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O QUE É NARRAR?

Narrar é contar um ou mais fatos que ocorreram com determinadas personagens, em local e tempo
definidos. Por outras palavras, é contar uma história, que pode ser real ou imaginária.
Quando se vai redigir uma história, a primeira decisão que deve tomar é se você vai ou não fazer
parte da narrativa. Tanto é possível contar uma história que ocorreu com outras pessoas como narrar fatos
acontecidos consigo.

ESTRUTURA E ELEMENTOS DA NARRATIVA

A estrutura básica do texto narrativo é: apresentação, desenvolvimento, clímax e desfecho. A narração


é um tipo de texto baseada nas ações de personagens e caracterizados por determinado tempo e espaço.
Destacam-se o romance, a novela, a crônica, o conto, a fábula, as lendas, dentre outros.
Os principais elementos que compõem uma narração são:

» Enredo (história) – O quê? Como? Por quê?


» Personagens (aqueles que compõem a narrativa) – Quem?
» Tempo (período em que desenvolve a narrativa) – Quando?
» Espaço (local onde ocorrem os fatos desencadeados na narração) – Onde?

TIPOS DE NARRADOR

1) NARRADOR PERSONAGEM:

» O narrador personagem é um tipo de narrador que participa da história e por isso, recebe esse nome.

» Ele pode ser o personagem principal (narrador protagonista), ou mesmo um personagem secundário
(narrador testemunha).

» A história é narrada em 1ª pessoa do singular ou do plural (eu, nós).

» É marcado por características subjetivas, opiniões em relação aos fatos ocorridos, sendo assim uma
narrativa parcial, já que não se pode enxergar nenhum outro ângulo de visão.

» O leitor vai fazendo suas descobertas ao longo da história junto com a personagem.

2) NARRADOR OBSERVADOR:

» Apresenta um texto narrado em 3ª pessoa (ele, eles).

» O narrador não participa da história e está fora dos fatos, ou seja, ele não é um personagem.

» Ele conhece todos os fatos e, por não participar deles, narra com certa neutralidade, apresenta os fatos e
os personagens com imparcialidade.

» Comporta-se como uma testemunha dos fatos relatados, mas não faz parte de nenhum deles, e a sua única
atitude é a de reproduzir as ações que enxerga a partir do seu ângulo de visão.

» Não participa das ações nem tem conhecimento a respeito da vida, pensamentos, sentimentos ou
personalidade das personagens.
3) NARRADOR ONISCIENTE:

» O narrador onisciente é aquele que conhece toda a história.

» Possui conhecimentos sobre todos os personagens e seus pensamentos, sentimentos, passado, presente e
futuro.

» A história é geralmente narrada em terceira pessoa e, portanto, o narrador não participa das ações. No
entanto, por vezes, a trama pode ser narrada em primeira pessoa. Já que esse narrador sabe de tudo, ele
apresenta alguns pensamentos ou fluxos de consciência de seus personagens.

ENREDO: é um elemento fundamental para a narrativa. Trata-se do conjunto de fatos que acontecem, ligados
entre si, e que contam as ações dos personagens. Ele é dividido em algumas partes:

» Situação inicial: é quando o autor apresenta os personagens e mostra o tempo e o espaço em que estão
inseridos, geralmente logo na introdução;
» Estabelecimento de um conflito: um acontecimento é responsável por modificar a situação inicial dos
personagens, exigindo algum tipo de ação;
» Desenvolvimento: ao longo desta seção, o autor conta o que os personagens fizeram para tentar solucionar
o conflito;
» Clímax: depois de diversas ações dos personagens, a narrativa é levada a um ponto de alta tensão ou
emoção, uma espécie de “encruzilhada literária” que exige uma decisão ou desfecho;
» Desfecho: é a parte da narrativa que mostra a solução para o conflito.

ESPAÇO: é o lugar em que a narrativa acontece. Ele é importante não só para situar o leitor quanto ao local,
mas principalmente porque contribui para a elaboração dos personagens. Afinal, o espaço onde as pessoas
(mesmo que fictícias) vivem interfere na sua aparência, vestimenta, costumes, oportunidades, atividades e até
mesmo sua personalidade.

