Você está na página 1de 21

SOBRE UM APLICATIVO GRÁFICO PARA O DIMENSIONAMENTO DE CASCAS

DE CONCRETO ARMADO UTILIZANDO PROCESSO DO


CEB-FIP/1978 E O MÉTODO DOS ELEMENTOS FINITOS

Pereira, Jorge L. Silka (1)


Dias, Ricardo H. (2)
Carrazedo, Rogério (3)

(1) Engenheiro Civil, Professor da Pontifícia Universidade Católica do Paraná - PUCPR, Departamento de
Engenharia Civil, e sócio-diretor da proCalc Estruturas S/C Ltda.
(2) Engenheiro Civil, Professor da Pontifícia Universidade Católica do Paraná - PUCPR, Departamento de
Arquitetura e Urbanismo, Mestrando em Engenharia de Estruturas da EESC/USP
(3) Engenheiro Civil, Mestrando em Métodos Numéricos em Engenharia: Mecânica Computacional -
Universidade Federal do Paraná - UFPR, Centro de Estudos de Engenharia Civil
Cx. P. 16210 – 81611-970 – Curitiba, PR, Brasil
silka@procalc.com.br

Resumo. Visando contribuir para a otimização do dimensionamento de estruturas de


concreto armado sujeitas a solicitações normais, com comportamento de casca (esforços de
flexão concomitantes a esforços de membrana), este artigo demonstra o desenvolvimento e
uso de um aplicativo computacional, em linguagens C++ e AutoLisp, chamado de AsSTEEL,
criado a partir de processo apresentado pelo CEB-FIP/1978, aliado a resultados obtidos
pela modelagem das estruturas utilizando o software SAP2000, em Método dos Elementos
Finitos. A necessidade de pós-processadores de dimensionamento em concreto armado,
ferramentas computacionais que apresentem resultados gráficos para a fácil leitura e
identificação das armaduras calculadas, otimizando o tempo de dimensionamento e
detalhamento, e que levem em conta as infinitas possibilidades de combinações de cargas
necessárias às análises de obras, principalmente as industriais (bases de máquinas e
estruturas enterradas), levou ao desenvolvimento do software, ágil e de fácil utilização.

Palavras-chaves: cascas - dimensionamento, concreto armado - estruturas, Método dos


Elementos Finitos
1 INTRODUÇÃO

Os métodos numéricos aplicados à engenharia, principalmente o Método dos Elementos


Finitos, em softwares comerciais como o SAP2000, permitem avaliar os esforços nas
estruturas laminares de concreto armado, sujeitas a esforços de flexão e de membrana, com
relativa facilidade. Nos escritórios de cálculo, devido a velocidade exigida na execução dos
projetos (cálculo, dimensionamento e detalhamento), para as estruturas de concreto armado, é
comum a aplicação de hipóteses de comportamento físico-linear do material. Esta
simplificação conduz a resultados aceitos pelas normas na determinação dos esforços internos
dos elementos, contudo o problema de dimensionamento permanece ainda complexo, já que
cada elemento constituinte de uma estrutura laminar (casca de concreto) estará submetido a
um conjunto de esforços atuando simultaneamente: esforços de flexão, esforços de torção,
esforços no plano e esforços cortantes.
A partir de problemas práticos de engenharia de estruturas, pela necessidade do
dimensionamento de estruturas industriais modeladas por meio de elementos de casca sujeitos
a diversas condições de carregamentos (bases de diversos equipamentos em uma mesma
estrutura, empuxos de solo e líquido, sobrecargas de funcionamento), combinadas de diversas
maneiras, verificou-se a dificuldade de um dimensionamento através da leitura e composição
dos esforços apresentados nos gráficos de saída do software de análise. Além disso, inclui-se
o caráter não-prático de imprimir todos os esforços de cada região da estrutura modelada, a
escolha de pontos de máximo e mínimo para o dimensionamento, a distribuição das
armaduras nas faixas. Visando um dimensionamento informatizado, verificou-se a existência
de aplicativos de dimensionamento, contudo estes recebiam a entrada de dados de forma
manual, e forneciam resultados em forma de texto, ainda sem possibilitar a criação de
envoltórias de armaduras para os vários casos de carga: seria necessário calcular a armadura
para cada elemento e caso, imprimir os arquivos em texto, localizar o elemento finito
exatamente na região da estrutura em que faz parte, e selecionar a armadura que atendesse
todos as possíveis combinações de cargas.
Dessa maneira, utilizando um processo de verificação de tensões e dimensionamento de
elementos de estruturas laminares de concreto armado com comportamento de casca
apresentado pelo Código Modelo CEB-FIP/1978, aliado aos arquivos texto de resultados
oferecidos pela modelagem e análise das estruturas pelo SAP2000, software amplamente
utilizado no cálculo de estruturas com certo grau de complexidade, em obras civis, foi
desenvolvido um aplicativo com resposta gráfica, utilizando as linguagens C++ [SCHILDT
(1998)] e AutoLisp [MATSUMOTO (1998)], permitindo ao engenheiro um detalhamento de
armaduras baseando-se em mapas de armaduras, com bitolas e espaçamentos selecionados
para cada elemento finito em que a estrutura é dividida, calculadas para cada face e direção
de detalhamento.

