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TREINAMENTO

PROJETOS DE RESERVATÓRIOS
ESTRUTURAL ENGENHARIA
Engenheiro Valdir Bernardi Zerbinati

sexta-feira, 7 de junho de 2019 1


A empresa Estrutural Projetos e Consultoria de Estruturas Ltda, com sede em Londrina-Pr, da qual sou sócio
fundador, introduziu no início do ano passado um programa de treinamentos internos. Esse programa consiste
em que cada engenheiro da equipe técnica faça a apresentação de um determinado tema para os demais enge-
nheiros e estagiários. É uma forma de socialização de conhecimentos. Essas apresentações acontecem mensal-
mente.
Eu e outros membros da equipe temos realizado muitos projetos de reservatórios nos últimos anos, adquirindo
uma experiência valiosa. Acabei me apaixonando pelo tema. É neste contexto que se insere este material.
Não é um artigo, um trabalho ou uma monografia, mas apenas uma apresentação produzida no PowerPoint, on-
de os slides servem para auxiliar a apresentação oral no treinamento.
Quem nunca projetou um reservatório não vai conseguir fazê-lo só com base neste texto. Entretanto, ele poderá
ser muito útil pontualmente, mesmo para aqueles que já projetam reservatórios.

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1. Classificação dos reservatórios
2. Aspectos construtivos
3. Ações
4. Análise
5. Dimensionamento
6. Detalhamento
7. Patologias e acidentes

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1. CLASSIFICAÇÃO DOS RESERVATÓRIOS

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1.1. Quanto à finalidade:

• Armazenamento de água (potável, pluvial, outros usos);


• Piscinas;
• Tanques de estações de tratamento de água e esgoto;
• Armazenamento de combustíveis;
• Armazenamento de gases;
• Armazenamento de bebidas.

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1.2. Quanto à posição no solo:

• Totalmente enterrados;
• Parcialmente enterrados;
• Apoiados sobre o solo;
• Elevados, apoiados em estrutura de edifícios;
• Elevados apoiados em torre própria.
1.3. Quanto ao material:
• Madeira

Havaí

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• Concreto armado in loco

Santa Mariana-PR Guarapuava-PR


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• Concreto armado, parcialmente pré-moldado

Reservatório
sexta-feira, 7 de junho de 2019 da Angelus Produtos Odontológicos – Londrina-PR 10
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• Concreto protendido com concretagem in loco

Tanque da Geo Energética em Paraíso do Norte-PR - fase de obra


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Tanques da Geo Energética em Paraíso do Norte-PR – fase de operação
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• Concreto protendido com pré-moldagem

Fase de montagem

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Fase de operação

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• Aço carbono

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Inpasa – Sinop-MT 19
• Aço inox

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• Aço vitrificado

Cascavel-PR

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• PRFV – Plástico Reforçado com Fibra de Vidro

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1.4. Quanto à geometria:
• Cilíndricos

Cambé-PR
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• Retangulares

Jataizinho-PR Jacarezinho-PR

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Vista interna do reservatório da SANEPAR na Rua Madre Leônia Milito, Londrina-PR
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• Tronco-cônicos

Ilha Solteira-SP

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Londrina - centro
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Londrina – Santos Dumont Maringá-PR
• Esféricos

Foto do autor, de abril de 1982, em momento de eclipse do


sol pelo reservatório

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Cambé-PR 33
sexta-feira, 7 de junho de 2019 Reservatórios de gás 34
• Outros formatos

sexta-feira, 7 de junho de 2019 Arapongas-PR São Mateus do Sul-PR 35


2. ASPECTOS CONSTRUTIVOS

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2.1 Fundações
São extremamente importantes, mais do que em outros tipos de estruturas, já que falhas nas fundações po-
dem acarretar fissuras na estrutura, com comprometimento da estanqueidade.

A correta escolha do tipo de fundação não pode prescindir do conhecimento das características do solo.
Na maioria dos casos, basta uma sondagem à percussão. Onde o terreno for impenetrável à percussão,
pode ser necessária uma sondagem rotativa.

Como diz o engenheiro Carlos Costa Branco, de fundações e geotecnia: “a sondagem mais cara é aquela que
não é realizada”.

No caso de reservatórios elevados, tipo torre, raramente se consegue adotar fundação direta, pois a concen-
tração de cargas é muito grande em uma área pequena. Essa solução somente se viabiliza nos casos de terrenos
de alta capacidade de carga logo abaixo da superfície, casos de rochas (sãs ou alteradas).

