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REPORT

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ContrasteS
futuroS do morar
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Se a nossa realidade é
constituída de
contrastes, nossas casas
também refletem essa
complexidade.
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O que a casa do futuro nos reserva? Observamos que o imaginário a concebe


conservando alguns dos aspectos que conhecemos hoje. A linearidade das
formas desenhadas permanece, há certa flexibilidade de espaços, um pouco
de verde e uma boa dose de tecnologia. Mas, e as formas humanas? Qual o
espaço ocupado pela nossa humanidade dentro desse futuro?

Quando 2020 nos trouxe a reboque uma pandemia, nos deparamos com o
fato de que uma das necessidades humanas mais básicas, a de socialização,
passou a ser uma ameaça às nossas vidas. Ao mesmo, tempo, nos lembramos
que somente pela ação coletiva construiremos a saída dessa crise e um futuro
que inclua a todos. Fomos radicalmente lembrados da nossa humanidade.
Humanidade essa que testamos ao limite em tempos de sentimentos
extremos e de isolamento social. O palco onde tudo isso acontece é
conhecido: nossas casas. O que mudou lá dentro, desde o início dessa

De onde
ruptura? O que não mudou? O que veio para ficar? Para quem muda? E para
quem não muda? Se a nossa realidade é constituída de contrastes, nossas
casas também refletem essa complexidade. É desse prisma que

partimos e o exploraremos as tendências que nos ajudarão a entender o que a casa do


futuro nos reserva e como pensar futuros que deem conta de endereçar esses
contrastes.

que queremos
4 DE ONDE PARTIMOS E O QUE QUEREMOS (Imagem Projeto Casa do Futuro)
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Como pensávamos o presente na educação das crianças.


Evocando uma inteligência onipresente
aproveitar hobbies e realizar
atividades físicas. Já se desenhava a
– talvez a Inteligência Artificial (IA) como casa como centro avançado da vida.
futuro do morar antes a conhecemos hoje –, ela era capaz de Tudo isso foi ensaiado na década de
orientar os estudos e fases de 60 e, de alguma forma, hoje faz parte

da pandemia? aprendizado, transformando a casa


num local de educação formal. Ele
da nossa rotina.
Na véspera da virada do século, foi a
também permitia uma vez da Microsoft fazer seu exercício
Quando na década de 60, Philco e Ford videoconferência entre amigos e jogava de futuro para a casa. Em 1999, o
imaginaram o futuro da casa para a xadrez com as crianças. O quanto esse termo “casas inteligentes” já era
virada do século XXI, de alguma forma, cenário hoje não nos lembra como discutido e o Astro, assistente
a maneira como vivemos hoje já estava nossos relógios inteligentes, inteligente da Microsoft, já antecipava
sendo experimentada. Nesse exercício, dispositivos móveis e assistentes os atuais Alexa e Google Home.
um computador central armazenava as inteligentes interagem entre si, quando Comando de voz, lista de compras
preferências e gostos dos moradores, estamos em nossas casas, para nos inteligentes, eletroeletrônicos
analisava seus parâmetros físicos oferecer comodidade e conectados em rede e com a internet,
(batimentos cardíacos, temperatura e entretenimento? A promessa de um permitindo experiências fluidas de
etc) e sugeria refeições e exercícios de futuro super conectado e inteligente, consumo de conteúdo entre as telas
acordo com as necessidades de cada que possibilitaria menos atividades de casa. Uma vida mais conectada e
um. Esse mesmo sistema permitia o domésticas e mais tempo livre, mais fácil se figurava em um futuro
pagamento de contas e gestão das transformaria a casa em um local do próximo.
finanças sem sair de casa e estava qual se poderia fazer compras,
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5 COMO PENSÁVAMOS O FUTURO DO MORAR ANTES DA PANDEMIA? para + informações
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Mais recentemente, ao se pensar o é sempre melhor. Transversal a esses opção para 53% da população da
futuro do morar refletiu-se sobre as movimentos, a tecnologia desempenha América Latina, que não tem ganhos
mudanças econômicas, sociais e um papel de facilitador para que todos fixos nem acesso a seguridade social.
ambientais que se aceleraram nas esses processos ocorram. Outros levantamentos revelam que,
primeiras décadas do século XXI. O exercício da década de 60, citado sem ações direcionadas, 86% dos
Espaços cada vez menores e mais acima, prometia um futuro mais fácil, moradores de favelas teriam
acessíveis, para trabalhadores da rico e saudável e casas que refletissem dificuldades de comprar comida se
economia Gig poderem trabalhar de esse ciclo de abundância. Mas, para ficassem em casa por um mês.
qualquer lugar e se hospedar em curtas quem esse futuro abundante se Histórias de famílias já vulneráveis
estadias. Ambientes híbridos e concretizará, especialmente após a que pararam de receber
adaptáveis, já que no mesmo local se pandemia? A atual crise sanitária nos auxílio-moradia do governo, e estão
mora, se trabalha e se entretém. mostrou quanto uma crise social, de tendo que escolher entre morar mais
Janelas que produzem energia através acessos e oportunidades, pode ser dignamente e comer, começam a
da insolação e hortas verticais que aprofundada em pouco tempo. No aparecer. Isso empurra pessoas já em
promovem autossuficiência. Brasil, espera-se que a economia sofra dificuldades para casas mais
Sustentabilidade e flexibilidade de recessão de 5,2% em 2020 e estima-se precárias, superlotadas e sem
espaços dão a tônica nesses modelos. que aproximadamente 50% da condições de higienização adequada,
Uma relação mais integrada com o população tenha tido sua renda prejudicando qualquer tentativa de
entorno, comunidade e natureza, reduzida por conta da retração isolamento social.
construções com formas mais econômica. Estudos revelam que uma
orgânicas e formatos minimalistas de se das principais medidas preventivas da
viver. Menos é mais e compartilhar doença, que é ficar em casa, não é uma
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6 COMO PENSÁVAMOS O FUTURO DO MORAR ANTES DA PANDEMIA? para + informações
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Como veremos, a Covid-19 acelerou algumas das


tendências do morar que exercícios de futuro já
antecipavam, bem como aprofundou contrastes
sociais já existentes. A exploração desses contrastes
será ilustrado com processos e casos identificados
nas cidades brasileiras, com especial foco na cidade
de São Paulo, ao mesmo tempo que exploraremos
movimentos globais para o desenho das tendências.

7 COMO PENSÁVAMOS O FUTURO DO MORAR ANTES DA PANDEMIA?


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Nossa abordagem desenha-se da seguinte forma: identificamos,


primeiramente, a tendência da casa como o centro avançado das
nossas vidas, que será o fio condutor da nossa análise - afinal, é de
lá que experimentamos as várias esferas das nossas vidas, nossas
subjetividades e relações. Em seguida, construímos o pensamento
como uma espiral. Iniciamos com a nossa primeira casa, nossa
Casa Corpo, e exploraremos nossos sentimentos nesse momento
de crise e a busca do bem-estar como forma de apaziguar a
radicalidade da experiência que vivemos. Em seguida, falamos
sobre a nossa segunda casa, a Casa Lar, o lugar que habitamos e a
Casa: centro
configuração desse espaço em um verdadeiro lar. Por último, a
Casa Mundo, que contempla a relação com a comunidade que nos avançado da vida
cerca e com o mundo em que vivemos.
Casa Corpo
Casa Lar
Casa Mundo
8 COMO PENSÁVAMOS O FUTURO DO MORAR ANTES DA PANDEMIA?
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ARTEFATO
DE FUTURO

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9 ÍNDICE - ESPIRAL DE TENDÊNCIAS APROFUNDAR NAS TENDÊNCIAS
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CASA:
O centro
avançado
da vida
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(Imagem Luke Stackpoole em Unsplash.com)
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Antes mesmo de estarmos permanentemente em


casa por conta da pandemia, parte das nossas
atividades rotineiras e entretenimento já estavam
acontecendo cada vez mais a partir dos nossos lares.
Pesquisa de 2018, American Time Use Survey
realizada pela US Bureau of Labor Statistics, já
indicava que pessoas entre os 18 e 24 anos passam
70% mais tempo em casa do que as outras faixas
etárias, comportamento que se dá, especialmente,
pelas novas tecnologias que nos permitem fazer mais
atividades remotamente. Como podemos ver, o
exercício da década de 60 citado acima já
vislumbrava esse comportamento, onde a casa seria
o cenário central das nossas atividades. Sejam os
rituais de autocuidado, a diversão com amigos, os
drinks ou o trabalho.
(Imagem: reintegração de posse em Piracicaba durante a pandemia REPRODUÇÃO/TWITTER/MST)

Com as recomendações de isolamento social, forçosamente levamos aquilo que ainda fazíamos fora de casa, para dentro. Mais do que um centro no qual fazemos o que
precisamos, estar mais tempo em casa nos conecta afetivamente com seus espaços. Neles, sentimo-nos seguros para viver esse recente turbilhão de emoções, do estresse
aos momentos de relaxamento. Para os que vivem com mais pessoas, esse pode ser o momento de refazer contratos, aproximar-se ou afastar-se definitivamente. Quando
pensamos naqueles que vivem em situações de insegurança em relação à habitação, nas favelas, comunidades não regularizadas, moradias em situação de risco, entre outras
circunstâncias de vulnerabilidade, o fantasma de uma remoção sem aviso prévio catalisa ansiedades e incertezas e o significado da casa como centro avançado se deturpa.

11 CASA: O CENTRO AVANÇADO DA VIDA - INTRODUÇÃO


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(Imagem Reprodução Bunker subterrâneo de luxo Survival


"Experiências internacionais que
Para os moradores de rua, para quem
proporcionam moradias mais
um teto inexiste, o uso de hotéis para
individualizadas mostram uma
hospedagem oferece uma solução
taxa de adesão grande, de até
temporária, mas que não endereça o
80% de permanência após dois
problema da moradia definitivamente.
anos. Por outro lado, taxa de
Embora em algumas cidades, como
evasão nos albergues de São

Kondo, no Kansas EUA)


Curitiba, essa iniciativa deva
Paulo, em geral, é de quase
permanecer mesmo após a pandemia,
60%." - Kelseny Pinho para a BBC
os chamados hotéis sociais têm tempo
News Brasil
determinado para acabar por seu
caráter emergencial.
Em São Paulo, existe resistência da
rede hoteleira em acolher pessoas em com quem está próximo pode ser o
situação de rua, mesmo estudos melhor caminho em momentos de
turbulência. Oportunidade/Implicação
comprovando que o formato
individualizado de quartos aumenta a No outro extremo, os super ricos Idealize a união entre tecnologia e
taxa de adesão dos abrigados em 80%. buscam isolar-se em bunkers e ilhas, afetividade em espaços que acolham e
Ao mesmo tempo, a crise reforça a apostando que quanto mais longe e proporcionam segurança, conforto e
abrigo. Passar mais tempo em casa
mobilização social de comunidades isolados, mais seguros estarão.
aponta para a necessidade de um novo
que sempre trabalharam em redes de olhar sobre o morar, que ainda é um
apoio, mostrando-nos como contar privilégio em países como o Brasil.

