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PERSPECTIVAS DO
MEIO AMBIENTE
NA AMAZÔNIA
amazonia
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Publicado pelo Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA), pela Organização do Tratado de
Cooperação Amazônica (OTCA) e em colaboração com o Centro de Pesquisa da Universidad del Pacífico (CIUP).
É permitida a reprodução total ou parcial desta publicação para fins educativos, ou não-lucrativos, não sendo necessário
qualquer tipo de autorização especial do titular dos direitos, desde que indicada a fonte. O Programa das Nações Unidas
para o Meio Ambiente, a Organização do Tratado de Cooperação Amazônica e a Universidad del Pacífico agradecem a
gentileza de receber um exemplar de qualquer texto cuja fonte tenha sido a presente publicação.
Não é permitida a reprodução desta publicação para venda ou quaisquer outros fins comerciais.
ISENÇÃO DE RESPONSABILIDADE
O conteúdo deste documento não reflete necessariamente as opiniões ou políticas do PNUMA, da OTCA ou das
organizações parceiras com relação à situação jurídica de um país, território, cidade ou área sob sua autoridade, ou
com relação à delimitação de suas fronteiras ou limites.
❱❱❱ Equipe do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente Venezuela:
(PNUMA) Ministério do Poder Popular para o Ambiente: Maritza Reechinti; Insti
• Ricardo Sánchez Sosa - Diretor Regional do Escritório Regional para a tuto Venezuelano de Pesquisas Científicas -IVIC: Ángel Fernández
América Latina e o Caribe
• Kakuko Nagatani - Oficial de Programa da Divisão de Avaliação e ❱❱❱ Assistentes
Alerta Rápido- Coordenadora do Projeto GEO Amazônia • Assistentes PNUMA
❱❱❱ COORDENAÇÃO TÉCNICA: • Cristina Montenegro - Coordenadora, PNUMA Brasil • Teresa Hurtado
• Ricardo Mellado
❱❱❱ Equipe da Organização do Tratado de Cooperação Amazônica • Esther Mendoza
(OTCA)
• Francisco Ruiz – Secretário-Geral a.i. ❱❱❱ Assistentes CIUP
• Luis Alberto Oliveros - Coordenador de Meio Ambiente. • Daniel Anavitarte
• Aura Benavides
❱❱❱ COLABORAÇÃO: ❱❱❱ COM O APOIO DE: ❱❱❱ Equipe do Centro de Pesquisa da Universidad del Pacífico • Úrsula Fernández Baca
(CIUP) • Isabel Guerrero
• Rosário Gómez - Pesquisadora, Responsável Técnico do Projeto • Mariella Zapata
• Elsa Galarza - Pesquisadora, Responsável Técnico do Proyecto
BOLÍVIA ❱❱❱ Equipe de elaboração de mapas
Ministério do Desenvolvimento Rural, Agropecuário e Meio Ambiente ❱❱❱ Coordenação Geral Adolfo Kindgard. Universidade de Buenos Aires, Faculdade de Agrono-
• PNUMA: Kakuko Nagatani mia -Argentina; Hua Shi. UNEP/GRID - Sioux Falls - Estados Unidos
• OTCA: Luis Alberto Oliveros
BRASIL • CIUP: Rosário Gómez e Elsa Galarza ❱❱❱ Colaboradores:
Ministério do Meio Ambiente • Andrea de Bono. UNEP/GRID
❱❱❱ Comitê Técnico • Hugh Eva. JRC da União Européia - Itália
Bolívia: • Jaap van Woerden. UNEP/GRID
COLÔMBIA Vice-Ministério de Biodiversidade, Recursos Florestais e Meio Ambiente; • Mark Bryer. The Nature Conservancy.
Ministério do Ambiente, Habitação e Desenvolvimento Territorial Direção Geral de Recursos Florestais: Jorge Antônio Arnez Martínez; Instituto
de Ecologia - Universidade Mayor de San Andrés: Mário Baudoin; Centro de ❱❱❱ Fotografia
Pesquisa em Agricultura Tropical -CIAT: Hugo Serrate, Raúl Aguirre • Diario El Comercio, Peru
EQUADOR • Conservation International, Peru, Bolívia
Ministério do Ambiente Brasil: • Programa de Desenvolvimento Alternativo nas Áreas de Pozuzo e
Ministério do Meio Ambiente: Muriel Saragoussi, Kelerson Costa; Insti- Palcazu, Peru
tuto do Homem e Meio Ambiente da Amazônia -Imazon: Carlos Souza, • Arquivo da Biblioteca Amazônica, Peru.
GUIANA Kátia Pereira; Instituto Socioambiental, ISA: Alícia Rolla • GTZ - Cooperação Alemã para o Desenvolvimento
Agência de Proteção Ambiental • Ernesto Ráez, Peru
Colômbia: • Zaniel Novoa, Pontifícia Universidade Católica-Peru
Ministério do Ambiente, Habitação e Desenvolvimento Territorial. • Instituto de Pesquisas da Amazônia Peruana, Peru
PERU Direção de Ecossistemas: Leonardo Muñoz; Instituto Amazônico de • Guiana: Sociedade de Pássaros Tropicais da Amazônia (agradecimento
Ministério do Ambiente Pesquisas Científicas, Sinchi: Uriel Múrcia, Juan Carlos Alonso; Instituto ao Fundo Mundial para a Natureza-WWF)
Alexander Von Humboldt: Dolors Armenteras, Mônica Morales • Instituto Imazon, Brasil
• Organização do Tratado de Cooperação Amazônica
SURINAME Equador: • Greenpeace
Ministério do Trabalho, Desenvolvimento Tecnológico e Meio Ambiente Ministério do Ambiente: Camilo Gonzales
❱❱❱ Editoração gráfica, layout, diagramação e infografias
Guiana: Fábrica de Ideas
VENEZUELA Agência de Proteção Ambiental, Divisão de Gestão de Recursos Natu- Direção de arte e edição fotográfica: Xabier Díaz de Cerio
Ministério do Poder Popular para o Ambiente rais: Navin Chandarpal, Indarjit Ramdass Layout: Roger Hiyane
Capa: Xabier Díaz de Cerio
Peru: Diagramação: Ingrid Landaveri
Ministério do Ambiente (ex-Conselho Nacional do Ambiente). César Villa- Infografias: Mário Chumpitazi
corta; Instituto de Pesquisas da Amazônia Peruana: Fernando Rodríguez Multimídia: Frederik Corazao
Cuidado de edição em português: Simone Bastos Craveiro
Suriname: www.fabricadeideas.pe
Ministério do Trabalho, Desenvolvimento Tecnológico e Meio Ambiente:
Mariska Milieu
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❱❱❱ Tradução dos documentos de trabalho Peru: • Bolívia: Instituto de Ecologia da Universidade Maior de San Andrés:
• Phil Linehan Associação Peruana para a Conservação da Natureza (Apeco); Governo Mário Baudoin
Regional de Loreto; Instituto Nacional de Recursos Naturais (Inrena) • Brasil: Ministério do Meio Ambiente: Kelerson Costa
❱❱❱ Tradução dos documentos em português • Colômbia: Instituto Amazônico de Pesquisas Científicas (Sinchi):
• Antonio Ribeiro de Azevedo Santos Suriname: Uriel Gonzalo Murcia
Centro de Pesquisa Agrícola no Suriname; Fundo de Conservação • Colômbia: Instituto de Pesquisa Alexander Von Humboldt: Dolors
❱❱❱ Revisão do texto em português (Suriname); Milieu Sektie; Ministério do Planejamento, Florestas e Armenteras
• Claudia Helena Carvalho Ordenamento Territorial; Centro de Coordenação Nacional para o • Equador: Ministério do Ambiente: Camilo González
Atendimento de Desastres; Instituto Nacional para o Meio Ambiente e • Equador: Fundação Equatoriana de Estudos Ecológicos (Ecociencia):
❱❱❱ Organização de plataformas de comunicação Desenvolvimento do Suriname; Universidade do Suriname; Fundação Malki Sáenz
Karlos La Serna, Centro de Pesquisa da Universidad del Pacífico para a Conservação da Natureza (Suriname); Companhia de Água do • Peru: Conselho Nacional do Ambiente (Conam) (atual Ministério
Germán Chión, Centro de Pesquisa da Universidad del Pacífico Suriname; Fundo Mundial para a Natureza (WWF) do Ambiente): Carlos Loret de Mola, César Villacorta, David Solano,
Verónica Mendoza
❱❱❱ Agradecimentos ❱❱❱ Colaboração especial • Peru: Instituto Nacional de Recursos Naturais (Inrena): Carlos Salinas
Nosso agradecimento a todas as pessoas e instituições que contribuíram Tim Killeen, Conservation Internacional • Peru: Instituto de Pesquisas da Amazônia Peruana: Alberto Garcia Maurício
com informação e sugestões para a elaboração do GEO Amazônia. • Peru: Centro de Pesquisa da Universidade do Pacífico: Elsa Galarza,
❱❱❱ Colaboradores Rosário Gómez, Joanna Kámiche
❱❱❱ Contribuições institucionais • Adriana Rivera, Assessora do Programa Regional Amazônia OTCA- • Venezuela: Instituto Venezuelano de Pesquisas Científicas (IVIC):
Brasil: DGIS-GTZ Ángel Fernández
Agência Nacional de Águas (ANA); Conselho Nacional de Seringueiros • Adriano Venturieri, Embrapa – Brasil • Conservation International: Carlos Ponce, Peru
(CNS); Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa); Grupo • Antonio Brack, Ministério do Ambiente – Peru • Organização do Tratado de Cooperação Amazônica: Rosalia Arteaga,
de Trabalho Amazônico (GTA); Instituto Brasileiro do Meio Ambiente • Annie Pitamber, Agência de Proteção Ambiental – Guiana Luis Alberto Oliveros
e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama); Instituto Brasileiro de • Carlos Amat y León, Centro de Pesquisa da Universidad del Pacífico– Peru • Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente: Ricardo
Geografia e Estatística (IBGE); Instituto Nacional de Colonização e • Carlos Aragón, Coordenador do Componente Florestal do Programa Sánchez, Kakuko Nagatani
Reforma Agrária (Incra); Instituto de Pesquisas Ambientais da Amazônia Regional Amazônia OTCA-DGIS-GTZ
(Ipam); Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA); Ministério • Carlos Ariel Salazar, Instituto Sinchi – Colômbia Oficina de apresentação do projeto e identificação de problemas
da Educação; Museu Paraense Emilio Goeldi (MPEG); Ministério das • Carol Franco, Instituto de Pesquisa de Recursos Biológicos Alexander ambientais. Villa de Leyva-Colômbia, de 16 a 19 de maio de 2006
Relações Exteriores; Ministério da Saúde; Universidade Federal do Acre; von Humboldt – Colômbia • Bolívia: Vice-Ministério de Biodiversidade, Recursos Florestais e Meio Am
Universidade Federal do Amazonas; Fundo Mundial para a Natureza • Cláudia Villa, Instituto de Pesquisa de Recursos Biológicos Alexander biente – Direção Geral de Recursos Florestais: Jorge Antonio Arnez Martínez
(WWF) von Humboldt – Colômbia • Bolívia: Centro de Pesquisa Agrícola Tropical (CIAT): Raúl R. Aguirre Vásquez
• Edith Alcorta, Plano Binacional Peru-Equador – Peru • Bolívia: Instituto de Ecologia da Universidade Maior de San Andrés:
Colômbia: • Eduardo Gudynas, Centro Latino-Americano de Ecologia Social, Claes– Mário Baudoin
Instituto Geográfico Agustín Codazzi; Instituto de Hidrologia, Meteorolo- Uruguai • Brasil: Ministério do Meio Ambiente: Kelerson Costa
gia e Estudos Ambientais (Ideam) • Fernando León, Instituto Nacional de Recursos Naturais, Inrena – Peru • Brasil: Instituto do Homem e Meio Ambiente da Amazônia (Imazon):
• Hans Thiel, Consultor florestal – OTCA Kátia Pereira
Equador: • Joanna Kámiche, Centro de Pesquisa da Universidad del Pacífico – Peru • Brasil: Instituto Socioambiental (ISA): Alícia Rolla
Faculdade Latino-Americana de Ciências Sociais (Flacso); Fundação • João Paulo Viana, Ministério do Meio Ambiente, Projeto Aquabio – Brasil • Brasil: Grupo de Trabalho Amazônico: Rosenilde Gregório dos Santos Costa
Equatoriana de Estudos Ecológicos (Ecociencia); União Internacional • Jorge Meza, Projeto Biodiversidade – OTCA • Colômbia: Ministério do Ambiente, Moradia e Desenvolvimento
para a Conservação da Natureza – Escritório Regional para América do • José Antônio Gómez, Instituto de Pesquisa de Recursos Biológicos Territorial (MAVDT): Sandra Suárez
Sul (UICN-Sul) Alexander von Humboldt – Colômbia • Colômbia: Instituto Amazônico de Pesquisas Científicas (Sinchi): Luz
• Juan Carlos Bethancourt, Instituto de Pesquisa de Recursos Biológicos Marina Mantilla Cárdenas e Uriel Gonzalo Múrcia
Guiana: Alexander von Humboldt – Colômbia • Colômbia: Instituto de Pesquisa Alexander Von Humboldt: Fernando
Agência de Proteção Ambiental; Autoridade Central de Habitação de • Marlúcia Bonifácio, Museu Goeldi – Brasil Gast, Dolors Armenteras, Mónica Morales
Planejamento; Comissão Florestal da Guiana; Comissão de Terras e • Maria Luisa del Rio, Ministério do Ambiente – Peru • Equador: Ministério do Ambiente: Camilo Gonzales
Registros da Guiana; Conservation International-Guiana; Guyana Sugar • Paulo Roberto Martin, Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais, • Equador: Fundação Equatoriana de Estudos Ecológicos (EcoCiencia):
Corporation; Centro Internacional Iwokrama; Instituto Nacional de INPE – Brasil Malki Sáenz
Pesquisa Agrícola; Ministério da Agricultura; Ministério de Assuntos • Rita Piscoya, Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária • Peru: Conselho Nacional do Ambiente (Conam) (atual Ministério do
Ameríndios; Ministério da Habitação e Águas; Guyana Water Incorpo- (Incra) – Brasil Ambiente): César Villacorta Arévalo
rated; Ministério dos Governos Locais e de Desenvolvimento Regional; • Sílvia Sânchez, Associação Peruana para a Conservação da Natureza, • Peru: Instituto de Pesquisas da Amazônia Peruana: Alberto Garcia
Conselho de Desenvolvimento do Arroz da Guiana; Ministério de APECO – Peru Maurício
Assuntos Exteriores; Universidade da Guiana; Centro de Capacitação • Peru: Governo Regional de Loreto: Nélida Barbagelata
Florestal; Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento; ❱❱❱ Participantes nas oficinas • Suriname: Ministério do Trabalho, Desenvolvimento Tecnológico e
Instituto Interamericano de Cooperação Agrícola; Comissão Nacional de Oficina Metodológica. Lima-Peru, 27 e 28 de fevereiro de 2006 Meio Ambiente – Divisão de Meio Ambiente: Mariska Riedewald
Parques; Presidência da Guiana • Bolívia: Centro de Pesquisa Agrícola Tropical (CIAT): Raúl R. Aguirre • Venezuela: Escritório de Gestão e Cooperação Internacional, Ministério
Vásquez do Ambiente e dos Recursos Naturais da República Bolivariana da
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Venezuela: Maritza Reechinti • Bolívia: Instituto de Ecologia da Universidade Maior de San Andrés: • Comissão Nacional de Parques: Yolanda Vasconcellos
• Venezuela: Instituto Venezuelano de Pesquisas Científicas (IVIC): Mário Baudoin • Presidência da Guiana: Leroy Cort
Ángel Fernández • Brasil: Ministério do Meio Ambiente: Kelerson Costa
• Conservation International: Tim Killeen • Equador: Ministério do Ambiente: Camilo Gonzales Oficina de revisão final, Belém-Brasil, agosto de 2007
• União Internacional para a Conservação da Natureza (UICN-Sul), • Colômbia: Instituto Sinchi: Juan Carlos Alonso, Uriel Murcia • Bolívia: Centro de Pesquisa Agrícola Tropical (CIAT): Hugo Serrate
Escritório Regional para América do Sul – Equador: Consuelo • Colômbia: Instituto de Pesquisa de Recursos Biológicos Alexander • Bolívia: Instituto de Ecologia da Universidade Maior de San Andrés:
Espinoza von Humboldt : Dolors Armenteras, Mónica Morales Mário Baudoin
• Peru: Conselho Nacional do Ambiente (Conam) (atual Ministério do • Brasil: Ministério do Meio Ambiente: Muriel Saragoussi
Oficina de apresentação do projeto e diálogo. Brasília-Brasil, 6 e 7 de Ambiente): César Villacorta • Brasil: Instituto do Homem e Meio Ambiente da Amazônia (Imazon):
dezembro de 2006 • Peru: Instituto de Pesquisas da Amazônia Peruana (IIAP): Fernando Carlos Souza, Kátia Pereira
• Agência Nacional de Águas, ANA: Paulo Augusto Tatsch, Viviani Rodríguez • Brasil: Instituto Socioambiental (ISA): Alícia Rolla
Pineli Alves • PNUMA: Kakuko Nagatani • Brasil: Instituto de Pesquisas Ambientais da Amazônia (Ipam):
• Conselho Nacional de Seringueiros (CNS): Atanagildo de Deus Matos • OTCA: Luís Alberto Oliveros Marcos Ximenes
• Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa): Adriano • Associação de Universidades Amazônicas (Unamaz) • Brasil: Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra):
Venturieri, Braz Calderano Filho • Conservation International: Tim Killeen Rita Piscoya, Thiago Silva Gomes
• Grupo de Trabalho Amazônico (GTA): Rosenilde Gregório dos • Brasil: Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa):
Santos Costa Oficina de apresentação e discussão. Paramaribo-Suriname, de 17 a Adriano Venturieri, Adilson Serrão
• Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais 18 de maio de 2007 • Brasil: Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais
Renováveis (Ibama): Adriana Carvalhal, Cláudia Enck de Aguiar, Gui • Centro de Coordenação Nacional para o Atendimento de Desastres: Renováveis (Ibama): Guilherme Pimentel Holtz
lherme Holtz, Humberto Colta Jr., Juan Marcelo de Oliveira, Kátia Cury R. Nasibdar • Brasil: Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE): José
Roseli, Rodrigo Paranhos Faleiro, Rodrigo Rodrigues • Centro de Pesquisa Agrícola no Suriname: K. Tjon Rocha Collares, Denise Kronemberger
• Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE): Adma Hamam • Companhia de Água do Suriname: H. Telgt • Brasil: Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa): Arnaldo
de Figueiredo, Guido Gelli, José Enílcio Rocha Collares • Fundo de Conservação - Suriname: L. C. Johanns. Carneiro Filho
• Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra): Rita • Fundo Mundial para a Natureza, WWF-Guianas: H. Malone • Museu Paraense Emilio Goeldi (MPEG): Marlúcia Bonifácio Martins
de Cássia Condé de Piscoya, Thiago Silva Gomes • Fundação para a Conservação da Natureza – Suriname: Mohadin • Brasil: Núcleo de Altos Estudos Amazônicos – Universidade Federal
• Instituto de Pesquisas Ambientais da Amazônia (Ipam): Marcos • Instituto Nacional para o Meio Ambiente e Desenvolvimento do do Pará: Edna Castro
Ximenes Suriname: D. Burospan, S. Ramcharan • Colômbia: Ministério do Ambiente, Moradia e Desenvolvimento
• Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA): Luiz Cezar • Milieu Sektie: H. Uiterloo, M. Riedewald, S. Soetosenojo, H. Aroma, Territorial (MAVDT): Sandra Suárez
Loureiro de Azeredo A. Khoenkhoen, T. Elder, S. de Meza, P. Karjodromo, N. Tjin Kong Foek • Colômbia: Instituto Amazônico de Pesquisas Científicas (Sinchi):
• Instituto Socioambiental (ISA): Fernando Mathias • Ministério do Planejamento, Florestas e Ordenamento Territorial: Uriel Gonzalo Murcia, Juan Carlos Alonso
• Ministério da Educação: Fábio Deboni Ch. Sieuw • Colômbia: Instituto de Pesquisa Alexander von Humboldt: Mónica
• Ministério do Meio Ambiente: Alexandre R. Duarte, Cláudia Ramos, • Universidade do Suriname: R. Nurmohamed Morales
Flávia Pires Lima, Kelerson Costa, Klinton Senra, Leonel Teixeira, Marcelo • Equador: Ministério do Ambiente: Camilo Gonzales
Mazzola, Márcia Paes, Marco Antônio Salgado, Marly Santos, Muriel Oficina de apresentação e discussão. Georgetown-Guiana, junho de 2007 • Guiana: Agência de Proteção Ambiental: Indarjit Ramdass
Saragoussi, Silvana Macedo, Volney Zanardi Jr. • Agência de Proteção Ambiental: Indarjit Ramdass, Khalid Alladin. • Peru: Instituto de Pesquisas da Amazônia Peruana: Fernando Rodríguez
• Museu Paraense Emilio Goeldi, MPEG: Marlúcia Bonifácio Martins • Autoridade Central de Moradia e Planejamento: Fayola Azore • Suriname: Ministério do Trabalho, Desenvolvimento Tecnológico e
• Ministério das Relações Exteriores: Sérgio Paulo Benevides • Comissão Florestal da Guiana: James Singh, Sonya Reece Meio Ambiente – Divisão de Meio Ambiente: Mariska Riedewald
• Ministério da Saúde: Kátia Regina Ern • Comissão de Terras e Registros da Guiana: Andrew Bishop, • Venezuela: Instituto Venezuelano de Pesquisas Científicas (IVIC):
• Universidade Federal do Acre: Irving Foster Brown Bramhan and Singh Ángel Fernández.
• Universidade Federal do Amazonas: Jackson Fernando Rêgo • Conservation International – Guiana: Curtis Bernard
• Fundo Mundial para a Natureza (WWF): Ekena Rangel • Guyana Sugar Corporation: Anton Dey
• Instituto Amazônico de Pesquisas Científicas (Sinchi) – Colômbia: • Centro Internacional Iwokrama: Raquel Thomas
Juan Carlos Alonso • Instituto Nacional de Pesquisa Agrícola: Cleveland Paul
• Instituto de Pesquisa de Recursos Biológicos Alexander von Humboldt – • Ministério da Agricultura: Denzil Roberts
Colômbia: Dolors Armenteras • Ministério de Assuntos Ameríndios: Ronald Cumberbatch
• Centro de Pesquisa da Universidad del Pacífico – Peru: Elsa Galarza, • Ministério da Habitação e Água: Deborath Montouth-Hollingsworth
Rosário Gómez • Guyana Water Incorporated: Gladwin Tait
• Organização do Tratado de Cooperação Amazônica (OTCA): Luís • Ministério dos Governos Locais e de Desenvolvimento Regional:
Alberto Oliveros Ramnarine Singh
• Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente – Brasil: • Conselho de Desenvolvimento do Arroz da Guiana: Kuldip Ragnauth
Cristina Montenegro, Bernadete Lange • Ministério de Assuntos Exteriores: Peggy McClennan
• Universidade da Guiana: Paulette Bynoe, Suzy Lewis
Oficina de revisão, Santa Cruz-Bolívia, de 11 a 13 de dezembro de 2006 • Centro de Capacitação Florestal: Rohini Kerrett
• Bolívia: Centro de Pesquisa Agrícola Tropical (CIAT): Raúl Aguirre, • Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento: Nadine Livan
Hugo Serrate • Instituto Interamericano de Cooperação Agrícola: Ignatius Jean
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PREFACIO:
Culminando um processo que tomou dois anos de tra- A falta de informação científica e de dados estatísticos consistentes dificulta que se
balho, do qual participaram cerca de 150 cientistas e façam comparações ou a agregação de tópicos ambientais, e a informação disponível
localmente não foi analisada e sistematizada de modo a contribuir para uma visão am-
pesquisadores de todos os países amazônicos, o Progra- biental sólida e integral.
ma das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA) O GEO Amazônia tem como objetivo servir de subsídio aos tomadores de decisão das
e a Organização do Tratado de Cooperação Amazônica esferas nacional, subnacional e local dos países amazônicos, na construção de uma base
(OTCA) têm a grata satisfação de apresentar o relatório sólida para suas ações, de modo a assegurar a sustentabilidade a longo prazo das iniciati-
vas de desenvolvimento.
Perspectivas do Meio Ambiente na Amazônia – GEO
Amazônia. Queremos agradecer aos ministérios ou autoridades nacionais de meio ambiente e
demais entidades ligadas a essa área, assim como aos cientistas, aos pesquisadores e às
instituições dos países amazônicos pela valiosa colaboração, que tornou possível elabo-
Baseado na metodologia GEO (Global Environment Outlook), este singular relatório compre- rar o presente relatório. Destacamos particularmente a contribuição da Universidad del
ende uma avaliação completa e integral do estado de um ecossistema da maior relevância Pacífico, do Peru, na coordenação do complexo processo de formulação deste relatório.
para o planeta, compartilhado por Bolívia, Brasil, Colômbia, Equador, Peru, Guiana, Suriname
e Venezuela. Não obstante todos os riscos ambientais a que a Amazônia está exposta, temos a convic-
ção de que os líderes regionais tomarão as decisões mais acertadas para deter a degra-
A Amazônia abriga uma enorme variedade de espécies da flora e da fauna e é uma impor- dação do meio ambiente e promover o desenvolvimento sustentável, fonte de bem-estar
tante área de endemismo, constituindo, assim, uma reserva genética de relevância mun- para seus habitantes e para toda a humanidade. Nosso maior desejo é que este relatório
dial. Além disso, em termos de recursos hídricos, a água produzida pela bacia amazônica contribua para esse processo.
representa aproximadamente um quinto de todo o escoamento superficial do planeta. E
não menos significativa é a função desempenhada por suas florestas, que atuam como um
importante sumidouro de carbono, absorvendo anualmente centenas de milhões de tonela-
das de gases causadores do efeito estufa.
A Amazônia tem uma longa e rica história de ocupação humana e cultural – atualmente,
mais de 38 milhões de habitantes vivem na região, cerca de 60% em cidades. A região está
vivendo uma rápida expansão da agricultura de monocultura e da pecuária tecnificada, bem
como das megaobras de infra-estrutura viária e energética, em conseqüência do crescimento
econômico regional e da globalização e expansão dos mercados internacionais.
ACHIM STEINER FRANCISCO J. RUIZ M.
Os países que compartilham essa rica e frágil região vêm dedicando seus esforços para con- Subsecretário-Geral das Nações Unidas e Secretário-Geral da Organização do
servar e desenvolver de forma sustentável a Amazônia, mas ainda têm de alcançar uma visão Diretor Executivo do Programa das Nações Tratado de Cooperação Amazônica a.i.
ambiental amazônica conjunta. Unidas para o Meio Ambiente
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INTRODUcaO:
Ainda é limitado o conhecimento a respeito o conceito de desenvolvimento sustentável
A Amazônia é um ecossistema de grande do funcionamento do complexo ecossiste- foi definido, e 7 anos desde a Cúpula Mun-
ma amazônico, que vai além das fronteiras dial sobre Desenvolvimento Sustentável,
valor por sua riqueza natural e cultural. entre os países que o integram. Apesar da onde se adotou o Plano de Implementação
existência de vários estudos sobre a região, de Johanesburgo da Agenda 21. Dentre as
Trata-se de um território ocupado por po- Amazônia sem mitos (Banco Interamericano iniciativas dessa natureza, os “Objetivos de
de Desenvolvimento; Programa das Nações Desenvolvimento do Milênio” podem ser
pulações de diversas origens, desde tem- Unidas para o Desenvolvimento; Secretaria destacados como a somatória dos esforços
Pro Tempore do Tratado de Cooperação para alcançar o desenvolvimento sustentá-
pos imemoriais. Além disso, é reconhecida Amazônica, 1992) foi o que expôs com vel e justo.
mais clareza os prejulgamentos ou mitos a
mundialmente por fornecer uma varieda- respeito da Amazônia. Esse trabalho foi uma Apesar disso, as evidências indicam que a
importante contribuição para promover uma Amazônia, um dos ecossistemas mais valio-
de de serviços ecossistêmicos não apenas visão regional da Amazônia. Dentre os diver- sos do planeta, está se deteriorando a um
sos mitos tratados pelo estudo, destacam- ritmo acelerado, sobretudo devido ao fun-
à população local, mas a todo o mundo. se: (i) a homogeneidade da Amazônia; (ii) cionamento não-sustentável das atividades
o vazio ou a virgindade amazônica; (iii) a ri- e pela predominância do critério de lucrativi-
queza e, ao mesmo tempo, a pobreza ama- dade no curto prazo, desconsiderando-se as
zônica; (iv) a Amazônia “pulmão da Terra”; externalidades das decisões econômicas. As
A Amazônia está vivendo um processo de (v) o indígena “freio ao desenvolvimento”; diferenças constituem um desafio impor-
(v) a Amazônia como solução ou panacéia tante ao gerenciamento dos problemas
degradação ambiental que se evidencia no para os problemas nacionais; e, por último, ambientais amazônicos, tanto no âmbito
(vi) a internacionalização da Amazônia. nacional como regional, mas, em vez de nos
aumento do desmatamento, na perda da fazerem recuar ou de nos dividirem, devem
O GEO Amazônia busca apresentar uma ser aproveitadas como uma oportunidade
biodiversidade, na contaminação da água, visão da Amazônia do ponto de vista dos para seguir fortalecendo a colaboração entre
países amazônicos com a participação dos os países amazônicos. A esse respeito, sua
na fragilização dos valores e modos de atores amazônicos e explicar, baseando-se preocupação com os problemas ambientais
em evidências científicas, que a Amazônia na Amazônia é inquestionável, traduzindo-se
vida dos povos indígenas, na deterioração é uma região heterogênea, de grandes em planos, programas e projetos. No entan-
contrastes tanto em riqueza natural e nos to, as respostas e ações ainda são limitadas
da qualidade ambiental nas áreas urba- aspectos físico-geográficos quanto nos se comparadas com a magnitude dos pro-
socioculturais, econômicos e político-institu- blemas ambientais a serem enfrentados.
nas. Essa situação é resultado de um con- cionais. As diferenças podem ser ressaltadas
inclusive em questões tão preliminares de Nessa conjuntura, o objetivo do GEO
junto de processos e forças motrizes que seu estudo como a própria denominação da Amazônia é contribuir com uma avaliação
região (o acento tônico da palavra “Amazô- ambiental integral do ecossistema amazôni-
afetam de maneira negativa seu complexo nia” recai na sílaba "ni" em alguns países) ou co à formulação de políticas e aos pro-
sua superfície. cessos de tomada de decisão, visando ao
ecossistema e os serviços proporcionados desenvolvimento sustentável na Amazônia.
Vários anos transcorreram desde os memo- Na avaliação ambiental integral, utilizou-se
por este, e que se traduzem em perdas na ráveis primeiros acontecimentos e cúpu- a proposta metodológica formulada pelo
las internacionais em que se assumiram projeto GEO (Global Environment Outlook)
qualidade de vida para a população local, compromissos a favor do desenvolvimento do Programa de Nações Unidas para o Meio
sustentável. São 22 anos desde o lançamen- Ambiente (PNUMA), que foi adaptada para
nacional e de toda a região. to do relatório Nosso futuro comum, no qual fazer uma análise ecossistêmica. Ressalte-se
>15
que o GEO Amazônia, assim como os ou- pesquisa, as características mais marcantes
tros processos GEO, caracteriza-se por uma da Amazônia e seus antecedentes históri-
abordagem participativa, multidisciplinar, cos, a modo de contextualização do objeto Os resultados do GEO Amazônia não deixam dúvida
multissetorial e multiproduto. de estudo. No segundo capítulo, abordam-
se os diversos processos ligados à situação de que o chamado feito em Amazônia sem mitos se
A proposta metodológica de avaliação ambiental, como as tendências sociode-
ambiental integral consiste em analisar mográficas e econômicas, os processos de mantém vigente. Todos concordamos que é possí-
as pressões e forças motrizes por trás da mudança no uso do solo e as mudanças
situação ambiental, explicar a situação climáticas. No terceiro são tratados o estado vel pensar em uma Amazônia que avance rumo ao
dos principais componentes ambientais, e as tendências da biodiversidade, da flo-
avaliar os impactos da degradação do meio resta, dos recursos hídricos e ecossistemas desenvolvimento sustentável e que assegure o bem-
ambiente sobre os ecossistemas e o bem- aquáticos, dos sistemas agroprodutivos e
estar humano e estudar as principais ações dos assentamentos humanos. No quarto, estar humano das gerações presentes e futuras da
e respostas empreendidas pelos diversos analisa-se o impacto gerado pela degra-
atores para reverter o processo de degra- dação ambiental na Amazônia sobre os região, mas para isso se fazem necessários compro-
dação ambiental. Finalmente, concluído o ecossistemas naturais e sobre o bem-estar
diagnóstico, consiste em apresentar as pers- humano. No quinto capítulo, são tratadas as misso, determinação e ações coordenadas.
pectivas ambientais futuras da Amazônia, principais respostas direcionadas a frear o
baseadas na análise de cenários e de temas processo de degradação ambiental e seus
emergentes. respectivos impactos. No sexto, são traça-
dos quatro cenários prováveis e se busca Por último, deve-se lembrar que um projeto desta
Em síntese, a avaliação ambiental integral explicar a situação ambiental que poderá
procura dar resposta às seguintes perguntas: ocorrer na Amazônia, levando em conside- natureza não teria sido possível sem o apoio incon-
ração as hipóteses de cada cenário; além
1. O que está acontecendo com o am- disso, são apontados os temas emergentes dicional de pessoas e instituições dos oito países-
biente amazônico e por que razão? que demandam atenção. Finalmente, no
capítulo sete, são apresentadas as princi- membros da OTCA, que contribuíram com infor-
2. Quais são os impactos sobre o pais conclusões do estudo e se expõe um
ecossistema amazônico e o bem-estar conjunto de linhas de atuação que podem mação e dados para a elaboração e revisão deste
humano dessa situação ambiental? contribuir para se reduzir a degradação da
Amazônia. documento. Merecem destaque especial os partici-
3. O que está sendo feito em termos
de reação a essa situação ambiental? O GEO Amazônia contém um valioso pantes das diversas oficinas, graças a quem, atra-
levantamento de dados e fontes de informa-
4. Quais são as perspectivas ambien- ção que se espera servir de referência no vés de sugestões, contribuições e comentários, foi
tais futuras da Amazônia? processo contínuo de avaliação e monito-
ramento. Nesse sentido, buscou-se apoiar possível ter uma melhor compreensão regional dos
5. Que propostas de ação viabiliza- e aprofundar as instâncias de diálogo e de
riam um futuro desenvolvimento intercâmbio de informação, a fim de, dessa problemas ambientais da Amazônia. Finalmente,
sustentável? maneira, constituir-se em uma plataforma
para a coordenação e sistematização da expressamos nosso sincero reconhecimento a co-
Nessa avaliação, foram consultadas fontes informação disponível.
de informação importantes e atualizadas. operação germano-holandesa que, através do Pro-
É preciso destacar que nesse estudo se
trabalhou principalmente com a informação grama Regional Amazônia OTCA/DGIS/BMZ-GTZ,
disponível nas instituições oficiais dos res-
pectivos países amazônicos. Nesse sentido, cobriu os custos da presente publicação, assim
o GEO Amazônia está promovendo o mo-
nitoramento de indicadores ambientais nas como as também às pessoas e instituições que ge-
respectivas áreas amazônicas dos países,
com a finalidade de avaliar as mudanças nerosamente contribuíram com material fotográfi-
num futuro próximo.
co, que permitiu comunicar com mais objetividade
Este relatório está dividido em sete capí-
tulos. O primeiro apresenta o âmbito da os resultados do estudo.
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MENSAGENS-
CHAVE
❱❱❱ AMAZÔNIA, REGIÃO As mudanças ocorridas no uso do solo Ao longo da história, a mudança nas formas de produção que
DE GRANDES RIQUEZAS E amazônico decorrentes do crescimento afetam os ecossistemas e a qualidade
MUITOS CONTRASTES. de atividades econômicas, da construção
Amazônia foi o centro de de vida da população. Por outro lado, as
Desde as ocupações de infra-estrutura e do estabelecimento atração da população ex- políticas públicas também geram incen-
pré-colombianas e, mais
de assentamentos humanos têm gerado
uma acelerada transformação do ecos-
pulsa de áreas com limi- tivos para o desenvolvimento de ativi-
dades produtivas, que nem sempre são
recentemente, pelos co- sistema amazônico. Até 2005, o desma- tada atividade produtiva e criteriosas com a sustentabilidade.
lonizadores europeus, a
tamento acumulado na Amazônia era de
857.666km2, o que significa que ao longo
poucas possibilidades de ❱❱❱ AS MUDANÇAS CLIMÁTICAS
Amazônia é uma área de do tempo, a cobertura vegetal da região foi emprego, ou, ainda, alvo SÃO UMA AMEAÇA PARA A
reduzida em aproximadamente 17%. Isso da colonização promovida AMAZÔNIA.
diversidades culturais, equivale a dois terços do território peruano
A região amazônica tem
sociais e biológicas. ou a 94% da superfície da Venezuela. pelas políticas públicas.
sido afetada pelo aumen-
A Amazônia abriga uma grande variedade Na primeira década do século XXI, a
de espécies da flora e da fauna e é tam-
A perda de biodiversida- maioria dos países amazônicos registrou
to da temperatura mé-
bém uma importante área de endemismos, de se evidencia no maior nessa região taxas de crescimento po- dia e pela modificação
que fazem da região uma reserva genética
de importância mundial para o desenvol-
número de espécies pulacional acima do respectivo patamar
nacional. Em quatro dos oito países ama-
do regime das chuvas.
vimento da humanidade. Por exemplo, ameaçadas. zônicos, mais da metade da população Tais mudanças alteram
numa área de apenas dez hectares da flo-
resta equatoriana de Yasuni, foram encon- Embora não se tenha informação preci-
amazônica é urbana, sendo afetada por
problemas ambientais, como o volume
o equilíbrio dos ecos-
tradas 107 espécies de anfíbios, concentra- sa, diversos estudos apontam para um cada vez maior de resíduos sólidos, a de- sistemas e aumentam a
ção que faz desta a região mais biodiversa
do planeta em relação a esse grupo e um
processo de erosão genética alarmante.
Apesar das mudanças ambientais, ainda
terioração da qualidade do ar e a conta-
minação dos corpos d'água.
vulnerabilidade tanto do
hotspot de biodiversidade. Se, por um lado, existem espaços sem intervenção ou que ambiente natural como
a Amazônia é conhecida pela abundância apresentam escassos sinais de interven- Em contrapartida, os recursos naturais das populações humanas,
em recursos naturais, como minérios, pe- ção na Amazônia, o que deveria ser um amazônicos atraíram importantes inves-
tróleo e gás natural, por outro, seus habi- estímulo para que todos os países se mo- timentos para megaprojectos de minera- particularmente das mais
tantes vêm enfrentando altos índices de bilizem conjuntamente em prol do desen- ção, de exploração de hidrocarbonetos e pobres.
pobreza, acima da média nacional. volvimento sustentável da região. de geração de energia hidrelétrica, bem
como para os setores agrícola e pecuá- A Amazônia também contribui para a geração
❱❱❱ A AMAZÔNIA ESTÁ MUDAN- ❱❱❱A DEGRADAÇÃO rio – em resposta às tendências do mer- de gases de efeito estufa por meio do desma-
DO A UM RITMO ACELERADO, AMBIENTAL DA AMAZÔNIA cado mundial de alimentos e de energia. tamento e da queima da floresta. As mudan-
E AS MODIFICAÇÕES NO ECOS- É RESULTADO DE FATORES Isso deu lugar a um desenvolvimento ças climáticas poderiam transformar 60% da
SISTEMA SÃO PROFUNDAS. INTERNOS E EXTERNOS. atípico da infra-estrutura viária e a uma região em savana ainda neste século.
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❱❱❱ A DEGRADAÇÃO DOS SER- hídricos da região poderia ser suficiente DE CIVIL, DEMONSTRARAM cada país. Portanto, é fundamental que
VIÇOS ECOSSISTÊMICOS AMA- para influenciar algumas das grandes cor- GRANDE DINAMISMO NOS as ações conjuntas dos oito países da
ZÔNICOS AFETA O BEM-ESTAR rentes oceânicas, que são importantes re- ÚLTIMOS ANOS AO EMPRE- região sejam fortalecidas para capitalizar
HUMANO, MAS É POUCO CO- guladoras do sistema climático global. A ENDER INICIATIVAS PARA as oportunidades de cooperação e in-
NHECIDA, INCLUSIVE QUAN- valoração econômica possibilita a adoção TRATAR DOS PROBLEMAS tegração amazônica. Assim, as políticas
TO A PERDAS ECONÔMICAS. de comportamentos estratégicos quanto AMBIENTAIS AMAZÔNICOS. públicas direcionadas à região têm de ser
ao aproveitamento do ecossistema ama- formuladas de modo coordenado, atri-
A riqueza da Amazônia zônico, por meio da determinação dos
No contexto de um pro- buindo ou reconhecendo novos papéis
não se baseia apenas na valores associados ao uso e ao não-uso cesso de integração, para os atores regionais e locais em todas
dos recursos. Em vista disso, promover as iniciativas de desenvolvimento susten-
oferta de bens tangíveis, estudos e ações de valoração econômi-
articulação e descentra- tável regional. Nesse sentido, os países
sustenta-se também no ca dos serviços ambientais amazônicos é lização, foram implemen- amazônicos deveriam buscar potenciali-
funcionamento dos seus uma prioridade regional.
tados vários instrumen- zar a atuação da Organização do Tratado
de Cooperação Amazônica (OTCA) como
vários ecossistemas na- ❱❱❱ A AMAZÔNIA COMEÇOU A tos nacionais que visam organismo intergovernamental.
turais e sistemas socio- SE ARTICULAR COM O SISTEMA à gestão planejada da
E A ECONOMIA DOS PAÍSES. ❱❱❱ O PAPEL DAS POLÍTICAS
culturais, que oferecem Nos países amazônicos Amazônia. De um modo PÚBLICAS RELATIVAS AO
uma gama de serviços subsistiu a visão da re- geral, os países contam APROVEITAMENTO DOS RE-
CURSOS NATURAIS, O FUN-
ecossistêmicos. gião como espaço peri- com planos de desen- CIONAMENTO DO MERCADO
SUMARIO
EXECUTIVO
PARA OS TOMADORES DE DECISÕES
Capítulo 1 sentamentos humanos, etc. O GEO Amazônia utilizou gás. Não se pode afirmar, porém, que essas regiões ram nos últimos anos a expansão de um modelo de
AMAZÔNIA: TERRITÓRIO, informação geoespacial (referente aos três critérios tenham um nível de desenvolvimento elevado, já que produção que não leva em consideração critérios de
SOCIEDADE E ECONOMIA AO LONGO citados) para delimitar a Amazônia, gerando, assim, na maior parte dos casos os lucros não são reinvesti- aproveitamento sustentável e que acaba sendo muito
DO TEMPO um mapa composto da região: a "Amazônia maior" dos na região. mais danoso ao ambiente pelo fato de trazer con-
(8.187.965 km²) e a “Amazônia menor” (5.147.970 sigo recursos tecnológicos sofisticados. Ademais, a
A Amazônia é uma região da América do Sul km²). infra-estrutura viária e o desenvolvimento energético
caracterizada por riquezas e contrastes na- Capítulo 2 acompanham o crescimento do setor produtivo sem
turais e culturais. Dividida em florestas de terras A Amazônia é habitada desde tempos ime- DINÂMICAS NA AMAZÔNIA levar em consideração a perda de bens e serviços
baixas, ou planície amazônica, florestas de terras altas moriais. A questão da ocupação originária da re- ecossistêmicos. Paralelamente, a crescente demanda
e florestas alto-montanas, ("ceja de selva" ou "yun- gião apresenta lacunas e ainda hoje gera controvérsia, A dinâmica sociodemográfica está trans- por espécies da flora e da fauna selvagens estimula
gas"), drenada pelo rio Amazonas – o mais extenso sobretudo no que diz respeito à densidade e à forma formando rapidamente a Amazônia em uma o comércio ilegal de espécies, que é um importante
do mundo em comprimento e bacia hidrográfica – e como teria se dado esse processo. As ocupações região de maior densidade populacional e fator de erosão da biodiversidade.
seus mais de mil afluentes, a Amazônia abriga uma pré-colombianas na Amazônia foram formadas pelos de crescimento acelerado.
grande variedade de espécies da flora e da fauna, que povos Arawac, que se expandiram até as Antilhas, A população da Amazônia, que na década de 70 era Os processos socioeconômicos promove-
fazem dela uma importante área de endemismo. Por pelos Tupi-Guarani, da região do Chaco, e pela família de pouco mais de 5 milhões, atingiu 33,5 milhões de ram uma mudança acelerada no uso do solo
outro lado, a Amazônia também é sinônimo de diver- etnolingüística de origem Caribe, que adentrou a ba- habitantes em 2007, o que equivale a 11% da popu- na Amazônia. O crescimento da população, a
sidade cultural, com 420 povos indígenas diferentes, cia amazônica por um corredor de baixa pluviosidade. lação total dos países amazônicos. Trata-se de uma expansão de atividades econômicas e o desenvolvi-
86 línguas e 650 dialetos. Na zona peruano-equatoriana, registram-se vínculos população cujo crescimento está acima da taxa média mento de infra-estrutura levaram a uma modificação
culturais e comerciais entre a costa do Pacífico, o anual dos países, fruto de um processo associado às significativa da utilização do solo na região, resultando
Não existe uma definição universal para altiplano andino e a vertente oriental dos Andes (alta migrações espontâneas e às políticas de Estado de na fragmentação de ecossistemas, no desmatamento
a área amazônica. A Amazônia é heterogênea. Amazônia) no período de 3500 a 300 a.C. A atual colonização e povoamento. Como resultado, a densi- e na perda de biodiversidade. No Peru, por exemplo,
Assim, delimitá-la constitui tarefa por demais com- configuração do território que conhecemos como dade populacional da região amazônica passou de 3,4 a agricultura migratória e a pecuária foram responsá-
plexa. Desse modo, cada um dos países-membros da Amazônia resulta, em linhas gerais, do processo de hab./km², na década de 90, para 4,2 hab./km², no veis pelo desmatamento, até 2005, de uma área de
Organização do Tratado de Cooperação Amazônica ocupação da região pelos colonizadores europeus período 2000-2007. 857.666 km². Na Amazônia brasileira, a rede rodo-
(OTCA), instrumento de cooperação regional para entre os séculos XVI e XIX. viária decuplicou em 30 anos (1975-2005), dando
assuntos amazônicos comuns aos países-membros lugar ao desenvolvimento de novos assentamentos
– Bolívia, Brasil, Colômbia, Equador, Guiana, Peru, O nível de desenvolvimento econômico A dinâmica econômico-produtiva, reagindo humanos. A produção cada vez maior de biocombus-
Suriname e Venezuela –, emprega critérios próprios varia muito na Amazônia. Existem áreas como à demanda dos mercados internacionais, tíveis dos últimos anos poderia acelerar mudanças no
na sua definição de Amazônia. Os mais comuns são: Orellana, no Equador, com um PIB per capita de gera uma pressão para o uso intensivo dos uso do solo na região.
físicos (p.ex., bacia hidrográfica), ecológicos (p.ex., US$25.628,22, e Putumayo, na Colômbia, onde esse recursos naturais na região. A produção de
cobertura florestal) e/ou de outro tipo (p.ex., político- indicador é de US$705,33. O fato de alguns locais madeira e de produtos florestais não-madeireiros A dinâmica econômica e social na Amazô-
administrativo). registrarem valores acima do PIB nacional se deve ao (particularmente a castanha-do-brasil), a explora- nia é responsável pela erosão cultural das
número relativamente pequeno de habitantes dessas ção de hidrocarbonetos e minérios, assim como a populações nativas. A população das comunida-
Além disso, é uma região heterogênea tanto em regiões e à exploração de uma grande quantidade expansão das lavouras e da pecuária para atender aos des nativas da região foi afetada pela degradação do
aspectos físicos quanto em diversidade de etnias, as- de recursos naturais, como minérios, petróleo ou mercados globalizados de commodities, estimula- meio ambiente, pela maior incidência de doenças,
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pelas carências alimentares e pela transculturação. É da bacia amazônica representa cerca de 20% A Amazônia tem cidades grandes, com mais de um dência na Amazônia. Nesse sentido, estudos indicam
ponto pacífico o fato de as dinâmicas econômica e de toda a água doce do mundo – a bacia capta milhão de habitantes, e cidades médias, que apresen- que há um aumento significativo na atividade do seu
social trazidas pela “modernidade” terem minado as entre 12.000 e 16.000 km³ de água por ano. No taram taxas de crescimento consideráveis nos últimos vetor e, portanto, na incidência da doença, quando o
instituições e práticas tradicionais, como o sistema de entanto, a disponibilidade de águas superficiais anos. Constata-se, ainda, um dinamismo na articulação desmatamento atinge 20% de uma determinada área
reciprocidade, afetando os modos de produção e a em cada um dos países da bacia amazônica de- entre os assentamentos humanos contíguos em zonas (Walsh; Molyneux; Birley, 1993; Foley et al., 2007). A
coesão social e cultural dos povos indígenas. pende, em grande medida, do tipo de uso e manejo de fronteira (p.ex., Cobija, Epitaciolândia e Brasiléia, ocorrência de doenças respiratórias também aumen-
que se faça neles. Por outro lado, a qualidade das na fronteira entre a Bolívia e o Brasil; e Caballococha, tou, neste caso devido aos incêndios florestais cada
O desenvolvimento científico e tecnológico águas superficiais da região amazônica está sendo Letícia e Tabatinga, na fronteira entre o Peru, a Colôm- vez mais freqüentes, assim como a do mal de Chagas,
na região foi limitado quanto à geração de afetada por diversas atividades antrópicas: rejeitos de bia e o Brasil). Todas elas apresentaram problemas favorecido pela substituição de vegetação primária e
alternativas para o aproveitamento sus- mineração, vazamentos de hidrocarbonetos, emprego ambientais, como maior volume de resíduos sólidos, pela expansão dos centros habitados, principalmente
tentável dos recursos naturais. Na Amazô- de agroquímicos na agricultura, despejos sólidos das perda de qualidade do ar e contaminação dos corpos daqueles com moradias precárias.
nia foram feitas importantes contribuições a fim de cidades e resíduos da transformação de culturas de d'água devido ao não-tratamento de esgoto.
aprofundar o conhecimento e o emprego de diversas uso ilícito, como a coca. A degradação ambiental está atingindo
espécies da flora e da fauna, mas o desafio está a economia local. São exemplos das perdas
em articular e difundir esses resultados. Na região Nítida expansão de sistemas agroproduti- Capítulo 4 econômicas causadas pela degradação dos serviços
também foram colocadas em prática inovações sem vos não-sustentáveis. A região apresenta siste- AS MARCAS DA DEGRADAÇÃO econômicos os seguintes: o aumento das pragas na
uma devida avaliação de seus impactos, por exemplo, mas de produção muito diferenciados em termos AMBIENTAL agricultura devido ao desaparecimento dos agentes
o uso de agroquímicos na monocultura e a incorpora- de escala, processos produtivos e articulação com naturais que as controlam, acarretando um aumento
ção de espécies da flora ou florestais. o mercado. Por um lado, viveu uma importante A degradação ambiental cada vez nos custos de produção em razão da maior demanda
expansão da agricultura de monocultura (soja) maior está alterando os serviços de agroquímicos; o desaparecimento de atividades
A Amazônia tem uma base institucional científico- e da pecuária intensiva, particularmente no Brasil ecossistêmicos amazônicos. O desma- turísticas com a perda de recursos paisagísticos e
tecnológica ampla, mas, apesar dos esforços de arti- e na Bolívia, onde avançaram sobre as áreas des- tamento compromete a capacidade de absor- da beleza cênica; e a redução na qualidade e dispo-
culação interinstitucional, predominam as iniciativas matadas, contribuindo, assim para o aquecimento ção de carbono da floresta e ainda contribui para nibilidade de água doce, cuja conseqüência é uma
independentes, pouco coordenadas entre si e restri- global e a perda de biodiversidade. No entanto, nos a liberação de carbono por meio das queimadas, demanda por mais investimentos em água e sanea-
tas em termos de difusão. A baixa disponibilidade de últimos anos também se observou o aparecimento que afetam a qualidade do ar. A fragmentação e a mento, a serem arcados pelo governo e pelas popula-
recursos financeiros e humanos na região representa de sistemas agroprodutivos sustentáveis, viáveis alteração das florestas por si sós já causam um im- ções locais. A pesca, um setor que movimenta entre
uma importante barreira para o desenvolvimento em pequena, média e grande escala, que se pacto considerável nos ecossistemas. Na Bolívia, por US$100 milhões e US$200 milhões por ano, poderá
científico e tecnológico. Em vários países da região baseiam no manejo integral dos componen- exemplo, as florestas que não sofreram perturbações ser afetada pela redução de espécies (Bayley; Petrere,
o orçamento total destinado à ciência, tecnologia tes econômico, social e ambiental. Esses têm uma quantidade de biomassa 43% maior que 1989; Petrere, 1989; Almeida et al., 2006; Barthem;
e inovação (CTI) representa menos de 1% do PIB, sistemas (agrosilvipastoril, agroflorestal e aquelas que foram afetadas por atividades econômi- Goulding, 2007).