A seguir, mostra-se o caso de uma reservatório elevado, com fundação direta, assentada em rocha alterada,
de propriedade da Perdigão Agroindustrial Ltda, em Bom Conselho-PE

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Reservatório com 8,50 m de diâmetro, 66,00 m de altura e capacidade para
1.763.000
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O mais comum é adoção de fundações profundas, por meio de tubulões, estacas escavadas de concreto,
estacas hélice contínua monitorada, estacas pré-moldadas em concreto e estacas metálicas.

O tipo mais adequado depende das características do solo, do custo, das cargas e da disponibilidade para
a execução do estaqueamento.

Uma das maiores dificuldades nesses casos de reservatórios elevados com grandes cargas aplicadas em área
reduzida é definir o arranjo das estacas quando estas apresentam baixa capacidade de carga.

Uma alternativa usada com frequência é fazer um bloco retangular, com a quantidade de estacas necessária
para suportar os esforços, e admitir cargas iguais em todas, como na primeira figura a seguir, para um reser-
vatório executado em uma penitenciária em Florínea-SP.

O problema dessa solução é que o bloco precisa ser muito rígido para que as estacas fiquem com cargas simi-
lares.

Propus como alternativa fazer um bloco com formato de uma coroa circular, como se verá na segunda figura a
seguir.

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Fundações previstas pelo consultor de fundações Fundações propostas e adotadas em nosso projeto

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Uma solução adotado em projeto por nós desenvolvido foi uma solução mista, com radier estaqueado.
Trata-se de uma reservatório elevado com diâmetro externo de 12,50 m e capacidade para armazenar
2.215.000 litros, em Santarém-PA.

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O consultor de fundações especificou uma remoção de uma camada de solo com altura de 3,35 m e
posterior recomposição de solo com reaterro compactado.
Além do radier, foram adotadas 49 estacas escavadas de diâmetro = 40 cm e profundidade de 10,00 m.

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No caso de reservatórios apoiados, com a laje de fundo diretamente no solo, a adoção de fundação direta
é mais comum, pois as cargas são distribuídas em áreas maiores.

A adoção de fundação direta pode acontecer em três situações:

• Terreno com a necessária capacidade de suporte já próximo à superfície;

• Terreno com capacidade de suporte um pouco abaixo da superfície, sendo necessária uma remoção de
uma camada de solo e se promover uma posterior recomposição do solo com controle de compactação;

• Promover a melhoria da capacidade resistente do solo superficialmente mediante a cravação de estacas


secas.

A primeira situação foi utilizada em um reservatório por nós projetado e construído na cidade de Marabá-PA,
para a Companhia de Saneamento do Pará.

A imagem a seguir mostra o relatório de sondagem de um dos furos e as seguintes, fôrma e corte .

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Planta de fôrmas da laje de fundo
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A terceira situação foi utilizada em dois reservatórios por nós projetados e construídos na cidade de Paraíso
do Norte-PR, de propriedade da Geo Energética.

Consultoria de fundações a cargo da Politécnica.

Estacas com diâmetro de 22 cm preenchidas só


com brita.

Profundidade de 8,0 m na região central,


6,0 m na região intermediária e 4,0 m na
Região periférica.

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Quando o terreno não permite a adoção de fundação direta, mesmo com melhorias na capacidade resistente,
como descrito anteriormente, a solução é adotar fundação profunda, geralmente utilizando estacas.

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Reservatório da Coopavel, em Cascavel-PR, para
6.000.000 litros, com estacas escavadas de 50 cm
de diâmetro.

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Caso de reservatório paralelepipédico executado

LAJE DE FUNDO DO
RESERVATÓRIO

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PROPOSTA ORIGINAL
- Laje de fundo do reservatório toda apoiada em vigas;
- Essas vigas se apoiam em blocos com 3 ou 4 estacas para transmissão da carga à fundação.

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NOSSA PROPOSTA ALTERNATIVA PARA A LAJE DE FUNDO
DO RESERVATÓRIO:

a) Utilização de uma laje de fundo estaqueada – sem a


necessidade dos blocos de fundação originalmente
propostos. Pode-se considerar nesse caso, além da
capacidade de carga das estacas, a contribuição do solo
como fundação direta;

b) Disposição das estacas que gera menores esforços


internos na laje de fundo.