12 CASA: O CENTRO AVANÇADO DA VIDA - INTRODUÇÃO


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LAR,
TUDO LAR

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(Imagem Daria Shevtsova em Pexels.com)
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Ao levarmos para dentro de casa

(Imagem Nelly Antoniadou em Unsplash.com)


atividades que fazíamos fora, já
podemos ver sinais de que parte delas
se manterão acontecendo a partir de lá
no mundo pós-pandemia. No Brasil,
segundo pesquisa feita pela Ipsos, 68%
68%
dos brasileiros não
das pessoas não se sentiam à vontade se sentiam
para voltar ao seus locais de trabalho confortáveis para
em maio. Empresas do Vale do Silício, voltar aos seus
como o Twitter, já afirmaram que seus locais de trabalho
funcionários podem optar trabalhar de em maio de 2020
casa por tempo indeterminado. A
necessidade de reconexão com a
natureza e seus efeitos terapêuticos já
leva o cultivo de hortas para dentro de
casa e a busca no Google por plantas
que se pode cultivar em ambientes
e indica o quanto o movimento de simular o bem-estar que experimentamos fora de
internos, que já vinha crescendo antes
nossos lares está cada vez mais sendo levado para dentro. Outros movimentos como o
mesmo da pandemia, atingiu seu pico
aumento de compras online, educação à distância e o aprimoramento de experiências
em cinco anos durante a quarentena
em realidade virtual reforçam o incentivo a ficarmos em casa cada vez mais.

14 CASA: O CENTRO AVANÇADO DA VIDA - LAR, TUDO LAR


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Como possibilitar o acesso à


Essa realidade, porém, não é a mesma internet e a flexibilidade de
para todos. trabalho também para classes
menos favorecidas?
Três a cada quatro brasileiros não têm a
possibilidade de trabalhar de casa e, A desigualdade no direito à
tendo o Brasil o maior contingente de experiências que proporcionam
trabalhadores domésticos do mundo, melhor qualidade de vida - do
cerca de 7 milhões de pessoas com ponto de vista de comodidade,
perfil predominantemente feminino e por exemplo - não aumentam
negro, enxergamos como ter a própria ainda mais o abismo social?
casa como centro das vidas já não era
uma realidade para muitos antes da
pandemia e que continuará não sendo Oportunidade/Implicação

(Imagem Guilherme Baffi para Diário da Região)


após ela.
Proponha maneiras de repensar a
Com 42 milhões de brasileiros ainda configuração dos espaços e conexões
sem acesso à internet em casa, as para se adequar às novas demandas.
Projete casas que não acolhem apenas
atividades que dependem desse
os moradores, mas também suas tarefas
serviço, como entretenimento, limitam e necessidades como o trabalho, o
ainda mais essa possibilidade. estudo, a possibilidade de trazer a
natureza para dentro e de
experienciar casas inteligentes.

15 CASA: O CENTRO AVANÇADO DA VIDA - LAR, TUDO LAR


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CASA
AFETIVA

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(Imagem Kelly Lacy em Pexels.com)
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Projetos como o Das Haus, apresentado


Segundo levantamento feito pela no IMM Cologne 2019, antecipam como
agência Miltel em 2018, 28% dos a casa pode ganhar flexibilidade para
millennials mais jovens, antes mesmo acomodar o estado de espírito dos
da pandemia, já preferiam tomar seus moradores e não somente atividades
rotineiras, como cozinhar, dormir ou
drinques em casa "porque é muito
socializar. Nesse projeto, os ambientes
cansativo sair”. Para quem pode ficar foram divididos para acolher as
em casa com conforto, em tempos emoções dos moradores: ativo, sereno,
como este, esses espaços ganham recluso e relaxado. Por exemplo, o
ainda mais importância como espaço ativo da casa envolve uma
estrutura de cozinha, para se preparar a
provedores de senso de calma,
comida e servi-lá, sendo que a mesa
segurança e identidade pessoal.

(Imagem Reprodução projeto a casa do futuro, Das Haus)


central tem a utilidade também de
Setenta e cinco por cento das pessoas espaço para uma reunião de trabalho.
da classe A, que participaram de um Móveis multifuncionais e a renúncia às
levantamento feito pelo Grupo divisórias fixas entre os ambientes
permitem a fluidez desejada.
Consumoteca, disseram que ao passar
O Das Haus de 2019 evidencia o quanto
mais tempo em casa perceberam a a configuração da casa pode ser
necessidade de modificá-las para que radicalmente repensada para atender
se sintam melhores ao habitá-las. Isso aos seus moradores da maneira mais
reflete o quanto enxergar sua pessoal possível, seguindo seus
impulsos e momentos, reforçando a
identidade dentro desses espaços
identidade do espaço com o humano
reforça o sentimento de pertencimento. que o habita.

17 CASA: O CENTRO AVANÇADO DA VIDA - CASA AFETIVA


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Dessa forma, mais do que acomodar atividades, a casa acomoda o estado de espírito do
morador. Em um contexto de passar-se mais tempo dentro de casa, podemos nos
questionar o quanto espaços que abarquem muitas atividades prejudicam a privacidade e o
conforto. Diante do fato de que enfrentamos, majoritariamente, espaços e recursos
limitados, a ideia de fluidez de espaços e sua adaptabilidade pode nos dar a pista de como
construir casas que atendam às necessidades diversas dos moradores e seus momentos,
permitindo a reclusão quando necessário, bem como a atividade quando for a hora.
O Projeto Love, do arquiteto Guto Requena, nos faz experimentar como nossas memórias
afetivas podem criar artefatos que refletem nossas emoções e elevar a personalização de
objetos ao nível mais pessoal possível.
O Projeto Love, do arquiteto Guto Requena, nos faz experimentar como nossas memórias
afetivas podem criar artefatos que refletem nossas emoções e elevar a personalização de
objetos ao nível mais pessoal possível. Conectados por sensores que captam ondas
cerebrais, batimento cardíaco e voz, os participantes do projeto são convidados a contar
sua maior história de amor e, de acordo com as oscilações captadas por esses sensores,
um programa desenha um artefato que é posteriormente impresso em 3D.

(Imagem Reprodução Experience 1 - Projeto Love, guto Requena)

A história dos participantes ganha forma através desses objetos. Dessa forma, introduz-se o consumidor no processo de criação do produto e reforça-se
o laço afetivo com ele, uma vez que o artefato carrega histórias íntimas daquele que o criou. Esses experimentos exploram a necessidade que ficar em
casa cada vez mais exige de quem as projeta: espaços e objetos que reforcem o bem-estar através de laços afetivos. Valoriza-se a subjetividade e as
casas ficam cada vez mais acolhedoras, mais voltadas para dentro. Tanto quanto ter um espaço bonito para as incontáveis videoconferências que
participamos, ter um espaço confortável torna-se muito importante em tempos de quarentena e no pós-pandemia.

18 CASA: O CENTRO AVANÇADO DA VIDA - CASA AFETIVA


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Essa relação emocional com a casa é Tanto nos centros, como nas periferias, como a
importante e transversal em todos os recortes Blogueira de Baixa Renda que redecorou sua “Essa pandemia me fez [me]
sociais. A casa própria é o maior sonho pessoal casa com um tom minimalista, vemos esses aproximar da minha mãe, ela é
dos moradores nas favelas. A ressignificação de movimentos. Mais do que apenas ter uma casa,
doméstica. Ambos ficamos fora de
espaços, como a laje que virou espaço de morar torna-se uma experiência. Podemos dizer
socialização e trabalho para o cineasta e criador o mesmo sobre empreendimentos de luxo, que casa e a gente mal se via” diz
de conteúdo Valter Rege, exemplifica como a têm apelo de sustentabilidade e Carlos*, de 25 anos, morador de um
construção da subjetividade se mistura com a autossuficiência. Clientes com alto poder
construção da casa, e como imprimir uma
Conjunto Habitacional (COHAB) em
aquisitivo, envolvidos por uma necessidade
personalidade no espaço fortalece o sentimento cada vez maior de segurança, solicitam projetos Itaquera, extremo leste de São Paulo.
de conforto e pertencimento ao espaço. com jardins que provêm comida, bunkers de *nome fictício
Podemos observar como a relação afetiva com segurança e piscinas que se transformam em
o espaço se desenvolve de forma orgânica e grandes reservatórios de água potável.
adaptável. Oportunidade/Implicação
Dentro desse movimento, observamos opções Em tempos de quarentena, vamos
redescobrindo nossos lares e também as Como marcas podem pensar formas de
de vida mais minimalistas, que são voltados para
pessoas com quem dividimos esse espaço envolver emocionalmente os moradores no
uma geração de Millennials que acredita que
espaço que habitam? Por exemplo, pense em
menos é mais. Por outro lado, vemos o caso emblemático de disponibilizar mais opções de
O estilo de vida nômade e as Tiny Houses, bem explosão de pedidos de divórcio, que aconteceu personalização, ser receptivo a ouvir as
como modelos de negócio como a Housi, que em uma cidade na China, depois da reabertura histórias de seus consumidores e guiá-los
promete entregar casa “sob demanda”, parcial do país. A casa, grande ou pequena, na busca de produtos que melhor se
descomplicada, compartilhada e digital, para ganhou um papel ainda mais importante em encaixem em suas necessidades, e entender
curtas e longas estadias, refletem a necessidade como vivemos e construímos nossas a afetividade com o espaço como importante
da casa estar de acordo com a identidade subjetividades. para construir casas mais confortáveis e
pessoal e necessidades de seus moradores.
possibilitar processos de compra que gerem
afetividade com o produto.