2 A METODOLOGIA DE MODELAGEM DAS ESTRUTURAS A SEREM


DIMENSIONADAS PELO APLICATIVO, NO SAP2000

O aplicativo tem como dados de entrada os resultados de saída, em forma de texto, do


programa SAP2000, que aplica o Método dos Elementos Finitos. As estruturas a serem
dimensionadas pelo aplicativo são estruturas laminares, com comportamento de placa,
membrana ou casca (composição de placa e membrana). Isso não impede, contudo, que no
modelo sejam utilizados também outros elementos finitos necessários à composição da
estrutura. Assim, elementos de viga para modelar vigas e pilares (FRAME) e de sólido para
modelar blocos (SOLID), por exemplo, podem fazer parte do modelo. Contudo, o software é
capaz de verificar tensões e dimensionar somente os elementos de casca (SHELL).
Os modelos podem ter planos com cotas fixas segundo os eixos cartesianos globais do
SAP2000, conforme Fig. 01, ou planos inclinados, sem cota fixa, como por exemplo uma
cobertura em forma de cúpula, conforme Fig. 02. O aplicativo é capaz de dimensionar e
apresentar o resultado gráfico da armadura nas duas situações, ou seja, ao mesmo tempo em
que é montado arquivos do AutoCad para as armaduras calculadas em uma parede com cota
fixa em X global, pode-se verificar a armadura calculada para uma laje inclinada que simula
uma escada, por exemplo, por meio de um gráfico tridimensional, também em extensão do
AutoCad.

Figura 01: Estrutura com planos paralelos aos eixos globais ortogonais XYZ do SAP2000

Todos os elementos finitos lançados em um mesmo plano devem também ter a mesma
orientação dos eixos locais. É necessária a verificação desses eixos locais, sob determinado
ponto de vista, para a indicação correta do caso de detalhamento da armadura pelo programa
computacional. A indicação errada do caso de detalhamento, como será posteriormente
verificada, inverte as direções e faces da armadura calculada.

Figura 02: Estrutura sem planos com cotas fixas segundo os eixos globais ortogonais XYZ do SAP2000

Para uma melhor utilização do aplicativo, portanto, é interessante que se planeje o


modelo da estrutura, seguindo uma metodologia de modelagem apresentada nos tópicos
abaixo:
a) os planos da estrutura devem ser ordenados e nomeados, com no máximo 04
caracteres. Assim, criam-se planilhas para as lajes nos planos XY globais do SAP2000,
fixando-se e indicando a cota Z; planilhas para as paredes nos planos XZ globais, fixando-se e
indicando a cota Y, e planilhas para as paredes nos planos YZ globais, fixando-se e indicando
a cota X. Para elementos inclinados separam-se os mesmos com nome comum para cada
plano inclinado, sem a indicação de cota fixa;
b) nas mesmas planilhas acima definidas pode-se acrescentar aos nomes dos planos
índices (letras a, b, c, d, ...) para a definição das diferentes espessuras que podem ocorrer
naquele plano. Assim, lançam-se os elementos SHELL no SAP2000 com os nomes
compostos do plano em que o mesmo faz parte e um índice indicativo da espessura, conforme
Fig. 03 abaixo. Dessa maneira, organiza-se os elementos conforme o plano em que se
localizam.
c) deve-se verificar se, para um mesmo plano, os elementos SHELL apresentam a mesma
disposição de eixos locais;
d) é interessante também criar planilhas de casos de carga e combinações de
carregamentos, de maneira que se possa conferir todas as combinações que foram utilizadas
no dimensionamento, podendo dessa maneira identificar possíveis erros no lançamento das
combinações no SAP2000. Exemplos de planilhas de casos de carga e combinações são
apresentados, respectivamente, nas Fig. 04 e 05.
As planilhas formuladas não são lidas automaticamente pelo aplicativo. Assim, elas
constituem em memorial auxiliar para, exemplificando, lançar as cotas fixas na entrada de
dados do aplicativo, por meio de digitação. Dessa maneira, as planilhas que se demonstram
são exemplos, podendo serem alteradas conforme a necessidade do engenheiro na
modelagem.
LAJES NO PLANO XY (COTA FIXA EM Z) em cm