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2.2 Lajes e paredes

Caso de reservatórios paralelepipédicos

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Caso de reservatórios cilíndricos

Dois sistemas de fôrmas são os mais empregados: fôrmas trepantes e fôrmas deslizantes.

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Fôrmas trepantes com altura de 2,0 m usadas nos tanques da Geo Energética

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Sistema de fôrmas deslizantes

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acabamento, conforme figuras abaixo. Todo conjunto se apoia em barras de aço
dispostas de acordo com o projeto de fôrmas, dentro da estrutura de concreto.

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Para o caso de reservatórios cilíndricos de grande diâmetro, o uso de concretagem in loco com fôrmas
trepantes ou deslizantes torna o processo moroso e caro. Uma alternativa melhor é pré-moldar as pa-
redes. Neste caso, o uso da protensão é mais indicado para uma boa solidarização do conjunto e garantia
de estanqueidade.

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3. AÇÕES

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As principais ações atuantes em reservatórios são as seguintes:

• Peso próprio dos elementos estruturais;

• Peso próprio de elementos não estruturais – revestimentos, impermeabilizações etc;

• Cargas adicionais aplicadas no reservatório, principalmente na laje de tampa (sobrecarga, terra,


equipamentos);

• Pressões decorrentes do líquido (ou gás) armazenado, na laje de fundo e nas paredes;

• Empuxo de terra no caso de reservatórios enterrados (total ou parcialmente);

• Ação de vento, principalmente no caso de reservatórios elevados. Também pode ser importante
no caso de reservatórios baixos de paredes muito finas – aço, PRFV;

• Efeito sísmico em regiões onde esse efeito precisa ser levado em conta.

• Subpressão de água quando o nível do lençol freático estiver acima da laje de fundo;

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Para este caso da presença de lençol freático, é imperativo verificar se apenas com a ação das cargas
permanentes não haverá a flutuabilidade do reservatório.
Para o caso de reservatórios total ou parcialmente enterrados, o empuxo do solo dever ser considerado
somente quando o reservatório estiver vazio, com efeito de fora para dentro. Para caso de reservatórios
cheios, considerar o efeito do solo para reduzir o efeito do líquido armazenado é temerário, primeiro
porque o real valor do empuxo de solo é muito variável, segundo porque o solo pode não estar presente
do lado de fora, como por exemplo nos casos de teste de estanqueidade, como se vê nas imagens a seguir.
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• Ações indiretas – casos de fluência, retração, variação térmica, recalques de apoios, imperfeições
geométricas.

Dessas ações, as imperfeições geométricas são importantes no caso das torres e a variação térmica,
no caso de líquidos armazenados em temperaturas relativamente diferentes das do meio ambiente.
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4. ANÁLISE

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Com o advento e melhoria de desempenho dos microcomputadores e da disponibilidade de softwares
para análise estrutural, atualmente é relativamente fácil e rápido se proceder à análise dos mais variados
tipos de estruturas, dentre elas, os reservatórios.
Mas nem sempre foi assim!! Eis como era há pouco mais de 30 anos.

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Nas décadas que precederam ao uso dos computadores, recorriam-se a métodos simplificados para a aná-
lise. Por ser simplificados, esses métodos funcionam a contento para reservatórios com formatos simples.

No caso de reservatórios paralelepipédicos, separavam-se as paredes e as lajes de fundo e tampa em ele-


mentos isolados. Para cada um deles se usavam tabelas para o cálculo de esforços em lajes. Depois se pro-
cedia a uma compatibilização dos momentos nas diversas arestas e se faziam os ajustes necessários nos mo-
mentos positivos.
Ainda hoje esses métodos muitas vezes são usados em fases de estudos rápidos em que não se quer perder
muito tempo em modelagem computacional.
Para o caso das paredes, o diagrama de cargas perpendiculares ao plano médio é triangular. Para se obter
os momentos fletores foram desenvolvidas tabelas específicas para cargas triangulares, como as das figuras
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seguir, de autoria do professor Libânio M. Pinheiro, da EESC.
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Um aspecto a considerar, tanto na análise manual simplificada, quanto na mais refinada, a computacional,
é que tanto as paredes quanto as lajes de fundo e de tampa sofrem flexão e tração, como se pode notar na
figura abaixo, de autoria do Prof. Fusco (1996).