como resultado da baixa prioridade dessa área na silvipastoril) conciliam a conservação dos cas, bem como 70% mais diversidade em espécies
agenda pública. serviços ecossistêmicos amazônicos e a de mamíferos de pequeno porte. O problema é que A degradação ambiental afetou as rela-
melhoria da qualidade de vida da população as evidências sobre os efeitos da degradação ambien- ções sociais e vem gerando cada vez mais
com a rentabilidade da atividade econômica. No tal nos serviços ecossistêmicos são ainda limitadas, o situações de conflito. O limitado alcance dos
Capítulo 3 entanto, os sistemas agroprodutivos sustentáveis têm que demanda mais pesquisa científica interdisciplinar marcos regulatórios, a falta de clareza na definição
A AMAZÔNIA HOJE tido um avanço limitado em comparação com com o propósito de melhorar a compreensão sobre dos direitos de propriedade e a escassez de recursos
os não-sustentáveis, devido aos incentivos a magnitude dos custos ambientais na Amazônia e para fazer cumprir a legislação em vigor ensejaram a
O desmatamento e a redução da biodiversi- do mercado e ao alcance limitado e pouco alertar para a urgência de uma ação conjunta a fim de invasão de terras, a ocorrência de processos de colo-
dade são responsáveis pela perda de hábi- duradouro das políticas públicas. tratar essa questão. nização não-planejados e o desenvolvimento de ati-
tats e pela fragmentação dos ecossistemas. vidades produtivas informais. Essa situação estimulou
A redução da cobertura florestal na Amazônia é uma A Amazônia viveu um processo de A degradação ambiental está afetando o emprego de meios escusos para obter acesso aos
realidade sem paralelo. No período 2000-2005 foram urbanização acelerado e não-plane- a saúde. O desaparecimento dos predadores recursos naturais, que são explorados de forma indis-
desmatados, por ano, 27.218 km², o que também jado que levou aproximadamente naturais dos agentes transmissores de doenças, criminada, sem levar em consideração os impactos
representa perdas em espécies da flora e da fauna. 62,8% de sua população a migrar a colonização/imigração, a exploração mineral, ambientais e sociais e desrespeitando os direitos de
Mas não é possível calculá-las devido a restrições de para as cidades. a construção de barragens e outras atividades que diversos grupos sociais locais. Nesse contexto, a che-
informação. A informação que existe sobre a situação Aproximadamente 21 milhões dos 33,5 alteram drasticamente as características do ecos- gada de modelos de ocupação do território indiferen-
da biodiversidade nos respectivos países se aplica ao milhões de habitantes da Amazônia sistema amazônico estão afetando a epidemiologia, tes às dinâmicas econômica, social e ambiental locais
nível local, não havendo dados estatísticos ou carto- vivem em zonas urbanas. Cinco dos a ecologia, os ciclos de vida e a distribuição de vírus. modificou o modo de vida tradicional, os costumes e
grafia geral para ilustrar essa realidade em nível de oito países que compartilham a região Na ilha de Marajó, registrou-se uma alta incidência de as crenças dos povos indígenas.
ecossistema. têm mais de 50% de sua população febre amarela em decorrência da migração, portada
amazônica assentada em áreas urbanas, para as áreas de ocorrência do vetor por pessoas Registra-se uma tendência ao aumento da
A Amazônia é da maior importância para o fato que reflete a importância do proces- não-imunes (Vasconcelos et al., 2001). vulnerabilidade diante de inundações, se-
equilíbrio hídrico global e continental, mas so de urbanização para a construção da cas e mudanças no clima. A ocupação desorde-
as ações voltadas à gestão integrada da estratégia de desenvolvimento sustentá- A malária, por outro lado, é uma das doenças nada do território com o estabelecimento de assenta-
bacia ainda são limitadas. O volume de água vel da região. transmissíveis que apresentam alta inci- mentos humanos precários em áreas sujeitas a risco,
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o uso inadequado da terra para atividades produtivas da última década, diversos instrumentos nacionais a outros tipos de ações, como se dá com as iniciativas sa na perda da cobertura florestal e na escassez de
e a falta de conhecimento sobre o funcionamento do voltados ao manejo planejado da Amazônia foram da Organização do Tratado de Cooperação Amazônica água limpa, atingiu níveis alarmantes. Por último, os
ecossistema amazônico, sobretudo por parte da popu- implementados, no âmbito de um processo de inte- (OTCA), voltadas às questões ambientais de interesse impactos das mudanças climáticas já se fazem sentir
lação imigrante, tornam mais vulneráveis as comuni- gração, articulação e descentralização nos diversos mútuo (p.ex., gestão integrada da biodiversidade ou na região.
dades amazônicas. países. De um modo geral, os países contam com de recursos hídricos).
planos de desenvolvimento sustentável, estratégias ❱❱❱ No cenário "Luz e sombra" os países amazônicos
O aumento do desmatamento nas áreas de piemonte de desenvolvimento regional, instrumentos de zone- dedicaram muita atenção à área de ciência, tecnologia
dos Andes expõe as encostas à erosão hídrica, pro- amento ecológico-econômico, bem como programas Capítulo 6 e inovação para atingir o desenvolvimento sustentá-
duzindo o arrasto significativo de solo para as partes e projetos regionais, entre outros; em muitos casos, O FUTURO DA AMAZÔNIA vel. A OTCA participa como facilitadora de diversas
baixas. Isso leva ao desbarrancamento das margens porém, a carência de recursos financeiros e a sobre- iniciativas e a integração e o intercâmbio científico
dos rios e ao alargamento da calha destes, podendo posição ou falta de clareza sobre as competências Os atores amazônicos consideram que, no período com a rede de entidades acadêmicas estão em pleno
até resultar na modificação de seu curso. Se a perda dos governos nacionais, subnacionais e locais, freia o 2006-2026, as três principais forças motrizes das desenvolvimento. Fora isso, as parcerias entre os se-
de florestas for maior que 30%, a inibição das chuvas ritmo de aplicação desses instrumentos. mudanças ambientais na Amazônia serão: o papel das tores público e privado foram fortalecidas, com o que
será ainda mais intensa, dando lugar a um círculo políticas públicas relacionadas ao aproveitamento dos se conseguiu iniciar o diálogo entre ciência, iniciativa
vicioso que favorecerá incêndios na floresta, reduzirá As ações voltadas para a gestão integrada recursos naturais; o funcionamento do mercado; e o privada e demandas locais. Em 2026, a região amazô-
a liberação de vapor d'água e elevará a emissão de da bacia amazônica ainda são limitadas. A estímulo às áreas de ciência, tecnologia e inovação nica está dando seus primeiros passos em direção ao
fumaça na atmosfera, com a conseqüente supressão Amazônia é altamente importante para o equilíbrio para o desenvolvimento sustentável da região. Cabe desenvolvimento sustentável, tentando frear o avanço
drástica da precipitação (Nepstad et al., 2007). hídrico global e continental, mas a disponibilidade destacar que a Amazônia é muito sensível a mudan- dos inevitáveis impactos adversos das atividades
contínua de águas superficiais em cada um dos paí- ças no funcionamento dos mercados. produtivas tradicionais, que ainda têm importância na
A fragmentação e a degradação tornam a floresta ses amazônicos depende em larga medida do uso e economia regional.
mais vulnerável a incêndios florestais, pois permitem manejo adequados em cada um deles, num contexto Quatro cenários foram construídos: “Amazônia
a entrada de raios solares no interior da mata, aque- em que a gestão integrada dos recursos hídricos emergente”; “À beira do precipício”; “Luz e sombra”; e ❱❱❱ O mito da “Amazônia vazia” ainda está muito
cendo-a. Nesse contexto, os resultados obtidos por amazônicos é uma meta fixada, mas que ainda não “Inferno ex-verde”. enraizado na mentalidade dos servidores públicos
Nepstad (2007) são motivo de grande preocupação. foi alcançada. A OTCA, por exemplo, desenhou um e da sociedade dos países amazônicos em geral, no
Ele prevê que, até 2030, o desmatamento na floresta programa regional de gestão de recursos hídricos, jun- ❱❱❱ No futuro da “Amazônia emergente”, a gestão cenário “Inferno ex-verde”. O processo de ocupação
úmida amazônica poderá atingir 55% de sua superfí- to com o PNUMA e o GEF, a ser executado em breve. ambiental se aperfeiçoou, tanto pelo maior compro- e desenvolvimento dessa extensa região ainda se
cie. As taxas de mortalidade (doenças infecciosas/ve- Trata-se de um desafio de grande envergadura para a metimento dos governos como pela maior conscien- dá de forma pouco coordenada entre as iniciativas
tores, problemas de saúde e danos na infra-estrutura Amazônia. tização dos cidadãos a respeito da importância dos de cada país amazônico. A OTCA avançou pouco em
de atendimento médico) aumentarão devido às ondas ecossistemas e dos recursos naturais. As atividades termos de consenso para encontrar uma resposta à
de calor, à estiagem, aos incêndios e às enchentes A informação disponível sobre a Amazônia produtivas (mineração, hidrocarbonetos, agricultura) questão da insegurança ambiental e da disparidade
decorrentes das mudanças climáticas. ainda está fragmentada. A informação dispo- estão sujeitas a um controle maior e a requisitos mais econômica entre os países-membros e em nível
nível sobre os recursos e o meio ambiente da Ama- estritos, de acordo com o conceito “poluidor paga”. nacional. O quadro de pobreza entre a população
zônia encontra-se fragmentada, apresenta diferentes A principal carência da Amazônia nesse cenário é a amazônica se agravou, e a desigualdade atingiu
Capítulo 5 níveis de tratamento e não foi harmonizada entre os disponibilidade e o acesso limitados quanto a alterna- os maiores níveis registrados. Embora o mercado
RESPOSTAS DOS ATORES À países. Nos últimos anos, trabalhou-se para entender tivas tecnológicas ecoeficientes e ao aproveitamento mundial tenha apresentado oportunidades para que
SITUAÇÃO AMAZÔNICA os processos ecossistêmicos e humanos na região, da biodiversidade que beneficia as comunidades.. a Amazônia utilizasse os serviços ambientais de
mas ainda há muito que se aprender e entender. A forma sustentável, a limitada capacidade institucional
Atores amazônicos atuantes. Os atores da informação básica, assim como o monitoramento ❱❱❱ No mundo do cenário "À beira do precipício”, do setor público e o escasso desenvolvimento nas
região amazônica têm demonstrado grande dina- permanente, são as bases de um processo decisório a Amazônia se transformou no “último celeiro do áreas de ciência, tecnologia e inovação dos países
mismo nos últimos anos. Da parte dos governos, acertado, e esse é um desafio para os países amazô- mundo”, atendendo ao mercado internacional, que amazônicos não permitiram que questões-chave
evidenciam-se alguns esforços no que diz respeito nicos em conjunto. demanda produtos em maior quantidade e a pre- para a Amazônia fossem incorporadas a sua agenda
ao gerenciamento dos problemas ambientais amazô- ços mais baixos. O desenvolvimento de atividades internacional, e agora já é tarde: os ecossistemas
nicos, embora seu progresso em termos de planeja- Existem oportunidades para a cooperação econômicas na região para atender às demandas estão degradados e fragmentados, houve uma perda
mento e gestão estratégicos com visão de longo prazo e capacidade para agir. Enfrentar os desafios globais propiciou a execução de megaprojetos de irreparável de riqueza natural e cultural.
ainda seja limitado. No que se refere à sociedade da Amazônia requer o fortalecimento da capacidade infra-estrutura, como a IIRSA e a IIRSA II, voltados à
civil, sua atuação em termos de programas e projetos dos países e de suas redes institucionais conjuntas, expansão da malha rodoviária e da rede energética, Infelizmente, os cenários ora apresentados eviden-
para atender às suas prioridades foi bem-sucedida, o no sentido de facilitar a geração e o intercâmbio de visando melhorar a integração regional, o intercâmbio ciam que o estilo de desenvolvimento pelo qual os
que estimulou uma maior participação de sua parte conhecimento, promover a pesquisa/inovação e a de produtos e a mobilização dos fatores de produção, países amazônicos e suas sociedades optaram está
no processo decisório. A cooperação internacional e transferência e difusão de tecnologias e dar projeção como mão-de-obra. No que diz respeito ao marco reduzindo tanto as opções para o desenvolvimento
os organismos internacionais tiveram um importante à Amazônia entre os países da região e do mundo. regulatório, o aspecto mais importante a se destacar sustentável da região no futuro como a esperança
papel, contribuindo com recursos financeiros e tecno- Os países amazônicos têm trabalhado pela integração são as políticas públicas, que estão cumprindo seu de um desfecho alternativo para a Amazônia. Não há
lógicos para a execução dessas atividades. e cooperação regional nas áreas de integração física papel de promover a entrada de mais investimento na dúvida de que já é tarde para conservar a integridade
(p.ex., infra-estrutura para escoar a produção e desen- região, e não o contrário. O agravamento dos conflitos do ecossistema amazônico, no entanto muitas das
Os instrumentos para a gestão ambiental volvimento de serviços) e energética, mas a coopera- internos nas proximidades das fronteiras é motivo de decisões que tomemos hoje são cruciais para se de-
amazônica apresentaram avanços. Ao longo ção regional também tem de direcionar seus esforços grande preocupação. A degradação ambiental, expres- terminar em que medida “perder ou ganhar” entre a
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degradação ambiental e o desenvolvimento socioeco- países constitui uma base para a discussão desses tunidades de discussão e ação relativas às prioridades - Desenvolver pesquisa aplicada na área de ciências
nômico seria aceitável para os cidadãos amazônicos. temas em nível regional. Além disso, cabe destacar ambientais da região sejam aproveitados adequada- sociais visando aperfeiçoar o processo de formulação
que a implementação harmonizada desses instru- mente. Desse modo, é fundamental o fortalecimento de políticas específicas para a região.
Capítulo 7 mentos constitui-se em um passo estratégico para o da Organização do Tratado de Cooperação Amazôni-
A AMAZÔNIA POSSÍVEL planejamento do desenvolvimento amazônico com ca, assim como de outros organismos regionais que - Fortalecer os sistemas de informação existentes e
uma perspectiva regional. promovem o diálogo entre as autoridades nacionais, promover a sua articulação com os setores público e
A situação ambiental da Amazônia impõe grandes regionais, estaduais e/ou locais, e entre os especia- privado.
desafios à região, que apontam para a importância de ❱❱❱ Elaborar e implementar estratégias listas nos principais temas ambientais amazônicos. É
uma ação conjunta. As linhas de ação propostas resul- regionais que viabilizem o aproveitamento preciso, ainda, promover a participação dos diferentes - Elaborar e implementar uma estratégia de difusão
tam tanto de uma avaliação ambiental integral como sustentável do ecossistema amazônico. atores da sociedade civil nos processos de tomada de que permita uma adequada divulgação das questões
de um processo de consulta entre os oito países ama- Considerando que os países da Amazônia compar- decisão e elaborar mecanismos e meios para viabili- ambientais relativas à Amazônia entre diferentes
zônicos. Constituem um esforço voltado a impulsionar tilham diversos ecossistemas, faz-se necessária a zar as ações acordadas. setores do público.
o desenvolvimento sustentável da região. elaboração de estratégias conjuntas ou estreitamente
articuladas de gestão integral dos bens e serviços - Constituir o Fórum de autoridades ambientais regio- ❱❱❱ Promover estudos e ações de valorização
As linhas de ação sugeridas são: ecossistêmicos. Nesse aspecto, é preciso concentrar nais e locais da Amazônia e avaliar a necessidade e econômica dos serviços ambientais amazô-
esforços em três linhas de trabalho: conservação da a viabilidade da reativação e do aperfeiçoamento da nicos.
❱❱❱ Construir uma visão ambiental amazôni- floresta amazônica e mudanças climáticas; gestão in- Comissão Especial de Meio Ambiente da Organização A valorização dos serviços ambientais amazônicos é
ca integrada e definir o papel da região no tegrada de recursos hídricos; e gestão sustentável da do Tratado de Cooperação Amazônica. um assunto em torno do qual a região pode somar
desenvolvimento nacional. biodiversidade e dos serviços ambientais. Por outro esforços no sentido de que se reconheça o valor dos
A construção dessa visão será possível se alicerçada lado, é importante que as estratégias definidas sejam - Elaborar e implementar mecanismos, instrumentos diversos serviços ecossistêmicos proporcionados pela
no diálogo entre os diferentes atores amazônicos, em socializadas entre todos os atores, de modo a assegu- e meios para promover e viabilizar a coordenação, a região. Com base nisso, será possível formular políti-
articulação com os diversos níveis de governo. Esse rar sua participação para a consecução dos objetivos execução, o monitoramento e a avaliação dos acordos cas e instrumentos de remuneração que incentivem
processo enriquecerá os esforços dos países amazô- previamente definidos. regionais em vigor. o aproveitamento sustentável dos serviços ecossistê-
nicos no intuito de estabelecer uma visão ambiental micos.
integrada. Para tanto, propõe-se inicialmente a criação Com o intuito de facilitar a implementação dessas As redes universitárias existentes na região podem
do Fórum de Ministros de Meio Ambiente da Região estratégias, faz-se necessário elaborar uma estraté- ❱❱❱ Fortalecer os esforços de geração e difu- ser aproveitadas para identificar temas de interesse
Amazônica, o que facilitará o desenvolvimento de gia conjunta de financiamento. Tal medida permitirá são de informação sobre meio ambiente na comum e modalidades de colaboração para o desen-
uma agenda ambiental de ação conjunta, sendo este aprimorar as capacidades técnicas nacionais, realizar região. volvimento de estudos de valorização econômica nas
o primeiro passo para a constituição de fóruns de dis- investimentos de acordo com cronogramas compa- Considerando a importância da produção científica e áreas de recursos hídricos e biodiversidade.
cussão multissetoriais que envolvam atores relevantes tíveis para todos os países amazônicos e estreitar os da geração de dados nos países da região para a ade-
ao desenvolvimento dos Estados que compartilham a vínculos com a cooperação internacional. quada gestão das questões ambientais na Amazônia, ❱❱❱ Criar um sistema de monitoramento e
região. é crucial estabelecer medidas de sistematização e de avaliação dos impactos de políticas, pro-
❱❱❱ Incorporar a gestão de riscos à agenda articulação dos diversos esforços em curso, com a fina- gramas e projetos.
❱❱❱ Harmonizar as políticas ambientais pública. lidade de criar um sistema integrado de informação e, A fim de dar prosseguimento à implementação da
quanto aos temas de relevância regional. A heterogeneidade e a complexidade da Amazônia mais especificamente, de dados ambientais. Por outro agenda ambiental amazônica, deve-se contar com um
Serão necessários mecanismos que facilitem esse em um contexto de crescente vulnerabilidade a lado, é necessário estreitar os vínculos de cooperação sistema de monitoramento baseado em indicadores
processo, de modo a compartilhar as experiências eventos climáticos exigem a elaboração de políticas e científico-tecnológica entre os países, com o propósito de desempenho para os diversos temas abordados
nacionais, as lições aprendidas e a tecnologia de- medidas que estimulem uma adaptação às mudanças de elaborar e pôr em prática uma agenda de pesquisa pela agenda. De igual forma, é necessário realizar
senvolvida, e construir e implementar uma agenda climáticas. Assim, é importante que a gestão de riscos científica, com ênfase na pesquisa aplicada. periodicamente a avaliação do cumprimento das
conjunta de trabalho ou uma estratégia regional de seja incorporada nas avaliações ambientais estratégi- metas, segundo indicadores preestabelecidos. Nesse
gestão de recursos naturais (florestas, biodiversidade cas, quando da definição das estratégias de desenvol- Ademais, deve-se elaborar uma estratégia de difusão aspecto, um observatório ambiental amazônico cons-
e recursos hídricos, entre outros), capitalizar as boas vimento amazônico. Isso permitirá evitar ou reduzir os e comunicação de questões ambientais prioritárias tituiria uma ferramenta estratégica para a formulação
práticas desenvolvidas e construir sinergias em torno custos associados à ocorrência de desastres. levando em consideração os diversos segmentos do de políticas e de instrumentos de gestão.
da gestão de assuntos ambientais prioritários. público interessado (formuladores de políticas, em-
Um elemento fundamental associado à gestão de presários, estudiosos, ONGs e público em geral).
❱❱❱ Elaborar e implementar instrumentos de riscos é o monitoramento ambiental baseado em indi-
gestão ambiental integrada. cadores previamente definidos. Esse monitoramento As principais ações sugeridas a esse respeito são:
Reconhecendo que os países avançaram no desen- propiciará que futuras fontes de risco sejam identifi-
volvimento e na implementação de instrumentos cadas, facilitando o funcionamento dos sistemas de - Criar um sistema amazônico de informação ambiental
voltados à gestão ambiental na Amazônia, é preciso alerta antecipado. tendo em conta as plataformas existentes (sistemas de
somar esforços a fim de desenhar instrumentos de georreferenciamento e de estatísticas, entre outros).
ordenamento territorial e critérios para a condução
de avaliações de impacto ambiental e de avaliações ❱❱❱ Fortalecer a base institucional ambien- - Produzir pesquisa científica e tecnológica, para atender
ambientais estratégicas. Nesse sentido, o intercâmbio tal amazônica. aos problemas ambientais prioritários da região, e pro-
de experiências sobre os progressos obtidos pelos É importante que os instrumentos criados e as opor- mover o intercâmbio de experiências e de especialistas.
>29
INDICE
Prefácio
Apresentação
10
12
Capítulo 4
As marcas da degradação
ambiental 194
1.4 Novos modelos de ocupação territorial 56 5.3 Principais ações ambientais 240
Capítulo 2 Capítulo 6
Dinâmicas na Amazônia 64 O futuro da Amazônia 252
2.3 Mudanças no uso do solo 94 6.3 Uma visão da Amazônia no futuro 258
Capítulo 3 Capítulo 7
A Amazônia hoje 106 A Amazônia possível 282
3.4 Sistemas agroprodutivos 162 Índice de tabelas, gráficos, mapas e quadros 317
ao longo
do tempo
1.1
1.2 1.4
CARACTERÍSTICAS
AUTORES:
1.3
GEOGRÁFICAS
KELERSON COSTA Ministério do Meio Ambiente – Brasil
ELSA GALARZA Centro de Pesquisa da Universidad del Pacífico (CIUP) – Peru
NOVOS MODELOS
ROSÁRIO GÓMEZ Centro de Pesquisa da Universidad del Pacífico (CIUP) – Peru
DE OCUPAÇÃO
ÂMBITO DO
HISTÓRIA E
TERRITORIAL
COAUTORES:
CULTURA
MARIO BAUDOIN Instituto de Ecologia / Universidade Mayor de San Andrés – Bolívia
ESTUDO
ZANIEL NOVOA Centro de Pesquisa em Geografia Aplicada/PUCP – Peru
RITA PISCOYA Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra) – Brasil
LUIS ALBERTO OLIVEROS Organização do Tratado de Cooperação Amazônica (OTCA)
FERNANDO RODRÍGUEZ Instituto de Investigaciones de la Amazonía Peruana (IIAP) – Perú
CARLOS ARIEL SALAZAR Instituto de Pesquisas da Amazônia Peruana (IIAP) – Peru
MURIEL SARAGOUSSI Ministério do Meio Ambiente – Brasil
KAKUKO NAGATANI Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA)
32
CAPÍTULO1
Amazônia: território, sociedade
e economia ao longo do tempo
>33
1.1|CARACTERÍSTICASgeográficas
As riquezas naturais e a diversidade social e cultural da Amazônia A Bacia Amazônica possui
fizeram dela o centro das atenções tanto entre os próprios países
amazônicos (Bolívia, Brasil, Colômbia, Equador, Guiana, Suriname, afluentes nos dois hemisférios
Peru, Venezuela)1 como em todo o mundo. Esse enorme ecossis-
tema, complexo e heterogêneo, abriga a floresta tropical e a rede
do planeta; portanto o seu
hídrica mais extensas do planeta, sendo responsável por uma grande comportamento hídrico está
variedade de serviços ecossistêmicos. O rio Amazonas, que atravessa
essa extensa e valiosa área de vida natural e cultural, transmitindo uma sujeito à alternância das estações
sensação de vastidão e majestade, é reconhecido como o mais longo,
caudaloso, largo e profundo do planeta.
seca e chuvosa dos dois
hemisférios.
As características da Amazônia foram determinadas pelos diversos
processos geológicos, geomorfológicos, climatológicos, hidrográficos e
biológicos que ocorreram na América do Sul. O ecossistema amazôni-
co é resultado desses processos, e a interação deste com a população
humana moldou os padrões ambientais presentes na região.
QUADRO 1.1
ZANIEL NOVOA
ORIGEM ANDINO DO RIO AMAZONAS
QUADRO 1.2
predominam as formações próprias de floresta tropical úmi-
A AMAZÔNIA E O RIO AMAZONAS:
da, são identificadas três sub-regiões com características
SUAS PRINCIPAIS DIMENSÕES
específicas de clima e relevo, que podem ser delimitadas
de acordo com cotas de altitude. A floresta de planície ou
1. O Amazonas é o rio mais extenso do mundo, com planície amazônica, que se estende da foz do rio até 500
6.992,06 km (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais m.s.n.m., tem clima quente e úmido e precipitação entre
[INPE], 2008). 1.500 mm/ano e 3.000 mm/ano ou mais; apresenta um
relevo quase plano, com esporádica alternância de sistemas
2. O rio Amazonas tem a bacia hidrográfica mais extensa de colinas. A floresta alta, de clima quente e úmido, porém
do planeta. Diversos estudos fazem menção à área da com uma variação de temperatura entre o dia e a noite,
bacia amazônica. Alguns indicam 7.165281 km2 (Novoa, que ocorre até 1.000 m.s.n.m e possui vales estreitos de
1997; INPE, 2008); o da Agência Nacional de Águas do grande comprimento, onde os rios formaram terraços es-
Brasil (Brasil: Ministério do Meio Ambiente – Agência calonados em vários níveis; dependendo da orientação do
Nacional de Águas, 2006), 6.100.000 km2. relevo, as precipitações anuais podem passar de 5.000 mm/
ano em alguns locais. O clima e o relevo da alta montanha
3. O Amazonas possui a maior vazão (220.000 m3 por influenciam a rede hidrográfica. Por último, a floresta alto-
segundo, em média). Escoa mais água que os rios montana, “ceja de selva”, “yungas” ou outra denominação
Missouri-Mississipi, Nilo e Yangtzê juntos. local, que pode ocorrer até acima de 3.000 m.s.n.m., com
predominância de relevo muito abrupto, cânions profundos,
4. O Amazonas tem mais de mil afluentes, três dos quais gargantas e rios de correntezas rápidas e turbulentas; seu
têm mais de 3.000 km de extensão (Madeira, Purus e clima é úmido, porém muito contrastado no que se refere à
Juruá). temperatura, o que favorece a alta nebulosidade (setores da
“floresta de neblina”).
5. As bacias tributárias mais importantes do rio Amazonas
têm origem na cordilheira dos Andes; os demais tributários Em linhas gerais, a precipitação média na Amazônia varia
provêm da meseta brasílico-guianense e de setores que muito, entre 1.000 e 3.000 mm/ano. Estima-se que 60%
divisam com a bacia do Orinoco na Colômbia. das precipitações são recicladas por evapotranspiração, en-
tretanto, em áreas muito específicas, a precipitação é baixa,
6. A Amazônia contribui com aproximadamente 20% da por vezes inferior a 300 mm/ano. A temperatura média é
água doce que flui dos continentes para os oceanos. alta na região, embora mostre grande variabilidade espacial
e temporal (diminui à maior altitude). A temperatura média
7. A floresta amazônica representa mais da metade das anual flutua entre 24 e 26 °C.
florestas tropicais úmidas do planeta.
A marcada variação de temperatura e de umidade atmos-
8. É uma região megadiversa: dois dos países amazônicos férica com a altitude, tanto entre o dia e a noite como ao longo
– Brasil e Colômbia – têm um terço das plantas vasculares do ano, explica a configuração de “andares ecológicos” que
conhecidas no mundo. O Peru detém o recorde mundial favorecem a efervescência de biodiversidade nos setores da
❱❱❱ Os últimos contrafortes da cordilheira anunciam a proximidade da grande planície amazônica. de maior número de espécies de borboletas. vertente oriental dos Andes (floresta alto-montana e floresta
GUYANA AMAZON TROPICAL BIRDS´ SOCIETY / WWF
de nevoeiro), porém não impede a existência de uma impor-
9. Expressão de diversidade cultural: 420 povos indígenas tante ligação entre as áreas altas e baixas da Amazônia. Para
“A terra recebe como planícies tropicais. Assim, representa
entre 4% e 6% da superfície total da Terra
segundo a época do ano e o local; no es-
treito de Óbidos (Brasil) a sua profundidade
diferentes, 86 línguas e 650 dialetos. Aproximadamente
60 povos vivendo em situação de isolamento.
informação mais detalhada, veja as seções sobre biodiversi-
dade e florestas, no capítulo 3.
insultos e oferece e de 25% a 40% da superfície da América se aproxima dos 300 m. Na seção sobre
suas flores como Latina e o Caribe. recursos hídricos e ecossistemas aquáticos,
no capítulo 3, tais características são apre-
Nesses andares ecológicos ocorre uma variedade de ecos-
sistemas, reconhecidos como os mais ricos do mundo, onde
resposta.” Ao longo do seu curso, as águas do Ama- sentadas com maior detalhe. vivem povos indígenas desde tempos remotos. Os povos in-
zonas arrastam um enorme volume de se- dígenas são depositários de conhecimentos tradicionais sobre
dimentos em suspensão, que lhe conferem Cabe destacar que outras bacias e micro- Fontes: Novoa (1997), Organização do Tratado de Cooperação Amazônica as características e o uso da rica diversidade biológica: “Os
um aspecto barrento. Segundo estimativas, bacias hidrográficas, apesar de não perten- (OTCA), Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA) e povos indígenas conheceram milhares de espécies vegetais
Global Environment Facility (GEF) (2006); OTCA (2007); Eduardo (2005);
106 milhões de pés cúbicos de sedimentos cerem à do rio Amazonas, têm uma estreita Brackelaire (2006). e as utilizaram com diversas finalidades. Coletaram frutos e
RABINDRANATH TAGORE são despejados diariamente no oceano. A relação com esta (p.ex.: a do rio Tocantins, sementes, utilizaram trepadeiras e cipós para construir suas
(1861-1941), FILÓSOFO massa de água que chega ao oceano Atlân- no Brasil). moradias e utensílios básicos; troncos de grandes árvores para
E ESCRITOR INDIANO. tico tem um raio de influência de mais de fabricar canoas e balsas, folhas de palmeiras para se prote-
100 km mar adentro. A profundidade média Na Amazônia, entendida neste contexto ger das inclemências do clima; bem como espécies com fins
do baixo Amazonas varia entre 10 e 30 m, como o setor da bacia amazônica em que mágico-medicinais” (Wust, 2005).
38
CAPÍTULO1
Amazônia: território, sociedade
e economia ao longo do tempo
>39
>39
SERGIO AMARAL / OTCA
MAPA 1.1a QUADRO 1.3
Contorno da Amazônia segundo o critério ecológico
A REGIÃO AMAZÔNICA PARA OS PAÍSES DA OTCA DE
ACORDO COM TRÊS CRITÉRIOS ALTERNATIVOS
países. A Amazônia menor abarca uma área de 5.147.970 Floresta secundária latifoliada fechada (>40%) permanentemente alagada, água salina ou salobre-
Pastagem ou vegetação florestal fechada a aberta (>15%) sobre solo regularemente alagado ou
km2, o equivalente a 4% da superfície da Terra e a 25% encharcado, água doce, salobre ou salina o empapado, água doce, salobre ou salina
da superfície da América Latina e o Caribe. Superfícies artificiais e áreas relacionadas (zonas urbanas >50%)
Áreas sem vegetação
Amazônia maior
Amazônia menor
MAPA 1.2b
CONTORNO DA AMAZÔNIA MENOR Fonte: Elaborado pela Faculdade de Agronomia da
Universidade de Buenos Aires e por GRID-Genebra/
PNUMA para o GEO Amazônia, com dados do GlobCover
ÁREA TOTAL ÁREA DE CONSERVAÇÃO (1) land cover data v2 2005-2006. European Space Agency,
(km²) (km²) kilômetros 2008, disponível em: <http://ionia1.esrin.esa.int>.
ÁREA %
AMAZÔNIA TABELA 1.1
8.187.965 1.713.494 20,93
MAIOR Superfície da Amazônia segundo critérios
MUNDO 134.914.000(2) 13.626.314 10,10 BOLÍVIA 1.098.581* 724.000* 567.303** (b) 724.000* 9,8 65,9
BRASIL 8.514.876* 3.869.953* 4.196.943* 5.034.740* 67,9 59,1
COLÔMBIA 1.141.748 345.293* 452.572* 477.274* 6,4 41,8
ECUADOR 283.561* 146.688**(a) 76.761** (b) 115.613* 1,6 40,8
NOTAS:
GUIANA 214.960* 12.224** (a) 214.960* 214.960* 2,9 100,0
Amazônia maior: corresponde à maior extensão da área amazônica
com base em pelo menos um dos seguintes critérios: hidrográfico,
PERU 1.285.216* 967.176* 782.786* 651.440* 8,8 50,7
ecológico ou político-administrativo. SURINAME 142.800* - 142.800* 142.800* 1,9 100,0
VENEZUELA 916.445* 53.000* 391.296** (b) 53.000* 0,7 5,8
Amazônia menor: corresponde à menor extensão da área amazônica TOTAL 13.598.187 7.413.827 100
considerando-se os três critérios simultaneamente. Notas:
(1) É preciso lembrar que o cálculo da superfície da bacia amazônica é uma questão em aberto para a pesquisa. A informação inserida no mapa foi trabalhada com base em
(1) Área de conservação, na definição de The International Union for dados SIG fornecidos pelos países ao PNUMA. Deve-se salientar, ainda, que a superfície da bacia amazônica varia entre os estudos em questão, de 7.165.281 km2 (Novoa,
Conservation of Nature (IUCN): “Área de terra e/ou mar dedicada
especialmente à proteção e manutenção da diversidade biológica,
A região amazônica representa 1997; INPE, 2008) até 6.100.000 km2 (Agência Nacional de Água do Brasil – ANA). Essa diferença se explica, no segundo caso, pela exclusão dos rios Tocantins e Araguaia,
bem como de seus afluentes, da bacia do Amazonas. A bacia do Tocantins tem uma superfície aproximada de 900.000 km2. Para mais informações, consultar <http://www.
bem como de recursos naturais e culturais, que são geridas por meio
de instrumentos legais”. Fonte: World Commission on Protected Areas
60% da superfície total dos oito ana.gov.br/hibam>.
(WCPA, s.d.)
países amazônicos membros (2) A Venezuela e a Bolívia utilizam unicamente o critério hidrográfico na definição da Amazônia, entretanto essa superfície também é reconhecida como critério político-
administrativo, conforme explicação das autoridades responsáveis pelo assunto nesses países.
(2) A superfície mundial compreende todo o planeta Terra, incluídos os
corpos d'água continentais. Fonte: The United Nations Statistics da Organização do Tratado de (3) A informação foi inserida de acordo com os critérios usados pelos países.
Division (s.d.).
Cooperação Amazônica (OTCA). * Fontes oficiais nacionais: Bolívia: Instituto Geográfico Militar. Brasil: Ministério do Meio Ambiente (2006a). Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística [IBGE] (2004b).
Colômbia: Ministério do Ambiente, Habitação e Desenvolvimento Territorial – Instituto Sinchi (2007). Equador: Instituto para o Ecodesenvolvimento Regional Amazônico
(Ecorae) (2006). Guiana: Agência de Proteção Ambiental (2007). Peru: Instituto de Pesquisa da Amazônia Peruana [IIAP] (2007). Suriname: Escritório Geral de Estatística.
Elaborado por: PNUMA/GRID – Sioux Falls e da Universidade de Buenos Aires. Venezuela: Instituto Geográfico da Venezuela Simón Bolívar (2008).
** Fontes não-oficiais nacionais que produziram informação sobre a Amazônia mediante pesquisas: (a) Freitas (2006). (b) Martini et al. (2007). Projeto Panamazonia II. INPE.
42
CAPÍTULO1
Amazônia: território, sociedade
e economia ao longo do tempo
>43
1.3| Históriaecultura
Considerada do ponto de vista continental, a história da Amazônia A outra corrente, mais recente, sustenta que a floresta
deve levar em conta pelo menos três aspectos: a diversidade geográ- tropical não teria sido apenas um receptor de tradições
fica e ecológica, que exerce influência nos processos e nas formas de culturais, mas também um centro gerador de inovações.
ocupação humana; a continuidade da presença humana na região, Baseia-se no fato de a Amazônia ser considerada um cen-
que remonta a mais de 12 mil anos atrás, apresentando rupturas e tro de domesticação de plantas, dentre as quais podemos
descontinuidades de forma e de processos de ocupação; e a diversi- citar a mandioca (Manihot esculenta) e a pupunha (Bac-
dade dos processos de colonização, iniciados pelos países europeus tris gasipaes).
no século XVI e retomados pelos novos Estados independentes que
surgiram na primeira metade do século XIX. Não obstante essa divergência, é fato que os povos
andinos e amazônicos mantiveram, por milênios, um in-
tenso relacionamento, que se dava na região de monta-
Habitantes da Amazônia Pré-Colonial nha entre 500 e 2.000 m.s.n.m., tendo como eixos de
deslocamento, de um modo geral, os rios que interliga-
A Amazônia é habitada desde tempos imemoriais. A questão da ocu- vam a região de serra com as áreas de floresta de menor
pação originária da região apresenta lacunas e ainda suscita muita altitude. Há vários registros arqueológicos relacionados à
polêmica, sobretudo no que diz respeito à densidade e à forma como presença desses povos desde o período pré-incaico, mas
teria se dado esse processo. São poucos os trabalhos de pesquisa foi somente durante o império Inca que essas relações se
sobre a sociedade amazônica pré-colombiana (Heckenberger, 2005; estreitaram. Cabe lembrar que os incas não conseguiram
Calandra; Salceda, 2004; Meggers, 1996), e se observam duas cor- submeter os povos amazônicos, como fizeram com ou-
rentes que buscam explicar a ocupação humana na região. A primeira, tros povos na região andina (Santos Granero, 1992).
a da arqueologia amazônica, desenvolvida a partir da década de 50
do século XX, por considerar que os grupos indígenas anteriores à Na zona peruano-equatoriana, a costa do Pacífico,
chegada dos europeus se organizariam como os de hoje (população o altiplano andino e a vertente oriental dos Andes (alta
QUADRO 1.5
Houve uma continuidade no emprego dos mé-
BOLÍVIA: ELOS ENTRE A AMAZÔNIA E OS ANDES
todos coloniais de ocupação do território e de ex-
ploração da força de trabalho. Em muitas regiões, a
violência praticada contra os povos indígenas foi ainda No fim do século XIX e início do XX, a região amazônica da
mais intensa do que no período colonial. O tráfico Bolívia viveu o auge da exploração da borracha. A borracha
de escravos indígenas para o Brasil – atividade ilegal gerou riqueza nas regiões em que era explorada, funda-
– praticado na região do rio Caquetá, Colômbia, re- mentalmente nos arredores de Cachuela Esperanza,
gistrou um crescimento de meados do século XIX até Riberalta e Guayaramerín. O desenvolvimento dos
1880 (Domínguez et al., 1996), e, ao longo do século departamentos de Bêni, Pando e do norte de La Paz foi
XX, as populações indígenas dessa região ainda eram muito limitado, principalmente pelas dificuldades de
submetidas à exploração de caráter semi-escravo (Hil- comunicação.
debrand; Bermúdez; Peñuela, 1997).
A criação da Corporação de Mineração da Bolívia, em
Fronteiras de expansão 1952, gerou um drástico aumento no consumo da carne
no século XIX produzida no Bêni, que era transportada por via aérea.
Esse auge foi a base do aumento do poder econômico na
governantes concentraram seus esforços em 1860 (Esvertit Cobes, 1995). Na Venezuela, o método de extração consistia simplesmente em San Andrés. Bolívia.
projetos de concessão de terras públicas para o limite natural das “regiões selvagens e ig- derrubar as árvores –, a sua exploração avançava
colonização, em campanhas de reconheci- notas do interior”, para Alexander von Hum- rumo ao leste. Durante 34 anos, o comércio da
mento e na busca de uma saída ao Atlântico boldt, em 1800, eram as grandes cataratas quina foi muito significativo para as economias na-
pelos rios amazônicos (Jordán, 2001). do Orinoco, muito mais do que as decaden- Ao longo do século cionais, sendo esta, entre 1881 e 1883, o principal
tes missões jesuítas (Humboldt, 1985). produto de exportação da Colômbia, onde come-
Na Colômbia, a ocupação colonial do
XIX, as diversas çou a ser explorado na década de 70 daquele sé-
território do Caquetá, que correspondia a No caso do Brasil, pode-se identificar sociedades nacionais culo, nas regiões do alto Caquetá e alto Putumayo.
toda a floresta amazônica do país, sofreu diferentes situações no que diz respeito à Na Bolívia, a quina foi explorada em Caupolicán e,
um grande retrocesso com a expulsão dos ocupação da Amazônia, nas duas ou três projetaram-se sobre mais tarde, em Larecaja e no alto Beni. Esse pro-
jesuítas, em 1767, e a falência das missões décadas que sucederam à independência. duto foi tão importante para a economia boliviana
franciscanas, em fins do século XVIII. Tanto Em um dos extremos encontram-se: Belém,
seus territórios que levou o governo central a tomar medidas para
que a expedição do geral Agustín Codazzi antiga capital da Amazônia, colonizada pelos amazônicos, controlar sua comercialização (Domínguez; Gómez,
àquela região, iniciada na década de 50 do portugueses; o estado do Grão-Pará; e Ma- 1990; Zárate, 2001).
século XIX no âmbito da Comissão Coro- ranhão, independente do Estado brasileiro, motivadas,
CONSERVACIÓN INTERNACIONAL
gráfica Nacional, “importou uma mudança com autoridades coloniais próprias e subor- Nas áreas que dependiam exclusivamente da
fundamental na compreensão do Oriente dinadas diretamente a Lisboa, que impôs
sobretudo, pelas extração e do comércio da quina, houve um defi-
de Nova Granada e a conscientização tanto grande resistência à ruptura dos laços colo- diversas corridas nhamento geral da economia e da sociedade, le-
dos Governos como dos próprios granadi- niais e à integração ao Império do Brasil, em vando empresas à falência e povoados inteiros ao
nos” (Domínguez et al., 1996, p. 45). 1822. Belém foi o principal centro urbano a extrativistas, como abandono. No entanto, especialmente nos casos da
partir do qual portugueses e brasileiros se alta Amazônia colombiana e da Amazônia boliviana,
as da quina e da
A situação foi semelhante no território lançaram à Amazônia e o porto por meio do restou uma infra-estrutura de serviços e de sistemas ❱❱❱ A canoa é um veículo fundamental para o transporte
do atual Equador. Segundo Jean Paul Deler qual a região se comunicava com Portugal. borracha. viários mínima, que foi aproveitada quando tais áre- familiar ou de curta distância nos rios amazônicos.
52
CAPÍTULO1
Amazônia: território, sociedade
e economia ao longo do tempo
>53
70
do Essequibo e em algumas áreas das margens do rio ANOS DUROU
Rupununi (Silva, 2005). A borracha foi explorada
APROXIMADAMENTE intensivamente durante o
Na Bolívia, as primeiras explorações de borracha nas
O BOOM COMERCIAL século XIX e contituiu na base
TABELA 1.2
Taxa de crescimento e PIB per capita das regiões amazônicas (em US$, ano 2000)
1.4|Novosmodelos
vida na Amazônia. RONDÔNIA
RORAIMA
2.314,37
1.810,99
64,12
50,17
4,66%
7,79%
TABELA 1.3
Principais atividades produtivas na Amazônia
500
gistram valores superiores aos do respectivo O Equador é um exemplo dessa situação. O Guainia e Putumayo, na Colômbia; e Morona esse crescimento foi a criação da zona franca,
país. Tal situação resulta do número relativa- PIB per capita de Orellana e Sucumbios é par- Santiago, no Equador) ainda têm recursos na- em meados da década de 60 do século XX.
mente pequeno de habitantes dessas regiões ticularmente alto porquanto nessas regiões se turais a ser explorados. A zona franca emprega diretamente em torno
e da exploração de uma grande quantidade concentram as principais jazidas de petróleo de 50.000 pessoas e indiretamente, 350.000,
INDÚSTRIAS de recursos naturais, como minérios, petró- do país, com cerca de 5 milhões de hectares Apesar das desigualdades no que tange distribuídas entre cerca de 500 indústrias, que
OPERAM NA leo ou gás (Amazonas, no Brasil, e Orellana, em regime de concessão; seus índices de po- ao desenvolvimento econômico, como se fabricam predominantemente eletrodomésti-
ZONA FRANCA no Equador), que constituem uma fonte de breza, no entanto, são mais elevados que o pôde observar na análise anterior, é possível cos, produtos de informática, equipamentos
DE MANAUS E valor agregado. Não se pode afirmar, porém, nacional: 84,2% em Sucumbios, 80,2% em apontar um aspecto comum entre os oito profissionais e componentes eletrônicos. Pro-
GERAM 400.000 que essas regiões tenham um nível de desen- Orellana e 55% no âmbito nacional. No que países: as principais atividades produtivas duzem-se também motocicletas, instrumentos
EMPREGOS DIRETOS volvimento elevado, pois na maior parte dos se refere ao saneamento público, Sucumbios desenvolvidas na Amazônia dependem da de relojoaria, produtos químicos, equipamentos
E INDIRETOS. casos os lucros não são reinvestidos na região; apresenta uma taxa de cobertura de esgoto de disponibilidade de recursos naturais. A agri- ópticos, brinquedos, etc.
60
CAPÍTULO1
Amazônia: território, sociedade
e economia ao longo do tempo
>61
Área total
Colômbia Área da Amazôn
1.141.748 km2 ia
477.274 km2 Venezuela
VENEZUELA Bacia Amazônica 916.445 km2
Equador
Equador 53.000 km2
SUPERFÍCIE DA FLORESTA AMAZÔNICA Território biodiverso
40%
GUIANA
283.561 km2
COLÔMBIA SURINAME 115.613 km2 O ecossistema amazônico é a maior área contínua de
Rio Branco Peru Colômbia Brasil Amazônia peruana
Rio Caquetá 8.514.876 km2 floresta tropical úmida do mundo, com aproximadamente 6 A Amazônia peruana detém o recorde mundial de
Do território Rio Negro
Rio Trombetas
Peru 5.034.740 km2 milhões de km2. Seu papel é essencial à diversidade e maior número de espécies de borboletas (4.000).
sul-americano é EQUADOR Rio Japura IQUITOS 1.285.216 km2
conservação da vida natural do planeta. Também se destaca pela concentração de répteis
considerado Rio Napo Rio Putumayo Turismo. Em 2007, os Bolívia Venezuela 782.786 km2
Amazônia. Peru (48%) e anfíbios (79%) com relação ao resto do
40 Rio Marañon Rio Jurua
países-membros da
Organização do Tratado
Fundada em 1757
Os solos amazônicos país.
mil 396.615
Rio Purús Rio Tapajós
Rio Ucayali de Cooperação Guiana Bolívia
1
Rio Madeira Rio Xingú habitantes (2005) 1.098.581 km2 Na floresta amazônica, os nutrientes encontram-se
Amazônica (OTCA) 724.000 km2 Amazônia brasileira Amazônia equatoriana
Espécies de plantas PERU BRASIL
lançaram a Iniciativa principalmente na biomassa.
foram identificadas na Rio Tocantins Concentra 54% das espécies de Concentra 53% do total
2009: Ano do Destino plantas, 73% das espécies de
2
bacia amazônica. As árvores têm alta capacidade de reabsorver os nacional de espécies de
Amazônia, com a mamíferos e 80% das espécies de mamíferos.
BOLÍVIA
finalidade de promover a Brasil nutrientes provenientes da decomposição de
O rio Amazonas nasce no matéria orgânica, através das raízes superficiais e aves existentes no território nacional.
desfiladeiro de Apacheta, no região amazônica como
departamento de Arequipa, destino de turismo
Suriname da abundância de fungos. Tucano
39
não-aluviais nas restingas, nos morros e nas
Diversa e antiga, formada por variados grupos humanos: povos montanhas são enriquecidos pela biomassa que
indígenas, caboclos, ribeirinhos, população urbana, entre outros. sustentam.
Constitui a base de um complexo mosaico social e econômico. milhões de pessoas Camada superficial rica em
vivem na Amazônia húmus (material orgânico
Aguaruna maior, entre eles parcialmente decomposto) e
420
(Peru) diversos organismos. Jacaré-açu Pirarucu Pacu
Yagua
(Peru) Maku
(Brasil) BIODIVERSIDADE
povos indígenas, E PRODUTOS
detentores de valores Mais de 2.000 espécies de plantas identificadas
e de conhecimentos pela utilidade, como alimentos, medicamentos
tradicionais. Macrofauna.
e outros fins. Embuás,
minhocas,
Auca kunamaris minhocuçus,
indígena
Shipibo (Peru - Brasil) centopéias,
População e
(Equador) (Peru) formigas, etc.
Número de A ilha de Marajó é a maior
Número d enas ilha fluvial do mundo (48.000 km2).
País povos indíg pulação indí
gena Tambaqui
habitantes * Inclui a po
andina .
007) 175 de origem O zooplâncton é uma fração
sil 300.000 (2 Parcela da população Mesofauna. do plâncton constituída por
Bra 005) 59 0,28% (2001) Colêmbolos,
300.000 (2
seres que se alimentam de
Peru 005) 62 amazônica em cada país 16,0% (2005)
100% (2004) opiliões, matéria orgânica.
107.231 (2 100% (2002) nematóides, etc.
Colômbia 01) 25 5,0% (2005)
48.123 (20 2,2% (2005)
Bolívia 001) 17 13,6% (2007) Venezuela
37.362 (2 9,7% (2001) Suriname
Venezuela - Peru
- A camada inferior é formada por
Guiana 006) 10 Guiana um componente mineral de O fitoplâncton representa, junto
369.810 (2 Colômbia Equador com as plantas superiores que
Equador * - Brasil
partículas muito finas. Sua coloração
vivem na Amazônia, o primeiro
12.000 Bolívia Microfauna. Fungos, vermelha se deve da acumulação
Suriname bactérias e algas. de óxidos de ferro e alumínio. elo da cadeia alimentar.
>65
AUTORES:
ROSARIO GÓMEZ Centro de Pesquisa da Universidad del Pacífico (CIUP) – Peru
ELSA GALARZA Centro de Pesquisa da Universidad del Pacífico (CIUP) – Peru
JUAN CARLOS ALONSO Instituto Amazônico de Pesquisas Científicas, Sinchi – Colômbia
DOLORS ARMENTERAS Instituto Alexander von Humboldt – Colômbia
2.1
MÓNICA MORALES Instituto Alexander von Humboldt – Colômbia
CARLOS SOUZA Instituto do Homem e Meio Ambiente da Amazônia (Imazon) – Brasil DINÂMICA
SOCIODEMOGRÁFICA
COAUTORES:
LUIS ALBERTO OLIVEROS Organização do Tratado de Cooperação Amazônica (OTCA)
MURIEL SARAGOUSSI Ministério do Meio Ambiente – Brasil
2.2
FERNANDO RODRÍGUEZ Instituto de Pesquisa da Amazônia Peruana – Peru
URIEL MURCIA
MARLÚCIA BONIFACIO
Instituto Amazônico de Pesquisas Científicas, Sinchi – Colômbia
Museu Paraense Emílio Goeldi (MPEG) – Brasil
DINÂMICA
MARCUS XIMENES PONTE Instituto de Pesquisas Ambientais da Amazônia (IPAM) – Brasil ECONÔMICA
LEONARDO DE SÁ Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE) / Museu Paraense Emílio
Goeldi (MPEG) / Ministério de Ciência e Tecnologia (MCT) – Brasil
ARNALDO CARNEIRO FILHO Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (INPA) – Brasil
2.3 MUDANÇAS NO
USO DO SOLO
AMAZONIA
66
CAPÍTULO2
Dinâmicas na Amazônia >67
TABELA 2.1
A SITUAÇÃO AMBIENTAL DA REGIÃO AMAZÔNICA É O RESULTADO DA População aproximada da Amazônia maior e da Amazônia menor (2005)
2.1|Dinâmica
Elaborado pelo PNUMA/GRID Sioux Fall a partir de GPWv3 e informação da Rede de Informação Internacional de Ciências da Terra (CEISIN) do
Instituto da Terra da Universidade de Columbia.
Comparando os mapas 2.1a e 2.1b, fica evidente não apenas o cres- Com base na informação divulgada pelos países amazônicos e
cimento da população, mas também a sua concentração no sul da nas taxas médias de crescimento anual registradas nos dois últimos ESTIMA-SE QUE CERCA DE
75%
Amazônia brasileira, no oeste da Amazônia (principalmente no Peru) períodos censitários, estima-se que em 2007 viviam na Amazônia
e ao longo do eixo do rio Amazonas (na área de Iquitos, Peru, na região 33.485.981 habitantes (cálculos do GEO Amazônia). Essa população
de fronteira entre Brasil, Colômbia e Peru e nas aglomerações urbanas representa 11% da população total dos países-membros da OTCA.
de Manaus e Belém, no Brasil). Observa-se ainda um quase vazio O Brasil concentra 76% da população amazônica total, seguido do
demográfico na planície amazônica colombiana, equatoriana e vene- Peru, com 13% (tabela 2.2). Depreende-se desses dados que o Peru DA POPULAÇÃO TOTAL
zuelana, muito embora os dois primeiros países apresentem focos de ❱❱❱ Família de colonos, habitantes freqüentes das é o país andino-amazônico que tem a maior proporção de população DA AMAZÔNIA SE
população na base dos Andes. margens dos rios amazônicos. nacional assentada na região amazônica (16%). CONCENTREM NO BRASIL.