TEMPO: O tempo da narrativa diz respeito ao desencadear das ações. Assim como espaço, ele é muito
importante para definir características dos personagens, principalmente as psicológicas. Afinal, pessoas que
vivem em épocas diferentes costumam ter visões de mundo, atitudes, pensamentos e situações também
diferentes. Pode ser dividido em:

» Cronológico: Está relacionado a passagem das horas, dos dias, meses, anos etc.

“Na segunda-feira voltou o menino armado com a sua competente pasta a tiracolo, a sua lousa de escrever e
o seu tinteiro de chifre; o padrinho o acompanhou até a porta. Logo nesse dia portou-se de tal maneira que o
mestre não se pôde dispensar de lhe dar quatro bolos (…)” (Manuel Antônio de Almeida, Memórias de um
sargento de milícias. São Paulo: Ateliê, 2000.)

» Psicológico: Está relacionado às lembranças do personagem e aos sentimentos vivenciados por ele.

“Dito isto, expirei às duas horas da tarde de uma sexta-feira do mês de agosto de 1869, na minha bela chácara
de Catumbi. Tinha uns sessenta e quatro anos, rijos e prósperos, era solteiro, possuía cerca de trezentos contos
e fui acompanhado ao cemitério por onze amigos. Onze amigos!” (Machado de Assis, Memórias Póstumas de
Brás Cubas).
PERSONAGENS: São os seres reais ou fictícios que participam da história. Como a Literatura é criativa,
pode ser uma pessoa, um animal, um ser mitológico ou fantástico, um objeto personificado ou até mesmo um
sentimento. Os personagens podem ser divididos entre:

» Protagonistas: são destaques da narrativa, ocupam o lugar principal da história;


» Antagonistas: são os adversários dos protagonistas, aqueles que vão criar ou alimentar o conflito,
dificultando a vida dos principais;
» Secundários: são personagens menos importantes na história, mas que de alguma forma contribuem para
a sequência de fatos do enredo.

» TIPOS DE DISCURSO → os tipos de discursos são utilizados no gênero narrativo para introduzir as
falas e os pensamentos dos personagens. Seu uso varia de acordo com a intenção do narrador.

DISCURSO DISCURSO
DIRETO INDIRETO
O narrador dá uma pausa na sua narração e O narrador da história interfere na fala do personagem
passa a citar fielmente a fala do personagem. preferindo suas palavras. Aqui o discurso é narrado em
terceira pessoa.
Os sinais de pontuação utilizados são:
travessão, dois pontos, aspas. Não há utilização do travessão.
Exemplos: Exemplos:

Querendo ouvir sua voz, resolveu telefonar: Querendo ouvir sua voz, resolveu telefonar. Cumprimentou
— Alô, quem fala? e perguntou quem estava falando. Do outro lado, alguém
— Bom dia, com quem quer falar? — respondeu ao cumprimento e perguntou com tom de
respondeu com tom de simpatia. simpatia com quem a pessoa queria falar.

O réu afirmou: "Sou inocente!". O réu afirmou que era inocente.

→ Leia a tirinha abaixo e responda:

a) Qual é o humor da tirinha?


b) Qual é o tipo de discurso utilizado no texto?
c) Reescreva a tirinha no discurso indireto.
→ Leia o texto abaixo e responda ao que se pede:

A PORTA ABERTA
Saki

— Minha tia já vai descer, sr. Nuttel — disse uma jovem dama de 15 anos, muito segura de si. —
Enquanto isso, o senhor terá de me aturar.

Framton Nuttel procurava dizer algo apropriado que lisonjeasse devidamente a sobrinha no momento
sem indevidamente menosprezar a tia de logo mais. De si para si duvidava, mais do que nunca, que visitas de
cortesia, como essa, a uma série de pessoas estranhas, beneficiassem muito o tratamento de nervos a que
pretendiam submetê-lo.

— Já sei como vai ser a coisa — dissera-lhe a irmã quando ele preparava sua retirada para aquele
recanto de província. — Você vai-se enterrar ali sem falar a vivalma, e vai-se aborrecer tanto que os seus
nervos ficarão piores do que nunca. Pelo sim, pelo não dou-lhe umas cartas de recomendação para todas as
pessoas do lugar minhas conhecidas. Algumas delas, ao que me lembro, são bem agradáveis.

Framton perguntava a si mesmo, agora, se a sra. Sappleton, a quem vinha apresentar uma daquelas
cartas, pertencia ao grupo agradável.

— O senhor conhece muita gente aqui? — perguntou a sobrinha quando julgou que já tinham tido
entre si bastante silêncio.

