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INTERPRETAÇÃO DE TEXTOS

Narração
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TIPOLOGIA TEXTUAL – NARRAÇÃO

Existem cinco grandes grupos importantes de tipologia textual, gêneros textuais que se
apoiam nesses tipos: narrativo, descritivo, dissertativo (que pode ser expositivo ou argumen-
tativo), injuntivo (instrucional) e preditivo.

TIPOLOGIA TEXTUAL: NARRAÇÃO

A Narração é o desencadeamento de ações envolvendo personagens num determinado


tempo e num determinado espaço. Há outros aspectos, mas estes são os fundamentais. O
espaço pode variar de acordo com a proposta de quem redige. “Narrar é contar uma história”,
é um bom conceito.
Há um detalhe fundamental em relação à narração, que é cobrado por todas as bancas
executoras de concursos públicos: o foco narrativo, a posição escolhida pelo narrador para
desencadear essas ações, os fatos.
5m

→ Quanto ao foco narrativo ─ a posição escolhida pelo narrador para desencadear os


fatos ─, podem-se caracterizar três tipos básicos de narrador.
a) Narrador-personagem: 1ª pessoa/ O narrador participa dos fatos explicitados.
Ex.: Eu e meu avô conversávamos sobre o passado. Fiquei a pensar sobre a rápida pas-
sagem do tempo.
Na obra “Dom Casmurro”, de Machado de Assis, a história é contada apenas por Bentinho, a
história não é contada também por Capitu. O narrador personagem é a primeira pessoa do singular.
b) Narrador-observador: 3ª pessoa/ O narrador apenas observa os fatos explicitados.
Ex.: Margarida e Olímpico estavam sentados em um tronco. Conversavam sobre a possi-
bilidade de casarem-se.
c) Narrador-onisciente: 3ª pessoa/ Sabe tudo: além de observar os fatos explicitados,
conhece intrinsecamente as personagens.
Ex.: Regina Célia despediu-se de Gomes. Naquele momento, ela precisou de muita
força para suportar a ânsia que lhe invadia o peito.
ANOTAÇÕES

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Na obra “São Bernardo”, de Graciliano Ramos”, a posição escolhida pelo narrador é o


de primeira pessoa do singular (narrador-personagem). Por ser uma narrativa em primeira
pessoa do singular é possível caracterizar o narrador como onisciente? Não existe onisciência
em primeira pessoa, se existir, será em terceira pessoa.
O onisciente sabe, conhece os fatos, ele não tem uma impressão da realidade interna das
10m personagens: ele conhece intrinsecamente as personagens, sabe os elementos psicológicos
da personagem.
Transformando o narrador onisciente em narrador observador:
Regina Célia despediu-se de Gomes. Naquele momento, PARECE QUE ela precisou de
muita força para suportar a ânsia que lhe invadia o peito.

→ Tipos de Discurso
a) Discurso direto
Características:
-- fala fiel dos interlocutores ou das personagens;
-- frequentemente, um verbo dicendi (falar, dizer, responder, afirmar, indagar, per-
guntar e outros);
O verbo dicendi indica elocução.
-- na ausência do verbo dicendi, um sinal de pontuação: dois pontos, travessão,
aspas ou mudança de linha.
Ex.: Malvina aproximou-se de manso e, sem ser pressentida para junto da cantora, colo-
cando-se por detrás dela, esperou que terminasse a última copla.
— Isaura!... disse ela pousando de leve a delicada mãozinha sobre o ombro da cantora.
— Ah! É a senhora?! — respondeu Isaura, voltando-se sobressaltada.
— Não sabia que estava aí me escutando. (Bernardo Guimarães. A Escrava Isaura)

b) Discurso indireto
15m Características:
-- fala não visível das personagens, mas explicitada pelo narrador (numa oração
subordinada substantiva);
-- verbo dicendi;
-- frequentemente, terceira pessoa na oração subordinada substantiva.
ANOTAÇÕES

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Ex.: ao som de sua voz, ela despertou amedrontada, mas logo sorriu e toda a sala pareceu
sorrir com ela. Pôs-se de pé, as mãos ajeitando os trapos que vestia, humilde e clara como um
pouco de luar. Nacib então disse que ela poderia dormir, que não precisava se preocupar.
(Jorge Amado. Gabriela)
Nacib então disse que (que, conjunção integrante que introduz uma oração subordinada
substantiva objetiva direta).
O narrador incorporou a fala da personagem à sua estrutura por meio do conectivo.

