Diferença entre contrafação e cópia mais ou menos cara. mercado comparáveis
É ao titular dos direitos que compete de-
A contrafação é um atentado a um direito Em Portugal, o processo pode iniciar-se tetar as eventuais violações do mesmo. É a metodologia que proporciona uma
de PI que consiste em: na ASAE, com uma queixa. Os custos são Sensibilizar os comerciais que estão no melhor estimativa e valores justos por-
variáveis em função do valor da ação e an- terreno para reportarem as eventuais que se baseia em dados concretos vindos
> reproduzir ou imitar uma marca darão pelos 5% desse valor. contrafações é a melhor forma de se de transações de mercado comparáveis
aperceber da observância dos direitos. (âmbito, validade, domínio de atividade).
> reproduzir total ou parcialmente um de- Um ação de violação de patente em Fran- Dependendo de cada caso é possível re- Todavia a compra e venda de ativos intan-
senho ou um modelo ça terá um custo que variará entre 30 000 correr à Polícia económica, às Alfândegas gíveis como as patentes é relativamente
e 150 000 Euros. ou diretamente aos Tribunais. A própria pouco comum em Portugal e os detalhes
> fabricar, comercializar, utilizar um pro- China, ainda vista como um mercado em dessas transações estão raramente dis-
cesso protegido por patente ou comercia- No caso de se tratar da contrafação de que os Direitos de PI não são respeitados, poníveis. Por outro lado pode ser difícil
lizar ou importar um produto protegido marca ou modelo, ou de direitos de autor começa a utilizar a PI, sobretudo no pró- garantir que o bem a ser avaliado e o bem
por patente; os custos oscilarão entre 8 000 e 35 000 prio interesse. de referência que foi sujeito à transação
Euros. de mercado sejam suficientemente com-
> mais genericamente a reprodução e di- Como proceder para conhecer o valor paráveis. Por conseguinte esta metodolo-
fusão de direitos de PI sem autorização A duração destes casos, em França, po- monetário da PI detida pela empresa gia pode ser difícil de aplicar na prática.
do proprietário. derá ser superior a 3 anos.
A determinação rigorosa do valor finan- Métodos baseados em custos, tais como
A contrafação aprecia-se comparando o Os custos correspondentes na Alemanha ceiro de um direito de PI é necessária “quanto custaria criar o bem” ou “quanto
âmbito de proteção com as característi- ou no Reino Unido serão três vezes supe- sempre que há uma transação entre duas custaria substituir o bem”
cas do produto suspeito de contrafação. A riores aos de França e nos E.U.A. serão sociedades e também no caso de uma
existência de boa fé não é tida em conta cinquenta vezes maiores. cessão entre sociedades do mesmo gru- É a metodologia que é normalmente usa-
para apreciação da contrafação. po, ou para determinar o valor de uma ou- da para avaliar ativos desenvolvidos in-
Antes de avançar com a queixa ou uma tra empresa que se compra. ternamente por uma empresa (por exem-
A cópia releva da concorrência desleal. ação em tribunal, devem ponderar-se plo software). Os métodos baseados em
Visa-se com a cópia, criar confusão ou cuidadosamente as forças e fraquezas do O valor dos direitos de PI não figura na custos devem ser vistos com precaução,
apropriar-se da reputação da empresa, caso, tentando antecipar os meios de de- apresentação contabilística ou no balan- porque o custo de recriar ou substituir um
do estabelecimento, ou dos produtos ou fesa do adversário e explorando as suas ço de uma sociedade e traduz-se por um ativo desta natureza não é necessaria-
serviços dos concorrentes, quaisquer que fraquezas. Concretamente, no caso de se complemento de valor. mente uma indicação do valor futuro do
sejam os meios empregues. estar a ser acusado de violação de direi- ativo. Todavia, os métodos baseados em
tos de PI, deve verificar-se se o direito in- As implicações fiscais desta avaliação custos de substituição podem ser uma
vocado é suficientemente forte ou se não são importantes e influenciam diretamen- boa referência para uma avaliação.
resistiria a uma ação de anulação, bem te a determinação de mais-valias.
como verificar se a alegação de infração
é verdadeira.