19 CASA: O CENTRO AVANÇADO DA VIDA - CASA AFETIVA


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PARA Filme É o que eu vejo e é o que eu penso

Minha casa na Favela

SABER Minimalismo baixa renda

Housi transforma o mercado imobiliário com conceito de moradia on demand

+ Nomades em tempo de pandemia

Favelas brasileiras sonham com casa e negócio próprios

Projeto Love

Casa do Futuro

O que faz o Brasil ter a maior população de domésticas do mundo

O Brasil sem home office

20 CASA: O CENTRO AVANÇADO DA VIDA - PARA SABER MAIS


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CASA CORPO

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(Imagem Instagram @museudoisolamento)
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O primeiro lugar O contexto da pandemia gerou uma série de


impactos em todas as camadas da
população. Em poucas palavras, o pensador
que habitamos.
Como
Leandro Karnal resumiu os dois principais
desafios atuais em: a preservação da vida e a
reorganização de hábitos sociais. E muitos
sentimentos passaram a permear as diversas
59%
dos brasileiros
experienciamos a classes sociais, como medo, insegurança,
dúvida, raiva, exaustão, alegria, injustiça,
relatam que
insegurança
nossa humanidade impotência, gratidão, amor, compaixão, entre
outros. Muitos deles, inclusive, aparecendo
é o que melhor
descreve seus
durante essa crise? em conjunto ou consecutivos, alguns de
forma mais sutil e outros mais intensa. sentimentos com
relação ao momento

Cinquenta e nove por cento dos brasileiros entrevistados pela área de inteligência de mercado
do grupo Abril, relatam que "insegurança" é o que melhor descreve seus sentimentos com
relação ao momento. Mas, quando imprimimos um recorte social à essa análise, podemos
destacar dois grandes movimentos: as classes média e alta estão tendo que administrar,
majoritariamente, tédio e ansiedade, e as classes mais baixas, majoritariamente, estão tendo
que administrar a sensação de desamparo e as angústias que decorrem dessa situação
22 CASA CORPO - INTRODUÇÃO
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O que define esses sentimentos


deve-se, principalmente, a como as
pessoas têm vivido essa pandemia a
partir de lugares muito diferentes. A Com o passar do tempo, tiveram
ansiedade, para as classes média e que voltar a assumir trabalhos
alta, inicia-se pelo fato de terem sido, que antes eram terceirizados e a
predominantemente, as classes que conciliar o trabalho doméstico,
tiveram o primeiro contato com a cuidado com os filhos e suas
Covid-19, inclusive muitos sendo profissões. O toque físico virou
infectados fora do Brasil, fazendo com um pesadelo e, embora essa
que a doença se disseminasse, parcela esteja dentro de suas
primeiramente, nessa parcela da casas de forma confortável,
população. Essas classes, amparada pelas mídias digitais,
majoritariamente, iniciaram seu televisivas, leituras e a
isolamento mais cedo em suas comodidade do delivery, a

(Imagem Charles Deluvio - Unsplash)


residências e tiveram que readequar ansiedade bate à porta
seus espaços e suas rotinas, proveniente das incertezas em
transformando suas casas em “bolhas relação ao futuro, da
de higiene”, em um “cofre seguro”. necessidade de mudanças de
rotina, e também da expectativa
de voltar à vida pré crise.

23 CASA CORPO - INTRODUÇÃO


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Já nas classes menos favorecidas, em sua maioria, o isolamento


social se deu mais tardiamente, ou ainda, uma boa parte não
conseguiu cumpri-lo totalmente, principalmente nos grandes
centros do Brasil. Esse fato foi reforçado por diversos aspectos,
como por exemplo, o descrédito de que o isolamento fosse
realmente necessário. Isso porque muitas vezes essa parcela já
não se sente representada ou não acredita no sistema e não
legitima um governo que falha em prover o suporte necessário.
Outro ponto de grande relevância é a realidade física em que
vivem, em espaços normalmente muito pequenos e
desconfortáveis, onde não cabem todos os integrantes da
família, e muitas vezes, onde já se considera a rua como uma
“extensão” do lar.
Quando a doença se faz presente nessas comunidades, o
suporte vem, na maior parte dos casos, de vizinhos, amigos ou
familiares, adicionando-se o fato de que o auxílio emergencial
prometido pelo governo atrasou ou até mesmo não se efetivou,
contribuiu-se ainda mais para o sentimento de desamparo,
reforçando uma necessidade de sobrevivência em que a
(Imagem Pilar Olivares/Reuters em: https://veja.abril.com.br/saude/coronavirus-25-dos-mortos-nao-e-do-grupo-de-risco/)

esperança e a crença em lideranças locais são os maiores amparos para a subsistência. Destaca-se ainda o agravante de que muitos perderam seus
empregos, dependendo então de doações.De forma transversal, todos os recortes sociais experienciam um governo que age de forma errática, famoso
por Fake News e com políticas sanitárias contraditórias às indicadas por autoridades internacionais. Importante destacar as mulheres, as quais tiveram
uma sobrecarga de trabalho e pressão maior nesse contexto.

24 CASA CORPO - INTRODUÇÃO


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DISTANCIAMENTO
SOCIAL

MAcro
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(Imagem Social Distance Hats por Veronica Toppino)
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“Quando limpo a casa tenho


Considerando-se os impactos da Covid-19, que expulsar todo mundo, logo
em especial a associação do sentimento de vou gritando vai todo mundo
medo e a “super higienização”, vemos
pra rua que preciso limpar
desenhar-se a necessidade de um
movimento de distanciamento social. A a casa”

(Imagem Alex Plavevsvki)


busca constante pela higienização tem diz Maria* moradora do
relação com o fato de que não conseguimos Capuava em Santo André,
enxergar contra o que precisamos nos
proteger, afinal o problema é um vírus São Paulo.
*nome fictício
invisível a olho nu, e dessa forma, o perigo
passa a vir de todos os lados, como as
campanhas de conscientização nos alertam.
De fato, um estudo realizado pela The
Lancet afirma que o distanciamento social,
com quarentena, escolas e escritórios Quando lançamos nosso olhar sobre os contrastes
fechados, reduz o número de infecções sociais, vemos que classes alta e média consideram
em até 99,3%. suas casas como “bolhas de higiene” ou “cofres de Oportunidade/Implicação
Mas isso gera um estado de atenção segurança”, sendo o lugar onde as pessoas se sentem
Incentive de forma positiva o
constante, de medo, que nos predispõe a mais seguras e para onde conseguem transferir parte distanciamento e cuidado com a
desconfiar de tudo que nos cerca como das atividades do mundo externo, como lazer, trabalho higiene e saúde, proporcionando
potencial fonte de risco de contaminação e, e entre outras. Os menos favorecidos, por sua vez, segurança e confiança dos
como forma de evitá-la, o ritual da devido às condições mais precárias, casas com poucos consumidores. Marcas, comércios,
higienização, que cria uma barreira de restaurantes, condomínios e líderes
cômodos, com grande número de moradores e sem
proteção e segurança, passa a ser a regra. passam a ter um papel importante na
conexão com a internet, não conseguem usufruir
Esse movimento de assepsia e temor se conscientização da população com
traduz desde o uso constante do álcool em desses mesmos benefícios, até porque, como campanhas locais de incentivo ao
gel até a limitação do contato físico. constatamos em algumas entrevistas, muitas vezes a cuidado, de forma compreensiva e
rua é a extensão de suas casas: sensível, considerando-se as
realidades locais.
26 CASA CORPO - DISTANCIAMENTO SOCIAL
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MEDO
PROTAGONISTA

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(Imagem photos.icons8.com)
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(Imagem Natália Trentini para OCP News)


Considerando-se a “super higienização”
associada ao medo - 86% das pessoas
que participaram de uma pesquisa da
Consumoteca relataram ainda ter medo
de se contaminar ou mesmo de expor
alguém que ama à doença ao sair de
casa - podemos ver o surgimento de
86%
tem medo de se
novas tecnologias ou novos contaminar ou expor
comportamentos ligados à segurança
da saúde, como por exemplo, a
alguém que ama ao
identificação de íris ou digital associada
sair de casa
a temperatura corpórea ou o scanner Surge daí um movimento de possível reforço
que elimina bactérias e vírus de de desigualdade social que, motivado pelo
embalagens, a partir da tecnologia de
medo, aprofunda a segregação sob um ponto
iluminação Ultravioleta.
Levando-se em conta as diferenças de de vista higienista, onde a saúde e o status de Oportunidade/Implicação
classe, associadas ao fator saúde, ao higienismo baseiam a exclusão ou inclusão
Como combater a possível segregação
acesso à tecnologia e ao distanciamento social dos indivíduos. Como isso pode também por condições de saúde e
físico, podemos imaginar mais uma influenciar os vários aspectos da nossa vida? tratamento? Que o medo é predominante
possível divisão de social: os que Existirão novas profissões como, por exemplo, em todas classes, já sabemos. Mas como
possuem uma ótima saúde e imunidade
forte versus os que possuem uma saúde cuidadores de pessoas com algum grau de fazer com que ele seja motor da luta por
condições igualitárias de
mais fragilizada ou com alguma risco? Ou seriam esses cuidadores
atendimento, orientação e tratamento
deficiência, surgindo os perfeitos versus robôs?virtual reforçam o incentivo a ficarmos sem que se gere ainda mais conflitos
os imperfeitos. em casa cada vez mais. e desigualdade?

28 CASA CORPO - MEDO PROTAGONISTA


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SOCIAL
VALORIZAÇÃO

MAcro
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(Imagem Hian Oliveira em Unsplash.com)
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Surge um contra movimento frente ao distanciamento


social: a valorização da possibilidade de se socializar, a
busca pelo pertencer, pelo sentir, pelo tocar, pelo
humano. Quarenta e quatro por cento das pessoas
afirmam que de todas as mudanças impostas pela
quarentena, o que mais sentem falta é da
possibilidade dos encontros presenciais com
familiares e amigos. A segurança ligada à saúde ainda
estará em pauta, porém, o foco estará na busca de
lugares que garantam a possibilidade da troca Oportunidade/Implicação
(abraços, o conversar próximo, o toque físico), sem Promova campanhas que
preocupação e sem peso na consciência. Possíveis possibilitem reencontros
guetos serão formados na busca de um convívio mais graduais e que sejam capazes de
humanitário, de contatos mais orgânicos. Aliás, o reconquistar a confiança de seus
conceito de orgânico, como conhecemos hoje para clientes, a partir do momento em
alimentos e bens de consumo, poderá ser transposto que autoridades de saúde
afirmarem que é seguro fazê-lo.
para lugares e ambientes, criando-se lugares livres de
Ocupação de jardins, parques,
nocividade e que permitam uma convivência mais
ruas, calçadas, que auxiliam a
fluida e despreocupada. Movimentos que buscam retomada da presença, de olhares e
integrar os excluídos a sociedade irão se intensificar, trocas de forma segura e
porém, com um sentido maior de humanizá-los. humanizada podem ser opções
viáveis.
(Imagem: Carolyn Ellis - Facebook)
30 CASA CORPO - SOCIAL VALORIZAÇÃO
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ROTINA DE
BEM ESTAR

