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Analisando o texto de Jorge Luis Borges, percebe-se que, embora o vocabulário usado e
a leitura pareçam simples e pareçam facilitar nossa interpretação perante o enredo, a
trajetória de Murdock durante a elaboração de sua tese de doutorado permanece como um
enigma para o leitor.
O Etnógrafo conta a história de Fred Murdock, um universitário que, para concluir sua
tese de doutorado, vai até uma reserva indígena para descobrir o segredo dito aos
iniciados. No meio de seu percurso, Murdock passa a viver sua pesquisa numa imersão
completa, chegando a sonhar em outra língua, alimentar-se e vestir-se de maneira
diferente dos seus costumes:
Porém, o que nos coloca no impasse de interpretar esta obra de Borges é o fato de que,
mesmo com a imersão do protagonista em costumes que não eram seus, o desfecho de
Fred é claramente atrelado ao descobrimento da doutrina, contudo, como o segredo não
é, em momento algum, revelado ao leitor, não deixa óbvias as motivações de Murdock ao
tomar a decisão final de não contar ao seu professor a doutrina, chegando a afirmar que
os caminhos que o levaram até a descoberta valiam muito mais do que o segredo em si.
Além disso, é importante lembrar que a pesquisa de Fred se baseava em estudar outro ser
humano, porém, as relações de saber ficam bastante claras se analisarmos o fato de que o
etnógrafo estava numa posição de poder com relação aos indígenas. A revelação da
doutrina em uma tese de doutorado deixaria ainda mais clara essa relação desigual, visto
que o ritual indígena para os iniciados seria divulgado em prol da pesquisa de um
universitário e americano.
Portanto, O Etnógrafo, ao mesmo passo que é uma leitura simples, torna-se, também, uma
leitura misteriosa. Murdock não deixa claras suas intenções ao decidir não revelar o
segredo chave para sua pesquisa de doutorado, ficando a critério do leitor como atingir
sua interpretação com os elementos dados por Borges.