52 #11 Propriedade Intelectual Guia do Empresário . CTCP #11 Propriedade Intelectual Guia do Empresário . CTCP 53
Métodos baseados numa estimativa dos Conhecimento do mercado Financiamento dos desenvolvimentos
Case Studies – Helsar e Evereste
benefícios económicos passados e futu-
ros A vigilância tecnológica, isto é ter alguém Todos os investidores, privados e públi-
A Helsar
na empresa encarregue de monitorizar cos, antes de financiar um desenvolvi-
Trata-se de uma metodologia que avalia a atividade dos concorrentes em termos mento no estrangeiro, olham com aten-
Fundada em 1979, hoje é dirigida pela
a patente ou, mais genericamente, o ati- de PI (patentes, marcas, design) permite ção para os direitos de PI da empresa nos
família de José Augusto Alves Correia e
vo intangível, com base nos benefícios identificar: países considerados e a maneira como a
produz exclusivamente sapatos de se-
económicos futuros que derivam da pro- PI foi tida em consideração no desenvol-
nhora. A Helsar® emprega 70 pessoas
priedade do ativo. Esta metodologia visa > os direitos de terceiros nos países vi- vimento proposto pela empresa.
que produzem diariamente 240 a 270
identificar e quantificar, na data atual, sados e os correspondentes riscos de
pares de sapatos. O mercado nacio-
os benefícios futuros atribuíveis ao bem. infração desses mesmos direitos que a Negociação com eventuais parceiros
nal absorve cerca de 65 por cento dos
Tem duas diferentes componentes: i) atividade de comercialização dos próprios
produtos com marca Helsar®, sendo
identificação, separação e quantificação produtos acarreta; A motivação dos potenciais parceiros e a
o restante para exportar. Destes, uma
dos lucros atribuíveis ao ativo intangível; sua fidelidade depende diretamente dos
parte significativa destina-se a marcas
e ii) capitalização desses lucros. > os aspetos que é necessário modificar direitos de PI que a empresa evidencia.
como a dinamarquesa Melene Birger®,
nos produtos e serviços - forma, nome, Quanto mais fortes e diversificados forem
a alemã Schumhacher® e a francesa
Estes métodos permitem calcular valo- características técnicas - para responder estes direitos, mais a empresa pode de-
Laurent Mercadal®. Além disso, tem
res teóricos. Recomenda-se que sejam às necessidades locais: finir diferentes estratégias de desenvolvi-
um segmento especial de sapatos de
utilizados dois métodos diferentes para mento.
noiva personalizados para a marca in-
enquadrar o valor que serve de base às - Forma: certos mercados são mais
glesa Emmy®.
negociações. O preço será finalmente atreitos a um certo design que ou- A exportação direta
aquele que o comprador aceite pagar para tros e a vigilância dará a conhecer os
A Evereste
adquirir o direito de PI e que o vendedor designs a que as empresas dão mais A exportação direta apresenta várias van-
se disponha a aceitar. importância; tagens para a empresa, em particular:
Fundada em 1942 pela família Fernan-
des, a Evereste® produz unicamente
De acordo com a Interbrand, a marca - Nome: há nomes que têm conota- > o controlo de todo o processo de expor-
calçado masculino. Atualmente, em-
mais valiosa do mundo em 2011 é a Co- ções específicas em certos merca- tação;
prega 65 pessoas e, além da marca
caCola que vale 71 861 milhões de USD. dos as quais não favorecem a venda,
Evereste®, a empresa sanjoanense
devendo ser alterados; > uma relação direta com os clientes es-
produz Cohibas®, Chibs® (segmento
PI nas exportações trangeiros.
internacional) e Fugato.® A Evereste®
- Características técnicas: é possível
tem ainda uma parceria com o estilis-
A PI como instrumento de clarificação colocar no mercado produtos com Esta relação direta permite à empresa
ta Miguel Vieira, produzindo o calçado
da posição e de garantia dos desenvol- características técnicas diferentes responder ao melhor custo, às necessi-
de homem daquela marca. A fábrica de
vimentos no estrangeiro das protegidas por uma patente de dades dos clientes e posicionar-se para
calçado Evereste® produz entre 250 a
um concorrente e que cumpram as responder a estas necessidades e à sua
300 pares diariamente, 40 por cento
A PI pode ser muito útil para ajudar o em- mesmas funções, desenvolvendo um evolução. Os direitos de PI favorecem
dos quais para exportação.
presário a fazer as melhores opções no exercício de invent around (inventar esta relação direta ou exclusiva porque
que respeita ao desenvolvimento das ati- contornando). os clientes são atraídos pela notoriedade
In Labor.pt, 25-06-2009
vidades da sua empresa no estrangeiro. criada pelos direitos de PI e porque não
> eventuais parcerias com outras empre- conseguem encontrar facilmente no mer-
Podem identificar-se as seguintes vertentes: sas detentoras de certas patentes, de- cado produtos ou serviços equivalentes.
signs ou marcas que poderão inscrever-se
na estratégia da empresa para exportar.