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(Imagem Avrielle Suleiman em Unsplash.com)
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A Organização Mundial de Saúde (OMS)


divulgou durante o mês de Março um guia Nos centros urbanos, observamos sinais
com 30 dicas de cuidado para a saúde do aumento da busca por plantas em
mental durante a pandemia, reforçando a casa e cultivo de hortas, o ato de
importância do autocuidado nesse cozinhar em casa passa a ser uma forma
período. Entre Março e Abril, dados de ter mais controle sobre os processos
coletados pelo Instituto de Psicologia da de higienização e também prazer, as
Universidade do Estado do Rio de Janeiro, casas autoimunes com sistemas próprios
indicaram que o percentual de pessoas de filtragem de ar e água reforçam
com depressão saltou de 4,2% para 8,0%, autossuficiência, até a possível
enquanto para os quadros de ansiedade o emancipação do sistema através (Imagem: Instagram @pamfiit_)
índice foi de 8,7% para 14,9%. Como forma produção da própria comida. Um novo
de remediar situações de estresse e olhar aplicado aos nossos lares também Oportunidade/Implicação
caminhar em direção ao bem-estar, pode impulsionar o desejo pelo Materialize espaços que estimulem a
vemos as pesquisas no Google por autocuidado, dessa forma, a casa se manutenção do bem-estar e a criação de novos
“máscara facial caseira” e “meditação torna também refúgio para criarmos hábitos e rituais de cuidado. Uma área verde,
guiada” terem seu pico dos últimos cinco nossos próprios rituais através de um lugar confortável, uma música relaxante
anos durante a quarentena. Nessa busca meditação, atividades físicas, iniciativas ou até mesmo um espaço reservado e
por amenizar as angústias que momentos de apoio à saúde mental à distância,
silencioso, para se falar com o terapeuta com
extremos como esse nos trazem, pois quando a vida parece totalmente
privacidade. Cada pessoa pode ressignificar
da forma que preferir, afinal, as
podemos esperar que a valorização do caótica, essas ferramentas podem trazer necessidades são singulares quando o assunto
bem-estar no local que habitamos reative de volta nosso senso de controle. é autocuidado, mas promover isso em conjunto
o nosso senso de conforto e calma. com os consumidores ou colaboradores, por
exemplo, é uma opção interessante.
32 CASA CORPO - ROTINA DE BEM ESTAR
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PARA Leandro Karnal fala sobre o desafio de preservar a vida

Voltar a assumir trabalhos que antes eram terceirizados

Pandemia escancara crise de moradia no Brasil

SABER A cabeça do brasileiro em tempos de Covid-19

Pandemia na periferia

+ OMS divulga guia com cuidados para saúde mental durante pandemia

In the future home

Why Growing Food is The Single Most Impactful Thing You Can Do in a Corrupt Political System

Escanner que elimina coronavírus de embalagens

A pandemia expõe e agrava as desigualdades sociais no planeta

Novo robô combate o isolamento no cuidado da covid

33 CASA:CORPO - PARA SABER MAIS


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CASA LAR

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(Imagem Juan Ordonez em Unsplash.com)
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A segunda pele que “Lar é um conceito. Veja bem, a pessoa está


[morando] na rua e você vê que ela começa a
criar hábitos [...] então aquilo é o lar.” É assim
habitamos. que Carmen Silva, líder do Movimento dos
“Lar é um conceito.
Sem-Teto do Centro, em São Paulo, desenha Veja bem, a pessoa está
Quais são os o que é um lar. Sem romantizar a situação de
pessoas em vulnerabilidade, pois afinal,
[morando] na rua e
processos que segurança, dignidade e pertencimento
também fazem parte da se ter uma casa lar,
você vê que ela começa
a criar hábitos [...]
constituem a casa entender a dimensão dos hábitos nos dá
uma pista de como captar esse lugar como então aquilo é o lar.”
em lar? nossa segunda pele.
De alguma forma, constituímos o nosso lar a
partir de rituais que nos relacionam
afetivamente com o seu espaço.

Nossos encontros e desencontros (conosco mesmos e com quem vivemos), afazeres diários,
momentos de descanso e lazer. Passar um café, a reunião de trabalho, o esticar despretensioso
no sofá, o momento de afeto (ou desafeto) com quem moramos. Todos esses ritos são nosso elo
com a casa, que nos ajuda a constituí-la e ela a nós mesmos. A relação entre o concreto e o
tecido é simbiótica.

35 CASA LAR - INTRODUÇÃO


IED FUTURE LAB

O trabalho do fotógrafo Felipe Morozini, que da janela


da sua casa fotografa o que acontece ao seu redor,
dialoga com esse entendimento. A partir do seu olhar
apurado, ele conta histórias e descortina
personagens e seus rituais dentro de casa. Segundo
ele, as janelas e varandas são uma forma de dialogar,
um espaço público no qual “você enxerga a paisagem
nos outros, mas também é a paisagem dos outros.” E,
em tempos de pandemia, ele acredita que essa troca
foi intensificada. “As varandas estão mais povoadas, as
janelas ocupadas por corpos tentando encontrar um
raio de sol, um acontecimento, um segredo, tentando
criar novas maneiras de se comunicar.” E nesse
caminho de mão dupla, as janelas das casas contam
e ouvem histórias, criam um espaço de

(Imagem Instagram @felipemorozini))

diálogo sobre nós. Durante o enclausuramento, nossas casas se comunicam mais entre si. De certa forma, elas seguem o nosso impulso de romper o
isolamento e irrompem do silêncio, falando de nós para o outro, sendo nós para o outro. Os que nos enxergam, vêem o “eu”, dos que enxergamos,
vemos o “outro". Não só a casa constrói nossa identidade, mas fala dela também. Mais do que refletir, elas são nós mesmos, são nossa segunda pele. E
por essa razão, a constituição delas em lar abarca a sua transformação de acordo com nossos rituais, necessidades e desejos.

36 CASA LAR - INTRODUÇÃO


IED FUTURE LAB

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CASAS VOLTAR AO ÍNDICE

ADAPTÁVEIS

MAcro
tendência
(Imagem HiveBoxx em Unsplash.com)
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Mas, quais são os principais


fatores que impulsionaram
Quando falamos em mudanças nas casas e
essas mudanças imediatas,

(Imagem: reprodução Casa.com.br)


os impactos da Covid-19, não podemos
deixar de citar outra pandemia que trouxe ao mesmo tempo em que
impactos diretos na arquitetura e design: a apontam para tendências
Gripe Espanhola, em 1918. A dimensão das que deixarão um novo
mudanças na época passou, inclusive, por
legado na nossa relação
se fazer necessário a criação de leis para
com o morar do futuro?
que as pessoas passassem a limpar suas
casas e a lavar suas mãos. Armários, azulejos
de cozinha e lavabos, são alguns dos
legados que perduraram em nossas casas
justamente por auxiliar na contenção de Além disso, vimos um grande impulso, atrelado às
doenças, além de incentivar a higiene de necessidades que surgiram, de alterarmos
modo geral. Oportunidade/Implicação
ambientes da casa. Segundo dados extraídos de
Tendo isto em mente, quais adaptações nas uma pesquisa feita pelo Grupo Consumoteca, 39% Pense em oferecer opções de casas,
casas podemos esperar após uma nova das pessoas entrevistadas, durante a pandemia, já espaços e móveis multifuncionais,
pandemia, em pleno século XXI, no auge da haviam realizado alguma mudança em suas casas, que estimulam e valorizam a
4ª revolução industrial? Sem dúvidas, a 18% haviam mudado móveis de lugar e 10% personalidade de cada morador,
tecnologia desempenha um papel mudaram a decoração de algum cômodo. De individual ou coletivamente. A
fundamental em como essas adaptações alguma forma, extrapolamos para a nossa casa a possibilidade de ter um lar
irão se desenhar e é importante tê-la como busca de uma pessoalidade que experimentamos adaptável, de acordo com as
pano de fundo. conoscos mesmos e, nesse processo,
necessidades que emergem no dia a
dia, passa a ser uma prioridade para
transformamos esse lugar em um verdadeiro lar.
investimentos.
38 CASA LAR - CASAS ADAPTÁVEIS
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LAR
ASSÉPTICO

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(Imagem Kelly Sikkema em Unsplash.com)
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Pesquisa do ministério da saúde aponta que


oito em cada dez brasileiros adotaram
hábitos de higiene contra o coronavírus. Uso
08
em cada 10 brasileiros
de máscaras e álcool em gel, deixar os adotaram hábitos
sapatos e roupas na entrada da casa e de higiene

(Imagem: Projeto do Oficina 11.11 com porcelanato que reproduz madeira, Casa Vogue)
higienizar e repensar o armazenamento de
compras são alguns deles. Medidas
preventivas para evitar o contágio da Materiais menos porosos, mais
doença, nos levam a ter comportamentos resistentes à limpeza e
que certamente modificam a nossa relação sustentáveis também surgem
com a casa. O que muitos arquitetos estão
como itens procurados pelos
chamando de "canto da higienização", pode
profissionais, visando garantir uma
ser o novo lavabo surgindo como ambiente
definitivo no lar. Um espaço logo na entrada, maior praticidade para famílias
trazendo um novo ritual de higienização. A que estão passando mais tempo
tecnologia touchless, em fechaduras e em casa, muitas vezes com filhos
torneiras, também surge com uma aposta e animais de estimação. Em linhas
para quem investe em uma relação cada vez gerais, a preocupação com a
mais próxima com sistemas de automação e saúde é intensificada quando
a IoT (Internet das Coisas, em tradução livre) estamos combatendo um inimigo
nas casas. Mais gestos e menos botões
que não conseguimos ver e a
tendem a ganhar ainda mais espaço nos
assepsia passa ser um processo
lares que buscam maior higiene.
mandatório em nossas casas..
40 CASA LAR - LAR ASSÉPTICO
IED FUTURE LAB

Oportunidade/Implicação
Mas, falar em medidas de higiene em
Invista no touchless. Essa tecnologia
um país como o Brasil, que possuí 31
ganha evidência por unir
milhões de pessoas que não têm características que respondem às
abastecimento de água em suas casas necessidades do momento: menos
e 11,5 milhões que dividem pequenas toque, mais praticidade e higiene.
casas com muitas pessoas, se torna um Classes com maior poder aquisitivo
terão a possibilidade de investir em
verdadeiro desafio.
fechaduras, torneiras e sistemas
automáticos nas casas que reduzem o
Além de casas com cômodos lotados e contato físico e auxiliam no combate
famílias com restrições financeiras para ao contágio de doenças, além poderem
poder comprar itens de limpeza, como adequar espaços e materiais que
poderão potencializar o cuidado ao
álcool em gel, a periferia,
entrar e sair dos ambientes.
diferentemente de classes Materiais menos porosos, como
privilegiadas, sofre desde o início da porcelanatos e cerâmicas, evitam o

(Imagem: Diego Herculano/Folhapress)


pandemia com a dificuldade em seguir acúmulo de sujeira.
as recomendações da Organização Por outro lado, nas classes menos
favorecidas, a denúncia que fica é
Mundial da Saúde (OMS).
sobre a precariedade do sistema de
saúde, saneamento básico e direito à
moradia digna. Como proporcionar
mudanças efetivas com relação ao
assunto? Não deveria ser a higiene
também um direito básico?
41 CASA LAR - LAR ASSÉPTICO
IED FUTURE LAB