ESPESSURA DA LAJE (em cm)


LAJE COTA FIXA
A B C D E
TMP1 0.00 15 20 25 30 60
TMP2 -100.00 10 20
FND1 -200.00 25
FND2 -300.00 10 20 40
FND3 -350.00 30
FND4 -600.00 30

PAREDES NO PLANO XZ (COTA FIXA EM Y) em cm

ESPESSURA DA PAREDE (em cm)


PAREDE COTA FIXA
A B C D E
PAR1 0.00 25
PAR2 150.50 25 30
PAR3 250.50 25
PAR4 400.00 20 25 40

PAREDES NO PLANO YZ (COTA FIXA EM X) em cm

ESPESSURA DA PAREDE (em cm)


PAREDE COTA FIXA
A B C D E
PAR5 0.00 25
PAR6 200.00 25
PAR7 300.00 25
PAR8 400.00 20 25

Figura 03: Exemplos de planilhas para ordenação dos elementos finitos de casca em planos e paredes

CASOS DE CARREGAMENTO

CASO DESCRIÇÃO DO CARREGAMENTO


PESOP Peso próprio da estrutura
SOBR1 Sobrecargas nas tampas e bases
F1 empuxo do fluido e carga de fluido no fundo do reservatório- câmara 01
F2 empuxo do fluido e carga de fluido no fundo do reservatório- câmara 02
F3 empuxo do fluido e carga de fluido no fundo do reservatório- câmara 03
F4 empuxo do fluido e carga de fluido no fundo do reservatório- câmara 04

Figura 04: Exemplo de planilha de organização dos casos de carregamentos

COMBINAÇÕES DE CARREGAMENTO

COMB DESCRICAO DA COMBINACAO


COMB1 PESOP
COMB2 PESOP+SOBR1
COMB3 PESOP+F1
COMB4 PESOP+F2
COMB5 PESOP+F1+F2
COMB6 PESOP+F1+F3
COMB7 PESOP+F2+F3
COMB8 PESOP+F1+F4
COMB9 PESOP+F2+F4
COMB10 PESOP+F1+F3+F4
COMB11 PESOP+F2+F3+F4
COMB12 PESOP+F1+F2+F4
COMB13 PESOP+F1+F2+F3
COMB14 PESOP+F1+F2+F3+F4+SOBR1
ENVOLT ENVOLTÓRIA DAS COMBINAÇÕES COMB1 A COMB14

Figura 05: Exemplo de planilha de organização das combinações de carregamentos


3 O PROCESSO DE DIMENSIONAMENTO DE CASCAS DE CONCRETO COM
ARMADURAS ORTOGONAIS E OBLÍQUAS ÀS DIREÇÕES DAS TENSÕES
PRINCIPAIS - CEB-FIP/1978

O dimensionamento de lâminas de concreto armado sujeitas a flexão e esforços no


próprio plano pode ser reduzido, segundo o Comite Euro-International du Béton - CEB-
FIP/1978, ao dimensionamento de chapas isoladas: uma chapa comprimida, onde é verificada
a tensão de compressão na direção principal e uma chapa tracionada, onde é desprezada a
presença do concreto para o cálculo da armadura necessária.
Os esforços atuantes, flexão, torção e esforços no próprio plano, são então definidos
segundo as direções das armaduras ortogonais. Apresentam-se na Fig. 06 os esforços
positivos do SAP2000, na orientação dos eixos locais 1 e 2 indicada, e que podem acontecer
no elemento finito SHELL que simula o comportamento da casca.
A formulação do CEB-FIP/1978 supõe duas regiões bem definidas na lâmina, planas e de
espessura constante, cuja distância entre eixos é denominada de zm. Essa distância é o braço de
alavanca do binário que atua no plano da chapa comprimida e no da chapa tracionada. Os
esforços são repartidos entre essas duas regiões que são tratadas, então, como chapas de
concreto armado sujeitas somente a esforços atuando no próprio plano. É necessário, então,
extrair as flexões existentes do problema, recaindo-se, tanto para a face z positiva quanto para
a face z negativa, no problema de dimensionamento de membranas.
Dessa maneira, para as peças submetidas predominantemente a flexão, tem-se o braço de
alavanca dos esforços internos igual a:
d x + dy
Zm = K z . (1)
2
onde dx e dy são, respectivamente, as alturas úteis em relação as armaduras nas direções x
e y, conforme figura 07.
Admite-se também, de maneira aproximada, para a espessura das chapas definidas nas
lâminas, uma espessura média definida como:
dx + dy
em = K e . (2)
2
onde o valor usualmente empregado para Ke varia em torno de 0,3, podendo ser então
adotado este valor.