68
CAPÍTULO2
Dinâmicas na Amazônia >69
4,53
Peru 5,57
3,21 64,8
Brasil 4,96 Venezuela 75,22
3,22 55,79
Equador 5,44 Brasil 68,22
3,77 56
Guiana 3,92 Peru 61,67
2,49 47,5
Suriname 3,45 Bolívia 51,6
1,38 35,9
Colômbia 2,01 Colômbia 49,6
0,84
Bolívia 1,11 Guiana 28,4
0,30 22,0
Venezuela 0,38 Equador 24,9
Hab/km² 0 1 2 3 4 5 6 0 10 20 30 40 50 60 70 80
Nota: Não há informação disponível para o Suriname.
Fonte: Aragón (2005). Bolívia: Instituto Nacional de Estatísticas. Brasil: IBGE. Colômbia: Instituto Sinchi. Equador: Ecorae (2006). Guiana: Agência de Proteção Ambiental (2007). Fontes: Aragón (2005). Bolívia: Instituto Nacional de Estatísticas. Brasil: IBGE. Colômbia: Instituto Sinchi. Equador: Ecorae (2006). Guiana: Agência de Proteção Ambiental (2007).
Peru: INEI-IIAP (2006). Suriname: Escritório Geral de Estatística. Venezuela: INE. Censo Geral Populacional e Domiciliar, 1981, 1990 e 2001. Peru: Instituto Nacional de Estatística (2002). Suriname: Escritório Geral de Estatística. Venezuela: INE. Censo Geral Populacional e Domiciliar, 1981, 1990 e 2001.
ram a expansão da fronteira agrícola na Amazônia bolivia- A dinâmica populacional no território de empregos Ainda nestes primeiros anos do sécu-
na, estabelecendo-se na região culturas como cana-de-
açúcar, milho, algodão, arroz e soja, no departamento de
amazônico levou ao surgimento de cidades
de diferentes tamanhos, que correspondem
e produtos de lo XXI, há locais remotos e quase intactos,
semelhantes aos que, 500 anos atrás, fo-
Santa Cruz, e coca, no Chapare (Unidade de Análise de aos núcleos produtivos e sociais em expan- exportação e ram descobertos pelos homens de Alonso
Políticas Sociais e Econômicas [Udape], 2004). são. Existem cidades de grande porte, como tornar produtivas Mercadillo, Díaz de Pineda ou Francisco de
Manaus (1.646.602 habitantes [Brasil: Insti- Orellana. Nas florestas da Bolívia, do Brasil,
De igual forma, no Equador, a exploração de petróleo, tuto Brasileiro de Geografia e Estatística – as terras da Colômbia, do Equador e do Peru ainda vi-
seguida da agropecuária, incentivou fluxos migratórios IBGE, 2007]) e Belém (1.408.847 habitan- degradadas, com vem povos que não mantêm contato com a
para a Amazônia. Na Guiana, a expansão da mineração tes [IBGE, 2007]), no Brasil; Santa Cruz de sociedade (grupos “não-contatados”). Esses
atraiu trabalhadores tanto do próprio país como de países la Sierra (1.545.648 habitantes [Instituto Na- base no manejo povos indígenas em isolamento ou não-con-
vizinhos. cional de Estatística da Bolívia - INE, 2008]), sustentável da tatados habitam lugares de difícil acesso na
na Bolívia; e Iquitos (396.615 habitantes floresta tropical, vivendo do aproveitamento
A densidade populacional da região amazônica pas- [Peru: Instituto Nacional de Estatística e In- floresta.” dos recursos desta. Os países com maior
sou de 3,4 hab./km2, na década de 90, a 4,2 hab./km2, formática - INEI, 2005]), no Peru; e cidades número de povos indígenas em situação de
CONSERVACIÓN INTERNACIONAL
no período 2000-2007. Tal incremento concentrou-se de porte médio, com menos de 100.000 isolamento são Brasil (40) e Peru (20) (Bra-
no âmbito urbano. Brasil, Colômbia e Equador registra- habitantes, através das quais as regiões pro- ckelaire, 2006).
ram os maiores crescimentos em densidade populacio- dutoras se articulam entre si, viabilizando a
nal na região, de 45% (gráfico 2.2). atividade econômica regional (p.ex., Yurima- ANTÔNIO BRACK Os povos indígenas são detentores de
guas, no Peru, e Lago Ágrio, no Equador). (EXTRAÍDO DE: BRACK, cultura e valores próprios e estão assentados
No que se refere à distribuição da população urbana A seção sobre assentamentos humanos, no A., LA BUENA TIERRA) em áreas as mais diversas. Tradicionalmen-
e rural no território, a primeira experimentou um aumen- ❱❱❱ O modo de vida dos povos indígenas baseia-se nos capítulo 3, dedica-se ao crescimento urbano te, convivem em harmonia com a natureza
to, principalmente no Brasil, na Bolívia e na Venezuela, o bens e serviços proporcionados pela natureza. na Amazônia. e possuem extenso conhecimento sobre os
72
CAPÍTULO2
Dinâmicas na Amazônia >73
PERU 300.000 (2005) 59 15 Com isso, a VIDS está buscando melhorar a compreen-
são sobre a questão tanto no Suriname como no exterior.
SURINAME 12.000 n.d. n.d. Além dessa atuação no exterior, dá apoio aos diversos
povos indígenas do país nas áreas de mapeamento e
VENEZUELA 37.362 (2001) 17 n.d.
Fontes: Aragón (2005). Brasil: Instituto Socioambiental - ISA (2007). Bolívia: INE (2003), Ecorae (2006). Guiana: Agência de Proteção Ambiental (2007). Peru: INEI-IIAP ❱❱❱ Mulher indígena descascando mandioca ou yuca,
(2006). Suriname: Escritório Geral de Estatística.
base da alimentação da população amazônica.
Os povos indígenas vários usos da flora e da fauna. Na Amazô- Há pouca informação disponível sobre a se contexto, grupos ecologistas e de defesa conflitos entre comunidades indígenas e em-
nia, existem 420 povos indígenas diferentes, área ocupada pelos povos indígenas da Ama- dos povos da floresta intensificaram as suas presas privadas são ainda comuns.
em isolamento ou 86 línguas e 650 dialetos (OTCA, 2007), nú- zônia. O Brasil registra 175 povos indígenas, ações políticas.
meros que traduzem a diversidade cultural com uma população de 300.000 habitantes Em muitos países amazônicos, a questão
não contatados amazônica. Esses povos têm uma dinâmica (1% da população brasileira amazônica) vi- A exploração dos recursos naturais da da exclusão social dos povos indígenas foi
vivem do demográfica própria, apresentando diversos vendo em 107.721.017 ha, área que repre- Amazônia em territórios indígenas por em- atendida em certas circunstâncias. O poder
níveis e perfis de fecundidade e mortalidade senta 21,52% da Amazônia Legal. No Brasil, presas madeireiras e de exploração de petró- estatal central criou e promoveu instâncias
aproveitamento dos e padrões de assentamento. Por exemplo, as terras indígenas recebem o devido reco- leo, por exemplo, sem a realização de consul- mais permeáveis voltadas aos povos indí-
transitam entre fronteiras e deslocam-se nhecimento como uma importante forma de ta às comunidades pertinentes ou sem seu genas, que facilitaram a negociação de me-
recursos da floresta, segundo padrões sociais, e não padrões proteger os direitos coletivos e a identidade consentimento, é responsável por inúmeros lhores condições ou de garantias para terem
em lugares de difícil geográficos. As mudanças socioeconômicas cultural dos povos indígenas. Além disso, casos de degradação do meio ambiente e atendidas suas necessidades. (OIT, 1996).
e ambientais ocorridas na região afetaram essas terras têm grande valor para a con- por expor ao perigo a sobrevivência desses
acesso na floresta profundamente a população indígena ama- servação da floresta, apesar de terem sido povos indígenas. A Convenção 169 da Orga- Pobreza
zônica, obrigando-a a modificar seu modo invadidas por garimpeiros, produtores agrí- nização Internacional do Trabalho (OIT) dis- O conceito de pobreza evoluiu, passando de
tropical. O Brasil e de vida e reduzindo seu número. No Peru, colas, madeireiros, pescadores e caçadores, põe sobre a participação e a consulta prévia um entendimento que se restringia ao ní-
o Peru são os dois por exemplo, em 1997 foram registrados 11 a fim de aproveitar seus recursos naturais, aos povos indígenas no que se refere ao uso vel de renda para uma visão mais integral e
grupos étnicos extintos e 18 em perigo de suscitando conflitos entre os invasores e os dos recursos naturais e ao seu direito de ter complexa, que leva em consideração fatores
países com o maior extinção. O processo de desaparecimento habitantes indígenas. Embora a população participação nos lucros e ser indenizados por culturais, geográficos e ambientais. Os povos
se dá de forma gradual, remontando à ocu- indígena tenha experimentado uma redução quaisquer danos que venham a sofrer em de- indígenas, assim como outras populações
número de povos
pação européia do território (ver capítulo 1). drástica nos últimos 25 anos, ultimamente corrência dessas atividades. No caso do Bra- tradicionais, vivem dos produtos da floresta
nessa situação. Some-se à chegada dos europeus o cresci- vem registrando uma recuperação numérica sil, país que também subscreveu essa Con- ou dos rios, fazendo uso de práticas extrati-
mento demográfico, o processo de desin- significativa (ISA, 2007). venção, os indígenas têm o usufruto exclusivo vistas (coleta de frutos, pesca ou caça). As-
tegração social e cultural de alguns grupos dos recursos naturais de seus territórios, tan- sim, seu bem-estar depende não apenas de
indígenas, a assimilação por outros grupos Por outro lado, a partir da década de 80 to para fins hídricos como energéticos ou de renda, mas também da disponibilidade e do
e a incapacidade de manter seus níveis de aumentaram as pressões nacionais e interna- mineração. Apesar de existirem normas que acesso aos recursos naturais, bem como de
população (Brack, 1997b) (tabela 2.3). cionais pela preservação da Amazônia. Nes- reconhecem esses princípios de participação, sua capacidade para manejá-los (Celentano;
74
CAPÍTULO2
Dinâmicas na Amazônia >75
35% 4.000.000
de extrema pobreza diminuiu em 6 pontos A ausência de serviços básicos entre os ci- questão importante, a percepção predominante entre os próprios
percentuais, de 23%, em 1990, para 17%, dadãos excluídos, além de limitar sua qualidade povos indígenas e, principalmente, entre seus líderes é a de que
em 2005. No entanto, o quadro da pobreza de vida, afeta o meio ambiente local, já que eles não são pobres, e sim com outro modo de vida, mais harmo-
não mudou, mantendo-se em 45%. Outro aumenta a contaminação da água e do solo e nioso com a natureza, muito embora aos olhos de um ocidental
indicador de pobreza é a proporção de resi- danifica a fauna e a flora. De um modo geral, os DA POPULAÇÃO DA AMA- DE PESSOAS NA AMAZÔNIA DOS isso possa ser sinônimo de pobreza. São essas populações as que
dências em situação de insegurança alimen- grupos excluídos são os primeiros a ser atingi- ZÔNIA BRASILEIRA EN- PAÍSES ANDINOS NÃO TÊM ACES- geralmente se encontram entre os grupos mais vulneráveis da
tar. Segundo a FAO, entende-se por “inse- dos pela degradação ambiental, por exemplo, FRENTAVAM CONDIÇÕES SO AOS SERVIÇOS DE ÁGUA POTÁ- sociedade. Sua situação de pobreza, como nos demais casos, im-
gurança alimentar” a conjuntura em que as com a proliferação de mosquitos transmissores DE INSEGURANÇA ALI- VEL E ESGOTO. plica desemprego, desnutrição, analfabetismo (entre as mulheres
pessoas carecem de alimentos; têm acesso de malária, febre amarela e dengue, que têm especialmente), riscos ambientais e acesso limitado aos serviços
limitado a estes pelo baixo nível de renda; um profundo impacto na saúde humana e na
MENTAR MODERADA OU sociais e de saneamento, inclusive ao atendimento de saúde em
preparam-nos de forma inadequada devido qualidade de vida da população. GRAVE (2004). geral (OEA, 2000).
76
CAPÍTULO2
Dinâmicas na Amazônia >77
39,5
Amazônia brasileira: saúde e meio ambiente vimento Regional Amazônico do Equador
região amazônica são limitados em relação se prolifera abundantemente em terrenos
aos de outras regiões. Por esse motivo, a com água estagnada, característica dessas [ECORAE], 2006). No estado venezuelano
população vulnerável é mais suscetível a regiões (Vittor et al., 2006). DOENÇA NÚMERO DE CASOS POR 100.000 HABITANTES de Amazonas, o volume de investimentos
doenças gastrointestinais e respiratórias, públicos em saúde é limitado e a principal
PARA CADA 1.000
causadas pela contaminação da água e do O Instituto Socioambiental do Brasil (ISA), causa de consultas médicas é a diarréia
NASCIDOS VIVOS ar, assim como aquelas que se proliferam em publicação recente sobre a situação dos
AIDS Aumentou de 1,2, em 1990, para 12,4, em 2004
(Aragón, 2005).
(2001). em diversas condições ambientais, como povos indígenas brasileiros, destacou o au-
a malária. mento do número de mortes causadas por MALÁRIA Caiu de 3,3, em 1990, para 2,0, em 2004 AIDS, malária, dengue e tuberculose são
desnutrição infantil no Mato Grosso e o rea- as principais enfermidades registradas na
No passado, os booms de produção na parecimento da malária em Roraima. A essa TUBERCULOSE Caiu de 73, em 1990, para 48, em 2004 região amazônica, apresentando diferentes
Amazônia e a imigração desencadearam epi- situação soma-se a maior incidência de casos níveis de incidência. O aumento na incidên-
demias entre a população local e, particular- de tuberculose, epidemia que atinge várias tri- cia de malária nas áreas urbanas é particu-
Fonte: Aragón (2005).
mente, os nativos, que não recebiam imu- bos indígenas (ISA, 2006b). larmente significativo (tabela 2.4).
78
CAPÍTULO2
Dinâmicas na Amazônia >79
ENRIQUE CÚNEO / EL COMERCIO
Educação
A região amazônica apresenta altas taxas de Na Guiana, o nível de escolarização nos domi- Infra-estrutura qualidade do serviço, situação esta que limita
analfabetismo, que variam segundo o país. cílios pobres está abaixo da média da popu- precária limita a o desenvolvimento de capacidades de uma
aprendizagem das
Na Bolívia e no Equador, por exemplo, o anal- lação. Menos de 15% dos chefes de famílias população altamente vulnerável, como expli-
crianças.
fabetismo atinge 12% da população amazô- pobres sequer concluíram o ensino médio. cado anteriormente (Hall; Patrinos, 2004).
nica, ao passo que na Venezuela 93% da Nas áreas rurais, a freqüência escolar é baixa.
população com mais de 10 anos não sabe A situação é ainda pior no interior do país, Assim, um desafio importante no que se re-
ler nem escrever. Na Amazônia brasileira, onde menos de 13% dos lares pobres termi- fere à educação na Amazônia é desenvolver
registrou-se uma redução de sete pontos naram o ensino médio. Além disso, 41% das programas coerentes com a realidade local,
percentuais, diminuindo de 20% para 13% famílias que vivem abaixo da linha da pobre- que propiciem uma compreensão dessa
da população acima de 15 anos entre 1990 za se dedicam à agricultura (Guiana: Agência complexa e rica região com base numa visão
e 2005. Além disso, o número de anos de de Proteção Ambiental [EPA], 2007) holística. De igual forma, deve-se monitorar a
A expansão da pecuária é
um estímulo a mudanças
no uso do solo e afeta os
serviços ecossistêmicos.
2.2|Dinâmica
econômica
Ao longo dos últimos 50 anos, a Amazônia foi ocupada por diver-
sos grupos humanos, que exploraram seus recursos naturais, como a
borracha, até aproximadamente 1945, e, num período mais recente,
A pequena
petróleo, gás e metais. A população que vive da mineração é cada vez porcentagem
mais importante na região: os garimpeiros são uma realidade que não
pode ser ignorada. A exploração florestal e de hidrocarbonetos cons- de terras usadas
titui também uma fonte importante de trabalho e de divisas; e, como
com eficiência
conseqüência dessas atividades, a infra-estrutura de comunicação na
é um aspecto
ENRIQUE CÚNEO / EL COMERCIO
CONSERVACIÓN INTERNACIONAL
Um dos A porção sudeste da Amazônia brasileira tores e pecuaristas a adentrar ainda mais as Esse tipo de produção, somado ao uso de 2007) indiquem que a economia de energia
apresenta cerca de 500.000 km2 de terras áreas de floresta à procura de novas terras. agroquímicos (fertilizantes, pesticidas e her- e a redução nas emissões de CO2 não sejam
agronegócios degradadas, das quais 15% se encontram A esse respeito é preciso lembrar que, se- bicidas), acelerou o ritmo do desmatamento NO CASO DA tão altos. Ainda não está clara qual a magni-
abandonadas (Ministério do Meio Ambiente gundo Nepstad e Campos (2006), ultima- em extensas áreas de floresta também nas COLÔMBIA, A ÁREA tude dos custos e benefícios da produção de
que mais cresceu do Brasil, 2004). As pastagens constituem mente o mercado vem exigindo um maior províncias amazônicas de Napo, Sucumbios, CULTIVADA DE biocombustíveis (Ballenilla, 2007).
e recebeu um sistema de produção inadequado às con- cumprimento da legislação e um melhor ge- Morona Santiago e Pastaza, no Equador. COCA CRESCEU
4,5
dições ecológicas da região amazônica, ten- renciamento de todas as fases da cadeia de A coca é um cultivo ancestral que se de-
investimentos do sido estabelecidas em áreas de encosta e produção de carne e grãos provenientes da Outra tendência recente que está afetan- senvolve nas regiões de floresta de altitude
de florestas de terras baixas, que vêm sendo Amazônia, o que se traduz em incentivos à do, e que poderia afetar ainda mais, os países e de nevoeiro (ver capítulo 1), e a ela se so-
nos últimos anos desmatadas em conseqüência da expansão conservação da floresta tropical. O desenvol- da Amazônia é a produção de biocombus- maram culturas como a papoula. Ambas se
é o da soja. da pecuária, da agricultura extensiva e da ex- vimento da produção agrícola extensiva nos tíveis (p.ex., biodiesel e etanol) derivados
VEZES em 19 ANOS. destinam principalmente, hoje em dia, à fa-
tração de madeira. oito países da região levou a uma elevação de produtos orgânicos, principalmente do bricação de entorpecentes. Concentrada na
nas taxas de desmatamento, que, no caso da milho e da cana-de-açúcar. A produção da Bolívia, na Colômbia e no Peru, a produção
A área do agronegócio que mais cresceu Amazônia brasileira, significou um aumento matéria-prima dos biocombustíveis exige de coca veio crescendo nos últimos anos
e recebeu investimentos nos últimos anos da superfície desmatada acumulada, de 41,5 uma agricultura intensiva, o que implica o com relação a 2003, ano em que foi regis-
é a da soja, e as tendências apontam para milhões de hectares, em 1990, para 58,7 emprego em grande escala de fertilizantes, trada a menor superfície cultivada de coca
uma maior demanda por este produto nos milhões de hectares, no ano 2000. Dessa pesticidas e maquinaria. Métodos agrícolas do período de 2000-2006. Na Colômbia, a
setores de ração para aves, suínos, peixes, área, boa parte acabou sendo convertida menos intensivos demandariam mais terras área de 15.500 hectares cultivada com coca
entre outros, assim como para alimentar a em pastagens. Contudo, há que se esclare- e custos muito elevados. Embora o Brasil seja em 1985 subiu para 85.750 em 2005. Isso
cada vez maior população mundial. No es- cer que a soja está ligada a apenas 5% da o principal produtor e exportador mundial de significa que a superfície cultivada com coca
tado de Mato Grosso, por exemplo, a soja área desmatada – a pecuária, por outro lado, açúcar e etanol, respectivamente 30 milhões no país se multiplicou por 4,5 no espaço de
ocupa mais de 5 milhões de hectares; a área responde por 75% das áreas desmatadas –, de toneladas e 17.500 milhões de litros por dezenove anos (Ministério do Meio Ambien-
total de lavouras desta espécie no Brasil é de muito embora o crescimento da sojicultura ano, a Amazônia Legal participa com menos te da Colômbia – Instituto Sinchi, 2007).
21 de milhões de hectares. A produção de seja uma ameaça em potencial. de 3% da produção nacional de cana-de-
algodão também teve um acentuado cres- açúcar, matéria-prima de ambos os produtos. Os impactos ecológicos do cultivo da
cimento nesse estado – a produtividade das De igual forma, o auge de monoculturas O principal argumento a favor da introdução coca e da produção da cocaína são os se-
lavouras passou de 1.390 kg/ha para 3.302 tais como o arroz e a cana-de-açúcar na re- dos biocombustíveis é que estes ajudariam guintes: forte erosão dos solos pelo manejo
kg/ha. Tal expansão da sojicultura na região gião de Bêni e de Santa Cruz, na Bolívia, foi a reduzir a emissão de gases de efeito es- inadequado e pelo estabelecimento de cul-
do cerrado e nas florestas estimula agricul- um importante fator de perda de floresta. tufa, muito embora estudos recentes (Russi, turas em áreas extremamente íngremes (que
84
CAPÍTULO2
Dinâmicas na Amazônia >85
GRÁFICO 2.4
Cultivo da coca nos países andino-amazônicos (hectares)
Bolívia Peru Colômbia
250.000 ha
200.000
150.000
100.000
50.000
0
1996 97 98 99 2000 01 02 03 04 05 06
deveriam funcionar como mata de proteção); invasão de No entanto, a perda da cobertura florestal decorrente do ❱❱❱ Toras de madeira apreendidas em operações de combate ao corte e comércio ilegal de produtos florestais.
ROLLY REYNA/ EL COMERCIO
áreas protegidas e destruição de ecossistemas únicos e não-cumprimento das normas levou alguns operadores
de sua biodiversidade; e grave contaminação dos cursos econômicos a definir a exploração florestal na Amazônia
de água pelo uso de grandes volumes de uma série de como uma atividade seletiva, oportunista e anárquica, “Somos a favor de queda desde 1998. Na Bolívia são pro- Ressalte-se que a maioria dos países ama-
substâncias tóxicas utilizadas na fabricação da droga, par-
ticularmente a pasta-base de cocaína. Estima-se que as
que resiste a todos os esforços no sentido de organizá-
la e adotar práticas de manejo florestal (Dourojeanni,
(de estradas), sim, duzidos aproximadamente 500.000 m3 por
ano; e, no Peru, 1,8 milhões de m3 por ano.
zônicos tem regimes de concessão florestal
ou propriedade privada regidos por normas
áreas desmatadas na Amazônia boliviana, colombiana e 1998). Nesse contexto, somente uma pequena parte do desde que exista Embora a exploração florestal desordenada de manejo florestal sustentável. Na Bolívia,
peruana para o plantio de culturas ilícitas variem entre
200 e 500 km2 em cada país, dependendo do ano avalia-
desmatamento da floresta amazônica pode ser atribuído
à exploração florestal.
uma política sem planos de manejo dificilmente leve à
extinção de espécies, é responsável pela di-
por exemplo, há dois milhões de hectares de
florestas certificadas; no Brasil, essa área che-
do e da fonte consultada (Sistema Integrado de Monitora- de preservação minuição da população e extinção comercial ga a 1,8 milhão de hectares. Observa-se, no
mento de Cultivos Ilícitos [Simci] II, 2005). Acrescente-se
a isso a contaminação decorrente do uso de herbicidas no
A pressão gerada pela exploração madeireira sobre a
floresta pode levar à extinção de espécies de grande valor
da floresta que de muitas delas. entanto, que a falta de controle e fiscalização
leva à ocorrência de práticas florestais não-
combate ao narcotráfico e nos programas de erradicação, econômico (Tabarelli; Cardoso da Silva; Gascón, 2004). incentive a Um fenômeno recente em matéria de ex- sustentáveis. Nesta área são os pequenos
tendência que, ao que tudo indica, não deverá mudar.
Nesse sentido, na Colômbia lançou mão da pulverização,
Há casos documentados de ciclos de crescimento eco-
nômico seguidos do colapso da atividade que geraram
agricultura e impeça ploração florestal na Amazônia é a chegada
de grandes investidores estrangeiros, princi-
extrativistas ilegais que geram os impactos
negativos mais sérios na floresta amazônica,
em especial com glifosato, para erradicar a coca, e isso fez desmatamento. No Brasil, durante a fase de crescimento a concentração palmente asiáticos, interessados na explora- por ser muito difícil controlar sua atuação.
com que a produção de coca se deslocasse para regiões econômico, a exploração madeireira gera receitas signi- da propriedade da ção florestal de grande escala. Esse proces-
onde antes não estava presente, aumentando, assim, o ficativas para os municípios, além de empregos diretos so, que teve início no Suriname e na Guiana, A extração ilegal de madeira, como qual-
desmatamento e a contaminação (Nações Unidas, 2007). e indiretos. No entanto, tais receitas mínguam com a terra nas mãos dos vem se expandindo rapidamente para o Brasil quer outro crime ecológico, é um problema
(gráfico 2.4). escassez de espécies de valor comercial, o que leva os latifundiários.” (Traumann, 1997) e outros países da região, que repercute nos planos econômico, so-
madeireiros a migrar para outros municípios, afetando sendo motivo de grande preocupação, já que cial e ambiental, ameaçando os esforços do
A exploração florestal novamente as economias locais (Schneider et al., 2000). nem todas as empresas oferecem garantias governo para conduzir uma boa gestão dos
não-sustentável Nesses casos, perdem-se ainda serviços ecossistêmicos quanto ao manejo (Sizer; Rice, 1995). Outro recursos naturais. Por outro lado, desesti-
(biodiversidade, ciclo hidrológico, entre outros). problema associado à atuação das madeirei- mula os países, os proprietários ou as em-
A exploração florestal, quando bem-manejada, não re- CHICO MENDES, ras de grande porte na Amazônia é a provável presas florestais que investem no manejo
presenta uma ameaça para os recursos da Amazônia. As tendências da produção florestal variam de país PRESIDENTE DO SINDICATO invasão por parte de camponeses sem terra sustentável dos recursos florestais, mas
Muitos países amazônicos contam com legislação que para país. Segundo o Imazon, em 2004 o indicador de DE TRABALHADORES que se segue à abertura de extensas áreas, que não são recompensados pelo merca-
regula o acesso aos recursos florestais, estabelecendo re- volume produzido (madeira em tora) para o Brasil foi RURAIS DE XAPURI, ACRE, com a conseqüente aceleração do desmata- do com melhores preços devido à grande
quisitos mínimos para o manejo sustentável da floresta. de 24,5 milhões de m3, apresentando uma tendência ASASSINADO EM 1988. mento na região. oferta de madeira barata, porém extraída
86
CAPÍTULO2
Dinâmicas na Amazônia >87
ENRIQUE CÚNEO / EL COMERCIO
TABELA 2.5
Exploração de petróleo na Amazônia (2006)
GUIANA - -
SURINAME 4.800.000 -
VENEZUELA - -
TOTAL 243.822.237 -
Fontes: Ministério de Minas e Energia da Colômbia <http://www.minminas.gov.co>, Ministerio de Minas e Energía do Brasil <http://www.mme.gov.br>, Ministério de
Minas e Energía do Ecuador <http://www.mEnergia.gov.ec>, Ministério de Energia e Minas do Perú <http://www.minem.gob.pe>, Ministério de Hidrocarbonetos e
Energia da Bolívia <http://www.hidrocarburos.gov.bo>.
❱❱❱ As técnicas artesanais utilizadas no garimpo são um importante fator de contaminação da água e do solo.
ilegalmente. Trata-se de uma situação alarmante nos temente. O enorme volume de recursos hídricos da Ama- A exploração Santiago e Zamora-Chinchipe. Estima-se que estuário do Amazonas e o piemonte dos An-
países amazônicos, cujas autoridades nem sempre têm zônia possibilita ainda a geração de energia hidrelétrica, 40% do território de Morona Santiago esteja des (TCA, 1995; Barthem; Goulding, 1997;
estrutura suficiente para fiscalizar e controlar a ativida- fundamental para o crescimento da economia. mineral é uma sob concessão de mineradoras, situação que Goulding; Barthem; Ferreira, 2003a).
de. De acordo com os dados para 2005 do Inrena e da dá origem a sérios conflitos com as comunida-
Comissão Multissetorial de Combate ao Corte Ilegal, Mineração importante ameaça des indígenas pelo uso e pela contaminação A mineração clandestina também está
estima-se que mais de 221.000 m 3 de madeira, ou A mineração sempre foi, e ainda é, uma ameaça impor- aos ecossistemas da água. Calcula-se que existam entre cem mil presente na fronteira entre o Brasil e a Ve-
15% da produção nacional do Peru, sejam extraídos tante para os ecossistemas aquáticos e terrestres da ba- e duzentos mil garimpeiros na Colômbia, algo nezuela. Na Amazônia venezuelana encon-
ilegalmente todos os anos, o equivalente a US$44,5 cia amazônica, especialmente no escudo guianense, nas aquáticos e próximo disso no Peru e o dobro no Brasil (Ins- tram-se tanto garimpos como operações de
milhões (Banco Mundial, 2006). montanhas andinas da Bolívia e do Peru, e na região do tituto Socioambiental [ISA], 2006). mineração de bauxita de grande escala, mas
piemonte, na Colômbia. O garimpo de ouro é mais extenso
terrestres da bacia não ocorre a exploração de hidrocarbonetos.
A exigência de certificação pelo Conselho de Manejo e destrutivo quando feito em pequena escala, já que em amazônica. A produção de ouro na Amazônia brasilei- Os níveis de contaminação por mercúrio em
Florestal (FSC, na sigla em inglês) para a comercialização de grande escala as operações industriais costumam ser ob- ra vem declinando desde o início da década grande parte do pescado consumido pela
produtos madeireiros no exterior é o principal incentivo para jeto de uma melhor regulação. Até o momento, a contami- de 90, mas se estendeu até a bacia do alto população desses lugares estão acima do li-
a erradicação da extração ilegal. No entanto, cerca de 70% nação por mercúrio nos tributários amazônicos decorrente Madre de Dios (Peru) e as terras altas da re- mite recomendado pela legislação brasileira
da madeira da Amazônia são destinados ao mercado interno do garimpo de ouro parece ter sido mínima e localizada. gião de Bêni, na Bolívia. Hoje em dia, a exis- (Goulding et al., 2003b; Barthem, 2004). Na
(Rodríguez, 1995), com a exceção do Peru, onde nos últimos No entanto, em alguns rios com alto teor de acidez e pouca tência de milhares de garimpeiros de ouro na fronteira entre a Colômbia e o Brasil, existem
anos mudanças no regime de uso das florestas exploradas sig- carga de sedimentos, a atividade pode gerar problemas bacia alta do Madre de Dios gera uma série problemas com a mineração de ouro, e no
nificaram um aumento no volume e no valor das exportações, mais sérios ao aumentar a sedimentação, alterando o leito de problemas ambientais em decorrência da Equador a contaminação se dá por arsênico.
que passaram de US$45,3 milhões, em 1997, para US$169 natural desses rios (Franco; Valdés, 2005; Usaid, 2005). contaminação da água por mercúrio, do des-
milhões, em 2005 (Banco Mundial, 2006). vio do rio por meios artesanais e da lavagem Na Guiana, somente os diamantes são
Na bacia amazônica, o ouro se origina nos escudos guia- com metais pesados. No entanto, há tam- produzidos por empresas de mineração de
Mineração e energia: nense e brasileiro, sendo extraído de depósitos aluviais lo- bém a possibilidade de que a concentração grande porte de capital estrangeiro; o ouro e
novas fontes, mais produção calizados nos grandes rios e desfiladeiros. No caso do Brasil, de mercúrio na bacia do Madre de Dios seja a bauxita são explorados por pequenas e mé-
entre 1960 e 1990 as principais regiões produtoras de ouro mais elevada que em outras regiões ao les- dias empresas. O investimento externo na mi-
Ouro, bauxita, zinco, carvão, manganês, ferro e um grande foram o norte do estado de Mato Grosso, às margens do rio te da bacia amazônica por causa do intenso neração é muito dinâmico. O mercado é for-
número de outros minérios e recursos energéticos encon- Tapajós, o garimpo de Serra Pelada, no Pará, e o estado de processo de erosão nos Andes. No que se mado por empresas canadenses, australianas
tram-se amplamente distribuídos na bacia amazônica. A Amapá, onde essa atividade era realizada tanto por empre- refere à pesca, conforme foi mencionado no e brasileiras. Em menor escala, os garimpeiros
Amazônia também possui grandes reservas de petróleo sas de grande porte como por garimpeiros. No Equador, a capítulo 3, a mineração afeta particularmente do Brasil também exercem uma forte pressão
e gás natural, muitas das quais foram descobertas recen- mineração de ouro e cobre ocorre nas províncias de Morona os grandes bagres que se deslocam entre o sobre a Amazônia guianense.
88
CAPÍTULO2
Dinâmicas na Amazônia >89
San José del Guavia Pavimentada assegura aos atingidos e interessados participação na toma-
San Vicente del Cag
Florencia
Não pavimentada Embora exista petróleo em toda a bacia, boa parte dos de- da de decisões. O potencial energético de origem hídrica
Puerto Asis
Nueva Loja
Macap
pósitos passíveis de exploração encontra-se no oeste da da Amazônia brasileira é de 112.039 MW, o que representa
Castanhal
Francisco de Orellana
Puyo
Ananindeua
Aabaetetuba
Braganta
Amazônia, e os maiores campos de petróleo e gás estão 43% do potencial hidrelétrico nacional, mas somente 10%
Belém
Macas
El Estrecho
Manaus Parintins
Santarém
Paragominas
Sao Luis
localizados perto dos Andes, na Colômbia, no Equador, no são aproveitados.
Iquitos Itacoatira
Zamora
Caballococha Tefé
Manacapuru
Altamira
Tucuruí Peru e na Bolívia. A exploração comercial de petróleo na
Leticia Itaituba Caxias
Yurimaguas
Marab Imperatriz
Timon
Amazônia brasileira praticamente limita-se à região do rio No que se refere aos aspectos socioambientais relaciona-
Tarapoto
Parauapebas
Urucu, um tributário do Coari, de onde é bombeado para dos à construção de barragens, o Brasil conta com uma
Tocache
Pucallpa Ji-Paran
Araguaína
as margens do rio Tefé – do rio Urucu extrai-se também legislação avançada, uma sociedade civil organizada e um
Tingo María Santa Rosa do Purus
Porto Velho
gás natural. As maiores refinarias de petróleo da Amazônia ministério público preocupado em minimizar as conseqü-
Ariquemes
situam-se nas proximidades da confluência dos rios Ama- ências negativas advindas da execução dessas obras. Além
Rio Branco
Tangar da Serra
San Borja
Trinidad
Ascension de Guaray
Vrzea Grande
C. ceres
Cuiabá Primavera do Leste Peru, Colômbia e Equador têm oleodutos que se esten- trica do Brasil e que a Amazônia seja o principal fornecedor.
Barra do Garças
Yapacani Montero
San Ignacio San Matias Rondónopolis
dem dos campos de petróleo até as refinarias localizadas nos Uma iniciativa brasileira de destaque no campo energético
Andes e na costa do Pacífico, como o Terminal Yanácu, por é o uso dos biocombustíveis produzidos com cana-de-açú-
Santa Cruz
Puerto Suarez
exemplo, sobre o rio Marañón. Situado ao norte da reserva car. O Brasil produz 32 bilhões de litros de álcool por ano,
Pacaya-Samíria, dele parte o oleoduto do norte do Peru, que metade de toda a produção mundial.
transporta óleo cru do rio Amazonas através dos Andes. Só
Fonte: produção original do GEO Amazônia, com a colaboração técnica de UNEP/GRID - Sioux Falls e da Universidade de Buenos Aires, com dados de Bolívia:
Conservation International e INE; Brasil: IBGE; Colômbia: CIAT e DANE; Equador: INEC; Guiana: EPA; Peru: INEI; Suriname existe um poço de petróleo em Pacaya-Samíria, e o governo
detém os direitos de exploração em duas áreas dentro da re- Elaboração: Marcos Ximenes Ponte. Instituto de Pesquisa Ambiental da
Amazônia [IPAM].
serva. Na Guiana, a única informação disponível revela que,
na bacia do rio Takatu, vêm sendo desenvolvidos programas
de exploração de petróleo (TCA, 1995; Goulding; Barthem;
Ferreira, 2003a). Como se pode observar na tabela 2.5, o situados em áreas protegidas ou de amortecimento
Equador é o país que tem a maior produção de petróleo na estão sendo licitados para exploração de petróleo
região amazônica (74,9% da produção total). As províncias (Peru: Defensoria do Povo, 2007). Essa situação
de Sucumbios, Napo, Orellana e Pastaza registram os maio- reflete a grande pressão da indústria do petróleo
res níveis de atividade petrolífera, mas também apresentam sobre o ecossistema amazônico.
uma grande diversidade humana e natural. Infelizmente, os
impactos ambientais do setor de petróleo não foram devi- Embora algumas dessas áreas de exploração
damente controlados e os vazamentos de petróleo e outros de petróleo tenham sido descartadas no passa-
tipos de contaminação constituem uma ameaça para a flo- do devido ao difícil acesso, neste momento os
resta e seus habitantes. altos preços do petróleo e do gás justificam a
retomada dos trabalhos de exploração. Manter
As reservas de petróleo e gás natural estão localizadas um equilíbrio adequado entre a exploração de
em algumas das áreas mais sensíveis em termos ecológicos. hidrocarbonetos e a conservação de ecossiste-
ENRIQUE CÚNEO / EL COMERCIO
Um exemplo claro dessa situação é a sobreposição de lotes mas críticos só é viável se forem estabelecidas
destinados à exploração de petróleo e áreas naturais protegi- exigências e condições ambientais rigorosas e
das (ANP). No Peru, por exemplo, encontram-se operações específicas, incluindo o fortalecimento dos mar-
de exploração nas seguintes áreas naturais protegidas: Reser- cos regulatórios nacionais e a garantia de parti-
va Nacional Pacaya-Samíria, Reserva Comunal Machiguenga cipação nos lucros e de compensações para as
e Zona Reservada Pucacuro. Além disso, outros onze lotes áreas afetadas e as populações locais.
90
CAPÍTULO2
Dinâmicas na Amazônia >91
TABELA 2.6
já concedeu as licenças para a construção das
Principais hidrelétricas da bacia amazônica
usinas de Santo Antônio e Jirau. Os estudos de
impacto ambiental das duas usinas do comple-
xo localizadas a jusante, em território brasileiro,
PAÍS USINA HIDRELÉTRICA ÁREA DO RESERVATÓRIO (km²) POTÊNCIA INSTALADA (MW) identificaram impactos de grandes proporções,
que afetariam os peixes, a fauna, a flora, a po-
SERRA DA MESA 1.784 1.275
pulação, os sedimentos e a propagação de do-
CANA BRAVA 139 465
enças tropicais.
SÃO SALVADOR 104 243
PEIXE ANGICAL 294 452
Os impactos diretos das barragens sobre
IPUEIRAS 934 480
LAJEADO 626 902 a população são a malária e a esquistos-
TUPIRANTIS 370 620 somose, que já ocorrem na região. Dada a
BRASIL ESTREITO 590 1.087 experiência adquirida com a construção de
SERRA QUEBRADA 386 1.328 outras grandes barragens na região amazô-
nica, como a de Tucuruí, é preciso levar em
MARABÁ 1.115 2.160
consideração a expansão do hábitat dos veto-
TUCURUÍ I 4.200*
TUCURUÍ 2.430 res (mosquitos e moluscos) dessas doenças
TUCURUÍ II 8.370
QUADRO 2.3
A maior extensão de rodovias pavimentadas da região
encontra-se nos estados do Maranhão, Pará e Tocantins, jus- BRASIL: PLANO SUSTENTÁVEL DA RODOVIA BR-163
tamente onde estão os grandes eixos viários que avançam
pela Amazônia. Em 1975, a Amazônia brasileira tinha 29.400 O Plano de Desenvolvimento Sustentável Regional da área de influ-
km de rodovias, dos quais 5.200 km eram pavimentados. ência da rodovia BR-163 para o trecho Santarém-Cuiabá foi elaborado
Em 2004, a extensão da malha rodoviária da região passou com o intuito de garantir o desenvolvimento sustentável e evitar os
para 268.900 km, dos quais 246.600 km não-pavimenta- impactos negativos dos processos que historicamente acompanharam
dos, ou seja, em pouco menos de trinta anos cresceu dez o asfaltamento de rodovias na Amazônia. O Plano foi preparado com
vezes (Ximenes, 2006). Dadas as tendências atuais, é previ- base na experiência adquirida com o Programa Piloto para a Proteção
sível que o aumento no número de rodovias venha a ocorrer de Florestas Tropicais do Brasil – PPG7 e em conformidade com os
nas regiões em que há uma carência destas, como nos es- princípios do Plano Amazônia Sustentável. Essa rodovia atende uma
tados do Amazonas e Acre, significando possivelmente uma das áreas de maior potencial econômico e diversidade social e biológi-
maior pressão sobre os ecossistemas e os recursos naturais ca da Amazônia. Ali vivem comunidades tradicionais, populações urba-
amazônicos nos próximos anos. nas e rurais e mais de trinta povos indígenas, totalizando de 2 milhões
de pessoas numa área que representa 24% da Amazônia brasileira.
As estradas informais merecem uma análise especial
pelo importante papel que tiveram na ocupação da Amazô- Um grupo de 21 ministérios e órgãos federais definirá suas ações com
nia. Existem milhares de quilômetros de estradas informais, base nas prioridades estabelecidas pelos governos estaduais e munici-
construídas em terras públicas, particularmente em áreas pais e pela sociedade civil.
de floresta, sem nenhum planejamento e sem as devidas Considerando que o Plano de Desenvolvimento Sustentável Regional
autorizações exigidas por lei. Um estudo feito pelo Imazon e o governo buscam fortalecer as políticas de gestão participativa, fo-
no estado do Pará, na área com a maior concentração de ram realizadas quinze consultas para tratar da criação de áreas protegi-
rodovias ilegais abertas para ter acesso aos recursos naturais, das, da viabilização de oportunidades econômicas de base sustentável
revelou que a extensão das estradas quadruplicou em um e da consolidação de políticas de monitoramento e controle ambiental
período de dez anos, passando de 5.042 km, em 1990, com o objetivo de reduzir a degradação dos recursos naturais.
para 20.769 km, em 2001. A maioria encontra-se em terras
públicas, reservas e áreas indígenas. Assim que as ações forem implementadas, muitas empresas e órgãos
governamentais terão de intensificar a fiscalização da agricultura e do
Assim, os novos projetos têm de contemplar ações sociais transporte de produtos madeireiros ilegais. O Ministério do Meio Am-
e ambientais com o objetivo de reduzir seu impacto. A Inicia- biente, em parceria com a Fundação Nacional do Índio (Funai), vem
tiva de Integração da Infra-estrutura Regional Sul-Americana trabalhando no combate ao desmatamento no Parque Xingu e nas
(IIRSA) objetiva promover o desenvolvimento da infraestrutu- terras indígenas Kaiabi, Baú e Menkrangnoti. A região será beneficiada
ra sob uma perspectiva regional, buscando a integração física com a criação de 10,6 milhões de hectares de unidades de conser-
dos países da América do Sul. É um ambicioso programa vação. Outras unidades de conservação serão criadas pelos governos
multinacional financiado BID, pela CAF e em parte pelo Brasil, dos estados do Amazonas e Pará, com o apoio do governo federal.
que envolve pela primeira vez os doze países do continente.
Entre suas metas está a construção de rodovias (em torno O Plano prevê ainda investimentos em infra-estrutura viária e em
de 300), pontes, hidrelétricas, gasodutos e outras obras de redes de energia elétrica. O governo investiu também no zoneamento
infra-estrutura. Segundo Killeen (2007), embora não exis- econômico-ecológico de toda a área de influência da BR-163. Além
tam previsões quanto ao impacto total dos investimentos da disso, serão desenvolvidos instrumentos para viabilizar o ordenamento
IIRSA, sabe-se que estes irão desencadear uma combinação territorial e a gestão ambiental da área. O Instituto Nacional de Coloni-
de forças que gerará uma perfeita tempestade de destruição zação e Reforma Agrária (Incra), a Polícia Rodoviária Federal e o Insti-
ambiental e social na Amazônia, além de colocar em perigo tuto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis
a sobrevivência de comunidades indígenas que tentam se (Ibama) serão fortalecidos na região. Órgãos como a Polícia Federal e o
adaptar a um mundo globalizado. A IIRSA poderá intensificar Exército também integram o plano de operações conjuntas com a mis-
ENRIQUE CÚNEO / EL COMERCIO
os fatores que põem em risco a sobrevivência da Amazônia, são de desarticular quadrilhas de invasores de terras públicas e com-
entre os quais as mudanças climáticas e a derrubada das bater a ilegalidade e o crime na região. Serão desenvolvidas ações para
florestas para fins agrícolas (Killeen, 2007). a promoção da cidadania por meio de programas de assistência social
às famílias mais pobres, erradicação do trabalho infantil e combate ao
As rodovias são instrumentais para o desenvolvimento, e a trabalho escravo. O Programa Nacional de Educação e Reforma Agrária
sua necessidade é indiscutível. A questão é o planejamento do (Pronera) também ampliará suas redes de atendimento na região.
território. A história da Amazônia está repleta de desastres eco-
A CONSTRUÇÃO DE
lógicos e sociais e, em muitos casos, econômicos associados
ESTRADAS NA AMAZÔNIA
às rodovias, como a Marginal da Selva, no Peru, e a BR-364, no Elaboração: Muriel Saragoussi, Ministério do Meio Ambiente (Brasil).
AVANÇA SEM PARAR. Brasil, entre outras tantas dezenas (Dourojeanni,1998).
94
CAPÍTULO2
Dinâmicas na Amazônia >95
GRÁFICO 2.5
Amazônia: número de artigos publicados (por ano)
850
800
750
700
650
600
550
500
450
400
350
300
250
200
150
100
50
0
1956 57 58 59 60 61 62 63 64 65 66 67 68 69 70 71 72 73 74 75 76 77 78 79 80 81 82 83 84 85 86 87 88 89 90 91 92 93 94 95 96 97 98 99 00 01 02 03 04 05
FÁBRICA DE IDEAS
Fonte: CLAES (2008).
Elaboração para PNUMA.
❱❱❱ O número de pesquisas e publicações científicas sobre a Amazônia é cada vez maior.
einovação
a devida avaliação de seus impactos, entre
eles o emprego de agroquímicos na mono-
tecnológica é a importantes pesquisas na região, estas esbar-
ram na limitada divulgação, articulação e aplica-
cultura e a incorporação de espécies da flora chave para um ção. A Organização do Tratado de Cooperação
A riqueza natural e cultural da Amazônia faz com que a região seja Por tratar-se a Amazônia de um importante centro de
ou florestais. O desenvolvimento científico e
tecnológico também está associado ao regis-
desenvolvimento Amazônica (OTCA) realiza simpósios, seminá-
rios e oficinas regionais e internacionais com
muito atraente como espaço para a promoção do desenvolvimento megabiodiversidade, os estudos sobre variados aspectos tro de patentes, por meio das quais se pro- inovador na a finalidade de socializar e capitalizar os traba-
científico e tecnológico. De fato, os cientistas de outras regiões do
mundo costumam ver a Amazônia como um laboratório aberto e de
da biodiversidade amazônica são muito numerosos. Mais
da metade dos artigos científicos registrados no banco
tege a propriedade intelectual da inovação,
resguardando-se, assim, o retorno do investi-
Amazônia.” lhos de pesquisa, bem como de promover a
coordenação e o intercâmbio interinstitucional
fácil acesso. Nesse aspecto, o desenvolvimento científico e tecnológi- de dados GEO Tracking tratam da Amazônia, abordando mento privado. para o desenvolvimento científico e tecnológi-
co se constitui numa força motriz que pode alterar a disponibilidade assuntos como ecologia, ciência ambiental, geociência e co regional. Em 2006, por exemplo, a OTCA e
e qualidade dos recursos naturais, bem como a qualidade ambiental meteorologia. No entanto, há uma demanda cada vez A Amazônia deu importantes contribui- o Conselho Nacional de Ciência e Tecnologia
na região, além de, obviamente, contribuir para o seu progresso eco- maior pelo aprofundamento da caracterização e avaliação ções para melhorar o conhecimento e o uso (Concytec) organizaram o Primeiro Simpósio
nômico. nutricional de espécies priorizadas, crescimento e desen- de diferentes espécies da flora e da fauna: ANTONIO BRACK Científico Amazônico, em Iquitos, Peru. Os
volvimento vegetativo, caracterização do desenvolvimen- nela foram descobertas novas formas de (EXTRAÍDO DE: BRACK, seguintes temas foram considerados prioritá-
Um indicador sobre o interesse científico pela Amazônia é o nú- to reprodutivo, tecnologia para o aproveitamento integral vida e desenvolvidos métodos alternativos A., LA BUENA TIERRA) rios para a região: gestão da água, criação de
mero de artigos publicados nos periódicos científicos especializados. e desenvolvimento de estratégias de comercialização e que permitem aumentar a produtividade do peixes de água doce para consumo humano
Desde 1956, observa-se um crescimento gradual no número de ar- marketing, entre outros (Mantilla, 2006). solo, ao mesmo tempo em que se preservam (aqüicultura), biotecnologias aplicadas ao cul-
tigos publicados e, da década de 90 em diante, esse número tem os serviços ecossistêmicos, etc. Contudo, o tivo de plantas de interesse comercial, manejo
experimentado um aumento significativo (gráfico 2.5). A Amazônia não é alheia ao desenvolvimento cientí- desafio reside em articular e difundir esses das florestas e conservação da biodiversidade
fico e tecnológico internacionais, que experimentou um resultados. (Concytec, 2006). Nesse sentido, a OTCA está
Mais de 95% dos artigos sobre a Amazônia publicados nas revis- aumento considerável em razão das crescentes deman- formulando uma Estratégia de Ciência e Tecno-
tas científicas arbitradas contidas no banco de dados Web of Science das dos setores agroprodutivo, alimentar, cosmético e A institucionalidade científico-tecnológica logia para a Conservação e o Aproveitamento
foram escritos em inglês, o que mostra o interesse da comunidade farmacêutico. Esse desenvolvimento está voltado princi- da Amazônia é ampla. Os países da região con- Sustentável da Biodiversidade Amazônica.
acadêmica internacional pela Amazônia. É curioso notar que o número palmente para a elevação da produtividade das lavouras tam com institutos de pesquisa especializados
de artigos publicados em português é mais que o dobro dos publica- e a redução dos custos de manejo, entre outros aspectos. na Amazônia, que desenvolvem redes de cola- A baixa disponibilidade de recursos fi-
dos em espanhol (análise do GEO Tracking). Nesse sentido, foram desenvolvidas sementes e mudas boração e intercâmbio (ver quadro 2.4). nanceiros e humanos, contudo, representa
98
CAPÍTULO2
Dinâmicas na Amazônia >99
QUADRO 2.4
uma importante barreira para o desenvol-
vimento científico e tecnológico. Como se INSTITUIÇÕES DE PESQUISA CIENTÍFICA E TECNOLÓGICA
não bastasse a baixa prioridade da ciência, SEDIADAS NA AMAZÔNIA
tecnologia e inovação na agenda pública,
em vários países da região o orçamento Os países amazônicos compreenderam que, para valorizar
total destinado à área representa menos os recursos naturais, conservar a biodiversidade e admi-
de 1% do PIB. Não foram encontradas nistrar adequadamente os ecossistemas desse território,
informações específicas sobre a dotação é preciso contar com instituições de ciência e tecnologia
orçamentária para o desenvolvimento de especializadas na Amazônia. Atualmente existem três que
ciência e tecnologia na Amazônia. se destacam na Amazônia, caracterizadas principalmente
por ter certo grau de autonomia e sua sede principal em
Contrastando com esse cenário, cabe cidades amazônicas. Por ordem de antiguidade, são elas:
destacar os avanços científicos, tecnológicos
e de inovação capitaneados pelo Brasil na O Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia
região. Nessa área, a Ministério de Ciência (INPA), criado em 1952 e inaugurado em 1954, na cidade
e Tecnologia, em coordenação com outros de Manaus, Brasil, tem como objetivo pesquisar o meio
ministérios, criou um Programa de Pesquisa físico, as condições de vida e o bem-estar humano na
para o Desenvolvimento Científico e Tecno- Amazônia Legal do Brasil. É uma unidade de pesquisa que
lógico da Amazônia. goza de relativa autonomia e depende do Ministério de
Ciência e Tecnologia.
