POSITIVISMO: OS PRIMÓRDIOS DAS
1 CIÊNCIAS HUMANAS
Caro(a) aluno(a),
Neste capítulo, abordaremos o tema do
positivismo e a sua importância para as ciências
humanas. Esperamos que, ao final dele, você
compreenda a importância desse sistema de pen-
samento para a afirmação das ciências humanas e
a influência que exerceu sobre a organização das
sociedades ocidentais. Vejamos, então, as suas
principais contribuições.
A primeira corrente teórica sistematizada
de pensamento sociológico foi o positivismo;
foi a primeira a definir precisamente o objeto, a
estabelecer conceitos e uma metodologia de in-
vestigação. Além disso, o positivismo, ao definir a
especificidade do estudo científico da sociedade,
conseguiu distinguir-se de outras ciências, es-
tabelecendo um espaço próprio à ciência da so-
ciedade. Seu primeiro representante e principal
sistematizador foi o pensador francês Auguste
Comte.
O positivismo, nas ciências humanas, foi a
primeira tentativa verdadeiramente sistematiza-
da de o homem conhecer a realidade. Seu conhe-
1.1 Contexto
O século XVIII havia consagrado o poder da
burguesia, que impôs o uso da ciência e da técni-
ca como meta para a nova sociedade, provocan-
do, assim, modificações sociais, políticas e eco-
nômicas jamais vistas. A consagração desse novo
saber, isto é, da ciência e da técnica, leva para um
novo entendimento das questões humanas, que
passam, agora, pela concepção do cientificismo,
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cimento pretendia, portanto, substituir as expli-
cações metafísicas e as crenças do senso comum
por meio das quais o homem buscava – até então
– explicar a realidade.
Auguste Comte (1798-1857) nasceu na Fran-
ça. Sua família era católica e monarquista; talvez
esteja aí uma das explicações para sua concepção
de mundo. Estudou em Paris, na Escola Politécni-
ca, e testemunhou os turbulentos tempos da era
napoleônica. Tornou-se discípulo de Saint-Simon,
de quem sofreu enorme influência. Devotou seus
estudos à filosofia positivista, considerada por ele
uma religião, da qual era o pregador. Segundo sua
filosofia política, existia na história três estados: a)
teológico – nesse momento, o espírito humano
explicar-se-ia por meio de vontades transcenden-
tais ou agentes sobrenaturais; b) metafísico – nes-
sa fase, os fenômenos são explicados por forças
ou entidades ocultas; c) positivo – aqui, as expli-
cações dos fenômenos estão subordinadas às leis
experimentalmente demonstráveis. Esse último
estágio representava, segundo Comte, o apogeu
do progresso da humanidade em busca da técni-
ca e da ciência.
ou seja, a ciência é o único conhecimento possí-
vel para a humanidade.
O idealismo, pensamento predominante
até a primeira metade do século XIX, passa a ser
combatido e o positivismo é quem primeiro leva
esse combate adiante. O positivismo representa,
então, uma reação contra o idealismo. A diferença
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fundamental entre idealismo e positivismo é a
seguinte: o primeiro procura uma interpretação,
uma unificação da experiência mediante a razão;
o segundo, ao contrário, quer limitar-se à expe-
riência imediata. Além de ser uma reação contra
o idealismo, o positivismo é ainda tributário do
grande progresso das ciências naturais, particu-
larmente das biológicas e fisiológicas, do século
XIX.
Saiba mais
Para os idealistas, a filosofia é o estudo dos proces-
sos pelos quais a realidade deriva dos princípios
constitutivos do espírito, sendo o mundo o produto
de um movimento do pensamento. Entre os princi-
pais idealistas, podemos destacar: Schelling e Hegel.
1.2 Os Fundamentos do Positivismo
Comte estabelece, no livro Curso de filosofia
positiva, os três princípios básicos do estado po-
sitivista. De acordo com esse princípio, a vida da
humanidade compreende três estágios, sendo o
atual, isto é, aquele no qual vivia Comte, o princi-
pal deles.
O primeiro estágio está relacionado à ma-
neira de a humanidade explicar o mundo; uma
explicação que sempre provinha dos mitos e das
crenças religiosas. Esse estágio é chamado teoló-
gico e Comte assim o descreve:
No estágio teológico, o espírito huma-
no, dirigido essencialmente suas investi-
gações para a natureza intima dos seres,
as causas primeiras e finais de todos os
efeitos que o tocam, numa palavra para
o conhecimento absoluto, apresenta os
fenômenos como ação direta e contínua
de agentes sobrenaturais.
Dicionário
Teológico: o estudo racional dos textos sagrados,
dos dogmas e das tradições do cristianismo.
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Pode-se dizer que a filosofia de Comte de-
fende alguns princípios consagrados da socieda-
de, como a propriedade, a família, o trabalho e a
religião. Com esses princípios rigidamente segui-
dos, a sociedade alcançaria, segundo Comte, o
progresso e a ordem. A ideia de ordem está, nes-
se caso, associada à ideia de hierarquia, que gera
consequentemente uma disciplina para a socie-
dade. É importante dizer que, para Comte ou para
o positivismo, o entendimento da história dá-se
por meio de documentos oficiais, isto é, a história
só se explica e se justifica com a visão predomi-
nante de sua época.
O segundo estágio, dito metafísico, é uma
crença em Deus, mas sem fundamentação cientí-
fica. É assim descrito: “No fundo nada mais é que
a modificação geral do primeiro, os agentes so-
brenaturais são substituídos por forças abstratas
concebidas como capazes de engendrar por elas
próprias todos os fenômenos observados.” Final-
mente, o estado positivo é o terceiro estágio e é
marcado pelo triunfo da ciência. A vida da huma-
nidade passa agora a ser explicada pela Razão,
em contraponto às explicações mitológicas e re-
ligiosas das fases anteriores.
No estado positivo, o espírito humano, re-
conhecendo a impossibilidade de obter
noções absolutas, renuncia a procurar a
origem e o destino do universo, [...] para
preocupar-se unicamente em descobrir
graças ao uso bem combinado do racio-
cínio e da observação, suas leis efetivas
que regem a vida humana. O positivismo
representa, então, o real frente ao quimé-
rico, o útil frente ao inútil, a segurança
frente à insegurança, o preciso frente ao
vago, o relativo frente ao absoluto. (RIBEI-
RO JR., 1987).