F22

M12

M22 F12

M11 F12
2
F11 M12 M12 F11
1

F12 M11

F12 M22

M12

F22

Figura 06: Esforços atuantes nos elementos SHELL, de sentido positivo para a orientação indicada dos eixos
locais 1 e 2 no elemento [SAP2000 (1997) - Analysis Reference]
Apresenta-se abaixo a Fig. 07, onde verifica-se a divisão em chapas e os binários
encontrados para um elemento de casca do SAP2000.
Definidas as chapas correspondentes as faces positiva e negativas, pode-se encontrar os
esforços no plano de cada uma delas que estabeleçam o equilíbrio.
- Para as forças na direção x, tem-se:
F M (3)
F1 (face − negativa ) = 11 − 11
2 zm
F M (4)
F12 (face − negativa) = 12 − 12
2 zm
F11 M11 (5)
F1 (face − positiva) = +
2 zm
F12 M12 (6)
F12 (face − positiva) = +
2 zm
- Para as forças na direção y, tem-se:
F22 M 22 (7)
F2 (face − negativa) = −
2 zm
F M (8)
F12 (face − negativa) = 12 − 12
2 zm
F M (9)
F2 (face − positiva) = 22 + 22
2 zm
F M (10)
F12 (face − positiva) = 12 + 12
2 zm
Para levar em conta corretamente os sinais utilizados em cada operação, convencionando
o mesmo para determinar o que é compressão e o que é tração em cada face em que atuam,
foram criados quatro casos de detalhamento, cabíveis para estruturas com planos paralelos aos
eixos cartesianos globais: CASO A, CASO B, CASO C e CASO D. As forças no plano são
positivas quando tracionam o elemento, ou seja, quando tracionam tanto a face positiva
quanto a face negativa. Os casos de detalhamento prevêem as possibilidades de orientação dos
eixos de coordenadas locais 1, 2 e 3, nos elementos, segundo giros de 90 graus destes no
plano, o que altera a convenção de esforços positivos do programa SAP2000. Padronizou-se a
formulação segundo estas orientações, que devem ser qualificadas pela simples análise dos
eixos de coordenadas locais dos planos a serem dimensionados. Abaixo, na Fig. 08, tem-se o
quadro para a qualificação dos planos, dado necessário ao detalhamento efetuado no programa
desenvolvido.
Zm
Face negativa

Face positiva

Face negativa
z
Zm

z
Face positiva

Figura 07: Divisão do elemento finito em chapas fissuradas nas faces negativa e positiva, segundo um eixo
z local convencionado para o cálculo
VISTA DO CASOS DE DETALHAMENTO
OBSERVADOR CASO A CASO B CASO C CASO D
M22 M22
Z
M11
2 2
M11
1 1 M11 1 1
Y 2
2
M11
X
M22 M22
M22 M22
Z
M11
Y 2 2
M11
1 1 M11 1 1
X 2
2
M11

M22 M22
M22 M22

M11
Z 2 2
Y M11
1 1 M11 1 1
2
2
M11
X
M22 M22

Figura 08: Quadro para a qualificação dos casos de detalhamento do programa AsSTEEL desenvolvido

