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UMA HISTÓRIA
Eduardo Marinho – doutorando em
Literatura Brasileira (FFLCH-USP)
Literatura na sala de aula – 17/10 – Aula 6
PREÂMBULOS
Links para vídeos das performances:
Light/Dark:
https://youtu.be/t-j0Ey2O4HU
The Lovers:
https://youtu.be/KtX7yZo_5vg
— Está frio.
Lembrando mais uma coisa reteve a mão de adeus que o outro lhe estendia
— Peço-lhe que avise sua esposa, senhor. Não posso compreender tantos
mistérios. Se é para bem do rapaz.
— Mas senhorita...
Volto a afirmar que o meu livro tem 50 leitores. Comigo 51. Não
é muito não. Cinquenta exemplares distribuí com dedicatórias
gentilíssimas. Ora dentre cinquenta presenteados, não tem exagero
algum supor que ao menos 5 hão de ler o livro. Cinco leitores. Tenho,
salvo omissão, 45 inimigos. Esses lerão meu livro, juro. E a lotação do
bonde se completa. Pois toquemos para avenida Higienópolis!
51, com a minha, que também vale. Vale, porém não tenho a
mínima intenção de exigir dos leitores o abandono de suas Elzas e impor
a minha como única de existência real. O leitor continuará com a dele.
Apenas por curiosidade, vamos cotejá-las agora. Pra isso mostro a
minha nos 35 atuais janeiros dela.
Tipologia de C. Brooks e R. P. Warren
Forma discursiva ambígua, projetada a partir da mistura de duas perspectivas distintas: a do personagem e a do narrador (que também é personagem).
BREVES CONSIDERAÇÕES SOBRE
A PERSONAGEM DE FICÇÃO
A pessoa e a personagem
Literatura e personagem – Anatol Rosenfeld
Hoje em dia, a palavra character [traduzida como "personagem"], além de figura literária,
pode significar também uma letra, um símbolo, um caractere ou caráter, em suma.
Vem de um termo grego antigo, significando um sinete ou timbre que imprime uma marca
específica. Daí passou a significar a marca característica de um indivíduo, e não apenas sua
assinatura. [...]
Depois de algum tempo, veio a designar a pessoa como tal, homem ou mulher. O caráter,
como sinal que representava o indivíduo, passou a ser o caráter, como identidade própria
do indivíduo. O que havia de característico na marca se tornou o caráter único daquela
pessoa. [...]
Transição de "caráter" como marca peculiar de um indivíduo para "caráter" como
identidade do próprio indivíduo liga-se ao nascimento e desenvolvimento do individualismo
moderno. Agora os indivíduos são definidos pelo que têm de característico, como a
assinatura ou a personalidade inimitável. [...] Hoje, o termo "caráter" designa as qualidades
morais e mentais de um indivíduo.
Terry Eagleton – Como ler literatura, p. 56-57.
Memórias Póstumas de Brás Cubas, de Machado de Assis
Personagem 1 Personagem 2
▪ garoto campesino, ▪ garoto das motos/das cidades,
▪ menino caipira dos campos/rural/do ▪ Garoto/animal urbano,
sertão,
▪ garoto dos viadutos e das baladas,
▪ pequeno sertanejo,
▪ Menino das cidades
▪ camarada campesino,
▪ pequeno caipira,
▪ colega de aventuras solares,
▪ rapaz da poeira da estrada,
▪ amigo dos campos em flor,
▪ garoto do rio e das cigarras
Elementos do enredo
▪ Menino da cidade vai passar as férias em Ribeirão do Alto. Ele é descrito como sendo um garoto
“aéreo”, “distante”, dado à introspecção e a se perder em “veredas mentais”. Numa manhã, encontra na
roça um menino campesino e juntos saem para mergulhar no rio. Mergulham no rio e ficam brincando
dentro d’água [p. 13-17]
▪ Menino da cidade está em frente a um espelho se barbeando. A barba é recente, mas parece indicar
deslocamento temporal em relação ao relato anterior. [p. 17-20]
▪ Menino da cidade “retorna” ao rio, em companhia do menino dos campos. Observam que, ao lado do
rio, há um “misterioso bosque escuro”, mas voltam para o rio. Passa do meio-dia. Durante a tarde,
passeiam pela estrada empoeirada – eles desejam chegar no mar. Adentram o bosque, acompanhados
de um cachorro, ao entardecer [p. 20-34]
▪ Menino do campo entra em um barco conduzido por um homem de pé, com um candeeiro na mão e
parte, acompanhado pelo cachorro. O menino das cidades vê sua própria face do outro lado do lago,
que logo se transforma na do caipira. [p. 34-37]
▪ Futuro da narrativa: menino das cidades torna-se escritor e presenteia o menino dos campos com um
livro. Este lê o livro e retorna ao momento em que ambos eram crianças e passaram um dia de verão
juntos. [p. 37]
▪ Retorno ao presente da narração, ao rio – que parece um “gigantesco manto de plástico negro”.
Anoiteceu. Volta para casa desacompanhado, pensando como explicar o sumiço do amigo. Reencontra
o amigo atrás de uma cerca. Volta pra casa e “pensou que enfim estava livre da infância”.
SALTOS NO TEMPO/ESPAÇO
Parecia uma quebra entre o rapaz da poeira da estrada e o garoto urbano que
sempre se imaginara único. Tinham sido uma pessoa só?
Davam-se conta disso só agora?´ [p. 36]
O rapaz urbano mirou fundo os olhos do amigo e indagou calado se ele era
aquele caipira mesmo ou se esse daqui, do outro lado, esse garoto em temporada de
férias na terra do pai. Poderia tirar a limpo essa questão? [p. 41]
OBRIGADO!