O positivismo combate também a socie-
dade individualista e liberal, divulgando que o
homem, como individualidade, não existe; aliás,
para esse pensamento, o homem só pode existir
1.3 Estratificação da Sociedade Positivista
Para o positivismo, a humanidade é forma-
da só de homens. Nessa ordem social, as mulhe-
res estão condenadas à inferioridade, é claro, pe-
las leis irrevogáveis da natureza.
Na sociedade positivista, a classe dos sacer-
dotes é a mais importante. Ela está dividida em
três classes, a saber:
1. os aspirantes: precisam ter, ao menos,
28 anos, pois só com essa idade alcan-
çam a cultura enciclopédica exigida
pelo estado positivista;
2. os vigários: precisam ter, ao menos, 35
anos e exercem a função superior de
ensinar;
3. os sacerdotes: precisam ter idade supe-
rior a 42 anos e são os maiores sacer-
dotes da humanidade, uma espécie de
conselheiro para arbitrar as causas do
estado positivista.
O patriciado é a classe detentora do po-
der temporal. Essa classe é composta pelos seg-
mentos que controlam os meios de produção:
banqueiros, fabricantes, comerciantes, sempre
colocados em escala hierárquica; os banquei-
ros, portanto, nessa sociedade, são investidos de
maior autoridade.
Ao se apresentar como a religião da huma-
nidade, o positivismo defende a existência de
nove sacramentos para os membros de sua socie-
dade; vejamos alguns deles:
ƒƒ apresentação: quando a família apre-
senta o recém-nascido;
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Estudos Históricos
como membro de outros grupos, desde o familiar,
que é núcleo fundador de toda a sociedade, até
outros grupos mais complexos, como, por exem-
plo, o político.
ƒƒ iniciação: quando a criança, com 14
anos, passa da educação materna à ins-
trução sacerdotal;
ƒƒ admissão: aos 21 anos, quando está
pronto para servir à humanidade, retri-
buindo tudo que recebeu dela;
ƒƒ destinação: momento em que recebe
dos sacerdotes o seu ofício;
ƒƒ casamento: sacramento obrigatório, já
que no estado positivista o celibato é
condenado.
Para o positivismo, a humanidade era for-
mada só de homens. A mulher, segundo Comte,
era um ser naturalmente inferior. Por isso, defen-
dia que o homem deveria prover a mulher de to-
das as suas necessidades materiais. Na sociedade
positivista, as mulheres teriam, segundo Comte,
uma função moderadora e a missão primordial de
amar.
No Brasil, o positivismo teve uma importân-
cia decisiva no Império e na instalação da Repúbli-
ca, influenciando a ideologia da nova sociedade.
Sua primeira manifestação em território nacional
ocorre em 1844, na academia, isto é, na Faculda-
de de Medicina da Bahia. Contudo, sua primeira
manifestação social acontece anos mais tarde.
Inicialmente, o positivismo brasileiro é compos-
to por dois grupos: um defendendo, como pro-
posto por Comte, o positivismo como religião da
humanidade; há, por outro lado, um grupo que
despreza o movimento da religião da humanida-
de e defende apenas a metodologia científica de
observação, experimentação e comparação pro-
posta por Comte.
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 Rafael Lopes de Sousa

