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E IMAGINÁRIO
*
Professora titular em: Universidade Federal de Santa Maria.
**
Pós-graduando em: Universidade Federal de Santa Maria.
ABSTRACT: Blindness, as a postmodern novel, raises through the
intertextuality that weaves it, several questions concerning human cultural identity,
especially the primacy of the visual in the West. In order to analyze some of these
intertextual instances, we will elect three main theme-imagery nuclei. The first relates
to the figure of the folk narrator, present in the novel as an index of the social
restructuration that is taking place, and as the assembler of different knowledges, a
living intertext, who assimilates personal or reported experiences and perpetuate them.
The second nucleus concerns to how the imagery in the novel resembles, inside Western
literary tradition, the ‘demonic imagery’ describe by the critic Northrop Frye, and how
this mode of representation establishes the general tone of the novel inside the lexical
and imagery field of animalism. Lastly, in the third nucleus, we will deal with
intertextuality in relation to three series of reference: the first one in reference to other
literary works; the second, to the presence of Christian imagery; and the third, to the
description of, or analogy to pictorial works of art. After the analysis, we concluded
that any substantial understanding of Ensaio Sobre a Cegueira necessarily requires a
mapping of the intertexts (or subtexts) that compose it. We perceive that the imagery
that constitutes the novel is in accordance not only with its theme, but also with
traditional Western literary and pictorial imagination, through which Saramago
discusses the primacy of vision in our culture.
1. INTRODUÇÃO
1
Esta e todas as outras ênfases, assinaladas pelo uso do itálico, são nossas.
conhecemos nós” (p. 39); “temos de reconhecer…” (p. 95). Quanto a referências
metalinguísticas, a consciência do narrador como relator de uma estória, percebemo-las
em passagens como: “há por aqui muitas afinidades, umas que já são conhecidas, outras
que agora mesmo se revelarão” (p. 67); “a dimensão extraordinária do cataclismo que o
relato se vem esforçando por descrever” (p. 99). Ao recontar o relato do velho da venda
preta sobre o mundo exterior, o narrador exerce sua maior interferência na narrativa,
não apenas reestruturando em suas próprias palavras o discurso, mas também
‘editorialmente’ declarando sua função de narrador e referindo-se a si mesmo como tal:
A partir deste ponto, salvo alguns soltos comentários que não puderam ser
evitados, o relato do velho da venda preta deixará de ser seguido à letra,
sendo substituído por uma reorganização do discurso oral, orientada no
sentido da valorização da informação pelo uso de um correcto e adequado
vocabulário. É motivo desta alteração, não prevista antes, a expressão sob
controlo, nada vernácula, empregada pelo narrador, a qual por pouco o ia
desqualificando como relator complementar, importante, sem dúvida, pois
sem ele não teríamos maneira de saber o que se passou no mundo exterior,
como relator complementar, dizíamos, destes extraordinários acontecimentos,
quando se sabe que a descrição de quaisquer factos só tem a ganhar com o
rigor e a propriedade dos termos usados. Voltando ao assunto…” (p. 122,
123)
4. INTERTEXTUALIDADES E ANALOGIAS
ideia de ter sido feito com bocados doutros sóis, Isso tem todo o aspecto de ser de um
holandês,” (p. 130); nesta descrição parecem mesclar-se três pinturas de Van Gogh,
Campo de Trigo com Corvos (1890) (seara e corvos), O Semeador (1888) (seara, corvos
e sol) e Campo de Trigo Verde com Ciprestes (1889) (seara e ciprestes). Em seguida, o
cego refere-se a um quadro de Goya: “mas havia também um cão a afundar-se, já estava
meio enterrado, o infeliz, Quando a esse, só pode ser de um espanhol, antes dele
ninguém tinha pintado assim um cão, depois dele ninguém mais se atreveu,” (p. 130),
descrição na qual identifica-se Cão Semi-Afundado (1821-1823). A próxima, “uma
carroça carregada de feno, puxada por cavalos, a atravessar uma ribeira, Tinha uma casa
à esquerda, Sim, Então é de inglês”, descreve uma pintura do artista inglês John
Constable, The Hay Wain (1821).
Também alude o cego a A Última Ceia (1495-1498), de Leonardo da Vinci: “E
estavam uns homens a comer, […] Os homens eram treze” (p. 130), e a O Nascimento
de Vênus (1484-1486), de Sandro Botticelli: “Também havia uma mulher nua, de
cabelos louros, dentro de uma concha que flutuava no mar, e muitas flores ao redor dela,
Italiano, claro” (p. 130, 131). Por fim, o cego conclui sua descrição com a cena de uma
batalha, que parece referir-se a Guernica (1937), de Pablo Picasso: “E uma batalha, […]
Mortos e feridos, É natural, mais tarde ou mais cedo todas as crianças morrem, e os
soldados também, E um cavalo com medo, Com os olhos a quererem saltar-lhe das
órbitas” (p. 131). Outra referência inclui ainda o quadro A Liberdade Guiando o Povo
(1830), de Eugène Delacroix, na cena em que a mulher do médico, “com os seios meio
5. CONCLUSÃO
REFERÊNCIAS