PRESENÇA
REMOTA

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(Imagem Amazona)
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A realidade de muitas pessoas mudou da noite para o dia. Com a


chegada da pandemia, levamos o trabalho, o estudo e a diversão
para dentro de nossas casas.
Para o trabalho, foram necessários muitos ajustes para se
adaptar ao novo modelo remoto - que divide opiniões sobre ser
melhor ou pior. E o mesmo aconteceu com a educação, uma vez
que instituições de ensino e alunos tiveram que se adaptar ao
estudo on-line. Surge desses dois movimentos uma necessidade
de atenção especial aos espaços: procura-se ambientes mais
ergonômicos, tranquilos e privados, com mobiliário adequado,
boa iluminação, boa acústica, cadeira confortável, material para
trabalho ou estudo de fácil acesso, além, é claro, de uma boa
conexão com a internet. Uma vez
que especialistas apontam que 90% dos profissionais acreditam
que o home office será o futuro das empresas e que gestores
educacionais já enxergam a presença do EAD ainda mais
forte no futuro da educação, vemos que essas necessidades
de adaptações impostas pela Covid-19 podem ser mantidas
nas casas do futuro.
(Imagem: Stefano Guidy via Getty Images para HuffPost Brasil)

Mas, mais uma vez, esta não é uma realidade para todos. Os trabalhos tidos como essenciais, desempenhados em sua grande maioria por pessoas da periferia, não
podem ser realizados de dentro de casa. São ao todo 71 milhões de pessoas que não puderam ficar em suas residências. "Ficar em casa" passou longe para muitos.
Quem estuda no ensino público precisou encarar desafios desde o início da pandemia, com a mudança para o sistema on-line. Muitos jovens e adolescentes ficaram
mais de um mês sem estudar, de acordo com o coletivo Periferia em Movimento, mais um diagnóstico de que os impactos são diferentes de acordo com as
realidades que observamos.

43 CASA LAR - PRESENÇA REMOTA


IED FUTURE LAB

Mas nem só de trabalho e estudo vivemos.


Também é necessário encontrar formas de se
entreter e se cuidar. Shows, viagens,
seguir com a rotina habitual. A impossibilidade de
migrar para o universo online criou uma distância
ainda maior nas adaptações do cotidiano para estas
pessoa, do trabalho ao lazer. Vale lembrar que no
42
milhões de brasileiros
celebrações, aulas de ginástica e encontros Brasil temos um cenário onde de 42 milhões de nunca acessaram
amorosos: tudo agora também adaptado ao a internet
brasileiros nunca acessaram a internet.
universo online. O Tinder registrou um novo
Podemos dizer que a migração para o online dos
recorde durante a quarentena: 3 bilhões de
encontros, entretenimento e atividades ocasionará Oportunidade/Implicação
matches no mundo todo, em um único dia.
impactos no morar a longo prazo. O morar híbrido,
Aulas online de atividades físicas e compras Evidencie a importância da
também tiveram que se adequar. Segundo o que, segundo o arquiteto Guto Requena, aponta
ressignificação do acesso remoto como a
E-commerce Brasil, 61% dos consumidores justamente para as transformações ocorridas na extensão do acesso físico. Uma ótima
aumentaram o número de compras on-line família contemporânea e em seus modos de vida oportunidade para repensar cômodos,
durante a quarentena. É fundamental através dos impactos das novas tecnologias de tamanhos e principalmente: conexões
(uma boa internet para se trabalhar,
destacarmos que estamos vivendo em um informação e comunicação, nos indica que as
estudar, entreter, comunicar e se
momento no qual estima-se que 59% da mudanças aceleradas pela atual crise têm relacionar). Ambientes que antes eram de
humanidade esteja conectada a internet, que já condições de se perpetuar em nossas casas. Nesse uso comum, precisam ser readequados
é considerada um direito humano pela ONU, sentido, nossas rotinas também se adaptaram, para uso individual. A necessidade por
desde 2011. privacidade ganhou uma nova dimensão
ressignificamos os rituais que antes aconteciam de quando todos se ficam confinados dentro
Quando olhamos realidades menos
forma automática, através de ajustes nos próprios de um mesmo espaço.
privilegiadas, enxergamos outros recortes. Nas
ambientes. Onde se come, pode ser onde se Mas, mais uma vez, uma oportunidade de
classes mais baixas, que têm dificuldades em denunciar a desigualdade: que
trabalha, assim como onde se dorme, pode ser
manter o distanciamento e a vida on-line, foram oportunidade surge quando nos
onde se estuda. A descontextualização dos espaços
mantidas grande parte os eventos sociais, como questionamos sobre os acessos que as
os bailes funk, na tentativa de também quebrou as barreiras físicas que geram referenciais pessoas de um recorte menos elitizado
que guiavam nossos cérebros na separação de possuem? Como criar possibilidades que
não sejam excludentes?
emoções e momentos.
44 CASA LAR - PRESENÇA REMOTA
IED FUTURE LAB

MINHA CASA
DO MEU JEITO

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(Imagem Roselyn Tirado em Unsplash.com)
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As buscas por referências de "Faça sem contar os questionamentos


Você Mesmo" tiveram um aumento sobre o tamanho e estrutura das
considerável durante a pandemia, um casas: "sinto falta de varanda,
recorde nos últimos cinco anos, espaço aberto para tomar sol", ou "os
segundo o Google. Uma rede líder em cômodos são pequenos, mais difícil
fornecimento de materiais de para ter espaço privado", são sinais
bricolagem que opera no Brasil viu um trazidos de diferentes realidades,
aumento de mais de 1.000% em suas mas que vão de encontro com o
vendas online desde o início da questionamento sobre os espaços e
quarentena. Da criação de objetos de os itens do morar. Passando mais
decoração com materiais diversos até a tempo em casa, percebemos mais o
reorganização e pintura da própria que gostamos e o que não
casa, demonstra-se um maior interesse gostamos nelas, que possibilidades
por transformar e adaptar os espaços elas nos oferecem, o quanto elas
colocando a mão na massa e

(Imagem: Instagram @felipemorozini)


nos representam e nos acolhem.
utilizando-se recursos próprios. Se Com isso, ficamos mais dispostos
precisa de mais espaço, empurre os mudar o que não nos agrada.
móveis. Se precisa de outros móveis,
dê novas funções aos que já tem.

.
46 CASA LAR - MINHA CASA DO MEU JEITO
IED FUTURE LAB

Uma outra inspiração de movimentos que já vinham


crescendo e tendem a se acelerar na era pós-Covid,
são as construções modulares. Para quem acredita
que a partir de agora todos os espaços devam ser
considerados da maneira mais racional e inteligente
possível, projetos como a Casa MU50 são boas
apostas para casas com mais flexibilidade e
personalidade. Além de se serem adaptáveis aos
locais e climas, são ótimas alternativas de soluções
com foco em baixo impacto ambiental, ampla
flexibilidade de implantação e multifuncionalidade
dos espaços e ambientes.
Oportunidade/Implicação
Mas, enquanto as classes mais favorecidas
repensam tamanho, cômodos, materiais, com claras Proporcione experiências que
possibilidades de mudança, pessoas da periferia potencializam a percepção do
precisam se reinventar e continuar a luta para morar. O que você realmente quer e
conseguir itens básicos em suas casas e pela precisa? Moradores mais
sensíveis às demandas da se
sobrevivência da família, sem muitas opções de
sentem mais à vontade em "colocar
resolver o problema dos espaços pequenos,
a mão na massa" e atender seus
muitas vezes integrados, com muitas pessoas e próprios gostos. Seja na busca por
sem privacidade. ampliação de ambiente ou
readequação de espaços e móveis.
(Imagem: Amanda Perobelli / Reuters para Terra.com.br)
47 CASA LAR - MINHA CASA DO MEU JEITO
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ARQUITETOS
UNIVERSAIS

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(Imagem Casa Vila Matilde, Escritório Terra e Tuma )
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E como os profissionais da arquitetura Segundo relatos do vídeo intitulado Arquitetos


percebem e traduzem os impactos dessas Periféricos, um dos maiores desafios dos
mudanças? Os arquitetos acreditam que a vida arquitetos, no que diz respeito a quebrar muros
de cada pessoa começa em casa, e que ela é o com a periferia, é justamente desenvolver um
centro do seu universo e a origem de suas olhar mais empático com a realidade local,
interações sociais. Com isso, trazemos ao lar o estabelecendo uma comunicação adequada e
conceito de microcidade: onde vivemos, desempenhando o papel de mediador entre os
trabalhamos e descansamos, conectados ao atores envolvidos, de forma mais humana.
mundo através de redes de informação. Pensar Pesquisa realizada pelo Instituto Datafolha e
o futuro do morar, pelo olhar da arquitetura, pelo Conselho de Arquitetura e Urbanismo do
passa por essa lente transversal, onde, Brasil (CAU) atestou que 45% das pessoas que
naturalmente, em diferentes realidades, existem não contratou um serviço de arquitetura, mas (Imagem: Instagram @fave.lar)

diferentes conceitos de microcidades. Lares que tem vontade de contratá-lo, não o fez
mais acessíveis, com espaços compartilhados, porque o considera caro, não tendo condições
mais sustentáveis, flexíveis e com estilo e financeiras de realizá-lo. Oportunidade/Implicação
espaços que propiciem saúde e bem-estar. É Neste sentido, propostas pensadas a partir de
Incentive o morador como protagonista
para onde aponta o futuro do morar quando projetos com foco em habitação social e
autoconstrução, tornam possíveis esta do lar. O movimento crescente por
olhamos pela lente de classes mais favorecidas.
É também cada vez mais comum as pessoas aproximação entre os arquitetos e a periferia. O pessoas que almejam participar do
surgimento de iniciativas periféricas que processo de concepção de sua casa - do
optarem por fazer parte do processo de buscam levar moradia digna para todos, como é projeto à execução - tende a ganhar
projeção das próprias casas. Mas, ainda existe o caso de iniciativas como Moradigna e Favelar, ainda mais evidência. A contratação de
um grande desafio a ser enfrentado quando o trazem para o centro da discussão a
profissionais de arquitetura que
assunto é democratizar a arquitetura, que ainda possibilidade dos menos favorecidos terem
acesso a projetos com construções flexíveis e possuem um viés de projetos flexíveis e
é considerada vertical e inacessível por muitos.
acessíveis, além do empoderamento do adaptáveis à personalidade de cada
Como torná-la parte dos lares de todos?
morador, que pode planejar sua casa de acordo cliente é o carro chefe do movimento.
com seu gosto e capacidade financeira.
49 CASA LAR - ARQUITETOS UNIVERSAIS
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Advanced Architecture Contest

PARA Arquitetos periféricos

Habitação de interesse social

Moradigna

SABER Favelar

Pandemia mudará drasticamente relacionamentos

Internet na quarentena

+ Brasileiros têm acesso precário à internet

Habitar híbrido

A casa do futuro próximo

Casa MU50

Ensino superior do futuro

O Brasil sem home office

O que é a quarta revolução industrial

50 CASA: LAR - PARA SABER MAIS


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CASA MUNDO

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(Imagem Sergio Souza em Unsplash.com )
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A nossa maior casa. “Sempre me senti no meu lar nos locais em


que eu tenho convivência ajudando as
pessoas.” Trazemos novamente Carmen “Sempre me senti no
Como se Silva, para nos relembrar como a nossa casa
meu lar nos locais em
é também onde estamos em contato com a
constroem as comunidade. Nesse sentido, nosso senso de
lar começa a se expandir além das paredes
que eu tenho
convivência
relações com o físicas e se completa na relação com o
outro. Diante de um contexto de crise como
ajudando as pessoas.”
- Carmen Silva
nosso entorno o atual, somos lembrados que o bem-estar e
a sobrevivência da nossa comunidade

social e ambiental? reflete no nosso próprio bem-estar e


sobrevivência. Seja por empatia ou por um
impulso de autoproteção, somos levados a
olhar para o outro com mais cuidado.