Além disso, o desenvolvimento da ro- por meio de consultas a indígenas, a proba- de alimentos, fármacos e cosméticos. A constante pro-
bótica aplicada a diferentes campos trouxe bilidade de sucesso aumenta para uma de cura por medicamentos novos e mais eficientes para
95%
vantagens como a identificação oportuna de cada cinco mil. Dessa forma, de acordo com combater o câncer, o diabetes, as infecções microbia- O Instituto de Pesquisas da Amazônia Peruana (IIAP),
problemas ambientais e a redução dos cus- tais evidências, os conhecimentos tradicio- nas, os problemas cardíacos, as dores e as inflamações organismo criado pelo artigo 120 da Constituição peruana
tos sociais. A cidade de Manaus, no Brasil, nais permitem reduzir o tempo necessário levou a um incremento nas pesquisas sobre produtos de 1979, é uma instituição técnica e autônoma respon-
é um importante pólo de desenvolvimento para o desenvolvimento de novos produtos, naturais vegetais. sável pelo inventário, pela pesquisa, pela avaliação e pelo
dessa área. ao mesmo tempo em que aumentam a pro-
DOS ARTIGOS controle dos recursos naturais da Amazônia peruana. É
babilidade de que estes produtos venham a SOBRE A AMAZÔNIA Assim, o desenvolvimento científico e tecnológico considerado pessoa jurídica de direito público interno e
As áreas de ciência e tecnologia baseiam- ser desenvolvidos de fato (Chadwick, 1990 PUBLICADOS na Amazônia pode optar entre dois caminhos a seguir: tem autonomia econômica e administrativa. Sediado na
se cada vez mais nos bens oferecidos pela citado por Belmont; Zevallos, 2004). NAS REVISTAS o da conservação dos serviços ecossistêmicos, da valo- cidade de Iquitos, está ligado ao poder executivo por meio
natureza e nos conhecimentos tradicionais CIENTÍFICAS rização dos conhecimentos tradicionais e da geração de do Ministério da Produção.
para desenvolver novos produtos alimentí- As universidades também são atores im- benefícios econômicos no médio e longo prazo; e o que
ARBITRADAS FORAM
cios, farmacêuticos e cosméticos. No entan- portantes no desenvolvimento da ciência e é alheio à conservação dos serviços ecossistêmicos e O Instituto Amazônico de Pesquisas Científicas (Sin-
to, as comunidades locais nem sempre par- tecnologia na Amazônia. Um dos temas que ESCRITOS EM visa apenas aos ganhos econômicos no curto prazo. chi), criado pela Lei 99 de 1993 como entidade científica
ticipam de forma equitativa na distribuição vêm sendo cada vez mais pesquisados é o INGLÊS. vinculada ao Ministério do Meio Ambiente, possui auto-
dos benefícios derivados do aproveitamento grande número de espécies vegetais com Desenvolver o conhecimento científico sobre a nomia administrativa, personalidade jurídica e patrimônio
da biodiversidade e dos conhecimentos tra- propriedades medicinais. Essa linha de pes- Amazônia de modo a contribuir para melhorar as con- próprio. Sediado na cidade de Letícia, tem por objetivo a
dicionais. Segundo cálculos de M. J. Balik, quisa tem contado com o valioso apoio de dições de vida da população num contexto de desen- realização e divulgação de estudos e pesquisas científicos
a identificação etnobotânica realizada por grupos indígenas, que oferecem os seus co- volvimento sustentável é um desafio que há de ser de alto nível relacionados com a realidade biológica, social
membros das comunidades indígenas pode nhecimentos sobre as propriedades curativas encarado. Para promover a pesquisa básica e aplicada e ecológica da Amazônia colombiana.
ser de quatro a cinco vezes mais eficaz na das diversas espécies da flora. e o intercâmbio dos conhecimentos existentes, é pre-
detecção de compostos ativos para o de- ciso que exista maior cooperação. Entre as linhas de
senvolvimento de produtos farmacêuticos. Os últimos quinze anos viveram o res- pesquisa que necessitam ser desenvolvidas, destacam- Elaboração: Fernando Rodríguez Achung, IIAP.
Através de amostragem aleatória, identifi- surgimento do interesse por produtos natu- se: bioprospecção, cadeias produtivas (pesca e agroin-
cou-se um espécime com potencial comer- rais e suas possíveis aplicações no controle dústria), manejo florestal, recursos hídricos, saúde e
cial para cada dez mil espécies amostradas; de pragas agrícolas, bem como nos setores tecnologia de alimentos e modelagem ambiental.
100
CAPÍTULO2
Dinâmicas na Amazônia >101
GRÁFICO 2.6
Níveis da seca na região amazônica
30
MENOS DE nivel de agua (m)
1%
25
20
15
DA MASSA ANUAL
DO RIO AMAZONAS 10
PROVÉM DO DEGELO
5
NOS ANDES. Rio Negro em Manaus-anos secos
S O N D E F M A M J J A
HLT
2004-05
1925-26
1963-64
1982-83
1997-98
❱❱❱ As inundações atingem cada vez mais a Amazônia: a perda de cobertura florestal expõe o solo e
favorece o avanço da erosão e do assoreamento.
DANIEL BELTRA / GREENPEACE
118
HLT
116 2004-05
CLIMÁTICASE freqüência dos eventos climáticos extremos. É possível mento global, a situação se inverte se levar- 110
constatar a ocorrência de alterações no clima de todo mos em consideração a emissão de gases 108
EVENTOSNATURAIS o nordeste da América do Sul, incluindo a região ama- decorrente de mudanças no uso do solo (o 106
zônica, no último século, seguindo essa tendência. No capítulo 4 detalha os possíveis impactos do 104
Às diversas forças motrizes que incidem sobre a Amazônia já apre- século XX, o recorde de temperatura média mensal foi desmatamento no clima da região amazôni- Rio Amazonas-Iquitos (nível de água)
102
sentadas neste capítulo, soma-se a pressão exercida pelas mu- superado em 0,5 a 0,8 °C (Pabón, 1995; Pabón et al., ca e do mundo em geral). Fonte: Marengo et al. (2007). S O N D E F M A M J J A
danças no clima mundial. A Amazônia tem um forte vínculo com a 1999; Quintana-Gómez, 1999), e na região amazônica
GRÁFICO 2.7
configuração e modificação do clima. Em primeiro lugar, a floresta registrou-se uma tendência de aquecimento de +0,63 A tendência para o aumento da seca e
Precipitações na região amazônica
age como um gigantesco consumidor de calor, absorvendo a me- °C em um período de 100 anos (Vitória et al., 1998). Di- do calor poderia ser reforçada pela morte da
Índice de precipitação fluvial no norte da Amazônia
tade da energia solar que chega até ela por meio da evaporação versos estudos confirmam o aumento das temperaturas, floresta úmida na Amazônia oriental, em con-
da água pela folhagem. Os efeitos da energia captada pela floresta todavia em diferentes magnitudes. seqüência da substituição da floresta por ve-
amazônica estendem-se pelo mundo por meio de ligações deno- getação de savana e do semi-árido. Segundo
minadas “teleconexões climáticas”, muitas das quais ainda se está Nobre e Oyama (2003), essa situação pode-
começando a compreender. Em segundo lugar, trata-se de uma rá levar à transformação de 60% do território
reserva ampla e relativamente delicada de carbono, que pode ser da Amazônia em savana ainda neste século.
liberado na atmosfera por meio do desmatamento, da seca e do O gráfico 2.6 ilustra as tendências do volume
fogo, contribuindo para o aumento de gases de efeito estufa. Em e nível de água dos rios Negro e Amazonas
terceiro lugar, a água que escoa das florestas amazônicas para o A seca e o calor possivelmente nos anos secos em comparação com a mé- 1930 1940 1950 1960 1970 1980 1990
oceano Atlântico constitui entre 15 e 20% da descarga total mun- dia, pondo em evidência seu impacto em
dial de água doce fluvial, volume talvez suficiente para influenciar se tornariam mais intensos com termos de diminuição do volume de água, e,
Índice de precipitação fluvial no sul da Amazônia
3
algumas das grandes correntes oceânicas, que são importantes portanto, na intensidade da seca.
reguladoras do sistema climático. (Nepstad, 2007).
a morte da floresta úmida na 2
1
Amazônia oriental e sua substituição As tendências de precipitação na Amazô-
0
A mudança do clima constitui uma ameaça para a Amazônia, nia não estão totalmente claras. Como se de-
com implicações de escala global. O Painel Intergovernamental so- por vegetação do tipo cerrado e preende do gráfico 2.7, a variação no nível de
-1
-2
bre Mudanças Climáticas (Intergovernmental Panel on Climate Chan- chuva ao longo de várias décadas apresentou
semi-árido, processo que poderia -3
ge, ou IPCC na sigla inglesa) salientou no seu último relatório que tendências opostas nas regiões norte e sul 1930 1940 1950 1960 1970 1980 1990
as mudanças climáticas já estão ocorrendo e são irreversíveis no atingir 60% do seu território. da bacia amazônica (Marengo; Bhatt; Cun- Fonte: Marengo (2004) TAC.
102
CAPÍTULO2
Dinâmicas na Amazônia >103
QUADRO 2.5
ningham, 2000). O período de 1950-1976 foi chuvoso
no norte da Amazônia, ficando mais seco a partir de 1977 AMAZÔNIA: REGULADORA DO CLIMA
(IPCC, 2001), o que sugere uma variabilidade climática,
mas não um padrão definido de chuvas. A Amazônia exerce uma grande influência no transporte
de calor e de vapor d´água para as regiões localizadas em
Por outro lado, as mudanças climáticas influenciam di- latitudes mais altas. Tem ainda um papel muito importante
retamente o derretimento das geleiras dos Andes. Mas, se- no seqüestro de carbono atmosférico, com o que contri-
gundo Carlos Nobre, mesmo que as geleiras desapareçam bui para a redução do aquecimento global.
totalmente devido ao aquecimento global, seu efeito na va-
zão do rio Amazonas será muito pequeno e possivelmen-
te imperceptível na foz. Algumas constatações do projeto Com o desmatamento, a floresta deixará de atuar como
Páramo Andino (Páramo Andino Project, 2007) corrobo- reguladora do clima. O aumento da temperatura e a
ram essa afirmação: especialistas andinos calcularam que diminuição do nível das precipitações nos meses secos
o degelo representa aproximadamente 7 bilhões de m3/ poderão significar a savanização da Amazônia. Segundo
ano, o que representaria menos de 1% da massa anual do Marengo et al. (2007), os mapas de futuros cenários
rio Amazonas, isso sem levar em consideração que parte climáticos gerados pelos diferentes modelos do IPCC
do degelo escoa para os rios da vertente do Pacífico. Os apontam para um aquecimento sistemático em diferentes
pequenos rios dos Andes serão, portanto, muito afetados, regiões da América do Sul, inclusive na Amazônia, muito
gerando impactos ecológicos na região e afetando o abas- embora diferentes modelos com concentrações de gases
tecimento de água e o aproveitamento hidrelétrico. de efeito estufa iguais indiquem projeções climáticas re-
gionais discrepantes, especialmente com relação à chuva.
Um dos eventos climáticos cujas freqüência e intensida-
de aumentarão será o El Niño Oscilação Sul (ENOS), o qual
é, por sua vez, uma força motriz que explica a variabilidade
climática na América Latina (IPCC, 2007). O ENOS está as- ESSAS AMEAÇAS IMPÕEM GRANDES
sociado a estiagens no nordeste brasileiro, no altiplano pe- DESAFIOS. PARA SUPERÁ-LOS,
ruano e boliviano e na costa pacífica da América Central, DEPENDEMOS DA CRIATIVIDADE E DA ❱❱❱ A alteração do ciclo de chuvas na Amazônia já está ocasionando secas intensas, que
bem como anomalias nas precipitações no sul do Brasil e INICIATIVA DO MEIO CIENTÍFICO E, NO têm um forte impacto na ictiofauna e nas características dos solos.
no noroeste do Peru (Horel; Cornejo-Garrido, 1986). Foi o QUE SE REFERE À TOMADA DE DECISÕES, DANIEL BELTRA / GREENPEACE
que aconteceu nos anos 1997-1998, quando a seca foi res- DA ESFERA POLÍTICA.
ponsável por incêndios devastadores no estado de Roraima, Os rios amazônicos cia negativamente muitos sistemas hídricos ra todos os anos, contribuindo assim para o
e, no ano de 2005, quando um El Niño moderado reduziu amazônicos; (iii) mudanças na composição aquecimento global. Os incêndios são parti-
as chuvas ao longo do rio Negro, um importante tributário Marengo et al. (2007) também indicam que as áreas mais têm um papel de nutrientes dos rios devido a alterações na cularmente prejudiciais por fragmentarem os
do rio Amazonas. Cabe dizer que, de acordo com estudo sensíveis da floresta estariam localizadas entre o Tocan- produtividade da floresta, as quais atingem hábitats e gerarem impactos mais extremos
recente de Marengo et al. (2008), a seca que assolou o tins e a Guiana, atravessando a região de Santarém, que
importante no ciclo os organismos aquáticos; e (iv) níveis mais (Nepstad, 2007; Laurance; Williamson, 2001;
Brasil em 2005 foi causada pelo aquecimento das águas do apresenta padrões de precipitação mais parecidos com os e balanço hídricos elevados de sedimentação e assoreamento Cochrane; Laurance, 2002).
oceano Atlântico, e não pelo El Niño. No entanto, é consenso do Cerrado. Essa Amazônia seca teria uma vegetação do dos leitos dos rios que nascem na base da
no meio científico que o evento El Niño será mais freqüente tipo savana e apresentaria taxas mais elevadas de evapo- da região. Mudanças cordilheira dos Andes. Estudo divulgado em fevereiro de 2008
e intenso por causa do aquecimento global. transpiração, fazendo com que seus solos tendessem a ser por uma equipe composta de cientistas de
mais secos durante os meses de estiagem. A região ficaria
nesse regime Os rios da Amazônia exercem um impor- várias nacionalidades, da Universidade de
Todas essas mudanças ameaçam os ecossistemas muito mais vulnerável aos incêndios florestais, o principal afetam o hábitat e tante papel no ciclo e no balanço hídrico da re- Oxford, do Instituto Potsdam, entre outros,
terrestre e aquático da Amazônia. Esse último será parti- agente de conversão da floresta em savana. gião. As mudanças nesse regime (quantidade, concluiu que a floresta amazônica é a segun-
cularmente atingido pelo aumento da temperatura, que o comportamento qualidade e temporalidade) afetam o hábitat e da região mais vulnerável do planeta, depois
resulta em maior evaporação da água superficial e maior Essas ameaças representam um grande desafio. Enfrentá- o comportamento de muitas plantas e espécies do Ártico. Assim, em razão do desmatamento
transpiração das plantas, produzindo, assim, um ciclo hi- las demandará muita criatividade e iniciativa do meio
de muitas plantas de animais; algumas delas já estão apresentan- acelerado que vem causando a savanização
drológico mais intenso. Caso de fato ocorra uma redução científico, bem como da esfera política, no que se refere à e espécies de do sinais de adaptação às mudanças. gradual do seu território, a Amazônia, além de
no nível de precipitação durante a estação da seca, os tomada de decisões, exigindo grandes articulações multi- ser gravemente afetada pelas mudanças cli-
impactos no regime hidrológico da Amazônia serão mais institucionais e interdisciplinares para encontrar soluções animais. Outro efeito das secas ocorridas na Ama- máticas globais, poderá fechar um círculo vi-
intensos (Nijssen et al. , 2001). tecnicamente inovadoras e comprovadamente sustentáveis. zônia em razão das mudanças climáticas foi cioso no comportamento do clima em escala
o aumento na freqüência, e possivelmente global. As sociedades amazônicas reconhe-
As mudanças climáticas ameaçam os ecossistemas na intensidade, dos incêndios florestais (ver cem que as alterações climáticas terão como
aquáticos amazônicos de várias formas, por exemplo: Elaboração: Leonardo de Sá (INPE/MPEG/MCT). mais detalhes na seção 3.2). O desmatamen- conseqüências uma piora dos problemas de
(i) aquecimento da temperatura das águas, o que afe- to e os incêndios florestais são responsáveis saúde da população e a elevação os níveis de
ta algumas espécies de peixes e animais; (ii) redução pelo lançamento de centenas de milhões pobreza da região. Assim, é imperioso que as
da precipitação durante os meses secos, o que influen- de toneladas de gás carbônico na atmosfe- providências pertinentes sejam tomadas.
104
CAPÍTULO2
Dinâmicas na Amazônia >105
ECOSSISTEMAS AQUÁTICOS
RECURSOS HÍDRICOS E
AGROPRODUTIVOS
BIODIVERSIDADE
FLORESTAS
ASSENTAMENTOS
SISTEMAS
HUMANOS
3.2 3.3
3.1 3.4
3.5
A
En esta sección se identifican los factores
AMAZONIA
que afectan la situación ambiental en la región.
HOJE
108
CAPÍTULO3
A Amazônia hoje >109
AUTORAS:
DOLORS ARMENTERAS - Instituto Alexander Von Humboldt – Colômbia
MÓNICA MORALES - Instituto Alexander Von Humboldt – Colômbia
CO-AUTORES:
MARLÚCIA BONIFÁCIO - Museu Paraense Emílio Goeldi (MPEG) – Brasil
MARIA LUÍSA DEL RIO - Ministério do Meio Ambiente – Peru
CAMILO CADENA - Instituto Alexander Von Humboldt – Colômbia
ELSA GALARZA - Centro de Pesquisa da Universidad del Pacífico (CIUP) – Peru
ROSÁRIO GÓMEZ - Centro de Pesquisa da Universidad del Pacífico (CIUP) – Peru
BIODIVERSIDADE AMAZÔNICA
CONSERVACIÓN INTERNACIONAL
região um processo de degradação da biodiversidade compreendida
não só como um conjunto de ecossistemas e espécies, mas também
como diversidade genética e cultural.
Fontes: Castaño (1993); Rueda-Almonacid, Lynch e Amezquita (2004); Mojica et al. (2002); Ecociência, Ministério do Ambiente (2005); Ibisch e Mérida (2004); Funda-
ção Amigos da Natureza (FAN, s.d). Brasil: Sociedade Brasileira de Herpetologia. Disponível em: <http://www.SBherpetología.org.br> (para o total do Brasil), Ávila-Pires,
Hoogmoed e Vitt (2007). Peru: Sistema de Informações sobre a Diversidade Biológica e Ambiental da Amazônia Peruana (Siamazonia). Disponível em: <http://www.
A região amazônica Infelizmente, grande parte desses conheci- derada uma área relativamente homogênea, siamazonia.org.pe>.
mentos etnobotânicos está se perdendo de- estudos recentes revelam uma heterogenei-
é fundamental vido à aculturação ou ao desaparecimento dade espacial e diferenças florísticas em locais
de alguns povos indígenas (Álvarez, 2005). que anteriormente se acreditava semelhantes
para a manutenção (Tuomisto; Ruokolainen, 1997). tação (agricultura ou coleta de produtos natu- Perigo de Extinção (CITES) em todos os
do equilíbrio PADRÕES DA rais), na produção de artesanato e na medicina países amazônicos.
BIODIVERSIDADE As explicações sobre a grande diversida- tradicional. Existem mais de 2.000 espécies
climático global e de de espécies e padrões biogeográficos da de plantas identificadas como de utilidade na A alta biodiversidade da região também
De um modo geral, os ecossistemas seguem Amazônia baseiam-se em diferentes fatores, alimentação e na medicina, bem como na pro- favoreceu o desenvolvimento de atividades
a conservação e o um padrão latitudinal no planeta: os ecossis- como climáticos e históricos (Simpson; Ha- dução de óleos, graxas, ceras, etc. (Secretaria econômicas como aqüicultura, ecoturismo,
uso da diversidade temas tropicais são mais ricos em espécies ffer, 1978; Josse et al., 2007), e nas dife- Pro Tempore do Tratado de Cooperação Ama- zootecnia, agroindústria, caça ou extração
que os temperados frios de altas latitudes renças geológicas e geomorfológicas para zônica, 1995). A pesca é a principal fonte de florestal (de espécies madeireiras e não ma-
biológica, cultural e (Walter, 1985; Gaston; Williams, 1996). Ob- a heterogeneidade espacial, que originaram proteínas das populações locais da Amazônia, deireiras) (ver seções 3.2 e 3.4).
serva-se um padrão semelhante em níveis ambientes com uma alta diversidade no que mais importante que a caça.
dos conhecimentos taxonômicos mais altos (gêneros, famílias) se refere a sistemas de drenagem e à quali- A característica mais marcante dessa
tradicionais. (Blackburn; Gastón, 1996), atribuído tanto a dade do solo, responsáveis por importantes A caça e pesca da fauna silvestre ama- região é a sua floresta (ver seção 3.2). Na
fatores físicos (por exemplo, clima, geologia, diferenças na composição e estrutura dos zônica tem como principal objetivo servir Amazônia, há cinco grandes categorias
edafologia, barreiras geográficas, etc.) como ecossistemas. Josse et al. (2007) destacam de alimento para as populações locais; sua de vegetação (Kalliola; Puhakka; Danjoy,
à capacidade das espécies de ocupar e se a importância de se aplicar critérios especí- utilização na medicina ou na produção de 1993; Dominguez, 1987; Prance, 1979,
adaptar às condições abióticas e bióticas do ficos de acordo com as diferentes zonas, so- artesanato tradicional é menos freqüente. 1985; Huber, 1981; Sierra, 1999):
meio ambiente. bretudo quando estas apresentam grandes Assim, grandes mamíferos, por exemplo,
BIODIVERSIDADE:
grande variedade de
espécies de animais e
plantas/endemismos/
gradiente de diversidade
❱❱❱ Savanas secas e úmidas: encontram-se O Brasil, além de ter a maior extensão ter-
junto a diversos tipos de vegetação aquática ritorial do continente, registra o maior núme-
e de brejo ao longo do sistema fluvial da ba- ro de espécies de plantas, mamíferos, aves,
cia amazônica. répteis e anfíbios dos oito países em questão,
com algo em torno de 58.000 espécies. Em
As plantas apresentam de leste a oeste termos de riqueza biológica, atrás do Brasil
um claro gradiente de diversidade, e a maior vêm a Colômbia, com cerca de 49.000 es-
abundância de espécies encontra-se nos pécies, o Peru, com 38.020, e a Bolívia, com
contrafortes dos Andes (Gentry, 1988). O 22.268, considerando-se os cinco grupos
mesmo pode ser observado com relação às anteriores (tabela 3.2).
espécies de animais (Brown, 1999). Gentry
(1988) atribui esse fenômeno à presença de Na Amazônia brasileira concentram-se
solos mais férteis, à maior precipitação pluvial 54% das espécies de plantas, 73% das de
e ao menor grau de sazonalidade dos climas mamíferos e 80% das de aves existentes
do alto Amazonas. no território nacional. O Peru se destaca
pela concentração de espécies de répteis
CONSERVACIÓN INTERNACIONAL
Além disso, muitas das espécies de plan- (48%) e anfíbios (79%) com relação ao
tas podem ser especialistas edáficas, e sua número total de espécies no território na-
distribuição geográfica estaria correlacionada cional, para os grupos anteriormente refe-
à distribuição de tipos específicos de vegeta- ridos. A Amazônia equatoriana concentra
ção, como ocorre na região amazônica (De 53,3% do total nacional de espécies de
Oliveira; Daly, 1999). No entanto, o que tam- mamíferos; e a colombiana, 46% das aves
bém acontece com freqüência é uma área registradas em seu território nacional.
com um mesmo tipo de vegetação, ou pouca
variedade, possuir espécies com padrões ge- Dinerstein (1995) destaca o arco ociden- pteridófitas (levando em conta apenas as No caso do Equador, o instituto Ecociência
ográficos de distribuição totalmente diferen- tal da Amazônia, em particular as áreas próxi- partes baixas), 311 de mamíferos, 1.300 de e o Ministério do Ambiente (2005) distinguem Mais de 30.000 plantas,
muitas delas espécies
tes, atribuídos geralmente a eventos históri- mas ao piemonte dos Andes, como uma zona OS POVOS aves, mais de 163 de anfíbios e 1.800 de dois grandes ecossistemas na Amazônia: a
arbóreas, estão
cos e à divergência evolutiva das populações de conhecida e extraordinária diversidade de AMAZÔNICOS peixes continentais. floresta úmida amazônica e a floresta inundá-
presentes na Amazônia
(Prance, 1982; De Oliveira; Daly, 1999). espécies e endemismos. Em todo caso, é vel amazônica. No primeiro, são conhecidas
amplamente aceito que a flora e fauna ama-
UTILIZAM Na Amazônia colombiana, o Instituto 8.042 espécies, divididas em plantas (6.249),
brasileira.
DIVERSIDADE DE ESPÉCIES zônica não só não foram documentadas em APROXIMADAMENTE Sinchi, com base em dados do Herbário aves (773), peixes (491), mamíferos (197),
1.600
sua totalidade, como que tampouco há uma Amazônico Colombiano (COAH), relata anfíbios (167) e répteis (165). No segundo,
Seis dos oito países que integram a OTCA contagem total para a região, e que novas um total de 214 famílias botânicas com menos rico em biodiversidade, há um total
pertencem ao grupo de países megadiver- espécies são incorporadas constantemente 5.950 espécies, das quais 226 são plantas de 1.060 espécies, representadas por peixes
sos. Apenas para citar um grupo biológico, aos inventários da fauna e flora amazônicas não-vasculares e 5.274 vasculares (Institu- (425), aves (366), répteis (139), anfíbios (83)
ESPÉCIES DE PLANTAS
Brasil, Colômbia e Peru abrigam um terço (Da Silva; Rylands; Da Fonseca, 2005; Prance to de Hidrologia, Meteorologia e Estudos e mamíferos (47). Por último, cabe ressaltar
de todas as plantas vasculares conhecidas et al., 2000). MEDICINAIS NA Ambientais [Ideam], 2004); e o Sistema que muitas dessas espécies provavelmente
no planeta (Mittermeier et al., 1999; Peru: CURA DE DIVERSAS de Informações sobre a Biodiversidade da ocorrem em ambos os ecossistemas.
Sistema de Informações sobre a Diversidade No caso da Amazônia brasileira, Lewin- DOENÇAS. Colômbia aponta um total de 868 espécies
Biológica e Ambiental da Amazônia Peruana sohn (2005) afirma que há 30.000 espé- de aves, 140 de anfíbios, 85 de mamíferos O Peru detém o recorde mundial de nú-
[Siamazonia], 2007). cies de plantas superiores, 300 de plantas e 147 de répteis. mero de espécies de borboletas (4.200), e
114
CAPÍTULO3
A Amazônia hoje >115
tabela 3.3
Áreas protegidas restritas na bacia amazônica
SUPERFÍCIE PROTEGIDA
CATEGORIA N°
(HECTARES)
Parques nacionais 9 2.865.656
Reservas nacionais 6 3.990.900
Estações biológicas 1 135.000
BOLÍVIA
Refúgios da vida silvestre 3 270.000
Santuários 1 1.500
TOTAL 20 7.263.056
4.200
bre a Diversidade Biológica e Ambiental da modo que a química de suas águas, diversa Reserva biológica 1 4.613
Amazônia Peruana [Siamazonia] disponível e complexa. Diferentes estudos reportam TOTAL 6 2.161.932
em: <ht tp://w w w.siamazonia.org.pe>; haver em torno de 3.000 espécies de algas
Parques nacionais 2 7.870.000
Brack, 2004). Parte dessa riqueza ficou na região (Ehrenberg, 1843; Forsberg et al., GUIANA
ESPÉCIES DE evidenciada no Projeto Binacional Peru- 1993; Putz; Junk, 1997; Sant’anna; Martins,
TOTAL 2 7.870.000
BORBOLETAS Equador intitulado “Paz e Conservação da 1982; Scott; Gronblad; Croasdale, 1965; Parques nacionais 9 7.467243
FORAM Biodiversidade”, apoiado pela Conservation Thomasson, 1971; Uherkovich, 1976, 1984; Reservas nacionais 3 2.412.759
REGISTRADAS NO International (Peru: Instituto Nacional de Uherkovich; Rai, 1979; Uherkovich; Franken, PERU Santuários nacionais 2 131.609
Recursos Naturais [Inrena] – Conservation 1980). Em contraste com essa riqueza, a Santuário histórico 1 32.592
PERU, NÚMERO
International, 1997), que, em apenas três densidade de microalgas é muito baixa, o
CONSIDERADO TOTAL 15 10.044.203
semanas, coletou 800 espécies vegetais que se explica pela reduzida mineralização
RECORDE pertencentes a 94 famílias na Cordilheira das águas amazônicas. Parques nacionais 1 8.400
MUNDIAL. do Condor (departamento de Amazonas), SURINAME Reservas naturais 5 544.170
muitas delas desconhecidas da ciência. As plantas aquáticas (macrófitas) são as de TOTAL 6 552.570
Uma das famílias que se destacou foi a das maior produção primária anual e representam
orquídeas, com 26 espécies. Entretanto, o 65% do total da rede alimentar aquática, se- Parques nacionais 1 1.360.000
projeto também revelou que nessa área de guidas pelas florestas inundadas, com 28%. VENEZUELA Monumentos naturais 4 300.015
grande diversidade de flora há muitas es- Por outro lado, em termos de biomassa, as flo- TOTAL 5 1.660.015
pécies de animais ameaçados de extinção, restas ocupam o primeiro lugar, devido a suas
como o macaco-aranha (Ateles belzebuth), grandes árvores, e são seguidas por perifiton e TOTAL DA BACIA 168 78.407.518
o urso-de-óculos (Tremarctos ornatus), a fitoplâncton, com 5% e 2%, respectivamente
lontra (Lontra longicaudis), entre outros. (Barthem; Goulding, 2007).
Fonte: Adaptado e atualizado da Iniciativa Amazônica, com base nas fontes originais seguintes: Tratado de Cooperação Amazônica (TCA) – Comissão Especial do Meio
No lado equatoriano, foram encontradas Ambiente para a Amazônia. Brasil: Ministério do Meio Ambiente (2008). Colômbia: Unidade de Parques Nacionais Naturais (UAESPNN). Peru: Instituto Nacional de
2.030 espécies de plantas, 613 de aves, Na Amazônia, foram identificadas 2.500 Recursos Naturais (Inrena) (2007a).
CONSERVACIÓN INTERNACIONAL
madeira (Gascon et al., 2001; Sierra, 1999; recursos naturais e culturais associa-
Armenteras et al., 2006). Esses processos dos. Além disso, essas áreas são
não estão distribuídos de forma uniforme manejadas de acordo com instrumen-
entre essas oito grandes áreas. As de Ron- tos jurídicos e estão em conformida-
dônia e Xingu, por exemplo, perderam en- de com as categorias I – VI da UICN.
tre 10% e 50% de sua cobertura florestal
original. A de Belém representa um caso Estão representadas no mapa as seguin-
extremo, onde resta menos de um terço tes áreas, por país:
gistrado no oceano Atlântico. Sabe-se tam- da floresta original. Napo, Inambari, Guiana
Tartarugas aquáticas e bém que a maior parte da biomassa pesquei- e Tapajós, por outro lado, perderam menos ❱❱❱ Bolívia: Áreas de Conservação: Parque
terrestres ocorrem em ra, em particular a dos peixes detritófagos de 10% de suas florestas (Da Silva; Rylan- Nacional, Reservas da Vida Silvestre e Área
abundância nos rios e nas
(que se alimentam de matéria orgânica de- ds; Da Fonseca, 2005). Natural de Manejo Integrado (inclui as Áreas
lagoas da Amazônia, mas
seu hábitat está cada vez
composta), está relacionada à produtividade Protegidas de Cotapata, Aguaragüe e Iñao,
mais ameaçado. primária de lagoas e áreas inundáveis (Arau- Alguns estudos binacionais fornecem que ainda não contam com Planos de
jo-Lima et al., 1986; Forsberg et al., 1993). exemplos das especificidades dos ende- Manejo e cuja gestão se baseia em Planos
mismos na Amazônia. Por exemplo, o pro- Operacionais Anuais); outras áreas: Terras
Entre os peixes, destaca-se o pirarucu jeto binacional Equador-Peru, mencionado Indígenas (inclui áreas reivindicadas). Amazônia maior Áreas de conservação
(Arapaima gigas), que mede mais de 2,5 anteriormente, concluiu que a Cordilheira Amazônia menor Outras áreas manejadas
214
m e chega a pesar 200 quilos. Nos brejos e do Condor apresenta um alto nível de en- ❱❱❱ Brasil: Áreas de Conservação: Parques Divisa nacional
nas lagoas de águas tranqüilas vivem diver- demismo devido à sua proximidade com Nacionais, Reservas Biológicas, Estações
sos tipos de cobras, como a sucuri (Eunectes a região conhecida como “depressão de Ecológicas, Parques Estaduais, Estações
murinus), e de jacarés (Alligatoridae). A tarta- Huancabamba” ou passagem de Porculla, Ecológicas Estaduais e Reservas Biológicas
FAMÍLIAS Fonte: Produção original do GEO
ruga aquática conhecida como tartaruga-da- que é o limite de distribuição de muitas Estaduais. Outras áreas: Terras Indígenas. ❱❱❱ Peru: Áreas de Conservação: Parques Amazônia, com a colaboração técnica
BOTÂNICAS amazônia (Podocnemis expanda), a maior espécies da flora das regiões norte e cen- Nacionais, Reservas Nacionais, Santuários do UNEP/GRID – Sioux Falls e com
COM 5.950 de água doce do mundo, que chega a pesar tral dos Andes (Peru: Inrena – Conservation ❱❱❱ Colômbia: Áreas de Conservação: Nacionais, Santuários Históricos.
dados de Conservation International
(para a Bolívia); IBGE e MMA (para
ESPÉCIES FORAM até 45 kg, e o tracajá (Podocnernis unifilis), International, 1997); e o estudo binacional Parques Nacionais Naturais, Reservas o Brasil); Unidade Administrativa
Especial do Sistema de Parques
RELATADAS assim como rãs e anfíbios (Álvarez, 2005) da NatureServe (2007) sobre os sistemas Nacionais Naturais, Áreas Naturais Únicas ❱❱❱ Suriname: Áreas de Conservação: Nacionais Naturais e CIAT (para a
também vivem nas lagoas. ecológicos da bacia amazônica do Peru e (Monumentos Naturais), Santuários de Flora, Parques Nacionais, Reservas Naturais. Outras Colômbia); OTCA (para o Equador);
NA AMAZÔNIA Agência de Proteção Ambiental (para
da Bolívia identificou 84 desses sistemas Santuários de Fauna, Vias Parques. Outras áreas: Reserva Florestal, Áreas de uso
COLOMBIANA. ÁREAS DE ENDEMISMO ao longo de 1.249.281 km 2 . Sabe-se que áreas: Resguardos indígenas (constituídos múltiplo.
a Guiana); IIAP (para o Peru); Serviço
Florestal do Suriname, Ministério do
quinze deles são comuns aos dois países, pelo INCORA e, mais recentemente, pelo Trabalho e OTCA (para o Suriname e a
Venezuela).
As áreas de endemismo (i.e., áreas bem dos quais sete ocorrem apenas na Bolívia e INCODER. Estabelecidos pelo Decreto n.o ❱❱❱ Venezuela: Áreas de Conservação:
definidas com concentração de espécies dez no Peru (Josse, 2007). 1320, de 1998). Parques Nacionais, Monumentos Naturais
2.500
de distribuição restrita, compondo uma
biota única e, por esse motivo, insubstituí- ÁREAS DE CONSERVAÇÃO ❱❱❱ Equador: Áreas de Conservação: Parques
veis) são particularmente importantes para Nacionais, Reservas Ecológicas, Reservas de
a Amazônia, pois contribuem com elemen- Todos os países amazônicos têm um sistema Produção Faunística, Reservas Biológicas.
ESPÉCIES DE tos para a reestruturação dos processos nacional de áreas protegidas, além de alguma
PEIXES FORAM de formação da biota da região (Da Silva; outra categoria de conservação e uso sustentá- ❱❱❱ Guiana: Áreas de Conservação: Parques
IDENTIFICADAS Rylands; Da Fonseca, 2005). Estes auto- vel dos recursos naturais. As áreas de conserva- Nacionais (por exemplo, o Parque Nacional
NA AMAZÔNIA, res (2005) identificam oito grandes áreas ção vêm aumentando em número e extensão, de Kaieteur e a Floresta Tropical de Iwokra-
NÚMERO SUPERIOR de endemismo de mamíferos terrestres na sobretudo desde a década de 90 do século ma, cada um dos quais com sua própria
Amazônia, quais sejam: Napo, Imeri, Guia- XX. As áreas protegidas cobrem uma superfície legislação – de origem parlamentar) e a
AO REGISTRADO NO na, Inambari, Rondônia, Tapajós, Xingu e de mais de 700 mil quilômetros quadrados, o Reserva de Moraballi (protegida no marco da
OCEANO ATLÂNTICO. Belém. Dessas oito, quatro se situam intei- equivalente a 12% da bacia amazônica e a 4% Lei Florestal). Outras áreas: Terras Indígenas.
118
CAPÍTULO3
A Amazônia hoje >119
84
protegida são Brasil e Peru, com respectiva- versidade, é resultado dos incentivos ofere-
mente 54% e 13% da superfície protegida da Além dos sistemas nacionais de áreas cidos aos diferentes atores sociais. A falta
Amazônia (tabela 3.3). protegidas, os países podem adotar medi- de definição sobre os direitos de proprie-
das alternativas para a conservação da bio- dade, bem como de um sistema eficaz que
SISTEMAS
As categorias de manejo das áreas pro- diversidade. O Peru, por exemplo, elaborou garanta a sua aplicação, estimula um com-
tegidas variam. Algumas fontes indicam um Sistema Regional de Áreas Protegidas
ECOLÓGICOS portamento predatório que visa à obtenção
que há pelo menos vinte e três categorias para a Região de Loreto (Procrel) em 2007, FORAM de benefícios no curto prazo sem levar em
diferentes na região amazônica, que além que recebe apoio do governo regional de IDENTIFICADOS consideração os custos ambientais, sociais
de proteção da biodiversidade, pesquisa, Loreto e foi desenvolvido no marco do pro- EM 1.249.281 KM² e econômicos intergeracionais envolvidos.
educação e ecoturismo, incluem o mane- cesso de descentralização como um pro- DA BACIA De igual modo, o escasso conhecimento
jo de recursos florestais, como se dá nas grama inovador para a Amazônia peruana. a respeito dos diversos serviços ecossis-
unidades de conser vação no Brasil. No Além dele, outras formas de conservação
AMAZÔNICA DO têmicos e de seu valor não contribui para
caso da Guiana, em 2001 foi formulada a cargo da iniciativa privada vêm ganhando PERU E DA a adoção de práticas de manejo sustentá-
uma estratégia para a criação de um sis- impulso, quais sejam: servidão ambiental, BOLÍVIA. vel. No caso da exploração madeireira, por
tema de áreas protegidas. Apesar de ain- áreas de conservação particular, conces- exemplo, de início se emprega o corte se-
da não haver um sistema estabelecido, sões para a conservação, concessões para letivo, mas, no médio prazo, predominam
já existem duas áreas protegidas, criadas o ecoturismo, etc. de um modo geral o corte indiscriminado
por lei: o Parque Nacional de Kaieteur e a e a conversão do solo para outros fins. Em
CONSERVACIÓN INTERNACIONAL
Reserva de Floresta Tropical de Iwokrama A despeito dos esforços nacionais, a bai- países como Peru e Bolívia, o desenvolvi-
(Agência de Proteção Ambiental [EPA] , xa disponibilidade de recursos econômicos mento da agricultura migratória é respon-
2007). Embora as áreas de conservação e a limitada coordenação regional condi- sável pelo desmatamento acelerado da flo-
sejam um instrumento valioso, alguns cionam a efetiva conservação por meio de resta e, por conseguinte, por alterações nas
estudos indicam que a insuficiência de sistemas de áreas protegidas ou unidades condições do hábitat da biodiversidade (ver
recursos e a coordenação regional limi- de conservação (OTCA, 2007). seção 3.4). O uso não sustentável também
120
CAPÍTULO3
A Amazônia hoje >121
15%
e o funcionamento da floresta (Laurance rado dos preços internacionais dos alimen-
et al., 1997; Gascon et al., 2000; Benítez; tos, que estimulou a expansão da produção
Martínez, 2003). agropecuária (Brasil: Instituto Nacional de
Pesquisas Espaciais [INPE], 2008).
FOI O AUMENTO O desenvolvimento de obras de infra-es-
DA TAXA DE trutura (promovido pelo governo ou ilegal) Embora concentre mais da metade das
DESMATAMENTO EM desencadeia uma série de eventos que, além áreas de floresta tropical do mundo, o ritmo
2007 COM RELAÇÃO de afetar a biodiversidade e os ecossistemas, do desmatamento na Amazônia segue muito
AO ANO ANTERIOR. geram mais destruição que as florestas plan- acelerado, produzindo alterações nos padrões
tadas (Fearnside, 2005; Soares-Filho et al., de perda de ecossistemas (Malhi; Baldocchi;
2004). As trilhas que facilitam a extração de Jarvis, 1999; Laurance, 1998; Whitmore, 1997;
madeira geralmente antecedem as estradas Brasil: INPE, 2008; Lima; Gascon, 1999).
e ampliam a fronteira para a exploração agrí- Como conseqüência desse processo, têm-se a
cola e pecuária (ver capítulo 2, seção 2.2). perda de hábitats de diversas espécies e uma
A extração de madeira provocou a degrada- maior fragmentação e isolamento dos ecos-
ção dos ecossistemas e, além disso, tornou sistemas remanescentes, que podem afetar
27.151
algumas áreas mais suscetíveis a incêndios seus processos ecológicos, sua estrutura, sua
em decorrência: (i) do aumento da inflama- dinâmica e seu funcionamento, tanto em nível
bilidade da floresta e (ii) da diminuição do de ecossistemas como de espécies e genes
número de dias de estiagem, fazendo com (Carvalho; Vasconcelos, 1999; Gascon et al.,
Km² FORAM que o sub-bosque (grupo de arbustos en- 1999; Davies; Margules, 1998; Laurance; Fer-
DESMATADOS contrado abaixo ou perto de uma floresta) reira; Ranking-de Merona, 1998; Laurance et
ANUALMENTE NA alcance condições de inflamabilidade (Fearn- al., 2000; Nepstad et al., 1999).
CONSERVACIÓN INTERNACIONAL
hábitat e pela redução de biodiversidade,
VENEZUELA 26 25 13 71 26 0 3 69 233 são pouco valorizados.
Fontes: IN MMA N.° 3 de 27/05/2003; IN MMA N.° 5 de 21/05/2004 e IN N.° 52 de 08/11/05; IN MMA N.° 5 de 21/05/2004, IN N.° 52 de 08/11/05 e IN N.° 3 Muito embora estejam sendo desenvol-
de 27/05/2003 – inclui invertebrados aquáticos e terrestres; Portaria N.° 37-N de 3 de abril de 1992; contudo, o MMA está atualizando a lista da flora em extinção com
uma previsão atual de que o número de espécies de flora ameaçada de extinção alcançará a marca de 1.500. vidos programas e projetos com o objetivo
Brasil: A lista de espécies da fauna ameaçadas de extinção pode ser encontrada nas Instruções Normativas (IN) do Ministério do Meio Ambiente. A IN N.° 5, de de estimular a conservação da biodiversi-
21/05/04, possui dois anexos: o primeiro, com a lista das espécies de peixes e invertebrados aquáticos, e o segundo com uma lista de peixes e invertebrados aquáticos
sobreexplotados ou ameaçados de sobreexplotação. Algumas das espécies apresentadas no relatório da Conservation Internacional foram removidas da lista de espécies ❱❱❱ Dentre os habitantes da Amazônia, destaca-se o grande número de espécies de dade, seu alcance, diante da magnitude da
ameaçadas e incorporadas na lista de espécies sobreexplotadas ou ameaçadas de sobreexplotação. anuros, de diferentes formas e tamanhos e de cores chamativas. degradação, ainda é limitado.
126
CAPÍTULO3
A Amazônia hoje >127
Quadro 3.2
BOLÍVIA: USO E APROVEITAMENTO DE RECURSOS
FLORESTAIS NÃO MADEIREIROS: A CASTANHA
(BERTHOLLETIA EXCELSA H.B.K.)
CONSERVACIÓN INTERNACIONAL
to de alguma atividade relacionada à produção da casta-
nha. Além disso, ela representa uma parcela significativa
das estatísticas de exportação da Bolívia como produto
não tradicional, particularmente desde que a produção
de borracha natural sofreu uma redução significativa.
CONSERVACIÓN INTERNACIONAL
❱❱❱ O galo-da-serra andino. Muitos consideram a castanha uma das espécies-bandeira
CONSERVACIÓN INTERNACIONAL
A ONÇA, JAGUAR
OU OTORONGO
(PANTHERA ONCA)
É O MAIOR FELINO
DA AMAZÔNIA E O
TERCEIRO MAIOR
DO MUNDO.
CONSERVACIÓN INTERNACIONAL
130
CAPÍTULO3
A Amazônia hoje >131
AUTORES:
CARLOS SOUZA - Instituto do Homem e Meio Ambiente da
O BURITI, AGUAJE OU MORICHE (MAURITIA
Amazônia (Imazon) – Brasil FLEXUOSA) É UMA PALMEIRA TÍPICA DAS
ELSA GALARZA - Centro de Pesquisa da Universidad del FLORESTAS INUNDÁVEIS DA AMAZÔNIA.
Pacífico (CIUP) – Peru
CO-AUTORES:
LUIS ALBERTO OLIVEROS - Organização do Tratado de Coo-
peração Amazônica (OTCA)
KATIA PEREIRA - Instituto do Homem e Meio Ambiente da
Amazônia (Imazon) – Brasil
3.2|FLORESTAS
A floresta amazônica, considerada uma das mais importantes do pla-
neta, é formada por vários ecossistemas naturais (Foley et al., 2007).
Sua importância reside na vasta área de floresta tropical remanescen-
te, que oferece vários serviços e produtos ambientais valiosos (fárma-
cos, enzimas, banco genético, etc.). Dentre os serviços ambientais,
destacam-se o fato de a floresta possuir alta diversidade biológica
(Fearnside, 1999; Dirzo; Raven, 2003), sua capacidade de captura e
armazenamento de carbono (Defries; Asner; Houghton, 2004), além
CONSERVACIÓN INTERNACIONAL
Dentre as inúmeras propostas de classificação das florestas amazôni- Em 2001, as coberturas naturais ou que apre- ha (1,12%); e, com menos de 1%: arbustos
A importância da floresta
cas (Moran, 1993; Whitmore, 2001; Stone et al., 1994; Saatchi; Stei- sentavam processos mínimos de transformação (44.050 ha); vegetação secundária (328.755
nenger; Tucker, 2008), a mais recente (Saatchi et al., 2008) permite amazônica reside na extensa área totalizavam cerca de 95%. As coberturas estão ha); culturas anuais ou transitórias (12.698
identificar dezesseis classes de cobertura vegetal. Em conjunto, es- distribuídas da seguinte forma: florestas naturais, ha); áreas agrícolas heterogêneas (72.475
sas classes constituem quatro categorias: florestas densas, florestas de floresta tropical remanescente 43.311.755 ha (90,75%); pastagens cultivadas, ha); e zonas urbanas (5.178 ha).
abertas, florestas inundáveis e vegetação não-florestal. Ayres (1993) e nos valiosos serviços e produtos 2.186.524 ha (4,58%); vegetação herbácea natu-
sustenta que na floresta tropical amazônica podem ser encontrados ral, 833.232 ha (1,75%); corpos d'água, 535.614 Fonte: Sinchi (2007).
tipos vegetacionais complexos, como floresta de terras altas, floresta ambientais que ela proporciona.
132
CAPÍTULO3
A Amazônia hoje >133
Quadro 3.4
DIVERSIDADE DA VEGETAÇÃO DA AMAZÔNIA PERUANA
A classificação da diversidade de plantas da Amazônia peruana, elaborada em 2004 pelo Instituto de Pesquisas da Amazônia Peru-
ana por intermédio do Projeto Biodamaz (Convênio Peru-Finlândia), baseia-se na composição de um mosaico de imagens Landsat
TM e na identificação de 24 unidades vegetais.
I. VEGETAÇÃO NATURAL
1. PLANÍCIE AMAZÔNICA
a. Vegetação de planície aluvial. Exposta à inundação sazonal do fluxo das cheias dos rios; em planícies baixas de origem recente
e sub-recente.
Brasil, seguido do fonte, oscilando em torno de 6 milhões de fronteira entre o Brasil, a Bolívia e o Peru; e II. VEGETAÇÃO ANTRÓPICA
km2 (Saatchi et al., 2008). A floresta densa no noroeste, na Colômbia. Há também áre-
Peru e da Colômbia. é composta de florestas tropicais ombrófilas as menores de florestas abertas na porção e. Complexos de vegetação sucessional com mais de três séculos
úmidas, de terra firme e de florestas em tran- norte, no Escudo Guianense. Estima-se que - Restolhais
sição. A predominância de árvores de grande esse tipo de floresta ocupe aproximadamen- f. Complexos de vegetação sucessional com mais de três séculos
porte e valor comercial para a produção de te 610.000 km2.
madeira (Lentini et al., 2005) torna essas flo- - Áreas desmatadas (centros habitados e complexo de chácaras e vegetação secundária (purmas) em “terra firme")
restas suscetíveis à pressão da atividade ma- Por sua diversidade e produtividade - Áreas desmatadas com cultivo de palmeiras (por exemplo, Palma de El Espino)
deireira (Uhl; Vieira, 1989; Asner et al., 2005) aquática, as planícies aluviais ou várze- - Áreas desmatadas em floresta tropical seca.l
e, em algumas regiões, também a incêndios as representam um importante ambien- Fonte: Projeto Diversidade Biológica da Amazônia Peruana (Biodamaz) (2004).
134
CAPÍTULO3
A Amazônia hoje >135
682.124
Km² É A ÁREA DESMATADA
ACUMULADA REGISTRADA
NO BRASIL ENTRE 2000 E 2005,
REPRESENTANDO 79,5% DO
DESMATAMENTO TOTAL DO
PERÍODO.
a alagamento. As várzeas dos rios de águas Diversas pesquisas foram realizadas em to-
brancas estão relativamente bem conserva- dos os países que compõem a Amazônia,
das na região a montante da confluência do com o objetivo de determinar o ritmo do
Purus com o Amazonas, no Brasil, onde o desmatamento na região. No entanto, seus
impacto da pecuária ou da agricultura ainda resultados divergem em razão da ausência
é muito baixo. Por outro lado, as várzeas do de sistemas de monitoramento precisos e do
rio Amazonas encontram-se alteradas no emprego de diferentes metodologias, ou, ain-
baixo Purus, notadamente em Santarém, da, devido ao difícil acesso a esses dados ou O processo de to está associado às pressões das ativida- biodiversidade, particularmente naquelas
no estado do Pará. Na área onde o baixo por estes não estarem atualizados. Não obs- des agrícolas e pecuárias (Hecht, 2005) e áreas onde há redução de ecossistemas O desmatamento
Amazonas recebe os rios Tapajós e Xingu tante, é possível afirmar que a floresta tropi- desmatamento nas da extração de madeira (tanto legal como naturais remanescentes e alto grau de en- nas encostas
há um tipo especial de várzea, influenciada cal úmida amazônica foi seriamente afetada ilegal) (Asner et al., 2005); ao uso de seus demismo (Capobianco, 2001 citado por favorece a erosão,
por inundações e o transbordamento de nos últimos anos, sofrendo uma redução de
florestas tropicais recursos naturais em geral (mineração, re- Fearnside, 2005). O desmatamento pro- sendo responsável
pela perda de solo
rios (Barthem, 2001). No Brasil, as várze- sua cobertura vegetal. acarreta uma cursos florestais não-madeireiros) (Peres; voca, ainda, erosão, compactação do solo
e pelo arrasto de
as de marés podem ser vistas ao longo da Barlow; Laurance, 2006); a políticas go- e perda de nutrientes (Fearnside, 2005),
sedimentos para os
área compreendida entre a confluência do A tabela 3.6 revela que no período 2000- perda global de vernamentais, por exemplo, a construção conforme mencionado na seção 3.1. rios amazônicos.
Xingu com o Amazonas e os manguezais. 2005 o desmatamento acumulado na Ama- de rodovias (Neptstad et al., 2001; Soares-
Essa vegetação é intensamente explorada zônia atingiu 857.666 km2 (85,8 milhões
biodiversidade, Filho et al., 2004) e outras obras de infra- O Brasil apresenta a maior área desma-
por empresas madeireiras e agricultores de de hectares), provocando uma redução da especialmente em estrutura; e ao crescimento demográfico tada acumulada: 682.124 km2. Isso signifi-
pequena escala (Anderson, 1999; Barros; cobertura vegetal da região de aproximada- (Fearnside, 1993; Kaimowitz, 1997), den- ca que, do total desmatado entre 2000 e
Uhl, 1995). Segundo Saatchi et al. (2008), mente 17% – o equivalente a cerca de 67% áreas com alto grau tre outros fatores. Eventos naturais como 2005, 79,5% correspondem a esse país,
esse tipo de floresta ocupa uma extensão e 94% da superfície dos território peruano e secas extensas, que aumentam o número e seguido do Peru, com 8,2%, e da Bolívia e
de 527.000 km2; o Brasil abriga 64% do to- venezuelano respectivamente.
de endemismo. a intensidade dos incêndios, também atin- Colômbia, com 5,3 e 3,4%, nessa ordem.
tal de planícies aluviais, seguido da Bolívia, gem as florestas. Os demais países participam com percen-
com 11%, e do Peru e da Colômbia, com As causas do desmatamento são muitas tuais inferiores a 2% do total. Ressalte-se
7% cada. e afetam cada país com diferente intensida- O processo de desmatamento nas flo- que os valores apresentados devem ser en-
de. Na floresta amazônica, o desmatamen- restas tropicais acarreta a perda global de tendidos como preliminares, uma vez que
136
CAPÍTULO3
A Amazônia hoje >137
QUADRO 3.5 os dados não são homogêneos para todos TABELA 3.6
DESMATAMENTO NA AMAZÔNIA os países durante o período da análise. Desmatamento da Amazônia nas décadas de 1980, 1990 e no período 2000-2005
Laurance et al. (2002) assinalam os índi- BRASIL3 377.500 551.782 682.124 79,5% 19.410 16.503 22.513
ces absolutos de desmatamento e fragmen-
tação da floresta Amazônia brasileira como
os mais altos do mundo. Essa percepção foi COLÔMBIA4 19.973 27.942 29.3025 3,4%, n.d. 664 942
confirmada em 2004, ano em que o desma-
tamento anual registrou a segunda taxa mais EQUADOR5 n.d. 3.784 8.540 1,0% 2125 378 3884
elevada de sua história, com 27.379 km2,
segundo dados do INPE/Prodes. A mais ele-
vada da história do Brasil ocorreu em 1995, GUIANA5 n.d. n.d. 7.390 0,9% n.d. n.d. 2105
quando 29.059 km2 de florestas foram des-
matados (Lentini et al., 2005). Nos estados PERU5 56.424 64.252 69.713 8,2% 2.611 783 1235
brasileiros mais afetados pelo desmatamento
É sabido que o desmatamento se concentra nas áreas de transição – Mato Grosso e Rondônia –, há uma forte
entre florestas e o cerrado (savana tropical), ao longo de estradas e expansão da atividade agrícola e pecuária, SURINAME5 n.d. n.d. 2.086 0,2% n.d. n.d. 2425
na fronteira do Acre com Rondônia (Houghton; Hackler; Lawrence, fundamentalmente para o plantio de soja e
2000; Cardille; Foley, 2003; Soares-Filho et al., 2004). Mas ainda há a criação extensiva de gado. A Amazônia bra-
VENEZUELA5 n.d. 7.158 12.776 1,5% n.d. 716 5535
lacunas na compreensão sobre o desmatamento na Amazônia. Até sileira, por exemplo, registrou um aumento
pouco tempo atrás, a finalidade da caracterização do desmatamento anual de áreas cultivadas de cinco milhões
feita por satélites era estimar as mudanças ocorridas em áreas de de hectares, em 1990, para oito milhões de TOTAL 451.924 666.076 857.666 100% 23.619 20.550 27.218
“florestas” e “não-florestas” no transcorrer do tempo. Hoje, a paisa- hectares, em 2002, segundo o Instituto Bra-
gem amazônica é muito mais dinâmica e complexa, com ciclos de sileiro de Geografia e Estatística (IBGE). O Fontes:
derrubada, cultivo, pastoreio e crescimento de florestas secundárias, Instituto do Homem e do Meio Ambiente da 1 Steininger et al. (2001).
