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UNIVERSIDADE FEDERAL DO ACRE

CURSO DE DIREITO
DIREITO DO CONSUMIDOR

ARTIGO 51, DO CDC E OS ENTENDIMENTOS DOUTRINÁRIOS E


JURISPRUDENCIAIS CORRELATOS

RIO BRANCO/AC
2019
1. INTRODUÇÃO

O artigo 51 do Código de Defesa do Consumidor traz inúmeras


hipóteses de declaração de nulidade de cláusulas contratuais.

Nesse aspecto, o presente trabalho visa expor, de forma didática,


algumas dessas cláusulas, bem como o entendimento jurisprudencial e
doutrinário que as reveste nas mais diversas situações com as quais pode se
deparar o operador do Direito.

Por isso, através do emprego do método dedutivo de pesquisa e com


uma abordagem qualitativa de natureza bibliográfica e documental, buscar-se-á
salientar os pontos mais importantes da matéria.

Desta feita, buscando integrar de forma adequada e coerente os tópicos


do texto, atento ao método de pesquisa utilizado, acredita-se ser possível,
através desse singelo manuscrito, contribuir para o entendimento acerca da
importância da previsão de hipóteses de nulidade de cláusulas contratuais
dentro da dinâmica consumerista.
2. DESENVOLVIMENTO

O art. 51 do Código de Defesa do Consumidor prevê, de forma não


taxativa, as inúmeras hipóteses de nulidade contratual quando do fornecimento
de produtos e serviços.
Dentre elas, destaca-se que são nulas, de pleno direito, toda cláusula
de rescisão ou cancelamento unilateral, independentemente de quem a
nulidade aproveite.
Tal medida se justifica pela proteção à função social do contrato, bem
como o respeito à boa-fé objetiva, por meio da qual se abominam
comportamentos contraditórios que, possivelmente, viriam a frustrar a legitima
expectativa do outro contratante, em razão da quebra arbitrária e imprevisível
do contrato.
Nesse sentido, esclarecem Tartuce e Neves (2017, p. 188), que:
O CDC encerra no inciso em comento um importante controle sobre o
direito de resilição contratual, mais uma vez vedando uma cláusula
puramente potestativa, denominada cláusula de rescisão unilateral ou
de cancelamento unilateral. Reside por igual no conteúdo da norma a
máxima que veda o comportamento contraditório, relacionada à boa-
fé objetiva e às justas expectativas depositadas no negócio jurídico
(venire contra factum proprium non potest).

A título de exemplificação, colacione-se o seguinte entendimento do


STJ, acerca dos contratos de plano de saúde:

Consumidor. Plano de saúde. Cláusula abusiva. Nulidade. Rescisão


unilateral do contrato pela seguradora. Lei 9.656/1998. É nula, por
expressa previsão legal, e em razão de sua abusividade, a cláusula
inserida em contrato de plano de saúde que permite a sua rescisão
unilateral pela seguradora, sob simples alegação de inviabilidade de
manutenção da avença. Recurso provido” (STJ – REsp 602.397/RS –
Terceira Turma – Rel. Min. Castro Filho – j. 21.06.2005 – DJ
01.08.2005, p. 443)

Também são nulas as cláusulas que acabem por obrigar o consumidor


a restituir os custos de cobrança de sua obrigação, sem que lhe seja garantido
o mesmo direito frente ao fornecedor, uma vez que se busca, na maior medida
do possível, a garantia do equilíbrio contratual.
É com fundamento em tal disposição que o STJ, no REsp 1.274.629-
AR, Informativo 524, assentou o entendimento de que:

É abusiva a cláusula contratual que atribua exclusivamente ao


consumidor em mora a obrigação de arcar com os honorários
advocatícios referentes à cobrança extrajudicial da dívida, sem exigir
do fornecedor a demonstração de que a contratação de advogado
fora efetivamente necessária e de que os serviços prestados pelo
profissional contratado sejam privativos da advocacia.

