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DIÁRIO DA REPÚBLICA

Quarta-feira, 14 de Julho de 2010 I Série — N.º 131

ÓRGÃO OFICIAL DA REPÚBLICA DE ANGOLA


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SUMÁRIO O articulado da lei acima referida manifesta uma mera


transcrição, ainda assim muito limitada, do texto da Con-
Assembleia Nacional venção das Nações Unidas Sobre o Direito do Mar, não
regulando convenientemente os poderes, os direitos e os
Lei n.º 14/10: deveres que cabem ao Estado Angolano.
Regula o exercício de poderes, dos direitos e dos deveres do Estado
Angolano e define os limites dos espaços marítimos sob soberania e
jurisdição nacionais. — Revoga a Lei n.º 21/92, de 28 de Agosto — Convindo efectuar um combate eficaz nos espaços marí-
Lei que regula as Águas Interiores, o Mar Territorial e a Zona
Económica Exclusiva. timos sob soberania e jurisdição nacionais ou no alto mar, ao
contrabando, às descargas operacionais não controladas, ao
Lei n.º 15/10: crescente número de infracções às leis e aos regulamentos
Lei Quadro do Orçamento Geral do Estado. — Revoga a Lei n.º 9/97, aduaneiros, fiscais, sanitários e de imigração;
de 17 de Outubro, bem como todas as normas que disponham em
contrário ao estabelecido na presente lei.
Reconhecendo-se a necessidade urgente de uma lei dos
espaços marítimos de Angola, que estabeleça uma verdadeira

ASSEMBLEIA NACIONAL
«política para o mar», que determine a extensão dos espaços
marítimos sob soberania e jurisdição nacionais, e que define
——— os poderes que o Estado Angolano neles deva exercer e no
Lei n.º 14/10 alto mar;
de 14 de Julho
A Assembleia Nacional aprova, por mandato do povo,
A Convenção das Nações Unidas Sobre o Direito do Mar nos termos da alínea b) do artigo 161.º e da alínea d) do n.º 2
foi aprovada em Montego Bay, na Jamaica, a 10 de Dezem- do artigo 166.º, ambos da Constituição da República de
bro de 1982 e a República de Angola subscreveu-a nessa Angola, a seguinte:
mesma data.
LEI DOS ESPAÇOS MARÍTIMOS
A República de Angola ratificou a Convenção das Nações
Unidas Sobre o Direito do Mar, no dia 5 de Dezembro
CAPÍTULO I
de 1990.
Disposições Gerais

A Lei n.º 21/92, de 28 de Agosto, que regula as Águas ARTIGO 1.º


Interiores, o Mar Territorial e a Zona Económica Exclusiva, (Objecto)
foi produzida a menos de dois anos após a ratificação da Con-
venção das Nações Unidas Sobre o Direito do Mar, num con- A presente lei regula o exercício de poderes, dos direitos
texto de escasso conhecimento sobre o espírito e a letra da e dos deveres do Estado Angolano e define os limites dos
sua regulação. espaços marítimos sob soberania e jurisdição nacionais.
1384 DIÁRIO DA REPÚBLICA

ARTIGO 2.º c) «Autoridade» — a Autoridade Internacional dos


(Âmbito)
Fundos Marinhos, constituída, nos termos da
Convenção das Nações Unidas Sobre o Direito
1. A presente lei aplica-se em todos os espaços marítimos
do Mar;
da extensão do território nacional e para além do alto mar,
nos termos da Convenção das Nações Unidas Sobre o Direito d) «Convenção» — a Convenção das Nações Unidas
do Mar. Sobre o Direito do Mar, de 10 de Dezembro
de 1982;
2. O disposto na presente lei não prejudica os poderes e) «costa» — a margem terrestre imediatamente adja-
exercidos pelo Estado Angolano nos espaços marítimos de cente ao mar, incluindo todas as formações insu-
estados terceiros ou em espaços marítimos específicos, nos lares de reduzida dimensão, designadamente
termos definidos no direito internacional. baixios a descoberto e instalações portuárias per-
manentes;
ARTIGO 3.º f) «ilha artificial» — qualquer área de terra criada pelo
(Espaços marítimos sob soberania e jurisdição nacionais)
homem, rodeada de água, que fica a descoberto
Os espaços marítimos sob soberania e jurisdição nacio- na praia-mar;
nais são os seguintes:
a) «instalação ou estrutura marinha»:
a) as águas interiores;
b) o mar territorial; 1. Qualquer navio e qualquer âncora, cabo de âncora ou
c) a zona contígua; aparelho com eles relacionado.
d) a zona económica exclusiva;
e) a plataforma continental.
2. Qualquer unidade de perfuração, plataforma de
ARTIGO 4.º
exploração, instalação submarina, estação de bombagem,
(Interpretação) alojamento, estrutura de armazenagem, plataforma de carga
ou aterragem, draga, guindaste flutuante, assentamento
As disposições da presente lei são interpretadas em con- de tubagem ou outra barca ou oleoduto, e qualquer âncora,
formidade com os princípios e normas do direito internacio-
cabo de âncora ou aparelho utilizado em ligação com eles.
nal, designadamente os previstos na Convenção das Nações
Unidas Sobre o Direito do Mar, de 10 de Dezembro de 1982.
3. Qualquer estrutura flutuante para fins de actividades
ARTIGO 5.º de aquicultura, inclusive instalações de aquicultura em que as
(Termos técnicos) estruturas de produção se encontram sustentadas, na coluna
de água por sistemas de flutuação.
Para efeitos da presente lei, entende-se por:
g) «linha equidistante entre dois Estados» — a linha
a) «Alijamento»: constituída por pontos equidistantes dos pontos
mais próximos das linhas de base de cada um dos
1. Qualquer lançamento deliberado, no mar, de detritos Estados;
ou outras matérias, a partir de embarcações, de aeronaves, de h) «linha de base» — a linha de baixa-mar ao longo da
plataformas ou de outras construções. costa, representada nas cartas náuticas oficiais de
maior escala;
2. Qualquer afundamento deliberado, no mar, de embar- i) «linha loxodrómica» — a curva esférica que inter-
cações, de aeronaves, de plataformas ou de outras constru- cepta os planos meridianos em ângulo constante;
ções. j) «linha recta» — a linha correspondente a uma linha
loxodrómica;
3. O termo «alijamento» não inclui, para os efeitos da pre-
k) «milha náutica» — a distância correspondente a
sente lei, as actividades previstas na alínea b) do n.º 5 do
1852m;
artigo 1.º da Convenção das Nações Unidas Sobre o Direito
do Mar. l) «navio» — qualquer tipo de navio, embarcação,
barco ou bote, concebido, usado ou apto a ser
b) «área» — o leito do mar, os fundos marinhos e o usado, exclusiva ou parcialmente, para a nave-
seu subsolo situados para além dos limites da gação marítima, independentemente do método
jurisdição nacional; de propulsão ou da falta deste;
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m) «navio de guerra» — qualquer navio pertencente CAPÍTULO II


às forças armadas de um Estado, que ostente Limites dos Espaços Marítimos
sinais exteriores próprios de navios de guerra da
SECÇÃO I
sua nacionalidade, sob o comando de um oficial Linha de Base
devidamente designado pelo governo do Estado
ARTIGO 6.º
e cujo nome figure na correspondente lista de ofi- (Linha de base normal)
ciais ou seu equivalente e cuja tripulação esteja
submetida às regras da disciplina militar; A linha de base normal é a linha de baixa-mar ao longo da
n) «passagem inofensiva» — a passagem efectuada costa, representada nas cartas náuticas oficiais de maior escala.
sem que se prejudique à paz, à boa ordem ou
ARTIGO 7.º
à segurança do Estado costeiro, em conformi- (Linhas de base rectas)
dade com a Convenção e demais normas de direito
internacional; As linhas de base rectas e as linhas de fecho adoptadas
o) «princípio da gestão sustentável» — a obrigação pelo Estado Angolano são definidas em acto legislativo pró-
imposta ao Estado Angolano em considerar as prio.
necessidades económicas das comunidades cos- SECÇÃO II
Zonas Marítimas
teiras que vivem da pesca e as necessidades
especiais dos países em desenvolvimento; SUBSECÇÃO I
Mar Territorial
p) «princípio do máximo rendimento constante» — a
obrigação imposta ao Estado Angolano a não pôr ARTIGO 8.º
(Limite exterior do mar territorial)
em risco, pelo excesso de captura, as espécies
vivas existentes na Zona Económica Exclusiva;
O limite exterior do mar territorial é a linha cujos pontos
q) «poluição do meio marinho» — a introdução, pelo distam 12 milhas náuticas do ponto mais próximo das linhas
homem, directa ou indirectamente, de substân- de base.
cias ou de energia no meio marinho, incluindo os
estuários, sempre que a mesma provoque ou SUBSECÇÃO II
Zona Contígua
passa vir a provocar efeitos nocivos, tais como
danos aos recursos vivos e à vida marinha, riscos ARTIGO 9.º
(Limite exterior da zona contígua)
à saúde do homem, entrave às actividades marí-
timas, incluindo a pesca e as outras utilizações
O limite exterior da zona contígua é a linha cujos pontos
legítimas do mar, alteração da qualidade da água distam 24 milhas náuticas do ponto mais próximo das linhas
do mar, no que se refere à sua utilização e dete- de base.
rioração dos locais de recreio;
r) «recursos marinhos vivos» — todos os organismos SUBSECÇÃO III
Zona Económica Exclusiva
bióticos de ecossistemas aquático incluindo os
recursos genéticos, organismos e suas partes, ARTIGO 10.º
(Limite exterior da zona económica exclusiva)
populações em especial os mamíferos aquáticos,
pássaros aquáticos, anfíbios, peixes equinodermos,
O limite exterior da zona económica exclusiva é a linha
crustáceos, moluscos, corais e todas as formas de cujos pontos distam 200 milhas náuticas do ponto mais pró-
vida oceânicas; ximo das linhas de base.
s) «recursos marinhos não-vivos» — todos e quais-
quer recursos oceânicos que não sejam vivos; SUBSECÇÃO IV
Plataforma Continental
t) «sistema de autoridade marítima» — o conjunto
dos órgãos nacionais que constituem a Autori-
ARTIGO 11.º
dade Marítima Angolana; (Limite exterior da plataforma continental)
u) «zero hidrográfico» — o nível de referência da
linha de baixa-mar das cartas náuticas oficiais O limite exterior da plataforma continental é definido da
angolanas. seguinte forma:
1386 DIÁRIO DA REPÚBLICA

a) a linha cujos pontos definem o bordo exterior da CAPÍTULO IV


margem continental ou a linha cujos pontos dis- Poderes do Estado Angolano
tam 200 milhas náuticas do ponto mais próximo
SECÇÃO I
das linhas de base, nos casos em que o bordo exte- Âmbito dos Poderes e Entidades Competentes
rior da margem continental não atinja essa dis-
tância; ARTIGO 15.º
(Âmbito dos poderes)
b) a linha traçada de conformidade com os critérios
estabelecidos no artigo 76.º da Convenção das
Os poderes a exercer pelo Estado Angolano no mar com-
Nações Unidas Sobre o Direito do Mar.
preendem, sem prejuízo do estabelecido em legislação espe-
cial, aqueles que estejam consagrados:
CAPÍTULO III
Fronteiras Marítimas e Coordenadas Geográficas
a) em normas e em princípios do direito internacional
SECÇÃO I
que vinculam o Estado Angolano;
Fronteiras Marítimas Norte e Sul b) nas disposições da presente lei.