2 Killeen et al. (2007).
que resultam em um mosaico complexo de interação entre floresta Amazônia (Imazon) revela que o ataque às 3 Programa de Cálculo do Desflorestamento da Amazônia [Prodes] (2007).
tropical, terras sob diferentes regimes de manejo e florestas secundá- florestas está associado à apropriação ilegal 4 Sinchi (2007).
rias em recuperação (Fearnside, 1993; Nepstad et al., 1999; Cardille; de terras públicas e à construção de estradas 5 Soares-Filho et al. (2006).
Foley, 2003). É particularmente importante identificar as regiões onde clandestinas abertas no meio da Amazônia,
há regeneração de floresta secundária, por representarem importan- tanto por garimpeiros em busca de ouro e
tes áreas para a captura de carbono (Houghton; Hackler; Lawrence, diamantes como por madeireiros. bém aumentou na Bolívia e no Equador, mas a se repetir de forma permanente. A segun- A investida contra
2000) e reservatórios temporários de diversidade genética, bem caiu acentuadamente no Peru e na Venezue- da envolve o emprego de técnicas aprimo-
como por fornecerem um determinado grau de recuperação e/ou No período 2000-2005, o desmatamen- la (tabela 3.6). radas para o cultivo da coca; no entanto, as florestas está
conservação do solo. to na Amazônia aumentou para 27.218 km2/ essas terras também são abandonadas de-
ano, principalmente em razão do desmata- Na Amazônia peruana, a agricultura mi- vido à pressão do Estado, que luta contra a
associada à
mento no Brasil, que atingiu a surpreendente gratória e o cultivo de folha de coca são as expansão do cultivo para fins ilícitos. apropriação ilegal
Fonte: Foley et al. (2007). média de 22.513 km2 anuais, representando duas principais causas do desmatamento.
um aumento de 16% e 36,4% em relação A primeira compreende o corte e a queima A derrubada de árvores para cultivos de terras públicas
às décadas de 80 e 90 respectivamente. Não de pequena escala realizada pela popula- ilícitos, a expansão da fronteira agrícola, os
obstante, cabe destacar a desaceleração sig- ção, com o objetivo de desenvolver uma novos assentamentos e a pecuária bovina
e à abertura
nificativa registrada entre 2005 e 2007, ano agricultura rudimentar, geralmente em so- extensiva são as principais causas do des- de estradas
em que o desmatamento anual caiu para los de qualidade agrícola limitada, motivo matamento da Amazônia colombiana. As
1.224 km2, ou seja, 59% a menos do que no pelo qual são aproveitados somente por taxas de desmatamento variam de 0,97% clandestinas.
pico de 2004. O desmatamento anual tam- um curto espaço de tempo, levando o ciclo a 3,73% em áreas altamente povoadas, e
138
CAPÍTULO3
A Amazônia hoje >139
tabela 3.7
em 0,23% nas áreas de baixa densidade
Principais causas do desmatamento e da degradação florestal
demográfica (Armenteras et al., 2006).
PAÍS PRINCIPAIS CAUSAS DO DESMATAMENTO E DA DEGRADAÇÃO FLORESTAL Na Bolívia, o avanço da fronteira agro-
pecuária na última década foi a causa do
aumento da taxa de desmatamento ilegal
em terras aptas ao uso florestal (licenças
Agricultura de subsistência por migração de sem-terra (Killeen et al., 2007) para a mudança de uso do solo são con-
Sojicultura, pecuária (Steininger et al., 2001) cedidas com base em critérios técnicos es-
BOLÍVIA tabelecidos pela autoridade competente).
Pastagens para a atividade pecuária (Pacheco, 1998)
Atividade madeireira No entanto, as causas subjacentes são a
insegurança na posse da terra, a vantagem
econômica comparativa das atividades agro-
pecuárias em face das atividades florestais,
a insuficiência de mecanismos de controle
Pastagens para a atividade pecuária (Arima; Barreto; Brito, 2005) e fiscalização do desmatamento, lacunas
Agricultura mecanizada (Nepstad; Moutinho; Soares-Filho, 2006) na legislação, dentre outras. O número de
Infra-estrutura: estradas e hidrelétricas (Fearnside; Laurance, 2002) incêndios florestais também aumentou,
BRASIL
Assentamentos de reforma agrária (Brandão; Souza, 2006) em muitos casos em decorrência do des-
Atividade madeireira (Lentini et al., 2005) matamento. O departamento de Santa Cruz
Apropriação de terras públicas concentra 75% do desmatamento; Pando
e Bêni contribuem com 20% (Bolívia: Uni-
dade de Controle do Desmatamento e de
Incendios Florestais [Ucdif] 2007).
Empresas que variam de 25 a 40% do território (entre floresta também vêm empobrecendo em to-
sete e 12 milhões de hectares), a empresas dos os anos como resultado da degradação
madeireiras asiáticas asiáticas para a extração de madeira, modi- ligada à exploração de madeira (Nepstad et
ficaram recentemente esse cenário (World al., 1999), aos incêndios (Cochrane; Schulze,
entraram na Guiana, Rainforest Movement [WRM], 2000). 1999) e à fragmentação de florestas (Lau-
obtendo concessões rance et al., 2000), dentre outras causas. As
A Venezuela abriga parte da maior ex- hidrelétricas também geram impactos dire-
florestais tensão de florestas tropicais virgens ou com tos como o alagamento de extensas áreas
alterações não-significativas. As taxas mais de floresta; e indiretos, como a migração
importantes, de 25 altas de desmatamento nesse país foram re- populacional (Junk; Mello, 1999; Fearnsi-
a 40% do território. gistradas na década de 80, como resultado de; Laurance, 2002). A degradação florestal
de investimentos do governo e de bancos gera alterações parciais – temporárias ou
multilaterais de investimento na exploração permanentes – na composição e estrutura
de minério de ferro e bauxita, bem como das florestas (Lambim; Turner; Geist, 2000).
em usinas de aço e alumínio, represas e Outros elementos que podem levar à degra-
uma infinidade de indústrias leves, todas in- dação das florestas são a caça, a extração
terligadas por uma rede de estradas e linhas de recursos não-madeireiros e a invasão de
de alta tensão que atravessam as cidades espécies exóticas (Peres; Barlow; Laurance,
criadas recentemente para fornecer mão- 2006), mas, como esses distúrbios não são
de-obra às indústrias. Outra causa do des- detectados pelos instrumentos de sensoria-
matamento na Venezuela é a expansão da mento remoto, não há informações sobre sua
Na Venezuela, fronteira agrícola que, entre 1980 e 1990, localização e extensão.
pulou de 24 para 32 milhões de hectares
a conversão da (WRM, 2000). A conversão da floresta em A exploração florestal seletiva, também
floresta em terras terras agrícolas não contribuiu muito para considerada uma atividade que degrada as
solucionar o déficit de alimentos no país, florestas, consiste na extração de várias ár-
agrícolas facilitou mas acarretou a transformação de um gran- vores de espécies comerciais valiosas por
de número de terras públicas originalmente hectare sem o emprego de técnicas de
a transferência de florestais em propriedade privada, inclusive aproveitamento florestal de baixo impacto.
grandes extensões no interior de reservas florestais. Por não ser regulada, tem se mostrado ex-
tremamente devastadora. Em média, cada
de terras públicas, A mineração industrial também gera im- árvore removida pode danificar seriamente
pactos diretos e indiretos nas florestas. O até trinta árvores, mais pela operação em
originalmente desmatamento e a contaminação da flores- si do que por qualquer outro motivo: quan-
cobertas de matas, ta por resíduos químicos e resultantes da do uma árvore é derrubada, arrasta consigo
própria atividade são exemplos de impac- várias árvores vizinhas devido à presença
à propriedade tos diretos (Uhl; Bezerra; Martini, 1993). de cipós, causando sérios prejuízos para o
Os impactos indiretos ocorrem quando a meio ambiente. Essa prática pode, inclusi-
privada, inclusive
mineração atrai grandes fluxos migratórios, ve, provocar o ressecamento do solo e do
dentro de reservas que contribuem para aumentar o desma- sub-bosque, aumentando sua propensão
tamento nas áreas adjacentes aos projetos a incêndios (Asner et al., 2006). A maqui-
florestais. de mineração. Embora os impactos da mi- naria pesada empregada no corte seletivo
MIGUEL BELLIDO / EL COMERCIO
TABELA 3.8
Número de focos de incêndio na Amazônia
# HOT PIXELS
PAÍSES 2003 2004 2005 2006
N° % N° % N° % N° %
24.000
2002; Nepstad et al., 2001), o Peru (Maki; grande ameaça à integridade das florestas
CONSERVACIÓN INTERNACIONAL
Kalliola; Vuorinen, 2001) e o Equador – tropicais (Rudel, 2005). O fogo tem sido
neste país, associada à atividade petrolí- utilizado como ferramenta para a limpeza
fera. No Peru, por exemplo, entre 1981 e de pastagens e áreas agrícolas da floresta
FOCOS DE 1996 o desmatamento aumentou rapida- amazônica (Kato; Kato; Denich; Vlek, 1999)
INCÊNDIOS mente ao longo da Rodovia Interoceânica e para a queima da floresta após o corte de
FLORESTAIS POR (Naughton-Treves, 2004). No Brasil, 80% árvores (Fearnside, 2005). Os incêndios não-
do desmatamento estão concentrados controlados de pastagens e áreas agrícolas
ANO NO PERÍODO
em um raio de 50 km das estradas ofi- geralmente se alastram pelas bordas das
2003-2006, EM TODA ciais (Asner et al., 2006). Essa situação é florestas adjacentes (Nepstad et al., 1999; de calor, incêndios ativos) ajudam a entender pode ser observada também ao longo das O desmatamento e o
A REGIÃO. agravada por agricultores sem terra com Cochrane; Schulze, 1999) e, após a retirada as dimensões reais do problema. estradas que atravessam a porção central da corte seletivo tornam
a abertura de vias ilegais para a retirada da madeira presente nessas áreas, a maior floresta no Brasil, acompanhando a exten- a floresta amazônica
de recursos naturais (madeira e ouro) e incidência de radiação solar e o acúmulo de No período 2003-2006, a média anual são das estradas Transamazônica (BR-230), muito mais propensa a
a ocupação de terras públicas (Brandão; resíduos decorrentes da exploração facilitam de focos de incêndio foi de 24 mil. O maior Santarém-Cuiabá (BR-163) e BR-317, que liga incêndios.
Souza, 2006). O mapeamento com ima- a penetração do fogo na floresta, gerando número de incêndios foi registrado em 2004, a Amazônia ocidental brasileira ao Pacífico.
gens de satélite permitiu identificar, em um impacto ainda maior (Holdsworth; Uhl, com 31.308 focos, e o menor em 2006, com Essas áreas apresentam fronteiras recentes
2003, cerca de 173.000 km de estradas 1997). Uma vez queimada, a área se torna 17.315. O Brasil liderou o ranking de países de desmatamento.
ilegais na floresta amazônica. Da mesma mais vulnerável a novos incêndios, aumen- amazônicos com o maior número de incên-
forma, o desenvolvimento de centros ur- tando substancialmente os danos resultantes dios entre 2003 e 2006, com uma média de Durante a última metade do século XX,
banos aumenta a pressão sobre as flores- (Cochrane; Schulze,1999). 85% do total, seguido da Bolívia, com uma uma das principais transformações ecológicas
tas remanescentes localizadas em um raio média anual e 14% no mesmo período. Os na região amazônica foi a redução do intervalo
de 20 km destes (Barreto et al., 2006), Os mapas mostram a localização e a demais países participaram com uma média entre incêndios florestais. Os intervalos de sé-
agravando a fragmentação das florestas extensão das florestas degradadas por in- de 1% do número total de incêndios. culos que antes separavam um evento de ou-
e a degradação resultantes da explora- cêndios. Os estudos locais baseados em tro deram lugar a períodos de cinco a quinze
ção madeireira e de incêndios florestais, sensoriamento remoto e o levantamento de Grande parte dos focos de calor está con- anos em algumas florestas (Cochrane; Schul-
assim como empobrecendo a fauna e a informações de campo indicam que a área centrada no limite sul da floresta amazônica, ze, 1999; Alencar; Nepstad; Vera Díaz, 2006),
flora com a caça e a extração de recursos afetada pelos incêndios é muito maior do ao longo do chamado “arco do desmata- tornando-as mais suscetíveis a queimadas
madeireiros não-florestais (Peres; Barlow; que aquela explorada pela atividade madei- mento”, no Brasil, e na zona central da Bolívia subseqüentes. O ponto ecológico crítico da
Laurance, 2006). reira. Dados de queimadas localizadas (focos (gráfico 3.1). Uma concentração de incêndios floresta amazônica é atingido quando esta se
144
CAPÍTULO3
A Amazônia hoje >145
Gráfico 3.1
Distribuição dos focos de incêndios na floresta Amazônica (2003-2006)
2003 2004
2005 2006
torna tão inflamável que a queimada periódica altamente inflamáveis podem se estabelecer
freqüente é praticamente inevitável. no sub-bosque, elevando consideravelmente
400
sua suscetibilidade ao fogo. A queima dessas
Segundo Nepstad (2007), o corte seleti- florestas danificadas leva à morte de mais ár-
vo não-regulado, a estiagem e o fogo estão vores e à invasão por pastos, samambaias e
reduzindo a cobertura florestal em grandes bambus, fechando-se um círculo vicioso.
MILHÕES DE porções da Amazônia, permitindo que uma
Fuente: Base de datos del sensor MODIS.
TONELADAS quantidade cada vez maior de luz penetre Por último, como mencionado na seção
Focos de incêndios Bioma Amazônico Países Rios
DE CARBONO na fina camada de combustível do substra- 2.5, o aquecimento global é outro tipo de
SÃO LANÇADOS to florestal. As árvores que morrem ou que pressão ambiental que pode levar à “savaniza-
POR ANO NA são extraídas por madeireiros (Nepstad et ção” de extensas áreas da floresta amazônica A essa preocupação ambiental soma-se
al., 2005), assim como as que perecem em (Nobre; Lahsen; Ometto, 2007). O desmata- o fato de que cerca de 400 milhões de to-
Na última metade do século XX,
ATMOSFERA COMO
RESULTADO DA
decorrência da seca ou de incêndios, abrem mento, seguido da queima de florestas, contri- neladas de carbono são lançadas anualmen- uma das principais transformações
o dossel da floresta para a entrada dos po- bui para as emissões de carbono. Somente na te na atmosfera, em decorrência do corte e
DERRUBADA DAS derosos raios do sol equatorial, que secam Amazônia brasileira as emissões podem atingir das tradicionais queimadas na floresta ama- ecológicas na Amazônia foi a redução
MATAS E DAS a fina camada de combustível sobre o solo. 0,2 gigatonelada de carbono por ano (Nobre; zônica. A esse volume, Asner et al., (2005) do intervalo entre os incêndios
TRADICIONAIS Além disso, a maior intensidade de luz solar Nobre, 2002). Projeções baseadas em mo- acrescentam outros 100 milhões de tone-
QUEIMADAS NA no interior da floresta permite o estabeleci- delos climáticos para a América do Sul, para ladas resultantes do corte seletivo, ou seja, florestais.
mento de mais plantas que demandam luz 2100, indicam, no cenário mais pessimista, um volume cerca de 25% maior de gases de
AMAZÔNIA. para se desenvolver, aumentando a inflama- que a temperatura média da Amazônia pode efeito estufa em relação à previsão original,
bilidade da floresta. Embora ainda raros na subir até 8 ºC e causar fortes chuvas (Marengo o que poderia alterar os prognósticos para a
Amazônia, pastagens, samambaias e bambus et al., 2007). mudança climática em escala global.
146
CAPÍTULO3
A Amazônia hoje >147
ANTONIO ESCALANTE / EL COMERCIO
AUTORES:
JUAN CARLOS ALONSO GONZÁLEZ
KATTY ALEXANDRA CAMACHO GARCÍA
MARCELA NÚÑEZ AVELLANEDA
EDWIN AGUDELO CÓRDOVA
Pesquisadores do Grupo Ecossistemas Aquáticos Amazônicos,
Instituto Amazônico de Pesquisas Científicas, Sinchi – Colômbia
A PAISAGEM AMAZÔNICA TEM
NOS GRANDES RIOS UM DE SEUS CO-AUTORES:
COMPONENTES ESSENCIAIS. ELSA GALARZA - Centro de Pesquisa da Universidad del Pacífico (CIUP) – Lima
LUIS ALBERTO OLIVEROS - Organização do Tratado de Cooperação Amazônica (OTCA)
KAKUKO NAGATANI - Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA)
3.3|RECURSOSHÍDRICOS
EECOSSISTEMASAQUÁTICOS
Como foi exposto no capítulo 1, a bacia amazônica é a mais extensa
do planeta e ocupa mais de um terço da superfície do subcontinente
sul-americano. As bacias tributárias mais importantes do rio Amazonas
têm sua origem na Cordilheira dos Andes, e outros tributários se ori-
ginam nas mesetas guianenses, brasileiras e áreas contíguas da bacia
do Orinoco (Colômbia).
GRÁFICO 3.2
Contribuição das principais sub-bacias hidrográficas
amazônicas para a descarga total da bacia
As mudanças chuvas, que, em algumas regiões de altitude hídrico entre os ecossistemas terrestres e
dos Andes, podem chegar a 8.000 mm de aquáticos. Portanto, as mudanças climáticas rio Orinoco e as do rio Negro, recebendo a depende, em grande medida, do adequado O volume total
climáticas precipitação anual e que, na vertente da Cor- poderiam alterar a disponibilidade de água denominação de “Braço Casiquiare”, na Ve- manejo desse recurso por parte do país vi-
dilheira, oscilam entre 2.500 e 5.000 mm/ na Amazônia, embora no presente não exista nezuela; ou na Guiana, entre os rios Negro zinho situado a montante, e não apenas no de água líquida
poderiam alterar a ano. Esses regimes pluviais, somados aos das evidência científica de que isso esteja ocor- e Takutu (Barthem; Guerra; Valderrama, que se refere ao aspecto aquático, mas ao
captada pela bacia
disponibilidade de áreas de drenagem dos outros seis afluen- rendo. (Mais detalhes são encontrados no 1995; Barthem, 2001; Brasil: Agência Na- ecossistema amazônico todo.
tes e do resto dos tributários menores que capítulo 4.) cional de Águas [ANA], 2002a; Colômbia: amazônica situa-
água na Amazônia, se originam na planície amazônica (onde as Sinchi, 2002; Goulding et al., 2003b, 2003; O desaparecimento de cobertura vegetal
precipitações variam de 1.500 a 3.000 mm/ Águas superficiais Barthem et al., 2004; Cummings, 2006; natural, que já atinge aproximadamente 17% se entre 12.000 e
embora no ano), perfazem um total de água líquida cap- A superfície de cada um dos países que Peru: IIAP, 2006). da cobertura original (ver seção 3.2), é a prin-
16.000 km³/ano.
presente não exista tada pela bacia amazônica na faixa de 12.000 drenam para a rede hídrica amazônica cipal força motriz a afetar a disponibilidade
a 16.000 km3/ano (Salati; 1983, Goulding et corresponde, segundo diversos estudos, Do ponto de vista da contribuição de de água. Os altos níveis de desmatamento
evidência científica al., 2003b; Barthem et al., 2004). aproximadamente às seguintes parcelas de cada país em volume de água para a bacia atribuídos à expansão das atividades agrícola,
seus territórios: 38,5% da Colômbia; 46% amazônica, Colômbia, Equador e Peru par- pecuária e madeireira, somados aos das áre-
de que isso esteja Entretanto, algumas estimativas indicam do Equador; 46,5% do Brasil (ou 57,5% se ticipam com 30% da vazão no canal princi- as desmatadas para o cultivo de espécies de
ocorrendo. que a saída de água através dos diferentes ca- a sub-bacia do rio Tocantins for incluída); pal do rio Amazonas; os rios Madeira (Peru, uso ilícito na Amazônia boliviana, colombiana
nais fluviais oscila entre 5.500 e 6.700 km3/ 66,5% do Peru; e 66% da Bolívia. Quan- Bolívia e Brasil) e Negro (Brasil) participam e peruana, causam alterações no uso do solo,
ano, e isso significa que os 60% restantes re- to aos demais países (Venezuela, Guiana com outros 30%, e o restante é captado em as quais afetam o abastecimento de água e
tornam à atmosfera por meio da evapotrans- e Suriname), que de um modo geral não território brasileiro (gráfico 3.2) (Brasil: ANA, os serviços ecossistêmicos.
piração da floresta amazônica (Salati, 1983; drenam para o interior da bacia amazôni- 2002a, Goulding; Barthem; Ferreira, 2003).
Sioli, 1984; Goulding et al., 2003; Calasans; ca, durante os períodos de fortes chuvas e A redução da cobertura vegetal tem um
Levy; Moreau, 2005; Cadavid, s.d.), proces- inundações as águas de diferentes bacias Assim, a disponibilidade de águas super- efeito ambiental cumulativo em toda a bacia.
so fundamental para assegurar o equilíbrio eventualmente se misturam, como as do ficiais em cada um dos países amazônicos Está comprovado que o volume de água que
150
CAPÍTULO3
A Amazônia hoje >151
TABELA 3.9
Cobertura da rede de abastecimento de água e de saneamento na região amazônica
CONSERVACIÓN INTERNACIONAL
“A Amazônia tem uma determinada região deixa de receber conhecidos dados estatísticos para nenhum
após ser desmatada será proporcional à in- dos países amazônicos, é possível que o po-
que ser preservada, tensidade e à freqüência das precipitações, tencial hídrico da região seja muitas vezes
não para isolá-la, mas assim como à quantidade de biomassa re- maior. Há províncias hidrogeológicas identi- ❱❱❱ Todos os habitantes amazônicos têm direito a água limpa e saudável.
para estudá-la, para tirada da floresta (Usaid, 2005; Marengo et ficadas na Bolívia e na Colômbia, entre elas a
al., 2006; Troncoso; Carneiro; Tomasella, Amazônia, à qual se atribui um grande poten-
explorar a floresta, não 2007). Desse modo, havendo menos cober- cial (García et al., 2001; Van Damme, 2002; ❱❱❱ A contribuição das águas subterrâneas de Letícia (fronteira tripartite Brasil-Colôm-
de forma extrativista, tura vegetal, reduz-se a evapotranspiração e, Instituto Colombiano de Geografia e Minera- aos serviços públicos é relativamente peque- bia-Peru), é sabido que a prática de cons-
ainda, promove-se a erosão e um aumento ção [Ingeominas], 2004). O Brasil também na em relação a suas grandes possibilidades. truir poços pouco profundos, para assegurar A PRODUÇÃO
mas de uma maneira do escoamento superficial, em conseqüên- confirma tal potencial e indica que o elevado Por exemplo, no Brasil, o estado do Amazo- o abastecimento contínuo e abundante de DE ÁGUA
totalmente nova. O cia da queda direta da chuva sobre o solo índice pluviométrico e a abundante água su- nas usa 25% de suas fontes subterrâneas de água limpa, difundiu-se entre as comunida- SUBTERRÂNEA
desprotegido. Esse aumento no escoamento perficial favorecem a recarga dos sistemas de água disponível para abastecimento público; des indígenas da margem do rio Amazonas e EM ALGUMAS
Brasil deveria liderar superficial, por sua vez, implica uma maior aqüíferos (Pedrosa; Caetano, 2002). as famílias da zona urbana (Nippon Koei Lac
ÁREAS
o desenvolvimento vazão na bacia, acelerando a saída de água ❱❱❱ Na região há um grande número de po- Co.; Comunidad Andina; Water and Sanita-
PERMITIRIA
do sistema. Assim, o serviço ambiental pres- Embora não se possa precisar a oferta de ços rasos domésticos. Por exemplo, na cida- tion Program [WSP], 2005).
da nova economia da tado pela bacia amazônica como reguladora água subterrânea, identificaram-se diversas de de Belém, Brasil, contabilizou-se um total
ABASTECER
CIDADES COM
floresta.” do ciclo hidrológico, que vai além da própria atividades que fazem uso dela. Assim, por de 20.000 poços, utilizados em residências, Na Guiana e no Suriname, países amazô-
POPULAÇÕES DE
bacia, influenciando o equilíbrio hídrico dos exemplo, Pedrosa e Caetano (2002) apon- hotéis, hospitais, pequenas indústrias, etc. A nicos costeiros, o sistema aqüífero litorâneo
países da América do Sul, está se perden- tam uma série de usos no âmbito da Amazô- construção e conservação precárias desses é a fonte mais importante de água subterrâ- 20.000 A 70.000
do cada vez em maior proporção (Nepstad; nia brasileira, que poderiam ser a tendência poços fazem deles um foco de contaminação nea – na Guiana, abastece 90% da população HABITANTES
Campos, 2006; Troncoso; Carneiro; Toma- geral em outros países: dos aqüíferos. que reside nas áreas baixas (US Army Corps of COM UMA ÚNICA
sella, 2007). Engineers Mobile District and Topographic En- PERFURAÇÃO.
Carlos Nobre, Científico ❱❱❱ A maior parte da água subterrânea se No Peru, segundo o Inrena (2006), foram gineering Center, 2001, Guiana: EPA, 2007).
del Instituto Nacional Águas subterrâneas destina ao consumo humano, e a porcen- contabilizados 2.802 poços residenciais, sete
de Investigaciones Somando-se ao anterior panorama o po- tagem de água utilizada em outras ativida- agrícolas, 20 pecuários e 10 de uso indus- Diversos estudos na América Latina in-
Espaciales – INPE, Brasil. tencial da região no que se refere a águas des (irrigação, pecuária, indústria, etc.) é trial na cidade de Pucallpa (bacia do Ucayali). dicam que, em algumas áreas, a produção
subterrâneas, a respeito do qual não são inferior a 10%; Com relação à área de influência da cidade de água subterrânea é de 200 a 700 m3 /
152
CAPÍTULO3
A Amazônia hoje >153
TABELA 3.10
hora, o suficiente para abastecer cidades de tros urbanos, esses serviços são precários
Estimativa de resíduos sólidos e de lixiviados produzidos na bacia amazônica
20.000 a 70.000 habitantes com uma única ou inexistentes, embora estejam incluídos
perfuração (Unesco, 1996, citado em Global nos indicadores médios (Nippon Koei Lac O ABASTECIMENTO
PAÍS RESÍDUOS SÓLIDOS (T)* CÁLCULO DE LIXIVIADOS (L/S)** RESÍDUOS SÓLIDOS LANÇADOS AOS RIOS (T)
Water Partnership [GWP] – South American Co., 2005, Supelano, 2006) (ver a seção DE ÁGUA POR MEIO
Technical Advisory Committee [Samtac], 3.5 para mais detalhes sobre algumas cida- 94.275 5 18.855
DE REDE LOCAL FOI BOLÍVIA
2000). Esses dados sinalizam uma oportu- des). A esse respeito, o Brasil é o país que
nidade para avaliar a disponibilidade hídrica apresenta os melhores indicadores globais, RELATADO PARA
BRASIL 5.438.584 388 1.087.716
dos aqüíferos subterrâneos em nível regional seguido por Bolívia e Peru. QUASE
80%
e, principalmente, para definir, entre os paí- COLÔMBIA 254.802 24 50.960
ses da bacia, parâmetros mínimos para um As condições das áreas rurais na Ama-
aproveitamento adequado, de acordo com a zônia relativas ao uso e a serviços de água EQUADOR 47.654 6 9.530
origem, profundidade e destinação da água podem variar. O abastecimento de água por
que possa ser captada desses reservatórios. meio de rede local está presente em quase DAS POPULAÇÕES AO
GUIANA - - -
80% dos centros urbanos ao longo da calha LONGO DA CALHA
USOS MÚLTIPLOS E QUALIDA- central do rio Amazonas (com restrições no CENTRAL DO RIO PERU 2.445.906 155 489.181
DE DOS RECURSOS HÍDRICOS horário de serviço). O maior problema en- AMAZONAS.
frentado por essas cidades é a baixa quali- SURINAME 90.000 7 18.000
Os recursos hídricos na Amazônia destinam- dade dos serviços de saneamento básico
se principalmente às atividades agrícolas e (esgoto, fossas sépticas), que se torna mais VENEZUELA 37.000 3 7.400
pecuárias, seguidas por outros usos indus- grave próximo da fronteira entre a Colômbia O esgoto da
triais. Todas elas geram impacto na qualidade e o Peru. Isso significa que as águas servidas TOTAL AMAZÔNIA 8.408.224 589 1.681.644
do recurso, em maior ou menor escala. Por e residuais da maior parte dos centros popu-
maioria dos centros
outro lado, apesar de abundante na região, lacionais vão dar diretamente nos ecossiste- povoados é lançado * Para a estimativa de resíduos sólidos, multiplicou-se a taxa de produção per capita na bacia (0,2 – 0,4 t/ano) pelos dados populacionais de cada país.
a cobertura do abastecimento de água para mas aquáticos próximos às residências, sem
consumo da população amazônica é ainda receber nenhum tipo de tratamento, o que diretamente nos ** A fórmula empregada para o cálculo da vazão de lixiviados é Q = K x NT x LIA x 1 litro, na qual Q = vazão em l/s; e K = constante de permeabilidade. Para os locais
protegidos com material de cobertura, K = 0,1; e, para os desprovidos de material de cobertura, com os resíduos ao ar livre, K = 0,6. NT = quantidade total de resíduos
reduzida, o que leva a crer que se trata de um faz delas o principal vetor de doenças como despejados no local em toneladas. LIA = média da precipitação anual em mm/ano. Para desenvolver a fórmula, considera-se o valor de 0,6 para a constante e a exis-
TABELA 3.11
mento [Fobomade], 2005). Calcula-se que derrames, o que, somado às estratégias de
QUadro 3.6
Volume de águas residuais (salmoura) originadas
o meio ambiente na Amazônia brasileira biossegurança e aos cuidados preliminares
pela atividade petrolífera na Amazônia
O GLIFOSATO E SUAS CONCENTRAÇÕES: tenha recebido 2.300 toneladas de mercú- EM MÉDIA SÃO a serem adotados pelas empresas petrolífe-
IMPACTO SOBRE OS PEIXES NATIVOS rio até 1994, e que essa taxa seja de 150 UTILIZADOS ras, permite supor que os efeitos negativos
2,5
t/ano atualmente (Mann, 2001; Programa poderiam ser minimizados de forma mais
das Nações Unidas para o Desenvolvimento eficaz (GWP-Samtac, 2000). PAÍS PRODUÇÃO DE SALMOURA (BARRIS/ANO)
No Instituto de Aquicultura dos Llanos (IALL), [PNUD], Tratado de Cooperação Amazônica
da Colômbia, foram conduzidos experimentos [TCA]; Banco Interamericano de Desenvol- De todos os usos dados ao recurso hí-
COLÔMBIA 11.529.465
de toxicidade (concentração letal 50 – CL50) vimento [BID], 1992). BARRIS DE ÁGUA drico na bacia amazônica, o hidrelétrico é o
para o glifosato (120 mg/l-1) em pirapitinga POR BARRIL que definitivamente demanda maiores vo-
(Piaractus brachypomus). Como resultados, A esse respeito, pesquisas recentes lumes e, na mesma medida, gera maiores
BOLÍVIA s.i.
DE PETRÓLEO
observaram-se: uma ação tóxica nas guelras, no verificaram a ocorrência natural de certa impactos. Nesse sentido, se, por um lado, os
fígado, nos rins, na pele e no cérebro dos peixes; quantidade de mercúrio no meio ambien- EXTRAÍDO NA países andino-amazônicos ainda não apro- BRASIL 41.883.750
redução do nado e da freqüência respiratória; te, e estimam que a exploração de ouro AMAZÔNIA. veitaram tal potencial, por outro, o Brasil já
e retardamento de resposta a estímulos. Os contribuiria apenas com 3% do mercúrio conta com 24 hidroelétricas instaladas, que EQUADOR 496.030.437
autores recomendam avaliar as concentrações total presente na bacia. Por isso, é pre- alagaram mais de 11.700 km2 do território
de glifosato presentes nos corpos d’água próxi- ciso analisar com cautela a questão da amazônico (Brasil: Ministério de Minas e GUIANA s.i.
mos às áreas de pulverização, a fim de definir a bioacumulação de mercúrio em peixes Energia, 2006; Lopes; Cardoso, 2006; GEO
susceptibilidade das espécies neles presentes. migratórios que chegam a regiões onde Brasil – Recursos Hídricos, 2007). PERU 41.251.537
não há atividade mineral, mas que serão
Fonte: Eslava; Ramírez; Rondón (2007).
consumidos pela população, motivo que Para obter um Os problemas diretamente ligados a SURINAME s.i.
faz deste um problema regional (Swee- essas áreas alagadas são o assoreamento,
ting; Clark, 2000; Crossa; Alonso, 2001;
grama de ouro, o crescimento exagerado de macrófitas, a VENEZUELA s.i.
Goulding; Barthem; Ferreira, 2003a; Bar- são utilizados diminuição da pesca à jusante das repre-
glifosato, herbicida cujos níveis de pulverização variam them et al., 2004). De todo modo, esse sas e um aumento no número de casos TOTAL 590.695.189
entre 17 e 30 l/ha e que demonstrou ter efeitos adversos processo tem como efeito alterações no de um a três de doenças que têm como vetores orga-
nos organismos dos ecossistemas aquáticos (Eslava; Ra- pH da água (<4) na região em questão, nismos aquáticos (Goulding et al., 2003;
mírez; Rondón 2007). acidificando os corpos receptores e limi-
gramas de Oliveira, 2003). Com a construção dessas
Fonte: Ministério de Minas e Energia da Colômbia (<http://www.minminas.gov.co>); Ministério de Minas
e Energia do Brasil (<http://www.mme.gov.br>); Ministério de Minas e Energia do Ecuador (<http://www.
menergia.gov.ec>); Instituto Nacional de Estatística e Informática (<http://www.inei.gob.pe>).
tando a presença da flora e fauna aquáti- mercúrio, além barragens, verificou-se que o represamen-
O uso de água pelo setor industrial não ultrapassa 4,0 ca, e, em certos casos, a contaminação do to dos rios não havia afetado o fluxo do
m3 /s por país, e está mais relacionado com os grandes lençol freático (Van Damme, 2002, Osava; de cianureto escoamento na região; quanto a alterações
centros urbanos. No entanto, essa cifra deve estar subes- 2005, Salazar; Benites, 2006).
e detergentes. no ciclo de descarga, não há evidências de
Quadro 3.7
A geração
timada, posto que a maioria das indústrias utiliza água do redução anual na vazão dos rios amazôni-
subsolo por meio de poços, e esse tipo de captação não A extração de petróleo também utiliza Isso significa cos (Oliveira, 2003). A represa de Afobaka,
EFEITOS SOCIOAMBIENTAIS CAUSADOS POR EM- hidrelétrica
PREENDIMENTOS HIDRELÉTRICOS: A REPRESA
foi quantificado de maneira adequada (Pedrosa; Caetano, volumes significativos de água. Para cada
que são
no Suriname, apresentou alguns dos incon-
DE AFOBAKA EM SURINAME requer um
2002). A mineração, por outro lado, demanda grandes barril de petróleo extraído, empregam-se, venientes que podem advir das obras de
quantidades de água, como no caso da exploração de em média, 2,5 barris de água, que sai enri-
lançados cerca infra-estrutura hidrelétrica. enorme volume
ouro com o uso de dragas. As dragas processam milhares quecida sob a forma de salmoura (sulfatos,
de litros por segundo, misturados, porém, com os sedi- bicarbonatos e cloretos/± 200.000 ppm). de 24 kg de ESTADO DOS ECOSSISTEMAS A construção da represa de Afobaka (Brokopon-
de água, sendo
mentos das áreas desmatadas ou do leito dos rios onde a Estima-se que, por ano, sejam produzidos
mercúrio por
AQUÁTICOS do), em 1963, pela Suralco, filial da empresa responsável
exploração é conduzida. Essa atividade é responsável pelo até 590 milhões de barris de água residual estadunidense Alcoa, com o objetivo de fornecer
aumento dos sólidos em suspensão nos corpos d’água e (tabela 3.13). Diluir esses sais a concentra- quilômetro Os tipos de água e sua qualidade são aspec- eletricidade a suas usinas de alumínio, implicou pelos maiores
por alterar o funcionamento do hábitat natural das espé- ções próximas às das águas amazônicas (± tos amplamente estudados nos países que a inundação da metade do território do povo
cies aquáticas (Goulding; Barthem; Ferreira, 2003a, Bar- 7 ppm) requer pelo menos 3,75 m3 /s por quadrado de pertencem à bacia amazônica (Salati, 1983; Saramacca (1.560 km2), deslocando 6.000 habi-
impactos
them et al., 2004). cada 1.000 barris diários (Gómez, 1995a;
rio.
Sioli, 1984; Junk, 1997; Mcclain; Victoria; Ri- tantes. A decomposição da vegetação submersa ambientais.
GWP-Samtac, 2000; Martínez, 2005). No chey, 2001). O aspecto mais estudado é a produziu gás sulfúrico em grandes quantidades,
Entretanto, o problema mais sério está relacionado caso particular da Colômbia, os contínuos caracterização físico-química das águas ama- tornando a água ácida devido à falta de oxigênio
com o emprego de químicos na extração de ouro. Esti- atentados contra a infra-estrutura de petró- zônicas; taxonomia e ecologia do fitoplânc- e causando a morte da flora e fauna da bacia.
ma-se que, para obter um grama de ouro, sejam utiliza- leo provocaram derrames estimados em ton e do zooplâncton, macroinvertebrados e
dos de um a três gramas de mercúrio, além de cianureto 5.000 barris por dia, que afetaram os solos produtividade vêm a seguir. Esse conjunto de
Fonte: World Rainforest Movement [WRM] (2000).
e detergentes. Isso significa que são lançados cerca de e as águas circundantes (Ecopetrol, 2003). referências ilustra o mosaico de ambientes
24 kg de mercúrio para cada quilômetro quadrado de rio aquáticos amazônicos que dão origem à sig-
(Gómez, 1995b; Sweeting; Clark, 2000; GWP-Samtac Acredita-se que, graças a sua grande nificativa diversidade de organismos aquáti-
2000; Mann, 2001; Franco; Valdés, 2005; Ibish; Mérida, vazão, os sistemas fluviais amazônicos têm cos e que sustentam atividades extrativas tão
2004; Fórum Boliviano Meio Ambiente e Desenvolvi- alta capacidade para diluir salmouras ou importantes como a pesca.
156
CAPÍTULO3
A Amazônia hoje >157
Quadro 3.8
SEDIMENTOS NOS RIOS AMAZÔNICOS
GRÁFICO 3.3
Desembarque médio anual por país no período 1988-1998 (a) e estimativa do
consumo de peixe dos habitantes rurais e ribeirinhos na Amazônia (b)
(a) (b)
t/ano t/ano
160.000 160.000
140.000 140.000
120.000 120.000
100.000 100.000
80.000 80.000
60.000 60.000
40.000 40.000
20.000 20.000
Fonte: adaptado de Barthem, Guerra y Valderrama (1995); Tello (1998); Perú: Fonte: adaptado de Cerdeira, Ruffino e Isaac (1997); Batista, Inhamus, Freitas y
Direpe (2001); Barthem (2004); Batista (2004); Batista, Isaac y Viana (2004); Freire (1998); Fabré y Alonso (1998); Agudelo, Alonso y Moya (2006).
Isaac, Milstein y Ruffino (2004); Viana (2004); Junior y Almeida (2006); Colom-
bia: Incoder (2006).
❱❱❱ Os peixes dos rios amazônicos encontram-se na base da alimentação dos povos da região.
Gráfico 3.4
Principais espécies desembarcadas no Brasil, Colômbia e Peru* no período 1994-1996 e em 2000
A aqüicultura não pode ser
150
ESPÉCIES
A. ANO 1994 C. ANO 1996
ORNAMENTAIS concebida como um substituto
35.000 Toneladas 35.000
Toneladas
FORAM REGISTRADAS à pesca tradicional, mas sim
30.000 30.000
NA COLÔMBIA E NO PERU PARA
25.000 25.000
EXPORTAÇÃO, ENTRE ELAS como uma alternativa viável na
20.000 20.000
OTOCINCLOS E ARAUANAS. Amazônia.
15.000 15.000
10.000 10.000
5.000 5.000
0 0 Em razão do caráter migratório e transfronteiriço das ao passo que a da pesca seja a exportação, a preços de
BAV PRN SEM PSE MYL BRA BRY POT TRI HYP HOP PLA COL BAV PRN SEM PSE MYL BRA BRY POT TRI HYP HOP PLA COL principais espécies que sustentam a pesca na Amazô- mercado mais elevados (Almeida et al., 2006).
Espécies Espécies nia, seria conveniente integrar o conhecimento básico de
cada país sobre as espécies, assim como as iniciativas Os peixes ornamentais são também um exemplo da
B. ANO 1995 D. ANO 2000 de operação e de administração pesqueira dos países. biodiversidade amazônica no que diz respeito à pesca.
Toneladas 35.000 Toneladas 35.000 Tal integração permitirá chegar a acordos internacionais No mundo, as exportações anuais de peixes ornamen-
30.000 30.000 para controlar o setor de pesca, definir instrumentos de tais ultrapassam US$200 milhões, dos quais a Amazônia,
25.000 25.000
menor impacto e incluir áreas estratégicas de preserva- dependendo do ano, responde por entre US$6 milhões
ção para as diferentes etapas de desenvolvimento das e US$11,5 milhões por ano, que correspondem a cerca
20.000 20.000
espécies (p.ex., desova, reprodução e crescimento) (Ru- de 20 a 25 milhões de unidades vivas/ano das 30 a
15.000 15.000 ffino; Barthem, 1996; Barthem; Goulding, 1997; Agu- 50 espécies mais aproveitadas (gráfico 3.5). O Brasil se
10.000 10.000 delo et al., 2000; Ruffino, 2000; Petrere, 2001; Alonso; destaca como produtor, com 16 milhões de unidades,
5.000 5.000 Pirker, 2005; Fabré et al., 2005; Alonso et al., 2006; seguido pelo Peru, com 9 milhões, e pela Colômbia, com
0 0 Barthem; Goulding, 2007). É preciso proteger as rotas 1,9 milhões (gráfico 3.6) (FAO 2002; Perdomo, 2004;
BAV PRN SEM PSE MYL BRA BRY POT TRI HYP HOP PLA COL BAV PRN SEM PSE MYL BRA BRY POT TRI HYP HOP PLA COL migratórias dos peixes durante todo o seu ciclo de vida, Pereira, 2005; Júnior; Almeida, 2006; Prang, 2006).
Espécies Espécies a fim de assegurar sua dispersão e o repovoamento dos
ambientes aquáticos. Nesse sentido, os megaprojetos Na Amazônia brasileira são comercializadas cerca de
BAV: Brachyplatystoma vaillanti (pirabutón, piramutaba, manitoa); PRN: Prochilodus nigricans (bocachico, curimatá); SEM: Sema- de infra-estrutura são as principais ameaças à conec- 180 espécies ornamentais, das quais as mais captura-
prochilodus spp. (yaraquí, jaraqui); PSE: Pseudoplatystoma spp. (pintadillo, surubim, doncella); MYL: Mylossoma spp. (palometa, tividade e ao contínuo ambiental da bacia amazônica das são o cardeal e o néon tetra (Pereira, 2005; Terra
garoupa); BRA: Brachyplatystoma rousseauxii (dorado, dourada); BRY: Brycon cephalus (sábalo, matrinxa); POT: Potamorrhina (Barthem; Goulding, 1997; Petrere, 2001; Alonso; Pirker, da Gente, 2005; Freitas; Rivas, 2007). Na Colômbia e
spp. (branquinha); TRI: Triportheus spp. (sardina, sardinha); HYP: Hypophthalmus edentatus (mapará, maparate); HOP: hoplias 2005; Barthem; Goulding, 2007). no Peru, são exportadas mais de 150 espécies, sendo
malabaricus (traíra); PLA: Plagioscion spp. (curvinata, pescada); COL: Colossoma macropomum (gamitana, tambaqui) otocinclus e aruanãs as mais representativas (Perdomo,
Fonte: Adaptado de: Isaac; Milstein; Rufino (1996), Tello (1998), Peru: Direpe (2001), Barthem (2004), Batista (2004), Isaac; Milstein; Rufino (2004), Viana (2004), Colôm-
Desde a década de 80, fala-se da aqüicultura como 2004; Campos-Baca, 2005; Sanabria, 2005; Rodríguez-
bia: Incoder (2006), Almeida et al. (2006), Barthem; Goulding (2007). uma alternativa viável na Amazônia, que poderia contribuir Sierra, 2007). Essa última espécie, de características
para minimizar o impacto causado pela pesca excessiva exóticas, apresenta algum nível de ameaça por ser de
* Os dados referentes ao Brasil, no período 1994-1996, incluem a pesca em Belém, Santarém e Manaus (exceto para 1996, para o qual não se dispõe de informação dos
frigoríficos de Belém); no ano 2000, incluem a pesca continental dos estados do Pará e do Amazonas. Para a Colômbia, correspondem ao volume desembarcado em Letícia; de algumas espécies, ao mesmo tempo em que permi- porte médio e apta para o consumo. São comerciali-
e, para o Peru, à região de Loreto. tiria manter ou melhorar a oferta em épocas de menor zados suas larvas e alevinos (Júnior; Almeida. 2006;
abundância no meio natural. Nesse sentido, as críticas a Rodríguez-Sierra, 2007). A soma das exportações da
respeito da aqüicultura, tachada de absurda ou antieco- Guiana, Venezuela e Equador não chegam a 2% do total
Gráfico 3.6
Gráfico 3.5 nômica diante da vocação pesqueira da bacia, devem ser comercializado nos países amazônicos (Cabrera, 2005;
Volume de pescado exportado pelo Brasil,
Exportação de pescado anual na bacia amazônica revistas no intuito de fortalecer seu potencial, tendo em Prang, 2006).
Colômbia e Peru na bacia amazônica
no período 1995-2003 (Brasil, Colômbia, Peru) vista a enorme disponibilidade de água de diferentes ti-
pos e qualidades na região (Junk, 1983; Barthem; Guerra; O comércio de aruanãs, assim como o de outras
Valor Volume
Valor US$1.000 Unidades (milhões de peixes)
Brasil Peru Colômbia
Valderama, 1995; Val; Ramos; Rabelo, 2000). espécies ornamentais, é motivo de conflitos de uso e
12.000
35 Unidades (milhões de peixes)
de legislação na fronteira entre Brasil, Colômbia e Peru.
40 De fato, essa alternativa de produção não pode ser Uma medida estratégica nesse sentido seria uma admi-
10.000 30
35
8.000 30 25 concebida como um substituto às atividades pesquei- nistração conjunta entre os países envolvidos por meio
25 20 ras tradicionais, mas sim como uma oportunidade de de planos de manejo coordenados. Desse modo, ao
6.000
20 15 desenvolvimento, que já vem recebendo apoio de al- compartilhar responsabilidades, o compromisso entre
4.000 15 guns governos, sobretudo nas proximidades dos grandes consumidores e instituições produziria efeitos mais con-
10
10
2.000
5 5 centros urbanos (Belém, Manaus e Iquitos) (Barthem; cretos. (FAO, 2002; Instituto Colombiano de Desenvol-
0 0 0 Goulding, 2007). É possível que a perspectiva da aqüi- vimento Rural/Traffic – América do Sul/World Wildlife
1995 96 97 98 99 2000 01 02 03 1995 96 97 98 99 2000 01 02 03 cultura seja abastecer os mercados locais a baixo custo, Fund – Colômbia, 2005).
162
CAPÍTULO3
A Amazônia hoje >163
AUTORA:
ROSÁRIO GÓMEZ - Centro de Pesquisas da Universidad del
Pacífico (CIUP) – Peru
CO-AUTORES:
MARLÚCIA BONIFACIO - Instituto del Hombre y el Medio
Ambiente de la Amazonía (Imazon) – Brasil
ELSA GALARZA - Centro de Pesquisas da Universidad del
Pacífico (CIUP) – Peru
CAMILO GONZALEZ - Ministério do Ambiente – Equador
URIEL MÚRCIA - Instituto Amazônico de Pesquisas Científicas,
Sinchi – Colômbia
LUIS ALBERTO OLIVEROS - Organização do Tratado de Coo-
peração Amazônica (OTCA)
RITA PISCOYA - Instituto Nacional de Colonização e Reforma
Agrária (INCRA) – Brasil
FERNANDO RODRÍGUEZ - Instituto de Pesquisas da Amazô-
nia Peruana (IIAP) – Peru
MURIEL SARAGOUSSI - Ministério do Meio Ambiente – Brasil
3.4|SISTEMAS
AGROPRODUTIVOS
Os sistemas agroprodutivos compreendem o manejo, pela população,
do conjunto de recursos biológicos e naturais com o fim de produzir
alimentos e outros bens não-alimentícios, assim como de conservar
serviços ecossistêmicos importantes para a sociedade. Diversos siste-
mas agroprodutivos são desenvolvidos na Amazônia, através dos quais
se aproveita a riqueza da região em matéria de serviços ecossistêmicos.
Entretanto, tais sistemas se desenvolvem e funcionam de forma diferen-
ciada entre os países da região, inclusive no contexto de cada país.
TABELA 3.12
cado internacional, aproveitando a disponi-
Amazônia: agricultura e pecuária
bilidade de terras a um custo relativamente
baixo. O crescimento acelerado da soja
produziu mudanças nos padrões sociais e
produtivos da região, tanto nas áreas pro-
BOLÍVIA BRASIL COLÔMBIA EQUADOR GUIANA PERU SURINAME VENEZUELA dutoras como nas de influência.
foto coca o soya
O caráter mecanizado da sojicultura faz
AGRICULTURA com que as regiões planas sejam as mais
adequadas para a lavoura. A produção de
soja em grande escala apresenta a menor
ARROZ
exigência em matéria de mão-de-obra (um
trabalhador para cada 170-200 ha), em com-
CAFÉ paração com outras culturas. As extensas la-
vouras dependem de aviões para a aplicação
QUADRO 3.13
devido aos problemas associados à concessão de direi-
BRASIL: MÃO-DE-OBRA ESCRAVA NA
tos de propriedade e a informações incompletas, que
PRODUÇÃO AGRÍCOLA NA AMAZÔNIA
os impedem de funcionar com eficiência. Tal situação
estimula um descumprimento reiterado das normas,
uma superposição dos direitos de propriedade e a ge- Entre 1960 e 1970, o trabalho escravo moderno foi
ração de direitos de propriedade precários, baseados introduzido no Brasil como resultado da expansão da
não em títulos, mas sim na posse. agricultura moderna na Amazônia. A mão-de-obra
provinha de locais com escassas oportunidades de empre-
Os sistemas agroprodutivos se desenvolveram para- go e acesso limitado à terra e a serviços financeiros. Além
lelamente às mudanças estruturais na propriedade da disso, o agronegócio de grande escala gerou uma forte
terra. Nesse sentido, os países amazônicos realizaram pressão sobre os recursos naturais da região, promovendo
reformas agrárias com a finalidade de reduzir a concen- um processo acelerado de desmatamento e o aumento
tração da terra, tendo conseguido diferentes resultados. de mão-de-obra escrava.