Ademais, prevê o art. 51, inciso XIII, do CDC, que:

Art. 51. São nulas de pleno direito, entre outras, as cláusulas


contratuais relativas ao fornecimento de produtos e serviços que:
[...]
XIII - autorizem o fornecedor a modificar unilateralmente o conteúdo
ou a qualidade do contrato, após sua celebração.

Assim deve ser, no dizer de Garcia (2016), pois, como nos incisos
anteriores, busca-se assegurar o equilíbrio nas relações contratuais pactuadas,
na medida em que se tenta afastar qualquer espécie de privilégio concedido ao
fornecedor em detrimento do consumidor. Desta feita, entende o autor, toda e
qualquer alteração contratual deve estar pautada no consentimento claro e
inequívoco do consumidor, sob pena de se macular a função social contratual.

Já, no que atine ao inciso XIV, do art. 51, do CDC, esclarece Garcia
(2016, p. 399), que:

Não se admite que cláusulas contratuais possam causar danos ao


meio ambiente, ainda que sejam benéficas ao consumidor. Aqui, a
proibição vale para as duas partes da relação. Em nenhuma hipótese,
podem as partes celebrar um contrato que venha, ainda que
indiretamente, trazer malefícios ao meio ambiente. Quando se diz
meio ambiente, deve-se levar em conta o meio ambiente natural, ou
também chamado de físico, constituído pelo solo, água, ar, flora,
fauna; o meio ambiente cultural [...] integrado pelo patrimônio
histórico, artístico, arqueológico, paisagístico e turístico; o meio
ambiente artificial [...] e o meio ambiente do trabalho [...] que integra a
proteção do homem em seu local de trabalho, com observância às
normas de segurança.

Esse inciso, em verdade, ressalta a importância não só econômica,


mas, igualmente ambiental dos contratos, os quais devem cumprir com a sua
função social em seus três aspectos: econômico, ambiental e social.
Nessa esteira, de grande relevância se mostra o Enunciado n. 23 do
CJF/STJ, da I Jornada de Direito Civil, senão vejamos:

A função social do contrato, prevista no art. 421 do novo Código Civil,


não elimina o princípio da autonomia contratual, mas atenua ou reduz
o alcance desse princípio quando presentes interesses
metaindividuais ou interesse individual relativo à dignidade da pessoa
humana.

Atento a tal entendimento, enfatizam Tartuce e Neves (2017, p. 189),


que:

Diante de sua indeclinável abrangência difusa, a proteção do meio


ambiente envolve igualmente os contratos. Nesse contexto, pode-se
afirmar que o contrato que viola valores ambientais é nulo por
desrespeito à função social do contrato (função socioambiental).
Utiliza-se a eficácia externa do princípio, pela proteção dos direitos
difusos e coletivos, na esteira do Enunciado n. 23 do CJF/STJ, da I
Jornada de Direito Civil. Não poderia ser diferente com os contratos
de consumo, em que a proteção coletiva é marcante.

Ademais, reputam-se nulas as normas que atentem contra o sistema


de proteção do consumidor, conforme prevê o inciso XV.

Garcia (2017) considera as normas de teor aberto de grande


importância para que a doutrina e a jurisprudência atuem apreciando cláusulas
que estejam em desacordo com todo o sistema de proteção. Um exemplo
clássico é a clausula de eleição de foro que impossibilite ao consumidor o livre
acesso ao Judiciário.

Acerca do tema, no REsp 1655324, o Superior Tribunal de Justiça


confirmou decisão proferida pelo Tribunal de Justiça de Minas Gerais, no
sentido de considerar abusiva cláusula de rescisão unilateral, nos contratos de
plano de saúde, sem prévia notificação por ferir os deveres de informação, boa-
fé, transparência e equidade, sendo, diante disso, declarada nula por estar em
desacordo com o sistema de proteção do consumidor.

