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A concepção da retórica em Platão e Aristóteles:

deliberativa, judiciária e epidítica; o uso sofístico da


retórica: Protágoras e Górgias;

A nova retórica de Chaim Perelman; da lógica do razoável à


tópica de Theodor Viehweg; A retórica segundo Oliver Reboul.
Prof. Dr. Thiago Rodrigues Pereira
• Pós Doutor em Direitos Humanos pela UCP
• Doutor em Direito
• Professor Adjunto da Universidade Federal
Fluminense – UFF
• Professor do PPGDH da UCP
• Professor convidado nas Pós-Graduações da
Fundação Getúlio Vargas – FGV Direito Rio e da
Escola da Magistratura do Estado do Rio de Janeiro
- EMERJ
• Consultor Jurídico em Direito Público e Direito
Educacional
PLATÃO
A RHETORIKE
• Crítica contra a retórica;
• Crítica aos Sofistas;
• Busca pela verdade;
• Crítica a Democracia;
• Górgias X Fedro;
• Discurso X Ontologia
Retórica como a arte do falar público em assembleias deliberativas e
outros eventos formais nas pólis, exercia-se a retórica com a
finalidade de influenciar as ações das outras pessoas para aquilo que
parecia o melhor para elas mesmas e suas famílias, seus grupos
sociais e políticos.
ARISTÓTELES
• Deliberativa – própria dos políticos e busca
convencer os ouvintes sobre decisões a serem
tomadas; seu foco é o futuro.
• Judicial – voltada ao passado e é utilizada por
advogados para convencer juízes se um crime
ocorreu ou não ou para abrandar uma pena;
• Epidítico – seu foco é o presente e objetiva
louvar ou censurar alguém segundo a sua
dignidade; também conhecido como
demonstrativo e próprio de poetas e
historiadores.
É uma arte (téchne), um conjunto de princípios gerais e de regras
definidas que podem sem compreendidos pela razão e cujo fim último é
a persuasão.
Chaim Perelman
✓ O objeto da retórica é o estudo das técnicas discursivas que visam
provocar ou a aumentar a adesão das mentes às teses
apresentadas a seu assentimento.
✓ Nova Retórica surgiu com a rejeição do Positivismo Lógico, o qual
buscava tornar a linguagem natural mais pura e ajustá-la sobre uma
linguagem científica. Segundo os Positivistas, existe sempre a
possibilidade de se demonstrar a veracidade de alguns fatos e de
proposições lógicas e matemáticas, o que jamais seria possível
quando falamos de juízo de valor. Perelman abandona sua formação
lógica neopositivista e passa a defender a idéia de ser possível a
inserção dejuízos de valor na esfera racional. Assim, afirma que a
lógica da argumentação é uma lógica dos valores, uma lógica do
razoável, do preferível, e não uma lógica matemática
✓ Para os retóricos não existe nada em absoluto. As coisas estão
mais ou menos corretas, mais ou menos entendidas, mais ou
menos aceitas. O embate retórico contra a certeza e contra a
objetividade fez-se projetar como teoria do aproximado, do
inconcluso, do relativo

