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Maysa Aparecida Leite de Brito N°12522888 Turma: 124212

Introdução aos Estudos Literários II Prof.ª: Andrea Saad Hossne

Projeto de análise e interpretação do texto “Nos olhos do intruso” de Rubens Figueiredo

I. Escolha do objeto e objetivo

O conto escolhido foi “Nos olhos do intruso” de Rubens Figueiredo, a história de um


homem que esbarrou com uma misteriosa versão mais nova e uma mais velha de si
mesmo. Esse caráter fantástico e o comportamento do narrador me chamaram a atenção
para escolher o conto.

As hipóteses iniciais dizem respeito ao ciclo da vida percebido no texto, como o


passado, presente e o futuro podem estar coexistindo, como os encontros do narrador
interferiram em sua vida. A ideia de corpos diferentes, mas uma mesma pessoa que vive
rotinas diferentes, mas que as memórias se misturam, e quando um se torna
efetivamente o outro, o corpo passado falece. Ou talvez apenas versões diferentes de si,
ao redor da sua vida, reaparecendo na mente do narrador, mas com um caráter fantástico
de suspense.

Outra percepção fornecida pela leitura é sobre a morte, sua relação com futuro e o que a
reação do narrador pode trazer para interpretação do texto, depois de encarar seu futuro
e reconhecer o fim iminente.

Ademais, o título do texto também levanta hipótese, pois pressupõe que alguém
assumiu a visão de outra pessoa, a visão do intruso. Nesse caso então, existiria alguma
versão do narrador que é intrusa, que não devia estar ali?

Ainda deve se pensar nos cenários do texto, a cidade do futuro, a barbearia e o teatro.
Qual a relação entre eles e os encontros? E o porquê teriam sido estes escolhidos pelo
autor da obra. Além disso, se os encontros seriam meras ilusões ocasionadas pelo
cenário, ou realmente um encontro entre presente e futuro/ passado e presente.
II. Percurso preliminar de leitura

Os elementos analisados diante das hipóteses foram o personagem, o espaço e o título.

Em relação à personagem, atentou-se ao seu comportamento com a sociedade, seus


sentimentos expostos, sua reação diante dos acontecimentos e sua decisão no fim do
conto. De início, nota-se um personagem que assume ações de outro, ele parece assentir,
com facilidade, o que desconhecidos apontam sobre ele. Tal ação dá indícios de que o
narrador se importa e muito com as pessoas ao seu redor, ele expõe a sensação que o
atinge nos determinador momentos da história, primeiro se sente acolhido, como amigos
de todos, depois ignorado e logo parte para outra cidade onde ele não vai encontrar essa
percepção negativa sobre si.

Sobre o espaço do conto, os ambientes que aparecem ao decorrer da narrativa, parecem


estar ligados com o futuro, abordado logo no primeiro parágrafo do texto, e há, ainda, a
relevância de ter sido nesses locais o encontro “passado/presente, presente/futuro” da
personagem, primeiro no teatro, depois na barbearia. Tais cenários podem reforçar a
ideia de ilusão da personagem, já que são locais com muitas pessoas e que somente lá
foram vistos os rostos de sua pessoa, o que pode nos levar a discussão de ser ou não
uma narrativa fantasiosa.

Por fim, o título precisa de atenção, pois parece denunciar uma característica da
personagem, “nos olhos do intruso”, um intruso está em lugar que não o pertence, e
quem assume a visão de outro, também está fora de si, então o título pode tratar das três
versões do personagem, uma sobrepondo a outra. Ou, ainda, se trata de nós, leitores,
que quando iniciamos a leitura de uma obra assumimos o olhar do narrador, e o leitor do
conto em questão, um conto em primeira pessoa, assume o ponto de vista do
personagem, portanto nós estaríamos assumindo seu ponto de vista e,
consequentemente, podemos afirmar que ele é o intruso da narrativa.

O conto de Rubens Figueiredo no fim levou aos pensamentos sobre a vida e a das
diferentes versões que assumimos no decorrer da nossa trajetória, sobre a percepção de
futuro e fim, e, principalmente, a respeito do que fazemos ao perceber a proximidade da
morte.
III. Levantamento Bibliográfico

MARTINHO, Cristina Maria Teixeira. A linguagem fantástica: uma experiência de


limites. Cadernos do CNLF, vol. XIV, No 4. USS, 2010

MEDEIROS, Marco Aurélio Pinheiro. O labirinto dos eus cambiantes: a questão da


identidade em “Eles eram muitos cavalos, de Luiz Ruffato”. UERJ, 2007.

MORICONI, Italo (organizador). Os cem melhores contos brasileiros do século. Rio de


Janeiro: Objetiva, 2001, pág. 540 – 543.

VELÁSQUEZ, Alexandra Britto da Silva. O duplo na literatura fantástica – análise


comparativa entre os contos de Allan Poe, Rubens Figueiredo e Sérgio Sant’Anna
segundo Tzevan Todorov em “Introdução à Literatura Fantástica” e Clément Rosset em
“O real e seu duplo”. II Colóquio “Vertentes do Fantástico na Literatura”. UNESP,
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BENJAMIN, Walter. O narrador: Considerações sobre a obra de Nikolai Leskov. In:


MAGIA e técnica, arte e política: Ensaios sobre literatura e história da cultura. 3. ed. [S.
l.]: Editora Brasiliense, 1987. v. 1, p. 197-221

CORTÁZAR, Julio. Alguns aspectos do conto. In: Valise de cronópio. São Paulo:
Perspectiva, 1974. cap. 6, p. 147- 163

BRANDÃO, Luiz Alberto. Conceitos de espaço literário. In: TEORIAS do espaço


literário. SP Perspectiva, Belo Horizonte, MG: FAPEMIG 2013. cap. 2, p. 47-72.

CANDIDO, Antonio. A personagem do romance. In: PERSONAGEM da ficção. São


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NUNES, Benedito. Do tempo real ao tempo imaginário; Os tempos da narrativa. In: O


TEMPO na narrativa. São Paulo: Ática, 1988. cap. 2,3 ; p. 16-37.

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