O doutor em filosofia, Castor Bartolomé Ruiz, afirma que estamos diante de uma crise do
modelo civilizatório de acúmulo indefinido de riquezas em poucos oligopólios, que impôs sobre
nós a noção do homo economicus, que busca a maximização do lucro monetário e o proveito
próprio acima de tudo. A pandemia, segundo ele, estaria pondo em xeque esse modelo de
subjetivação do indivíduo e os seus principais pilares, entre eles, a negação do espaço público e
a noção do individualismo.
52 CASA MUNDO - INTRODUÇÃO
IED FUTURE LAB

“Fomos nos alienando desse organismo


No caso do primeiro, fomos relembrados
de que somos parte, a Terra, e
da importância das instâncias públicas
passamos a pensar que ele é uma coisa
como principal forma de combater a

(Imagem Garapa - Coletivo Multimídia)


e nós, outra: a Terra e a humanidade”.
pandemia, vide a importância do Sistema
Diante da consciência da nossa
Único de Saúde (SUS), por mais deficitário vulnerabilidade em momentos de
que seja, no combate à pandemia, tamanha magnitude, a crise ambiental
evitando uma tragédia ainda maior no recebeu holofotes como a próxima
Brasil. No segundo caso, recordamo-nos grande crise de escala global que
da nossa interdependência. Segundo ele, vamos enfrentar logo menos. Mais do
“só é possível enfrentarmos a pandemia de que nunca, entendemos como nos
forma coletiva, com atitudes coletivas e de reconciliar com a natureza é nossa
modo comunitário”. salvação.
Fomos chacoalhados pelo entendimento Os movimentos explorados nessa
de que nossas ações pessoais geram O modelo civilizatório em crise também “exige seção nos guiam pela redescoberta da
consequências imediatas e de larga escala. uma predação ad infinitum do planeta terra”, casa para além das paredes que
Se antes o vírus estava contido na China segundo o filósofo. E é nessa perspectiva que habitamos. O reforço da comunidade,
central, em poucos meses, se fazia vemos iniciativas que nos reconciliam com a que se comunica e articula em ações
presente no mundo todo, sendo levado natureza emergindo durante a pandemia. Em seu que visam sua manutenção, e a nossa
pelo movimento humano constante entre livro “Ideias para adiar o fim do mundo” o necessária recomposição com a
fronteiras. A revés, a importância do pensador Ailton Krenak diz que fomos por muito Natureza são os sinais latentes da
coletivo em um momento de crise emergiu tempo embalados pela noção de que nós, necessidade de nos relacionar de forma
como nossa força de sobrevivência. humanidade, somos diferentes e estamos mais saudável com nossa maior casa, a
apartados do sistema maior que nos cerca. Casa Mundo.

53 CASA MUNDO - INTRODUÇÃO


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AUTO GESTÃO
SOCIAL

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(Imagem Instagram @fave.lar )
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Para reduzir a propagação da Covid-19


A concentração de setores econômicos nas em grandes centros urbanos, foram
grandes capitais brasileiras traz consigo um indicadas e adotadas medidas de
movimento de crescimento ultra acelerado
isolamento social e o fechamento do
dessas metrópoles. A cidade começa sua
expansão urbana e populacional em direção comércio não essencial, o que
às periferias, lugar onde o valor da terra é mais desencadeou uma série problemas
acessível e onde se abrigam, sem controle e econômicos, impactando diretamente as
infraestrutura, trabalhadores de baixa renda, pequenas e médias empresas, os
trazendo como consequência uma
trabalhadores informais e ocasionando
urbanização desigual separando o centro e
essas localidades. Segundo levantamento demissão em massa de trabalhadores,
feito pela Rede Nossa São Paulo, há repercutindo especialmente na
evidências de que o impacto da pandemia se população de baixa renda. Segundo o
relaciona com as vulnerabilidades e Instituto Brasileiro de Geografia e
desigualdades territoriais e que a qualidade Estatística (IBGE), a taxa de desemprego,
de vida e longevidade, que varia entre as
que no trimestre de Dezembro/2019 a
regiões da capital paulista, são aspectos que
podem influenciar no número de óbitos. Fevereiro/2020 estava em 11,6%, saltou

(Imagem Fabio Motta para Agência O Globo)


Bairros onde as pessoas são menos longevas para 12,9% no trimestre que se encerrou
têm 3,5 vezes mais mortes do que os bairros em Maio/2020.
onde as pessoas morrem mais tarde, que são O número de pessoas ocupadas foi o
mais centrais. Utilizando exemplos que menor da série histórica, descendo a 85,9
emergem das cidades brasileiras, em especial
milhões de pessoas. A necessária
São Paulo, vamos elaborar os movimentos
que se destacam nesse contexto e que cobertura midiática das consequências
trazem protagonismo para a articulação das de uma pandemia na população
comunidades. evidenciou com clareza a desigualdade
social na cidade.

55 CASA MUNDO - AUTO GESTÃO SOCIAL


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Porém, a desigualdade social não foi o


único indicador percebido por causa
do Coronavírus, também
evidenciou-se a ausência de medidas
eficientes do Poder Público (em todos
os níveis) para combater com
efetividade as consequências nos
âmbitos da saúde, economia e social,
invisibilizando as reais consequências
da pandemia em lugares vulneráveis,
com alta concentração populacional e Oportunidade/Implicação
condições precárias de moradia. Como promover iniciativas na
Lugares esses onde o isolamento periferia que estimulem a
social se tornou um privilégio. Vemos organização local, ao mesmo tempo
em que se gera uma cobrança maior
emergir desse cenário processos de
da participação do poder público
mobilização independentes, que se em medidas efetivas no combate ao
articulam dentro da comunidade e desemprego, vulnerabilidade e
para a comunidade. desigualdade?

(Imagem: Instagram @lovect_skate)


56 CASA MUNDO - AUTO GESTÃO SOCIAL
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PROTAGONISMO
COLETIVO

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(Imagem Ronaldo Bernardi / Agencia RBS )
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Diversas Organizações
Não-Governamentais (ONGs), como a
Sociedade Santos Mártires, estão
trabalhando de maneira localizada para
mitigar os impactos econômicos
através da arrecadação de verbas,
alimentos e kits de higiene. A União de
Núcleos, Associações dos Moradores
de Heliópolis e Região (UNAS), na

(Imagem:.dw.com)
favela de Heliópolis, também apoia
campanhas organizando pontos para
distribuição de doações e captação de
Oportunidade/Implicação
verba. Movimentos como o "Juntos
transformamos", plataforma lançada Mobilize recursos e times para apoiar
em Março/2020 pela XP INc, já doou sua distribuição em várias metrópoles causas e ações que atuam diretamente

mais de 54 mil cestas de alimentos e brasileiras e na medida em que elas na mitigação dos impactos econômicos

auxiliou cerca de de 244 mil famílias. continuam tendo aprovação das causados pela pandemia e outros
problemas sociais.
O fato é que as ONGs e outras comunidades, o papel de liderança e
organizações coletivas estão fazendo a protagonismo dessas instituições pode se
ponte entre recepção de recursos e reforçar e se manter como um movimento de
mobilização empoderada.

58 CASA MUNDO - PROTAGONISMO COLETIVO


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PRESIDENTES
LOCAIS

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(Imagem Gloria Maria para UOL )
(Imagem: presidentes de rua em Paraisópolis, divulgação para Uol)
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Tanto quanto ter uma participação


A ausência do estado reforçou um
movimento de autogestão que tende a ativa na comunidade que os cercam,
permanecer. A população, mais do que é importante, e essas pessoas têm o
nunca, passou a se organizar de maneira direito, de ter momentos de
orgânica e articulada, possibilitando a descanso e convívio nuclear com sua
emergência de novos líderes dentro das família e pessoas próximas, o que a
comunidades, que são o lar de 13,6%
falta de políticas públicas
milhões de pessoas no Brasil. Thainá dos
Anjos, moradora de Paraisópolis, atua como direcionadas prejudica.
“Presidente de Rua”, suportando na
conscientização dos moradores,
disseminação de informações, auxílio aos
doentes e distribuição de doações, além de
atuar em outras iniciativas. Ela apoia a .Esse exemplo ilustra também como processos de
gestão da confecção de máscaras para mobilização e formação de lideranças emergem
serem distribuídas pelo projeto Periferia
dentro das comunidades, para mitigar os diversos
Inventando Moda (PIM), a criação de
hashtags de apoio como impactos da crise. São sinais de como pode-se
#CoronaNasPeriferias, que faz o esperar um reforço de movimentos de articulação Oportunidade/Implicação
mapeamento das necessidades que se social dentro dessas comunidades. Entretanto, ao
Crie vínculos com lideranças locais
apresentam em cada região, e o projeto dedicar-se até 20 horas diárias nas atividades de para apoiar na visibilidade de
Desenrola e Não Me Enrola, que articula suporte a comunidade, vemos como o caso de
diferentes comunicadores para informar movimentos que não possuem apoio
Thainá revela o desamparo da população mais midiático para arrecadar recursos.
com uma linguagem próxima o que
acontece com a Covid-19 nas periferias. vulnerável e o quanto essa articulação afeta a Apoie dando voz e apoio financeiro a
vida pessoal e a vivência da subjetividade desses líderes que reflitam a identidade da
atores. sua marca e produtos.
60 CASA MUNDO - PRESIDENTES LOCAIS
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LOCALISMO

MIcro
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(Imagem FLICKR)
IED FUTURE LAB

Esse é um movimento que está se


Consequência de comportamentos consolidando, principalmente
colaborativos, que lançam um olhar de considerando que a limitação de
cuidado para quem está mais próximo de trânsito nas cidades nos leva a
nós, vemos a aceleração de iniciativas de atender nossas necessidades em
consumo local no atual cenário. Nas comércios próximos da nossa
comunidades do Ceará, houve um comunidade, trazendo
aumento de 60% no uso de moedas protagonismo, por exemplo, para