No Brasil, a maior parte da terra na Amazônia Legal é de
domínio público ou pertence ao governo federal. Le- O estudo de Sharma estima entre 25.000 e 40.000 o
galmente, as terras podem ser vendidas a grandes pro- número de trabalhadores em condições análogas à
A adoção de inovações tecnológicas pode na articulação entre os saberes locais rela- Os sistemas agroprodutivos não-susten- terra, à expulsão de populações locais, ao
“É provável que ser vista nas unidades produtivas de grande cionados à melhoria da produtividade e da táveis (monoculturas e pecuária de grande aumento de trabalho precário ou escravo,
a Terra tenha porte. Nesse caso, os produtores-empre- eficiência nos sistemas agroprodutivos e as escala) geram impactos ambientais, sociais à maior incidência de doenças por con- NA REGIÃO
sofrido mais sários dispõem de informação sobre novas propostas tecnológicas. e econômicos adversos. Entre os impactos taminação da água e ao agravamento da AMAZÔNICA
tecnologias, bem como dos recursos neces- ambientais, destacam-se o desmatamento, insegurança alimentar da população local, HÁ TAMBÉM
danos no século sários para ter acesso àquelas mais apropria- Ademais, há assimetrias no acesso a a exploração agrícola e pecuária além da devido a mudanças nas características do INICIATIVAS
das a sua atividade. As evidências mostram informações sobre produção e comercia- capacidade de suporte do solo, a erosão hábitat que encarecem o acesso aos ali-
XX do que em que o desenvolvimento produtivo e o uso de lização. Isso significa que a defasagem nas de solos, a contaminação da água por uso mentos (Segrelles, 2007). Os impactos
PRIVADAS E
toda a história da PROGRAMAS
tecnologia nem sempre valorizam os serviços informações sobre alternativas tecnológicas, intensivo de agroquímicos e a perda de bio- econômicos incluem a elevação dos cus-
PÚBLICOS
humanidade.” ecossistêmicos; ao contrário, o crescimento
econômico ocorre freqüentemente às ex-
clima, boas práticas agrícolas, preços interna-
cionais, volumes de exportação e estabiliza-
diversidade, dentre outros. O uso intensivo
do solo se traduz na perda de suas proprie-
tos de produção decorrente do maior uso
de agroquímicos, que vêm sendo cada vez VOLTADOS PARA
pensas desses. No caso de unidades produ- ção da concorrência, preferências e exigên- dades físicas, químicas e biogeoquímicas. mais empregados para compensar a perda A PROMOÇÃO DE
tivas de menor porte, é comum a adoção de cias comerciais nos mercados de destino, Como resultado, os serviços ecossistêmi- de fertilidade do solo. Além disso, os cus- UMA AMAZÔNIA
práticas produtivas próprias de regiões com alternativas de canais de comercialização e cos de provisão, regulação e suporte são tos econômicos intertemporais associados SUSTENTÁVEL.
quantidade e qualidade de recursos naturais boas práticas comerciais produzem decisões seriamente afetados. às restrições impostas pelo mercado em
JACQUES YVES COUSTEAU diferentes (p.ex., solo), sem levar em consi- em um contexto de maior incerteza do que razão de práticas agrícolas e de fabricação
(1910-1997), OCEANÓGRAFO deração a fragilidade dos ecossistemas ama- ocorre naturalmente no comércio de produ- Os impactos sociais se referem ao inadequadas aumentam em face da degra-
E EXPLORADOR FRANCÊS zônicos. Além disso, há uma clara limitação tos agropecuários. maior número de conflitos pelo acesso à dação dos serviços ecossistêmicos.
174
CAPÍTULO3
A Amazônia hoje >175
60%
produtivo amazônico, com base em um critério de susten- promovidos desde 2003. Para tanto, o Insti- andinos, o café é um cultivo va e uma diminuição do desmatamento. A (Colômbia: Sinchi, 2007).
comercial cada vez mais
tabilidade e atendendo às exigências de mercados especia- tuto Nacional de Colonização e Reforma Agrá- Embrapa também desenvolve alternativas
presente.
lizados. Nesse sentido, cita-se a produção crescente de café ria (Incra) criou programas alternativos para de manejo pecuário, e isso demonstra que a O Instituto de Pesquisas da Amazônia Peru-
orgânico. Tradicionalmente, o café sempre foi um importante a Amazônia Legal, tais como assentamentos pecuária sustentável é possível com base em ana (IIAP) desenvolve e dissemina alternativas
produto no rol de exportações para países como Colômbia, agroextrativistas, projetos de desenvolvimento tecnologias mais produtivas e na delimitação produtivas que promovem o desenvolvimen- DA ÁREA TOTAL
Equador e Peru. No entanto, a crise nos preços internacionais sustentável e projetos florestais (Brasil: Minis- de áreas de acordo com sua capacidade de to de sistemas produtivos sustentáveis. Entre DE SOLOS
incentivou a adoção de estratégias de diferenciação (café tério do Desenvolvimento Agrário, 2006). uso agrícola ou pecuário. esses projetos, encontram-se: diversificação DEGRADADOS PELA
premium e café especial, no qual se inclui o café orgânico). dos sistemas de produção de frutas nativas da
EROSÃO ESTÃO
Hoje, a produção orgânica de café é uma alternativa para Além disso, a Empresa Brasileira de Pes- Na Colômbia, o Instituto Amazônico de Pes- Amazônia em comunidades da área de influ-
os pequenos produtores do piemonte amazônico (p.ex., de quisa Agropecuária (Embrapa) cria e disse- quisas Científicas (Sinchi) está implementando ência da rodovia Iquitos-Nauta; melhoramento LOCALIZADOS NA
Caquetá, na Colômbia, San Martín e Amazonas, no Peru, e mina sistemas de produção agropecuária e o Programa de Pesquisa em Sistemas Produti- genético do camu-camu visando à sua pro- AMAZÔNIA.
Orellana, no Equador), uma vez que o café orgânico atinge florestal integrados, com o objetivo de me- vos Sustentáveis, por meio do qual identifica, dução em solos inundáveis; melhoramento
o dobro da cotação do café tradicional. A formação e a con- lhorar a sustentabilidade econômica e eco- avalia, sistematiza e melhora espécies, bem de espécies vegetais para a conservação de
solidação de cadeias produtivas promovem a organização lógica das unidades produtivas. Com esses como desenvolve e transfere tecnologias ba- espécies e ecossistemas; e desenvolvimento
da produção e da comercialização, reduzindo os custos de sistemas, busca melhorar a fertilidade do solo seadas na recuperação e no fortalecimento do tecnológico e uso sustentável de produtos de
transação e melhorando o acesso aos mercados. por meio da rotação lavoura-pastagem e da conhecimento de comunidades tradicionais e bioexportação (Peru: IIAP, 2001).
176
CAPÍTULO3
A Amazônia hoje >177
HÁ MOMENTOS EM QUE É DIFÍCIL DISTINGUIR
O LIMIAR ENTRE O RURAL E O URBANO NOS
AUTORA:
ELSA GALARZA - Centro de Pesquisa da Universidad del
ASSENTAMENTOS AMAZÔNICOS.
Pacífico (CIUP) – Peru
CO-AUTORES:
ROSARIO GÓMEZ - Centro de Pesquisa da Universidad del
Pacífico (CIUP) – Peru
LUIS ALBERTO OLIVEROS - Organização do Tratado de
Cooperação Amazônica (OTCA)
KAKUKO NAGATANI - Programa das Nações Unidas para o
Meio Ambiente (PNUMA)
3.5|AssentamentoS
humanos
A atual situação demográfica da região amazônica (38.777.600 habi-
tantes e densidade populacional de 4,2 hab/km² no período 2000-
2007), como já foi referido no capítulo 2, é resultado de um longo
processo de ocupação humana, que deita por terra a crença do “vazio
demográfico”, a qual ainda prevalece entre aqueles que não são da re-
gião (Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento [PNUD];
Tratado de Cooperação Amazônica [TCA]; Banco Interamericano de
Desenvolvimento [BID], 1992). A configuração territorial da Amazônia
de hoje é uma expressão espacial dos processos naturais, econô-
MIGUEL BELLIDO / EL COMERCIO
Quadro 3.14
Como foi mencionado no capítulo 2, em 2001 ha-
CIDADES AMAZÔNICAS E SUAS
via uma predominância de população urbana nos países
ÁREAS DE INFLUÊNCIA
amazônicos, com exceção da Amazônia equatoriana e da
guianesa, onde a parcela rural da população era de 70%.
Porto Velho De um modo geral, 62,8% da população amazônica é
A área de influência de Porto Velho engloba quatro urbana, ou seja, aproximadamente 21 milhões de pesso-
municípios contíguos e outros cinco centros as. Na Guiana, quatro das dez regiões administrativas do
urbanos ao longo da rodovia BR-364, que constitui país têm centros urbanos, e sua população, somada à da
a principal referência de circulação entre os assenta- capital, Georgetown, contava com 339.873 habitantes, ou
mentos rurais existentes. 45,2% da população, em 2002. O restante da população
vivia em vilas ao longo da faixa costeira, e um número
menor de habitantes disperso no interior do país.
brasileiras de Manaus e Belém são as maiores da região, O Peru apresenta uma população amazônica de apro- A Amazônia viveu um processo de urbanização acelerado e Planejamento (2000).
com 1,6 e 1,4 milhão de habitantes, nessa ordem. A po- ximadamente 4,3 milhões de habitantes, com um cresci- não-planejado, que levou aproximadamente 63,7% de sua
pulação de quatro cidades – Belém, Manaus, São Luis e mento anual médio de 1,7% no período de 1993-2005. população, ou seja, 21,3 milhões de pessoas, a morar em
Cuiabá – totalizou 4,5 milhões de habitantes em 2007, re- Apesar de a região amazônica ocupar a maior parte do cidades. Podem-se distinguir cidades grandes com mais de
presentando aproximadamente 18% de toda a população território peruano, é a menos povoada. Entretanto, nos um milhão de habitantes, como Belém e Manaus, no Brasil; agrária; no caso de Iquitos, é extrativista e, mais recentemente, de ser-
amazônica do Brasil (Brasil: Ministério do Meio Ambiente; departamentos amazônicos, 61,7% da população é consi- Santa Cruz, na Bolívia; e outro grupo de cidades médias viços. Na Colômbia, as capitais departamentais têm menos de 50.000
Ministério da Integração Nacional, 2006). derada urbana. Iquitos, Pucallpa e Tarapoto são as cidades com mais de 200.000 habitantes, como Iquitos e Pucallpa, habitantes, exceto Florência, com 151.000; tais cidades encontram-se
mais importantes da Amazônia peruana (Peru: Instituto no Peru; Rio Branco, Macapá, Imperatriz, São Luís, Cuiabá, desconectadas umas das outras. Na Bolívia, a maioria das cidades
Na Amazônia colombiana, a maioria da população Nacional de Estatística e Informática [INEI], 2007). Várzea Grande, Ananindeua, Santarém, Porto Velho e Boa está conectada por via terrestre com os principais centros urbanos e
reside nos departamentos de Caquetá, Putumayo, Gua- Vista, no Brasil; Paramaribo, no Suriname; e Georgetown, econômicos do país, com exceção de Cobija.
viare e Amazonas, que somaram 960.239 habitantes A Amazônia venezuelana tem uma das menores po- na Guiana (ver tabela 3.13).
em 2005, com uma porcentagem urbana média de pulações (70.000 habitantes em 2001) e uma densidade A rede urbana da Amazônia Legal brasileira está estruturada em
49,6%. As cidades com maior população são Florência, de apenas 0,38 habitante por km². Desse total, 75,2% As cidades amazônicas experimentaram diferentes quatro grandes sistemas: Manaus, Belém, São Luís e Cuiabá, e nas
San José del Guaviare, Puerto Assis e Letícia (Colôm- são considerados urbanos e vivem na cidade de Puerto tipos de desenvolvimento, o qual foi condicionado por di- aglomerações urbanas de Goiânia, Brasília, Teresina e Timon, que,
bia: Departamento Administrativo Nacional de Estatís- Ayacucho, capital do estado de Amazonas. versos processos, como referido no capítulo 2. Por exem- apesar de não pertencerem à área da Amazônia Legal brasileira, exer-
tica [DANE], 2007) plo, no caso das cidades do Peru, existem duas grandes cem influência sobre uma extensa área fronteiriça (Ministério do Meio
O Suriname e a Guiana consideram toda sua população formas de organização e desenvolvimento: na floresta Ambiente do Brasil, 2006c). Além disso, constata-se que os núcleos
O Equador registrou uma população amazônica de como amazônica. Paramaribo e Demerara-Mahaica são, de terras baixas, ou Amazônia inundável, como Iquitos, urbanos principais geram dinâmicas de crescimento sobre núcleos
629.000 habitantes em 2006, e a população que vive nessa ordem, seus departamentos mais populosos. As ca- o desenvolvimento da ocupação humana deu-se de for- urbanos menores. Assim, a região metropolitana de Belém possui
em áreas urbanas corresponde a 24,9% do total. No pitais de ambos os países, Paramaribo (242.946 habitantes ma isolada; na floresta de terras altas, há uma variedade uma população estimada de 2,15 milhões de habitantes (em 2005),
entanto, a província de Pastaza registra uma porcenta- em 2004) e Georgetown (235.017 habitantes em 2005) de pequenas e médias cidades com peso similar. Nesse dos quais 1,4 milhão se encontra no município de Belém e 740.000
gem de população urbana de 40%, sendo a cidade de são as cidades com o maior número de habitantes. último caso, a base de desenvolvimento econômico é na periferia. Manaus, que não tem área metropolitana, compreende
182
CAPÍTULO3
A Amazônia hoje >183
Nueva Loja
Macapá
Castanhal
Francisco de Orellana Ananindeua Braganta
MATO GROSSO RONDONÓPOLIS 113.032 141.838 164.969 Tingo María Santa Rosa do Purús
Porto Velho
Rio Branco
VÁRZEA GRANDE 155.307 211.303 244.185
Ariquemes
Yapacaní Montero
Santa Cruz
RONDÔNIA PORTO VELHO 229.788 273.709 304.228 Puerto Suarez
Quadro 3.17
as fontes fixas constituem as maiores emissoras de par-
AS QUEIMADAS SÃO A PRINCIPAL CAUSA DA
tículas totais em suspensão (PTS) e SO 2, com 89,52%
POLUIÇÃO ATMOSFÉRICA NAS CIDADES BRASILEIRAS
86,82% respectivamente.
A maior quantidade de CO e COV, no que se refere às Essa foi uma das constatações de pesquisa (Munic)
fontes móveis, é emitida por motocicletas e motos adapta- realizada pelo IBGE em 2002 junto às prefeituras
das para levar três passageiros (92% do CO e 95% do COV dos 5.560 municípios do país. A poluição do ar não
entre ambos os tipos de veículos). As cidades da Amazônia é um problema restrito aos grandes centros urbanos
peruana, diferentes das brasileiras por suas características brasileiros, e a sua causa mais freqüente não são as
climáticas, assim como pelo nível de renda da população e indústrias ou os veículos automotores, mas as quei-
pela cultura desta, utilizam como principal meio de transpor- madas e as ruas e estradas não-pavimentadas.
te motocicletas e moto-táxis. O uso desse tipo de transporte
gera também altos níveis de ruído na cidade. No que diz Os resultados da pesquisa indicam que 1.224 municí-
respeito às fontes fixas, na cidade de Iquitos, 84% do SO2 é pios (22% do total), entre eles o Distrito Federal (Bra-
emitido por uma única empresa, a geradora de eletricidade sília), relataram a ocorrência freqüente de poluição do
Electro Oriente (Prefeitura da Província de Maynas, 2006). ar. Nesses municípios vive quase metade da população
ENRIQUE CÚNEO / EL COMERCIO
TABELA 3.14
Destino do lixo nas regiões amazônicas do Brasil (2000)
(em porcentagem)
DESTINO DO LIXO NA AMAZÔNIA BRASILEIRA (2000)
REGIÃO QUEIMADO OU ENTER-
COLETA DIRETA COLETA INDIRETA OUTROS
RADO
O não-planejamento articulação e aplicação (Nippon Koei Lac Co., mas ambientais. O sistema de limpeza pública
2005; Corpoamazonía, 2006 [comunicação operado pela Prefeitura Municipal está sendo
do crescimento pessoal]). ampliado e modernizado a fim de aumentar
a eficiência da coleta e da disposição final dos
urbano leva ao De acordo com o IBGE (tabela 3.14), resíduos urbanos e hospitalares. A disposição
estabelecimento os estados amazônicos apresentam níveis controlada de resíduos em Manaus é conside-
de coleta de resíduos superiores a 70%, e rada boa, e o lixo recebe um tratamento ade-
de aterros a prática de queima ainda é importante no quado; no entanto a cobertura do sistema de
Maranhão, no Pará e em Rondônia. coleta precisa ser ampliada (PNUMA, 2002b).
sanitários em
áreas inadequadas Na ausência de um planejamento ade- Na cidade de Georgetown, geram-se
quado do crescimento urbano, não há uma 51.100 toneladas de resíduos sólidos por
ou à ausência de destinação correta para o estabelecimento ano, o que corresponde a 0,6-0,8 kg/hab./
dos aterros sanitários nem se estabelecem dia (Guiana: EPA, 2007). A coleta na cida-
mecanismos de mecanismos de reutilização e reciclagem dos de é realizada por funcionários terceirizados,
ENRIQUE CÚNEO / EL COMERCIO
reaproveitamento e resíduos. Desse modo, o lixo é despejado que cobrem aproximadamente 90% dos
em lixões improvisados, uma vez que não se resíduos sólidos produzidos. Esses mesmos
reciclagem do lixo. conta com outras alternativas. funcionários também coletam a maior parte A disposição de lixo
dos resíduos comerciais nas áreas em que urbano a céu aberto,
Em Manaus, a maior parte dos resíduos o serviço é prestado. Além deles, catadores sem tratamento,
sólidos é coletada de modo direto ou indire- informais fazem a coleta do lixo domiciliar por constitui uma
um determinado valor pago pela população. importante fonte de
to. Contudo, um volume significativo ainda é
contaminação nas
queimado ou depositado em terrenos baldios A coleta de resíduos sólidos em Georgetown
cidades amazônicas.
ou em cursos d´água, o que acarreta proble- provou ser eficiente nas áreas atendidas.
190
CAPÍTULO3
A Amazônia hoje >191
Iquitos, Peru
SERGIO AMARAL / OTCA
CONSERVACIÓN INTERNACIONAL
A floresta amazônica funciona como um sumidouro, absorvendo dióxido de carbono
FLORESTA AMAZÔNICA
Os habitantes da Amazônia.
Formam um complexo mosaico social e
e outros gases de efeito estufa (GEE) da atmosfera e, em contrapartida, liberando econômico. A população indígena é atualmente
oxigênio. Essa função, vital para a manutenção do equilíbrio do clima regional e uma minoria e continua vivendo na floresta.
Colonos, ribeirinhos e populações urbanas,
global, é afetada pela redução acelerada de sua área. Por meio da conservação da originalmente de diferente procedência
floresta, evitam-se perdas de biodiversidade, controla-se a erosão dos solos e geográfica, contribuíram para a construção da
diversidade cultural amazônica.
preserva-se sua função de regulação do ciclo hidrológico.
Agricultura
de grande
Corte seletivo escala
legal e ilegal
VETORES DO AS MUDANÇAS CLIMÁTICAS
Florestas tropicais no DESMATAMENTO 17 % da floresta primária da
Amazônia foram NA AMAZÔNIA
mundo. As florestas tropicais perdidos até hoje
O aumento da temperatura média da atmosfera,
úmidas, também conhecidas
como florestas ombrófilas, são o decorrente da emissão de gases de efeito estufa
bioma mais complexo do Queimadas, mineração, derivados de atividades antrópicas, ameaça as
florestas.
mundo. Ocorrem em regiões de 18% urbanização,
25%
baixa altitude nos trópicos, em
um ambiente de calor e
umidade constantes.
50 % 7% construção de
estradas e barragens VENEZUELA
É provável que o aquecimento global reduza a
precipitação na floresta amazônica em mais de
20%, especialmente na porção oriental da
Até 2030, o desmatamento poderá ser
responsável pela perda de 55% da floresta
úmida amazônica. Com isso, as chuvas serão
Num primeiro momento, o extrato A temperatura Amazônia, o que fará com que as temperaturas severamente inibidas e as estiagens mais
arbustivo do sub-bosque é aumentará até 3,5 locais aumentem em mais de 2 ºC, talvez até 8 ºC, freqüentes e acentuadas. Nos rios, milhões de
retirado. Após, as grandes árvores
são derrubadas. Esperam-se
COLÔMBIA graus e haverá uma
severa redução das
durante a segunda metade deste século. peixes irão morrer, gerando sérios impactos à
saúde e às condições de vida da população.
Desmatamento na floresta Perfil da alguns meses até que a área fique
seca para depois queimá-la.
Não gera uma chuvas no sul deste
Bolívia 2.247
As mudanças no clima
Colômbia 942
Parte significativa do
desmatamento é causada
EQUADOR afetarão insetos, rãs,
Dentre as estratégias de Ainda neste século, jacarés e tartarugas, uma
Venezuela 553 por imigrantes ou ocupantes As geleiras menores dos combate ao desmatamento 60% da Amazônia vez que variações de até
precários da floresta. De um Andes equatorianos
Equador 388 modo geral, são lavradores
na Amazônia, destacam-se serão transforma- um grau de temperatura
poderão desaparecer nos a mitigação dos impactos são suficientes para causar
Suriname 242 sem terra e desenvolvem dos em savana
próximos dez anos em negativos da pecuária e dos modificações nos hábitos
atividades agrícolas ou devido ao
Guiana 210 razão do aquecimento projetos de infra-estrutura e dessas espécies.
extrativistas sem bases aquecimento global.
global. a aceleração do processo de
Peru 123 técnicas, quer por iniciativa
ampliação da rede de áreas
própria quer respaldados
TOTAL 27.218 km2 por certas políticas públicas.
protegidas.
PERU
da floresta, contaminação). evidências de sobra da prática representando um sério risco ambiental para a etc. contribuem para aumentar a
significativa de corte ilegal. floresta e para os rios. quantidade de gases de efeito estufa na
atmosfera. TROPOSFERA
Agricultura
A soja se tornou um dos principais EN E
Tropopausa
propulsores da expansão da RGI
A SO
LAR
fronteira agrícola na Amazônia.
A atmosfera alterada retém
Outras culturas importantes são mais calor. Isso afeta o 12 km
arroz, cana-de-açúcar e frutíferas. equilíbrio natural da Terra e
aumenta sua temperatura.
As marcas
>195
SERVIÇOS ECOSSISTÊMICOS
da
BEM-ESTAR HUMANO
VULNERABILIDADE
IMPACTOS SOBRE O
IMPACTOS SOBRE OS
degradacao
ambiental 4.1
4.2 4.3
AUTORES:
JUAN CARLOS ALONSO Instituto Amazônico de Pesquisas Científicas, Sinchi – Colômbia
DOLORS ARMENTERAS Instituto Alexander von Humboldt – Colômbia
ELSA GALARZA Centro de Pesquisa da Universidad del Pacífico (CIUP) – Peru
ROSÁRIO GÓMEZ Centro de Pesquisa da Universidad del Pacífico (CIUP) – Peru
MÓNICA MORALES Instituto Amazônico de Pesquisas Científicas, Sinchi – Colômbia
CARLOS SOUZA Instituto do Homem e Meio Ambiente da Amazônia (Imazon) – Brasil
COAUTORES:
MARLUCIA BONIFACIO Museu Paraense Emílio Goeldi (MPEG) – Brasil
MARIO BAUDOIN Instituto de Ecologia / Universidade Mayor de San Andrés – Bolívia
URIEL MURCIA Instituto Amazônico de Pesquisas Científicas, Sinchi – Colômbia
LUIS ALBERTO OLIVEROS Organização do Tratado de Cooperação Amazônica (OTCA)
ALICIA ROLLA Instituto Socioambiental (ISA) – Brasil
MURIEL SARAGOUSSI Ministério do Meio Ambiente – Brasil
196
CAPÍTULO4
As marcas da degradação ambiental >197
4.1|IMPACTOSSOBREOS
serviçosecossistêmicos
Os serviços ecossistêmicos consistem nos benefícios recebidos pela
sociedade com o funcionamento dos ecossistemas. Eles podem ser
de provisão, regulação, cultural e de suporte. O serviço de provisão
consiste nos bens obtidos dos ecossistemas, tais como alimentos,
fibras, minerais e combustível. O de regulação compreende processos
diversos, por exemplo, autodepuração do ar e da água, absorção de
carbono, regulação do clima e do ciclo hidrológico. O serviço cultural
refere-se aos benefícios intangíveis de que goza o ser humano, como
recreação, contemplação e enriquecimento espiritual. Por último, o
de suporte diz respeito aos serviços necessários para a produção dos
demais serviços ecossistêmicos, entre os quais a produção de oxi-
gênio e a fertilidade e/ou formação do solo (Banco Mundial – World
Resource Institute, 2005).
GRÁFICO 4.1
como a dengue, a febre amarela, o mayaro
Impactos sobre o bem-estar humano
e o oropouche, entre outros que ocorrem
naturalmente na região. Na ilha de Marajó,
MUDANÇAS NA SITUAÇÃO COMPONENTES DO observou-se uma alta incidência de febre
IMPACTO
DO AMBIENTE BEM-ESTAR HUMANO amarela por causa da migração, portada para
as áreas de ocorrência do vetor por pessoas
não-imunes (Vasconcelos et al., 2001) (tabe-
la 4.1). Há evidências de que a colonização, o
BIODIVERSIDADE garimpo, a construção de barragens e outras
AMBIENTE NATURAL atividades que geram alterações no meio am-
biente amazônico afetam a epidemiologia, a
ecologia, os ciclos vitais e a distribuição desse
CAP
FLORESTAS grupo de vírus (Vasconcelos et al., 1992).
ACI
SAÚDE
veis de alta incidência na Amazônia, e o des-
RECURSO HÍDRICO E matamento foi apontado como uma de suas
DAD
ECOSSISTEMAS AQUÁTICOS principais causas. Alguns estudos indicam
que há um considerável aumento na ativida-
de do vetor da malária em uma determina-
ES
ATIVIDADES ECONÔMICAS da área quando 20% de sua superfície são
SISTEMAS E ECONOMIA desmatados, elevando-se, assim, o risco de
AGROPRODUTIVOS expansão da doença. Segundo a Organização
Mundial da Saúde, entre 400.000 e 600.000
pessoas contraem malária anualmente na
Amazônia (Walsh; Molyneux; Birley, 1993;
ASSENTAMENTOS
RELAÇÕES SOCIAIS Foley et al., 2007).
URBANOS
TRINITI Barragens hidrelétricas Não se registraram casos até o momento. IMPACTOS NA ECONOMIA O povoado de San Carlos (cantão de Sachas, província de
Orellana) é conhecido como a “zona do câncer”, epíteto
A deterioração dos serviços ecossistêmicos decorrente do baseado no elevado número de casos dessa doença
FEBRE AMARILLA Urbanização, desmatamento, ausência de imunização Sim, epidêmica.
processo de degradação ambiental na Amazônia não foi registrados na região. Ao que tudo indica, as operações de
Fonte: Vasconcelos et al. (2001).
quantificada economicamente, mas sem dúvida tem um exploração de petróleo da Texaco estão ligadas à elevada
valor. Tampouco se conhecem com exatidão os custos morbidade da localidade, onde ocorrem altas taxas de
para o tratamento das águas das bacias dos rios poluídos, leucemia entre crianças, quatro vezes maiores que em outras
nem os custos para mitigar os impactos ambientais as- áreas. No julgamento, a acusação alegou ainda que a
e Stephens (2006) citam vários estudos que outra fonte de energia disponível, a vulne- As populações sociados ao desmatamento. Em muitos casos o valor de contaminação havia sido responsável por levar duas naciona-
sugerem que muitas das populações locais rabilidade às doenças e à desnutrição vem coisas intangíveis não é levado em consideração ou é de lidades indígenas (Cofán e Secoya) à beira da extinção, e por
ainda têm acesso limitado aos programas crescendo, em razão do consumo tanto de locais ainda têm difícil quantificação, sobretudo porque aspectos como a ter causado a extinção de uma terceira (Tetete).
e serviços de saúde, os quais, mesmo que água (sem ferver) contaminada por microor- regulação do clima não possuem um valor no mercado
existam, são freqüentemente inadequados ganismos quanto de alimentos malcozidos.
acesso limitado que permita expressá-los em termos monetários. Por isso,
do ponto de vista cultural. aos programas e nesta seção são apresentadas algumas quantificações Fontes: <http://www.texacotoxico.com>, <http://www.sustainlabour.org/
documents/latam/Informe%20-20Medio%20Ambiente%20ALC.doc>
Outra doença considerada problema dos impactos econômicos da perda de biodiversidade e
Foley et al. (2007) destacam que o de saúde pública na Amazônia é o mal de serviços de saúde; do desmatamento para os quais se dispõe de informação
desmatamento e a degradação da floresta Chagas, causado pelo parasita Tripanosoma e com base nos quais é possível afirmar que os impactos
comprometem a disponibilidade de plantas cruzi, transmitido pela picada do percevejo
de modo geral, reais na Amazônia são ainda maiores.
e substâncias medicinais empregadas no conhecido como barbeiro (Triatoma infes- quando existentes, comercial atinge as empresas, dado o menor potencial
cuidado à saúde (Shanley; Luz, 2003). O tans). Essa doença debilita órgãos como o A perda de espécies de uso potencial (como produ- de geração de lucros em razão da menor disponibilidade
desmatamento afeta o hábitat dos vírus ou coração, o esôfago e o cólon durante um lon- são culturalmente tos farmacêuticos ou manufaturados) ou a escassez de destas. Além disso, a falta de emprego ou o número li-
exerce pressão sobre essas áreas, acarretan- go período, de dez a vinte anos. Sua propa- espécies nos mercados devido a sua superexploração ou mitado de possibilidades de geração de renda produzem
do sua migração e levando ao surgimento de gação foi facilitada por alterações no hábitat,
inadequados. desaparecimento têm um grande impacto econômico, uma migração de populações extrativistas para outros
doenças em locais onde não haviam sido re- como a derrubada de árvores e arbustos e de difícil avaliação. A escassez manifesta-se no aumento municípios ou locais.
latadas antes (Schoeler et al., 2003). as queimadas, a substituição de vegetação dos preços, ao passo que o desaparecimento de espé-
primária por cultivos agrícolas e a expansão cies constitui uma perda total de seu valor. Destacam-se, Um exemplo interessante desse impacto é o do mog-
O número de casos de doenças respirató- dos núcleos urbanos, inserindo a população por exemplo, o crescimento no número de pragas nas no. No Peru, essa espécie foi incluída no apêndice II da
rias também cresceu na Amazônia, devido à no ciclo de transmissão silvestre da doença. lavouras resultante do desaparecimento de seus agentes Convenção sobre o Comércio Internacional de Espécies
freqüência cada vez maior de incêndios liga- Os insetos alojam-se em fendas e buracos naturais de controle ou o desaparecimento de atividades da Fauna e da Flora Silvestres em Perigo de Extinção (CI-
dos à conversão de florestas naturais. Além nas paredes das casas e picam seus mora- turísticas na região pela perda de recursos paisagísticos, TES), em 2003. A maior parte da produção de mogno é
disso, um grande número de habitantes con- dores (Organização Pan-americana da Saúde beleza cênica, dentre outros. exportada, muito embora a tendência aponte para uma
tinua utilizando combustíveis sólidos para [OPS], 2005; Cáceres et al., 2002). A esse redução no volume das exportações. O valor mínimo de
cozinhar e se aquecer na Amazônia. A con- respeito, os países amazônicos firmaram a O desmatamento e a degradação das florestas apre- mogno exportado ocorreu nos anos 2005 e 2006, quan-
taminação atmosférica produzida por esses “Iniciativa dos países amazônicos para a vigi- sentam impactos econômicos na medida em que elimi- do foi estabelecida a Quota Nacional de Exportação. O
combustíveis, assim como a precariedade lância e controle da doença de Chagas” (Ya- nam três produtos com potencial comercial: a madeira, os volume de exportação foi de 23.584,54 m3 em 2005 e
dos fogões dentro das casas, respondem por magata; Nakagawa, 2006). produtos não-madeireiros (p.ex., a castanha-do-pará) e de 21.802,13 m3 em 2006. O valor dessas exportações
níveis significativos de mortalidade e morbi- os serviços ecossistêmicos. Assim, o desmatamento leva foi de US$40.143.539 (média para os anos de 2000 a
dade por doenças respiratórias, especialmen- A população das comunidades indígenas à extinção de espécies de valor econômico (Tabarelli; Da 2006), que representa aproximadamente 23% do total
te entre crianças. Nas áreas onde a demanda que vivem em isolamento voluntário tam- Silva; Gascón, 2004) e à procura de novas áreas para das exportações de madeira. Nos últimos anos, esse valor
de madeira excedeu a oferta local e não há bém é mais vulnerável a diferentes doenças a extração de recursos. A escassez de madeira de valor médio caiu para US$35,7 milhões (Peru: Instituto Nacio-
206
CAPÍTULO4
As marcas da degradação ambiental >207
TABELA 4.3
Países andinos: investimentos em água e saneamento na região amazônica (2002-2015)
(em milhões de dólares)
ENDIVIDAMENTO
PAÍS PERÍODO MONTANTE MÉDIA ANUAL
EXTERNO (%)
Fonte: Nippon Koei LAC Co.; Secretaria Geral da Comunidade Andina (2005).
30%
Petrere, 1989; Petrere, 1989; Almeida et al., quantificados. A contaminação da água leva contaminação da água, conforme referido no não os custos. Por outro lado, aqueles impactos A AUSÊNCIA DE UM
2006; Barthem; Goulding, 2007), que podem à redução e ao desaparecimento de peixes capítulo 3, seção 3.5. Tais fatores, quando aci- que não estão associados ao mercado não fo- PLANEJAMENTO
ser afetados pela redução de espécies. e afeta a vida de outras espécies, tendo im- ma de um determinado limiar, podem afetar a ram suficientemente quantificados, não sendo ADEQUADO DO
pactos econômicos importantes. Entretan- produtividade da população em suas atividades possível determinar com certeza sua magnitu- CRESCIMENTO
DA POPULAÇÃO No que diz respeito ao impacto econô- to, a agropecuária também gera benefícios. diárias e aumentar as despesas com o trata- de. Essa situação aponta para a necessidade de
ECONOMICAMENTE URBANO DÁ LUGAR
mico gerado pelo funcionamento dos siste- Na Amazônia brasileira, representa cerca mento de doenças. No entanto, não se dispõe desenvolver estudos detalhados que permitam
ATIVA. AO SURGIMENTO
mas agroprodutivos, observam-se distintas de 20% do PIB regional e ocupa mais de de informação específica sobre o assunto. conhecer a relação custo-benefício da degrada-
situações. A agricultura de grande escala 30% da população economicamente ativa. ção ambiental amazônica.
DE ATERROS
favorece a criação de mais empregos na Como foi mencionado anteriormente, nos O desenvolvimento dos assentamentos SANITÁRIOS
região, ocasionando impactos econômi- últimos anos ocorreu uma importante ex- humanos na Amazônia levou à promoção RELAÇÕES SOCIAIS: INFORMAIS.
cos positivos no bem-estar da população. pansão da área cultivada. de investimentos em infra-estrutura viária CONFLITOS
Além disso, as mudanças no mercado dos dentro das cidades e no seu entorno, com
últimos anos promoveram um processo de O crescimento desordenado dos assenta- a finalidade de possibilitar uma adequada Os conflitos gerados pelo uso dos ecossis-
concentração de terra que trouxe consigo mentos humanos amazônicos afeta a popula- articulação das aglomerações urbanas. Essas temas amazônicos (por conversão ou ex-
maiores investimentos em sistemas pro- ção na medida em que o acesso aos serviços iniciativas têm um impacto econômico posi- ploração de recursos minerais, petroleiros,
dutivos tecnologicamente mais avançados, básicos e o desempenho destes são compro- tivo nas atividades produtivas desenvolvidas hídricos) não só afetam a biodiversidade e o
bem como a elevação da produtividade. No metidos. Na maioria dos casos, o desenvol- pelos habitantes, sem dúvida, mas também uso sustentável desses ecossistemas como
entanto, esse tipo de produção baseado na vimento de infra-estrutura não acompanha o apresentam custos ambientais associados. também atingem os atores locais, quer as
monocultura tem um alto custo para as di- ritmo da acelerada dinâmica de crescimento populações indígenas quer os colonos. A
versas atividades econômicas, devido à de- dos assentamentos humanos, provocando Em síntese, os impactos econômicos do falta de regulação, a insegurança quanto ao
terioração dos serviços ecossistêmicos. Por impactos na economia das famílias. estado do meio ambiente na Amazônia são planejamento, a especulação e a invasão de
outro lado, em países como Peru, Equador e positivos em alguns casos; em muitos outros, terras são conseqüências dos processos de
Bolívia, a agricultura migratória de pequena Os habitantes das cidades mais desenvol- porém, são negativos e variam quanto à mag- colonização dos ecossistemas tropicais. A
escala gera receitas de curto prazo, porém vidas da Amazônia são afetados por problemas nitude. Os impactos que estão associados ao entrada clandestina de colonos, a extração
210
CAPÍTULO4
As marcas da degradação ambiental >211
TABELA 4.4
Principais impactos econômicos relacionados ao estado dos recursos hídricos e dos ecossistemas aquáticos
- Menor procura por produtos agrícolas e hidrobiológicos (maior risco de consumir alimentos contaminados).
- Aumento de gastos públicos com tratamento de doenças.
- Diminuição da produção agropecuária para autoconsumo.
- Desestímulo para o desenvolvimento de atividades econômicas.
MAIOR SEDIMENTAÇÃO
- Aumento da produção agrícola nas margens dos cursos d´água durante a vazante.
- Encurtamento da vida útil de barragens e complexos hidrelétricos.
- Escassez de alimentos.
- Redução da renda em decorrência da maior dificuldade para capturar peixes.
- Mudança de atividades: abandono da pesca. Os pescadores passam a se dedicar à agricultura, gerando maior impacto sobre a floresta.
❱❱❱ Os habitantes da Amazônia têm consciência da degradação ambiental da sua região e
Fonte: autores.
levantam a voz em protesto.
4.3|Vulnerabilidade
Entende-se por vulnerabilidade um conjunto de características e con-
dições de origem social que fazem com que a sociedade, ou um
componente desta, seja propenso ou suscetível a sofrer perdas e da-
nos quando atingida por eventos que a expõem a perigo ou por fenô-
menos físicos externos (Lavel, 2007). A Amazônia é uma região que
apresenta um alto grau de vulnerabilidade social e econômica, uma
vez que sua população se encontra, em grande parte, em situação de
pobreza (ver capítulo 2).
Quadro 4.2
risco de inundações e, por outro, é a que determina as A área silvestre de alta diversidade da
MIGRAÇÃO E VULNERABILIDADE
condições de vulnerabilidade. Outro aspecto comum Amazônia e os hotspots de diversidade do
a muitas cidades pequenas da Amazônia é a ausência Cerrado e dos Andes fornecem ao mundo
de sistemas de drenagem. A imigração para a Amazônia ocorrida no século passado e serviços ecológicos por meio da biodiversi-
intensificada na década de 60 gerou impactos ambientais dade, das reservas de carbono, dos recursos
No Peru, ocorrem enchentes nos cinco departamen- importantes, que contribuíram para elevar os níveis de hídricos e da regulação climática. No âmbito
tos localizados na região amazônica (Madre de Dios, Ama- risco e a vulnerabilidade da população. Os imigrantes, local, os recursos biológicos da região as-
zonas, San Martín, Ucayali e Loreto), onde se encontram vindos principalmente de maiores altitudes, costumam seguram sustento e renda aos habitantes –
quatro grandes bacias hidrográficas: Marañón, Huallaga, reproduzir sua cultura em um meio diferente, desmatando peixes, fauna terrestre, frutos, fibras –, além
Ucayali e Madre de Dios. As enchentes nessa região atin- para estabelecer suas lavouras e construindo suas casas de terem um grande valor para a economia
gem tanto as áreas povoadas como aquelas onde não há com adobe, práticas estas que têm conseqüências mundial. Infelizmente, os sistemas de pro-
população nem se desenvolvem atividades humanas e desastrosas em comparação com as da população nativa. dução baseiam-se na extração de recursos,
que, portanto, não sofrem prejuízos. No primeiro caso, O habitante nativo, por conhecer o meio em que vive, com foco no retorno econômico de curto
trata-se de áreas nas quais os centros habitados, a ativi- sabe onde melhor edificar sua moradia, usa técnicas prazo, tornando-se insustentáveis nos âmbi-
dade agropecuária e a infra-estrutura (estradas, linhas de adequadas capazes de resistir às enchentes, utiliza tos econômico e ecológico. Atualmente, não
energia, etc.) se situam perto das margens dos rios. temporariamente as planícies para o desenvolvimento da há mecanismo ou mercado para converter
agricultura e, de um modo geral, expõe-se menos aos os serviços ecológicos da Amazônia em re-
A ocupação desordenada do território, a qual envolve desastres naturais. cursos financeiros necessários para custear
o desenvolvimento de diferentes atividades em áreas de sua conservação ou subsidiar a gestão sus-
risco, assim como o desconhecimento do ecossistema Recentemente, o desenvolvimento de atividades econô- tentável de seus recursos naturais renová-
amazônico por parte da população imigrante, traduzem- micas como a exploração de petróleo, a mineração e a veis (Killeen; Da Fonseca, 2006).
ISABEL GUERRERO
se no uso inadequado da terra para atividades agrícolas agroindústria, somado ao desenvolvimento da infra-estru-
ou para o estabelecimento de formas de construção im- tura viária, atraiu populações à procura de emprego e O processo de desmatamento da Ama-
próprias, que expõem ainda mais a população amazônica renda. Os municípios obtêm sua receita das atividades zônia desencadeia também uma série de
a eventos naturais e, conseqüentemente, fazem com que econômicas, na forma de impostos, e devem administrar impactos que vulnerabilizam ainda mais os ❱❱❱ A poluição das águas atinge a população mais pobre.
ela seja mais vulnerável que a população de outras regiões os serviços básicos fornecidos a esses grandes fluxos de ecossistemas natural e humano. Nos capí-
aos danos físicos e psicológicos em questão. imigrantes. Devido à limitada capacidade local de gestão, tulos anteriores, examinaram-se as ligações
as populações estão expostas a mais riscos associados à entre a floresta e a regulação climática (ciclo algumas atividades de mineração, o desma- A exploração
Nos últimos anos, as enchentes têm sido mais fre- falta de planejamento. hidrológico) e a conservação da biodiversi- tamento e a contaminação por resíduos de
qüentes devido aos efeitos das mudanças climáticas, ge- dade, significando que, a maiores taxas de substâncias empregadas pelo narcotráfico predatória dos
rando, como conseqüência, custos econômicos para os desmatamento, mais frágeis se tornarão os são fatores que diminuem a capacidade de
países da região. Por exemplo, na área compreendida pelo
Fonte: Peru: Instituto Nacional de Defesa Civil [Indeci] (2006).
ecossistemas, dos quais alguns poderão até resposta a ameaças.
recursos biológicos
departamento de Madre de Dios (Peru), pelo estado do mesmo desaparecer. acima da sua
Acre (Brasil) e pelo departamento de Pando (Bolívia), que Um elemento adicional que se deve levar
integram a iniciativa MAP (Madre de Dios, Acre e Pando), Um exemplo de área frágil, uma vez que em consideração é a segurança alimentar da capacidade de
evidenciou-se um aumento na freqüência de enchentes está exposta à pressão de atividades flo- população amazônica. A degradação da flo-
(Brown et al., 2007). Os prejuízos resultantes na região restais e petroleiras, é Yasuni, na Amazônia resta, a contaminação dos recursos hídricos e
regeneração torna os
do Acre atingiram US$220 milhões nos últimos 20 anos, e equatoriana. Segundo Romo (2008), essa re- o crescimento de centros populacionais estão ecossistemas mais
sua tendência nos últimos anos tem sido aumentar ainda gião tem em apenas um hectare o dobro de gerando mudanças nos padrões de consumo
mais (ver tabela 4.5).
TABELA 4.5
espécies de árvores do que pode ser encon- da população e problemas na disponibilidade frágeis e suscetíveis a
Avaliação de danos causados por inundações no Acre
trado nos Estados Unidos ou em quase toda de alimentos. Sem dúvida, a população mais
EXPOSIÇÃO A ATIVIDADES QUE a Europa. Em um estudo que abrange uma vulnerável é a indígena, que vive da coleta
danos.
DEGRADAM O MEIO AMBIENTE PREJUÍZO ESTIMADO área de não mais do que dez hectares de ou da agricultura de subsistência, embora um
ANO DESASTRE
(DÓLARES) floresta, foram encontradas 107 espécies de grande número de ribeirinhos que vivem do
O limitado conhecimento acerca da biodiversidade 1988 INUNDAÇÃO 90 MILHÕES anfíbios, fazendo desse o lugar com a maior extrativismo também possa ser afetado. Em
amazônica, os altos custos da pesquisa científica e diversidade biológica do planeta no que se outro nível, a produção de biocombustíveis
tecnológica sobre a biodiversidade e a ameaça do trá- 1997 INUNDAÇÃO 33 MILHÕES refere a essa classe. Por isso, Yasuni é um dos à base de cana-de-açúcar e milho também
fico ilegal da biodiversidade fazem com que existam poucos lugares do mundo que podem ser poderia acarretar problemas de segurança
grupos de espécies muito vulneráveis. A exploração 2005 INUNDAÇÃO 84 MILHÕES destacados como hotspots de biodiversidade alimentar aos países da região.
predatória dos recursos biológicos, acima da sua capa- (Romo, 2008).
cidade de regeneração (com o emprego de dinamite, 2006 INUNDAÇÃO 16 MILHÕES MUDANÇAS CLIMÁTICAS
de veneno na pesca, etc.), fragiliza os ecossistemas, A contaminação das águas pelo despe-
tornando-os mais suscetíveis a danos. A falta de pla- TOTAL 220 MILHÕES jo de resíduos sólidos pela população e por A floresta amazônica está estreitamente re-
nejamento no uso da floresta é também um fator que acidentes na exploração de hidrocarbonetos, lacionada com o clima mundial. De acordo
Fonte: Brown (2007).
contribui para aumentar sua vulnerabilidade. a contaminação de mercúrio decorrente de com Nepstad, a Amazônia influencia o clima,
216
CAPÍTULO4
As marcas da degradação ambiental >217
dação da floresta poderia se acelerar devido regiões de Madre de Dios, Pando e Acre, no A expansão da
às relações entre os ecossistemas e o clima sudoeste da Amazônia, durante a estiagem de
da região amazônica. Sabe-se que, caso a 2005 (Aragón, 2007) foram queimados pelo agricultura e
perda de floresta ultrapasse 30% (Nepstad menos 3.000 km2 de florestas em pé (Brown,
et al., 2007), a inibição das chuvas será ainda 2007).
da pecuária, as
mais intensa, criando um círculo vicioso que queimadas, as secas
favorecerá os incêndios na floresta, reduzirá As mudanças climáticas também pro-
a liberação de vapor d´água e aumentará a vocam impactos na saúde da população, e a exploração de
emissão de fumaça na atmosfera, com a con- tornando-a mais vulnerável. No entanto, tais
seqüente supressão da precipitação. impactos variam em magnitude, de acordo
madeira poderiam
com o tamanho, a densidade, a localização e significar o
Os incêndios florestais contribuem para a o bem-estar da população atingida (Githeko
geração de gases de efeito estufa. Ao longo da et al., 2000). As mortes e a taxa de mortalida- desmatamento de
última metade do século passado, evidenciou- de (devido a doenças infecciosas, problemas
se uma redução do intervalo entre incêndios sanitários e danos à infra-estrutura de saúde)
55% da floresta
florestais. Assim, em vez de transcorrerem aumentaram em conseqüência das ondas de úmida amazônica
MIGUEL BELLIDO / EL COMERCIO
séculos entre cada evento, algumas florestas calor, da estiagem, dos incêndios e das en-
estão ardendo a intervalos de cinco a quin- chentes, em razão das mudanças climáticas. até 2030.
ze anos (Cochrane; Schulze, 1999; Alencar; Muitos modelos se dedicaram a analisar as
Nepstad; Vera Diaz, 2006). A cada nova quei- populações urbanas – que, pela precarieda-
mada, a floresta se torna mais suscetível às de de moradia (aglomeração e ventilação
❱❱❱ Os incêndios florestais contribuem para a emissão de gases de efeito estufa. queimadas subseqüentes. A maior freqüência deficiente), são particularmente vulneráveis
de incêndios florestais também está relaciona- a temperaturas extremas (Kilbourne, 1989;
da com o desmatamento. O dossel formado Martens, 1998) –, no entanto, os efeitos das
agindo como um gigantesco consumidor de (mais severa na Amazônia oriental) e ao calor pelas árvores perenifólias da Amazônia prote- mudanças climáticas nas populações rurais
calor perto da terra, e absorve a metade da poderia se agravar com o desaparecimento ge o bosque do intenso sol equatorial, como são diferentes e ainda pouco estudados.
SE A PERDA DE energia solar que chega à superfície por meio em grande escala da floresta na Amazônia um gigantesco guarda-sol que intercepta a
da evaporação da água pela sua folhagem. oriental e sua substituição por vegetação do maior parte da energia solar que chega até a Além disso, as mudanças climáticas au-
FLORESTAS EXCEDER
30%
Além disso, a Amazônia é uma reserva am- tipo savana e semi-árida (Nepstad, 2007). floresta, protegendo o substrato florestal escu- mentaram a infestação de insetos e a pro-
pla e relativamente delicada de carbono, que ro e úmido, muitos metros abaixo. Cada árvore pagação de doenças. Na América do Sul, a
é liberado à atmosfera através do desmata- Pesquisas apontam que a Amazônia que morre ou que é cortada deixa uma falha malária, a leishmaniose, a dengue, a doen-
mento, da estiagem e do fogo, contribuindo apresentou diferentes padrões de precipita- no dossel, através da qual a luz penetra na ça de Chagas e a esquistossomose são as
A INIBIÇÃO DAS assim para o aquecimento global. Por último, ção e temperaturas mais altas sobre as áreas mata, aquecendo seu interior. O aquecimento principais doenças de transmissão vetorial
a água drenada das florestas da Amazônia desmatadas durante o período da seca (Na- e a secagem do substrato florestal são o prin- sensíveis ao clima. Destacam-se também a
CHUVAS SERÁ MAIS
para o oceano Atlântico constitui entre 15 e tional Aeronautics and Space Administration cipal fator determinante do caráter inflamável febre amarela, a peste, a encefalite eqüina
SEVERA. 20% da descarga total mundial de água doce [NASA], 2006) e que a chuva acumulada di- da floresta e muito mais intensos quando a venezuelana e várias causadas por arboví-
fluvial e poderia ser suficiente para influenciar minuiu significativamente no final da estação cobertura florestal é rala ou está bem próxima rus detectadas na região amazônica (p.ex., a
algumas das grandes correntes oceânicas, de chuvas e aumentou no final da estação do solo (Ray; Nepstad; Moutinho, 2005). É febre de Oropouche). Em conseqüência da
por sua vez importantes reguladoras do sis- seca (Chagnon; Bras, 2005). A perda de co- preciso destacar que os incêndios provocados seca provocada pelos eventos de El Niño, as
tema climático global (Nepstad, 2007). Por bertura vegetal implica uma menor absorção pelos raios solares ainda são raros na Amazô- populações do Brasil estão migrando para as
isso, conservar a floresta amazônica é uma de calor, o que resulta em menos umidade nia, entretanto constituem uma ameaça cada cidades à procura de trabalho, o que facilita
questão de alcance e importância mundial, na atmosfera. No longo prazo, isso pode levar vez séria. a transmissão da malária e da leishmaniose
porque dela dependerá a estabilidade do cli- a uma redução das chuvas, o que teria um nestas. Observou-se, todavia, que a malária
ma no planeta. efeito devastador para a população da região, Nas florestas centrais da Amazônia, são também aumentou depois das enchentes
pois até 60% da Amazônia se tornariam sa- abundantes os focos de incêndio de origem associadas a El Niño.
Como foi mencionado na seção 2.5, a vana ainda neste século, segundo estudo re- humana, quer sejam para abrir a floresta para a
Amazônia está vivendo um período de trans- alizado pelo INPE (Nobre; Oyama, 2003). agropecuária quer para melhorar as pastagens. Como foi referido anteriormente, a ba-
formação em decorrência das mudanças No entanto, freqüentemente as queimadas se cia amazônica tem um papel importante no
climáticas. O aquecimento global provavel- Diversos estudos baseados em dados de estendem para além dos limites planejados e ciclo e balanço hídrico da região. Mudanças
mente reduzirá a precipitação em mais de satélites sugerem que o desmatamento na se alastram para as matas próximas. Durante na quantidade e qualidade das águas e na
20% e aumentará a temperatura em mais de Amazônia pode afetar o clima regional. A ex- a estiagem severa de 1998, aproximadamente freqüência das chuvas afetam o hábitat e o
2 ºC (podendo chegar inclusive a 8 ºC) até pansão agropecuária, o fogo, a seca e o corte 39.000 km2 de floresta em pé foram queima- comportamento de muitas plantas e espé-
o final deste século, caso a humanidade não de árvores poderiam significar o desmata- dos na Amazônia brasileira (Alencar; Nepstad; cies de animais. Tais mudanças, somadas aos
seja capaz de reduzir as emissões de gases mento de 55% da floresta úmida amazônica Vera Díaz, 2006), o que representa o dobro da eventos extremos, podem atingir os ecossis-
de efeito estufa. Essa tendência à estiagem até 2030 (Nepstad, 2007). A extensa degra- área de floresta derrubada naquele ano. Nas temas muito além das condições médias.