Esse segundo grupo constituirá a base do

movimento republicano, aglutinado em torno
do jovem oficial Benjamin Constant. O positivis-
mo enfrenta, porém, a resistência de um grupo
de republicanos que, diferentemente dos princí-
pios rígidos pelo positivismo, defende os precei-
tos democráticos do liberalismo constitucional
norte-americano. De qualquer forma, perpetuam
suas marcas na vida e no cotidiano do homem
brasileiro, sendo que a principal dessas marcas
está registrada em nosso símbolo maior. Ou seja,
a nossa bandeira, encimada com o lema Ordem
e Progresso, mostra de maneira inquestionável o
quanto a doutrina positivista influenciou os nos-
sos republicanos.
Atenção
O liberalismo é um conjunto de ideias e doutrinas
que visam a assegurar a liberdade individual no
campo da política, da moral e da religião, dentro
da sociedade. O liberalismo econômico prega a
não intervenção do Estado na economia e seu
principal teórico foi Adam Smith. O liberalismo de-
fende a liberdade política do indivíduo em relação
ao Estado e seu principal teórico foi John Locke.
Finalmente, é preciso insistir que, para o po-
sitivismo, aquilo que não pode ser verificado como
“algo dado” é metafísica estéril. Daí a importância
dada ao documento escrito, sobretudo os docu-
mentos oficiais, como prova histórica de determi-
nado fato. Assim, para os positivistas, apreender
o real seria conhecer os fatos e conhecer os fatos
significaria acesso a documentos que são, na pers-
pectiva positivista, quase sempre institucionais.

1.4 Resumo do Capítulo

Caro(a) aluno(a),

Neste capítulo, tratamos do surgimento do positivismo e de sua importância para as ciências hu-
manas. Verificamos o método e a estrutura de pensamento dessa teoria e sua defesa por uma sociedade
estratificada. A partir do que foi estudado, responda ao que se pede.

1.5 Atividades Propostas

1. Ao defender que o homem não existe como individualidade, o positivismo está se contraponto
à qual corrente de pensamento? Justifique sua resposta.

2. Quem é o patriciado e qual a sua importância na sociedade positivista?

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