A partir das forças de membrana calculadas pela composição dos vários esforços
atuantes, implementaram-se as fórmulas apresentadas pelo CEB-FIP/1978, para cinco casos
de dimensionamento, conforme Tab. 01. Estas fórmulas provém de formulação criada por
Baumann1,2 apud LEONHARDT & MÖNNIG (1978), desconsiderando a contribuição da
armadura secundária na redução da armadura principal, que é menos econômico, porém de
aplicação mais simplificada. A armadura secundária, então, deve ser implementada conforme
uma porcentagem de armadura mínima, de acordo com a norma em uso, sendo este um dado
de entrada para o cálculo.
O programa determina, assim, quatro áreas de armaduras por unidade de comprimento,
por elemento finito de casca (para as duas direções dos eixos de coordenadas locais, e duas
faces da casca), chamando-as genericamente de ASX1, ASX2, ASY1 e ASY2. Em função do
caso de detalhamento indicado, as armaduras são convencionadas e orientadas, para posterior
representação gráfica por mapas coloridos.
Para modelos com planos inclinados os casos de detalhamento não são fornecidos; as
armaduras para as duas direções e faces são geradas em desenhos tridimensionais, na ordem
de ASX1, ASX2, ASY1 e ASY2 calculadas (desenhos 3D1, 3D2, 3D3 e 3D4), sem
identificação inicial do posicionamento das mesmas dentro das cascas de concreto armado. O
engenheiro calculista, por meio da análise das coordenadas locais dos elementos contidos no
plano inclinado, coloca-se como observador buscando o caso que mais se adequa as
coordenadas locais, segundo um pré-escolhido ponto de vista, conseguindo assim identificar o
caso correto e, dessa maneira, por meio de um quadro identificador preparado para este fim,
obtém as posições dos pares genéricos ASX1, ASX2, ASY1 e ASY2 das armaduras
calculadas conforme os casos.
1
BAUMANN. Th. (1972). Tragwirkung orthogonaler - Bewehrungsnetze beliebiger Richtung in
Flächentragwerten aus Sthalbeton. Berlin, W. Ernst, 1972. (Deutscher Ausschuss für Stahlbeton, 217)
2
BAUMANN. Th. (1972). Zur Frage de Netzbewehrung von Flächentragwerten. Der Bauingenieur, Berlin
(47): 367-377.
Tabela 01: Casos de detalhamento para uma chapa fissurada de concreto armado conforme CEB-FIP/1978
ARMADURAS TENSÕES NO
CONCRETO (NA
CASO ESFORÇOS
Asx . σsd Asy . σsd DIREÇÃO DAS BIELAS)
h. σφ
Fx ≥ - Fxy
1 Fx + Fxy Fy + Fxy -2. Fxy
Fy ≥ - Fxy
Fx < - Fxy
2 0 Fy - (F2 xy / Fx) Fx + (F2xy / Fx)
Fy > (F2xy / Fx) -Fxy
Fx > (F2xy / Fy) -Fxy
3 Fx - (F2xy / Fy) 0 Fy - (F2 xy / Fy)
Fy < - Fxy
Fx < - Fxy
4 0 0
Fy < (F2xy / Fx) [(Fx + Fy)/2] - {[(Fx -
Fx < (F2xy / Fy) Fy)2/2] + F2xy}1/2
5 0 0
Fy < - Fxy

4 O FUNCIONAMENTO DO PROGRAMA COMPUTACIONAL AsSTEEL

Após a modelagem e o processamento das estruturas de casca pelo software SAP2000,


são necessários os seguintes relatórios:
a) geometria do modelo (INPUT TABLE), impresso para arquivo, com separadores de
casas decimais como ponto, contendo as coordenadas dos nós, os dados e as propriedades dos
elementos de casca do modelo, conforme Fig. 09;
b) arquivo de resultados (OUTPUT TABLE), impresso para arquivo, contendo somente
as forças atuantes nas cascas, para todas as combinações, exceto envoltórias, já que estas são
geradas no programa AsSTEEL, conforme Fig. 10.

Figura 09: Tela do SAP2000 para a geração do relatório INPUT TABLE


Figura 10: Tela do SAP2000 para a geração do relatório OUTPUT TABLE

O menu principal do programa computacional é apresentado na Fig. 11 abaixo:

Figura 11: Tela do menu principal do programa de dimensionamento AsSTEEL

O programa então efetua 08 passos para a geração dos desenhos do cálculo, descritos a
seguir.
A montagem da geometria consiste em ler o arquivo .txt gerado no INPUT TABLE,
sendo criados assim arquivos de leitura de dimensões e posições dos elementos, guardando-se
os nós para a geração de desenhos de armaduras.
A montagem de carregamentos é feita pela leitura do arquivo .txt gerado no OUTPUT
TABLE, sendo aqui determinados os esforços aplicados em cada elemento de casca, para cada
combinação de carregamentos.
A entrada dos dados de cálculo é feita mediante digitação, no programa AsSTEEL. Os
dados necessários ao dimensionamento são: unidades de trabalho (kgf e cm, ou tf e m); classe
do aço; módulo de elasticidade longitudinal secante (Ecs) do concreto armado; resistência
característica do aço à tração (fyk); resistência característica do concreto à compressão, aos 28
dias (fck); cobrimentos da armadura nas direções dos eixos locais 1 e 2; coeficiente minorador
da resistência do concreto (γc); coeficiente minorador da resistência do aço (γs); coeficiente
majorador das forças (γf); coeficiente Rüsch, minorador das resistência do concreto devido ao
efeito de carga aplicada com longa duração; coeficiente kz, para a determinação do braço de
alavanca dos momentos fletores; porcentagens de armaduras mínimas nas direções e
porcentagem de armadura máxima aceitável.
O cálculo das armaduras é realizado conforme os cinco casos de dimensionamento do
CEB-FIP/1978, apresentados anteriormente.
Na envoltória das armaduras e das tensões é feita uma varredura dos resultados, em cada
elemento, para cada combinação, sendo separados em arquivo as maiores armaduras
encontradas para as duas direções e faces em cada elemento finito, assim como as tensões de
compressão na direção principal. Nos elementos em que a tensão de compressão superar a
tensão máxima admissível, nos gráficos de armaduras este elemento é circulado, indicando a
alta tensão de compressão encontrada numa das faces do mesmo. Nesta verificação, a tensão
de compressão admissível foi ainda reduzida em 80% daquela já reduzida pelo coeficiente
Rüsch (fornecido como dado de cálculo para a determinação da tensão admissível de
compressão no concreto), para levar em consideração que as diagonais comprimidas são
perturbadas pelas barras de armadura que as atravessam transversalmente, conforme CEB-
FIP/1978.
Agora, determinadas as armaduras, entra-se com uma tabela, em arquivo .txt, contendo as
bitolas comerciais que serão utilizadas, assim como os espaçamentos destas, gerando
determinadas áreas de armaduras que serão comparadas com aquelas calculadas como
máximas de cada elemento. Os resultados apresentarão, então, gráfico de cores simbolizando
as bitolas, seguidas do espaçamento das barras. Exemplo: φ 5 mm a cada 10 cm.
No detalhamento dos elementos o operador deve indicar se quer um onde serão separadas
as paredes e pisos conforme a cota fixa (x, y ou z), onde deve ser digitado o nome do plano
(conforme planilhas da metodologia de modelagem) e o valor da cota; senão, em estruturas
com planos inclinados, não é necessário entrar neste menu, e o detalhamento será
tridimensional. Se assim for, é interessante que seja gerado, no SAP2000, arquivos INPUT
TABLE e OUTPUT TABLE para cada plano inclinado, separadamente, visando obter
arquivos .dwg do AutoCad separados e de melhor visualização dos resultados.
No menu de geração de relatórios podem ser gerados arquivos texto (de extensão .txt),
contendo os dados de geometria, carregamentos, armaduras calculadas, dados de entrada de
cálculo, envoltória das armaduras e tensões, bitolas e espaçamentos utilizados, enfim, de
todos os dados utilizados ou determinados pelo programa AsSTEEL. Pode-se, também, pedir
a geração de desenhos de resultados de armaduras, de todos os elementos ou de apenas um
específico, em extensão .cad (que serão posteriomente lidos em um programa complementar
desenvolvido na linguagem AutoLisp, do AutoCad, para a confecção em extensão .dwg), ou
extensão .dp (de propriedade do programa computacional CAD/DP-TQS, software de
otimização de detalhamento de estruturas de concreto armado amplamente utilizado pelos
escritórios de cálculo de obras civis no Brasil). Aqui neste menu tem-se a opção da geração
das armaduras tridimensionais, para os planos inclinados.
Dessa maneira, são gerados os desenhos contendo os mapas de armaduras necessárias,
aos elementos de casca, nas direções dos eixos locais 1 e 2, nas faces do elemento. Com elas
procede-se ao desenho de detalhamento das barras dentro das peças de concreto armado
(comprimentos das armaduras, emendas, dobras, posicionamento), conforme as técnicas
difundidas e normatizadas.

5 EXEMPLOS NUMÉRICOS - TESTE DO FUNCIONAMENTO DO PROGRAMA

Visando mostrar os resultados apresentados pelo aplicativo, foi modelado um elemento


estrutural em concreto armado, de 200 x 400 cm, de espessura h=25 cm, funcionando ora
como placa, ora como membrana e ora como casca. Considerou-se o concreto armado como o
material constituinte, com resistência característica a compressão fck=25MPa, o que, conforme
o Projeto de Revisão da Norma Brasileira NBR6118/2000 - Projeto de Estruturas de Concreto
Armado, resulta em uma Módulo de Elasticidade Secante Ecs=23800 MPa, com coeficiente de
Poisson ν=0,20. Não foram efetuadas reduções no Módulo de Elasticidade Transversal do
material. Os casos estudados, com representação da discretização da malha em elementos
finitos, e os carregamentos aplicados podem ser visualizados nas Fig. 12 a 14 abaixo.
Nas figuras 15 a 17 podem ser visualizados os esforços que ocorrem nos modelos
testados: momentos fletores M11 e M22 para os modelos de placa e casca, e esforços normais
F11 nos modelos de chapa e casca. Verifica-se a perturbação de Saint-Venant junto aos
apoios.
Para o dimensionamento da placa, da chapa e da casca foram utilizados os seguintes
dados de cálculo: aço CA-25 (fyk= 2500 kgf/cm2) , concreto fck=250 kgf/cm2, cobrimentos de
2 cm e 3 cm, nas direções 1 e 2 respectivamente, coeficientes γc=1,40, γs=1,15 e γf =1,40, sem
taxa de armadura mínima nas direções e faces. Foram também considerados um coeficiente
Rüsch = 0,95 e um coeficiente que determina o braço de alavanca kz=0,90.
400