218
CAPÍTULO4
As marcas da degradação ambiental >219
amazonica
5.1 GOVERNANÇA
AMBIENTAL
5.2
AUTORAS:
ELSA GALARZA Centro de Pesquisa da Universidad del Pacífico (CIUP) – Peru
ATORES
ROSÁRIO GÓMEZ Centro de Pesquisa da Universidad del Pacífico (CIUP) – Peru NA REGIÃO
CO-AUTORES:
JUAN CARLOS ALONSO Instituto Amazônico de Pesquisas Científicas, Sinchi – Colômbia
5.3
LUÍS ALBERTO OLIVEROS Organização do Tratado de Cooperação Amazônica (OTCA)
JOANNA KÁMICHE Centro de Pesquisa da Universidad del Pacífico (CIUP) – Peru PRINCIPAIS
CARLOS SOUZA Instituto do Homem e Meio Ambiente da Amazônia (Imazon) – Brasil AÇÕES AMBIENTAIS
MURIEL SARAGOUSSI Ministério do Meio Ambiente – Brasil
FERNANDO RODRÍGUEZ Instituto de Pesquisa da Amazônia Peruana (IIAP) – Peru
222
CAPÍTULO5
Respostas dos atores à situação
AMBIENTALamazônica
>223
QUADRO 5.1
A SITUAÇÃO AMBIENTAL DA AMAZÔNIA SUSCITOU UMA SÉRIE DE RESPOSTAS ORGANIZAÇÃO DO TRATADO DE COOPERAÇÃO AMAZÔ-
NICA (OTCA)
por parte dos atores da região. Cada país, a partir da sua base institucional ambiental,
desenvolveu ações com um objetivo comum: encontrar respostas para fazer frente à O Tratado de Cooperação Amazônica (TCA) foi firmado no
dia 3 de julho de 1978 pela Bolívia, pelo Brasil, pela Colôm-
degradação ambiental na região. Este capítulo apresenta uma revisão dos caminhos bia, pelo Equador, pela Guiana, pelo Peru, pelo Suriname e
pela Venezuela, com o propósito de promover ações con-
seguidos pelos países para organizar sua base institucional ambiental e chegar às mais juntas para o desenvolvimento harmônico da bacia ama-
importantes políticas relacionadas à gestão ambiental na Amazônia. Além disso, identifica zônica.
os principais atores amazônicos e os processos mais relevantes de ação conjunta regional. Como signatários do Tratado, os países-membros assumi-
ram um compromisso comum para com a preservação do
O propósito do presente capítulo não é fazer uma análise comparativa dos diversos sistemas meio ambiente e a utilização racional dos recursos naturais
da Amazônia.
de gestão ambiental nem tratar em detalhes da sua eficiência e efetividade; entretanto,
importa saber que a forma de organização da gestão ambiental nos países apresenta muitas Em 1995, as oito nações decidiram criar a Organização do
Tratado de Cooperação Amazônica (OTCA), a fim de for-
variações, influenciando, assim, a capacidade de cada um destes de abordar a gestão de talecer e implementar os objetivos do Tratado. A emenda
ao TCA para a criação da OTCA foi aprovada em 1998, e
recursos da região amazônica. a Secretaria Permanente dessa organização foi criada em
Brasília, em dezembro de 2002, instalando-se de maneira
equilibrado, com o que estabelecem um claro estão a cargo exclusivamente das ações de
dever com relação ao uso e à gestão do meio monitoramento e fiscalização; enquanto ou-
ambiente. No Brasil, por exemplo, a Consti- tros, da tomada de decisão e implementação
tuição Federal de 1988 estabelece, no artigo de políticas especificas para a região ama-
225, que todos têm direito ao meio ambiente zônica nacional. De um modo geral, várias
ecologicamente equilibrado, bem de utiliza- instituições têm competência sobre a região
ção comum e essencial à qualidade de vida, amazônica nacional e desenvolvem algumas
e que são a coletividade e o poder público atividades em coordenação com os países
os responsáveis por defendê-lo e preservá-lo vizinhos.
para as presentes e futuras gerações. A Cons-
tituição peruana consagra, nos artigos de 66 As distintas estruturas institucionais
a 69, os recursos naturais como patrimônio voltadas ao meio ambiente citadas no pa-
da nação, comprometendo-se, assim, a velar rágrafo anterior possuem como elementos
pelo seu uso sustentável; promove, ainda, a de articulação uma série de normas que
conservação da diversidade biológica e das possibilitam o desenvolvimento da gestão
áreas naturais protegidas. A Constituição do ambiental. No entanto, para que funcionem
Suriname não é tão explícita quanto às duas com eficiência, é necessário que se estabe-
anteriores, porém estabelece que o objetivo leçam prioridades em termos de políticas,
social do Estado é criar e estimular as condi- haja vista a abrangência do tema e as restri-
TABELA 5.1
Base institucional ambiental dos países amazônicos
Ministério de Desenvol- Ministério do Meio Ministério do Ambiente, Habita- Ministério do Meio Presidente da República Ministério do Ambiente Ministério do Trabalho, Ministério do Poder
vimento Rural, Ambiente e Ambiente ção e Desenvolvimento Territorial Ambiente Desenvolvimento Tecnológi- Popular para o Ambiente
Agricultura (biodiversidade, Subgabinete – Comitê co e Meio Ambiente
recursos florestais e meio Conselho de Governo Conselho Nacional do Ambiente Secretaria Nacional de dos Recursos Naturais e do
ambiente) Planejamento do Ambiente Instituto Nacional do Am-
Conselho Nacional do Desenvolvimento biente e Desenvolvimento
Ministério da Água Ambiente (Conama) Comitê Assessor de Re-
ENTIDADE RESPONSÁVEL PELO MEIO
cursos Naturais e Ambiente
AMBIENTE
(NREAC)
Agência de Proteção
Ambiental
Constituição Política da Constituição Federal Constituição Política da Colômbia Constituição Política da Re- Constituição da República Constituição Política do Constituição da República Constituição da República
República da Bolívia (1967, (1988) (1991) pública do Equador (1998) da Guiana (1980) Peru (1993) do Suriname (1987) Bolivariana da Venezuela
com reformas de 2002) (1999)
Instituto Nacional da Instituto Brasileiro do Meio Instituto Amazônico de Pesquisas Instituto para o Desen- Subcomitê de Recursos Instituto Nacional de Ministério do Planeja- Instituto de Pesquisa da
Reforma Agrária Ambiente e dos Recursos Científicas (Sinchi) volvimento da Amazônia Naturais e Meio Ambiente – Recursos Naturais (Inrena) mento Físico, da Terra e do Amazônia Venezuelana
Naturais Renováveis (Ibama) (Ecorae) Comitê Assessor de Recursos Manejo Florestal (IVIA)
Superintendência Florestal CorpoAmazonia C.D.A. Naturais e Meio Ambiente, Instituto de Pesquisas da
Serviço Florestal Brasileiro (NREAC) Subcomitê de Amazônia Peruana (IIAP) Ministério dos Recursos
Governos dos Cormacarena CRC Recursos Naturais e Meio Naturais
GESTÃO, FISCALIZAÇÃO E MONITO- departamentos Ambiente – Comitê Assessor
RAMENTO DOS RECURSOS NATURAIS Corponariño de Recursos Naturais e Meio
NA AMAZÔNIA Governos municipais Ambiente, (NREAC)
Corporinoquia
TABELA 5.2
Convenções internacionais e principais políticas nacionais
CONVENÇÕES INTERNACIONAIS
Convenção-Quadro das
Nações Unidas sobre
Mudanças Climáticas –
Protocolo de Quioto
Convenção sobre
Diversidade Biológica
Acordo Internacional
sobre Madeiras Tropicais
Convenção CITES
Protocolo de Cartagena
sobre Biossegurança
ARCHIVO PRODAPP
do que lacunas jurídicas, gera a sobreposição de normas contaminação da água, e, ainda, a construção de estradas
e, inclusive, algumas contradições (Fontaine; Van Vliet; marginais nos Igarapés e a melhoria dos serviços de trans-
❱❱❱ Os organismos do Estado estão pouco presentes para a aplicação das políticas ambientais. Pasquis, 2007). Vários países da região apresentam con- porte urbano e de energia elétrica.
flitos de competências ou uma indefinição destas, assim
como pouca articulação entre as diversas instâncias do O empréstimo do BID, financiado em 25 anos e com ca-
nejo sustentável destes na Amazônia. As Andina de Nações (CAN), processo de in- setor público, situação que dificulta ainda mais a aplicação rência de cinco, cobrirá 70% do custo total do projeto.
dinâmicas sociopolíticas e econômicas de tegração do qual participam quatro dos oito das normas.
DIFERENTES cada país fazem com que a aplicação das países amazônicos. Além das áreas eco- Fonte: Bretas (2008).
PAÍSES DA REGIÃO políticas varie caso a caso. Além disso, a nômica e comercial, às quais se dedicou Na região amazônica, em particular, observa-se que
APRESENTAM base institucional de alguns países é mais nas primeiras décadas de vigência, a CAN o Estado tem pouca presença. Embora essa situação es-
CONFLITOS DE sólida que a de outros, graças ao nível de constitui-se atualmente num espaço de di- teja mudando em muitos países com a implementação
estabilidade política conquistado, o qual álogo e resposta às questões ambientais de processos de descentralização pública, a atenção vol-
COMPETÊNCIAS OU
permite que as instituições desenvolvam de importância para a Amazônia. Os paí- tada para a Amazônia ainda é tímida. As administrações
indefiniÇÃO
planos e estratégias de longo prazo. Na ses andino-amazônicos (Bolívia, Colômbia, centralizadas de muitos países priorizaram investimen-
DESTAS E POUCA contramão dessa situação, há países que Equador e Peru), sendo membros da CAN, tos nas cidades costeiras ou nas capitais, deixando de
COORDENAÇÃO mudam constantemente de políticas, es- adotaram diversos acordos, denominados lado à Amazônia, considerada um lugar inóspito e não-
ENTRE AS DIVERSAS tratégias e funcionários, o que impede uma “Decisões”, entre elas a Decisão 391, que prioritário (Comissão Amazônica de Desenvolvimento
INSTÂNCIAS DO continuidade das atividades, sobretudo se trata de um Regime Comum para o Acesso e Meio Ambiente do TCA, 1992). Uma exceção a essa
SETOR PÚBLICO. se considera que a temática ambiental re- aos Recursos Genéticos. Ademais, a CAN situação é o Brasil, que se distingue pela organização em
quer intervenções de longo prazo. apoiou a implementação dos acordos da estados federativos com autonomia política e econômi-
Convenção sobre Diversidade Biológica ca, estrutura que favoreceu a implementação de políti-
Por outro lado, também há questões entre seus membros e conseguiu estabe- cas de desenvolvimento na sua Amazônia (Weiss; Van
ambientais relevantes na esfera sub-regio- lecer a Estratégia Regional de Biodiversida- Vliet; Pasquis, 2007). Nesse sentido, o Brasil concebe o
nal que levaram ao desenvolvimento de de para os Países do Trópico Andino, bem desenvolvimento amazônico no contexto do desenvol-
políticas ambientais de impacto na região como promover a implementação das es- vimento do país. O Ministério Extraordinário de Assuntos
amazônica. Esse é o caso da Comunidade tratégias nacionais em cada país. Estratégicos, incumbido da supervisão da implementa-
232
CAPÍTULO5
Respostas dos atores à situação
AMBIENTALamazônica
>233
TABELA 5.3
Principais normas nacionais por temas
Lei do Ambiente no 1333 Política Nacional do Meio Código de Protección de recursos Lei de Gestão Ambiental Lei de Proteção Ambiental Lei Geral do Ambiente Política do Ministério do Lei Orgânica do Ambien-
(1992) Ambiente (Lei no 6938/81) Naturales y del Ambiente (D.L 1811 (1996) Ambiente (2006-2010) te (1976)
NORMAS de 1974) Lei do Sistema Nacional
AMBIENTAIS de Gestão Ambiental
GERAIS SINA (Ley 99 de 1993)
Lei Florestal no 1700 Lei de Recursos Hídricos Fomento do Uso Racional e Lei Florestal e de Conser- Lei Florestal (2006) Lei das Águas Lei de Planejamento Físico Gestão Ambiental
(1996) Eficiente de Energia vação de Áreas Naturais e Comunal
Lei de Crimes Ambientais Vida Silvestre Decreto de Parques Lei de uso e Conservação Lei de Conservação da
Lei do Serviço Nacional Lineamentos para o Manejo Nacionais da Biodiversidade Natureza Água e Saneamento
de Reforma Agrária no 1715 Código Florestal Integral da Água
(INRA, 1996) Código de Uso de Áreas Lei Florestal e de Fauna Lei de Pesca, Solos, Água, Missão Guacaipuro
Lei de Gestão de Lei de Ordenamento Territorial Úmidas Silvestre Florestas, Ar e Biodiversidade
NORMAS Plano de Desenvolvimento Florestas Públicas (Lei 388 de 1997) Reflorestamento Produtivo
ESPECÍFICAS da Biodiversidade, Minera- Decreto de Água e Sanea- Lei de Áreas Naturais
ção e Hidrocarbonetos Sistema Nacional de Política Nacional para Humedales mento (2002) Protegidas Código da Terra
Unidades de Conservação (2001)
Lei de Resíduos Sólidos Recuperação de Áreas
Lei Forestal (Lei 1021 de 2006) Degradadas
Elaboração: Autores.
ção do Plano Amazônia Sustentável (PAS), é Por outro lado, a participação dos di- tudos de impacto ambiental, entre outras, têm diferentes implicações entre os países.
responsável pela adequada articulação das versos atores locais na gestão dos recursos são ferramentas atualmente utilizadas pela Outro instrumento preventivo é o estudo
políticas nos seus respectivos âmbitos. naturais e da qualidade ambiental tornou- sociedade civil. Tais mecanismos não são de impacto ambiental (EIA), uma exigência MUITOS PAÍSES
se um importante elemento na prevenção idênticos em todos os países, nem se apli- para a liberação de atividades produtivas. CRIARAM
A tendência atual nos países é descentra- do alastramento de conflitos e para a in- cam da mesma forma, e sua efetividade Os EIA são utilizados principalmente nas FUNDOS DE
lizar a administração do Estado. Isso significa tegração da Amazônia no âmbito nacional. ainda é um assunto pouco estudado; no atividades de exploração mineral, de pe- FINANCIAMENTO
dar mais poder de decisão aos governos re- Nos últimos anos, tem se observado um entanto, espera-se que a sociedade civil tróleo e, em geral, das que têm impacto so-
PARA A
gionais e locais, o que contribui para a inte- despertar da população amazônica, que seja cada vez mais protagonista do manejo bre o ambiente natural. Em alguns países,
gração da região amazônica nos planos de reivindica seu direito de ser partícipe do do ambiente natural amazônico. como o Brasil, os EIA vêm sendo exigidos
IMPLEMENTAÇÃO
desenvolvimento nacional. O Conselho Inter- desenvolvimento da região. Prova disso é para todos os tipos de atividades, sendo
DE PROGRAMAS
regional da Amazônia (CIAM), no Peru, é um a grande quantidade de organizações so- Dentre os instrumentos de políticas pú- obrigatórios. AMBIENTAIS,
exemplo desse processo, por tratar-se de um ciais que surgiram em diversas áreas e a blicas que se aplicam à região amazônica, A MAIORIA DE
mecanismo de articulação entre os órgãos participação destas na supervisão e fiscali- há aqueles de caráter preventivo, tal como Os instrumentos mais utilizados pelas CARÁTER GERAL
do governo regional da Amazônia peruana. zação da gestão ambiental (Buclet, 2007). o ordenamento territorial do solo, em al- autoridades amazônicas são os de “con- OU CENTRADA
Em matéria de gestão ambiental, os governos Ao mesmo tempo, a legislação ambiental guns países denominado “zoneamento trole”. De um modo geral, esses instru- EM UM TEMA
regionais têm a possibilidade de não apenas nacional dos países considera imprescin- ecológico-econômico” (ZEE) ou “planos de mentos envolvem auditorias, fiscalização ESPECÍFICO.
monitorar e supervisionar a gestão do meio dível a participação da sociedade, tendo ordenamento territorial”. É importante sa- e sanções, quando necessário, e por isso
ambiente, mas também de gerar políticas e criado mecanismos para promover sua lientar que, embora possam receber a mes- exigem o desenvolvimento de sistemas de
normas que ajudem a melhorar o aproveita- participação. Os orçamentos participativos, ma denominação, essas formas de plane- monitoramento e supervisão. Por exemplo,
mento dos recursos de maneira sustentável. as audiências públicas para revisão dos es- jamento e organização do uso do território para o monitoramento florestal e o comba-
234
CAPÍTULO5
Respostas dos atores à situação
AMBIENTALamazônica
As florestas de
NAREGIÃO
Os atores-chave que participam na gestão ambiental da Amazônia As ONGs também ajudaram a canalizar recursos financei- As ONGs nacionais para a gestão ambiental ou o desenvolvimento Organizações sociais as mais variadas
têm características variadas e âmbitos de atuação diversos. Uma das ros da cooperação internacional para áreas específicas, de ciência e tecnologia para o aproveitamento atuam na Amazônia. No Brasil, por exem-
classificações desses atores os divide nos seguintes grupos: (i) atores complementando, em alguns casos, os recursos finan- desempenharam um de determinados recursos naturais. Tais orga- plo, estão presentes organizações de redes
públicos, responsáveis pela formulação e gestão das políticas públicas ceiros nacionais. Ressalte-se também que muitas delas nismos dispõem de fundos de diversas fontes sociais como o Grupo de Trabalho Amazôni-
ambientais nos âmbitos nacional, regional/estadual e local; (ii) atores desempenharam um papel fundamental na promoção
papel diferenciado e têm como finalidade financiar o desenvolvi- co (GTA), a Coordenação das Organizações
privados, responsáveis pela produção de bens e serviços diversos, e de iniciativas de nível regional voltadas à gestão de áreas nos países da mento de programas e projetos. Indígenas da Amazônia Brasileira [Coiab] e
organizações de apoio, tais como as organizações não-governamentais amazônicas contíguas. o Fórum de Coordenação de Instituições
(ONGs); (iii) cooperação internacional; (iv) organismos internacionais; região. Algumas O setor acadêmico e as instituições científi- Locais Amazônicas do Acre. Esses grupos
(v) atores acadêmicos, compreendidas as universidades e outras ins- A cooperação internacional é outro ator atuante na cas na Amazônia também têm uma importan- comunitários organizados permitem que se
tituições de educação superior; e (vi) atores da sociedade civil, grupo região amazônica. No início, a cooperação internacional
se dedicaram a te atuação na região amazônica. No entanto, tenha uma melhor articulação com o gover-
que inclui diversas organizações sociais com objetivos específicos, por lidava diretamente apenas com governos, mas nos úl- temas ambientais a produção científica e tecnológica da maioria no. Em geral presentes em todos os países,
exemplo, as comunidades indígenas organizadas. timos anos passou a trabalhar também com as ONGs. dos países é limitada por restrições de natu- as instituições organizadas da sociedade ci-
Na Amazônia, a cooperação alemã (GTZ), a cooperação específicos, como reza financeira e de recursos humanos, infra- vil fazem uma ponte de articulação entre a
As autoridades governamentais de distintas esferas do governo holandesa e a Agência Internacional para o Desenvolvi- estrutura e equipamentos, que as levam a re- população civil e outros atores nacionais.
têm um importante papel na articulação das políticas nacionais e inter- mento (Usaid) apresentam diversas linhas temáticas de
a conservação correr à iniciativa privada para captar recursos.
nacionais e participam de diversas iniciativas bilaterais e multilaterais trabalho. A cooperação internacional não apenas fornece de determinadas Como conseqüência dessa situação, seus re- Outro conjunto de atores que tem uma
de importância para a Amazônia. Contudo, deve-se salientar que os recursos financeiros, mas também pode contribuir para a sultados não estão disponíveis para o público. ativa participação na gestão ambiental da
países ainda apresentam grandes diferenças no que tange ao nível de discussão de novas idéias e apoiar a consolidação de polí- espécies; outras se Com o propósito de articular as universidades Amazônia são os grupos comunitários e
prioridade política atribuído à Amazônia. ticas nacionais, quando do interesse dos países da região. da Amazônia e a pesquisa produzida no seu religiosos. Suas áreas de interesse, porém,
identificaram com
É importante que o processo de integração e cooperação âmbito, criou-se a Associação de Universidades são mais pontuais, apresentando variações
Um grupo de atores muito ativos na Amazônia são as ONGs. Neste na região amazônica esteja fortalecido para melhor apro- temáticas mais gerais, Amazônicas (Unamaz), há duas décadas. Os entre os países. Na Bolívia, por exemplo,
caso, distinguem-se as de origem internacional e as nacionais. Na veitar a cooperação internacional e para que ela se ajuste resultados dessa integração ainda não se con- os grupos religiosos se concentram na
maioria dos países amazônicos, encontra-se presente pelo menos aos princípios e prioridades estabelecidos no âmbito des- como os recursos ou cretizaram devido à falta de incentivos para sua questão dos recursos hídricos; na Colôm-
uma das ONGs internacionais que tratam de questões amazônicas. ses processos. as políticas florestais. difusão e também às limitações ao desenvol- bia e na Guiana, seu principal interesse é
Seus representantes mais conhecidos são: o Fundo Mundial para a vimento de pesquisa conjunta em áreas como a educação ambiental; já no Brasil, esses
Natureza (WWF, na sigla em inglês), Conservation International (CI) Por outro lado, existe uma ativa participação de orga- a biodiversidade, que requerem uma ampla grupos englobam uma ampla variedade
e The Nature Conservancy (TNC). Por sua parte, as ONGs nacionais nismos internacionais, como as Nações Unidas; intergover- compreensão. Nesse sentido, a consolidação, de temas, desde biodiversidade e florestas
vêm desempenhando um papel diferenciado nos países da região. namentais, como a OTCA; e multilaterais, como o Banco no âmbito da Unamaz, de redes de pesquisa até integração.
Algumas se dedicam a temas ambientais concretos, como à conser- Mundial e o Banco Inter-Americano de Desenvolvimento em ciência e tecnologia e outros tópicos cruciais
vação de espécies específicas; já outras têm maior afinidade com (BID). A participação desses organismos se dá em temas para o desenvolvimento sustentável amazônico Uma breve recapitulação dos principais
temáticas mais abrangentes, como os recursos e as políticas florestais. transversais, por exemplo, o fortalecimento de capacidades é ainda um objetivo a ser alcançado. atores da região amazônica revela os dife-
238
CAPÍTULO5
Respostas dos atores à situação
AMBIENTALamazônica
>239
TABELA 5.4
Principais grupos comunitários na região amazônica
INSTITUIÇÃO PAÍS
- Campesino (Riberalta)
- Coinacapa (Pando) BOLÍVIA
- Confederação dos Povos Indígenas da Bolívia
- Organização Indígena da Bacia do Caura: Associação civil multiétnica fundada pelos ye'kawana e sanema (Kuyujani)
- Organização Regional dos Povos Indígenas do Amazonas (Orpia) VENEZUELA
A COOPERAÇÃO
INTERNACIONAL
❱❱❱ Grupos de ação humanitária levam apoio e estímulo às populações pobres da Amazônia.
RICHARD HIRANO / EL COMERCIO
NÃO PARTICIPA
SOMENTE COM
RECURSOS
rentes objetivos e competências dos atores tais como terem influência na formulação de
FINANCEIROS;
que agem na Amazônia. Apesar de tudo o políticas públicas, gerarem informação, te-
PODE CONTRIBUIR
ENRIQUE CASTRO MENDÍVIL / PRODAPP
que já foi realizado nos países amazônicos rem consciência das questões ambientais da
em termos de desenvolvimento sustentável Amazônia e serem canais de comunicação e AINDA PARA A
e de quantidade de projetos sendo executa- difusão. Através do reconhecimento desses DISCUSSÃO DE
dos em muitas partes da região, a Amazônia pontos fortes, será possível, no longo prazo, IDÉIAS E APOIAR
continua fragmentada como região, sem ter articular esforços e gerar sinergias no sentido A CONSOLIDAÇÃO
uma instância propícia à ampla articulação de de otimizar o uso dos recursos humanos e DE POLÍTICAS
seus atores (Brackelaire, 2003). Contudo, os financeiros, bem como de ampliar o alcance NACIONAIS.
atores amazônicos apresentam pontos fortes de seus resultados. ❱❱❱ Os atores do desenvolvimento sustentável amazônico são muito atuantes e comprometidos.
240
CAPÍTULO5
Respostas dos atores à situação
AMBIENTALamazônica
>241
QUADRO 5.5
EIXOS TEMÁTICOS AMBIENTAIS DA ORGANIZAÇÃO DO
TRATADO DE COOPERAÇÃO AMAZÔNICA
A OTCA trabalha sobre quatro eixos temáticos: ❱❱❱ A população está engajada com a conservação e o manejo sustentável dos recursos amazônicos.
florestas, biodiversidade, mudanças climáticas e
recursos hídricos. No período 2006-2007, a OTCA
manejou, conjuntamente com outros organismos, Biodiversidade Recursos hídricos
5.3|PRINCIPAIS 19 projetos que, juntos, movimentaram US$33 mi-
lhões. O montante de recursos administrados por
1. Projeto de fortalecimento da gestão regional conjunta para
o aproveitamento sustentável da biodiversidade amazônica.
1. Projeto de Manejo Integrado e Sustentável dos Recursos
Hídricos Transfronteiriços na Bacia do Rio Amazonas (GEF-
AÇÕES ela aumentou 168% em comparação com 2005
(US$5,04 milhões). Entre os principais projetos e
O objetivo deste projeto é coordenar e estimular o conheci-
mento sobre a biodiversidade regional na Amazônia e seus
Amazonas): apresenta como objetivo fortalecer o marco
institucional nos países da OTCA para planejar e executar
AMBIENTAIS atividades conduzidos em cada um dos eixos temá- usos, conservação e aproveitamento, o que requer a colabo- de maneira coordenada ações de proteção e manejo
ticos, destacam-se: ração de todos os países da região. Um dos resultados deste sustentável dos recursos hídricos em face dos impactos
Os países amazônicos, além de estabelecer as políticas públicas para projeto foi a elaboração de propostas tais como: das ações antrópicas e das mudanças climáticas. A fase
a Amazônia, também intervêm ativamente na promoção e implemen- Florestas preparatória deste projeto transcorreu no período 2006-
tação de programas e projetos que visam ao desenvolvimento sus- 1. Seleção de critérios e indicadores de manejo ❱❱❱ Programa Regional para a Gestão Sustentável de Áreas 2007. Está prestes a entrar na fase de execução.
tentável da região. Nesta seção não se pretende oferecer uma revisão florestal sustentável: ferramenta para o monitora- Naturais Protegidas Amazônicas
exaustiva dos programas e projetos promovidos pelo Estado nos paí- mento contínuo do processo de desenvolvimento ❱❱❱ Mecanismo de Coordenação e Monitoramento do Tráfi- Mudanças climáticas
ses amazônicos, mas apenas apresentar as principais linhas temáticas sustentável. Em 2001, identificaram-se quinze co da Fauna e Flora Silvestre na Região Amazônica Nessa questão, a OTCA considera o “Mapa do Caminho de
e alguns exemplos, dando ênfase às atividades de caráter regional, indicadores correspondentes a oito critérios. As ❱❱❱ Estratégia de Ciência e Tecnologia para a Conservação e Bali”, documento adotado na 13ª Conferência das Partes da
mais do que às nacionais. Nesse sentido, considera-se que os pro- atividades de validação de indicadores incluíram Uso Sustentável da Biodiversidade Amazônica Convenção sobre Mudanças Climáticas, em Bali (dezembro
gramas e projetos relacionados com o manejo dos recursos naturais ações de capacitação, levantamento de informa- de 2007), uma oportunidade interessante para os países
e o meio ambiente que foram promovidos pelos países amazônicos ção, identificação de atores-chave, etc. Outro de seus resultados é a implantação do Infotca: amazônicos, sobretudo no que diz respeito ao mecanismo
desenvolveram-se principalmente em três áreas: planos de integração, sistema de geoprocessamento de informação cartográfica para a redução das emissões derivadas do desmatamento
sistemas de informação e tecnologia, e educação ambiental. 2. Monitoramento da cobertura vegetal: divulgação digital da OTCA. Uma de suas aplicações é o manejo intera- e da degradação da floresta (REDD, na sigla em inglês).
do sistema Deter/Prodes Digital e levantamento do tivo da informação sobre áreas naturais protegidas. Esse contexto é favorável à formulação e aplicação de polí-
Os planos de integração fronteiriça objetivam desenvolver entre potencial de aplicação na região. Sistema desenvol- ticas que corrijam as tendências de degradação ambiental
os países uma zona consolidada de intercâmbio e cooperação nos vido pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais Além disso, encontram-se em processo de elaboração o em curso na Amazônia.
campos econômico, social e ambiental, nas áreas de fronteira delimi- (INPE), é utilizado pelo Ministério do Meio Ambien- Mecanismo de Apoio à Preservação dos Conhecimentos
tadas por eles com essa finalidade. Os países amazônicos comparti- te do Brasil no monitoramento da cobertura em Tradicionais, Acesso aos Recursos Genéticos e Direitos de As ações da OTCA a este respeito estão direcionadas para
lham hábitats e microbacias nos quais se manifestam problemáticas tempo real. Propriedade Intelectual, bem como a Metodologia para a o fortalecimento das capacidades dos países amazôni-
comuns em termos de assentamentos humanos, saúde, populações Análise Global de Riscos e o Plano de Ação Regional sobre cos para avaliar conjuntamente os efeitos das mudanças
indígenas, etc., áreas propícias para o desenvolvimento de sinergias 3. Iniciativa Puembo: plataforma de diálogo e Biodiversidade Amazônica. climáticas, adotar as medidas de adaptação ou mitigação
com base em esforços conjuntos. articulação entre as autoridades florestais nacio- priorizadas e acordar posições comuns junto aos fóruns
nais cuja finalidade é promover o intercâmbio de 2. Programa Regional de Biocomércio Amazônico: tem internacionais onde se negocie essa matéria.
A OTCA, como organismo intergovernamental coordenador e fa- experiências sobre questões florestais na região, no como foco promover o uso sustentável e a conservação
cilitador, inclui a gestão ambiental como uma área de trabalho chave. âmbito de implementação dos programas nacio- da diversidade biológica por meio de ações regionais que es-
Nesse aspecto, apóia os processos de cooperação entre os governos nais florestais. timulem o comércio e investimentos na área de produtos e
dos países-membros voltados à conservação dos recursos naturais serviços da biodiversidade na região amazônica, levando em Fonte: OTCA (2008).
para o desenvolvimento sustentável da região. consideração a distribuição justa e eqüitativa de benefícios.
242
CAPÍTULO5
Respostas dos atores à situação
AMBIENTALamazônica
>243
QUADRO 5.6
Com relação à participação da cooperação interna-
PROGRAMA TRINACIONAL: CONSERVAÇÃO E DESEN-
cional na região, a GTZ se destaca pela condução de
VOLVIMENTO SUSTENTÁVEL DO CORREDOR DAS ÁREAS
projetos de diversa natureza. Uma de suas importantes
PROTEGIDAS LA PAYA-GÜEPPI-CUYABENO
frentes de atuação é a de gestão de riscos. Além disso,
está comprometida em impulsionar e operacionalizar Este projeto é uma iniciativa de colaboração trinacional
a abordagem de pagamento por serviços ambientais entre a Colômbia (La Paya), Equador (Cuyabeno) e Peru
(PSA), bem como em apoiar ações de conservação e (Güeppi) cujo objetivo é estabelecer um modelo para a
de manejo sustentável da floresta amazônica; nesse úl- gestão coordenada de áreas protegidas contíguas em zo-
timo caso, por meio do Programa Regional Amazônia, nas de fronteira, podendo ser replicado em outras regiões
em conjunto com a OTCA. da Amazônia.
Como exemplo do uso desses instrumentos, foram Entre seus objetivos específicos, encontram-se:
realizadas algumas experiências na região amazônica,
dentre elas o Projeto Rio Guatiquia. Desenvolvido em Vi- ❱❱❱ Desenvolver um processo de planejamento conjunto
llavicencio, na Colômbia, tinha como objetivo coordenar que construa uma visão comum e que complemente e
QUADRO 5.8
SISTEMAS DE INFORMAÇÃO AMBIENTAL NA AMAZÔNIA:
COLÔMBIA E PERU
A ASSOCIAÇÃO DE
UNIVERSIDADES
O Siamazonia (Sistema de Informação da Diversidade zam-se como uma rede de pessoas e entidades com a
AMAZÔNICAS
Biológica e Ambiental da Amazônia Peruana) é o centro de finalidade de subsidiar os tomadores de decisão com dados
(UNAMAZ) referência em manejo de informação sobre a diversidade e produtos de informação nos processos regionais que
PROMOVE A BUSCA biológica e ambiental da Amazônia peruana. Tem como visam ao desenvolvimento sustentável. O SIAT-AC também
DE SOLUÇÕES propósito elevar o nível de conhecimento e comunicação pode ser definido como a manifestação regional do Sistema
COMUNS A sobre a região e, assim, contribuir com práticas e decisões de Informação Ambiental da Colômbia (SIAC) na Amazônia
acertadas para sua conservação e uso sustentável. Foi cria- colombiana.
PROBLEMAS
do em 2001 por iniciativa do Projeto Diversidade Biológica
REGIONAIS POR da Amazônia Peruana (Biodamaz, Convênio Peru-Finlândia) Trata-se de um processo interinstitucional do qual partici-
MEIO DA e é executado no Peru pelo Instituto de Pesquisas da pam, na primeira fase, o Instituto Amazônico de Pesquisas
COOPERAÇÃO Amazônia Peruana. A formulação do projeto contou com a Científicas (Sinchi), como coordenador; o Ministério do
CIENTÍFICA, DA participação de atores regionais envolvidos com a temática, Ambiente, Habitação e Desenvolvimento Territorial; o
PROMOÇÃO DO e inicialmente com o compromisso de sete instituições Instituto de Pesquisa de Recursos Biológicos Alexander von
sociais. Humboldt; a Unidade Administradora Especial de Parques
CONHECIMENTO E Nacionais Naturais; CorpoMacarena; CorpoAmazonía; o
DO O tipo de informação disponibilizada vai de dados científi- Instituto de Hidrologia, Meteorologia e Estudos Ambientais
DESENVOLVIMENTO cos organizados em bancos de dados, informação docu- da Colômbia (Ideam); e o Sistema de Informação sobre
DE MELHORES mental, imagens e mapas até múltiplas ferramentas de Biodiversidade da Colômbia (SIB). Nas próximas fases serão
CONDIÇÕES PARA O contato e comunicação. Além disso, entidades e especialis- integradas outras empresas, o setor acadêmico, associações
tas podem contribuir com informação. Funciona como uma de classe e ONG.
CAPITAL HUMANO
rede descentralizada e organizada entre entidades e espe-
DA REGIÃO. Por outro lado, foram apresentadas ini- to voluntário, como os Tagaéri-Taromenâni cialistas que geram ou manejam informação relevante. Está O portal do SIAT-AC disponibiliza informação sobre o estado
ciativas inovadoras voltadas à prevenção de e o povo indígena Huaorâni (Equador: Mi- integrado a iniciativas semelhantes, como o Mecanismo de do meio ambiente: biodiversidade, ecossistemas, flores-
impactos ambientais e de conflitos sociais, nistério das Relações Exteriores, Comércio Intercâmbio de Informação da Convenção sobre Diversida- tas; dados sociodemográficos, uso de recursos, dinâmicas
que requerem o compromisso e o esforço e Integração, 2008). Vários especialistas de Biológica (Clearing House Mechanism, CHM), a Infra- ambientais, dados cartográficos, consulta on-line e meta-
de diversos atores. Nesse sentido, cabe res- destacam que a iniciativa é uma alternativa estrutura Global de Informação sobre Biodiversidade (GBIF, dados. O portal do SIAT-AC consolidou-se como o ponto
saltar a Iniciativa-modelo Yasuni-ITT (Ishpingo- para abordar a questão da dívida ecológica na sigla em inglês) e a Rede Interamericana de Informação de referência para informação ambiental sobre a Amazônia
Tambocicha-Tiputíni), do Equador, que tem do ponto de vista global, fazendo uso de sobre Biodiversidade (IABIN, na sigla em inglês). colombiana.
como foco combater as mudanças climáti- instrumentos de compensação. Foi propos-
cas, conservar a biodiversidade e proteger ta ainda a criação de um “ecoimposto” com Por outro lado, o Sistema de Informação Ambiental Ter- Fontes: Peru: Siamazonia; Colômbia: Instituto Amazônico de Pesquisas Cien-
os povos indígenas. Para tanto, requer a a finalidade de desestimular a utilização de ritorial da Amazônia Colombiana (SIAT-AC) constitui um tíficas (Sinci), Instituto de Pesquisa de Recursos Biológicos Alexander von
Humboldt e Ministério do Ambiente, Habitação e Desenvolvimento Territorial
criação de um fundo fiduciário internacio- combustíveis fósseis, por meio do qual se processo no qual um conjunto de atores estabelecem (MAVDT) (2007).
nal destinado a compensar o Equador por tributaria a venda de petróleo (inclusive gás acordos com objetivos comuns para a gestão da informação
manter no subsolo da Amazônia equatoria- e carvão), em lugar das emissões (Martínez ambiental da Amazônia colombiana. Esses atores organi-
na cerca de um bilhão de barris de petró- et al., 2008).
leo, que, do contrário, seriam explorados
pelo projeto ITT. Não explorar o petróleo do Com relação aos projetos de pesquisa
subsolo equivale a aproximadamente 432 que abrangem vários países, inclusive de
milhões de toneladas de dióxido de carbo- outras regiões, pode-se citar o HiBam, do tema de Informação da Amazônia [Siama- área desmatada na Amazônia Legal, no pe-
no retidas no subsolo. Essa iniciativa conta qual participam Brasil, Equador, Bolívia e zonia]) e o da Colômbia (Sistema de Infor- ríodo de agosto de 2007 a junho de 2008,
9%
com o respaldo e o compromisso do presi- França, cuja finalidade é estudar a hidrolo- mação Ambiental Territorial da Amazônia aumentou em 9% em comparação com o FOI O
dente do Equador e vem sendo divulgada gia e a geoquímica da bacia amazônica. Colombiana [(SIAT-AC]). período anterior. Além disso, divulga men- CRES-
nas diversas instâncias de diálogo e coope- salmente dados relativos à área desmatada.
ração internacional com a finalidade de Há vários sistemas de informação am- Deve-se destacar ainda o esforço bra- Por exemplo, em junho de 2008 a super-
CIMENTO
conquistar apoio financeiro. Destaque-se biental nos países da região amazônica. sileiro no sentido de implementar um fície desmatada na Amazônia Legal foi de REGISTRADO DA
que Yasuni é a área protegida mais extensa Apesar da considerável quantidade de in- sistema de alerta rápido para monitorar a 870,8 km2, o que representa uma redução ÁREA DESMATADA
do Equador continental e a segunda mais formação gerada na região, sua difusão ou cobertura florestal e fornecer informação de 20% com relação aos dados de maio de NA AMAZÔNIA
importante depois de Galápagos, sendo re- acessibilidade não se dão em nível adequa- sobre a situação do desmatamento em 2008 (1.096 km2). Também indica que os LEGAL BRASILEIRA
conhecida como a zona de maior biodiver- do para os atores amazônicos. Dois exem- tempo real, denominado DETER, desenvol- estados mais atingidos pelo desmatamento
EM 2008 COM
sidade do planeta. Além disso, nela vivem plos de sistemas de informação nacional vido pelo Instituto Nacional de Pesquisas são Mato Grosso e Pará (INPE, 2008 citado
povos indígenas em situação de isolamen- para a Amazônia são o do Peru (Peru: Sis- Espaciais (INPE). O INPE registrou que a por PNUMA Brasil). RELAÇÃO AO
PERÍODO ANTERIOR.
246
CAPÍTULO5
Respostas dos atores à situação
AMBIENTALamazônica
>247
O distrito de Konashen, ou “país Wai Wai”, como é mais MAP se define como um “movimento social transfronteiriço
conhecido, está localizado na porção sul da Guiana. que chegou à conclusão de que somente através da colabo-
Nele vive um dos povos ameríndios, os Wai Wai. Ocu- ração e da integração de vários segmentos das sociedades
pando uma área de cerca de 625 mil hectares desde locais, regionais, nacionais e mundiais será possível alcançar um
tempos antigos, em 2004 o povo Wai Wai recebeu do desenvolvimento sustentável no sudoeste da Amazônia, capaz
governo da Guiana o direito de propriedade absoluto de se manter nas próximas décadas e para além do ano 2100”.
sobre esse território.
Desde 1999, na região conhecida como MAP, que compre-
Após a titulação da área, a comunidade exigiu do ende Madre de Dios (Peru), Acre (Brasil) e Pando (Bolí-
governo que o distrito de Konashen fosse integrado ao via), vem sendo desenvolvida uma iniciativa formada por
Sistema Nacional de Áreas Protegidas (SNAP ou NPAS, instituições e pessoas do âmbito acadêmico-universitário,
na sigla em inglês) e reconhecido como Área de Con- de organizações sociais, organizações não-governamentais
servação de Propriedade Comunitária (ACPC ou COCA, (ONGs) e das instâncias públicas municipais e estaduais.
na sigla em inglês). Para isso, a comunidade preparou Tal iniciativa tem como objetivo promover processos de
o projeto de plano de manejo exigido com a assistência harmonização das aspirações da população, de participação
da Conservation International – Guiana. O plano inclui democrática nos processos decisórios e de coordenação
as metas e os objetivos da ACPC, as diretrizes de mane- de planos, programas e projetos integracionistas voltados
jo dos recursos naturais, sua estrutura administrativa e para o desenvolvimento sustentável da tríplice fronteira, o
um programa de capacitação. Prevê, ainda, um progra- coração do sudoeste amazônico.
ma de monitoramento e avaliação visando identificar
novos desafios e oportunidades, bem como adaptar-se O MAP tem os seguintes objetivos:
a novas situações. O plano será avaliado transcorridos ❱❱❱ Fortalecer as relações trinacionais a fim de dar projeção
dois anos da sua implementação. à região e expandir suas perspectivas com base nas capaci-
dades locais
Os principais objetivos da ACPC são: conservar a ❱❱❱ Integrar internamente a região nos campos econômico,
biodiversidade, manter as tradições e os meios de vida social, ambiental e político
da comunidade, melhorar as condições de vida da ❱❱❱ Gerar modelos de desenvolvimento solidário que evi-
população e oferecer oportunidades para seus mem- tem o desmatamento ambiental
bros e suas famílias. A implementação do plano será
supervisionada por uma equipe gestora integrada pelo A base da organização constitui-se de dois grandes even-
toshao, ou capitão da vila, e por seus conselheiros, e tos: as reuniões temáticas, agrupadas nos Mini MAP, e a
❱❱❱ O estudo da biodiversidade amazônica atrai cientistas de centros de pesquisa de todo o mundo. complementada pelo Community Ranger Programme, realização de encontros anuais, denominados Fórum MAP.
ANTONIO ESCALANTE / EL COMERCIO
tabeliães, intérpretes e outras pessoas relevantes à sua Desde 2000, realizaram-se encontros nas cidades de Rio
administração. A equipe contará, no nível local, com o Branco (MAP I), Porto Maldonado (MAP II), Cobija (MAP III)
No que diz respeito à educação, no apoio do Clube de Conservação, do Grupo de Mulheres, e Brasiléia e Epitaciolândia (MAP IV).
contexto andino-amazônico criou-se o Pla- da Igreja e de professores, entre outros. O apoio exter-
no Andino-Amazônico de Comunicação e no será dado pelo Ministério de Assuntos Ameríndios, O MAP conseguiu conscientizar a população no sentido de
Educação Ambiental (Panacea), que tem pela Agência de Proteção do Meio Ambiente, pela admi- que é preciso mobilização para alcançar o desenvolvimento
por objetivo integrar as ações dos países nistração regional, entre outras instituições importantes. sustentável da região, contando para tanto com a participa-
em educação ambiental e, ainda, criar um ção de atores locais e de instituições interessadas. Destacam-
espaço de intercâmbio e ação mais orgâni- Os próximos passos para que o distrito de Konashen se entre suas conquistas: a eliminação de passaporte para
co. As linhas de trabalho do Panacea são: seja declarado uma ACPC são a aprovação do plano circular entre os três países, o desenvolvimento da Agenda 21
(i) políticas públicas e estratégias nacio- de manejo e a declaração, por parte das instituições local nos municípios participantes e a construção de cenários
nais e regionais de educação ambiental; competentes, de sua inclusão no sistema de áreas de de mitigação para a rodovia Interoceânica.
ERNESTO ARIAS/ EL COMERCIO
QUADRO 5.11
Muitas outras iniciativas de organizações
O PARQUE NACIONAL YANACHAGA CHEMILLÉN FOR-
sociais tratam da gestão ambiental na Ama-
NECE ÁGUA DE QUALIDADE: O CASO DA PISCICULTURA
zônia, como a experiência Wai Wai, na Guia-
“CALIFORNIA´S GARDEN”
na, e o MAP. Consistem na organização e mo-
bilização da sociedade com o propósito de
California´s Garden iniciou sua trajetória em 1996, com melhorar a situação do meio ambiente, quer
um estudo de viabilidade para a instalação de uma pisci- individualmente quer em parceria com o go-
cultura em Oxapampa, onde encontrou condições favorá- verno local ou regional. Muitas instituições e
veis para a criação de trutas, tais como a boa qualidade ONGs contribuíram para essa mudança ofe-
da água proveniente das nascentes localizadas no Parque recendo atividades de capacitação e empo-
Nacional Yanachaga Chemillén (PNYCH). deramento às populações locais.
A água que o Parque Nacional Yanachaga Chemillén forne- O setor privado é, dada a sua nature-
ce ao empreendimento contém altos níveis de oxigênio, za, um gerador de impactos ambientais,
motivo que explica o desenvolvimento mais rápido das motivo pelo qual costuma ser alvo de crí-
trutas e o melhor aproveitamento em termos de ração, se ticas. Nos últimos anos observou-se que
comparado com o de seu principal concorrente, situado algumas empresas adotaram estratégias de
na cidade de Huancayo. Neste, cada 1,2 kg de ração rende responsabilidade social, dentre elas a res-
um quilograma de truta, ao passo que na California´s ponsabilidade ambiental. A esse respeito,
Garden obtém-se esse mesmo quilograma com apenas o setor privado vem desenvolvendo inicia-
um de alimento. A água tem essas características graças à tivas que favorecem processos de mane-
“boa condição de saúde” dos ecossistemas conservados jo sustentável. O turismo ecológico é um
pelo Parque Nacional Yanachaga Chemillén exemplo de desenvolvimento de um setor
ambientalmente limpo.
Além disso, a maior concentração de oxigênio da água per-
mite que a California´s Garden trabalhe com uma densidade Em síntese, os atores e as instituições
de 28 a 34 kg/m2 de trutas nos seus tanques, sendo que a da Amazônia desenvolveram uma série de
densidade ideal normalmente é de 15 kg/m2. Isso lhes per- iniciativas em busca de respostas aos proble-
mite produzir o dobro de trutas que outras pisciculturas, sem mas ambientais da região. A Amazônia con-
a necessidade de investimentos em nova infra-estrutura. ta com o importante apoio da comunidade
internacional, que se traduz em cooperação
Com o uso de água de boa qualidade, devido à conserva- técnica, recursos financeiros, pesquisa, etc.
ção da bacia no Parque Nacional Yanachaga Chemillén, a Mas também desenvolveu processos sociais
California´s Garden conseguiu duplicar sua produtividade que contribuíram para uma maior coesão
em relação à concorrência e atualmente exporta, todos entre os diferentes atores e para que estes,
os anos, mais de 250 toneladas de truta para o mercado aos poucos, articulem-se e encontrem suas
europeu. Para a piscicultura California´s Garden, o estado próprias respostas que conduzam a uma ges-
LINO CHIPANA / EL COMERCIO
de conservação do Parque Nacional Yanachaga Chemil- tão ambiental mais eficiente. Não há dúvida
lén é um diferencial com relação à concorrência. de que as instituições locais também tiveram
um papel fundamental em dar respostas aos
Fonte: Informação proporcionada por California´s Garden S.A., 2005. problemas. As organizações da sociedade
Elaboração: Fernando León Morales, Inrena, 2006. civil promoveram importantes esforços no
❱❱❱ As atividades de lazer são também uma forma de sentido da atenuar os problemas da região,
aproveitar os recursos naturais de maneira sustentável. principalmente na área de saúde (relacio-
nados com a contaminação da água), mas
também desenvolveram empreendimentos
Em linhas gerais, os países amazônicos desenvol- problemas regionais, por meio da cooperação científi- empresariais que contribuíram para o apro-
AUTORAS:
ROSÁRIO GÓMEZ Centro de Pesquisa da Universidad del Pacífico (CIUP) – Peru
KAKUKO NAGATANI Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA)
CO-AUTORES:
6.1
ELSA GALARZA Centro de Pesquisa da Universidad del Pacífico (CIUP) – Peru
MARCOS XIMENES Instituto de Pesquisas Ambientais da Amazônia (IPAM) – Brasil APRESENTAÇÃO
ADRIANO VENTURIERI Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) – Brasil
TIMOTHY KILLEEN Conservation International – Bolívia
LUIS ALBERTO OLIVEROS Organização do Tratado de Cooperação Amazônica (OTCA)
MURIEL SARAGOUSSI Ministério do Meio Ambiente – Brasil
DOLORS ARMENTERAS Instituto Alexander von Humboldt – Colômbia
6.2 HIPÓTESES
FUNDAMENTAIS
6.3
UMA VISÃO DA
AMAZÔNIA
NO FUTURO
Da 6.5 CONCLUSÕES
AmazonIa
254
CAPÍTULO6
O futuro da Amazônia >255
QUADRO 6.1
CONSTRUÇÃO DE CENÁRIOS
NA METODOLOGIA GEO
4
para: sensibilizar atores e decisores para fatores que
IMAGENS HIPOTÉTICAS impulsionam uma mudança ambiental (p.ex., a dinâmi-
– CHAMADAS DE ca socioeconômica); estimular processos criativos de
“CENÁRIOS” – FORAM planejamento; e gerar novos conhecimentos sobre as
inter-relações entre os diferentes setores da socieda-
CRUZADAS DE ACORDO COM
de. Seu objetivo é influenciar, direta ou indiretamente,
OS TEMAS PRIORITÁRIOS E/OU processos decisórios, com vistas a promover o desen-
TRANSVERSAIS IDENTIFICADOS volvimento sustentável.
NOS CAPÍTULOS ANTERIORES.
Na avaliação das implicações desse conjunto de forças mo- que a estabilidade dos ecossistemas é assegurada e bens
trizes para a futura situação ambiental da Amazônia, e de sua e serviços ambientais são valorizados. O desenvolvimento
importância e grau de incerteza, três forças motrizes foram de ciência, tecnologia e inovação é limitado, não são feitos
identificadas como “incertezas críticas”: investimentos públicos na geração de novos conhecimentos
sobre as riquezas naturais da região e não se incentiva o de-
❱❱❱ O papel das políticas públicas focadas no aproveitamento senvolvimento tecnológico para otimizar o aproveitamento
dos recursos naturais da região , que compreendem os se- sustentável de seus recursos.
guintes elementos: participação cidadã, informação, gover-
nança ambiental e gestão ambiental. As políticas públicas
podem ter como norte a promoção do desenvolvimento CENÁRIO "À BEIRA DO PRECIPÍCIO”
sustentável, ou ser alheias a ele. (Papel das políticas públicas +, Funcionamento do mer-
cado –, CTI –): as políticas públicas promovem o desen-
❱❱❱ O funcionamento do mercado , isto é, suas tendências, as volvimento sustentável da região amazônica com base em
quais podem pender para um mercado que valoriza serviços uma governança ambiental eficaz, com a participação dos
ambientais na Amazônia e demanda produtos elaborados cidadãos. No entanto, as forças do mercado estimulam o
com base em critérios de sustentabilidade, ou para merca- desenvolvimento de atividades produtivas não-sustentáveis,
dos que não exigem salvaguardas ambientais na produção que afetam a estabilidade dos ecossistemas e não valorizam
de bens e na prestação de serviços na região. bens e serviços ambientais. O desenvolvimento de ciência,
6.2|HIPÓTESES
mento sustentável de bens e serviços ambientais. CENÁRIO "LUZ E SOMBRA”
- Nível geral de emprego (Papel das políticas públicas +, Funcionamento do mer-
- Educação ambiental Vale ressaltar que, por não ser possível prever o comporta- cado –, C T I +): as políticas públicas estimulam o desenvol-
FUNDAMENTAIS mento das incertezas críticas, foram usadas hipóteses na sua vimento sustentável da região amazônica com base em uma
Aspectos econômicos caracterização. Por outro lado, parte-se da premissa de que governança ambiental eficaz, que promove a participação
A definição de cenários baseia-se na identificação e na análise de for- - Atividades produtivas sem manejo sustentável cada uma dessas incertezas críticas tem um grau de influência cidadã. No entanto, as forças do mercado incentivam o de-
ças motrizes (tabela 6.1). “Forças motrizes” são entendidas como um - Investimentos em projetos de infra-estrutura (comuni- diferente. Por exemplo, a ciência e a tecnologia não exercem senvolvimento de atividades produtivas não-sustentáveis, que
conjunto de fatores e processos subjacentes nas áreas econômica, cações e indústria) a mesma influência que o mercado na determinação de ru- afetam a estabilidade dos ecossistemas e não valorizam bens
social, ambiental, político-institucional e cultural, entre outras, que - Megaprojetos e sua relação com o planejamento mos futuros: a velocidade com que as mudanças no mercado e serviços ambientais. Por outro lado, são feitos investimentos
afetam o meio ambiente natural tanto no presente como no futuro. territorial geram incentivos que influenciam as decisões dos diferentes em ciência, tecnologia e inovação, que promovem a geração
- Monocultura atores sociais geralmente é maior que a da área de ciência e de novos conhecimentos sobre as riquezas naturais da região,
O processo de identificação e revisão das forças motrizes da Amazô- - Culturas agrícolas para fins ilícitos tecnologia para produzir mudanças e incentivos. A Amazônia, e se incentiva o desenvolvimento tecnológico no sentido de
nia foi importante para a discussão e para as contribuições dos integrantes - Desenvolvimento de mercado de serviços ambientais em particular, é muito sensível a mudanças no funcionamento otimizar o aproveitamento sustentável de seus recursos.
do Comitê Técnico do GEO Amazônia e de outros representantes dos dos mercados.
principais atores envolvidos. Essas consultas e revisões foram levadas a Aspectos políticos e institucionais
cabo nos workshops realizados em Villa de Leyva, Colômbia, em maio de - Desenvolvimento do ordenamento jurídico Após a identificação e análise de diferentes combinações CENÁRIO "INFERNO EX-VERDE”
2006, e seus resultados serviram de subsídio às discussões mantidas na - Desenvolvimento de instrumentos de gestão de incerteza críticas, foram selecionados quatro cenários (Papel das políticas públicas –, Funcionamento do mer-
reunião sobre cenários, ocorrida em Havana, Cuba, em agosto de 2006. - Coordenação interinstitucional considerados altamente possíveis e relevantes para a região cado –, CTI –): as políticas públicas não promovem o
As forças motrizes identificadas foram as seguintes: amazônica, para os quais foram atribuídas as seguintes hipó- desenvolvimento sustentável; o componente ambiental
Ciência, tecnologia e inovação teses fundamentais, em que "+" significa uma melhora e "-", não é levado em consideração nos processos decisórios
Aspectos demográficos - Transferência de tecnologia diminuição ou deterioração. públicos. A governança ambiental não é eficaz, e a par-
- Migração - Articulação e reconhecimento de conhecimentos tradicionais ticipação cidadã não é promovida. Além disso, as forças
- Crescimento demográfico do mercado incentivam o desenvolvimento de atividades
Cultura CENÁRIO "AMAZÔNIA EMERGENTE” produtivas não-sustentáveis, que afetam a estabilidade dos
Aspectos sociais - Conservação da multietnicidade e da cultura (Papel das políticas públicas +, Funcionamento do mer- ecossistemas e não valorizam bens e serviços ambientais.