Dada a nulidade das cláusulas contrárias ao sistema de proteção do


consumidor, o inciso XVI considera abusiva a cláusula de renúncia às
benfeitorias necessárias, isto é, as benfeitorias que visam à conservação do
bem principal, a qual tem grande aplicabilidade nos contratos de compra e
venda, posto que o CDC não se aplica aos contratos de locação.
Vejamos como nossa jurisprudência tem apreciado questões
envolvendo essa hipótese:

Ação de rescisão de compromisso de venda e compra cumulada com


reintegração de posse. Descumprimento de cláusula contratual.
Rescisão do contrato e reintegração de posse que se impõe, diante
da inadimplência e não purgação da mora. Desnecessidade da
reconvenção para análise do pedido de devolução das parcelas
pagas, já que a matéria constitui o próprio objeto do campo cognitivo
da demanda principal. Incabível a perda integral das prestações
pagas. Aplicação do disposto no Código de Defesa do Consumidor.
Direito à devolução dos valores, com retenção de 50% das parcelas
pagas. Nulidade da cláusula que nega o direito à indenização pelas
benfeitorias necessárias e úteis. Não cabimento de direito de
retenção. Ausência de discriminação, na hipótese, das benfeitorias
necessárias. Reforma parcial da R. Sentença. Dá-se parcial
provimento ao recurso” (TJSP – Apelação Cível 9057567-
26.2006.8.26.0000 – Acórdão 4988092, Araçatuba – Quinta Câmara
de Direito Privado – Rel. Des. Christine Santini – j. 23.02.2011 –
DJESP 07.04.2011).

Ainda vale mencionar, que o inciso IV deve ser lido em conjunto com o
§ 1º, incisos I, II e III, do art. 51, in verbis:

Art. 51. São nulas de pleno direito, entre outras, as cláusulas


contratuais relativas ao fornecimento de produtos e serviços que:
[...]
IV - estabeleçam obrigações consideradas iníquas, abusivas, que
coloquem o consumidor em desvantagem exagerada, ou sejam
incompatíveis com a boa-fé ou a eqüidade;
[...]
§ 1º Presume-se exagerada, entre outros casos, a vantagem que:
I - ofende os princípios fundamentais do sistema jurídico a que
pertence;

II - restringe direitos ou obrigações fundamentais inerentes à natureza


do contrato, de tal modo a ameaçar seu objeto ou equilíbrio
contratual;

III - se mostra excessivamente onerosa para o consumidor,


considerando-se a natureza e conteúdo do contrato, o interesse das
partes e outras circunstâncias peculiares ao caso.

O termo “desvantagem exagerada”, tem natureza de cláusula aberta,


razão pela qual deve ser apreendido seu verdadeiro significado quando da
análise do caso concreto. Apesar disso, por delimitação do § 1º, do art. 51, são
trazidos alguns exemplos de sua aplicabilidade. Quando presentes, tais
cláusulas são capazes de por o consumidor em uma posição de desvantagem.

Tartuce e Neves (2018) citam, a título de exemplo, o REsp nº 715.894


em que foi reconhecido pelo Superior Tribunal de Justiça, que na “[...] na
hipótese de o contrato prever a incidência de juros remuneratórios, porém sem
lhe precisar o montante, está correta a decisão que considera nula tal cláusula
[...]”. Isso se deve ao fato de que tal cláusula configuraria vantagem exagerada
ao possibilitar uma oneração excessiva em face do consumidor.

Outro exemplo foi o reconhecimento pela Corte, no REsp nº 259.263,


da abusividade de cláusula em contratos de plano de saúde que visam
suspender o atendimento em razão de atraso no pagamento de uma parcela,
bem como a submissão do segurado a cumprir um novo período de carência
equivalente ao qual perdurou o atraso.

Considerar-se-á nula, da mesma forma, a cláusula que se manifestar


abusiva. Em regra, a nulidade somente abrangerá a cláusula que se mostre
abusiva, não tendo o condão de contaminar todo o contrato, exceto quando na
ausência da cláusula abusiva, apesar das tentativas de “consertar” o contrato,
sua ausência torna ônus excessivo a qualquer das partes, sendo esta
explicação quase que a literalidade do parágrafo, conforme §2º do
artigo 51 do CDC, transcrito abaixo:

§ 2° A nulidade de uma cláusula contratual abusiva não invalida o


contrato, exceto quando de sua ausência, apesar dos esforços de
integração, decorrer ônus excessivo a qualquer das partes.

