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Resumo
Quem é Jesus Cristo para a igreja e para cada um de nós, hoje? É a esta pergunta que
o presente artigo procurará responder. É em Jesus Cristo que descobrimos mais
efetivamente quem é Deus e quem é o ser humano. Reinterpretamos a Cristologia
como uma das doutrinas de maior importância para o cristianismo, para a igreja e para
a vivência cristã. Reafirmamos a sua centralidade na libertação do homem todo e de
todo o homem, no lugar em que está inserido e onde tem alcance a sua fé e sua ação.
Reconstruímos também a idéia da conversão e do seguimento de Jesus como um
processo que liberta a vida dentro da vida e como uma condição indispensável para o
estabelecimento de uma nova ordem espiritual, social e política. Sinalizamos também
que a Cristologia é construída e pensada no entorno do tema Jesus Cristo como
Libertador, o que na prática significa cristificar toda a realidade com os valores do
Reino: liberdade, amor, justiça, solidariedade, verdade, etc.
Abstract
Who is Jesus Christ to the church for each of us today? This is the question that this
article will try to answer. It is in Jesus Christ that we find out effectively who God is and
who is the human being. We understand the study of Christ as one of the most
important doctrines for Christianism to the church and to the Christ living. Reafirm that it
is the center for men’s liberty in the place where he is inserted and where men can
achieve their faith and their action and the following of Jesus as a process that free the
life inside and as an essencial condition for the stability of a new spiritual, social and
political order. We point out that the study of Christ is built and thougth around Jesus
Christ theme as a liberator, what in practice means sacrifice all the reality with the
values of the Reign: liberty, love, justice, sympathy, true, etc.
Keywords
Christology, liberation, convertion, kingdom of God, hope, solidarity.
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Doutorando em Ciências da Religião, pela Universidade Metodista de São Paulo; Mestre em
Educação pela PUC-MG, 2002; Lato Sensu em Metodologia do Ensino Superior e Filosofia
para o pensar. Licenciatura em Filosofia pela PUC-MG, 1999, e Pedagogia pela FAFI-BH,
1997; Curso Livre de Teologia pelo Seminário Teológico Batista Mineiro, 1991.
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1 INTRODUÇÃO
na América Latina uma situação muito dolorosa. Muitos cristãos são mortos
porque são cristãos. Isso já aconteceu na história cristã, no passado. Mas,
estamos passando por isso na América Latina hoje” (GUTIÉRREZ, 1989, p.
38). Muitas foram as tentativas reformistas que objetivavam uma mudança
nesse quadro assolador. Entretanto, somente nos anos 60 e 70 do último
século é que as esperanças de uma grande mudança começam a existir.
Nessa época, lá pelos idos de 1960, nascia a Teologia da Libertação e
com ela, a Cristologia da Libertação. Esta, respaldada pelo Cristo vivo anuncia
a vivência radical do Deus da vida numa realidade marcada pela morte. Por ser
um projeto teológico-humano que se reveste, no seu todo, daquilo que é mais
característico da divindade – a libertação – a proposta da Cristologia é a
libertação não só dos pobres e oprimidos, mas de toda a criação de Deus. Na
perspectiva de Boff é uma Teologia da Libertação, ao mesmo tempo, que uma
práxis libertadora. Isto porque:
Viver a fé em Jesus Cristo Libertador supõe um compromisso com a
libertação histórica dos oprimidos... Falar em Jesus Cristo Libertador
supõe alguma coisa anterior. Libertação acha-se em correlação à
dominação. Venerar e anunciar Jesus Cristo Libertador implica
pensar e viver a fé cristológica a partir de um contexto sócio-histórico
de dominação e opressão. (BOFF, 2003, p. 15. Grifo do autor).