54 #11 Propriedade Intelectual Guia do Empresário . CTCP #11 Propriedade Intelectual Guia do Empresário . CTCP 55
A exportação apoiada em distribuidores Demarcar-se pelo design Formas de proteção do design
Se uma forma for determinada unicamen-
Frequentemente, e devido ao fato da em- O design é um fator de diferenciação fun- Aplicam-se ao design, dois tipos de pro- te pela função, é insuscetível de proteção
presa não dispor de recursos para vender damental no setor do calçado. teção: pelo design.
diretamente, a exportação faz-se com
recurso a uma rede de distribuidores. A O design incorpora no produto conside- > a do direito de autor, que para se veri- O âmbito de proteção do desenho ou mo-
empresa concentra-se na produção sem rações sobre a forma de uso, as neces- ficar não necessita de qualquer registo, delo registado abrange todos os dese-
precisar de dominar os aspetos jurídicos e sidades do mercado, os constrangimen- sendo no entanto recomendável que o nhos ou modelos que não suscitem uma
técnicos da exportação. Todavia, o distri- tos industriais e as exigências ligadas a documento que lhe sirva de prova esteja impressão global diferente no utilizador
buidor pode não estar alinhado com a es- segurança e ambiente. Levar a cabo um datado de forma juridicamente vinculante informado.
tratégia de crescimento da empresa. Os processo de design implica muitas vezes (por exemplo por autenticação notarial);
direitos de PI podem ajudar a controlar o desenvolvimento de soluções técnicas, Quanto custa a PI e quanto é que po-
melhor o distribuidor, dissuadindo-o ou algumas das quais eventualmente susce- > a do desenho ou modelo registado na- derá render?
impedindo-o de levar a cabo certas ações tíveis de proteção por patente. cional, que exige apresentar no INPI um
tentadoras, como, por exemplo, vender pedido, em formulário próprio, acompa- Tal como foi exposto ao longo deste Guia,
um produto similar com uma origem dife- O design não se limita ao produto mas nhado dos desenhos ou modelos, sob a a PI não serve exclusivamente para pro-
rente, a melhores preços. abrange a embalagem. Uma embalagem forma de fotografias ou desenhos, antes teger as criações intelectuais. A cultura
diferenciada, pelo design da própria em- que o produto seja publicado; de PI da empresa e a forma como imple-
Outras vias de exportação balagem ou do rótulo, pode contribuir de- menta mecanismos de gestão da inovação
cisivamente na luta contra a contrafação. Dentro do âmbito da proteção industrial, são realidades que utilizam a PI nas suas
Podem ainda seguir-se outras opções de Uma violação de design pode ser facil- cabe mencionar a que é facultada pelo diferentes vertentes, de modo a tornar a
exportação, como, por exemplo, a compra mente detetada e avaliada por um oficial desenho ou modelo comunitário junto da empresa no seu todo, mais competitiva.
de empresas ou de filiais que produzem da polícia económica ou das alfândegas. OHMI (Organização de Harmonização do
localmente, a criação de joint-ventures Mercado Interno) que abrange todos os Neste sentido, há uma série de atividades
com empresas locais ou a venda de li- Uma identidade forte e correspondente países da UE. que se relacionam com PI e que não en-
cenças de PI. Em todos estes casos os diferenciação no mercado é muitas vezes volvem um custo direto, designadamente:
direitos de PI jogam um papel essencial. conferida pelo design específico de um A proteção do desenho ou modelo regis-
Para que a operação seja bem sucedida produto ou linha de produtos. tado tem uma duração de 25 anos. Tem > tudo o que se relaciona com documen-
no longo prazo, é ainda necessário pensar um custo associado de, entre 100 € a tação do Know-how, das patentes e dos
na forma como serão geridos os futuros A investigação em matéria de design pode algumas centenas de Euros. A grande segredos da empresa;
direitos de PI que vão ser criados. levar a repensar completamente o produto. vantagem deste tipo de proteção face à
que se verifica com a proteção, por direi- > as pesquisas em bases de dados de di-
to de autor, reside numa maior agilidade reitos de PI, gratuitas (INPI, espacenet,
em caso de combate à contrafação. Com ctm online e rcd online, por exemplo);
efeito, podem aparecer dificuldades num
Tribunal, quando se esgrime um direito de > a utilização da informação PI dos con-
autor de um design. Dificuldades relativas correntes para utilização estratégica pela
à data da criação, bem como à natureza empresa (design around; invent around;
da proteção pois os juízes podem consi- acordos de cooperação, por exemplo).
derar os produtos industriais unicamente
abrangidos pelas Leis da Propriedade In-
dustrial.