SUBSECÇÃO I ARTIGO 16.º


Fronteira Marítima Norte (Entidades competentes)

ARTIGO 12.º
(Delimitação das fronteiras marítimas ao Norte)
O exercício da autoridade do Estado Angolano nos espa-
ços marítimos sob a sua soberania e jurisdição e no alto mar,
As fronteiras marítimas ao Norte do Estado Angolano nos termos definidos nos artigos da presente lei e em legis-
com os Estados com costas adjacentes, salvo se de outro lação complementar, compete às entidades, aos serviços e aos
modo for estabelecido por Convenção Internacional ou outra organismos que exercem o poder de autoridade marítima no
prática for adoptada a título provisório, são constituídas pela quadro do Sistema de Autoridade Marítima Angolana.
linha equidistante.
SECÇÃO II
SUBSECÇÃO II Dever de Cooperação
Fronteira Marítima Sul
ARTIGO 17.º
ARTIGO 13.º (Dever de cooperação)
(Delimitação da fronteira marítima Sul)

A fronteira marítima Sul do Estado Angolano é delimitada Todas as entidades e todos os serviços ou organismos do
pelo Tratado de Delimitação de Fronteiras Marítimas, cele- Estado que exercem o poder de autoridade marítima no qua-
brado com a República da Namíbia, aos 4 de Julho de 2002. dro do Sistema de Autoridade Marítima têm o dever de coo-
perar entre si, no sentido de serem assegurados, na medida
SECÇÃO II das suas necessidades e disponibilidades, os meios adequados
Coordenadas Geográficas
ao cumprimento das respectivas missões.
ARTIGO 14.º
(Aprovação e depósito) SECÇÃO III
Competência de Jurisdição nas Águas Interiores
1. Em conformidade com o que dispõe a Convenção das
ARTIGO 18.º
Nações Unidas Sobre o Direito do Mar são aprovadas por
(Natureza jurídica dos poderes exercidos nas águas interiores)
acto legislativo próprio:

a) as listas relevantes de coordenadas geográficas refe- O Estado Angolano exerce, nas águas interiores, sobera-
rentes às linhas de base rectas, aos limites exte- nia idêntica à exercida sobre a parte emersa da crusta terres-
riores do mar territorial, da zona contígua, da tre.
zona económica exclusiva e da plataforma conti-
nental; ARTIGO 19.º
(Competência de jurisdição nas águas interiores)
b) as listas de coordenadas geográficas referentes às
linhas a que se refere o artigo 14.º da presente lei.
O Estado Angolano exerce plenamente a sua jurisdição
2. As listas de coordenadas geográficas referidas no pre- nas águas interiores em conformidade com o que dispõe o
sente artigo são depositadas junto do Secretário Geral das direito internacional convencional e o direito interno civil, e
Nações Unidas. criminal.
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ARTIGO 20.º artigo anterior, com antecedência não inferior


(Critério pessoal)
a 30 dias;
O Estado Angolano exerce plena jurisdição sobre a d) «entrada por razão de força maior» — aquela que
actuação individual dos tripulantes dos navios e das embar- se realiza sem autorização prévia das autoridades
cações não nacionais nas águas interiores em sede do direito angolanas competentes, sendo que, quatro horas
interno civil e criminal nos mesmos moldes em que a exerce antes da entrada do navio em águas territoriais, as
sobre terra firme, nos termos das suas leis e regulamentos autoridades do porto a escalar, sejam avisadas da
internos. ocorrência e as razões desse procedimento. Este
tipo de entrada ocorre, eventualmente, no caso de
ARTIGO 21.º avarias técnicas de grande envergadura, fortes
(Critério material)
tempestades ou necessidade de emergência
médica.
O Estado Angolano exerce plena jurisdição sobre a
actuação do próprio navio nas águas interiores em sede do
2. A entrada dos navios envolvidos em actividades
direito interno civil e criminal nos mesmos moldes em que a
comerciais, realiza-se de acordo com a legislação em vigor.
exerce em terra firme, nos termos das suas leis e regulamen-
tos internos. SECÇÃO V
Competência de Jurisdição no Mar Territorial
SECÇÃO IV
Entrada de Navios Estrangeiros em Águas Territoriais ARTIGO 24.º
(Natureza jurídica dos poderes exercidos no mar territorial)
ARTIGO 22.º
(Poderes do Estado) 1. O Estado Angolano exerce, sobre o mar territorial,
direitos de soberania, com as limitações decorrentes da Con-
A entrada e permanência de navios militares, navios ofi- venção das Nações Unidas Sobre o Direito do Mar e demais
ciais, navios não envolvidos em actividades comerciais, nas normas do direito internacional.
águas territoriais da República de Angola, realiza-se através
da autorização de entrada obtida por via diplomática a dili- 2. O Estado Angolano exerce soberania plena e, por isso,
genciar entre o Estado Angolano e o Estado de bandeira do idêntica a que exerce nas águas interiores e em terra firme,
respectivo navio. quer sobre o espaço aéreo sobrejacente ao mar territorial quer
quanto ao seu solo e subsolo.
ARTIGO 23.º
(Tipos de entrada) ARTIGO 25.º
(Competência de jurisdição no mar territorial)
1. O Estado Angolano prevê as seguintes entradas:
O Estado Angolano exerce a sua jurisdição no mar terri-
a) «entrada de visita oficial» — aquela que ocorre por torial sob o critério pessoal, em relação à actuação individual
motivo de participar em comemorações de rele- dos tripulantes e sob o critério material, em relação à actua-
vante acontecimento histórico, servindo para ção do próprio navio, nos estritos termos da Convenção das
reforço de amizade entre Estados e respectivos Nações Unidas Sobre o Direito do Mar.
povos de países amigos. A autorização para este
ARTIGO 26.º
efeito, deve ser concedida com uma antecedência (Critério pessoal)
não inferior a 120 dias, nos termos referidos no
artigo anterior; O Estado Angolano, nos termos do disposto nos n.º 1 dos
b) «entrada de visita não oficial» — aquela que ocorre artigos 27.º e 28.º, respectivamente da Convenção das
com objectivo de investigação científica, de Nações Unidas Sobre o Direito do Mar, exerce a sua jurisdi-
estudos, ou actividades similares, mediante ção sobre a actuação individual dos tripulantes dos navios e
autorização a ser concedida, nos termos do artigo embarcações não nacionais que passem pelo seu mar territo-
anterior, com uma antecedência não inferior rial, em sede exclusivamente criminal e desde que a sua
a 90 dias; infracção se subsuma num dos seguintes tipos:
c) «entrada por razões operacionais» — aquela que
ocorre com o objectivo de reabastecimento, de a) tenha consequências para o Estado Angolano;
descanso de pessoal ou por motivos táctico- b) possa perturbar a paz no País ou a ordem no mar
-operativos, a ser concedida, nos termos do territorial;
c) tenha sido solicitada a intervenção, pelo capitão do
navio, pelo representante diplomático ou pelo
funcionário consular do Estado de bandeira;
d) consubstancie tipologicamente tráficos ilícitos de
seres humanos, de estupefacientes ou de subs-
tâncias psicotrópicas.

ARTIGO 27.º
(Critério material)

1. O Estado Angolano exerce a sua jurisdição civil sobre


o navio estrangeiro que passe pelo seu mar territorial, em
casos excepcionais, só podendo tomar, sobre esse navio,
medidas executórias ou medidas cautelares em matéria civil,
por força de obrigações assumidas pelo navio, ou de respon-
sabilidades em que o mesmo haja incorrido durante a nave-
gação, ou devido a esta, quando da sua passagem por águas
do Estado Angolano.

2. O Estado Angolano exerce a sua jurisdição penal sobre


os navios que passam pelo seu mar territorial, nos termos dos
artigos 19.º a 23.º e 27.º da Convenção das Nações Unidas
Sobre o Direito do Mar, por violação do direito de passagem
inofensiva e nos casos em que igual regime é aplicável, con-
forme dispõem os artigos 21.º a 23.º e 27.º da Convenção.

ARTIGO 28.º
(Actividades de fiscalização e exercício do direito de visita)

O Estado Angolano, no âmbito das actividades de fisca-


lização, exerce, nos termos do direito internacional e do
direito interno o direito de visita no mar territorial sobre todos
os navios, embarcações ou outros dispositivos flutuantes,
nacionais ou estrangeiros, à excepção daqueles que gozem
de imunidade, quando existam motivos fundados para pre-
sumir que a passagem desse navio é prejudicial à paz, à boa
ordem ou à segurança nacional.

ARTIGO 29.º
(Passagem inofensiva)

1. Nos termos previstos pela presente lei, os navios de


I SÉRIE — N.º 131 — DE 14 DE JULHO DE 2010 1389

os tripulantes a bordo de navio estrangeiro na sua zona con- 2. O Estado Angolano, ao exercer a acção de fiscalização
tígua, se a actuação do tripulante do navio consubstanciar e considerando o disposto no artigo 110.º da Convenção das
uma infracção às suas leis ou regulamentos e, nesse caso, tal Nações Unidas Sobre o Direito do Mar, deve ter em conta
como no tráfico de estupefacientes previsto na alínea d) do que só deve fazê-lo quando tenha o mínimo de suspeita da
n.º 1 do artigo 27.º da Convenção citada, para o mar territo- prática eminente de qualquer infracção às suas leis ou regu-
rial, responsabiliza a actuação do navio. lamentos ou, então, que o navio pretenda demandar qualquer
dos seus portos.
ARTIGO 34.º SECÇÃO VII
(Critério material) Competência de Jurisdição na Zona Económica Exclusiva

1. O Estado Angolano exerce a sua jurisdição civil sobre ARTIGO 36.º


(Natureza jurídica dos poderes exercidos na zona económica
os navios estrangeiros que se achem na sua zona contígua, exclusiva)
nos termos da alínea a) do artigo 33.º da Convenção das
Nações Unidas Sobre o Direito do Mar, através de medidas O Estado Angolano, em conformidade com o que dis-
cautelares em matéria civil para evitar as infracções às leis e põem as alíneas a) e b) do n.º 1 do artigo 56.º da Convenção
regulamentos aduaneiros, fiscais, de imigração ou sanitários das Nações Unidas Sobre o Direito do Mar, exerce, sobre a
da República de Angola. zona económica exclusiva, dois poderes de natureza jurídica
distinta:
2. As entidades competentes que integram o Sistema de
Autoridade Marítima Angolana, no quadro das medidas cau- a) direitos de soberania para fins de exploração e apro-
telares para obstar a tais infracções, devem adoptar uma regu- veitamento, conservação e gestão dos recursos
lamentação geral e abstracta que preveja rotas específicas de naturais vivos ou não vivos existentes na coluna
acesso aos portos nacionais. de água abrangida pela zona, bem como sobre as
potencialidades energéticas dessa coluna de água
3. O Estado Angolano, nos termos da alínea b) do arti- e da camada aérea que sobre ela assenta;
go 33.º, conjugado com o artigo 303.º, ambos da Convenção b) direitos de jurisdição sobre a utilização e colocação
das Nações Unidas Sobre o Direito do Mar, exerce a sua juris- de ilhas artificiais e outras estruturas, sobre a
investigação científica marinha, bem como a
dição penal sobre os navios que se encontrem na sua zona
criação de reservas naturais para fins de protec-
contígua através da adopção de medidas para reprimir as
ção e preservação do meio marinho.
infracções às suas leis ou regulamentos do seu território,
incluindo a remoção de objectos arqueológicos e históricos ARTIGO 37.º
achados nesse espaço marítimo sem a sua autorização, bem (Competência de jurisdição na zona económica exclusiva)

como todas as matérias abrangidas pelos artigos 21.º a 23.º e


1. O Estado Angolano, à semelhança da zona contígua e
pelo artigo 27.º da Convenção citada.
com fundamento na proximidade do regime do alto mar
como regime jurídico geral de fundo a que ambas figuras se
ARTIGO 35.º
(Actividades de fiscalização e exercício do direito de visita)
submetem, tem competência de jurisdição material na sua
zona económica exclusiva, apenas adstrita ao critério mate-
rial e deste apenas do ponto de vista criminal.
1. O Estado Angolano, no âmbito das actividades de fis-
calização, exerce, nos termos do direito internacional e do
2. O Estado Angolano, com fundamento no n.º 5 do arti-
direito interno, o direito de visita na zona contígua, sobre
go 27.º da Convenção das Nações Unidas Sobre o Direito do
todos os navios, embarcações ou outros dispositivos flutuan-
Mar, exerce jurisdição penal sobre os navios que se achem na
tes, nacionais ou estrangeiros, à excepção daqueles que
sua zona económica exclusiva quando violem o disposto na
gozem de imunidade, quando se mostre necessário, para:
Parte XII da Convenção ou violem as leis ou regulamentos
adoptados em conformidade com a Parte V do mesmo
a) evitar ou reprimir infracções às leis ou regulamentos diploma.
aduaneiros, fiscais, de imigração ou sanitários no
território nacional; 3. O Estado Angolano exerce a sua jurisdição penal nos
b) evitar infracções relativas ao património ecológico limites dos artigos 220.º e 73.º, ambos da Convenção das
e cultural subaquáticos, ocorridas naquela zona Nações Unidas Sobre o Direito do Mar, os quais, em geral,
ou no mar territorial. não admitem a aplicação de penas privativas de liberdade.
1390 DIÁRIO DA REPÚBLICA

SUBSECÇÃO I 2. O Estado Angolano procura concertar, directamente ou


Direitos de Soberania
por intermédio das organizações sub-regionais apropriadas,
as medidas necessárias para coordenar e assegurar a conservação
ARTIGO 38.º
(Direito de conservação e gestão de recursos vivos)
e o desenvolvimento de tais populações.