Jesus histórico e pelos seus ensinos, pois tais coisas, além de oprimir, tornam-
se obstáculos ao Reino de Deus. Na América Latina, a violência, a dominação,
a injustiça, a opressão e a exclusão têm relação direta com o capitalismo e com
um projeto fundacional de um mercado mundial. É nesse contexto que emerge
uma consciência histórica em prol de libertação. A palavra libertação tornou-se
significativa e foi interpretada para além de um mero vocábulo. Libertação é
uma linguagem, uma tomada de consciência, mas também um componente da
reflexão teológica e uma práxis política libertadora.
A Cristologia que é para a Libertação denuncia o monopólio e os
privilégios do poder que se auto-idolatra e que tem em si mesmo o seu próprio
fim. É por isso que a Cristologia fundamenta e corrobora para uma ação cristã
e eclesial que seja para a Libertação, pois o seu imperativo é o serviço, o
engajamento e a esperança como forma de poder, de solidariedade e de
libertação. Assim, como enfatiza Boff (2004), só se pode elaborar uma
Cristologia verdadeiramente de libertação com a condição de que o teólogo
tenha feito uma opção clara e irredutível pelo Reino de Deus e por todos
aqueles a quem Deus ama. Como a América Latina e os muitos países a ela
pertencentes carecem de libertação, por causa das inúmeras desigualdades
sociais, culturais, políticas e econômicas, com suas opressões e “matanças”, o
lugar e a vez da Cristologia da Libertação estão definidos. A Cristologia da
libertação deve corporificar-se numa práxis de amor engajado, pois seu
nascimento se deu a partir da escuta do grito massivo dos pobres entendidos
como injustamente oprimido.
Especificamente no que tange à pobreza e à miséria no Continente Sul-
americano, Boff (2004), reforça a idéia de que ele vive uma situação como a da
parábola evangélica do “bom samaritano2”. Ou seja, desde a sua descoberta,
depende de outros que o despojam, lhe fazem violência e o deixam semimorto.
Nesse aspecto, ressaltamos que as crises econômicas, políticas e sócio-
culturais da América Latina são também crises teológico-religiosas, uma vez
que a teologia e as religiões, ao longo da história, contribuíram para o
estabelecimento de relações de mando, de opressão, de violência e de
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De acordo com o relato do evangelho, em Lucas 10: 30-36, denominada “A parábola do bom
Samaritano”, Jesus conta a história de um homem que caiu nas mãos dos salteadores, os
quais o despojaram, o que pode ser compreendido paralelamente ao Continente Sul-
americano, que desde a sua descoberta é também despojado.
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um estudo, uma teologia. É, por sua vez, uma hermenêutica e uma práxis cristã
evangélica, libertadora e transformadora. Assim, a Cristologia – além de ser a
explicitação feita pela comunidade após a vida, ministério, morte e ressurreição
de que Jesus foi o Filho de Deus, é também a descoberta iluminada pelo
Espírito Santo de que a fé em Cristo tem uma dimensão política que coloca em
cheque todo o poder, ação e situação que obstrui a libertação. Então, a
Cristologia é mais do que repassar adiante aquilo que emergiu em Jesus. É
viver intensamente, pela fé, uma nova opção cristã na sociedade, que deve se
concretizar na libertação e na reconquista da liberdade aprisionada de homens
e mulheres de todo o mundo.
Em toda a reflexão teológica, porém, urge não esquecer: ela não vem
em primeiro lugar, nem deve substituir a fé. Mais importante do que a
reflexão é a vida. (...) toda cristologia deve estar unida à ética: “quem
diz que permanece n’Ele, deve andar como ele andou” (I Jo 2:6). “Nem
todo aquele que faz cristologia e diz: Senhor, Senhor! Entrará no Reino
dos céus” (Mt 7:21-23). (BOFF, 2003, p. 115).
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS
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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
BOFF, Leonardo. Jesus Cristo Libertador. 18ª ed. Petrópolis, RJ: Vozes, 2003.
GUTIÉRREZ, Gustavo. Como dizer aos pobres que Deus lhes ama. In:
MARASCHIN, Jaci C. A maioridade da Teologia da Libertação. Estudos da
Religião, n° 6, São Bernardo do Campo, SP: Empresa Metodista, 1989.