Portanto, para as verificações em ELU e ELS deve-se considerar o estado de flexo-tração.


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Quando se faz uma análise computacional do reservatório, os esforços de tração são obtidos diretamente
da análise. Quando se faz uma análise manual, os valores dos esforços de tração podem ser obtidos de ma-
neira simplificada como se mostra na imagem abaixo.

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O exemplo a seguir mostra bem um caso onde uma análise simplificada dificilmente conduziria
a resultados satisfatórios.
Trata-se de um reservatório paralelepipédico para armazenar 1.000.000 litros. O desejo era aproveitar o
canto junto a duas paredes de arrimo existentes, como se nota na foto abaixo.

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Na base do arrimo havia uma sapata corrida se projetando 95 cm para fora da parede.

O partido do projeto foi não aplicar cargas verticais na sapata


corrida, podendo-se, porém, aproveitar os dois trechos do arrimo
como fôrmas para as novas paredes.

Foi feito um modelo no SAP com essas premissas.


O corte abaixo ajuda a entender a solução estrutural.

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Na análise as paredes de arrimo existentes foram consideradas como apoios suprimindo os deslocamentos
horizontais do reservatório.

Ao lado, imagens das deforma-


das com reservatório cheio.

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Para reservatórios cilíndricos existe uma formulação clássica desenvolvida por diversos autores com
base na Teoria da Elasticidade para cálculo dos esforços de tração nas paredes e dos momentos fletores.
Diversos autores desenvolveram ábacos para auxílio na obtenção dos esforços de tração e dos momentos
fletores longitudinais nas paredes de reservatórios cilíndricos, como os abaixo, do Montoya.

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Com base em texto contido no livro Cálculo de Concreto Armado, de autoria do professor Aderson
Moreira da Rocha, foram desenvolvidas planilhas internas para dimensionamento de reservatórios
cilíndricos. A planilha abaixo foi usado por cerca de dez anos, de autoria do eng. Rodolfo Barretti.

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Atualmente, temos nova planilha feita pelo Yuri e o Robson, já dentro do nosso novo padrão.
A vantagem dessa nova planilha é que ela já incorpora o dimensionamento para o caso do uso
da protensão.

Para o cálculo dos esforços na parede cilíndrica, deve-se ressaltar que os resultados obtidos com as
planilhas são muito próximos dos valores encontrados em análise computacional.

Em seu TCC, o engenheiro Rodolfo Barretti Neto, então acadêmico, fez essa comparação.

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Nos casos de reservatórios em forma de torre cilíndrica, com alturas maiores, recomenda-se a modelagem,
não tanto para obtenção das forças de tração na parede cilíndrica, mas para uma boa análise global da torre,
sob efeito do vento, de sismos, quando for o caso, desaprumo e efeito de segunda ordem.

Reservatório em Cascavel

À esquerda: execução

Ao centro: modelo do SAP

À direita: trações na parede

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Para as lajes circulares, quando não se faz a análise computacional, pode-se utilizar a formulação abaixo,
extraída de publicação de Zagottis (1976).

• Lajes apoiadas no contorno.

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• Lajes engastadas no contorno.

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Com base na formulação contida em Zagottis (1976), o eng Rodolfo elaborou uma planilha para determinação
dos esforços em lajes circulares, como mostra a imagem abaixo.

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5. DIMENSIONAMENTO

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Os critérios para dimensionamento são similares às demais estruturas de concreto.
Devem ser verificados os Estados Limites Últimos e os Estados Limites de Serviço, com enfoque para
a verificação da fissuração, pois ela pode comprometer a estanqueidade.
De acordo com a NBR 6118:2014, o nível adotado para o cálculo de reservatórios, tanques, decantadores
e outros deve ser igual ao máximo possível compatível com o sistema de extravasão, considerando apenas
o coeficiente γf = γf3 = 1,2.
Para reservatórios paralelepipédicos usualmente o dimensionamento é à flexo-tração. Por medida de eco-
nomia, só se deve adotar amaduras simétricas, tanto nas lajes quanto nas paredes, nos casos em que exista
a possibilidade de ação dos momentos nos dois sentidos. Nos demais casos, adotam-se armaduras assimé-
tricas. Neste caso, o detalhamento deve ver muito cuidadoso para deixar bem claro em que faces estão as
armaduras diferentes.
Com relação ao controle de fissuras, a NBR 6118:2014 estabelece o que segue.