1. O Estado Angolano tem o poder de fixar as capturas 3. Para efeitos da presente lei, consideram-se populações
permitidas dos recursos vivos na sua zona económica marinhas transzonais, as populações que se não contêm den-
exclusiva. tro da zona económica exclusiva do Estado Angolano, exis-
tentes em zonas económicas exclusivas de Estados adjacentes
ou existentes na sua zona económica exclusiva e numa parte
2. Ao Estado Angolano cabe fixar a quantidade de pes-
do alto mar que lhe é adjacente, bem como quanto ao dever
cado possível de ser capturado, com vista à conservação susten-
à conservação e a gestão de algumas espécies peculiares.
tável dos recursos, assegurando uma reprodução do pescado
e evitando a extinção das espécies. ARTIGO 40.º
(Mecanismos para prossecução dos direitos de soberania)
3. O Estado Angolano, na fixação do limite das capturas,
tem de tomar em consideração as duas regras seguintes, 1. O Estado Angolano, para a prossecução dos direitos de
impostas pela Convenção das Nações Unidas Sobre o Direito soberania que exerce na sua zona económica exclusiva, ela-
do Mar, para evitar que os Estados costeiros fixem discricio- bora, nos termos das alíneas a) a j) do n.º 4 do artigo 62.º da
nariamente uma quantidade de capturas que seja totalmente Convenção das Nações Unidas Sobre o Direito do Mar, leis
preenchida por esse mesmo Estado, nomeadamente: e regulamentos que fixam regras no âmbito da zona econó-
mica exclusiva, referentes, entre outras, às seguintes ques-
tões:
a) o «Princípio do Máximo Rendimento Constante»
(MRC) — consagrado no n.º 3 do artigo 61.º da
a) estabelecer o regime da concessão de licenças de
Convenção citada, segundo o qual, o Estado Ango-
pesca ou de caça dos mamíferos marinhos,
lano tem que ter em conta as necessidades eco- determinando os tipos e as quantidades de navios
nómicas das comunidades costeiras que vivem e de embarcações admitidos, apetrechos e apare-
da pesca e as necessidades especiais dos países lhos utilizáveis;
em desenvolvimento; b) fixar as taxas cobráveis;
b) o «Principio da Gestão Sustentável» (GS) — con- c) indicar as espécies capturáveis, a idade e o tama-
sagrado no n.º 2 do artigo 61.º da Convenção, nho permitidos, bem como as quotas de captura;
segundo o qual o Estado Angolano não pode pôr d) delimitar os períodos de pesca e de caça, e de defeso;
em risco, pelo excesso de captura, as espécies e) precisar as informações a prestar;
vivas existentes na zona económica exclusiva. f) regular o adestramento e treino do pessoal;
g) delinear os regimes societários e de associação não-
4. O Estado Angolano não procede unilateralmente à -societária das empresas que se dediquem à pesca
fixação do princípio do Máximo Rendimento Constante ou à caça;
(MRC), fazendo-o por imposição do disposto no n.º 5 do h) estabelecer as quotas que devem ser, obrigatoriamente,
artigo 61.º da Convenção das Nações Unidas Sobre o Direito descarregadas em portos angolanos;
do Mar, através de acordos internacionais de auscultação, i) delimitar as áreas que constituem reservas naturais.
intercâmbio de informação científica e de cooperação, cele-
brados no seio de organizações internacionais, regionais ou 2. O Estado Angolano deve dar a devida publicidade a
mundiais, competentes, com a participação de todos os Esta- todas as leis e regulamentos que adopte, para fixar as medi-
dos interessados nos recursos vivos da sua zona económica das que tome nesses domínios.
exclusiva.
3. O Estado Angolano, para assegurar a observância do
ARTIGO 39.º cumprimento dessas leis e regulamentos, no âmbito da sua
(Conservação e gestão das populações marinhas transzonais) competência jurisdicional civil, penal e adopta medidas de
execução consubstanciadas no direito de visita, de inspecção
1. O Estado Angolano deve observar os regimes especiais e de apresamento, e estabelece os mecanismos judiciais e
previstos no artigo 63.º e seguintes da Convenção das Nações processuais que entenda necessários, dentro dos limites fixa-
Unidas Sobre o Direito do Mar e, complementarmente, os dos pela Convenção das Nações Unidas Sobre o Direito do
artigos 116.º a 119.º da mesma Convenção. Mar.
I SÉRIE — N.º 131 — DE 14 DE JULHO DE 2010 1391

SUBSECÇÃO II competentes para que executem, de conformidade com a


Direitos de Jurisdição e Fiscalização
Convenção, projectos de investigação científica marinha na
ARTIGO 41.º sua zona económica exclusiva, exclusivamente para fins
(Colocação e utilização de ilhas artificiais, de instalações e de pacíficos e com o propósito de aumentar o conhecimento cien-
estruturas)
tífico do meio marinho em benefício de toda a humanidade.

O Estado Angolano tem o direito exclusivo de construir, 2. O Estado Angolano tem o direito de suspender, ou até
de autorizar e de regulamentar a construção, operação e uti- de cancelar, as licenças que tiver entretanto concedido para a
lização de: realização dessa investigação científica se:

a) ilhas artificiais, instalações e estruturas para os fins a) as actividades de investigação não se realizarem de
previstos na alínea a) do n.º 1 do artigo 56.º da conformidade com as informações transmitidas,
Convenção das Nações Unidas Sobre o Direito nos termos do artigo 248.º e nas quais se tenha
do Mar e para outras finalidades económicas que fundamentado o consentimento do EstadoAngolano;
não interfiram no exercício dos seus direitos na b) o estado ou a organização internacional competente
sua zona económica exclusiva; que realizar as actividades de investigação, não
b) instalações e estruturas que possam interferir no cumprir o disposto no artigo 249.º da Convenção
exercício dos seus próprios direitos na sua zona no que se refere aos direitos do Estado costeiro,
económica exclusiva. relativos ao projecto de investigação científica
ARTIGO 42.º
marinha.
(Jurisdição e fiscalização das ilhas artificiais, das instalações e das
estruturas) ARTIGO 44.º
(Protecção e preservação do meio marinho)

1. O Estado Angolano tem jurisdição exclusiva sobre


essas ilhas artificiais, instalações e estruturas, compreen- 1. O Estado Angolano tem o direito soberano de explorar
dendo, entre outros, poderes de carácter fiscal, alfandegário, os recursos naturais do meio marinho da sua zona económica
sanitário, de segurança e de polícia da imigração. exclusiva de acordo com os seus próprios interesses.

2. O Estado Angolano pode, além disso, quando o consi- 2. O Estado Angolano tem o dever de proteger e explorar
dere necessário, criar, em redor dessas ilhas artificiais, insta- os recursos naturais do meio marinho da sua zona económica
lações e estruturas, zonas de segurança razoável, nas quais exclusiva, tomando as medidas compatíveis com a Conven-
pode tomar medidas adequadas para garantir tanto a segu- ção das Nações Unidas Sobre o Direito do Mar, necessárias
rança da navegação como a das ilhas artificiais, instalações e para a prevenção, a redução e o controlo do meio marinho.
estruturas.
3. O Estado Angolano, a título preventivo, deve tomar
3. O Estado Angolano define a extensão das zonas de uma série de medidas antecipatórias do acidente de poluição,
segurança e deve concebê-las de modo a responderem compatíveis com a Convenção das Nações Unidas Sobre o
razoavelmente à natureza e às funções das ilhas artificiais, Direito do Mar, utilizando para, o efeito, os meios mais viá-
das instalações ou das estruturas, não excedendo uma dis- veis de que disponha e de conformidade com as suas possi-
tância de 500m em seu redor, medida a partir de cada ponto bilidades, devendo esforçar-se por harmonizar as suas
do seu bordo exterior, salvo autorização ou recomenda- políticas a esse respeito.
ção de normas internacionais consuetudinárias ou conven-
cionais. 4. As medidas de prevenção a tomar pelo Estado Ango-
lano devem referir-se a todas as fontes de poluição do meio
4. O Estado Angolano deve proceder devidamente à notifi- marinho, as quais nos termos do n.º 3 do artigo 194.º da Con-
cação da extensão das zonas de segurança. venção das Nações Unidas Sobre o Direito do Mar, devem
incluir, entre outras, as destinadas a reduzir tanto quanto
ARTIGO 43.º
(Investigação científica) possível a:

1. O Estado Angolano, nos termos do princípio fundamen- a) a emissão de substâncias tóxicas, prejudiciais ou
tal consagrado no n.º 1 do artigo 246.º da Convenção das nocivas especialmente as não degradáveis, pro-
Nações Unidas Sobre o Direito do Mar, concede a devida venientes de fontes terrestres, provenientes da
autorização a outros estados ou organizações internacionais atmosfera ou através dela, ou por alijamento;
1392 DIÁRIO DA REPÚBLICA

b) a poluição proveniente de embarcações, particularmente a fornecer informações, ou se as informações for-


medidas para prevenir acidentes, enfrentar situa- necidas pela mesma estiverem em manifesta con-
ções de emergência, garantir a segurança das tradição com a situação factual evidente;
operações no mar, prevenir descargas intencionais c) as circunstâncias do caso justificarem a referida ins-
ou não e regulamentar o projecto, a construção, o pecção;
equipamento, o funcionamento e a tripulação das d) iniciar procedimentos, incluindo a detenção da
embarcações; embarcação, de conformidade com o seu direito
c) a poluição proveniente de instalações e dispositivos interno e respeitando as garantias para o exercí-
que funcionem no meio marinho, em particular cio do seu poder de polícia, previstas na Secção
medidas para prevenir acidentes e enfrentar 7 da Parte XII, nos artigos 223.º a 232.º da Con-
situações de emergência, garantir a segurança venção das Nações Unidas Sobre o Direito do
das operações no mar e regulamentar o projecto,
Mar, quando exista prova manifesta e objectiva
a construção, o equipamento, o funcionamento e
de que essa embarcação que navega na sua zona
a tripulação de tais instalações ou dispositivos.
económica exclusiva, cometeu uma das infra-
cções referidas no parágrafo 3.º do artigo 220.º
5. O Estado Angolano, actuando por intermédio da organiza-
da Convenção citada e que tenha tido, como resul-
ção internacional competente ou de uma conferência diplo-
mática geral, deve estabelecer regras e normas de carácter tado, uma descarga que tenha provocado ou ameace
internacional para prevenir, reduzir e controlar a poluição do provocar danos consideráveis para o litoral ou
meio marinho proveniente de embarcações. para os interesses conexos do Estado Angolano
ou para quaisquer recursos do seu mar territorial
6. O Estado Angolano deve promover a adopção de sis- ou da sua zona económica exclusiva.
temas de fixação de tráfego, de forma a minimizar o risco de
acidentes que possam causar a poluição do meio marinho. 2. O Estado Angolano, nos termos do artigo 221.º da Con-
venção das Nações Unidas Sobre o Direito do Mar, pode
tomar e executar medidas proporcionalmente ao dano efec-
ARTIGO 45.º
(Mecanismos jurisdicionais para a prossecução dos direitos de tivo ou potencial sobre um navio poluidor, ou perante a
jurisdição na zona económica exclusiva) ameaça de poluição na sua zona económica exclusiva resul-
tante de um acidente marítimo, entendendo-se como acidente
1. O Estado Angolano, para prossecução dos seus direitos marítimo.
de jurisdição e com base na sua competência jurisdicional
civil ou criminal sobre os navios que se achem na sua zona 3. O Estado Angolano aplica a sua jurisdição penal ou
económica exclusiva dispõe, entre outros, dos poderes juris- sobre o navio infractor por intermédio de funcionários ofi-
dicionais seguintes: cialmente habilitados e navios de guerra, aeronaves milita-
res ou outros navios e aeronaves que possuam sinais claros e
a) exigir, à embarcação, que forneça informações
sejam identificáveis como estando ao serviço do Estado
sobre a sua identidade e o porto de registo, a sua
Angolano e para tanto mandatados.
última e a próxima escalas e outras informações
pertinentes, e necessárias, para determinar se foi
4. Para os efeitos do n.º 2 do presente artigo, entende-se
cometida infracção, quando tenha sérios motivos
por acidente marítimo um abalroamento, encalhe ou incidente
para suspeitar que essa embarcação tenha come-
de navegação ou acontecimento a bordo de uma embarcação
tido uma violação às regras e às normas inter-
ou no seu exterior, de que resultem danos materiais ou
nacionais aplicáveis, para prevenir, reduzir e
ameaça eminente de danos materiais à embarcação ou à sua
controlar a poluição do meio marinho;
carga.
b) proceder à inspecção material da embarcação sobre
questões relacionadas com a infracção, quando
ARTIGO 46.º
tenha sérios motivos para acreditar que essa embar- (Actividades de fiscalização e direito de visita)
cação cometeu, na sua zona económica exclu-
siva, uma das infracções referidas no parágrafo O Estado Angolano no âmbito das actividades de fiscali-
3.º do artigo 220.º da Convenção das Nações zação, exerce, nos termos do direito internacional e do
Unidas Sobre o Direito do Mar, que tenha tido direito interno, o direito de visita na zona económica
como resultado uma descarga substancial que exclusiva sobre todos os navios, embarcações ou outros dis-
provoque ou ameace provocar poluição grave no positivos flutuantes, nacionais ou estrangeiros, à excepção
meio marinho e essa embarcação se tenha negado daqueles que gozem de imunidade, no quadro:
I SÉRIE — N.º 131 — DE 14 DE JULHO DE 2010 1393

a) dos direitos de soberania relativos à exploração, ao exerce, sobre a sua plataforma continental, poderes de sobe-
aproveitamento, à conservação e à gestão dos rania finalisticamente limitados para efeitos de exploração e de
recursos naturais, vivos ou não vivos e a explora- aproveitamento dos seus recursos naturais.
ção e o aproveitamento desta zona para fins econó-
micos; 2. O Estado Angolano, ao exercer o seu poder soberano,
b) do exercício de jurisdição no que concerne, à protecção dominial sobre a sua plataforma continental, nos termos do
e à preservação do meio marinho, investigação n.º 2 do artigo 78.º da Convenção das Nações Unidas Sobre
científica, ilhas artificiais, instalações e outras o Direito do Mar, não pode afectar a navegação ou outros
estruturas. direitos e liberdades dos demais Estados nem ter, como resul-
tado, uma ingerência injustificada neles.
SECÇÃO VII
Competência de Jurisdição na Plataforma Continental
3. O Estado Angolano, nos termos do n.º 2 do artigo 79.º
ARTIGO 47.º da Convenção das Nações Unidas Sobre o Direito do Mar,
(Natureza jurídica dos poderes exercidos na plataforma continental) não pode impedir que os demais Estados procedam à colo-
cação ou à manutenção de cabos ou de ductos submarinos,
1. O Estado Angolano, em conformidade com o que dis- ressalvado que esteja o seu direito de tomar medidas razoá-
põe o n.º 1 do artigo 77.º da Convenção das Nações Unidas veis para a exploração da sua plataforma continental e a pre-
Sobre o Direito do Mar, exerce, sobre a plataforma conti- venção, redução e controle da poluição causada por esses
nental, direitos dominiais próprios e de raiz, sobre a própria cabos e ductos.
plataforma, com o seu leito e subsolo, bem como, sobre
os recursos vivos e não vivos nela existentes. SUBSECÇÃO II
Direitos de Jurisdição e de Fiscalização

