A Teoria Literária nasce da racionalização da literatura, da necessidade humana
de tornar mais palpável e mais acessível o descontínuo que a literatura proporciona. A expressão TL, como hoje a entendemos, surge no século XX e passa a ocupar posição importante no cenário dos estudos literários. A TL corresponde a uma reorientação dos estudos literários em relação ao seu rumo oitocentista. No entanto, a consolidação definitiva do emprego deste termo se deve pela difusão de um livro no ambiente universitário: a obra Teoria da Literatura, publicada em 1949, por René Wellek e Austin Warren. Esse compêndio rejeitava qualquer julgamento subjetivo do texto literário e enfatizava o estudo analítico, ou seja, a leitura imanente do texto. A partir da sua publicação, a TL acentuou a natureza verbal, linguística, da literatura, concentrando seus esforços na própria literatura e nâo em seus entornos. Apesar de ser recente o emprego da expressão TL e da inclusão da TL como disciplina universitária do currículo dos cursos de Letras, o olhar teórico sobre a literatura é muito antigo. Vejamos.
PLATÃO (428 AC)
Para Platão, filosofia é filosofar. É a procura do ser e a realização do homem nesta procura. O filósofo acredita que “o ser está no valor e não o valor no ser”, ou seja, que o verdadeiro valor não está no ser, mas no mundo das idéias. A arte é desvalorizada porque é distanciada do mundo das idéias: a arte é simulacro de terceiro grau. Na República considera que o artista é um imitador porque O Ser Supremo é o primeiro a criar a idéia, por exemplo, da mesa, o segundo é o marceneiro que fabrica a mesa e o terceiro, finalmente, o artista ao representá-la.
ARISTÓTELES (384 – 322 AC)
Para Aristóteles a filosofia não é exatamente a vida do homem, mas uma ciência singular que sistematiza outras ciências. O objeto da filosofia é o ser. E o valor está no ser, que é a substância. A crença na validade do ser permite que ele adote uma leitura do mundo e da arte distinta da visâo platônica. Para ele a arte é autônoma, dissociada de outras formas de vida. A obra que mais apresenta o pensamento estético de Aristóteles é A arte poética. Dividida em 26 capítulos, chegou-nos incompleta pois só resta o tratado sobre a tragédia. Apesar de estar incompleta, dá-nos a chave para entender todos os gêneros literários. Para E. Querin, “À imortalidade de Aristóteles pode-se já dizer que seriam suficientes as poucas páginas da Poética”. 1. MIMÉSIS
A mimésis é um termo grego geralmente traduzido como imitação. Não se trata
de um conceito literário, mas de um conceito filosófico para explicar a arte. Imitação em que sentido? A dificuldade está relacionada à inclusão deste conceito nos dois maiores sistemas filosóficos gregos: o platônico e o aristotélico. a) Para Platão a mimésis é imitação, uma necessidade humana de manifestar a realidade por imagens, além de possibilitar o conhecimento das idéias presentes nas coisas. b Para Aristóteles a mimésis é recriação e ocupa um lugar central para caracterizar a natureza da literatura já que está ligada ao núcleo do fazer poético. Imitar, portanto, é sempre um processo revelador.
2. CATÁRSIS
A catársis está profundamente ligada à mimésis. Aristóteles ao definir a
tragédia, alude aos efeitos que ela produz nos espectadores: “A tragédia é uma imitação da ação, elevada e completa, dotada de extensão, numa linguagem temperada, com formas diferentes em cada parte, atuando os personagens e não mediante narração, e que, por meio da compaixão e do temor, provoca a purificação de tais paixões.” O termo catársis é um termo técnico usado pela medicina do tempo de Aristóteles, significando purgação. Também era utilizado na linguagem religiosa como sinônimo de expiação ou purificação. Analogicamente se usa também em sentido psíquico, como processo pelo qual se purgam as paixões ou tensões da alma. Quando a mimésis está inteiramente desabrochada há catársis, o grau mais alto de libertação promovido pela criação artística. Para Aristóteles a função catártica da literatura absolve os poetas da condenação platônica.
3. VEROSSIMILHANÇA
(vero-símil- semelhante ao real). Para Aristóteles “ a obra do poeta não
consiste em contar o que aconteceu, mas sim coisas quais podiam acontecer, possíveis do ponto de vista da verossimilhança ou da necessidade”. Se o poeta cria, a verossimilhança é a coerência interna da obra, não a imitação da realidade. Portanto, narrar o que aconteceu é ofício do historiador; narrar o que é possível segundo a verossimilhança é ofício do poeta.
4. GÊNERO LITERÁRIO
é uma categoria de composição literária. A classificação das obras literárias
pode ser feita de acordo com critérios semânticos, sintáticos, fonológicos, formais, contextuais e outros. A distinções entre os gêneros e categorias são flexíveis, muitas vezes com subgrupos. Na história, houve várias classificações de gêneros literários, de modo que não se pode determinar uma categorização de todas as obras seguindo uma abordagem comum. A divisão clássica é, desde a Antiguidade, em três grupos: narrativo ou épico, lírico e dramático. Essa divisão partiu dos filósofos da Grécia antiga, Platão e Aristóteles, quando iniciaram estudos para o questionamento daquilo que representaria o literário e como essa representação seria produzida. Essas três classificações básicas fixadas pela tradição englobam inúmeras categorias menores, comumente denominadas subgêneros.