200
qz = -1,25 tf/m

Y ESPESSURA
H=25 cm

X
Z

Figura 12: Placa em balanço submetida a carregamento uniformemente distribuído na ponta


200

qx = +20 tf/m

Y
ESPESSURA
H=25 cm

X
Z

Figura 13: Chapa em balanço submetida a carregamento uniformemente distribuído na ponta


400

200
qz = -1,25 tf/m

qx = +20 tf/m
Y ESPESSURA
H=25 cm

X
Z

Figura 14: Casca em balanço submetida a carregamentos uniformes nas direções x e z

O caso de detalhamento para os modelos resultou, conforme análise dos eixos locais
dos planos, lançados em z=0,00, no caso C da Fig. 08 anterior.

Figura 15: Momentos fletores M11 nos modelos de placa e casca, em kgf.cm/cm, com tração na face superior

Figura 16: Momentos fletores M22 atuantes nos modelos de placa e casca, em kgf.cm/cm, com tração na face
superior na maior parte do plano
Figura 17: Esforços Normais F11 atuantes nos modelos de chapa e casca, em kgf/cm, de tração

As armaduras determinadas para o plano processado com carregamento de placa podem


ser vistas nas Fig. 18 a 21 abaixo. A simbologia de cores indica bitola de armadura, em mm, e
espaçamento entre barras, em cm.

Figura 18: Armaduras para o plano processado como placa, na direção X e na face inferior; armadura uniforme
para toda a placa igual a φ 4,2 mm a cada 20 cm

Figura 19: Armaduras para o plano processado como placa, na direção X e na face superior; armadura máxima
de φ 16 mm a cada 10 cm
Figura 20: Armaduras para o plano processado como placa, na direção Y e na face inferior

Figura 21: Armaduras para o plano processado como placa, na direção Y e na face superior

As armaduras determinadas para o plano processado com carregamento de chapa podem


ser vistas nas Fig. 22 a 25 abaixo.

Figura 22: Armaduras para o plano processado como chapa, na direção X e na face inferior
Figura 23: Armaduras para o plano processado como chapa, na direção X e na face superior

Figura 24: Armaduras para o plano processado como chapa, na direção Y e na face inferior

Figura 25: Armaduras para o plano processado como chapa, na direção Y e na face superior

As armaduras determinadas para o plano processado com carregamentos de placa e


chapa, ou seja, com comportamento de casca, podem ser vistas nas Fig. 26 a 29 abaixo.
Figura 26: Armaduras para o plano processado como casca, na direção X e na face inferior

Figura 27: Armaduras para o plano processado como casca, na direção X e na face superior

Figura 28: Armaduras para o plano processado como casca, na direção Y e na face inferior
Figura 29: Armaduras para o plano processado como casca, na direção Y e na face superior

Conforme análise dos resultados de armaduras, verifica-se que:


- para o plano processado como placa as armaduras resultaram maiores na face superior
da direção X, que é a mais tracionada da placa. As armaduras na direção Y resultaram nas
menores consideradas na tabela de bitolas, dado de entrada do programa; aí entraria a
armadura mínima, se fosse dado uma porcentagem em relação à espessura da placa;
- para o plano processado como chapa, as armadura resultaram em φ 10 mm a cada 10
cm na direção X, que é a mais solicitada à tração neste modelo; as armaduras na direção Y
resultaram próximas à minima da tabela de bitolas;
- o plano processado como casca contempla os esforços de momentos fletores e de
forças normais, onde verifica-se que houve um incremento nas armaduras da face superior da
direção X do modelo de placa, exatamente nas regiões com aumento de tração pela
superposição aos efeitos do modelo de chapa (Fig. 27); na face inferior da direção X ocorreu
redução da armadura calculada no modelo de chapa, devido às tensões de compressão vindas
dos efeitos do momento fletor, como esperado (Fig. 26). Na direção Y os efeitos também
foram somados para o modelo de casca.
As tensões de compressão não foram superadas em nenhum dos elementos.