— Quase ninguém — respondeu Framton. — Minha irmã passou aqui algum tempo na reitoria, há uns
quatro anos, e deu-me cartas de apresentação para várias pessoas daqui.

Estas últimas palavras foram pronunciadas em tom de manifesto pesar.

— Então o senhor não sabe praticamente nada a respeito de minha tia? — perguntou a jovem dama,
segura de si.

— Nada, a não ser o nome e o endereço — reconheceu o visitante.

Nem sabia se a sra. Sappleton era casada ou viúva. Um não sei quê indeterminável parecia sugerir a
existência de homens na casa.

— Pois a grande tragédia dela ocorreu há três anos — declarou a menina —, quer dizer, após a visita
da irmã do senhor.

— Tragédia? — perguntou Framton.

Naquele cantinho tranquilo de província parecia não haver lugar para tragédias.

— O senhor poderia perguntar por que deixamos esta porta-janela aberta numa tarde de outubro —
disse ela, indicando uma larga porta que dava sobre um relvado.
— Está muito quente para a estação — observou Framton —, mas será que essa porta tem algo que
ver com o drama?

— Foi por ela que, há três anos menos um dia, o marido de minha tia e seus dois jovens irmãos saíram
para a caça. Nunca voltaram. Ao atravessarem o brejo para chegar ao seu lugar favorito, onde costumavam
caçar narcejas, os três foram tragados por um pântano traiçoeiro. Naquele ano o verão tinha sido muito úmido,
o senhor sabe, e trechos seguros do caminho em outros anos cediam de repente sem dizer água-vai. E — o
que há de mais horrível — os corpos nunca foram encontrados.

Aqui a voz da menina perdeu o tom firme e tornou-se hesitante, humana:

— A pobrezinha da titia sempre pensa que eles um dia voltarão, eles e o pequeno sabujo castanho que
com eles se perdeu, e vão entrar pela porta, como habitualmente faziam. É por isso que a deixam aberta todas
as tardes, até o cair do crepúsculo. Pobre titia! Mais de uma vez me contou como eles foram embora, seu
marido com o impermeável branco sobre o braço, e Ronnie, seu irmão mais moço, cantando “Bertie, por que
estás pulando?”, com que habitualmente a agastava, porque ele dizia que aquilo a irritava muito. Sabe? Às
vezes, em noites tranquilas, silenciosas como esta, eu tenho uma espécie de calafrio: parece-me que os vejo
todos entrar por aquela porta.

Interrompeu-se, com um leve tremor. Foi para Framton verdadeiro alívio quando a tia irrompeu no
salão multiplicando desculpas por não haver aparecido antes.

— Espero que Vera o tenha divertido — disse.

— A conversa dela tem sido muito interessante — declarou Framton.

— Espero que a porta aberta não o esteja incomodando — disse a sra. Sappleton com vivacidade. —
Meu marido e meus irmãos vão chegar da caçada, e eles sempre entram por aqui. Hoje foram caçar narcejas
no paul, e vão sujar completamente os meus pobres tapetes. São coisas de homem, não é?

Continuou a tagarelar sobre a casa e a escassez de aves e as perspectivas de haver patos no inverno.
Para Framton tudo aquilo era simplesmente horrível. Fez um esforço desesperado, mas só em parte bem-
sucedido, a fim de encaminhar a conversa a outro assunto menos horroroso; sentia que a dona da casa só lhe
consagrava parte de sua atenção, pois seus olhares iam, sem parar, em direção à porta aberta e ao relvado.
Fora, na verdade, uma coincidência infeliz que o trouxera àquela casa precisamente naquele aniversário
trágico.

— Os médicos são unânimes em me aconselhar repouso absoluto, abstenção de qualquer excitação


mental e de qualquer exercício físico de certa violência — anunciou Framton, que sofria da ilusão, muito
espalhada, de que pessoas de todo estranhas a nós, ou conhecidas por acaso, ficam ávidas de conhecer até os
mínimos pormenores de nossas doenças e enfermidades, de sua causa e seu tratamento. — Eles só não estão
de acordo quanto ao regime — acrescentou.

— Não? — perguntou a sra. Sappleton num tom que ainda em tempo substituiu um bocejo.

Depois, de repente, seu rosto se aclarou num ar de atenção, mas não àquilo que Framton dizia.
— Afinal chegaram! — exclamou. — Justo à hora do chá. Mas não vê que estão cheios de lama até os
olhos?