✓ Para Perelman que para a solução de problemas cotidianos


que tenham envolvimento com valores a melhor forma de se
buscar uma solução é através da chamada arte da discussão. a
Retórica é a adesão intelectual de um ou mais espíritos apenas
com o uso da argumentação; é o preocupar-se mais com a
adesão dos interlocutores do que com a verdade[5]; é não
transmitir noções neutras, mas procurar modificar não só as
convicções daqueles espíritos, como as suas atitudes.
✓ Todo discurso possui um contexto e, consequentemente, um
auditório para o qual ele é elaborado e o se amoldar àquele
auditório é a condição para que exista a persuasão.
✓ O autor individualiza, então, os vários tipos de
auditório“diferenciados pela idade ou pela fortuna”, podendo
sua extensão ser universal; de um único ouvinte; ou uma
deliberação consigo mesmo, e tudo isso com o intento de
convencer/persuadir um auditório na sua especificidade.
✓ É que, reconhecer as características específicas de cada um
desses auditórios contribui significativamente para o sucesso do
empreendimento argumentativo.
✓ Quanto à mencionada individualização prévia, em que pese a
sua realização, podem haver auditórios com composição
heterogênea de ouvintes – auditório multifacetado -, nestes
casos a tarefa do orador fica mais intrincada, sendo
necessário fazer uso de argumentos diversos para convencer
o seu auditório.
✓ Mas pode ocorrer que o auditório seja o mesmo apenas na
aparência. De fato, na teoria da argumentação, o auditório
não é definido como o conjunto daqueles que escutam um
discurso, mas antes como o conjunto daqueles aos quais visa
o esforço da persuasão.
• Perelman apresenta três grupos de argumentos, a saber: argumentos quase-
lógicos, argumentos baseados na estrutura do real e argumentos que fundam a
estrutura do real.
✓ Os argumentos quase-lógicos são formulados a partir de princípios lógicos, como o
próprio nome indica. Eles buscam se aproximar dos princípios matemáticos a fim de
garantir certa confiabilidade. Já os argumentos baseados na estrutura do real são
formulados a partir daquilo que o auditório acredita ser o real.
✓ Por fim, temos os argumentos que fundam a estrutura do real, estes que atuam por
inferência e fundam generalizações e regularidades, de maneira tal que são capazes
de formular exemplos, modelos etc. a partir de casos isolados.
✓ Aqui, compete dizer que se o orador escolhe seus argumentos com base posta no
real, temos que sua argumentação é forte e dificilmente será resignada pelo
auditório universal.
✓ Isso porque, formulando premissas baseadas no real, teremos uma constituição
objetiva de argumentos o que dificulta a sua recusa pelos ouvintes. Perelman, por
sua vez, acredita que sendo os argumentos baseados em valores – aqueles de difícil
comprovação empírica – o discurso do orador será mais formidável.
✓ Perelman fala, ainda, da ligação existente entre a pessoa e
seus atos na argumentação. Diversamente do que ocorre no
processo demonstrativo (impessoal e infalível), na
argumentação retórica pressupomos uma ligação entre orador
(aquele que fala ou escreve) com aquilo do que se fala ou
escreve, de modo que o discurso como ato pessoal é
inseparável daquele que o profere.
✓ Destarte, a reputação do orador pode garantir o sucesso ou o
insucesso do discurso que profere.
✓ Conhecer-se e conhecer o outro são coisas preciosas para o
emissor. Assim, ele pode evitar certos excessos nos quais,
sabidamente, sua personalidade poderá levá-lo a incidir, como, por
exemplo, a irritação, a falta de rigor ou a falta de atenção a
conteúdos orais. Mas, conhecendo bem a personalidade do
receptor, também pode escolher argumentos que sabe serem
certeiros, por tocarem certa corda sensível.
✓ Para PERELMAN importa também que o orador, ao selecionar os
argumentos para um auditório específico, busque conferir-lhes uma
presença, ou seja, realizar uma escolha acertada dos fatos, valores,
lugares-comuns garante aos argumentos selecionados uma
dimensão psicológica especial no discurso, já que é um pensamento
recorrente e atua de forma direta sobre a sensibilidade do auditório
✓ A verdade obtida pela Lógica formal é sempre universal e
incontestável, mas a adesão, embora seja de um auditório específico,
pode possuir intensidade variável.

✓ Perelman e Aristóteles vão divergir sobre os discursos epidítico. Para


Aristóteles era apenas um espetáculo, sem que fosse preciso, ao final,
tomar uma decisão; o auditório comparece tão somente para apreciar
o talento do orador. Já para Perelman os discursos epidícticos têm um
efeito sério, o de criar uma comunhão em torno de certos
acontecimentos, de certas pessoas, de certas realizações, cuja
valorização caracteriza a cultura de uma sociedade. Assim, o discurso
epidíctico é aquele onde não há, inicialmente, uma oposição já que o
orador busca reunir valores já reconhecidos pelo auditório, fazendo
com que a unanimidade social crie verdades universais
✓ A principal proposta da Nova Retórica de Perelman é reformular o
pensamento jurídico contemporâneo desvinculando-o do
pensamento positivista e demonstrar que o aplicador das leis ao
proferir sua decisão não pode ater-se simplesmente à literalidade
da norma, devendo pensar nos fatos como situações que podem
ser valoradas (juízo de valor).
✓ O advogado, por exemplo, que busca através de sua argumentação
obter a adesão do juiz, demonstra que esta adesão está justificada
colacionando jurisprudência de instâncias superiores no sentido dos
seus argumentos.
✓ Assim, afirma PERELMAN que a lógica jurídica difere das demais por
ser uma lógica dialética e argumentativa, não bastando a
demonstração, devendo o juiz ter uma visão estrita de cada caso
concreto para aplicar a solução mais razoável e a mais justa
✓ O direito exige fundamentação e não demonstração. A
demonstração é o que se faz quando se expõe o caminho lógico
percorrido para se chegar a um resultado. Mas o direito não é
matemática. Ele precisa fundamentar criticamente e
axiologicamente seus postulados. Fundamentar é dar razões,
explicar, revelar os motivos e os convencimentos adotados em
uma decisão jurídica.
✓ Por fim, cabe destacar que a Nova Retórica não abrevia a
atividade de convencimento e persuasão à argumentação, pelo
contrário, ela dispõe a argumentação como a forma de produzir
convencimento e persuasão tão presentes no meio jurídico.
✓ É assim que o orador – o juiz – apresenta aos seus
interlocutores – os litigantes, os advogados e a sociedade – as
teses do seu discurso. Quando os litigantes/advogados aderem
à tese do juiz (orador), o processo acaba, mas quando não
existe essa adesão, as partes recorrem às instâncias
superiores.
✓ Contudo, não é somente o juiz que busca convencer, mas o
caminho inverso também se realiza quando as partes (orador),
com teses contrárias, tentam convencer o juiz (auditório).
✓ Os advogados, então, devem delimitar o seu auditório – juiz –
conhecer suas decisões anteriores, seus valores pré-
estabelecidos, de forma que consiga elaborar uma
argumentação capaz de convencer esse auditório na sua
especificidade.
Theodor Viehweg