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Como se nota no texto acima, da NBR 6118, apenas se fala que os limites de aberturas de fissuras para a
garantia de estanqueidade devem ser menores do aqueles destinados a garantir a proteção da estrutura
contra a corrosão das armaduras.
Pois é, mas quanto menor?!
Alguns autores recomendam aberturas de fissuras com wk = 0,10 mm. Minha experiência: adotar valores
menores ainda, principalmente à medida que a altura da lâmina d’água aumenta, pois quanto maior a pres-
são, maior a probabilidade de haver vazamentos, principalmente nos reservatórios cilíndricos, onde as fissu-
ras são de separação, ou seja, atravessam a seção em toda sua espessura.

Tenho adotado para reservatórios cilíndricos limite de abertura de fissuras igual a 0,05 mm. Mesmo assim,
para lâminas d’água maiores do que 15 m, recomendo o uso da protensão.

Mesmo para o caso de lâminas d’água não muito altas, para reservatórios de diâmetro igual ou superior a
20 m já é recomendável o uso da protensão.

Em casos de uso da protensão, a questão é: quanto protender?


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No caso de reservatórios cilíndricos com concretagem in loco, por medida de economia, aplica-se
a protensão para resistir à totalidade das trações nas paredes na condição de serviço. Para a condição
de Estado Limite Último adiciona-se armadura frouxa necessária.
Com essa condição, considera-se que a peça não fissure em serviço.

No caso de reservatórios cilíndricos com o uso de paredes pré-moldadas, aumenta-se o grau de protensão
para resistir até a força em ELU, se for o caso.
Neste caso, nas regiões de concretagem in loco, entre placas, o grau de emendas da armadura frouxa dimi-
nui ou até se elimina essa armadura.

A empresa Fortanks desenvolveu um sistema de tanques circulares com placas pré-moldadas em que não há
espaço entre as placas para posterior concretagem de trechos in loco. As placas praticamente encostam uma
na outra. Para não haver folga entre elas, faz-se uma injeção de nata de cimento sob pressão, de baixo a alto.
Neste caso, a protensão precisa ser para a condição de Estado Limite Último.

As imagens a seguir mostram o sistema.

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Um aspecto importante a observar está na geometria dos contrafortes onde ocorrem as ancoragens dos
cabos.
O ideal é que não exista nas ancoragens componente da força nelas atuantes voltada para o centro do cilindro,
mas apenas com direção tangencial, ou muito próxima disso.

A existência de componente radial da força nas ancoragens provoca flexão na parede cilíndrica. Em reservatórios
de pequeno diâmetro isso é fácil de se conseguir.

Detalhe do contraforte de um reservatório com


diâmetro externo de 5,30 m, em Maringá-PR.

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Detalhe dos contrafortes de um reservatório com diâmetro
externo de 30,50 m, em Cascavel-PR.

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À medida que aumenta o diâmetro do
cilindro, para se manter os cabos saindo
tangentes à circunferência é preciso
aumentar a largura dos contrafortes.
Em reservatórios de grande diâmetro
isso é inviável. Não há como manter os
cabos tangentes à circunferência.

A solução é adotar contrafortes me-


nores e introduzir curvas de transi-
ção nos cabos, com curvatura rever-
reversa.
Com isso são introduzidas nos
contrafortes forças de dentro para
fora, como se observa nas figuras a
seguir.

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Em elementos de grandes diâmetros, para di-
minuir os comprimentos dos cabos são usa-
vários contrafortes.
Para uma melhor uniformização das forças
de protensão na parede cilíndrica, os cabos
não são todos ancorados em um mesmo
contraforte. O cabo de uma camada inicia
em um contrate, passa direto pelo segundo
contraforte e ancora no seguinte.
Na camada seguinte, o cabo inicia no contra-
forte intermediário da camada anterior e tem
o mesmo comprimento do cabo anterior.
Desse modo, em cada contraforte existem ca-
bos que se ancoram e cabos que passam direto,
alternadamente por camada.
Para que se tenha uma simetria nas posições
dos cabos, os contrafortes devem te número
par.
A figura ao lado ilustra isso.

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A imagem ao lado mostra o diagrama
das forças de protensão após perdas
imediatas em camadas pares e ímpa-
res de cabos em um silo de diâmetro
médio de 130 m, com oito contrafortes,
por nós projetado.

