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1. Os monossacarídeos naturais são moléculas quirais e, na maior parte dos casos, o único
enantiómero existente nos seres vivos é o enantiómero D .................................................................... 1
2. A maior parte dos monossacarídeos só existem no ser humano como resíduos componentes de
moléculas mais complexas ..................................................................................................................... 2
3. A glicose, a galactose e a frutose são os monómeros constituintes dos mais importantes
carbohidratos da dieta ............................................................................................................................ 3
4. O amido, a sacarose e a lactose são hidratos de carbono importantes na dieta dos seres humanos
3
5. Durante a digestão dos glicídeos as hidrólases digestivas catalisam a hidrólise do amido e dos
dissacarídeos da dieta. ............................................................................................................................ 4
6. A atividade catalítica das amílases salivar e pancreática ............................................................... 4
7. A maltase-glicoamílase e a isomaltase-sacarase são ectohidrólases e a sua atividade de α-1,4-
exo-glicosídases completa a ação das amílases libertando glicose ........................................................ 4
8. A lactase e a trealase são dissacarídases e também são ecto-hidrólases da membrana apical dos
enterócitos. ............................................................................................................................................. 5
9. As fibras da dieta não são digeridas ............................................................................................... 5
10. A intolerância à lactose ............................................................................................................... 5
11. O transporte transmembranar de monossacarídeos é mediado por transportadores ................... 6
12. O transporte ativo de glicose no polo apical dos enterócitos ...................................................... 6
13. O transporte transmembranar de monossacarídeos no polo basal dos enterócitos ..................... 7
14. O transporte transmembranar da frutose ..................................................................................... 7
15. A regulação da atividade dos transportadores SGLT1 e GLUT5 ............................................... 7
16. A absorção de água é concomitante com a absorção de Na+ e glicose ....................................... 7
1. Os monossacarídeos naturais são moléculas quirais e, na maior parte dos casos, o único
enantiómero existente nos seres vivos é o enantiómero D
Os hidratos de carbono (ou glicídeos) costumam ser definidos como derivados aldeídicos ou cetónicos
de poliálcoois. Os mais simples são os monossacarídeos de que são exemplos a glicose, a galactose, a
frutose, a manose, a ribose, a desoxiribose, a xilulose, a ribulose, a eritrose, a sedoheptulose, o ácido
glicurónico, o ácido L-idurónico, o ácido N-acetil-neuramínico, a L-fucose, a xilose, a glicosamina, a N-
acetilglicosamina, etc. Nos seres vivos, excetuando os casos do ácido L-idurónico e da L-fucose, todos os
outros monossacarídeos só existem na forma D. Com raríssimas exceções só um dos enantiómeros das
moléculas quirais é sintetizado pelos seres vivos. Assim, nos seres vivos todo o ácido idurónico é o
enantiómero L e toda a fucose é fucose L; em todos os outros monossacarídeos acima referidos, o
enantiómero existente nos seres vivos é o enantiómero D. Por isso quando, em biologia, nos referimos, por
exemplo, à glicose (ou a outros monossacarídeos) omite-se que se trata do enantiómero D; toda a glicose
existente nos seres vivos é glicose D, toda a galactose é galactose D, etc. Um determinado enantiómero de um
monossacarídeo é o enantiómero D, quando se observa que, na molécula orientada de acordo com a
convenção de Fischer, o grupo hidroxilo do último carbono assimétrico fica voltado para a direita. A estrutura
molecular dos monossacarídeos, assim como a de todas as substâncias, está na base da sua capacidade para se
ligar e interagir com as enzimas e os transportadores presentes nas células dos seres vivos. As enzimas e os
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transportadores membranares dos seres vivos são de natureza proteica e são incapazes de se ligar à glicose L e
a outros monossacarídeos de tipo L que, de facto, só existem porque podem ser sintetizadas laboratorialmente.