2. Os direitos do Estado Angolano sobre a sua plataforma ARTIGO 50.º


continental, em conformidade com o que dispõe o n.º 3 do (Especificidade dos direitos de jurisdição e de fiscalização)
artigo 77.º da Convenção das Nações Unidas Sobre o Direito
O Estado Angolano dispõe de direitos de jurisdição especí-
do Mar, são independentes da sua ocupação real ou fictícia ou
ficos sobre a colocação de cabos e ductos submarinos,
de qualquer declaração expressa.
sobre a construção e utilização de ilhas artificiais, instala-
ções e estruturas sobre a sua plataforma continental, sobre as
3. Os direitos do Estado Angolano sobre a sua plataforma
perfurações na sua plataforma continental, sobre a escavação
continental, em conformidade com o que dispõe o n.º 2 do
de túneis, sobre a protecção e preservação do meio marinho
artigo 77.º da Convenção das Nações Unidas Sobre o Direito
e sobre a investigação científica marinha, nos termos dis-
do Mar, têm carácter exclusivo, no sentido de que, se o
postos nos artigos seguintes.
Estado Angolano não explora a plataforma ou não aproveita
os seus recursos naturais, ninguém pode empreender estas ARTIGO 51.º
actividades sem o expresso consentimento daquele. (Colocação de cabos e ductos submarinos)

ARTIGO 48.º 1. O Estado Angolano, nos termos do n.º 3 do artigo 79.º


(Competência de jurisdição na plataforma continental)
da Convenção das Nações Unidas Sobre o Direito do Mar,
tem competência para autorizar o traçado da linha para a colo-
1. O Estado Angolano, de acordo com o artigo 77.º da
cação de cabos ou ductos na sua plataforma continental.
Convenção das Nações Unidas Sobre o Direito do Mar,
exerce na sua plataforma continental, direitos soberanos,
2. O Estado Angolano, nos termos do n.º 4 do artigo 79.º
dominiais de raiz e direitos de jurisdição e fiscalização.
da Convenção das Nações Unidas Sobre o Direito do Mar,
tem competência para estabelecer condições para os cabos e
2. O Estado Angolano deve exercer os direitos referidos
ductos que penetrem no seu mar territorial, e o poder de juris-
no número anterior tendo na devida conta os direitos dos
dição sobre os cabos e ductos construídos ou utilizados em
outros Estados e sempre de maneira compatível com o dis-
relação com a exploração da sua plataforma continental ou
posto na Convenção das Nações Unidas Sobre o Direito do
com o aproveitamento dos seus recursos, ou com o funcio-
Mar.
SUBSECÇÃO I namento das ilhas artificiais, das instalações e das estruturas
Direitos Soberanos, Dominiais de Raiz sob sua jurisdição.

ARTIGO 49.º ARTIGO 52.º


(Poderes finalisticamente limitados) (Ilhas artificiais, instalações e estruturas na plataforma continental)

1. O Estado Angolano, nos termos do n.º 1 do artigo 77.º 1. O Estado Angolano, nos termos das disposições conju-
da Convenção das Nações Unidas Sobre o Direito do Mar, gadas do artigo 80.º e alínea a) do n.º 1 do artigo 60.º, ambos
1394 DIÁRIO DA REPÚBLICA

da Convenção das Nações Unidas Sobre o Direito do Mar, ARTIGO 55.º


(Protecção e preservação do meio marinho)
tem o direito exclusivo de construir, autorizar e regulamen-
tar a construção, a operação e a utilização de ilhas artificiais, 1. O Estado Angolano, nos termos das disposições con-
de instalações e de estruturas sobre a plataforma continental
jugadas dos artigos 192.º, 193.º e 194.º tem o direito sobe-
para os fins previstos na alínea a) do n.º 1 do artigo 56.º da
rano de explorar e aproveitar os recursos naturais da sua
Convenção das Nações Unidas Sobre o Direito do Mar e para
plataforma continental de acordo com os seus próprios
outras finalidades económicas que não interfiram com o exer-
interesses.
cício dos seus direitos na sua plataforma continental.

2. O exercício de direito soberano referido no número


2. O Estado Angolano, nos termos das disposições con-
anterior não pode afectar os direitos de navegação ou outros
jugadas do artigo 80.º e do n.º 2 do artigo 60.º da Convenção
direitos e liberdades dos demais Estados previstos na Con-
das Nações Unidas Sobre o Direito do Mar, tem jurisdição
exclusiva sobre essas ilhas artificiais, instalações e estruturas, venção de Montego Bay, nem perder de vista o dever de pro-
compreendendo, entre outros, os poderes de carácter fiscal, tecção e de preservação dos meios marinhos, devendo tomar
alfandegário, sanitário, de segurança e de polícia de imigra- as medidas compatíveis e necessárias para o efeito.
ção.
3. O Estado Angolano, a título preventivo, deve tomar
3. O Estado Angolano, nos termos do artigo 80.º e do uma série de medidas antecipatórias do acidente de poluição,
n.º 4 do artigo 60.º da Convenção das Nações Unidas Sobre compatíveis com a Convenção das Nações Unidas Sobre o
o Direito do Mar, pode, além disso, quando o considere Direito do Mar, utilizando, para esse fim, os meios mais viá-
necessário, criar, em redor dessas ilhas artificiais, instalações veis de que dispõe e de conformidade com as suas possibili-
e estruturas, zonas de segurança razoável, nas quais pode dades, devendo esforçar-se por harmonizar as suas políticas
tomar medidas adequadas para garantir a segurança da nave- a esse respeito.
gação e a das ilhas artificiais, instalações e estruturas.
4. O Estado Angolano, nos termos do n.º 1 do artigo 208.º
4. O Estado Angolano, nos termos das disposições con- da Convenção das Nações Unidas Sobre o Direito do Mar,
jugadas do artigo 80.º e do n.º 5 do artigo 60.º da Convenção deve adoptar leis e regulamentos para prevenir, reduzir e con-
das Nações Unidas Sobre o Direito do Mar, tem competên- trolar a poluição do meio marinho, proveniente directa ou
cia para definir a extensão das zonas de segurança e deve indirectamente de actividades relativas aos fundos marinhos
concebê-las de modo a responderem razoavelmente à natu- da sua plataforma continental e a proveniente de ilhas artifi-
reza e às funções das ilhas artificiais, instalações ou estrutu- ciais, instalações e estruturas afins.
ras, não excedendo uma distância 500m em seu redor, medida
a partir de cada ponto do seu bordo exterior, salvo autoriza- 5. O Estado Angolano, nos termos do n.º 2 do artigo 208.º
ção ou recomendação de normas internacionais consuetudi- da Convenção, deve, paralelamente, tomar outras medidas
nárias ou convencionais. necessárias para prevenir, reduzir e controlar tal poluição.

5. Para os efeitos do presente artigo, o Estado Angolano 6. As leis, os regulamentos e as medidas que o Estado
deve proceder devidamente à notificação da extensão das Angolano adopte não devem ser menos eficazes que as
zonas de segurança. regras, as normas, as práticas e procedimentos recomendados,
de carácter internacional.
ARTIGO 53.º
(Perfurações na plataforma continental)
7. O Estado Angolano, nos termos do n.º 4 do artigo 208.º
O Estado Angolano, nos termos do artigo 81.º da Con- da Convenção, deve procurar harmonizar as suas políticas a
venção, tem o direito exclusivo de autorizar e regulamentar esse respeito, no plano regional apropriado.
as perfurações na sua plataforma continental, quaisquer que
sejam os seus fins. 8. O Estado Angolano, nos termos do n.º 5 do artigo 208.º
ARTIGO 54.º da Convenção e actuando por intermédio das organizações
(Escavação de túneis) internacionais competentes ou de uma conferência diplomática,
deve estabelecer as regras, as normas, as práticas e os proce-
O Estado Angolano, nos termos do artigo 85.º da Con- dimentos recomendados, de carácter mundial e regional para
venção, tem o direito de aproveitar o subsolo da sua plata- prevenir, reduzir e controlar a poluição do meio marinho,
forma continental por meio de escavações de túneis, qualquer proveniente directa ou indirectamente de actividades relativas
que seja a profundidade das águas no local considerado. aos fundos marinhos da sua plataforma continental e a pro-
I SÉRIE — N.º 131 — DE 14 DE JULHO DE 2010 1395

veniente de ilhas artificiais, de instalações ou de estruturas Nações Unidas Sobre o Direito do Mar, concede a devida
existentes sobre a sua plataforma continental, e que, com a autorização a outros Estados ou a organizações internacionais
periodicidade necessária, devem ser reexaminados. competentes para que executem, de conformidade com a
Convenção, projectos de investigação científica marinha na
9. As medidas de prevenção a tomar pelo Estado Ango- sua plataforma continental, exclusivamente para fins pacífi-
lano, na sua plataforma continental, nos termos da alínea a) cos e com o propósito de aumentar o conhecimento cientí-
do n.º 3 do artigo 194.º da Convenção, devem referir-se a fico do meio marinho em benefício de toda a humanidade.
todas as fontes de poluição do meio marinho.

10. As medidas de prevenção referidas no número ante- 2. O Estado Angolano tem o direito de suspender ou de
rior devem incluir, entre outras, as destinadas a reduzir a cancelar as licenças que tenha concedido para a realização
emissão de substâncias tóxicas, prejudiciais, especialmente dessa investigação científica, se:
as não degradáveis, provenientes da atmosfera ou através
dela ou por alijamento. a) as actividades de investigação não se realizarem de
conformidade com as informações transmitidas,
11. O Estado Angolano, nos termos do n.º 1 do artigo 210.º nos termos do artigo 248.º da Convenção e nas
da Convenção, deve adoptar leis e regulamentos para preve- quais se tenha fundamentado o consentimento do
nir, reduzir e controlar a poluição do meio marinho por ali- Estado Angolano;
jamento.
b) o estado ou a organização internacional competente
12. O Estado Angolano, nos termos do n.º 2 do artigo 210.º que realizar as actividades de investigação, não
da Convenção, deve tomar outras medidas que possam ser cumprir o disposto no artigo 249.º da Convenção
necessárias para prevenir, reduzir e controlar a poluição por no que se refere aos direitos do Estado costeiro
alijamento. relativos ao projecto de investigação científica
marinha.
13. As leis, os regulamentos e as medidas adoptadas pelo
Estado Angolano para prevenir a poluição por alijamento, ARTIGO 57.º
nos termos do n.º 3 do artigo 210.º da Convenção, devem (Mecanismos jurisdicionais para prossecução dos direitos de
jurisdição)
assegurar que o alijamento não se realize sem autorização da
Autoridade do Sistema de Marínha Angolana.
1. O Estado Angolano, nos termos do artigo 214.º da Con-
14. As leis, os regulamentos e as medidas adoptadas pelo venção das Nações Unidas Sobre o Direito do Mar, deve
Estado Angolano, nos termos do n.º 6 do artigo 210.º da Con- assegurar a execução das suas leis e regulamentos adoptados
venção, não devem ser menos eficazes que as regras e as nor- de conformidade com o artigo 208.º, adoptar as leis, os regula-
mas de carácter mundial, para prevenir, reduzir e controlar mentos e tomar outras medidas necessárias para pôr em prá-
essa poluição. tica as regras e normas internacionais aplicáveis, estabelecidas
por intermédio das organizações internacionais competentes,
15. O Estado Angolano, nos termos do n.º 4 do artigo 210.º
ou de uma conferência diplomática, com o fim de prevenir,
da Convenção e actuando por intermédio das organizações
internacionais competentes ou de uma conferência diplomática, reduzir e controlar a poluição do meio marinho, proveniente
deve estabelecer regras, normas, práticas e procedimentos directa ou indirectamente de actividades relativas aos fundos
recomendados, de carácter mundial ou regional para preve- marinhos da sua plataforma continental e provenientes de
nir, reduzir e controlar a poluição por alijamento, que com a ilhas artificiais, de instalações ou de estruturas sobre a sua
periodicidade necessária devem ser reexaminadas. plataforma continental.