O código de defesa do consumidor trás o princípio que o abuso do


direito é oriundo do reconhecimento absoluto da vulnerabilidade do consumidor
no mercado de consumo, consoante alude o art. 4º, I, do CDC. Mas no que diz
respeito a cláusulas abusivas o §2º, do art. 51 engloba ambas as partes,
equiparando-os nessa relação para não incorrer em “ônus excessivo a
qualquer das partes” na aplicação do contrato.

Para oferecer uma tutela efetiva e real à relação de consumo é que o


art. 51, §2º não se contenta no já estabelecido sobre transparência e clareza
nos contratos, traz a preocupação com o conteúdo dos contratos que se reflete
na definição legal de rol de cláusulas abusivas, nulas de pleno direito, ou seja,
sem qualquer valor jurídico e com base na e a função social dos contratos é
que o referido parágrafo estipula exclusão de clausula sem inviabilizar todo o
contrato.
Neste sentido são os ensinamentos de Tartuce e Neves (2017, p. 68),
que:

O sentido da conservação contratual pode ser retirado do art. 51, §


2º, da Lei 8.078/1990, que estabelece a vedação de nulidade
automática de todo o negócio, pela presença de uma cláusula
abusiva. Enuncia tal comando que “a nulidade de uma cláusula
contratual abusiva não invalida o contrato, exceto quando de sua
ausência, apesar dos esforços de integração, decorrer um ônus
excessivo a qualquer das partes”. Para a manutenção do negócio,
devem-se buscar formas de integração, decretando-se a nulidade da
cláusula desproporcional, mas mantendo-se todo o resto do negócio
jurídico. Trata-se de aplicação, na ótica consumerista, da antiga
máxima segundo a qual a parte inútil do negócio não prejudica, em
regra, a sua parte útil (utile per inutile non vitiatur).

Como descrito, o alcance da nulidade é somente a cláusula abusiva,


pois o código quis proteger a relação consumerista, o intuito do parágrafo é o
aproveitamento do negócio jurídico, diante da sua importância para a
sociedade, salvaguardando a proteção ao consumidor, garantindo a
manutenção do contrato, relacionando sempre ao princípio da boa-fé objetiva.

O código ao propor de nulidade só da cláusula abusiva visa resguardar


o interesse do consumidor à manutenção do contrato. A regra de invalidade
parcial do contrato é bastante perceptível quando o próprio código impõe ao
juiz que promova esforços que poderá corrigir a nulidade da cláusula abusiva
preservando a parte válida do contrato.

No julgado abaixo, verificamos a aplicabilidade do referido parágrafo


com a melhor utilização do mesmo para aproveitamento da parte validade do
negócio jurídico:

STJ
RECURSO ESPECIAL Nº 1.479.420 - SP (2014/0202026-8)
RELATOR : MINISTRO RICARDO VILLAS BÔAS CUEVA
[...]
6. Não há ilegalidade na migração de inativo de plano de saúde se a
recomposição da base de usuários (trabalhadores ativos,
aposentados e demitidos sem justa causa) em um modelo único, na
modalidade pré-pagamento por faixas etárias, foi medida necessária
para se evitar a inexequibilidade do modelo antigo, ante os prejuízos
crescentes, solucionando o problema do desequilíbrio contratual,
observadas as mesmas condições de cobertura assistencial.
Vedação da onerosidade excessiva tanto para o consumidor quanto
para o fornecedor (art. 51, § 2º, do CDC). Função social do contrato e
solidariedade intergeracional, trazendo o dever de todos para a
viabilização do próprio contrato de assistência médica.
Na parte final do artigo 51, mais especificamente no §4, o CDC
concedeu ao Ministério Público a legitimidade para ingressar com ação visando
a nulidades de tais cláusulas, nesta toada, justo enfatizar a importância dessa
inclusão, uma vez que esta possibilidade traz aos consumidores ou as
entidades que os representa, maior arcabouço na busca da igualdade entre as
partes do processo, já que ele poderá suprir a fragilidade do consumidor no
que tange a falta de informação ou de condição para propor a ação.