56 #11 Propriedade Intelectual Guia do Empresário . CTCP #11 Propriedade Intelectual Guia do Empresário . CTCP 57
Custos com o depósito de pedidos de para uma proteção em vigor por 10 anos Quanto poderá render a PI? > a quota de mercado e de faturação liga-
patente e marca será considerar cerca de 1000€/ano/país. da ao facto do produto e a empresa esta-
No que respeita aos lucros atribuíveis rem protegidos por direitos de PI?
Devem ser considerados os seguintes Há numerosas vias de obter apoios do Es- à PI, é difícil estimá-los com rigor. Com
tipos de custos relacionados com a ativi- tado à PI, sendo neste caso aconselhável efeito, como calcular? > o facto de um concorrente ter ficado
dade de depósito: as taxas oficiais e os ho- recorrer ao CTCP para obter informação. inibido de explorar as invenções ou de-
norários dos especialistas em PI (Agen- signs dentro do âmbito dos títulos de PI
tes Oficiais da Propriedade Industrial ou da empresa ou ter tido que realizar um
outros): esforço acrescido de design around ou in-
vent around?
Custo para pedidos de direitos de PI em
Portugal: > o acréscimo de imagem e de reputação
proveniente do portefólio de direitos, jun-
> patente taxas oficiais: Pedido de Pa- to dos clientes e credores?
tente Provisório cerca de 10€; Pedido de
Patente Nacional online, cerca de 100€;

© Mats Persson - iStock


honorários: de 1000 a 5000 Euros, depen-
dendo da complexidade do pedido.

> marcas taxas oficiais: Pedido de Marca


Nacional online, cerca de 100€; honorá-
rios, a partir de 400€.