2. A maior parte dos monossacarídeos só existem no ser humano como resíduos componentes
de moléculas mais complexas
No ser humano saudável, exceto a seguir a refeições que contenham frutose ou galactose (ou
dissacarídeos que lhe possam dar origem), o único monossacarídeo que existe (em concentrações detetáveis)
no plasma sanguíneo é a glicose. O outro monossacarídeo que também existe na forma livre nos seres
humanos é a frutose que está presente no esperma.
Os outros monossacarídeos referidos no ponto anterior só existem no ser humano como resíduos
componentes de moléculas mais complexas. Estas moléculas mais complexas podem ser intermediários do
metabolismo onde são frequentes as formas fosforiladas (como, por exemplo, a glicose-6-fosfato, a glicose-1-
fosfato, a ribulose-5-fosfato ou a xilulose-5-fosfato) ou ligadas de forma covalente a nucleotídeos (como, por
exemplo, a UDP-galactose ou a GDP-manose; respetivamente, o uridino-difosfato de galactose e a
guanosino-difosfato de manose). Noutros casos, estas moléculas mais complexas são substâncias de reserva
energética ou componentes estruturais e funcionais das células, da matriz extracelular ou de secreções
presentes no lúmen do tubo digestivo ou no sistema respiratório. O glicogénio, os ácidos nucleicos, os
glicolipídeos, as glicoproteínas e os glicosaminoglicanos contêm resíduos de monossacarídeos incorporados
nas suas estruturas moleculares.
O glicogénio é um polímero ramificado em que as unidades estruturais são resíduos de glicose ligados
entre si por ligações glicosídicas de tipo O. Estas ligações são na sua maioria α-1,4 mas, nos locais das
ramificações, são α-1,6. O papel biológico do glicogénio é funcionar como substância de reserva energética:
acumula-se nas células após refeições que contenham glicose (ou substâncias que possam originar glicose) e,
durante o jejum, acaba por libertar os monómeros constituintes que serão oxidados a CO2.
Os glicolipídeos são lipídeos complexos que estão presentes na face exterior das membranas
citoplasmáticas; contêm um resíduo glicídico ou uma cadeia (geralmente ramificada) de resíduos glicídicos
que se ligam diretamente a um álcool que se designa por esfingol (=esfingosina); o esfingol é um dos resíduos
constituintes dos glicolipídeos. Nas glicoproteínas, um ou mais dos resíduos aminoacídicos da cadeia
polipeptídica estão ligados a um resíduo glicídico ou a uma cadeia (geralmente ramificada) de resíduos
glicídicos. As glicoproteínas são, frequentemente, componentes das membranas citoplasmáticas (situando-se
na face exterior), mas também existem glicoproteínas na matriz extracelular, no plasma sanguíneo, na face
luminal de organelos intracelulares e no citoplasma das células. As mucinas são glicoproteínas que são
segregadas para o lúmen do tubo digestivo e do sistema respiratório. Os glicolipídeos e as glicoproteínas
podem conter resíduos de manose, de ácido N-acetil-neuramínico, de L-fucose, de galactose, de N-acetil-
galactosamina, de glicose e de N-acetil-glicosamina. A frutose não faz parte deste tipo de compostos. Quando
existem cadeias glicídicas, os resíduos dos monossacarídeos constituintes destas cadeias ligam-se uns aos
outros por ligações glicosídicas de tipo O. Nos glicolipídeos, o resíduo glicídico que se liga diretamente ao
esfingol (porque é único ou porque se situa na extremidade proximal de uma cadeia) estabelece com este
álcool uma ligação glicosídica que também é de tipo O. No caso das glicoproteínas, quando o resíduo
aminoacídico envolvido na ligação ao resíduo glicídico ou à cadeia glicídica é a serina ou a treonina
(aminoácidos com um grupo hidroxilo) a ligação também é glicosídica de tipo O, mas quando é a asparagina
(aminoácido com um grupo amida) a ligação é glicosídica de tipo N. (Nas ligações glicosídicas está sempre
envolvido o carbono anomérico de um resíduo glicídico.)