(Imagem: Palma é disponibilizada no app E-dinheirO, Diário do Nordeste)


sociais, em relação aos seis primeiros mercadinhos de bairro - que
meses de 2019. Essas moedas são passam a ser nossos
gerenciadas por bancos comunitários e principais fornecedores
destinadas, especialmente, às pessoas de
baixa renda que têm dificuldades em
acessar o sistema bancário tradicional e
Oportunidade/Implicação
circulam nas comunidades incentivando o
comércio local. Iniciativas de apoio Potencialize ações que estimulem a
emergencial, como do Instituto Stop economia do comércio local. A
necessidade por "pense global, mas aja
Hunger Brasil, atrela a doação de valores
local" nunca esteve tão perto. Em um
a ONGs e coletivos parceiros para compra
momento onde os consumidores tendem
de produtos de primeira necessidade, ao a supervalorizar o apoio de redes e
consumo de fornecedores locais. comunidades vizinhas, é a vez dos
pequenos e médios negócios
ganharem destaque.
62 CASA MUNDO - LOCALISMO
IED FUTURE LAB

CAMPONISMO

MIcro
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(Imagem Robson Hatsukami Morgan em Unsplash.com)
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Um movimento contrário à noção de comunidade nas


grandes cidades vem sendo empreendido por aqueles
que têm a possibilidade de trabalhar remotamente e
mais condições, o êxodo das grandes metrópoles. Com
a possibilidade do teletrabalho, surge a opção de se ter
melhor qualidade de vida em cidades menores e casa
maiores, escapando dos grandes centros, embora
mantendo-se a distâncias razoáveis dessas regiões.
Segundo dados disponibilizados pela Fundação Instituto
de Pesquisas Econômicas (FIPE), a média de preço do
metro quadrado na cidade de São Paulo comparado à
algumas cidades do interior e litoral é 100% maior (para
esse estudo, utilizou-se cidades que estão a uma média
de 85 Km da capital: Campinas, Guarujá, Praia Grande,
São José dos Campos e São Vicente). Ou seja, morador
longe dos grandes centros pode ser mais
barato também.
(Imagem Folha de São Paulo)

“Pensamos em mudar para fora da cidade, um lugar mais longe”, diz uma moradora de São Paulo de classe alta. A busca por imóveis rurais na
plataforma Imovelweb foi 52% superior no mês de Março de 2020, se comparado a Fevereiro do mesmo ano, e 124% superior se comparado a Março
de 2019. Que seja apenas para um aluguel de temporada ou compra definitiva, as pessoas têm buscado opções fora dos grandes centros.

64 CASA MUNDO - CAMPONISMO


IED FUTURE LAB

(Imagem: Oscar Wong para Getty Images, em Forbes.com.br)


de tarefas em regiões que oferecem
A relação entre as cidades e a disseminação trabalho mais barato abre margem para
facilitada de doenças é antiga e remonta os se beneficiar dos contrastes territoriais
surtos de peste bubônica na Europa do século e perpetuar desigualdades.
XV. Desde aquela época, tinha-se em conta que Apesar de todos esses fatores que
o aglomerado de pessoas e trocas dos centros reforçam o êxodo dos grandes centros,
aumentavam o risco de contágio. O processo existem aqueles que acreditam que
que vemos da disseminação da Covid-19 no nada substitui o amor por essas
Brasil reforça esse contexto: depois de ter cidades. Embora com potencial para
avançado nos grandes centros, a doença se crescer no futuro próximo, esse
expande nas pequenas cidades que, processo pode passar por refluxos até
majoritariamente, não possuem estrutura de se estabelecer.
atendimento médico robusta para um contexto
de pandemia. Além da percepção de maior
perigo de contágio, a indisponibilidade de Oportunidade/Implicação
Não somente estamos trabalhando mais de casa, mas
perda de tempo em grandes deslocamentos e com a aceleração de iniciativas de trabalho remoto, o Como explorar e, eventualmente
a busca por um maior contato com a natureza Anywhere Office ganha corpo e passamos a ter a opção potencializar, o movimento que
são fatores importantes para determinar a de trabalhar de qualquer lugar. Qualquer espaço pode questiona a necessidade do morar na
escolha de saída das grandes cidades. ser nosso escritório, possibilitando uma mobilidade cidade somado à possibilidade de
Em um quadro crescente de atividades sendo geográfica a qual não tínhamos acesso, movimento que trabalhar de qualquer lugar? Ainda
transferidas cada dia mais para o on-line, a deve se reforçar com a abertura das fronteiras entre os que existam os apaixonados pelas
parcela da população que está fortemente países. Porém, dentro desse contexto podemos levantar grandes metrópoles, é crescente a
inserida nesse processo de digitalização reforça uma problemática que é a exploração de mão-de-obra busca por espaços rodeados por
o movimento de migração. mais barata em regiões menos centrais, como natureza, maiores e que substituam o
pesquisas já levantam há um tempo. A subcontratação trânsito por qualidade de vida.
65 CASA MUNDO - CAMPONISMO
IED FUTURE LAB

COMUNIDADE
PARTICULAR

MAcro
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(Imagem Tim Marshall em Unsplash.com)
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O isolamento social nos enclausurou


Cuidar mais de si e do outro são movimentos
dentro de casa, onde estamos paralelos que estão mostram sinal de reforço.
rodeados por paredes e um círculo Conceitos como a “Ética do Cuidado”, baseado
familiar e afetivo restrito, quando não nos comportamentos do olhar e atenção
sozinhos e dentro de nós mesmos. coletivas de comunidades indígenas e favelas,
nos provocam a possibilidade de viver em
Quando isolados, temos a chance de
comunidades mais conectadas e articuladas,
perceber a importância do autocuidado onde valores como a solidariedade e a
e como esse senso de zelo pode se cooperação comandam nossa convivência.
estender para a comunidade que nos Ailton Krenak, líder indígena, em seu discurso
rodeia. Segundo pesquisa realizada sobre "Ideias para adiar o fim do mundo”, reforça:
pela Consumoteca, todas as gerações “somos alertados o tempo todo para as (Imagem: reprodução Veja SP)
consequências das escolhas recentes que
passaram a cuidar mais do seu
fizemos. E se pudermos dar atenção a uma visão
bem-estar se comparado a antes da que escape a essa cegueira que estamos vivendo
pandemia, sendo a Geração Z a mais no mundo todo, talvez ela possa abrir nossa
representante, com 44% dos jovens mente para uma cooperação entre os povos, não
afirmando que cuidam dessa esfera para salvar os outros, para salvar a nós mesmos.”. Oportunidade/Implicação
Fica evidente, neste sentido, o convite de que
mais agora do que anteriormente. Ao Ações colaborativas que estimulam o
para recuperar o futuro se faz necessário
mesmo tempo, vemos que 25% e 23% repensarmos, individual e coletivamente, a
cuidado comunitário e que objetivem
das classes A e C, respectivamente, maneira como nos percebemos como
a perenidade desses movimentos,
mesmo após a pandemia. Assim, a
ajudaram a alguém próximo durante indivíduos e como parte de um sistema maior.
manutenção do senso comunitário será
esse período. Sistema esse que engloba a sociedade e
possível como algo duradouro e
também a natureza que nos cerca.
potencialmente transformador.

67 CASA MUNDO - COMUNIDADE PARTICULAR


IED FUTURE LAB

MORAR
ORGÂNICO

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(Imagem https://www.realestate.com.au/advice/top-10-tips-survive-share-house/)
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Como reflexo da possibilidade de uma vida a possibilidade de interação com os outros


em comunidade, onde compartilhamos em No caso da primeira, a proposta é a oferta de moradores e espaços de privacidade, os
harmonia espaços de uso comum, moradia estudantil em bairros centrais e uma quartos e apartamentos, fluindo entre os
empreendimentos em bairros de classe série de serviços e estruturas compartilhadas dois extremos; do coletivo ao individual.
média e alta que adotam essa abordagem a preço fechado. Por uma mensalidade, o Adicionalmente ao apelo de vida
começam a surgir com maior força. A Vitacon morador tem acesso Wi-Fi, limpeza e equipe compartilhada, que o isolamento social na
vem trabalhando em projetos inspirados no de apoio, além de todas contas de água, luz atual crise revaloriza, a turbulência
conceito de co-living, onde se compartilham e IPTU inclusas. Já a Kasa segue a mesma econômica decorrente dela pode
determinadas áreas comuns. De acordo com proposta de um espaço co-living, mas que capitanear um interesse maior por essas
a pesquisa “Movimento Coliving”, não se limita a estudantes, e conta com opções que têm na acessibilidade
encomendada pela empreiteira junto ao espaços comuns como academia, coworking financeira um dos seus grandes apelos.
Instituto de Pesquisas Sociais, Políticas e e lavandeira. Ambos os projetos oferecem
Econômicas (Ipespe), 31% dos entrevistados uma lógica de serviço de moradia para seus
aceitaria compartilhar espaços com pessoas usuários, apostando em um modelo que se
desconhecidas ou conhecidas na mesma baseia no compartilhamento e na
residência a longo prazo. E 68% dos mais convivência comunitária. É importante
jovens e 36% dos idosos viveriam um espaço ressaltar que, apesar de regras
preestabelecidas, a vida em comunidade se Oportunidade/Implicação
pequeno com área de convívio confortáveis
e planejadas, comprovando o quanto esse constrói de maneira orgânica, no ato do Estimule o senso de pertencimento -
formato pode aplicar-se a diversas conviver, e sempre será necessária uma individual e comunitário. Aderir à
realidades. Essa configuração também vem esfera privada, uma espécie de cápsula onde possibilidade de oscilar entre o
sendo explorada em projetos desenvolvidos podemos exercer nossa individualidade e particular e o privado em um mesmo
pela Uniliving e a Kasa. nosso controle. Daí a configuração dessas local se torna um atrativo para
soluções que oferecem grande parte dos que buscam por
praticidade, economia e variedade.