> desenho ou modelo: Pedido de desenho


ou modelo nacional (até 5 produtos) on-
line, cerca de 100€; honorários, a partir
de 400€.
A estes custos acrescem os custos relati-
vos à manutenção em vigor dos mesmos.

No caso das patentes, as anuidades são


crescentes ao longo dos 20 anos de du-
ração do direito, começando em cerca de
50€ ao 5º ano e atingindo cerca de 600€
no 20º.

No caso das marcas, a renovação deve


ser efetuada a cada 10 anos, ato a que
corresponde uma taxa de cerca de 100€.

Quando se pretende expandir a proteção


a países estrangeiros, as despesas podem
ser elevadas porque são proporcionais ao
número de países. Um número indicativo

58 #11 Propriedade Intelectual Guia do Empresário . CTCP #11 Propriedade Intelectual Guia do Empresário . CTCP 59
Conclusão
Os empresários que aprendam a integrar
eficazmente conceitos de PI na gestão
das suas empresas estão numa rota de
diferenciação que os poderá levar a al-
cançar posições dominantes nos merca-
dos em que atuam. A prática empresarial
mostra que o jogo da PI oferece oportuni-
dades de afirmação e crescimento da em-
presa que, provavelmente, nenhum outro
instrumento à disposição dos empresá-
rios e da gestão das empresas oferece.

A visão da PI pelo empresário português


do setor do calçado está progressivamen-
te a evoluir, de um estádio em que os di-
reitos de PI são vistos, sobretudo, sob o
prisma da defesa da marca, ou do design,
para outro, em que os diferentes direitos
se conjugam para proteger a inovação ge-
rada pela empresa e dela extrair o máxi-
mo valor.

Este guia é um contributo para uma arru-


mação de ideias no âmbito da gestão da
PI na empresa, elucidando o papel que
desempenham os segredos, as patentes,
as marcas, os desenhos e modelos e os
direitos de autor, para o controlo da rota
de posicionamento da empresa, mostran-
do o que pode ser feito para a criação de
uma dinâmica interna geradora de PI.
© silviaantunes - Fotolia
Bibliografia

© Lukas Sembera - Fotolia


Edison in the Boardroom – How leading companies realize value from their
Intellectual assets, Julie L. Davies e Suzanne S. Harrison, Wiley/Anderson, 2001

PME: Pensez propriété intellectuelle, Pierre Breesé, Yann de Kermadec, Direction


Générale de la Compétitivité de l’Industrie et des Services, République Française, 2011

Invenções e Patentes – Guia Prático do Produtor de Tecnologia, João Marcelino,


Manuel Lopes Rocha, IAPMEI, 2010

O processo de inovação, António Carrizo Moreira e José Dantas, Lidel, 2011


Anexos

© Aleksandr Bedrin - Fotolia


Anexo 1 Anexo 2

Formulário de comunicação da inovação Formulário de preparação de uma cooperação

Nome dos autores / Entidade / Mail: Nome dos autores / Entidade / Mail:

Título: Contexto e Preparação da cooperação

Domínio da inovação:
- qual é a matéria da cooperação? Por que razões é desejável a cooperação?

Necessidades e soluções existentes:

- com quem vai ser feita a cooperação? Porquê?


Soluções propostas:
- que pode a empresa ganhar com a cooperação? Que pode perder?

Utilizadores:
- que pode ganhar o parceiro? Que pode perder?

Contexto no qual foi criada a inovação:


- como serão utilizados os resultados do projeto?

Fontes de informação utilizadas:


- como levar a cabo a cooperação?

Ponto de avanço da inovação:


Gestão do projeto de cooperação

Limite das soluções previstas: - quem pode ou deve contribuir com o quê?

- como desenvolver o projeto?


Soluções não previstas:

Gestão das informações antes e depois do projeto


Desenvolvimentos propostos:

- que deseja a empresa guardar como segredo?

- que se pode comunicar ao abrigo de um acordo de confidencialidade?

- as informações que se deseja comunicar estão preparadas para ser comunicadas?

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