6 VISUALIZAÇÕES DE UM DOS DIMENSIONAMENTOS DE ESTRUTURA


COMPLEXA EFETUADO COM O PROGRAMA COMPUTACIONAL AsSTEEL

Apresentam-se abaixo, nas Fig. 30 e 31, a geometria de uma modelo tridimensional, em


SAP2000, de uma elevatória de esgoto bruto, em concreto armado, com piso de tampa, fundos
e paredes simuladas por elemento de casca (SHELL). A estrutura tem uma altura total de
h=10,25 m (nível do fundo inferior), estando a maior parte enterrada, sofrendo empuxos nas
paredes vindos dos carregamentos de solo e de líquido no seu interior. Conforme Fig. 31, vê-
se que a mesma foi continuamente apoiada sobre estacas no seu contorno, enfileiradas
formando uma cortina. Sobre a tampa (nível 0,00) tem-se pilares e vigas simuladas por
elementos FRAME, necessários na estrutura para a fixação de talhas e guindates. Sobre as
lajes de tampa e fundo existem carregamentos transversais ao plano, vindos de sobrecarga e
carregamentos de líquido (no fundo). Assim, as paredes e pisos funcionam como elementos de
casca, sofrendo flexões e esforços de membrana (além do cisalhamento).
Após a modelagem, lançamento de carregamentos e combinações, fez-se o
processamento e gerou-se os relatórios necessários ao programa de dimensionamento.
Apresenta-se na Fig. 32 os mapas de armaduras para o modelo completo, tridimensional,
em uma direção cartesiana e face. Vê-se que, para o desenho de detalhamento das barras de
aço os mesmos tornam impossível o processo. Conforme visto anteriormente, é necessário a
geração de desenhos em planos separados, conforme as planilhas de metodologia de
modelagem propostas. Alguns dos desenhos, em extensão .dwg, dos planos separados podem
ser vistos nas Fig. 33 a 35. Com eles, o detalhamento tornou-se ágil, objetivo alcançado pelo
desenvolvimento do programa computacional.

Figura 30: Estação Elevatória de Esgoto Bruto (EEEB) - Vista Superior do Modelo Tridimensional no SAP2000

Figura 31: EEEB - Vista Inferior do Modelo Tridimensional no SAP2000


Figura 32: EEEB - Visualização das armaduras necessárias em uma direção cartesiana global e uma face,
desenhadas de maneira tridimensional para todos os planos do modelo

Figura 33: EEEB - Visualização em vista lateral plana das armaduras necessárias em uma direção cartesiana
global e uma face, para as paredes de um lado do modelo, geradas tridimensionalmente
Figura 34: EEEB - Visualização das armaduras necessárias em uma direção cartesiana global e uma face,
desenhadas no plano, para laje de fundo intermediária nível -2,95 m

Figura 35: EEEB - Vista superior planificada das armaduras necessárias em uma direção cartesiana global e uma
face, desenhadas tridimensionalmente somente para os planos inclinados do fundo inferior
7 COMENTÁRIOS FINAIS

Em função de testes realizados, comparando os resultados apresentados pelo programa


AsSTEEL com outros de programas que fornecem as armaduras por meio de arquivos texto,
validou-se o aplicativo gráfico. Assim, tem sido utilizado para o dimensionamento de cascas
de concreto armado em modelos complexos, de edificações industriais, e tem
satisfatoriamente atendido a necessidade de apresentação de resultados para o detalhamento
das armaduras de diversas combinações de carregamentos. Novas implementações estão
sendo estudadas: mudanças nas telas de operação do software, buscando melhorar a entrada
de dados; otimização do processamento das armaduras e geração dos mapas de armaduras,
diminuindo o tempo computacional.

BIBLIOGRAFIA

ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. Texto base para revisão da


NB1/78: NBR611/18 – Projeto de revisão e comentários. Rio de Janeiro, 2000.

COMITÊ EURO-INTERNATIONAL DU BÉTON - Code Modele CEB-FIP/1978 poules


structures en béton. Paris, Bulletin d' Information, 124/125-F.

LEONHARDT, F; MÖNNIG, E. (1978). Construções de Concreto. Trad. V. L. E. Merino.


Rio de Janeiro, Editora Interciência, v.2.

MATSUMOTO, E. Y. (1998). AutoLisp - Linguagem de Programação do AutoCad. 2°


Edição, Editora Érica, São Paulo, SP.

SAP2000 (1997). Analysis Reference. Volume I, Computers & Structures, Berckeley, p.1-
409;

SAP2000 (1997). Analysis Reference. Volume II, Computers & Structures, Berckeley, p.1-
407;

SCHILDT, H. (1998). Borland C++ Completo e Total. Editora Makron Books. São Paulo,
SP.

Você também pode gostar