Os glicosaminoglicanos são longos polímeros lineares existentes na matriz extracelular em que, com
uma exceção (o ácido hialurónico), o monómero de uma extremidade da cadeia se liga, através de uma ligação
glicosídica, a um resíduo aminoacídico de uma proteína: assim, com a exceção referida, os
glicosaminoglicanos são se facto proteoglicanos. Nos glicosaminoglicanos há uma unidade estrutural que se
repete formando cadeias lineares (não ramificadas); essa unidade é um dissacarídeo que é diferente nos
diferentes tipos de glicosaminoglicanos. Com uma exceção (sulfato de queratano) todos os
glicosaminoglicanos contêm resíduos de ácido glicurónico que se ligam a resíduos de um aminoaçúcar
acetilado no grupo amina. Ou seja, na maioria dos glicosaminoglicanos, a unidade estrutural dissacarídica que
se repete contém ácido glicurónico ligado (por uma ligação glicosídica de tipo O) a N-acetil-glicosamina ou a
N-acetil-galactosamina. Alguns glicosaminoglicanos também contêm outro ácido urónico, o ácido L-
idurónico que (nos casos da heparina, do sulfato de heparano e do sulfato de dermatano) substitui o ácido
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glicurónico na maioria das unidades dissacarídicas que formam a cadeia linear. A maioria dos
glicosaminoglicanos também contêm grupos sulfato esterificados com os grupos hidroxilo dos resíduos
glicídicos.
4. O amido, a sacarose e a lactose são hidratos de carbono importantes na dieta dos seres
humanos
O amido, a sacarose e a lactose são hidratos de carbono importantes na dieta dos seres humanos. O
amido e a sacarose são de origem vegetal enquanto a lactose é o açúcar do leite. Todos os outros hidratos de
carbono podem estar presentes nos alimentos, mas não têm, em geral, relevância do ponto de vista nutricional.
O amido é um polímero formado exclusivamente por resíduos de glicose ligados entre si por
ligações glicosídicas de tipo O (ou acetal). O amido natural é formado por dois tipos de estruturas distintas: a
amilose e a amilopectina. Na amilose as ligações são exclusivamente de tipo α-1,4, enquanto na amilopectina
também existem ligações do tipo α-1,6. Por isso a molécula de amilose é uma cadeia linear de resíduos de
glicose e a amilopectina uma cadeia ramificada com uma estrutura que lembra uma árvore. Quer na amilose,
quer na amilopectina, o número de resíduos de glicose por molécula, sendo variável, é de vários milhares. Nos
dois tipos de ligações (α-1,4 ou α-1,6) um dos carbonos envolvidos é sempre o carbono anomérico de um
resíduo de glicose que está na forma α (ou seja, é sempre o anómero α da glicose); o outro carbono envolvido
pode ser o carbono 4 ou o 6 de outro resíduo de glicose. (O glicogénio só existe nas células animais e a sua
estrutura é muito semelhante à da amilopectina: a diferença é que o intervalo entre ramificações é de 5-7
unidades de glicose no glicogénio e esse intervalo é muito maior (cerca de vinte ou mais) no caso da
amilopectina.)
A lactose é um dissacarídeo formado por um resíduo de galactose ligado por uma ligação glicosídica
β-1,4 a um resíduo de glicose. A ligação é também glicosídica de tipo O envolvendo o carbono anomérico de
um resíduo de galactose (sempre o anómero β) e o carbono 4 de um resíduo de glicose. O carbono anomérico
do resíduo de glicose está livre. Para expressar a ideia de que apenas um dos carbonos anoméricos dos
resíduos do dissacarídeo está envolvido na ligação glicosídica usa-se, às vezes, a expressão “ligação osídeo-
ose”.