16. O Estado Angolano, nos termos do n.º 5 do artigo 210.º 2. O Estado Angolano, nos termos do artigo 221.º da Con-
da Convenção, tem o direito de autorizar, regular e controlar venção, pode tomar medidas proporcionalmente ao dano
o alijamento, na sua plataforma continental, após ter exami- efectivo ou potencial, sobre uma ilha artificial, instalação ou
nado devidamente a questão com os Estados que, pela sua estruturas sobre a sua plataforma continental contra a polui-
situação geográfica, possam vir a ser afectados desfavora- ção ou perante a ameaça de poluição resultante de um aci-
velmente por esse alijamento. dente marítimo, entendendo-se como acidente marítimo, um
abalroamento, encalhe ou outro incidente de navegação ou
ARTIGO 56.º
(Investigação científica) acontecimento numa ilha artificial, numa instalação ou em
estruturas sobre a sua plataforma continental, de que resultem
1. O Estado Angolano, nos termos do princípio fundamen- danos materiais ou ameaça eminente de danos materiais à
tal consagrado no n.º 1 do artigo 246.º da Convenção das embarcação ou à sua carga.
1396 DIÁRIO DA REPÚBLICA

3. O Estado Angolano aplica a sua jurisdição penal sobre ARTIGO 61.º


(Procedimento da visita a bordo)
as ilhas artificiais, instalações e estruturas infractoras por
intermédio de funcionários oficialmente habilitados e navios
de guerra ou aeronaves militares, ou outros navios ou aero- 1. No caso de se constatar a prática de ilícito durante a
naves que possuam sinais claros e sejam identificáveis como visita a bordo é levantado auto de notícia relativo às infracções
estando ao serviço do Estado Angolano, e para tal autoriza- verificadas, sendo aplicadas as medidas cautelares adequa-
dos, e aos quais a Convenção atribui poderes para o exercício das, designadamente:
de poderes de polícia em relação à embarcações estrangei-
ras, para a execução dessas medidas, em aplicação da a) a apreensão dos bens e documentos que constituem
Parte XII da Convenção. os meios de prova;
b) a detenção dos tripulantes infractores e o apresamento
CAPÍTULO V do navio.
Regime do Direito de Visita
2. A visita a bordo é mencionada no diário de navegação,
ARTIGO 58.º
(Imunidades) ou no registo de bordo equivalente, e dela deve ser efectuado
um relatório do qual constem, designadamente:
Os navios de guerra e outros navios de Estado utilizados
unicamente em serviço oficial para fins não comerciais no a) a identificação e a posição do navio;
alto mar gozam de completa imunidade de jurisdição, relati- b) os fundamentos do exercício do direito de visita;
vamente a qualquer outro Estado que não seja o da sua ban- c) os resultados da visita a bordo;
deira, salvo as excepções previstas na presente lei e demais d) as eventuais medidas cautelares que tenham sido
legislação. aplicadas.
ARTIGO 59.º
(Âmbito do direito de visita) 3. O relatório referente à visita a bordo é enviado às autori-
dades nacionais competentes e, tratando-se de navio estran-
1. O direito de visita abrange as situações em que um geiro, é enviado às autoridades diplomáticas do Estado de
navio, uma embarcação ou outro dispositivo flutuante se bandeira.
encontre em preparativos para qualquer das actividades referi-
das no número anterior e em que existam motivos fundados ARTIGO 62.º
(Procedimento do apresamento do navio)
para presumir que um navio, uma embarcação ou um dispo-
sitivo flutuante tenha violado o direito interno ou o direito
No caso de o navio infractor ser apresado, é-lhe ordenado
internacional aplicável nessa zona marítima.
o trânsito para porto angolano, onde fica à ordem da autori-
dade competente e é levantado auto de notícia da ocorrência,
2. Se, no decurso de actividade de fiscalização, o navio
relativo às infracções verificadas e, de seguida, é remetido à
ou a embarcação não acatar a ordem de parar, pode ser
autoridade competente.
empreendida perseguição, nos termos do direito internacio-
nal, mormente no estipulado no artigo 110.º da Convenção
das Nações Unidas Sobre o Direito do Mar.
CAPÍTULO VI
ARTIGO 60.º Disposições Finais e Transitórias
(Direito de visita no alto mar)
ARTIGO 63.º
O direito de visita no alto mar pode ser exercido apenas (Disposição revogatória)
por navios de guerra quando existirem suspeitas da existên-
cias de que: É revogada a Lei n.º 21/92, de 28 de Agosto — Lei
que Regula as Águas Interiores, o Mar Territorial e a Zona
a) o navio se dedica à pirataria; Económica Exclusiva.
b) o navio se dedica ao tráfico de seres humanos;
c) o navio é utilizado para efectuar transmissões não auto- ARTIGO 64.º
rizadas e o Estado de bandeira do navio de guerra (Remissões e referências)
tem jurisdição, nos termos da Convenção;
d) o navio não tem nacionalidade; ou Todos os documentos que foram elaborados à luz da Lei
e) o navio tem, na realidade, a mesma nacionalidade n.º 21/92, de 28 deAgosto — Lei que Regula as Águas Interiores,
que o navio de guerra, embora arvore uma bandeira o Mar Territorial e a Zona Económica Exclusiva, por força da
estrangeira ou se recuse a içar a sua bandeira. presente lei, consideram-se vigentes.
I SÉRIE — N.º 131 — DE 14 DE JULHO DE 2010 1397

ARTIGO 65.º LEI QUADRO DO ORÇAMENTO GERAL


(Disposição transitória)
DO ESTADO
Até à entrada em vigor do acto legislativo referido no
CAPÍTULO I
artigo 7.º da presente lei mantêm-se em vigor as linhas
Disposições Gerais
de fecho e de base rectas fixadas pelo Decreto n.º 47 771,
de 27 de Junho de 1967. ARTIGO 1.º
(Âmbito de aplicação)
ARTIGO 66.º
(Dúvidas e omissões)
A presente lei dispõe sobre as normas gerais aplicáveis à
preparação, elaboração, aprovação e execução orçamental, à
As dúvidas e omissões surgidas na interpretação e apli- programação financeira e ao registo contabilístico dos recur-
cação da presente lei são resolvidas pela Assembleia Nacio- sos públicos.
nal.
ARTIGO 67.º ARTIGO 2.º
(Entrada em vigor) (Regime aplicável às Autarquias Locais)

A presente lei entra em vigor à data da sua publicação. Sem prejuízo do disposto na presente lei, lei própria
estabelece o regime específico de elaboração, aprovação e
Vista e aprovada pela Assembleia Nacional, em Luanda, execução orçamental das Autarquias Locais.
aos 19 de Maio de 2010.
CAPÍTULO II
O Presidente, em exercício, da Assembleia Nacional, Do Orçamento
João Manuel Gonçalves Lourenço. SECÇÃO I
Do Orçamento
Promulgada aos 18 de Junho de 2010.
ARTIGO 3.º
(Definição)
Publique-se.
1. O orçamento é o instrumento programático aprovado
O Presidente da República, JOSÉ EDUARDO DOS SANTOS. por lei específica, de que se serve a administração do Estado
e a administração autárquica, incluindo os correspondentes
————————————
fundos e serviços autónomos, as instituições sem fins
Lei n.º 15/10 lucrativos financiadas maioritariamente por si e a segurança
de 14 de Julho social, para gerir os recursos públicos, de acordo com os prin-
cípios de unidade, universalidade, anualidade e publicidade.

A entrada em vigor da nova Constituição marca o início 2. O orçamento estima as receitas e fixa os limites das
de uma nova era em Angola. As novas visões e perspectivas despesas.
constitucionalmente assumidas nos domínios políticos, eco-
ARTIGO 4.º
nómico e social, impõem a adequação do quadro normativo (Anualidade)
infraconstitucional com vista a concretização dos objectivos
fundamentais do Estado. Tal é o caso da Lei do Orçamento. O orçamente é anual, coincidindo o ano económico com
o ano civil.
O orçamento, enquanto instrumento ao serviço da mate-
ARTIGO 5.º
rialização da política económica e social contida no Programa (Unidade e universalidade)
de Governação do Poder Executivo, assume-se como um
documento de particular importância para a vida da Nação. O orçamente é unitário e compreende todas as receitas e
Urge, por isso, face ao novo quadro constitucional, redefinir despesas de todos os fundos e serviços autónomos, institui-
as regras respeitantes à sua preparação, elaboração, aprova- ções sem fins lucrativos financiadas maioritariamente pelos
ção, execução e controlo. poderes públicos e a segurança social.

ARTIGO 6.º
AAssembleia Nacional aprova, por mandato do povo, nos (Partes integrantes)
termos da alínea b) do artigo 161.º da Constituição da Repú-
blica de Angola, a seguinte: Integram o orçamento:
1398 DIÁRIO DA REPÚBLICA

a) o sumário geral da receita por fontes e da despesa legislação e de qualquer outro factor que possa influenciar o
por função do Estado; comportamento da sua arrecadação.
b) o quadro demonstrativo da receita e despesa, segundo
ARTIGO 9.º
as categorias económicas; (Classificação das receitas)
c) o quadro de dotações por órgãos;
d) as opções de política económica que serviram de As receitas orçamentais obedecem a duas classificações:
base para a elaboração do orçamento. a) classificação económica;
b) classificação por fonte de recurso.
ARTIGO 7.º
(Equilíbrio) ARTIGO 10.º
(Classificação económica da receita)
1. O orçamento deve prever os recursos necessários para
cobrir todas as despesas. 1. A classificação económica da receita compreende duas
categorias:
2. As despesas correntes não devem em caso algum
a) receitas correntes;
ultrapassar as receitas correntes.
b) receitas de capital.
3. Quando a conjuntura do período, a que se refere o
2. São receitas correntes, as receitas tributárias, patrimoniais,
orçamento, não permitir o equilíbrio do orçamento corrente,
de serviços, bem como as transferências recebidas para aten-
o Poder Executivo ou a Autarquia financia o respectivo
der quaisquer despesas.
défice sem recorrer à criação de moeda.

SECÇÃO II 3. São receitas de capital, as provenientes da realização de


Das Receitas Orçamentais recursos financeiros oriundos de operações de crédito e da
conversão em espécie de bens e de direitos, bem como de
ARTIGO 8.º
(Receita) saldos não comprometidos de exercícios anteriores.

1. Constituem receitas orçamentais todas as receitas 4. As transferências recebidas a que não se refere o n.º 2
públicas, cuja titularidade é o Estado ou a Autarquia, bem do presente artigo, não implica contraprestações de bens ou
como dos órgãos que deles dependem, inclusive as relativas serviços e são oriundas da Administração Central, da Admi-
a serviços e fundos autónomos, doações e operações de cré- nistração Local, de pessoas singulares ou colectivas, públicas
dito. ou privadas, com ou sem fins lucrativos, do interior ou do
exterior do País e das famílias.
2. Tributo é a receita instituída pelo Estado ou pela
Autarquia, compreendendo os impostos, as taxas e contri- ARTIGO 11.º
(Classificação por fonte de recurso)
buições, nos termos legais em matéria financeira, destinando
o seu custeio de acções gerais ou específicas exercidas pelo
1. A classificação da receita por fonte de recurso envolve
Estado ou pela Autarquia.
simultaneamente a sua identificação quanto à origem e
quanto ao seu destino.
3. Não se incluem nas receitas de que trata o n.º 1 do pre-
sente artigo, as operações de crédito por antecipação de
2. Quanto à sua origem, as receitas são classificadas:
receita, as emissões de papel-moeda e outras entradas com-
pensatórias no activo ou no passivo financeiro. a) receitas ordinárias do tesouro ou da autarquia;
b) receitas próprias;
4. Operações de crédito por antecipação de receita são as c) receitas de doações;
contratadas e pagas no mesmo exercício financeiro, com d) receitas de financiamento.
objectivo de compatibilizar, no período, o fluxo das receitas
com o das despesas. 3. Quanto ao seu destino, as receitas são classificadas:

5. Todas as receitas pertencentes ao Estado ou à Autar- a) receitas ordinárias do tesouro ou da autarquia,


quia constam integralmente, sem qualquer dedução, no corres- quando livres de qualquer restrição;
pondente orçamento. b) receitas consignadas, quando afectadas a um deter-
minado fim.
6. Na previsão da receita, devem ser considerados os efei-
tos da variação dos índices de inflação, do crescimento eco- 4. Para fins de elaboração, execução e controlo do orça-
nómico, do cenário nacional e internacional, das alterações na mento, as receitas classificadas como doações ou financia-
I SÉRIE — N.º 131 — DE 14 DE JULHO DE 2010 1399

mentos devem ser especificadas individualmente no tocante a) função;


à sua procedência e destino. b) programa;
c) actividade ou projecto.
SECÇÃO III
Despesas Orçamentais
3. As funções correspondem ao mais elevado nível de
ARTIGO 12.º
(Despesas)
agregação da acção governamental, nos diferentes sectores,
sendo subdivididas em sub funções.
Constituem despesas orçamentais, todas as despesas
públicas cometidas ao Estado ou à Autarquia, bem como aos 4. Os programas, pelos quais se estabelecem produtos
organismos que deles dependem, inclusive as relativas aos finais, concorrem para a solução dos problemas da sociedade
fundos e serviços autónomos, instituições sem fins lucrati- e podem ser detalhados em sub-programas.
vos financiadas maioritariamente pelos poderes públicos e a
segurança social. 5. Os sub-programas, compreendem despesas de um pro-
grama correspondente a projectos ou actividades, bem espe-
ARTIGO 13.º
(Classificação das despesas) cificados e caracterizados que articulam e complementam
entre si e concorrem para a concretização dos objectivos do
As despesas orçamentais obedecem às seguintes classifi- programa em que se inserem.
cações:
6. O menor nível de agregação da classificação funcio-
a) classificação institucional; nal-programática corresponde a:
b) classificação funcional-programática;
c) classificação económica.
a) actividades, que são acções que se realizam de um
ARTIGO 14.º modo contínuo e permanente e se relacionam
(Classificação institucional) com a manutenção e operação dos órgãos que
integram a Administração do Estado ou a Admi-
1. A classificação institucional engloba o conjunto das nistração Autárquica ou que estejam sob a sua
unidades orçamentais e respectivos órgãos dependentes. tutela;
b) projectos que são acções limitadas no tempo, asso-
2. Unidade orçamental é o órgão do Estado ou da Autar- ciadas a metas, que concorrem para a expansão
quia, ou o conjunto de órgãos, ou de serviços da Administra- ou o aperfeiçoamento dos encargos cometidos
ção do Estado ou da Administração Autárquica, fundos e aos órgãos que integram a Administração do
serviços autónomos, instituições sem fins lucrativos finan- Estado ou estejam sob a sua tutela.
ciadas maioritariamente pelos poderes públicos e a segurança
social a quem forem consignadas dotações orçamentais pró- 7. Os programas, projectos ou actividades não podem ser
prias. criados no decurso da execução do orçamento.