✓ A tópica é uma parte da retórica conceituada por


Theodor Viehweg como uma “técnica de pensar
problemas.” Isto é, um estilo de pensamento, uma
técnica de interpretação do direito cuja finalidade é
indicar meios de como se agir diante de problemas,
buscando sempre encontrar uma solução justa para
qualquer caso.
✓ A teoria tópica veio para romper com o método sistemático-
dedutivo, com a lógica formal que interpreta o direito como um
sistema fechado. Ela tem uma idéia contrária, interpreta o direito
como um sistema aberto (não há certezas absolutas, nada é
indiscutível), parte do simplesmente provável, de conhecimentos
fragmentários, ou seja, seus pontos de partida são abertos para
discussão, são tentativas eternas de compreensão.
✓ A tópica parte do reflexo para a reflexão, do específico para o
geral, ou seja, a partir do problema encontra-se a solução da
qual são retirados os fundamentos de validade. Além disso, a
tópica se dirige para o problema e em razão deste. Viehweg
acredita, que a tópica “é a forma adequada para o direito
equacionar suas questões”, pois para ele o direito é “arte de
pensar problemas”.
✓ A tópica apresenta como características fundamentais: ser
problemática; buscar e analisar premissas, tendo esta
atividade como principal, já que para a tópica a ênfase recai
nas premissas; e usar como argumentos iniciais do diálogo
os topos ou lugares-comuns que consistem em idéias aceitas
consensualmente e como uma grande força persuasiva.
✓ Manuel Atienza julga ser o modelo tópico ingênuo, tendo em vista
que Viehweg afirma que a jurisprudência deve buscar soluções
justas, a partir de conceitos e proposições extraídos da própria
justiça. Este afirma ainda, não ser a tópica uma teoria autêntica ou
suficiente da argumentação, no entanto reconhece que “na tradição
do pensamento da tópica jurídica inaugurada por Viehweg pode-se
encontrar sugestões e estímulos de inegável valor para quem deseja
começar a estudar - e a praticar - o raciocínio jurídico”, não
permitindo ver o papel importante que a lei (sobretudo a lei), a
dogmática e o precedente desempenham no raciocínio
jurídico: ela fica na estrutura superficial dos argumentos
padrões e não analisa a sua estrutura profunda,
permanecendo num nível de grande generalidade que está
distante do nível da aplicação como tal do Direito
Oliver Reboul
Retórica é arte de persuadir pelo discurso’, possuindo quatro funções
fundamentais — persuasiva, hermenêutica, heurística e pedagógica.

✓ A função persuasiva – diz respeito à arte de persuadir por meios


racionais, sendo que “os meios de competência são os
argumentos”. Os argumentos são de dois tipos: os entimemas,
próprios do raciocínio silogístico (docere, instruir, ensinar o
auditório) e os de caráter oratório, do qual fazem parte o tom e as
inflexões da voz (delectare ou agradar e movere, comover o
auditório). As figuras de estilo fazem parte das duas dimensões
dos argumentos. As metáforas, as metonímias, as hipérboles
contribuem para agradar e comover um auditório, mas também
são figuras argumentativas, pois auxiliam na expressão dos
argumentos
✓ A hermenêutica. Refere-se à arte de interpretar textos. Não basta, diz
Reboul, saber falar. É preciso conhecer a quem se fala, o auditório, e
captar o não-dito, pois convencer significa também interpretar o
discurso do outro.

✓ A função da retórica é a heurística; diz respeito à descoberta. O


sentido dessa descoberta relaciona-se aos percursos que o orador fará
para encontrar o verossímil e dar a palavra final.

✓ À função pedagógica cabe “ensinar a compor um segundo plano, a


encadear os argumentos de modo coerente e eficaz, a cuidar do
estilo, a encontrar as construções apropriadas, a falar distintamente

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