Framton estremeceu de leve e voltou-se para a sobrinha com um olhar destinado a comunicar-lhe uma
compreensiva solidariedade. A mocinha estava com os olhos fixos na porta, cheios de horror e estupefação.
Num frio choque de medo inominável, Framton virou-se na sua poltrona e olhou para a mesma direção.
No crepúsculo cada vez mais escuro três vultos atravessavam o relvado em direitura à porta; os três
sobraçavam espingardas, e um deles tinha também uma capa branca, pendente de um dos ombros. Um sabujo
castanho, cansado, seguia-lhe as pegadas. Sem barulho chegaram à casa, até que uma voz moça e rouca se pôs
a cantar no lusco-fusco: — “Bertie, por que estás pulando?”
Framton agarrou compulsivamente a bengala e o chapéu; a porta do vestíbulo, o passeio de cascalho e
o portão da frente foram as etapas confusamente notadas de sua precipitada fuga. Um ciclista que vinha pela
estrada teve de se encostar à cerca para evitar uma colisão.

— Chegamos, querida — disse o da capa branca entrando pela porta. — Estamos cheios de lama, mas
quase toda seca. Mas quem foi que fugiu daqui à nossa chegada?

— Um homem esquisitíssimo, um certo sr. Nuttel — disse a sra. Sappleton. — Só sabia falar das
próprias doenças, e sumiu sem uma palavra de adeus ou de desculpa quando vocês entraram. Dir-se-ia que viu
um fantasma.

— Parece-me que foi o sabujo — disse calmamente a sobrinha. — Ele me contou que tinha horror a
tudo quanto é cachorro. Certa vez foi perseguido, num cemitério lá nas margens do Ganges, por uma matilha
de cães párias, e teve de passar a noite numa cova recém-aberta, com os bichos a rosnar, a espumar, a
arreganhar os dentes para ele. O bastante para a gente ficar com os nervos abalados.

Ela estava-se especializando em improvisar histórias.

EXERCÍCIOS

1) Esse texto é de qual tipo textual? Justifique com as características do tipo textual.

2) No início do conto, sabemos da viagem que Framton Nuttel faz para um retiro rural e da visita à Sr.
Sappleton.

a) O que leva o sr. Nuttel a fazer essa viagem?


b) Por quê ele foi visitar a sr. Sappletoon?
c) Como o sr. Nuttel se sente ao chegar à casa da sra. Sappleton? Identifique no texto um trecho que comprove
sua resposta.

3) Em que espaço a história acontece?

4) Releia o início do conto: “— Minha tia já vai descer, sr. Nuttel — disse uma jovem dama de 15 anos, muito
segura de si. — Enquanto isso, o senhor terá de me aturar.”

a) Qual o significado da expressão senhora de si?


b) O que essa expressão antecipa sobre a personalidade da personagem Vera e que o leitor percebe ao longo
do conto?
c) O sr. Nuttel tem uma personalidade oposta a de Vera? Justifique sua resposta.

5) Sobre as personagens do conto, responda as questões.

a) Quais são as principais personagens desse conto? Descreva-as.


b) No início da narrativa, Vera parece ser uma garota acolhedora. Essa impressão sobre a personagem se
mantém ao final da leitura? Explique.

6) No caderno indique as alternativas verdadeiras(V) e as falsas(F) a respeito do conto.

a) A Sra. Sappleton nega a morte do marido e dos irmãos; por isso a porta da casa fica o tempo todo aberta.
b) Ela deixa a porta aberta, pois os familiares vão retornar de uma caçada.
c) O Sr. Nuttel decide viajar para o campo para cuidar da saúde , mas não gosta das pessoas que o recebem
no local.
d) O Sr. Nuttel vai viver na zona rural para fugir de uma perseguição de um bando de vira-latas que prejudica
os nervos dele.

8) Em geral, nos contos, há um momento em que a tensão da narrativa alcança seu auge (clímax). Que trecho
corresponde a esse momento no conto lido. Explique.

8) De acordo de acordo com Vera, o que houve com a família de sua tia? A história contada por ela o sr. Nuttel
se confirma no desfecho? Justifique.

9) Qual é o foco narrativo do conto? Dê as características do tipo de narrador presente no texto.

10) Qual é a situação inicial da história e depois qual é o conflito?

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