c) Discurso indireto livre ou semi-indireto


Características:
-- falta do verbo dicendi, dois pontos, travessão ou aspas;
-- fala não visível das personagens, cuja voz parece confundir-se com a do narrador;
-- períodos livres (sem elo subordinativo).
20m
Ex.: Fabiano escutou, ouviu o rumor do chumbo que se derramava no cano da arma, as
pancadas surdas da vareta na bucha. Suspirou. Coitadinha da Baleia. (Graciliano Ramos.
Vidas Secas)

Tarde de verão, é levado ao jardim na cadeira de braços — sobre a palhinha dura a capa
de plástico e, apesar do calor, manta xadrez no joelho. Cabeça caída no peito, um fio de baba
no queixo. Sozinho, regala-se com o trino da corruíra, um cacho dourado de giesta e, ao arre-
pio da brisa, as folhinhas do chorão faiscando— verde, verde! Primeira vez depois do insulto
cerebral aquela ânsia de viver. De novo um homem, não barata leprosa com caspa na sobran-
celha — e, a sombra das folhas na cabecinha trêmula, adormece. Gritos: Recolha a roupa.
Maria, feche a janela. Prendeu o Nero? Rebenta com fúria o temporal. Aos trancos João ergue
o rosto, a chuva escorre na boca torta. Revira em agonia o olho vermelho— é uma coisa, que
a família esquece na confusão de recolher a roupa e fechar as janelas? (Dalton Trevisan. Ah,
é? Rio de Janeiro: Record, 1994. p. 67 (com adaptações).
25m

Graciliano Ramos, Clarice Lispector e Dalton Trevisan utilizam muito o discurso indireto livre.
ANOTAÇÕES

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EXERCÍCIOS DE FIXAÇÃO
1. (CÂMARA/CONSULTOR) Em relação ao texto acima, julgue os itens seguintes.
1) No texto, predominantemente narrativo, ocorrem tanto o discurso direto como o dis-
curso indireto livre.
2) A escassez de verbos nas duas primeiras frases do texto e o uso de forma verbal na
voz passiva realçam a situação de imobilidade e fragilidade do personagem em foco.
3) Por tratar-se de narrativa em terceira pessoa, o texto apresenta, além do relato das
ações, alguns comentários do narrador, sem perscrutar o pensamento do persona-
gem principal.
4) O uso das formas verbais “ergue” (linha 6) e “Revira” (linha 7), denotativas de mo-
vimento, indica a recuperação física do personagem, decorrente da retomada da
“ânsia de viver” (linha 4).
5) O prazer proporcionado pela percepção sensorial de pássaro e plantas contribui
para que o personagem se sinta revigorado e recupere sua autoestima.

COMENTÁRIO
O narrador, além de observador, é onisciente e o redator tanto se utiliza do discurso direto
quanto do discurso indireto livre.
1. No texto, predominantemente narrativo (contém alguns trechos descritivos), ocorrem
tanto o discurso direto como o discurso indireto livre.
2. A escassez de verbos nas duas primeiras frases do texto e o uso de forma verbal na voz
30m passiva realçam a situação de imobilidade e fragilidade do personagem em foco.
Tarde de verão, é levado ao jardim na cadeira de braços — sobre a palhinha dura a capa de
plástico e, apesar do calor, manta xadrez no joelho. Cabeça caída no peito, um fio de baba
no queixo.
A voz não é ativa, é passiva, ele não leva, ele é levado face a sua imobilidade. A escassez
de verbos denota a falta de ações. Narrar é desencadear ações. O personagem pratica, não
desencadeia ações, ela sofre.
ANOTAÇÕES

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3. Por tratar-se de narrativa em terceira pessoa (narrador observador), o texto apresenta,


além do relato das ações, alguns comentários do narrador, perscrutando (vasculhando)
o pensamento do personagem principal. Ele conhece intrinsecamente O personagem, é
onisciente.
4. O uso das formas verbais “ergue” (linha 6) e “Revira” (linha 7), denotativas de movimento,
indica a recuperação INTERNA do personagem, decorrente da retomada da “ânsia de viver”
(linha 4).
5. O prazer proporcionado pela percepção sensorial de pássaro e plantas contribui para que
o personagem se sinta revigorado e recupere sua autoestima.

GABARITO
1. 1:C; 2:C; 3:E; 4:E; 5: C

�“A força não provém da capacidade física. Provém de uma vontade indomável.”
(Mahatma Gandhi)

�Este material foi elaborado pela equipe pedagógica do Gran Cursos Online, de acordo com a aula
preparada e ministrada pelo professor Fernando Moura.
A presente degravação tem como objetivo auxiliar no acompanhamento e na revisão do conteúdo
ministrado na videoaula. Não recomendamos a substituição do estudo em vídeo pela leitura
exclusiva deste material.

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