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Jhonata Roberto de
Aquino¹
O Foco narrativo, publicado pela editora ática em 1985, foi escrito por Ligia
Chiappini e faz parte da Série Princípios. A obra desenvolve os recursos estéticos
literários para construção de narrativas, dando subsídios para análise crítica do
texto ficcional narrativo.
O livro é dividido em quatro capítulos, o qual apresenta as ideias de alguns autores
sobre sobre a arte de narrar, de imitar a realidade, desde a concepção platônica, até
as ideias de Tzevetan Todorov.
A princípio, aborda a perspectiva narrativa de Platão e Aristóteles, o qual é sabido
que histórias são narradas no decorrer da história da humanidade e sempre houve
o intermédio de um narrador que poderia contar suas experiências pessoais ou
experiências vividas por outras pessoas.
"Desde sempre, entre os fatos narrados e o público, se
interpôs um narrador. No decorrer da HISTÓRIA, porém, as
HISTÓRIAS narradas pelos homens foram-se complicando, e
o NARRADOR foi mesmo progressivamente se ocultando, ou
atrás de outros narradores, ou atrás dos fatos narrados (...)
(Chiappini, p.5)
Sendo assim, é possível perceber que a autora pontua nas entrelinhas que a arte
de contar histórias faz parte do DNA da vida humana, pois é o ato de narrar que
está ligado ao homem desde que o mesmo construiu a consciência racional da sua
existência, como ser que pensa e que cria a realidade através do pensamento.
A partir dessa crítica, Foster indica que tudo é válido desde que apresente a
necessidade do tema e dos efeitos de sentido que se busca a partir da narração.
Ainda sim, Wayne Booth, no seu livro “A retórica da ficção”, quebra com a rigidez do
PONTO DE VISTA de Lubbock, uma vez que apresenta várias maneiras de contar
uma história e essa maneira de contar vai depender das intenções que busquem
romper com a realidade e a ilusão. Desse modo, o autor apresenta um tipo de uma
narrativa ideal, sendo aquela que busca transmitir valores.
Para o autor não há uma posição fixa ao narrar o texto, uma vez que esse narrador
pode está na periferia das ações, no centro deles ou em qualquer posição. É por
isso que esse narrador possui maior liberdade para jorrar seus conhecimentos.
Mais tarde, no século XVIII e no começo do século XIX, há o predomínio da
neutralidade das tendências naturalistas e esse modelo de narração começou a sair
de moda. Assim a narrativa começou a ganhar maior independência, a narração
caminhava como se narrasse a si mesma.
A segunda categoria fala em terceira pessoa, também faz uso do sumário, mas faz
uso da construção de cenas, de diálogos. A caracterização da personagem é feita a
partir do narrador que evoca os detalhes da personagem para o leitor. Sendo assim,
este narrador se distingue do narrador intruso, por ele não tecer comentários e
instruções sobre os comportamentos das personagens.
Friedman aponta que esse tipo de narrador é uma das alternativas do século XIX e
também vigora século XX e é muito apropriado ao estilo do romance policial
americano presente na década de trinta.
Friedman apresenta este narrador sem a mediação ostensiva de uma voz exterior.
Assim, esse narrador constrói suas evocações em primeira pessoa, mas vive as
situações narradas como uma personagem secundária. Logo, vivencia os
acontecimentos na periferia, conta aquilo que observa, a partir da sua leitura de
mundo, mas não conta os fatos a partir dos pensamentos dos demais personagens
envolvidos na trama.
A categoria narrativa descrita por Friedman como Onisciência seletiva múltipla não
busca apresentar necessariamente um narrador, já que não há um narrador, pois a
história parte do fluxo de consciência das personagens, com base nos
acontecimentos presentes no enredo. Nesse estilo de narração há o predomínio da
cena. Já na onisciência neutra é diferente, pois o autor traduz os pensamentos e
percepções da mente das personagens.
A defesa de Diderot do ROMANCE em seu ensaio, implica uma teoria aristotélica da ficção,
na medida em que a ficção teria o poder de revelar o ilusório do mundo em que vivemos,
alcançando o universal, pela mediação do particular. Essa linha de pensamento acaba
levando o autor a imergir na essência daquilo que busca descrever em seu texto narrativo.
Ademais, bebendo dessa fonte, há uma teoria do ROMANCE, por exemplo de linha
marxista, que desenvolve essa idéia, e o caso de Lukács diz que o romance nos faz
desvendar a totalidade da realidade ficcional, sendo levado pela própria autonomia e
coerência da ficção criada, a conhecer mais profundamente a realidade que o texto reflete;
não como um simples espelho, mecanicamente, mas através de muitas mediações por ele
trabalhadas. Nesse caso, para Lukács, a literatura teria a capacidade de dar a conhecer
para mover, isto é, para levar o leitor a observar o que está ligado ao seu imaginário, uma
vez que vislumbrou pela ficção uma realidade mais profunda.
Chiappini diz com base nesse ideal de romance, ainda ilustrado, está presa à idéia da
coerência, da totalidade e da verossimilhança, e é justamente o que impediu um como
Lukács de entender o projeto das vanguardas que rompem com a perspectiva coesa do
romance do século XIX,
Portanto, Chiappini pontua que a relação da ficção com a história é de que o olhar
apresentado por Aristóteles não foi abandonado. Esse olhar sempre retorna, reaparece,
implícita ou explicitamente, seja na evocação dos romancistas seja por intermédio dos
teóricos da literatura. A diferença é que agora não se desconfia somente do discurso da
ficção.