69 CASA MUNDO - MORAR ORGÂNICO


IED FUTURE LAB

TERRA-LAR

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(Imagem The New York Public Library em Unsplash.com)
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Enquanto alguns de nós se adaptam à o impacto no meio ambiente,


Em São Paulo, a redução da poluição
uma nova rotina caracterizada pelo segundo um estudo da McKinsey &
de 20% foi responsável por uma
distanciamento social e outras medidas Company, houve um aumento
diminuição expressiva de raios,
para diminuição do contágio da considerável do desmatamento da
relacionando a poluição atmosférica a
Covid-19, estudiosos consideram o Amazônia durante a pandemia.
formação de supertempestades.
momento um possível caminho para Isso demonstra a necessidade de
Atividades como o desmatamento,
lidar com outros riscos globais articulação necessária dos âmbitos
queima de combustíveis fósseis,
sistêmicos, como a crise ecológica e civil e governamental para que ações
agropecuária, atividades industriais e os
climática. Podemos observar como a efetivas sejam colocadas em prática,
resíduos estão entre as mais
desaceleração de viagens e de já que movimentos recentes do
significativas fontes de emissão de
atividades industriais trouxe uma governo federal são vistos como
dióxido de carbono. Os benefícios
diminuição das emissões de carbono combustível para o incentivo ao
dessa parada forçada são relevantes,
na atmosfera. Estudos revelam que, no desmatamento. Diante do contexto
mas dependemos da mobilização
final de Janeiro, os níveis de dióxido de de parada obrigatória, a lógica seria a
também de governos e empresas para
nitrogênio (NO2) no leste e no centro da seguinte: com a redução da atividade
adotarem estratégias que permitam o
China foram 10 a 30% mais baixos que o econômica no país, teríamos também
combate à emergência climática após a
normal. Índia, EUA, Itália também são uma redução do desmatamento, mas
crise. Porém, não existem muitos
países onde os impactos foram pela falta de ações efetivas do
indícios que levem o Brasil para esse
percebidos. Em Milão e no norte da governo para proteção da nossa
caminho. Ainda que cerca de 60% da
Itália, desde que o país decretou floresta, não é o que acontece.
população brasileira já considere
lockdown, os níveis de NO2 caíram
mudanças no estilo de vida para reduzir
cerca de 40%.

71 CASA MUNDO - TERRA-LAR


IED FUTURE LAB

Os alertas de desmatamento
na Amazônia subiram quase
64% em relação a Abril/2019.
Mais do que nunca, fica claro
Oportunidade/Implicação
como a tomada de
Invista em ações que auxiliam na
responsabilidade pela ação conscientização e enderecem o
coletiva é fundamental para cuidado com o planeta. Esteja
atento e não se associe com
superarmos a atual crise marcas, empresas ou causas que
sanitária e a crise ambiental compactuam com o desmatamento,
poluição e descaso com o meio
que está posta. ambiente. O aumento de
consumidores que exigem
posicionamentos responsáveis
com a crise ambiental é um motor
de transformação, garanta que
você fará parte dela.
(Imagem Reuters)
72 CASA MUNDO - TERRA-LAR
IED FUTURE LAB

RESPONSABILIDADE
COMPARTILHADA

MIcro
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(Imagem Greta Thunberg fala durante Cúpula da Ação Climática das
Nações Unidas em Nova York - 23/09/2019 Carlo Allegri/Reuters )
IED FUTURE LAB

Em pesquisa realizada com jovens da Geração Z


sobre bem-estar, constatou-se que 67% deles
acredita que o meio-ambiente será a principal causa
de sua ansiedade em 2030. Sessenta e quatro por
cento afirmaram que as pessoas somente irão
consumir comida de empresas ambientalmente
responsáveis e 63% acreditam que comeremos mais
comida orgânica até o início da próxima década.
Ainda, 80% deles afirmam que a sociedade será o
principal elemento que impactará seu bem-estar em
2030. Esses dados reforçam o quanto o poder do
coletivo vai impactar e moldar nossos sentimentos e
emoções. Esses movimentos nos levam, como
sociedade, para uma responsabilidade compartilhada
em relação ao meio-ambiente e ao bem-estar do
mundo pensado de forma sistêmica,
(Imagem Facebook Paola Carosella)

através da crescente rejeição à grandes indústrias, direcionamento a um consumo mais local e um caminho de volta às raízes. E essas escolhas e estilo
de vida se refletem fundamentalmente em nossas casas. Nesse sentido, vemos que o desejo de trazer sustentabilidade para nossos lares depois da
pandemia transpassa os contrastes de acesso do nosso país. Iniciativas como a 'Favela da Paz' tem projetos direcionados ao desenvolvimento de
tecnologia sustentável de baixo custo, como a geração de biogás através da conversão do lixo orgânico de cozinha.

74 CASA MUNDO - RESPONSABILIDADE COMPARTILHADA


IED FUTURE LAB

Esses são exemplos de movimentos


que podem ganhar força e disseminar
As ações do coletivo estão em
ainda mais suas sementes em um
consonância com a preocupação maior mundo pós-pandemia. Ações globais
com a geração de lixo, que ganhou de implementação de energias
destaque nesse momento de renováveis para atender à comunidades
pandemia. Em tempos de isolamento vulneráveis são exemplos adicionais de
como preceitos da Economia Circular
social, mais tempo em casa e aumento
são necessários em momentos críticos,
de pedidos via delivery, entendemos como medidas que incrementam nossa
como a produção de lixo no nosso capacidade de se superar a crise, mas
dia-a-dia tem uma escala que não era que exigem a articulação de atores,
palpável. Na capital paulista, a coleta inclusive internacionais, para olhar
pelos mais vulneráveis.
seletiva aumentou em 23% no mês de
Abril/2020, se comparado a Abril/2019.
O perfil no Instagram veganoperiferico,

(Imagem: Instagram @veganoperiferico))


que transforma a dieta baseada em Oportunidade/Implicação
plantas numa causa acessível para
Inspire iniciativas sustentáveis e de
todos: "não importa onde você mora, propagação do bem-estar coletivo.
importa como você pensa." também Responsabilizar-se é chave.
traz a sustentabilidade para dentro de Possibilitar a condição regenerativa
casa. do planeta só será possível através de
movimentos compartilhados de
cuidado e conscientização.
75 CASA MUNDO - RESPONSABILIDADE COMPARTILHADA
IED FUTURE LAB

PARA Coronavírus se alastra


A importância de um sistema de saúde público e universal no enfrentamento à
epidemia

SABER Pandemia e as falácias do homo economicus


Carmen Silva fala sobre moradia
Condições precárias de moradia dificultam isolamento vertical nas periferias

+ Nas favelas, até a pandemia de coronavírus é invisível


O desemprego na pandemia
Mapa da desigualdade
UNAS
Coronavírus: negros serão mais impactados
Anywhere office
Como o desmatamento na Amazônia se alastra
Movimento co-living

76 CASA MUNDO - PARA SABER MAIS


IED FUTURE LAB

ARTEFATO DE FUTURO
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(Imagem Back to the Future 1985 Directed by Robert Zemeckis)


IED FUTURE LAB

FUTURO DO MORAR
E quem
Não tem
casa?
A nossa visão de futuro se traduz em
um serviço que provê uma estrutura
digna para quem não tem nem mesmo
um teto fixo sob o qual habitar. Sem estereótipos
Motivados pelos contrastes do morar, De acordo com o último
nossa iniciativa é propositiva e tem um Censo Pop Rua 71% dos
viés social de ação, com foco (Imagem Isabela Alves para Observatóriosetor3.org) moradores de rua
nos que têm menos opções entrevistados possuem
de moradia.
alguma atividade
remunerada

78 ARTEFATO DE FUTURO - INTRODUÇÃO


IED FUTURE LAB

COLMÉIA
INSTALAÇÃO
SOCIAL 2025
[Uma visão sobre
abrigos humanizados e
democratização do morar]

O Projeto Colméia visa a reflexão


sobre o futuro da moradia, em
especial para aqueles que não tem
(Imagem Marcos Davantel)

onde morar, através de casas de


fabricação mais sustentáveis e
acessíveis a todos.

79 ARTEFATO DE FUTURO - COLMÉIA


IED FUTURE LAB

Quais as características?
A Colméia é uma forma de construção
modular por impressão 3D de biopolímeros de
algas., sistema de reuso de água
individualizado e captação de luz solar.
Quase todos os materiais podem ser
montados e desmontados, reusados ou
reciclados.
A configuração inicial contém um quarto
mobiliado e um banheiro privativo. Os
módulos podem ser reconfigurados para
atender diversas necessidades. Podem ser
colocados em regiões livres da cidade, como
vãos livres, coberturas de prédio ociosos,
embaixo de viadutos ressignificados, ou ainda,
espaços apropriados para o desenvolvimento
de uma vila de acolhimento.

Por que precisamos disso?


A população de rua tem aumentado
significativamente. O Censo de 2019 estima
que só em São Paulo esse número tenha
aumentado em 53% nos últimos quatro anos..
Além disso, o déficit habitacional no Brasil é
de cerca de 8 milhões de moradias com
cidades cada vez mais populosas e com
menos espaço. Construir uma casa é caro,
demorado, poluente e um privilégio
para poucos.

80 ARTEFATO DE FUTURO - COLMÉIA (Imagem Marcos Davantel)


IED FUTURE LAB

Quais os benefícios?
Tornar mais barata uma nova tecnologia de construção.
Para moradores de rua é a possibilidade de um endereço
fixo, local de armazenagem para pertences pessoais,
privacidade, não ser tratado como um número.
Para a prefeitura significa redução de custos com abrigos,
humanização no tratamento a pessoas em situação de rua,
novas possibilidades para habitação social e diminuição de
desafios de urbanização.
Para a sociedade é uma cidade mais humana, mais
empática e uma nova tecnologia que pode ser aplicada em
vários setores com melhoramento da ocupação da cidade e
menor impacto ambiental.

Mas só funciona para moradores de rua?


Não.
As possibilidades da Colméia são diversas, pode ser
aplicada para programas de habitação social permanente,
reconfiguração de comunidades, complexo de casas de
luxo e ecovilas e até mesmo turismo em áreas remotas.

(Imagem Marcos Davantel)

81 ARTEFATO DE FUTURO - COLMÉIA


IED FUTURE LAB

O FUTURO É 01
Desenvolver protótipo para gerar
discussão e aprimoramento do projeto
Encontros para discussões acerca do
aprimoramento da solução com especialistas,
instituições de ensino, ONGs e sociedade.

RESULTADO DAS 02
Divulgação do projeto e arrecadação de
Campanha em site de crowdfunding com
recompensas (a definir) com valor líquido arrecadado

AÇÕES TOMADAS
fundos para ONGs repassado a ONGs que possuem projetos destinados
a moradores de rua

NO PRESENTE 03
Parcerias com setor privado para
implementação
Busca de parceria com empresas de construção
e/ou alinhadas com os valores do projeto para
viabilização de piloto

Nos dê sua opinião


Esperamos apresentar uma nova

O QUE QUEREMOS visão para o futuro, para engajar e

COMO FAREMOS inspirar pessoas no presente para


criar um futuro mais desejável.
Gostaríamos de feedback, quais
suas considerações sobre o projeto?
Vamos construir juntos.

82 ARTEFATO DE FUTURO - COLMÉIA - O QUE PRETENDEMOS


IED FUTURE LAB

ContrasteS IED FUTURE LAB | 2020

EQUIPE QUINTAL
David Mancera Oyaga
Jéssica Pereira
Murillo Albanez
Natalie Davantel
Patricia Tostes
Thiago Tofoli
COORDENAÇÃO
Douglas Cavendish
Natalia Kaupa
MENTORIA
Graziela Nivoloni

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