A legitimidade do Ministério Público para o ajuizamento das ações


coletivas está expressamente consagrada na Lei 7.347/1985, lei da Ação Civil
Pública e na Lei 8.078/1990 Código de Defesa do Consumidor. Esses
dispositivos, entretanto, não exaurem o tema, devendo ser interpretados à luz
das funções institucionais constitucionalmente atribuídas ao Ministério Público
por meio do art. 129 da CF.

A participação do Ministério Público como legitimado, seja como órgão


conciliador, seja como propositor da ação pública, é uma força maior na busca
da defesa dos direitos difusos, coletivos e individuais homogêneos dos
consumidores.

Além de promover a persecução penal contra aqueles que praticam


as condutas típicas descritas no Código do Consumidor e demais leis,
o Ministério Público pode ainda mover ação para obter a declaração
de nulidade de cláusula contratual estabelecida em detrimento do
consumidor (CDC, art. 51, § 4º). Está também autorizado a instaurar
e presidir o inquérito civil, requisitando de qualquer órgão público ou
particular documentos, certidões, informações e perícias para instruir
o próprio inquérito civil ou ação judicial, incidindo em desobediência
aquele que se recusar ou retardar o atendimento da requisição (Lei nº
7.347/85, arts. 8º, §§ 1º e 2º, e 10, c/c o CDC, art. 90) (Almeida, 2003,
p. 262).

As Promotorias de Justiça de Defesa do Consumidor atuam em defesa


dos interesses difusos, coletivos ou individuais que sejam de relevância
social, atua em casos envolvendo oferta de alimentos, combustíveis e
medicamentos adulterados, publicidade enganosa ou abusiva, vícios e
defeitos em produtos e serviços em geral, práticas e cláusulas abusivas no
fornecimento de energia elétrica, telefonia, água, transporte coletivo,
contratos imobiliários, ensino privado, planos de saúde, comércio eletrônico e
nos demais casos de ameaça ou lesão à coletividade. Nos casos estritamente
individuais, nos municípios onde não há órgão próprio de proteção à defesa
do consumidor, o MP pode fazer atendimento buscando informar, orientar e
mediar acordos entre consumidor e fornecedor.

Há uma discussão doutrinária acerca da extensão dessa legitimidade


ativa, apesar de pacífica a ideia da sua legitimidade no tocante aos interesses
difusos em razão de não ser possível mensurar ou determinar sujeitos que
serão abarcados por tal tutela, ainda há aqueles que torcem o nariz quanto a
legitimidade do MP nas ações de direitos coletivos de sujeitos determináveis
e, principalmente, no que tange aos direitos individuais homogêneos,
defendendo que, nestes casos, o Ministério só poderia atuar nos casos de
relevante interesse social, principalmente porque, a previsão constitucional
para as ações do órgão falaria, taxativamente, dos direitos difusos e
coletivos.

No entendimento doutrinário e jurisprudencial majoritário, a legitimidade


do MP depende que este seja na proteção aos direitos indisponíveis ou
direitos disponíveis que tenham repercussão social. Há uma corrente,
minoritária, que defende que a legitimidade do parquet se reserva somente
nos direitos individuais homogêneos indisponíveis, com base no art. 129,
caput, da nossa Magna Carta. Ainda problemática é a pacificação acerca do
que seria de relevância social, alguns métodos de definição são utilizados,
como por exemplo, se trata sobre saúde, segurança, meio ambiente, pelo
número de pessoas lesadas, etc. segue abaixo algumas jurisprudências onde
demonstram a aplicabilidade da legitimidade ativa do MP no que tange a
interesses individuais coletivos ou individuais homogêneos disponíveis
caracterizados como de interesse social.