- Pobreza e desigualdade de renda cado +, CTI –): las políticas públicas promovem o desen- O desenvolvimento de ciência, tecnologia e inovação é li-
- Cobertura de serviços básicos Aspectos ambientais volvimento sustentável da região amazônica com base em mitado, não são feitos investimentos públicos na geração
- Conflitos internos (violência subversiva ou violência promovida por - Mudanças no uso do solo uma governança ambiental eficaz, com a participação dos de novos conhecimentos sobre as riquezas da região e não
atores à margem da legalidade) - Contaminação da água cidadãos. As forças do mercado incentivam o desenvolvi- se incentiva o desenvolvimento tecnológico para otimizar o
- Nível geral de instrução mento de atividades produtivas sustentáveis de tal forma aproveitamento sustentável de seus recursos.
258
CAPÍTULO6
O futuro da Amazônia >259
TABELA 6.1
Comportamento das forças motrizes
Migração
ASPECTOS
DEMOGRÁFICOS
Crescimento populacional
Conflitos armados
ASPECTOS
SOCIAIS
Nível geral de instrução
Educação ambiental
CENÁRIO "AMAZÔNIA
EMERGENTE”
Os avanços logrados, no entanto, variam mobilização de fatores de produção (mão- Em 2026, a região riquezas, ou seja, favorecem o desenvol- da, mas também às restrições impostas à
entre os países. Governos centrais e locais de-obra, insumos, fontes de energia, entre vimento do homem e de sua cultura, ex- transferência de tecnologia. Isso limita, em
têm trabalhado ativamente na preparação e outros). Um melhor planejamento e contro- amazônica está pressa em seus diferentes modos de vida termos de competitividade, a expansão das
aplicação de instrumentos de gestão ade- le dos impactos adversos desses projetos e formas de produção, em harmonia com a atividades produtivas existentes e o proces-
quados ao contexto amazônico, e para isso contribuíram para reduzir disparidades entre
mais consciente natureza. Reconhecer e respeitar a cultura so de implementação de atividades promis-
se valeram da coordenação interinstitucio- a população amazônica e o restante da po- da importância da e os conhecimentos tradicionais estimula a soras ou emergentes. Os países não conse-
nal, direcionando seus esforços às diferen- pulação nacional no que se refere à renda conservação dos usos e costumes tradicio- guiram gerar condições de modo a canalizar
tes questões ambientais de acordo com sua e à qualidade de vida, em cada um dos paí- sustentabilidade nais e a revalorização da múltipla etnicidade as capacidades das instituições públicas ou
prioridade à região. ses. A evidência mais clara dessa tendência e cultura amazônicas. acadêmicas para o aproveitamento dos re-
positiva é a redução de conflitos entre dife-
ambiental e contribui cursos naturais da região e, por essa razão, a
O nível crescente de atividades econômi- rentes grupos sociais, bem como daqueles para a melhoria dos Uma das limitações dos governos pode ampliação de algumas atividades produtivas
cas na região, em um contexto de integração relacionados à segurança nacional de alguns ter sido seus reduzidos aportes para o de- sustentáveis ainda é onerosa e pouco efi-
regional, tem favorecido o desenvolvimento países. principais indicadores senvolvimento científico e tecnológico e caz. As populações locais não participaram
de megaprojetos de infra-estrutura (p.ex., para a inovação. Essa situação apresenta da distribuição dos benefícios proporciona-
projetos de rodovias e de transmissão de As políticas públicas reconhecem a
ambientais. diferentes matizes entre os países amazô- dos pelo aproveitamento da biodiversidade,
energia), que facilitam tanto o intercâmbio heterogeneidade da região amazônica e nicos e diz respeito não apenas aos baixos exceto em casos específicos que envolvem
de produtos entre países da região como a promovem uma gestão integrada de suas investimentos em pesquisa básica e aplica- iniciativas do setor privado. Além disso, o
262
CAPÍTULO6
O futuro da Amazônia >263
2015,
Contando com instrumentos adequados zir variações na disponibilidade de água e a tecnológicas ecoeficientes, bem como restrin- contribuirá significativamente para o bom
para a gestão territorial (p.ex., o zoneamento contaminação deste recurso, isso em razão ge o acesso a estas. Além disso, o aproveita- funcionamento da União de Nações Sul-
econômico-ecológico e o cadastro de imó- do funcionamento eficaz dos mecanismos mento da biodiversidade não é suficiente para Americanas (Unasul).
veis), as atividades econômicas modernas e de regulação aplicados às atividades pro- atender adequadamente às necessidades da
as novas cidades desenvolvem-se em áreas dutivas (mineração, hidrocarbonetos, agri- AS METAS DE população, como alimentação e saúde As políticas públicas estão direciona-
apropriadas, evitando a degradação e a de- cultura). O princípio “poluidor pagador” é ACESSO À ÁGUA das para a melhoria dos serviços sociais
terioração dos ecossistemas. Atualmente, o amplamente aceito. A pesquisa e as soluções tecnológicas prestados. O crescimento econômico e as O desenvolvimento
FORAM ATINGIDAS,
planejamento territorial orienta projetos de para fazer frente às mudanças climáticas políticas públicas estáveis permitiram ao
infra-estrutura de maneira adequada, graças Por outro lado, as exigências do merca- DEZ ANOS APÓS também não registraram avanços significa- Estado obter melhores resultados nos in-
da área de ciência,
ao desenvolvimento do arcabouço legal e de do no que se refere a práticas de produção TEREM SIDO tivos. Essa questão parece não ter suscitado dicadores de distribuição de renda e con- tecnologia e
instrumentos de gestão apropriados, bem sustentáveis incentivam os produtores a ESTABELECIDAS. preocupação ou interesse suficientes de tribuíram para a redução da pobreza. De-
como à coordenação interinstitucional. Uma internalizar os custos ambientais através modo a gerar medidas ou resultados con- cisões tomadas por atores sociais têm sido inovação ainda é
estrutura jurídica mais clara e coerente com da implementação da gestão ambiental cretos; tampouco se pode dizer que seja criticadas em alguns casos, por enfocarem limitado, em razão
os direitos de propriedade gera incentivos nas diferentes etapas do processo produ- uma prioridade para os países amazônicos. benefícios de curto prazo e por não con-
para investimentos em atividades produti- tivo, reduzindo as externalidades geradas siderarem suas conseqüências ambientais da carência de
vas sustentáveis. Nesse contexto, tem sido anteriormente. Assim, a quantidade de de- CENÁRIO "À BEIRA no longo prazo. Contudo, considerando as
observada uma importante diminuição nos jetos sólidos, líquidos e gasosos diminuiu DO PRECIPÍCIO” oportunidades oferecidas pelo mercado, recursos financeiros
processos produtivos não-sustentáveis, par- e, conseqüentemente, caíram os níveis tal abordagem cria as condições necessá- e humanos no setor
ticularmente na monocultura e no cultivo de de contaminação nos corpos receptores, O crescimento populacional na Amazônia rias para resgatar a população amazônica
espécies de uso ilícito. como solo e água. tem se tornado mais intenso, principal- de sua situação de pobreza. público.
264
CAPÍTULO6
O futuro da Amazônia >265
em 2026 tem um custo maior, devido à não apresentaram nenhuma melhora signi-
reduzida disponibilidade e qualidade dos ficativa nos últimos anos.
serviços ambientais.
Quanto ao marco regulatório, apesar de
A condução do processo de desenvolvi- certas melhorias no desenvolvimento do
ERNESTO RAEZ
mento sustentável na Amazônia nunca foi arcabouço legal, ainda se observam limi-
transversalizada no planejamento do desen- tações na implementação de instrumentos
❱❱❱ Luz e sombra: políticas públicas mais coerentes no campo social, volvimento nacional ou regional e passou a de gestão e coordenação interinstitucional. ❱❱❱ Luz e sombra: as comunidades locais se beneficiam com o uso dos
porém os indicadores de pobreza não apresentam melhora significativa. ser considerada um conceito utópico próprio O cumprimento das leis é limitado, particu- conhecimentos tradicionais e com os avanços na área de ciência e tecnologia.
do século XX. larmente das socioambientais, e o sistema
urbanas. A hegemonia das forças de um mercado que não se dispõe a pagar de sanções tem um alcance limitado. abrangentes. A OTCA atua como facilitadora de diversas iniciativas, junto com as
por serviços ecossistêmicos agrava os problemas ambientais, que têm impactos CENÁRIO "LUZ E SOMBRA” agências da ONU, a cooperação internacional e organismos multilaterais.
globais, regionais, nacionais e locais. Enquanto algumas empresas multinacionais No entanto, a área que mais recebeu
tiram proveito das políticas públicas adotadas na região, muito abertas à entrada O crescimento demográfico nos países atenção dos países amazônicos, após longo Através da articulação de esforços, as parcerias entre o setor público e a
de investimentos, a pressão internacional aumenta, principalmente por parte de amazônicos registrou uma tendência po- período de estagnação até o começo do sé- iniciativa privada vêm sendo fortalecidas, com a finalidade de aprofundar o di-
ONGs internacionais e de alguns países europeus, devido às dificuldades enfren- sitiva moderada e estável por quase três culo XXI, foi a de desenvolvimento de ciên- álogo entre a ciência, os empreendimentos privados e as necessidades locais.
tadas pelos países amazônicos para manter a integridade ecossistêmica da região, décadas, puxada pela expansão de dife- cia, tecnologia e inovação (CTI) com foco na A estreita colaboração entre governos regionais e locais permite-lhes proje-
de importância mundial. Por exemplo, o desmatamento aumenta os efeitos das rentes atividades econômicas decorrente promoção do desenvolvimento sustentável tar e implementar estratégias conjuntas de promoção do desenvolvimento
mudanças climáticas, porque o carbono que deveria ser seqüestrado pela floresta dos incentivos do mercado no processo na Amazônia. Isso se reflete na destinação sustentável e inovador com base em cadeias produtivas e no fortalecimento
amazônica não é absorvido nos níveis esperados. Fora isso, o desmatamento tem de globalização e de políticas públicas de um importante volume de recursos pú- do capital social. Tal processo de desenvolvimento científico e tecnológico
um efeito muito profundo sobre os sistemas de convecção, os quais reciclam regionalmente integradas, no que diz res- blicos para a área, bem como no impulso ocorre em harmonia e sinergia com os saberes tradicionais, além de contar
50% da precipitação que ocorre na Amazônia, prolongando a estação da seca e peito à migração e ao ordenamento terri- dado a programas e projetos de alcance re- com um sistema transparente e eficiente para que as comunidades locais
tornando-a mais severa (Killeen, 2007). Os impactos desse fenômeno, dentro e torial. A expansão mundial de atividades gional voltados à promoção da integração e participem da repartição dos benefícios derivados do uso dos conhecimentos
fora da Amazônia, chamam cada vez mais a atenção de pesquisadores. comerciais e marcas "verdes", inclusive do intercâmbio científico e tecnológico em tradicionais e do aproveitamento da biodiversidade. Ciência, tecnologia e ino-
esquemas de certificação e de green la- toda a região. Graças aos esforços conjuntos vação contribuíram para superar as desigualdades e se tornaram uma ponte
Em 2015, as metas de acesso à água foram atingidas, dez anos após terem belling, traduziu-se em um maior núme- dos países, é possível pleitear fundos da co- entre setores e disciplinas que tradicionalmente atuavam de forma isolada.
sido estabelecidas. No entanto, registra-se uma maior contaminação das águas ro de empreendimentos inovadores na operação internacional para projetos de CTI
268
CAPÍTULO6
O futuro da Amazônia >269
centemente na região estão dirigidos aos conflitos às políticas CENÁRIO "INFERNO ção generalizada e da insegurança que carac-
mercados internacionais, porém é cada vez EX-VERDE” terizam as megacidades e os assentamentos
maior o número de produtos que atendem públicas adotadas no humanos da região, vários dos quais se situam
à demanda dos mercados emergentes na Segundo os censos domiciliares nacionais em áreas transfronteiriças. No entanto, o mito
região, social e ambientalmente responsá-
final do século XX, mais recentes, a região amazônica dos res- da “Amazônia vazia” ainda prevalece no modo
veis. O desenvolvimento de CTI contribui que privilegiaram o pectivos territórios nacionais foi a que expe- de pensar de funcionários públicos e da popu-
para gerar mais e melhores conhecimentos rimentou o maior crescimento demográfico. lação em geral dos países amazônicos.
sobre as riquezas naturais da grande região rápido crescimento As políticas públicas são fragmentadas e foto oso
amazônica, bem como para o surgimento pouco coerentes, e a fragilidade institucional Na reunião mais recente dos chance-
de alternativas tecnológicas que promo-
da economia. continua sendo a característica comum de di- leres dos países-membros da OTCA, rea-
vem seu aproveitamento sustentável. Além ferentes instituições públicas relevantes para lizada em 2026, avançou-se muito pouco
disso, esse processo de desenvolvimento o manejo da Amazônia. São ainda alheias ao no sentido de chegar a um consenso em
científico-tecnológico avança em harmo- desenvolvimento de estruturas adequadas torno de questões como a insegurança
nia e sinergia com os saberes tradicionais, para mitigar a degradação ambiental e pro- ambiental e a disparidade econômica na
dispondo-se, nesse sentido, de um sistema mover uma urbanização planejada. Amazônia dos países-membros, tanto no
transparente e eficiente que permite às co- âmbito interno como no inter-regional. A
munidades locais participar dos benefícios O marco legal existente foi estabelecido situação socioeconômica da região chegou
apropriação de conhecimentos tradicionais inclusive nessa área a falta de participação Em 2026, foi
sem retorno para as comunidades e a biopi- do poder público e de coordenação regional
rataria aumentam, afetando o legado cultu- têm impedido progressos. confirmada a
ral de populações nativas.
❱❱❱ Inferno ex-verde: perda acelerada da biodiversidade. Situação ambiental previsão de estudo
A despeito das oportunidades oferecidas A situação ambiental da Amazônia revela um conduzido pelo
pelo mercado mundial, que valoriza os ser- acelerado processo de degradação, responsá-
Na mídia, os conflitos socioambientais ocu- de serviços, que geraram mais pressões so- viços ambientais da Amazônia, as limitadas vel por perdas irreversíveis na riqueza natural IPAM-Brasil em
pam cada vez mais espaço: aumentam em nú- bre os bens e serviços dos ecossistemas. As- capacidades institucionais do setor público e cultural e em serviços ecossistêmicos. As
2007, que aponta
ESTUDO DA mero e intensidade, assim como a freqüência sim, alguns projetos foram interrompidos em dos países amazônicos, seu reduzido desen- ações nacionais para combater as ameaças
UNIVERSIDADE dos casos que envolvem violência armada pelo decorrência de freqüentes confrontos com as volvimento científico e tecnológico e sua pou- à integridade do ecossistema amazônico têm para a savanização
DE CIÊNCIA E acesso a recursos. Os formadores de opinião os comunidades e da pressão internacional, que ca inovação não propiciaram a incorporação sido insuficientes, da mesma forma que a
TECNOLOGIA atribuem às políticas públicas adotadas no final questionava a capacidade das obras de gerar oportuna e estratégica de questões-chave atenção internacional para essa questão, e as de 30 a 60% da
do século XX, que privilegiaram um crescimen- os benefícios socioeconômicos esperados. para a Amazônia à agenda internacional. Atu- medidas que estão sendo implementadas se
(SUÍÇA) PREVÊ
to econômico rápido sem levar na devida con- Nos últimos anos, não houve nenhuma nova almente, os ecossistemas estão degradados e revelam pouco eficazes para deter as forças
Amazônia em
QUE A AMAZÔNIA
SOFRERÁ 13 ANOS
sideração as dimensões social e ambiental. proposta de projeto rodoviário ou energético fragmentados. Quanto ao mercado de traba- de mercados desregulados. Um enorme e im- conseqüência
porque tais iniciativas, segundo os bancos lho, nas populações locais as oportunidades portante sumidouro de carbono está sendo
DE EXTREMA SECA Projetos de infra-estrutura rodoviária, de internacionais e outras agências de financia- são precárias e ocorrem inclusive formas de desperdiçado, situação que está contribuindo da elevação da
ENTRE 2071 E 2100. comunicações e de geração de eletricidade mento, seriam de “alto risco” para a região. exploração análogas à escravidão. Diante da para acentuar os impactos das mudanças cli- temperatura entre 2
foram implementados em ritmo acelerado crescente demanda mundial por alimentos, máticas, o que torna a população local mais
para melhorar a conectividade entre os di- Em um contexto de fragmentação so- atividades como a agricultura de monocultura vulnerável a eventos meteorológicos extre- e 3 °C.
ferentes mercados no contexto da regionali- cial, observa-se, por um lado, uma parcela e o uso de transgênicos ainda são lucrativas. mos, como secas e inundações provocadas
zação e integração da Amazônia. Esses em- da população que se apropria dos recursos pela crescente perda de cobertura vegetal.
preendimentos produziram alguns benefícios da região para sobreviver precariamente e, Esses fatores foram responsáveis pela
de curto e médio prazos, como a geração de por outro, empreendimentos privados que expulsão de várias comunidades étnicas de Confirmou-se, assim, a previsão do estu-
emprego local, mas em sua maioria não de- se apropriam desses mesmos recursos, até seus territórios de origem e pela extinção de do realizado pelo IPAM-Brasil em 2007, pu-
ram a devida atenção a seu efeito sobre os mesmo fazendo uso de violência, expulsan- muitos povos indígenas na última década. blicado há vinte anos, segundo o qual de 30
processos socioeconômicos locais nem às do posseiros das terras que ocupam. A falta Instituições acadêmicas e de pesquisa empe- a 60% da Amazônia se transformariam em
conseqüências ambientais em suas áreas de de uma presença eficaz do Estado expõe a nharam-se em documentar os idiomas e os savana em decorrência de uma elevação de
influência, como o desenvolvimento de as- população carente a processos de vulnera- conhecimentos tradicionais de comunidades 2 a 3°C na temperatura do planeta e da di-
sentamentos humanos precários e carentes bilização e exclusão. Da mesma maneira, a em risco de extinção ou recém-extintas, mas minuição das chuvas. Essa situação fez com
272
CAPÍTULO6
O futuro da Amazônia >273
que a seca avançasse sobre extensas áreas, seca. Um grande número de indícios apontam
particularmente no sul da Amazônia, onde as para alterações nos serviços ecossistêmicos,
estiagens intensas ocorrem com uma freqü- muitas delas irreversíveis na Amazônia. Exem-
ência cada vez maior. Estudo realizado pela plo de alteração de alcance regional é a menor
O AUMENTO DO DESMATAMENTO AFETA SEVERAMENTE
Universidade de Ciência e Tecnologia (ETH disponibilidade de água nas bacias adjacentes
O CICLO HIDROLÓGICO REGIONAL, REDUZ AS
Zurich), sob a responsabilidade dos cientistas ao sul da Amazônia, cuja produção agropecuá-
Michele Bättig, Martin Wild e Dieter Imboden, ria representa uma importante parcela da renda
PRECIPITAÇÕES E PROLONGA O PERÍODO DE SECA.
prevê que a Amazônia sofrerá treze anos de nacional. A floresta amazônica está se fragmen-
seca extrema entre 2071 e 2100. tando em manchas de diferentes tamanhos e
composições, e com ela a biodiversidade. Flo-
Países como o Brasil deram importantes restas comunitárias e algumas áreas protegidas
passos na área de CTI para tratar questões am- são os locais que mais preservaram as compo-
bientais prioritárias na região, como o monito- sições originais do ecossistema amazônico, que
ramento do desmatamento e das mudanças ainda no início do século XXI estava intacto.
climáticas, mas, infelizmente, não se chegou a
um consenso regional quanto ao uso harmoni- Entre as principais causas da degradação
zado de instrumentos tecnológicos. Devido a ambiental, destacam-se as obras de estradas
restrições na disponibilidade e acesso a infor- internacionais, cujo planejamento é deficiente e
mações, bem como a incertezas relacionadas não contempla as devidas medidas de mitigação
ao reconhecimento da propriedade intelectual dos impactos socioambientais, o extrativismo, a
e ao uso adequado de informações, o número monocultura e a pecuária de grande escala.
de pesquisas aplicadas caiu drasticamente nos
últimos anos na Amazônia. Os poucos relató- Tais atividades também exercem pressão
rios disponíveis são estudos encomendados sobre os corpos d'água: aumentam o asso-
por empresas privadas com a finalidade de ex- reamento e aceleram o processo de degra-
plorar possíveis jazidas de minérios e campos dação da água, alterando suas características
de hidrocarbonetos. físico-químicas. A contaminação da água é
uma questão muito séria, pois afeta a saúde
A avaliação conduzida pelo Instituto Ima- da população dos assentamentos humanos
zon, em 2007, sobre avanços na consecu- que dependem dos poços como principal
ção dos Objetivos de Desenvolvimento do fonte de água durante a estação da seca.
Milênio (ODM) na Amazônia brasileira, con-
firmou-se. Segundo essa avaliação, embora Para facilitar o acesso a mercados e
a maioria dos indicadores avaliados tivesse maximizar os benefícios no curto prazo, os
melhorado em relação a 1990, o indicador governos incentivam a ocupação das terras
para desmatamento havia piorado (Celenta- situadas nas cabeceiras da bacia amazôni-
no; Veríssimo, 2007). Sem políticas públicas ca, onde megaestruturas, como barragens,
ou investimentos em ciência, tecnologia e foram construídas para assegurar o acesso
inovação, a aceleração do desmatamento à água, promover o desenvolvimento agro-
tornou-se uma lamentável realidade. Ne- pecuário, melhorar a gestão desse recurso e
nhum dos países amazônicos conseguiu gerar energia. As barragens afetam a conec-
alcançar o sétimo objetivo dos ODM em tividade dos cursos d'água, alteram o hábitat
2015, ano limite para a consecução da maio- da biodiversidade aquática e prejudicam ati-
ria das metas. Um quarto de século mais vidades produtivas, como a pesca artesanal.
tarde (2040), calcula-se que um milhão de
quilômetros quadrados de florestas amazô- Assim, a perda qualitativa e quantitativa
nicas terão se perdido e que 33 mil milhões dos recursos disponíveis para o desenvol-
de toneladas de dióxido de carbono terão vimento de atividades econômicas afeta a
sido liberadas na atmosfera nessa região – qualidade de vida da população mundial,
volume equivalente a quase cinco anos de particularmente da Amazônia, por limitar
emissões globais (Moutinho, 2007). suas fontes de renda e de alimentação.
ENRIQUE M. QUINTERO
dades humanas no curto prazo, cujos efeitos, no entanto, fazem-se tais enfrentam incertezas na consecução de
sentir no longo prazo e freqüentemente estabelecem um círculo um desenvolvimento sensato e equilibrado
vicioso entre a degradação ambiental e seus impactos socioeco- na região, que produza benefícios de longo
nômicos adversos. prazo com base numa perspectiva regional
integral.
A identificação oportuna dos temas emergentes apresenta van-
tagens, quais sejam: conscientizar os cidadãos a respeito das inter- ❱❱❱ Estudos prospectivos regionais na Ama-
relações entre o meio ambiente local e global; antecipar medidas zônia: O ritmo acelerado das mudanças
de modo a assegurar a adaptação e evitar crises; melhor orientar esses serviços e de instrumentos que incentivem seu O ritmo acelerado funcionamento dos serviços ecossistêmicos. É observadas na Amazônia requer um cons-
a pesquisa e a coleta sistemática de dados; promover uma melhor uso e conservação. preciso regulá-lo a fim de minimizar os impac- tante monitoramento e uma análise das
compreensão das relações entre as atividades humanas e o meio das mudanças na tos ambientais, assim como levar em conta situações que eventualmente venham a
ambiente; e, por último, incorporar conhecimentos científicos à ges- Por outro lado, a inovação tecnológica propicia o desen- que as decisões que forem tomadas a esse ocorrer na região, com a finalidade de me-
tão pública. volvimento de produtos de maior valor agregado, capazes
Amazônia requer respeito afetarão ecossistemas regionais, já lhorar a capacidade de intervir nos proces-
de satisfazer as exigências de diferentes mercados e de con- um constante que para estes não há fronteiras geopolíticas. sos que pressionam o ambiente natural e os
Alguns dos temas emergentes cruciais para a Amazônia identifi- tribuir para melhorar a eficiência de processos produtivos, recursos naturais da região, para efetuar os
cados neste relatório são os seguintes: embasada na conservação dos serviços ecossistêmicos. monitoramento e ❱❱❱ Biocombustíveis: O aumento na de- ajustes que se façam necessários. Diversas
manda por biocombustíveis gerado pela instituições brasileiras têm uma experiência
❱❱❱ Competitividade por meio da inovação tecnológica: Em um contex- ❱❱❱ Introdução de espécies e expansão dos transgênicos:
análise das situações crise energética mundial é uma importante acumulada nessa questão e estão utilizando
to de mercados dinâmicos, variados e exigentes, é preciso ter uma vi- Pressão cada vez maior na Amazônia produz alterações que venham a pressão para mudanças na utilização do solo modelos que permitem a análise de pers-
são estratégica quanto ao aproveitamento da Amazônia, assim como em seus ecossistemas, que são frágeis por natureza. O das florestas, no sentido de converter mais pectivas ambientais na Amazônia Legal. No
reconhecer e valorizar a heterogeneidade de seus recursos naturais, crescimento dos mercados requer uma maior oferta de ocorrer na região, áreas para a produção agrícola. Nos países entanto, é importante observar ainda como
humanos e culturais. O conceito de competitividade proposto por produtos para a alimentação e para o desenvolvimento desenvolvidos, a disponibilidade de terras outros países amazônicos atuam e, quando
M. Porter (2007) exige que a dimensão ambiental seja considerada industrial a preços mais baixos, além de incentivar a ex-
com a finalidade para esse fim é muito limitada, e isso faz oportuno, estimulá-los a canalizar as capa-
e eficientemente gerida. Por essa razão, as políticas públicas devem pansão de culturas, plantações e criações de espécies de melhorar a com que os países em desenvolvimento, cidades existentes no sentido de beneficiar
ter um enfoque integral, no sentido de oferecer incentivos adequa- que não são originárias da região. inclusive a Amazônia, sejam visados para suas respectivas regiões e a trocar informa-
dos aos diversos atores envolvidos. Nesse contexto, é necessário capacidade de o cultivo de espécies destinadas à produ- ções, somando e articulando esforços para
aprofundar os conhecimentos acerca dos serviços ecossistêmicos O processo de introdução de espécies já teve início ção de biocombustíveis, que podem vir a resolver problemas ambientais correntes e
resposta.
prestados pela região, dos diversos mercados em potencial para na Amazônia, no entanto não se sabe que efeito terá no competir pelas terras com a produção de temas emergentes na região.
276
CAPÍTULO6
O futuro da Amazônia >277
zônia. Infelizmente, os estilos de desenvolvimento adotados pelos tante assinalar que a discussão sobre possíveis opções e
países amazônicos e seus cidadãos estão minando tanto as opções que as decisões tomadas em relação ao futuro da Amazô-
de desenvolvimento sustentável futuro como a esperança de que um nia estão nas mãos dos decisores e dos próprios cidadãos
futuro alternativo para a Amazônia é possível. Não há dúvida de que dos países amazônicos.
278
CAPÍTULO6
O futuro da Amazônia >279
Geo AmazônIa EM 2026, ESSAS CRIANÇAS TERÃO CERCA DE 30 ANOS. Viverão numa
democracia, terão direito ao voto e decerto já o terão exercido. Na escolha
GEO Amazônia precisava ilustrar os quatro
de seu presidente, com certeza terão levado em consideração, entre outras
cenários descritos pelos pesquisadores.
coisas, os pontos de seu programa eleitoral sobre ecologia e desenvolvimento
Para isso, convidou um grupo de
sustentável. Algumas delas provavelmente seguirão o
estudantes do colégio San Eulógio, de
caminho inverso ao de seus pais e retornará à floresta para
Comas (Lima, Peru), membros da brigada
trabalhar, contratadas por uma empresa. Também é possível
de jornalistas escolares ecológicos. As
que uma delas, após se formar em engenharia mecânica,
crianças, de 11 a 13 anos, na maioria filhos
receba a tarefa de projetar um implemento que, acoplado a
de imigrantes que deixaram a floresta
uma máquina antiga, minimize os efeitos nocivos desta ao meio
em busca de melhores oportunidades na capital, conheceram
ambiente.
de primeira mão a matriz proposta por GEO Amazônia e se dedicaram
UMA SEMANA DEPOIS, GEO AMAZÔNIA recebeu um conjunto
durante um dia a destrinchar cada linha do relatório para criar os desenhos
de desenhos claros, precisos e impactantes que retratam a Amazônia em 2026,
que ilustram os quatro possíveis futuros : “Vamos acabar tendo mais
um futuro que será vivido por esse grupo de crianças, os homens e as mulheres
vacas do que animais autóctones”, “mais vacas significam menos
do amanhã.
árvores”, “no primeiro cenário vamos colocar macacos, onças
e tucanos”, “no último cenário, quase tudo vai estar coberto de
cimento”, “o diálogo vai acabar”...
AMAZÔNIA EM 2026
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A
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7.1 CONCLUSÕES
7.2
A
AmazonIa
LINHAS
DE AÇÃO
POSSIVEL
>285
A Amazônia é uma vasta região do trópico úmido sul- FAVORECEM O APROVEITAMENTO E A CONSERVAÇÃO
americano. É dotada de abundantes riquezas e marcada por DA BIODIVERSIDADE, E TAMBÉM ATIVIDADES
contrastes naturais e culturais que interagem num espaço CAUSADORAS DA DEGRADAÇÃO DO MEIO AMBIENTE
ocupado pelo homem desde tempos remotos. POR UM LADO, E DA DETERIORAÇÃO DOS RECURSOS NATURAIS. Por
A AMAZÔNIA ABRIGA UMA GRANDE VARIEDADE DE exemplo, é possível encontrar atividades sustentáveis, como a
ESPÉCIES DA FLORA E DA FAUNA, MOTIVO PELO QUAL aqüicultura, a criação de animais e o aproveitamento florestal
DETÉM VÁRIOS RECORDES MUNDIAIS DE DIVERSIDADE madeireiro e não-madeireiro, lado a lado com monocultura,
BIOLÓGICA. É TAMBÉM UMA IMPORTANTE ÁREA DE pecuária extensiva, agricultura migratória, entre outras. A
ENDEMISMOS, QUE FAZEM DA REGIÃO UMA RESERVA AMAZÔNIA APRESENTA UMA COMPLEXA DINÂMICA
GENÉTICA DE IMPORTÂNCIA MUNDIAL PARA O DE INTER-RELAÇÕES ENTRE OS SISTEMAS NATURAL
DESENVOLVIMENTO DA HUMANIDADE. Além disso, E HUMANO, QUE SE RETROALIMENTAM E ALTERAM
possui recursos minerais e energéticos (petróleo e gás). O EQUILÍBRIO ECOLÓGICO. É DIFÍCIL IDENTIFICAR
Por outro lado, a Amazônia é sinônimo de diversidade RELAÇÕES DE CAUSA-EFEITO NESSE SENTIDO, O QUE
cultural, resultado do processo histórico de ocupação DIFICULTA DIAGNOSTICAR OU ENCONTRAR SOLUÇÕES
do território e da interação entre grupos humanos de PARA AS DIVERSAS SITUAÇÕES QUE OCORREM NA
diferentes procedências étnicas e geográficas. A interação REGIÃO. As decisões que tomarmos hoje a respeito
entre o homem e os ecossistemas amazônicos apresenta da Amazônia terão impactos no longo prazo, sendo
diversos contrastes. NA AMAZÔNIA EXISTEM MODOS determinantes para a situação ambiental e o bem-estar
DE PRODUÇÃO E DE CONSUMO SUSTENTÁVEIS, QUE humano da região no futuro.
>287
da monocultura em grandes extensões, por cujo impacto ambiental e social ainda não foi
exemplo, os cultivos de soja e de coca, assim devidamente quantificado. Da mesma forma,
como a pecuária bovina extensiva. Em alguns promoveram iniciativas voltadas à integração
países, estes são os dois principais vetores da região, de modo a encontrar uma solução
do desmatamento, da perda de biodiversi- conjunta aos problemas ambientais. Todas
dade e da contaminação dos corpos d´água. essas políticas e medidas são ainda insufi-
Observa-se, também, a multiplicação de cientes para reverter o processo de perda de
megaprojetos associados à exploração de recursos naturais e a degradação ambiental
hidrocarbonetos e à construção de rodovias da Amazônia, bem como para melhorar a
e barragens. Da mesma forma, a migração dá qualidade de vida das populações locais.
lugar aos assentamentos humanos e a obras
de infra-estrutura de serviços e de comu- A iniciativa privada, por sua parte, vem imple-
nicação, o que exige uma adequação das mentando processos de certificação florestal
áreas ocupadas para esses fins, envolvendo ou de produção ecológica e/ou diversifican-
mudanças no uso do solo. Tais mudanças do a oferta de bens e serviços amazônicos
limitam o fornecimento de serviços ecossis- (p.ex., ecoturismo e biocomércio). As ONGs,
têmicos, como proteção do solo, provisão de um modo geral, têm contribuído para
de bens, recreação, cultura e regulação do uma melhor compreensão do funcionamen-
Incorporar a gestão de riscos promover e viabilizar a coordena- ❱❱❱ Fortalecer os sistemas de infor-
à agenda pública. ção, a execução, o monitoramento e mação existentes e promover a sua
a avaliação dos acordos regionais articulação com os setores público e
A heterogeneidade e a complexidade da em vigor. privado.
Amazônia em um contexto de crescente
vulnerabilidade a eventos climáticos ❱❱❱ Elaborar e implementar uma
exigem a elaboração de políticas e Fortalecer os esforços de estratégia de difusão que permita
medidas que estimulem uma adaptação geração e difusão de uma adequada divulgação das
às mudanças climáticas. Assim, é informação sobre meio questões ambientais relativas à
importante que a gestão de riscos seja ambiente na região. Amazônia entre diferentes setores
incorporada nas avaliações ambientais do público.
estratégicas, quando da definição das Considerando a importância da produção
estratégias de desenvolvimento científica e da geração de dados nos
amazônico. Isso permitirá evitar ou reduzir países da região para a adequada gestão Promover estudos e ações de
os custos associados à ocorrência de das questões ambientais na Amazônia, é valorização econômica dos
desastres. crucial estabelecer medidas de serviços ambientais
sistematização e de articulação dos amazônicos.
Um elemento fundamental associado à diversos esforços em curso, com a
gestão de riscos é o monitoramento finalidade de criar um sistema integrado A valorização dos serviços ambientais é um
ambiental baseado em indicadores de informação e, mais especificamente, de assunto em torno do qual a região unirá
previamente definidos. Esse monitoramen- dados ambientais. Do mesmo modo, é esforços no sentido de que se reconheça o
to permitirá que futuras fontes de risco preciso estreitar os vínculos de cooperação valor dos diversos serviços ecossistêmicos
sejam identificadas, facilitando o funciona- científico-tecnológica entre os países, com proporcionados pela Amazônia. A partir
mento dos sistemas de alerta antecipado. o propósito de elaborar e pôr em prática disso, será possível formular políticas e
uma agenda de pesquisa científica, com instrumentos de remuneração que
ênfase na pesquisa aplicada. incentivem o aproveitamento sustentável
Fortalecer a institucionalidade dos serviços ecossistêmicos.
ambiental na Amazônia. Por outro lado, deve-se elaborar uma
estratégia de difusão e comunicação de As redes universitárias existentes na região
É importante que os espaços e as questões ambientais prioritárias levando podem ser aproveitadas para identificar
oportunidades de discussão e ação em consideração os diversos segmentos temas de interesse comum e modalidades
relativos às prioridades ambientais da do público interessado (formuladores de de colaboração para o desenvolvimento de
região sejam aproveitados políticas, empresários, estudiosos, ONGs e estudos de valorização econômica nas
adequadamente. Desse modo, é público em geral). áreas de recursos hídricos e biodiversidade.
fundamental o fortalecimento da
Organização do Tratado de Cooperação Principais ações sugeridas:
Amazônica, assim como de outros fóruns Criar um sistema de
regionais que promovem o diálogo entre ❱❱❱ Criar um sistema amazônico de monitoramento e avaliação
as autoridades nacionais, regionais, informação ambiental levando em dos impactos de políticas,
estaduais e/ou locais, e entre os conta as plataformas existentes programas e projetos.
especialistas nos principais temas (sistemas de georreferenciamento
ambientais amazônicos. É preciso, ainda, e de estatísticas, entre outros). A fim de dar prosseguimento à
promover a participação dos diferentes implementação da agenda ambiental
atores da sociedade civil nos processos de ❱❱❱ Produzir pesquisa científica e amazônica, deve-se contar com um
tomada de decisão e elaborar mecanismos tecnológica, para atender aos sistema de monitoramento baseado em
e meios para viabilizar as ações acordadas. problemas ambientais prioritários indicadores de desempenho para os
da região, e promover o diversos temas abordados pela agenda. De
❱❱❱ Avaliar a necessidade e a viabili- intercâmbio de experiências e de igual forma, deve-se realizar
dade da reativação e do aperfeiçoa- especialistas. periodicamente a avaliação do
mento da Comissão Especial de cumprimento das metas, segundo
Meio Ambiente da Organização do ❱❱❱ Desenvolver pesquisa aplicada indicadores preestabelecidos. Nesse
Tratado de Cooperação Amazônica. na área de ciências sociais visando sentido, um observatório ambiental
aperfeiçoar o processo de formula- amazônico constituiria uma ferramenta
❱❱❱ Elaborar e implementar mecanis- ção de políticas específicas para a estratégica para a formulação de políticas
mos, instrumentos e meios para região. e de instrumentos de gestão.
292
>293
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GRÁFICO 3.3 Desembarque médio anual por país no período 1988-1998 (a) e estimativa do consumo de peixe dos QUADRO 2.5 Amazônia: reguladora do clima 102
158 QUADRO 3.1 Áreas manejadas na Amazônia 117
habitantes rurais e ribeirinhos na Amazônia (b)
GRÁFICO 3.4 Principais espécies desembarcadas no Brasil, Colômbia e Peru no período 1994-1996 e em 2000 160 QUADRO 3.2 Bolívia: uso e aproveitamento de recursos florestais não madeireiros: a castanha (Bertholletia excelsa h.B.K.) 127
QUADRO 3.3 Coberturas da Amazônia colombiana 131
GRÁFICO 3.5 Exportação de pescado anual na bacia amazônica no período 1995-2003 (Brasil, Colômbia, Peru) 160
GRÁFICO 3.6 Volume de pescado exportado pelo Brasil, Colômbia e Peru na bacia amazônica QUADRO 3.4 Diversidade da vegetação da Amazônia peruana 133
160
QUADRO 3.5 Desmatamento na Amazônia 136
GRÁFICO 3.7 Densidade da pecuária nos estados de Rondônia, Mato Grosso e Pará (Brasil) 1996-2006 168
GRÁFICO 3.8a Equador: vista parcial das províncias de Orellana e Sucumbios (1977) QUADROO 3.6 O glifosato e suas concentrações: impacto sobre os peixes nativos 154
172
QUADRO 3.7 Efeitos socioambientais causados por empreendimentos hidrelétricos: a represa de Afobaka em Suriname 155
GRÁFICO 3.8b Equador: vista parcial das províncias de Orellana e Sucumbios 25 anos depois (2002): mudanças
QUADRO 3.8 Sedimentos nos rios amazônicos 157
no uso do solo, intenso desmatamento e novas ilhas no canal do rio Napo, sinal do assoreamento 173
QUADRO 3.9 Alerta de sobrepesca de dourado e piramutaba 159
cada vez maior
QUADRO 3.10 Babaçu: oportunidades e limitações 164
GRÁFICO 3.9a Cidade e Pucallpa-Peru, 1975 185
QUADRO 3.11 A agricultura na Amazônia ribeirinha do Rio Ucayali (Peru) 165
GRÁFICO 3.9b Cidade e Pucallpa-Peru, 2007 185
QUADRO 3.12 Bolívia: manejo da terra e ordenamento jurídico-institucional insuficiente 169
GRÁFICO 4.1 Impactos sobre o bem-estar humano 202
QUADRO 3.13 Brasil: mão-de-obra escrava na produção agrícola na Amazônia 170
GRÁFICO 4.2 Peru: exportação de mogno 206
QUADRO 3.14 Cidades amazônicas e suas áreas de influência 178
QUADRO 3.15 Georgetown: desenvolvimento urbano 181
QUADRO 3.16 Água potável no Suriname 184
QUADRO 3.17 As queimadas são a principal causa da poluição atmosférica nas cidades brasileiras 187
QUADRO 4.1 Equador: efeito da extração de petróleo na saúde da população amazônica 205
ACRONIMOS E SIGLAS
❱❱❱ INEC: Instituto Nacional de Estatísticas ❱❱❱ OTCA: Organização do Tratado de ❱❱❱ SINA: Sistema Nacional Ambiental -
e Censos - Equador. Cooperação Amazônica. Colômbia.
❱❱❱ INEI: Instituto Nacional de Estatística e ❱❱❱ PAEC: Plano de ação estratégico para a ❱❱❱ SINAMA: Sistema Nacional de Infor-
Informática - Peru. implementação do anexo II da CITES para mação sobre Meio Ambiente.
o mogno no Peru.
❱❱❱ INGEOMINAS: Instituto Colombiano ❱❱❱ SINCHI: Instituto Amazônico de Pes-
❱❱❱ ACPC: Áreas de Conservação de ❱❱❱ GLP: Gás Liquefeito de Petróleo. de Mineração e Geologia. ❱❱❱ PAMAFRO: Projeto Controle da Malária quisas Científicas - Colômbia.
Propriedade Comunitária. ❱❱❱ CONCYTEC: Conselho Nacional de nas Zonas Fronteiriças da Região Andina.
Ciência, Tecnologia e Inovação - Peru. ❱❱❱ GOES: Satélite Ambiental Operacional ❱❱❱ INPA: Instituto Nacional de Pesquisas ❱❱❱ SOTE: Sistema de Oleoduto Transe-
❱❱❱ ALC: América Latina e o Caribe. Geoestacionário. da Amazônia - Brasil. ❱❱❱ PANACEA: Plano Andino de Comuni- quatoriano.
❱❱❱ CORPOAMAZONIA: Corporação para cação e Educação Ambiental.
❱❱❱ AMUMA: Acordos Multilaterais sobre o Desenvolvimento Sustentável do Sul da ❱❱❱ GTZ: Cooperação Técnica Alemã. ❱❱❱ INPE: Instituto Nacional de Pesquisas ❱❱❱ SPDA: Sociedade Peruana de Direito
Meio Ambiente Amazônia. Espaciais - Brasil. ❱❱❱ PIB: Produto Interno Bruto. Ambiental.
❱❱❱ GuySuUCo: Corporação de Açúcar da
❱❱❱ ANP: Áreas Naturais Protegidas. ❱❱❱ COV: Compostos Orgânicos Voláteis. Guiana. ❱❱❱ INRENA: Instituto Nacional de Recur- ❱❱❱ PEA: População Economicamente Ativa. ❱❱❱ TCA: Tratado de Cooperação Ama-
sos Naturais - Peru. zônica.
❱❱❱ BID: Banco Interamericano de Desen- ❱❱❱ CTI: Ciência, tecnologia e inovação. ❱❱❱ GWI: Companhia de Água da Guiana. ❱❱❱ PNUD: Programa das Nações Unidas
volvimento. ❱❱❱ IPCC: Painel Intergovernamental sobre para o Desenvolvimento. ❱❱❱ TGP: Transportadora de Gás do Peru S.A.
❱❱❱ DANE: Departamento Administrativo ❱❱❱ IABIN: Rede Interamericana de Infor- Mudanças Climáticas.
❱❱❱ BIODAMAZ: Projeto Diversidade Nacional de Estatística - Colômbia. mação sobre Biodiversidade. ❱❱❱ PNUMA: Programa das Nações Unidas ❱❱❱ TLC: Tratado de Livre Comércio.
Biológica da Amazônia Peruana. ❱❱❱ IR: Imposto de Renda. para o Meio Ambiente.
❱❱❱ DIAN: Direção de Impostos e Aduanas ❱❱❱ IALL: Instituto de Aqüicultura dos ❱❱❱ TNC: The Nature Conservancy
❱❱❱ CAAAP: Centro Amazônico de Antro- - Colômbia Llanos - Colômbia. ❱❱❱ ISA: Instituto Socioambiental. ❱❱❱ PNYCH: Parque Nacional Yanachaga
pologia e Aplicação Prática. Chemillén. ❱❱❱ TPC: Trilhões de Pés Cúbicos.
❱❱❱ ECOAN: Associação de Ecossistemas ❱❱❱ IBAMA: Instituto Brasileiro do Meio ❱❱❱ ITTO: Organização Internacional das
❱❱❱ CAF: Corporação Andina de Fomento. Andinos. Ambiente e dos Recursos Naturais Madeiras Tropicais. ❱❱❱ PPCP: Plano Colombiano-Peruano para ❱❱❱ UDAPE: Unidade de Análise de Políti-
Renováveis. a Bacia do Rio Putumayo. cas Sociais e Econômicas - Bolívia.
❱❱❱ CAN: Comunidade Andina. ❱❱❱ ECORAE: Instituto para o Desenvolvi- ❱❱❱ IVIC: Instituto Venezuelano de Pesqui-
mento Ecológico Regional da Amazônia ❱❱❱ IBGE: Instituto Brasileiro de Geografia sas Científicas. ❱❱❱ PREDECAN: Projeto de Prevenção de ❱❱❱ UFPA: Universidade Federal do Pará.
❱❱❱ CBC - Andes: Centro para a Conser- Equatoriana. e Estatística. Desastres na Comunidade Andina.
vação da Biodiversidade - Andes. ❱❱❱ LBA: Experimento de Grande Escala da ❱❱❱ UICN: União Internacional para a
❱❱❱ EIA: Estudo de Impacto Ambiental. ❱❱❱ ICM: Instituto de Ciências do Mar. Biosfera - Atmosfera na Amazônia. ❱❱❱ PRODES: Programa de Monitoramento Conservação da Natureza.
❱❱❱ CDB: Convenção sobre Diversidade do Desmatamento na Amazônia.
Biológica. ❱❱❱ EMBRAPA: Empresa Brasileira de ❱❱❱ ICMP: Programa Mundial de Monitora- ❱❱❱ MAP: Projeto Madre de Dios, Acre e ❱❱❱ UNAMAZ: Associação de Universida-
Pesquisa Agropecuária. mento de Cultivos Ilícitos. Pando. ❱❱❱ PRONERA: Programa Nacional de des Amazônicas.
❱❱❱ CEDIME: Centro de Pesquisa dos Educação na Reforma Agrária - Brasil.
Movimentos Sociais do Equador. ❱❱❱ ENAHO: Pesquisa Nacional Domiciliar ❱❱❱ IDEAM: Instituto de Hidrologia, Meteo- ❱❱❱ MCT: Ministério de Ciência e Tecnolo- ❱❱❱ UNESCO: Organização das Nações
- Peru. rologia e Estudos Ambientais da Colômbia. gia - Brasil. ❱❱❱ PSA: Pagamento por Serviços Am- Unidas para a Educação, a Ciência e a
❱❱❱ CENPES: Centro de Pesquisa e Desen- bientais. Cultura.
volvimento da Petrobrás. ❱❱❱ ENOS: El Niño Oscilação Sul. ❱❱❱ IEPA: Instituto Ecológico e de Proteção ❱❱❱ MEF: Ministério de Economia e
dos Animais. Finanças - Peru. ❱❱❱ PTS: Partículas Totais em Suspensão. ❱❱❱ USAID: Agência dos Estados Unidos
❱❱❱ CETA: Centro de Estudos Teológicos da ❱❱❱ EPA: Agência de Proteção Ambiental.
para o Desenvolvimento Internacional.
Amazônia. ❱❱❱ IGAC: Instituto Geográfico Agustín ❱❱❱ MERCOSUL: Mercado Comum do Sul. ❱❱❱ RNPS: Reserva Nacional Pacaya
❱❱❱ EAS: Empresas de abastecimento de Codazzi. Samíria. ❱❱❱ UTU: Universidade do Trabalho do
❱❱❱ CI: Conservation International. água e de saneamento. ❱❱❱ MMA: Ministério do Meio Ambiente Uruguai.
❱❱❱ IGV: Imposto Geral sobre Vendas. - Brasil. ❱❱❱ SCA/MMA: Secretaria de Coorde-
❱❱❱ CIAT: Centro Internacional de Agricul- ❱❱❱ FAO: Organização das Nações Unidas nação da Amazônia, Ministério do Meio ❱❱❱ VIDS: Associação de Líderes de Vilas
tura Tropical. para a Agricultura e a Alimentação. ❱❱❱ IIAP: Instituto de Pesquisas da Amazô- ❱❱❱ MODIS: Espectro-radiómetro imagea- Ambiente - Brasil. Indígenas.
nia Peruana. dor de resolução moderada.
❱❱❱ CIID/IDRC: Centro Internacional ❱❱❱ FDA: Administração Federal de Alimen- ❱❱❱ SDR/MI: Secretaria de Desenvolvi- ❱❱❱ WRM: World Rainforest Movement.
de Pesquisa para o Desenvolvimento - tos e Medicamentos - EUA. ❱❱❱ IIRSA: Iniciativa de Integração da Infra- ❱❱❱ MPEG: Museu Paraense Emílio Goeldi. mento Regional, Ministério de Integração
Canadá. Estrutura da Região Sul-Americana. Nacional - Brasil. ❱❱❱ WWF: Fundo Mundial para a Natureza
❱❱❱ FOBOMADE: Fórum Boliviano de Meio ❱❱❱ MUNIC: Pesquisa de Informações
❱❱❱ CITES: Convenção sobre o Comércio Ambiente e Desenvolvimento. ❱❱❱ ILDIS: Instituto Latino-Americano de Básicas Municipais. ❱❱❱ SDS/MMA: Secretaria de Políticas para ❱❱❱ ZEE: Zoneamento Ecológico-Econômico.
Internacional das Espécies da Flora e Fau- Pesquisas Sociais. o Desenvolvimento Sustentável, Ministério
na Selvagens em Perigo de Extinção. ❱❱❱ FONCODES: Fundo de Cooperação ❱❱❱ NOAA: Agência Oceânica e Atmosféri- do Meio Ambiente - Brasil.
para o Desenvolvimento Social - Peru. ❱❱❱ IMAZON: Instituto do Homem e Meio ca dos EUA.
❱❱❱ CLIRSEN-Equador: Centro de Levan- Ambiente da Amazônia. ❱❱❱ SGCAN: Secretaria-Geral da Comuni-
tamentos Integrados de Recursos Naturais ❱❱❱ FONPLATA: Fundo Financeiro para o ❱❱❱ OSCIP: Organizações da Sociedade dade Andina.
por Sensoreamento Remoto. Desenvolvimento da Bacia da Prata. ❱❱❱ INADE: Instituto Nacional de Desenvol- Civil de Interesse Público.
vimento - Peru. ❱❱❱ SIAC: Sistema de Informação sobre
❱❱❱ CO: Monóxido de Carbono. ❱❱❱ FRA: Avaliação dos Recursos Florestais. ❱❱❱ OEA: Organização dos Estados Ame- Biodiversidade - Colômbia.
❱❱❱ INCODER: Instituto Colombiano de ricanos.
❱❱❱ COAH: Herbário Amazônico Colombiano. ❱❱❱ FSC: Conselho de Manejo Florestal. Desenvolvimento Rural. ❱❱❱ SIAMAZONIA: Sistema de Informação
❱❱❱ OIT: Organização Internacional do sobre Diversidade Biológica e Ambiental
❱❱❱ COICA: Coordenadora das Organi- ❱❱❱ GEF: Fundo para o Meio Ambiente ❱❱❱ INCRA: Instituto Nacional de Coloni- Trabalho. da Amazônia Peruana.
zações Indígenas da Bacia Amazônica. Mundial. zação e Reforma Agrária - Brasil.
❱❱❱ OMS: Organização Mundial da Saúde. ❱❱❱ SIAT: Sistema de Informação Agrária e
❱❱❱ CONAM: Conselho Nacional do ❱❱❱ GEE: Gases de efeito estufa. ❱❱❱ INDECI: Instituto Nacional de Defesa Gestão de Território.
Ambiente (atual Ministério do Ambiente) Civil - Peru. ❱❱❱ ONG: Organização não-governamental.
- Peru. ❱❱❱ GETAT: Grupo Executivo das Terras do ❱❱❱ SIMCI: Sistema Integrado de Monitora-
❱❱❱ CONAMA: Conselho Nacional do Meio Araguaia-Tocantins. ❱❱❱ INE: Instituto Nacional de Estatística ❱❱❱ ONU: Organização das Nações Unidas. mento de Cultivos Ilícitos.
Ambiente - Brasil. - Bolívia.
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