3. Órgão dependente é a unidade administrativa dos ARTIGO 16.º


(Classificação económica da despesa)
órgãos ou de serviços da Administração do Estado ou Admi-
nistração Autárquica, fundos e serviços autónomos, institui-
1. A classificação económica da despesa compreende
ções sem fins lucrativos financiadas maioritariamente pelos
duas categorias:
poderes públicos ou a segurança social, que constituem as
unidades orçamentais.
a) despesas correntes;
ARTIGO 15.º b) despesas de capital.
(Classificação funcional-programática)
2. São despesas correntes, as destinadas à manutenção ou
1. A classificação funcional-programática tem por escopo operação de serviços anteriormente criados, bem como as
vincular a despesa orçamental a acções e aos objectivos e transferências realizadas com igual propósito.
metas, observado, para esse efeito, opções de política eco-
nómica. 3. São despesas de capital, as destinadas à formação ou
aquisição de activos permanentes, à amortização da dívida, à
2. A classificação funcional-programática compreende concessão de financiamentos ou a constituição de reservas,
três níveis de agregação: bem como as transferências realizadas com igual propósito.
1400 DIÁRIO DA REPÚBLICA

4. As transferências realizadas não implicam em contra- i) os resumos gerais da receita, em conformidade


prestação directa, em bens ou serviços e são destinadas à com as classificações económicas e por fonte
Administração Central, à Administração Local, às pessoas de recursos;
singulares ou colectivas, às instituições públicas localizadas ii) os resumos gerais da despesa, em conformidade
no exterior e nos termos da lei, aos partidos políticos. com a classificação económica, por função,
por programa, por actividade e projecto e
CAPÍTULO III regionalizada, bem como a discriminação das
Da Elaboração e Aprovação do Orçamento Geral do despesas por unidade orçamental, em confor-
Estado
midade com as classificações institucional,
SECÇÃO I funcional, programática e económica.
Elaboração da Proposta Orçamental
ARTIGO 19.º
(Elaboração da proposta)
ARTIGO 17.º
(Definição)
A elaboração da proposta orçamental faz-se com base em
O Orçamento Geral do Estado é o orçamento da admi- instruções emanadas pelo Presidente da República.
nistração do Estado, incluindo os correspondentes fundos e ARTIGO 20.º
serviços autónomos, as instituições sem fins lucrativos (Da consolidação da proposta)
financiadas maioritariamente por si e a segurança social, para
gerir os recursos do Estado, nos termos da presente lei. 1. A proposta orçamental observa dois níveis de consoli-
dação:
ARTIGO 18.º
(Composição)
a) o primeiro, sob a responsabilidade dos órgãos do
A proposta orçamental compreende: Executivo e Governos Provinciais, que consolida
as propostas preliminares elaboradas pelas uni-
a) o relatório de fundamentação, que constitui a introdu- dades orçamentais e órgãos dependentes a elas
ção ao projecto de lei orçamental e contém: subordinadas;
b) o segundo, a cargo do órgão central, responsável
i) a exposição circunstanciada sobre a situação pelo Orçamento Geral do Estado, que consolida
económico-financeira do País; as propostas parciais, referidas na alínea anterior.
ii) a evolução das receitas e despesas orçamentais
realizadas nos dois últimos exercícios finan- 2. As propostas dos órgãos de soberania que integram o
ceiros; Orçamento Geral do Estado, devem ser discutidas entre
iii) a reestimação da receita prevista e execução o titular do órgão e o Poder Executivo, até ao dia 15 de
provável da despesa fixada, para o exercício Setembro.
em que a proposta é elaborada;
ARTIGO 21.º
iv) a previsão da receita e despesa fixada para o
(Proibições)
exercício, a que se refere a proposta;
v) a avaliação do financiamento do défice orça-
1. São vedadas, na proposta orçamental:
mental, caso exista, no exercício, a que se refere
a proposta.
a) a previsão de receitas relativas a impostos que não
tenham sido criados por lei;
b) o projecto de lei orçamental, que contém:
b) a consignação de receitas a órgãos, serviços ou fun-
dos, ressalvadas as decorrentes de financiamen-
i) as receitas estimadas e as despesas fixadas;
tos ou doações;
ii) a autorização para proceder a alterações orça-
c) a criação ou extinção de fundos, sem prévia autori-
mentais;
zação legal;
iii) as normas relativas à execução orçamental e
d) a inclusão de transferências para empresas priva-
a política fiscal.
das, das quais resultem bens que se incorporem
c) os anexos ao projecto de lei orçamental, que con- no seu respectivo património, sem autorização do
tém: Chefe do Executivo.
I SÉRIE — N.º 131 — DE 14 DE JULHO DE 2010 1401

2. Exceptuam-se do disposto na alínea b) do número 5. A rejeição da proposta orçamental é comunicada ao


anterior, os casos em que a lei determine expressamente a Presidente da República com nota explicativa das suas razões,
afectação de certas receitas a determinadas despesas. bem como das propostas alternativas ou de emendas as
opções de política económica e ao Orçamento Geral do
SECÇÃO II Estado, até ao dia 20 de Dezembro.
Aprovação da Proposta Orçamental
6. A nova proposta orçamental a que se refere o número
ARTIGO 22.º do presente artigo deve ser remetida à Assembleia Nacional,
(Avaliação preliminar e remessa ao Presidente da República)
até ao dia 10 de Janeiro do ano a que se refere o orçamento.
1. O órgão central responsável pelo Orçamento Geral do
7. Uma nova rejeição implica a submissão das duas ou
Estado consolida as propostas apresentadas pelas unidades
mais propostas à votação na mesma sessão parlamentar.
orçamentais e procede a uma avaliação.
8. Durante o período de recondução do orçamento do ano
2. Após a avaliação preliminar a proposta consolidada é
anterior:
remetida ao Presidente da República.

ARTIGO 23.º a) mantém-se a autorização para cobrança das receitas


(Apresentação pela Assembleia Nacional) nele previstas;
b) é prorrogada a autorização referente aos regimes
1. As emendas à proposta de Lei Orçamental ou aos pro-
das receitas que se destinavam apenas a vigorar
jectos que a modifiquem só podem ser acolhidas caso:
até ao final do referido ano.

a) sejam compatíveis com as opções de política eco- 9. O novo orçamento deve integrar a parte do orçamento
nómica, indiquem os recursos necessários, admi- do ano anterior que tenha sido executada até a cessação do
tidos apenas os provenientes de anulação de regime transitório estabelecido nos números anteriores.
despesas, excluídas as que se referem a pessoal e
ao serviço da dívida; CAPÍTULO IV
b) especifiquem, se o caso, a correspondente meta Créditos Orçamentais
quantificada.
ARTIGO 25.º
(Definição)
2. As restrições referidas no número anterior, não
excluem as emendas que visem corrigir erros ou omissões ou Em virtude da Lei Orçamental ou das suas alterações pos-
alterar o texto da proposta de lei. teriores, são instituídos créditos orçamentais, por intermédio
dos quais é executado o Orçamento Geral do Estado.
ARTIGO 24.º
(Aprovação pela Assembleia Nacional) ARTIGO 26.º
(Classificação)
1. O Presidente da República remete à Assembleia Nacio-
nal, a proposta final de Orçamento Geral do Estado, relativa 1. Os créditos orçamentais são de dois tipos:
ao exercício subsequente, até ao dia 31 de Outubro.
a) créditos iniciais, quando instituídos pela Lei Orça-
2. A remissão da proposta do Orçamento Geral do Estado mental;
à Assembleia Nacional é acompanhada por um relatório do b) créditos adicionais, quando instituídos por altera-
Presidente da República sobre as grandes linhas que a sus- ções posteriores à aprovação da Lei Orçamental.
tentam.
2. Os créditos adicionais são autorizações de despesas não
3. A Assembleia Nacional deve votar a proposta de Lei previstas ou insuficientemente orçamentadas e classifi-
Orçamental, até dia 15 de Dezembro. cam-se em:

4. Se a Assembleia Nacional não votar ou, tendo votado, a) suplementares, quando destinados ao reforço da
não aprovar a proposta de orçamento, reconduz-se o orça- dotação orçamental;
mento do ano anterior, até a sua aprovação final, vigorando b) especiais, quando destinados a atender despesas
as regras duodecimais sobre a gestão orçamental até a apro- para as quais não haja dotação orçamental espe-
vação da nova proposta. cífica na Lei Orçamental;
1402 DIÁRIO DA REPÚBLICA

c) extraordinários, quando destinados a atender despesas a) fixar a prioridade e a oportunidade das acções a rea-
urgentes e imprevistas, decorrentes de guerra, lizar e dos recursos a disponibilizar, à luz das
perturbação interna ou calamidade pública. relações com o ciclo produtivo, o clima, as nor-
mas de prestação de serviços públicos, a situação
ARTIGO 27.º
das obras e outros aspectos de igual relevância;
(Autorização e abertura de créditos adicionais)
b) evitar pressões sobre o mercado de bens e serviços,
bem como sobre a área financeira;
1. Os créditos suplementares especiais são autorizados
c) compatibilizar o comportamento da despesa com o
por lei e abertos por decreto presidencial.
da receita, de modo a reduzir eventuais insufi-
2. A Lei Orçamental pode prever autorizações específicas ciências de caixa e prever a necessidade de con-
ao Presidente da República para abrir créditos suplementares. tratação de operações de crédito por antecipação
de receita.
3. A abertura de créditos suplementares ou especiais
2. A programação financeira fixa os limites para cabi-
depende da existência de recursos disponíveis para atender as
mentação da despesa a favor das unidades orçamentais, agre-
despesas e é devidamente justificada pelo órgão interessado.
gados segundo os órgãos dependentes, especificados,
conforme se trata de despesas em moeda nacional ou moeda
4. Para fins do disposto no número anterior, consideram-
estrangeira e observados, todos os efeitos, os respectivos cré-
-se recursos disponíveis, desde que ainda não utilizados:
ditos orçamentais.
a) os provenientes do excesso de arrecadação, defi-
nido como saldo positivo das diferenças acumu- 3. O Ministro das Finanças, com base na programação
ladas, mês a mês, entre a arrecadação realizada e financeira trimestral, elabora o plano de caixa no período a
a prevista, deduzido o montante dos créditos ser aprovado pela Comissão Económica.
extraordinários abertos no exercício financeiro; 4. A disponibilização dos recursos financeiros efectiva-
b) os resultantes da anulação total ou parcial de dota- -se com base nos planos de caixa mensal.
ções orçamentais previstas nos créditos orça-
ARTIGO 29.º
mentais; (Comissão Económica)
c) os decorrentes de financiamentos ou doações, não
previstos anteriormente; Compete à Comissão Económica:
d) os oriundos de reservas instituídas com essa finali-
dade específica. a) propor a metodologia e o calendário para a progra-
mação financeira e as disponibilizações;
5. Os créditos extraordinários são abertos por decreto pre-
b) estabelecer por categoria de gastos os limites de cabi-
sidencial, devendo o Presidente da República dar de imediato
mentação ordinária das despesas das unidades
conhecimento à Assembleia Nacional.
orçamentais, de forma consistente com a evolu-
6. O acto que autorizar o crédito adicional deve especifi- ção das receitas e das alternativas de financia-
car o tipo de crédito, a importância, a origem dos recursos mento possíveis, efectuando os ajustes dos
disponíveis e a classificação da despesa. referidos limites sempre que forem necessários;
c) recomendar as medidas correctiva, na eventualidade
CAPÍTULO V de que os montantes de financiamento requeri-
Execução Orçamental e Financeira dos excedam o nível consistente com outros
objectivos da política económica, tais como o
SECÇÃO I
Programação Financeira crescimento da liquidez ou o nível da taxa de
juros, podendo tais medidas correctivas incluir o
ARTIGO 28.º acréscimo de receitas, a oportuna limitação da
(Objectivo)
cabimentação das despesas ou ambas;
1. O Ministro das Finanças, em coordenação com a d) submeter a metodologia e o calendário para a pro-
estrutura competente da Presidência da República, elabora gramação financeira e as disponibilizações, bem
uma programação financeira para cada trimestre a ser apro- como a programação financeira, à aprovação do
vada pelo Presidente da República, com base nos créditos Presidente da República;
orçamentais e nas informações relativas à arrecadação das e) estabelecer metas mensais para os recebimentos e
receitas, após a aprovação da Lei Orçamental com vista a: pagamentos do tesouro e para os saldos da Conta
I SÉRIE — N.º 131 — DE 14 DE JULHO DE 2010 1403