A sacarose é um dissacarídeo formado por um resíduo de glicose ligado por uma ligação glicosídica
α-1,2 a um resíduo de frutose. Os carbonos 1 na glicose e o carbono 2 na frutose são os carbonos anoméricos
em cada um dos açúcares. Ou seja, ambos os carbonos anoméricos estão envolvidos na ligação e a ligação é
glicosídica de tipo O quer “quando se olha do lado” da glicose quer “quando se olha do lado” da frutose. Às
vezes usa-se a expressão “ligação osídeo-osídeo” para expressar esta ideia.
A trealose é um dissacarídeo que está presente em alguns cogumelos e onde também existe uma
ligação osídeo-osídeo. A trealose contém dois resíduos de glicose ligados por uma ligação α-1,1.
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Equação 1 AB + H2O → A + B
As hidrólases que, no tubo digestivo, catalisam a hidrólise dos glicídeos têm pHs ótimos próximos de
7 o que coincide com o pH existente na boca e no lúmen do intestino (mas não com o pH do lúmen gástrico
que é ácido).
As hidrólases que catalisam a rotura de ligações glicosídicas, como são as que ligam os monómeros
constituintes dos glicídeos da dieta, podem ser designadas por glicosídases.
1
Duas enzimas são isoenzimas quando catalisam a mesma reação mas são, na mesma espécie (o homem, por exemplo),
estruturalmente diferentes. São frequentemente codificadas por genes distintos, mas também podem resultar de diferentes
processamentos do “transcrito primário” que originam, a partir de um mesmo gene diferentes RNA mensageiros ou de
diferentes modificações pós-tradução nas proteínas sintetizadas.
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sobre a maltose (ver Equação 2), mas todas as quatro α-1,4-exo-glicosídases acima referidas são capazes de
atuar sobre a maltose.
Para além da atividade sobre as ligações α-1,4, a isomaltase também é capaz de atuar sobre ligações α-
1,6, quer da isomaltose (dissacarídeo com dois resíduos de glicose ligados por uma ligação glicosídica α-1,6;
ver Equação 3), quer de oligossacarídeos em que o resíduo que vai ser libertado participa da ligação através do
seu carbono anomérico e tem o hidroxilo do carbono 4 livre. Por isso, a isomaltase é simultaneamente uma α-
1,4-exo-glicosídase e uma α-1,6-exo-glicosídase.
A sacarase (ver Equação 4), para além de da atividade já referida também catalisa a ligação α-1,2
existente na sacarose.
Estas enzimas também são classicamente designadas de dissacarídases porque os substratos mais
simples sobre que atuam são dissacarídeos (a maltose, a isomaltose e a sacarose).
2
Em Portugal afetará cerca de 1/3 da população adulta; na China mais de 95%.
3
A fermentação bacteriana de glicídeos também produz ácidos carboxílicos de cadeia curta, sobretudo acetato (2
carbonos; C2), propionato (C3) e butirato (C4). Alguns (como o acetato e o propionato) são, em grande parte, absorvidos
pelos colonócitos e, depois de passarem para o sangue, são metabolizados noutras células do organismo. O butirato é um
nutriente dos colonócitos, as células epiteliais que forram o intestino grosso.
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Nos enterócitos a ATPase do Na+-K+ está presente na membrana basolateral e, por isso, os iões Na+ saem diretamente
para o espaço intercelular e para o espaço extracelular que está na base destas células. No entanto, os iões Na+ são
suficientemente pequenos para atravessarem as junções impermeáveis e podem passar para o lúmen intestinal.
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1. Sim, L., Willemsma, C., Mohan, S., Naim, H. Y., Pinto, B. M. & Rose, D. R. (2010) Structural basis for substrate
selectivity in human maltase-glucoamylase and sucrase-isomaltase N-terminal domains, J Biol Chem. 285, 17763-70.
2. Frayn, K. N. (2012) Regulação Metabólica. Uma perspetiva focada no organismo humano., U.P. Editorial, Porto.
3. Drozdowski, L. A. & Thomson, A. B. (2006) Intestinal sugar transport, World J Gastroenterol. 12, 1657-70.
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