A tutela dos direitos e interesses de beneficiários do seguro DPVAT –


Danos Pessoais Causados por Veículos Automotores de Via
Terrestre, nos casos de indenização paga, pela seguradora, em valor
inferior ao determinado no art. 3º da Lei 6.914/1974, reveste-se de
relevante natureza social (interesse social qualificado), de modo a
conferir legitimidade ativa ao Ministério Público para defendê-los em
juízo mediante ação civil coletiva” (STF – Tribunal Pleno – RE
631.111/GO – rel. Min. Teori Zavascki – 06 e 07.08.2014 –
Informativo 753).
Processo civil. Ação civil pública. Locação. Cláusulas abusivas.
Administradoras de imóveis. Legitimidade passiva ad causam.
Interesses individuais homogêneos. As administradoras de imóveis
são legitimadas para figurarem no polo passivo em ações civis
coletivas propostas pelo Ministério Público com objetivo de declarar
nulidade e modificação de cláusulas abusivas, contidas em contratos
de locação elaboradas por aquelas. (Precedentes). Recurso especial
provido” (STJ – REsp 614.981/MG – Quinta Turma – Rel. Min. Felix
Fischer – j. 09.08.2005 – DJ 26.09.2005, p. 439)

Ademais, apesar dos entraves doutrinários e jurisprudências acerca da


legitimidade ou não do parquet para figurar como propositor de ação civil
pública, na interpretação acerca do Art. 129. “São funções institucionais do
Ministério Público: III - promover o inquérito civil e a ação civil pública, para a
proteção do patrimônio público e social, do meio ambiente e de outros
interesses difusos e coletivos;” é possível inferir que não há limites
constitucionais para atuação do MP nos outros interesses difusos e coletivos,
não havendo aí um rol taxativo, mas sim, exemplificativo. Ademais, a lei que
instituiu o Código de Defesa do Consumidor é posterior a promulgação da
Carta Constitucional, não sendo possível cobrar a necessidade expressa dele
no texto constitucional. Portanto, qualquer direito que seja tutelado por meio de
Ação Civil Pública, O Ministério Público pode, e deve promover.

3. CONCLUSÃO

Conforme exposto, resta comprovada a importância do artigo 51, do


CDC, dentro da dinâmica consumerista de proteção aos direitos do consumidor
como parte mais vulnerável da relação jurídica consumerista.
O referido dispositivo, de forma não taxativa, traz algumas situações que
desencadeiam a nulidade de determinada clausula, na maioria das vezes,
impondo ônus excessivos ao consumidor.
Define, igualmente, as cláusulas reputadas exageradas, bem como
elucida que, em regra, uma clausula abusiva é nula por si mesmo, não
afetando o restante do contrato.
Tendo em conta essas observações, acredita-se que o trabalho cumpriu
com seu objetivo, uma vez que, expôs de forma objetiva o tema proposto,
destacando, adequadamente, os posicionamentos doutrinários e
jurisprudenciais pertinentes.
REFERÊNCIAS

ALMEIDA, João Batista de. Manual de direito do consumidor. São Paulo:


Saraiva, 2003.

BRASIL. Lei n. 8.078/1990. Código de defesa do consumidor. Disponível em:


< http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l8078.htm>. Acesso em: 06 jun. 2019.

BRASIL. Lei n.º 7.347/1985. Ação Civil Pública. Disponível em:


<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l7347orig.htm>. Acesso em: 24.06.2019.

GARCIA, Leonardo de Medeiros. Código de Defesa do Consumidor


Comentado: artigo por artigo. ed. 13. Salvador: JusPODIVM, 2016.

GOUVEIA, Mila. Informativos em frases. ed. 3. Salvador: JusPODIVM, 2017.

TARTUCE, Flávio; NEVES, Daniel Amorim Assumpção. Manual de direito do


consumidor: direito material e processual. ed. 6. Rio de Janeiro: Forense;
São Paulo: MÉTODO, 2017.

TARTUCE, Flávio; NEVES, Daniel Amorim Assumpção. Manual de direito do


consumidor: direito material e processual. ed. 7. Rio de Janeiro: Forense;
São Paulo: MÉTODO, 2018.

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