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Entretanto, isso não quer dizer que tais magistrados não se equivoquem.
Muito pelo contrário, pois como afirma o professor René Ariel Dotti em suas palestras,
“o Supremo Tribunal Federal também erra, só que erra por último!”
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O autor é Delegado de Polícia no Estado de Santa Catarina, Pós-graduado em Direito Penal pelo
Instituto Processus de Cultura e Atualização Jurídica, Brasília/DF.
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A título de esclarecimento, parte da doutrina entende que não é possível argüir a inconstitucionalidade
das súmulas vinculantes por meio do controle abstrato de normas (ADI). Argumentam que a própria
constituição fixou a forma de rever o enunciado, ou seja, a lei previu a forma específica de revisão e
cancelamento das súmulas vinculantes, nos moldes do artigo 103-A, parte final.
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Em razão disso, o Sindicato dos Agentes de Policia Federal impetrou um Hábeas Corpus preventivo
com o fim evitar possível coação ilegal na liberdade dos policiais que utilizarem algemas no
cumprimento de mandado de prisão. Cf. HC nº. 96.238.
Tal “ato normativo” foi editado após a análise do Hábeas Corpus nº
91.952/SP (Rel. Min. Marco Aurélio) pelo Supremo Tribunal Federal, o qual declarou a
nulidade do julgamento que condenou o réu a 13 anos de prisão, sob o argumento de
que o uso das algemas perante o corpo de jurados do Tribunal do Júri fere a dignidade
da pessoa humana (art. 1º, inc. III, CRFB).
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Vale lembrar que independentemente da natureza jurídica do comando normativo previsto na
constituição, se principiológica (comando de otimização) ou de regramento (lógica do “tudo ou nada”),
todo dispositivo constitucional possui força normativa e deve ser respeitado. Segundo a doutrina mais
abalizada, preconizada por Ronald Dworkin nos Estados Unidos e Vezio Crizafulli na Itália, não
existem na constituição meros conselhos, palpites ou apontamentos. Todos os dispositivos possuem
força para mudar a realidade. Apud HOLTE, Leo Van. Curso de Direito Constitucional. 4.ed.
Salvador: Jus Podvum, p. 87.
“A súmula terá por objetivo a validade, a interpretação e a eficácia
de normas determinadas, acerca das quais haja controvérsia atual
entre órgãos judiciários ou entre esses e a administração pública
que acarrete grave insegurança jurídica e relevante multiplicação
de processos sobre questão idêntica.” (grifos nosso)
O primeiro ponto que se questiona e que foi desrespeitado pelo STF foi o
fato de não ter havido reiteradas decisões sobre a matéria em análise. O que houve foi
um único julgamento (Hábeas Corpus nº 89.429-1/RO, 22/08/06), no qual a Min.
Carmem Lucia elencou, talvez monocraticamente, alguns requisitos para o uso de
algemas. Segundo ela, a “matéria não é tratada, específica e expressamente, nos códigos
Penal e de Processo Penal vigentes.” (Informativo 437, do STF).
Na Inglaterra, como regra geral, todo e qualquer cidadão detido deve ser
algemado, até mesmo para evitar tratamento desigual no momento da prisão. O STF, ao
editar a súmula vinculante nº. 11, asseverou que no Brasil essa regra não encontra
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Os processos envolvendo o Sistema Financeiro de Habitação-SFH em trâmite na Justiça Federal, v.g.,
são idênticos. Na elaboração das petições iniciais, como regra, os advogados alteram apenas a
qualificação dos mutuários.
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Art. 22. Os atos do processo administrativo não dependem de forma determinada senão quando a lei
expressamente a exigir.
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Veja, por exemplo, o caso do banqueiro Salvatore Cacciola, o qual após ser libertado fugiu
imediatamente do país com o fim de se furtar à aplicação da lei penal brasileira.
respaldo. Concordamos com o STF neste ponto, pois sabemos que não são todas as
pessoas que necessitam serem algemadas. Há casos e casos.
Entretanto, uma observação deve ser feita: quem deve fazer a análise
sobre a necessidade ou não do uso das algemas são os policiais que estão atendendo a
ocorrência ou efetuando o cumprimento do mandado de prisão. São estes profissionais
que estão correndo o risco de vida e são eles que devem analisar, no caso concreto, a
necessidade ou não do uso de tal expediente.