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O livro Morangos Mofados, publicado em 1982, revela o estranho mundo

do ser humano numa história repleta de poesia e sonhos. É um conto em que o


autor trata da solidão, da dor e do fracasso que perturbam a humanidade em
quase todos os seus contos. Elea relatam personagens corrompidas por
drogas, paranóia, AIDS, esquizofrenia, depressão... Esse livro é uma boa
leitura, composta por histórias de diversos assuntos “tabus” na sociedade. A
obra está dividida em três partes: "O Mofo", composta por nove contos,
"Morangos", composto por oito contos, e "Morangos mofados". A história da
primeira parte, "Mofo", é sobre estar deprimido, com personagens tristes,
perdidos e negativos sobre a vida e alguns chegam a ser extremos. A segunda
parte, "Os Morangos", cria alguma expectativa na história, com personagens
ansiosos para melhorar e fazer algo por si mesmos. A última parte é a história
dos Morangos Mofados, que não me agradou muito por muitas das histórias
crescem numa escala de intensidade que parece estar relacionada a esse
conceito dos morangos e do mofo. Apesar das histórias diferentes, o livro ainda
é muito bem organizado.
Por ser um livro que relata sentimentos e situações que não costumam
ser relatadas no nosso dia a dia, alguns dos contos chegaram a trazer uma
certa sensação de “ansiedade”. Palavras fortes, contos fortes. Acho que a
maior característica deste livro é o diálogo, o pensamento e o sentimento.
Abordam as relações homo afetivas de uma maneira que nunca vi antes e de
uma maneira natural. Cada história é um passeio pela vida ou experiência,
sempre no limite, sempre em busca da perfeição.
No conto “O Dia em que Urano Entrou em Escorpião”, há um trecho que
diz: “Literalmente entrega-se a um esquecimento cego através de jogos sociais,
truques psicológicos, preocupações pessoais tão distantes da realidade de sua
condição que são formas de loucura - loucura assumida, loucura
compartilhada, loucura disfarçada e dignificada, mas de qualquer maneira
loucura” (p. 27- A negação da morte, Ernest Becker) “De qualquer forma, ficou
um silêncio cheio de becos até que um dos outros se moveu da janela para
virar o disco. E quando as bolhas de som começaram a estourar no meio da
sala todos pareceram mais aliviados, quase contentes outra vez” (p. 28).
Nesses trechos eu pude entender a incompreensão dos amigos quando o
garoto de blusa vermelha solta o “enigma” de que Urano estava entrando em
Escorpião (referência a zodíacos), e provavelmente é o melhor exemplo do
diálogo entre os personagens neste conto, ele simplesmente não ocorre já que
cada personagem monologa seu problema e é incompreendido pelos outros,
como se falasse outra língua ou simplesmente não dão a mínima para as falas
dos amigos. Outro fator importante e curioso dessa narrativa é que dos quatro
personagens, apenas um tem apenas uma definição que não muda ao longo
do conto, o rapaz da blusa vermelha e a moça de óculos. Os outros dois
meninos foram descrevidos por coisas relacionadas ao apartamento e suas
ações, seja a janela e a rua que se vê através dela, sejam as reflexões a
respeito do passado, sua relação com a carne de galinha e a própria obsessão
de estar sempre comendo.
Em “Terça Feira Gorda”, eu achei que havia muita informação para
absorver durante a leitura e não gostei da forma em que as coisas se
alavancaram rapidamente. Primeiro eles se encontram conversando e usam
drogas, chegam mais perto da areia, conversam, e usam mais drogas, depois
começam a ter relações no meio da praia e as pessoas começam a ver e
querer agredi-los. Um corre e o outro fica lá apanhando, deixando tudo meio
em suspenso e sem nexo deixar o homem sozinho após as coisas aumentarem
ao longo do conto. “Fechando os olhos então, como um filme contra as
pálpebras, eu conseguia ver três imagens se sobrepondo. Primeiro o corpo
suado dele, sambando, vindo em minha direção. Depois as Plêiades, feito uma
raquete de tênis suspensa no céu lá em cima. E finalmente a queda lenta de
um figo muito maduro, até esborrachar-se contra o chão em mil pedaços
sangrentos” (p. 57)
Por fim, creio que tudo o que eu senti e quis expressar eu pude
escrever. Muitos altos e baixos, estranhamentos e suspenses... Por mim, esses
assuntos retratados na maioria das narrativas deveriam ser abordados com
mais leveza na sociedade, com que pudéssemos acabar com esses tais
padrões e que tenhamos novos ensinamentos, aproximando os acasos a algo
mais natural no cotidiano. Um livro sensível. Uma obra cheia de referências às
artes de um modo geral. Até agora não entendi um ou outro conto, que talvez
deveria reler algumas vezes, mas o que entendi me causou no geral, boas
lidas. O autor faz vivermos dentro da história, contada nos mínimos detalhes,
com certeza, o mais encantador.

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