Única, para servir de referência à execução da a autoridade que praticou o acto, às sanções disciplinares,
programação monetária e à gestão das reservas civis ou penais aplicáveis.
internacionais líquidas;
f) acompanhar a evolução dos indicadores fiscais e 4. É permitida, desde que observadas as normas regula-
monetários que influenciam no crescimento da mentares:
base monetária e dos meios de pagamento e apro-
var as medidas correctivas necessárias; a) a cabimentação por estimativa da despesa, cujo
g) apresentar ao Presidente da República relatórios tri- montante não se possa previamente determinar;
mensais sobre a execução coordenada da política b) a cabimentação global de despesas contratuais ou
outras sujeitas a parcelamento.
fiscal e monetária.
ARTIGO 30.º 5. A cabimentação para os bens duradouros, de investimen-
(Despesa)
tos ou capital fixo e para os activos intangíveis, é precedida
da geração do processo patrimonial, com base no contrato,
1. Nenhuma despesa pode ser autorizada ou paga sem
acordo mútuo escrito e factura.
que, cumulativamente:

6. Para a cabimentação da despesa é extraído um


a) o factor gerador da obrigação de despesa respeite as
documento denominado Nota de Cabimentação, onde consta
normas legais aplicáveis;
o nome do beneficiário, a especificação e a importância da
b) a despesa disponha de inscrição orçamental, tenha
despesa e sua dedução do saldo do crédito orçamental cor-
cabimento na programação financeira, esteja ade-
respondente.
quadamente classificada e satisfaça o princípio
da economia, eficiência e eficácia. ARTIGO 32.º
(Liquidação)

2. A execução orçamental da despesa observa as seguin-


tes etapas sucessivas: 1. A liquidação da despesa é a verificação do direito do
credor, com base nos títulos e documentos comprovativos do
a) a cabimentação; respectivo crédito.
b) a liquidação;
c) o pagamento. 2. A liquidação da despesa tem por objectivo apurar:

3. Para os bens duradouros e investimentos ou capital a) a origem e a natureza do crédito que se deve pagar;
fixo, a etapa de cabimentação é precedida da geração do pro- b) a importância exacta a pagar;
cesso patrimonial. c) a quem se deve pagar, para extinguir a obrigação.

ARTIGO 31.º 3. A liquidação da despesa tem por base:


(Cabimentação)

a) o contrato, acordo respectivo ou factura;


1. A cabimentação da despesa é o acto emanado pela b) a Nota de Cabimentação;
autoridade competente que consiste em se deduzir do saldo c) os comprovativos de entrega dos bens ou de pres-
de determinada dotação do orçamento a parcela necessária à tação efectiva do serviço.
realização da despesa aprovada e que assegura ao fornece-
dor que o bem ou serviço é pago, desde que observadas as ARTIGO 33.º
(Pagamento)
condições acordadas.

1. O pagamento é a quitação do débito após a sua regular


2. É vedada a realização de despesas, o início de obras,
liquidação.
celebração de contratos administrativos ou a requisição de
bens sem prévia cabimentação, observado o limite para cabi- 2. O pagamento é efectivado através da emissão da cor-
mentação estabelecido na programação financeira ou em respondente Ordem de Saque, após despacho exarado por
montante que exceda o limite dos créditos orçamentais auto- entidade competente, determinando que a despesa seja paga.
rizados.
3. O pagamento da despesa é efectuado por estabelecimento
3. O incumprimento do disposto no número anterior não bancário credenciado e, em casos excepcionais, por meio de
gera para o Estado qualquer obrigação de pagamento e sujeita adiantamento.
1404 DIÁRIO DA REPÚBLICA

4. O regime de adiantamento consiste na entrega de nume- CAPÍTULO VI


rário a servidor, sempre precedida de cabimentação, para a Fundos Autónomos
realização de despesas que não possam subordinar-se ao pro-
ARTIGO 39.º
cesso normal de realização do gasto.
(Fundos autónomos)

5. As dotações orçamentais atribuídas a determinadas uni-


Constitui fundo autónomo o produto de receitas especifi-
dades orçamentais podem, quando expressamente estabele-
cadas que, por dispositivo legal, se vinculam a realização de
cido nas regras de execução orçamental, ser executadas pelo
determinados objectivos ou serviços, de acordo com normas
Órgão Central do Tesouro.
especiais de aplicação.
ARTIGO 34.º
(Unidade de Tesouro) ARTIGO 40.º
(Consignação)
As receitas orçamentais são arrecadadas pelo agente finan-
ceiro do Estado e recolhidas para a Conta Única do Tesouro, A aplicação das receitas vinculadas a fundos autónomos,
em estreita observância do princípio da unidade de tesoura- faz-se através de dotação consignada na Lei do Orçamento ou
ria. em créditos adicionais.

ARTIGO 35.º ARTIGO 41.º


(Regras de execução orçamental) (Saldos)

Em cada ano, as regras de execução do Orçamento Geral O saldo financeiro do fundo autónomo apurado nas con-
do Estado, são publicadas por decreto legislativo presiden- tas públicas é transferido para o exercício seguinte, a crédito
cial.
do mesmo fundo, salvo determinação em contrário do diploma
SECÇÃO II legal que o instituiu.
Exercício Financeiro

ARTIGO 36.º ARTIGO 42.º


(Exercício) (Normas regulamentares)

1. O exercício financeiro coincide com o ano civil. Compete ao Presidente da República regulamentar o fun-
2. Pertencem ao exercício financeiro: cionamento, o controlo e a prestação de contas, que devem
reger os fundos autónomos.
a) as receitas nele arrecadadas e a arrecadar, bem
como os saldos financeiros do exercício anterior; CAPÍTULO VII
b) as despesas nele cabimentadas. Contabilidade

SECÇÃO I
ARTIGO 37.º
Disposições Gerais
(Anulação de despesas)

ARTIGO 43.º
Reverte para a dotação orçamental a importância corres- (Âmbito)
pondente a despesa anulada no próprio exercício.
A contabilidade evidencia, perante o Estado ou a Autar-
ARTIGO 38.º
(Exercícios findos)
quia, a situação de todos os agentes públicos que arrecadem
receitas, efectuem despesas, produzam bens e serviços, exe-
1. As despesas liquidadas e não pagas até ao encerramento cutem obras ou serviços, guardem ou administrem bens a ele
do exercício financeiro, após devidamente reconhecidas pertencentes ou confiados.
pela autoridade competente, são inscritas em restos a pagar.
ARTIGO 44.º
(Objecto)
2. As despesas de exercícios encerrados, para as quais o
orçamento respectivo consignava crédito orçamental próprio
com saldo suficiente para atendê-lo, não cabimentadas e liqui- Os serviços de contabilidade são organizados de forma a
dadas na época própria, mas que poderiam ter sido atendidas permitir o acompanhamento da execução orçamental e finan-
em face da legislação vigente, após expressamente reconhe- ceira, os custos das actividades e dos projectos, as mutações
cidas pelo ordenador da despesa, são inscritas como despesas e a composição do património, bem como propiciar os ele-
de exercícios findos e são pagas à conta de dotação orça- mentos para o apuramento das contas parciais e da Conta
mental específica consignada na Lei do Orçamento ou de cré- Geral, assim como a análise e interpretação dos resultados
ditos adicionais. económicos e financeiros do Estado ou Autarquia.
I SÉRIE — N.º 131 — DE 14 DE JULHO DE 2010 1405

ARTIGO 45.º ARTIGO 52.º


(Evidência) (Operações financeiras extraordinárias)

A contabilidade evidencia os factos ligados à administra- Todas as operações de que resultem débitos ou créditos de
ção orçamental, financeira e patrimonial. natureza financeira não compreendidos na execução orça-
mental são objecto de registo, individualização e controlo
ARTIGO 46.º contabilístico.
(Método)
ARTIGO 53.º
(Dívida flutuante)
A escrituração das operações orçamentais, financeiras e
patrimoniais é efectuada pelo método das partidas dobradas. A dívida flutuante compreende os restos a pagar, o ser-
viço da dívida exigível no próprio exercício, as cauções ou
ARTIGO 47.º garantias recebidas de terceiros e as retenções efectivadas em
(Controlo contabilístico) favor de terceiros.

SECÇÃO III
Os direitos e obrigações resultantes de contratos, ajustes, Contabilidade Patrimonial
avales, garantias e endossos de que a administração pública
seja parte estão sujeitos ao controlo contabilístico. ARTIGO 54.º
(Conceito)

ARTIGO 48.º
A contabilidade evidencia, nos seus registos, os bens,
(Escrituração de débitos e créditos)
direitos e obrigações, com indicação dos elementos necessá-
rios para a sua identificação.
Os débitos e créditos são escriturados com individualização
do devedor e especificação da natureza e valor. ARTIGO 55.º
(Inventário analítico)
ARTIGO 49.º
(Verificação de contas) O controlo do registo é feito mediante levantamento dos
bens e dos títulos representativos de créditos, que têm por
A verificação de contas dos agentes responsáveis por bens base o inventário analítico, estruturado segundo o responsá-
ou dinheiros públicos é realizada pelos serviços de contabi- vel pela sua guarda.
lidade.
ARTIGO 56.º
SECÇÃO II (Rendimentos patrimoniais)
Contabilidade Orçamental e Financeira
1. As componentes patrimoniais que geram rendimentos
ARTIGO 50.º
são registadas discriminadamente, com o objectivo de iden-
(Objecto)
tificar os devedores e a fornecer informações para a elabora-
ção da proposta orçamental.
A contabilidade orçamental e financeira deve evidenciar,
os registos:
2. As doações e outras formas de assistência não onerosa
de bens patrimoniais a favor do Estado ou Autarquia, são
a) orçamental, compreendendo o montante dos créditos
obrigatoriamente registados após a verificação do acto e acei-
orçamentais e as suas variações, a despesa cabi- tação pelo Ministério das Finanças, no caso do Estado, e pelo
mentada, liquidada, paga e os créditos disponí- correspondente órgão autárquico, no caso das Autarquias.
veis;
b) financeira, compreendendo a programação e execução ARTIGO 57.º
(Dívida fundada)
financeira, o montante dos tectos financeiros
autorizados, os limites periódicos de cabimentação
1. Os compromissos de exigibilidade superior a um ano,
da despesa e a concessão das quotas e limites
contraídos para atender a desequilíbrios orçamentais ou a
financeiros.
financiamentos de obras ou serviços, são inscritos na dívida
ARTIGO 51.º
fundada.
(Registo orçamental)
2. A dívida fundada é escriturada de forma a permitir, a
O registo contabilístico das receitas e das despesas é feito qualquer momento, verificar a posição de cada empréstimo e
de forma a atender as especificações da Lei Orçamental e as respectivos serviços da dívida, bem como é discriminada,
suas alterações. conforme o caso, em contratual ou mobiliária.
1406 DIÁRIO DA REPÚBLICA

SECÇÃO IV l) demonstrações financeiras específicas e notas


Agrupamento da Conta Geral do Estado
explicativas das instituições com autonomia
ARTIGO 58.º
administrativa e financeira, acompanhada do res-
(Conta Geral do Estado) pectivo parecer de auditoria;
m) lista de responsáveis, assinado pelo titular da uni-
1. A Conta Geral do Estado compreende as contas de dade orçamental ou pelo dirigente máximo da
todos os órgãos integrados no Orçamento Geral do Estado. entidade.

2. Os resultados do exercício são evidenciados na Conta ARTIGO 59.º


(Balanço orçamental)
Geral do Estado, através do Balanço Orçamental, do Balanço
Financeiro, do Balanço Patrimonial e da Demonstração das
O balanço orçamental demonstra a receita prevista e a
Variações Patrimoniais e acompanhados das respectivas
despesa autorizada, em confronto com a realizada, eviden-
notas explicativas.
ciando a diferença resultante deste confronto.