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6. DETALHAMENTO

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Mais do que nos demais elementos estruturais, nos reservatórios o detalhamento deve ser bem cuidadoso
de modo a se evitar os nichos de concretagem, que vão comprometer a estanqueidade, bem como evitar er-
ros de posicionamento das barras.
Para reservatórios paralelepipédicos, é preferível procurar detalhar as armaduras da laje de fundo já subindo
suas extremidades para servirem de esperas para as armaduras das paredes.

Além disso, é desejável harmonizar os


espaçamentos das barras da armadura
da laje de fundo, com as barras das pare-
des.

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Para as paredes, onde as armaduras verticais
sejam diferentes nas duas faces, deve-se fazer
as puxadas das barras para a lado da face em
que ficarão posicionadas. Isso tende a minimi-
zar a possibilidade de erro.

Outro aspecto importante é que as barras ver-


ticais das paredes comecem acima do nível su-
perior da mísula, que é onde ocorre a junta de
concretagem.

Nos casos de existência de parede divisória


central para dividir uma célula em duas, de-
ve-se dar especial destaque ao detalhamento
das armaduras na região.

As imagens a seguir mostram um caso desses.

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sexta-feira, 7 de junho de 2019 Reservatório em Florínea-SP – fôrma de corte 105
sexta-feira, 7 de junho de 2019 Reservatório em Florínea-SP – armadura da LF1 106
É imprescindível deixar claro como devem ser posicionadas as barras da laje – N2, N3 e N10 – e as barras da
parede – N1 e N12. Um detalhe mais ampliado pode ser recomendado. Já tive caso em que as barras N12 fo-
ram posicionadas sobre as barras da laje – N2 e N3, por ser construtivamente mais fácil. Foi necessário refazer.

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Outro ponto de especial destaque é a região da parede cilíndrica onde a parede plana – Par 1 – se apoia.
Nessa região existe uma concentração de tensões. Armaduras apropriadas devem ser previstas nessa re-
gião, conforme detalhe abaixo.

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Detalhamento de parede
cilíndrica

As barras da armadura ver-


tical podem ser emendadas
todas em mesma seção. Pa-
ra não haver perdas, todas
devem ser de 6,0 m.

As barras da armadura hori-


zontal são emendadas em
seções distintas e devem fi-
car posicionadas externa-
mente às barras verticais
para facilitar a montagem.

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Detalhamento de laje de tampa

É comum a utilização de lajes


de tampa diretamente apoiadas
em pilares. Nesses casos há pi-
cos de momento sobre eles,
com valores negativos. Uma al-
ternativa é usar armadura mais
forte nessa região e mais leve
nas regiões afastadas, como no
exemplo ao lado.

Embora essa alternativa seja boa


do ponto de vista econômico, ela
precisa de muita atenção na obra
para não haver erros.
Ultimamente tenho preferido um
detalhe alternativo: adotar uma
malha constante em toda área e
colocar uma armadura adicional
sobre os pilares, como mostra a
Imagem a seguir.
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Detalhamento da armadura de protensão

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6. PATOLOGIAS E ACIDENTES

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• Fissuração excessiva por esforços diretos, com
vazamentos. Nos dois casos abaixo houve falha de
projeto e as fissuras ficaram com 0,20 mm.

Reservatório do Destro atacadista em


Jundiaí-SP
sexta-feira, 7 de junho de 2019 Reservatório da Cifarma em Goiânia-GO 114
O valor de abertura de
fissuras em projeto foi
de 0,10 mm. Nota-se que
há locais onde há fissuras
com aberturas maiores.

sexta-feira, 7 de junho de 2019 Reservatório da Coopavel em Cascavel-PR 115


A causa da patologia
foi um projeto com-
pletamente equivo-
cado.

Biodigestor circular da Gelnex em Sorriso-MT


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O projetista não tratou a pare-
de como um único elemento.
Imaginou a presença de pilares
ao longo da circunferência, vigas
circulares ao longo da altura e
trechos de lajes entre os vãos for-
mados por vigas e pilares.
Não sabia o que estava fazendo.
No teste de estanqueidade houve
vazamentos em vários pontos.