3. Devem ainda compor a Conta Geral do Estado, os ele-


ARTIGO 60.º
mentos seguintes: (Balanço financeiro)

a) demonstrativos da execução da receita e da despesa, O balanço financeiro demonstra a receita e a despesa orça-
nos níveis consolidado e detalhado das classifi- mental, bem como os pagamentos e recebimentos de natu-
cações institucional, funcional, programática e reza extra-orçamental, conjugados com os saldos em espécie
económica; provenientes do exercício anterior e os que se transferem para
b) relatório sobre os resultados da gestão orçamental, o exercício seguinte.
financeira e patrimonial, destacando-se a actividade
financeira do Estado, nos domínios das receitas, ARTIGO 61.º
(Balanço patrimonial)
despesas, tesouraria e créditos públicos, desta-
cando-se o impacto social e económico das ope-
O balanço patrimonial demonstra os activos e passivos e
rações do Governo;
subdivide-se em:
c) indicadores que permitam aferir o cumprimento da
Lei Orçamental, inclusive o da Segurança Social,
a) activo circulante, compreendendo as disponibilizações
levando-se em conta os resultados quantitativos
em numerário, os recursos a receber, bem como
e qualitativos alcançados;
outros bens e direitos em circulação, vencíveis
d) relatório da execução do plano de privatizações e a
até o término do exercício seguinte;
aplicação das suas receitas;
b) realizável a longo prazo, compreendendo os direi-
e) demonstrativo das participações do Estado nas tos realizáveis após o término do exercício
empresas públicas; seguinte;
f) demonstrativo das responsabilidades directas ou c) activo permanente, compreendendo os investimentos
indirectas do Estado, incluindo a concessão de de carácter permanente e as imobilizações;
avales; d) passivo circulante, compreendendo os depósitos e
g) demonstrativo das subvenções, subsídios, benefícios outras obrigações pendentes ou em circulação
fiscais, créditos e outras formas de apoio conce- exigíveis até o término do exercício seguinte, isto
didos pelo Estado; é, a dívida flutuante;
h) demonstrativo das doações e outras formas de e) exigível a longo prazo, compreendendo os com-
assistência não onerosa de organismos interna- promissos exigíveis após o término do exercício
cionais; seguinte, isto é, a dívida fundada;
i) relatório da execução dos programas de acção, f) património líquido, compreendendo o saldo patrimo-
investimento e financiamento das empresas nial ou seja, o património da gestão;
públicas, bem como o emprego ou aplicação das g) contas de ordem activa e passiva, compreendendo
subvenções a cargo dos serviços, institutos e fun- o acompanhamento da previsão e execução orça-
dos autónomos; mental e financeira, bem como o controlo rela-
j) demonstrativos da gestão patrimonial, com o desta- cionado com os bens, direitos e obrigações que
que para o inventário patrimonial; não integram o património, mas que, directa ou
k) demonstrativos da posição dos outros stocks de indirectamente, possam vir a afectá-lo e ainda os
activo e passivo; riscos e a concessão de garantias.
I SÉRIE — N.º 131 — DE 14 DE JULHO DE 2010 1407

ARTIGO 62.º a) apreciar a Conta Geral do Estado, bem como os rela-


(Demonstração das variações patrimoniais)
tórios trimestrais de execução do Orçamento
A demonstração das variações patrimoniais evidencia as Geral do Estado;
mutações verificadas no património, bem como apura o b) julgar as contas dos responsáveis por dinheiros,
resultado do exercício. bens e valores da Administração do Estado ou
dos órgãos que dele dependem;
CAPÍTULO VIII c) realizar inspecções de natureza orçamental, financeira
Controlo da Execução Orçamental e Financeira ou patrimonial, com poderes para requisitar e
do Estado examinar todos os elementos que julgue neces-
sários;
SECÇÃO I
Disposições Gerais d) apresentar perante os tribunais, as irregularidades
ou abusos apurados, com vista à imputação de
ARTIGO 63.º
responsabilidade disciplinar, civil ou criminal.
(Controlo interno e externo)

1. A fiscalização orçamental, financeira, patrimonial e CAPÍTULO IX


operacional da Administração do Estado e dos órgãos que Responsabilidade Fiscal
dele dependem, é exercida pela Assembleia Nacional e pelo
Tribunal de Contas, ao nível do controlo externo, e pelo Pre- ARTIGO 66.º
(Objectivo)
sidente da República, através dos seus órgãos especializados,
ao nível do controlo interno.
A responsabilidade na gestão fiscal pressupõe a acção pla-
2. O controlo externo é exercido pela Assembleia Nacio- neada e transparente, em que se previnem os riscos e corri-
nal, a quem compete aprovar a Conta Geral do Estado, gem desvios capazes de afectar o equilíbrio das contas
podendo a mesma ser acompanhada do Relatório Parecer do públicas, mediante o cumprimento de metas, de resultados
Tribunal de Contas e todos os elementos necessários à sua entre receitas e despesas e a obediência a limites e condições
análise, nos termos da lei. de geração de despesas, dívidas, operações de crédito, con-
cessão de garantia e inscrição em restos a pagar por todos os
3. O Presidente da República deve informar à Assembleia
Nacional, até 45 dias após o termo do trimestre a que se refere, entes públicos.
sobre a execução orçamental, financeira e patrimonial, atra- ARTIGO 67.º
vés de balancetes e relatórios trimestrais elaborados pelo (Responsabilidade pela execução orçamental)
órgão responsável pela contabilidade nacional, a excepção
do último trimestre do ano, sobre o que é apresentada a Conta 1. Os titulares das unidades orçamentais respondem polí-
Geral do Estado, que acumula o movimento do exercício tica, financeira, civil e criminalmente pelos actos e omissões
encerrado. que pratiquem no âmbito do exercício das suas funções de
execução orçamental, nos termos da Constituição e demais
4. O Presidente da República deve apresentar à Assem- legislação aplicável.
bleia Nacional, até 30 de Setembro do ano seguinte àquele a
que diga respeito, o balanço geral relativo aos resultados do 2. Os funcionários e agentes são responsáveis disciplinar,
exercício económico.
financeira, civil e criminalmente pelos seus actos e omissões
que resulte violação das normas de execução orçamental.
5. Os relatórios e as contas dos órgãos de soberania são
submetidos directamente por estes ao Tribunal de Contas, até
ARTIGO 68.º
30 de Setembro do ano seguinte àquele a que digam respeito. (Despesas obrigatórias)

6. A Assembleia Nacional aprecia e vota a Conta Geral


1. Considera-se obrigatória a despesa corrente derivada
do Estado até 30 de Junho do ano seguinte, ao previsto no
de lei, contrato ou acto administrativo que fixa para o ente a
n.º 4 do presente artigo.
obrigação legal de sua execução por um período superior ao
SECÇÃO II
do exercício em que o acto ocorrer.
Controlo Interno
2. No orçamento são inscritas obrigatoriamente:
ARTIGO 64.º
(Competência)
a) as dotações necessárias para o cumprimento das
Compete ao controlo interno: obrigações decorrentes de lei ou de contrato
1408 DIÁRIO DA REPÚBLICA

assinado, nos termos das regras de execução 5. A gestão da dívida directa deve orientar-se por princí-
orçamental; pios de rigor eficiência, assegurando a disponibilização dos
b) as dotações destinadas ao pagamento de encargos financiamentos requerido em cada exercício orçamental, mini-
resultantes de sentenças de quaisquer tribunais. mizando os custos directos e indirectos numa perspectiva de
longo prazo, bem como garantindo uma distribuição equili-
ARTIGO 69.º brada de custos pelos vários orçamentos anuais.
(Controlo da despesa com o pessoal)
ARTIGO 72.º
É vedada a admissão ou contratação de pessoal a qual- (Preservação do património)
quer título, sem o devido planeamento de efectivos e previ-
são da respectiva dotação orçamental, exceptuando-se a É vedada a aplicação da receita de capital resultante da
reposição decorrente de aposentação ou falecimento de fun- alienação de bens e direitos que integram o património
cionários públicos dos sectores da educação, saúde e segu- público para o financiamento de despesa corrente, salvo se
rança social. destinada por lei aos regimes de segurança social e dos pró-
prios funcionários públicos.
ARTIGO 70.º
(Operações de crédito) ARTIGO 74.º
(Instrumentos de gestão)
1. O montante previsto para as receitas de operações de
crédito não pode ser superior ao das despesas de capital, Os organismos da Administração Central e Local do Estado
constantes do Projecto de Lei Orçamental. ficam sujeitos ao Plano de Contas do Estado na sua execução
contabilística, podendo ainda dispor de outros instrumentos
necessários a boa gestão e ao controlo dos recursos financei-
2. A operação de crédito por antecipação de receita reali-
ros e outros activos do Estado e das Autarquias, nos termos
zar-se-á somente a partir do vigésimo dia do início do exer-
previstos na lei.
cício e deve ser liquidada e paga, com juros e outros encargos
incidentes, até o dia 15 de Dezembro de cada ano, excepto no ARTIGO 74.º
caso de Bilhetes do Tesouro cuja data de vencimento recai (Publicidade)

no exercício seguinte, devendo os recursos financeiros des-


O Poder Executivo e os poderes autárquicos devem asse-
tinados ao seu resgate provir de receitas fiscais auferidas no
gurar a publicação de todos os documentos que se revelem
mesmo exercício da sua emissão.
necessários para assegurar a adequada divulgação e transpa-
rência dos correspondentes orçamentais.
3. A realização de operações de crédito pelas Autarquias
está sujeita a autorização do Presidente da República.
CAPÍTULO X
Organização Sistémica
ARTIGO 71.º
(Dívida pública) ARTIGO 75.º
(Sistema orçamental do Estado)

1. No cálculo do limite para a dívida fundada deve ter-se


em conta o endividamento novo, deduzido das amortizações 1. O órgão central do sistema orçamental do Estado é a
e das reservas financeiras do Tesouro, existentes no encerra- entidade do Poder Executivo legalmente encarregue de coor-
mento do exercício financeiro. denar a elaboração e execução do Orçamento Geral do Estado
e de elaborar e aprovar as instruções e formulários, com vista
2. É vedada a utilização dos recursos financeiros oriundos a conformar a forma de apresentação dos orçamentos dos
do acréscimo da dívida fundada líquida em despesas decor- órgãos da Administração do Estado.
rentes, devendo as despesas de capital serem superiores aos
2. Os órgãos sectoriais do sistema orçamental são os defi-
mesmos.
nidos no artigo 105.º da Constituição da República de Angola
e os Ministérios, Secretarias de Estado e demais órgãos que
3. A dívida pública, interna e externa, de curto, médio e
constituem o Executivo.
longo prazos, não deve exceder 60% do Produto Interno
Bruto. ARTIGO 76.º
(Sistema financeiro do Estado)
4. A concessão de garantias geradoras de dívida indirecta,
está sujeita à observância do estabelecido na Lei do Orça- 1. O órgão central do sistema financeiro do Estado é a
mento Geral do Estado. entidade do Poder Executivo legalmente encarregue de ela-
I SÉRIE — N.º 131 — DE 14 DE JULHO DE 2010 1409

borar a programação financeira, gerir e controlar a Conta 2. Os órgãos sectoriais do sistema patrimonial são as uni-
Única do Tesouro e coordenar a execução financeira do dades às quais lhes forem atribuídas as competências de ges-
Orçamento Geral do Estado. tão patrimonial dos órgãos de soberania, da Administração
Central e Local do Estado, dos serviços, institutos públicos,
2. Os órgãos sectoriais do sistema financeiro são os defi- fundos autónomos e da segurança social.
nidos no artigo 105.º da Constituição da República de Angola CAPÍTULO XI
e os Ministérios, Secretarias de Estado e demais órgãos que Disposições Finais
constituem o Executivo.
ARTIGO 79.º
(Revogação)
ARTIGO 77.º
(Sistema contabilístico do Estado) É revogada a Lei n.º 9/97, de 17 de Outubro, bem como
todas as normas que disponham em contrário ao estabelecido
1. O órgão central do sistema contabilístico do Estado é na presente lei.
a entidade do Poder Executivo legalmente encarregue de ela-
borar, aprovar as instruções para os registos contabilísticos e ARTIGO 80.º
(Dúvidas e omissões)
de realizar o apuramento da Conta Geral do Estado e dos rela-
tórios trimestrais da execução orçamental, financeira e patri- As dúvidas e omissões que se suscitarem na interpreta-
monial. ção e aplicação da presente lei são resolvidas pela Assem-
bleia Nacional.
2. Os órgãos sectoriais do sistema contabilístico são as ARTIGO 81.º
unidades às quais lhes forem atribuídas a responsabilidade (Entrada em vigor)

da gestão orçamental, financeira e patrimonial dos órgãos de


A presente lei entra em vigor após à data da sua
soberania, da Administração Central e Local do Estado, dos
publicação.
serviços, institutos públicos, fundos autónomos e da segu-
rança social.
Vista e aprovada pela Assembleia Nacional, em Luanda,
ARTIGO 78.º aos 27 de Maio de 2010.
(Sistema patrimonial do Estado)

O Presidente em exercício, da Assembleia Nacional, João


1. O órgão central do sistema patrimonial do Estado é a Manuel Gonçalves Lourenço.
entidade do Governo legalmente encarregue de elaborar,
aprovar as instruções para os registos patrimoniais, fiscali- Promulgada em 22 de Junho de 2010.
zar e administrar os bens do Estado, respondendo sobre a glo-
balidade dos activos patrimoniais não financeiros e elaborar Publique-se.
o Inventário Geral dos Bens que integram o património do
Estado. O Presidente da República, JOSÉ EDUARDO DOS SANTOS.

O. E. 445 — 7/131— 1500 ex. — I. N.-E. P.— 2010

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