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• Fissuração por esforços indiretos – retração, calor de hidratação

sexta-feira, 7 de junho de 2019 Tanque em CP da GEO Energética – Paraíso do Norte - Pr 118


Tanque da P&G em Seropédica-RJ. Após a concretagem da laje de fundo
e mais a mísula, surgiram fissuras. As medições de fissuras encontraram
valores de 0,10 mm a 0,32 mm. Concreto com fck = 40 Mpa.
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• Corrosão de armaduras
Problema muito comum nas faces inferiores de lajes e vigas de cobertura de reservatórios, onde a umidade
é elevada e existe a presença de cloro na atmosfera.
Esse fenômeno era muito comum nos reservatórios mais antigos onde os cobrimentos não eram tão severos
quanto os especificados atualmente pela NBR 6118.
Atualmente, se forem respeitados os cobrimentos mínimos e a qualidade do concreto especificados pela
NBR 6118, essa patologia diminui ou nem se manifesta.

Face inferior da laje de cobertura do reservatório superior Face inferior da laje de cobertura do reservatório inferior
emsexta-feira,
Santa Marina-PR, construído em 1954 em Santa Marina-PR
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• Deformação excessiva de paredes, acompanhada de fissuras
Abaixo, fotos de um tanque de equalização, paralelepipédico, durante o teste de estanqueidade.

A causa da patologia foi


um projeto completamente
equivocado. Foi feito pelo
mesmo projetista do biodi-
gestor cilíndrico, mostrado
anteriormente.

sexta-feira, 7 de junho de 2019 Tanque retangular da Gelnex em Sorriso-MT 121


O projetista não tratou a parede como um único elemento. Dispôs pilares no perímetro e imaginou
a presença de vigas ao longo da altura das paredes e trechos de lajes entre os vãos formados por
vigas e pilares. Não havia armadura de ligação suficiente da laje de fundo com as paredes.
Não sabia o que estava fazendo. No teste de estanqueidade houve deformação e fissuração exces-
sivas.

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Para corrigir o problema foi adotada uma solução de reforço com vigas,
pilares e fundações externas.

Recuperação do tanque retangular da Gelnex em Sorriso-MT


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• Problemas em fundações

Reservatório cilíndrico elevado em Ponta Grossa-PR com


Inclinação por problemas nas fundações, em estacas
escavadas.

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O que se constatou foi um elevado desaprumo do
reservatório, ocasionado por problemas na funda-
ção. Originalmente não houve sondagem do terreno.
As estacas foram escavadas, com diâmetro e profun-
didade adotados sem embasamento técnico.
Para corrigir o problema foi proposto novo estaquea-
ento externamente ao cilindro, com vigas de transi-
ção passando por baixo do anel existente.
Entre a face superior das novas vigas de transição e
da face inferior do anel existente foi deixada uma
folga de 40 cm para acomodação de macacos hi-
dráulicos.
Após a execução das vigas de transição houve o
macaqueamento da torre cilíndrica para voltar ao
prumo. Após isso, foram colocados calços no espaço
entre as vigas de transição e o fundo do anel.
A nova condição de apoio da torre nas fundações foi
de simples contato. Isso foi possível porque mesmo
com reservatório vazio, quando da atuação do vento
não surgiriam trações.
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• Colapso de piscina elevada por punção sobre os pilares de apoio.

Acidente ocorrido em piscina de edifício. Houve puncionamento da laje de fundo no entorno dos pilares.
Fotos divulgadas na Comunidade TQS em fevereiro de 2016. Local desconhecido pelo autor da postagem.

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Vista superior

Vista inferior

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• Colapso de reservatório de fibra de vidro, de 30 m³, dois anos
após a construção. O projeto original era em concreto armado.
Foi alterado sem o conhecimento dos projetistas.
Caso apresentado na Comunidade TQS em 2012 pelo engenheiro
Marcos Carnaúba, de Maceió-AL.

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• Colapso de uma torre em concreto pré-moldado para sustentação de reservatório elevado, em setembro
de 2013, em Londrina-PR.
Pela esbeltez da torre, e do tipo de ligação entre vigas e pilares, era uma tragédia anunciada.

Antes da ventania Depois da ventania.


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• Acidente em reservatórios metálicos durante a fase de montagem

Tanques metálicos para o processo de produção de etanol de milho da


Indústria Inpasa, em Sinop-MT. Os tanques à direita na foto acima estavam
praticamente completos e nada sofreram
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Outro tanque metálico da Inpasa em fase de montagem,
danificado pelo vento
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