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Direito Ambiental

Material de apoio
Política Nacional do
Meio Ambiente

2018
1. A ADMINISTRAÇÃO DO MEIO AMBIENTE E A PNMA

Como o meio ambiente é um bem público de uso comum do povo (para José Afonso da Silva,
é bem de interesse público), sua gestão deverá ser realizada pelo Poder Público de forma vinculada
aos objetivos da PNMA.

O art. 2º da Lei 6.938/81 dá a dimensão do que seja a Política Nacional do Meio Ambiente,
elencando os seus princípios:

Art. 2º. A Política Nacional do Meio Ambiente tem por objetivo a preservação, melhoria
e recuperação da qualidade ambiental propícia à vida, visando assegurar, no País,
condições ao desenvolvimento sócioeconômico, aos interesses da segurança
nacional e à proteção da dignidade da vida humana, atendidos os seguintes princípios:

I - ação governamental na manutenção do equilíbrio ecológico, considerando o meio


ambiente como um patrimônio público a ser necessariamente assegurado e protegido,
tendo em vista o uso coletivo;

II - racionalização do uso do solo, do subsolo, da água e do ar;

III - planejamento e fiscalização do uso dos recursos ambientais;

IV - proteção dos ecossistemas, com a preservação de áreas representativas;


1
V - controle e zoneamento das atividades potencial ou efetivamente poluidoras;

VI - incentivos ao estudo e à pesquisa de tecnologias orientadas para o uso racional e a


proteção dos recursos ambientais;

VII - acompanhamento do estado da qualidade ambiental;

VIII - recuperação de áreas degradadas;

IX - proteção de áreas ameaçadas de degradação;

X - educação ambiental a todos os níveis do ensino, inclusive a educação da comunidade,


objetivando capacitá-la para participação ativa na defesa do meio ambiente.

2. DAS METAS PARA O MEIO AMBIENTE CONSTANTES NA POLÍTICA


NACIONAL DO MEIO AMBIENTE (LEI Nº 6.938/81)

A gestão administrativa do meio ambiente é vinculada e obrigatória. Isso significa que a


Administração não possui juízo de discricionariedade em sua atuação, devendo observar os
parâmetros legais, sob pena de incorrer em omissão ou atuação ilegal.

Referida gestão deve atender às metas do art. 4º da PNMA. São elas:

Nenhuma parte deste material poderá ser reproduzida por qualquer meio ou forma sem a prévia autorização do Vorne Cursos,
sob pena de responsabilização civil e criminal (Lei 9.610/98 e CP).
a) Compatibilizar o desenvolvimento econômico e social com a preservação do meio
ambiente1: essa meta tem implícita em si a compatibilização dos princípios da prevenção e do
desenvolvimento sustentável. O Brasil não adotou a concepção absolutista de resguardo do meio
ambiente, pela qual tudo o que modifique o status quo ambiental deve ser impedido. Afinal,
imprescindível o desenvolvimento socioeconômico do país.

b) Definir áreas prioritárias de proteção: por intermédio dos zoneamentos, tanto urbanos
quanto rurais, assim como pela criação de unidades de conservação.

c) Estabelecer critérios e padrões de qualidade ambiental e normas relativas ao uso normal


e manejo dos recursos ambientais: busca-se, com essa meta, o estabelecimento de critérios
objetivamente aferíveis, para que todos os que se utilizam do meio ambiente saibam os limites de
suas atuações, além de como proceder para que elas sejam mais proveitosas.

d) Possibilitar o estabelecimento de pesquisas tecnológicas voltadas para o uso racional do


meio ambiente;

e) Difundir novas tecnologias de manejo e informações ambientais para formar uma


consciência pública: um dos mecanismos criados para se alcançar essa meta foi a criação, no âmbito
do IBAMA, do CENTRO DE ESTUDOS DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL, através da
2
Portaria 93, de 14 de novembro de 1995, que visa a organização de um forum que permita ao Instituto
colocar à disposição dos Órgãos do Governo e da Sociedade instrumentos adequados à consecução
do desenvolvimento sustentado efetivo e eficaz.

f) Utilizar racionalmente e permitir a disponibilidade permanente do meio ambiente.

1 Atento a tal dispositivo, em novembro de 1995, por iniciativa de Raul Jungmann, à época Presidente do
IBAMA, foram iniciados estudos visando à criação do PROTOCOLO VERDE, que foi oficialmente instituído
por Decreto em 29 de maio de 1996, sendo integrado pelos Ministérios do Meio Ambiente, dos Recursos
Hídricos e da Amazônia Legal, da Fazenda, do Planejamento e Orçamento, além das seguintes Instituições:
Banco Central, Banco do Brasil, Banco do Nordeste, Banco da Amazônia, Caixa Econômica Federal e Banco
Meridional, com a finalidade de incorporar a variável ambiental no processo de gestão e concessão de crédito
oficial e benefícios fiscais às atividades produtivas, atuando nas seguintes linhas: (i) dar subsídios à atuação
institucional para o cumprimento das prescrições constitucionais relativas ao princípio de que a defesa e
preservação do meio ambiente cabem ao poder público e à sociedade civil; (ii) assessorar as ações
governamentais para a priorização de programas e projetos que apresentem maiores garantias de
sustentabilidade sócio-econômico-ambiental e que não contenham componentes que venham a causar danos
ambientais, no futuro; (iii) promover a captação de recursos internos e externos que viabilizem a criação de
linhas de crédito, no sistema financeiro, orientadas especificamente para o desenvolvimento de projetos com
alto teor ambiental a ser atendido; (iv) atender a condicionamentos de doadores para obter isenção de imposto
de renda; e (v) financiar atividades pioneiras no desenvolvimento de estudos, pesquisas e instrumentos ligados
ao desenvolvimento sustentável.
Nenhuma parte deste material poderá ser reproduzida por qualquer meio ou forma sem a prévia autorização do Vorne Cursos,
sob pena de responsabilização civil e criminal (Lei 9.610/98 e CP).
g) Impor, ao poluidor e ao predador, a obrigação de recuperar e/ou indenizar os danos
causados, e ao usuário, de contribuição pela utilização de recursos ambientais com fins econômicos.

3. CONCEITOS ELENCADOS NA PNMA

Art 3º - Para os fins previstos nesta Lei, entende-se por:

I - meio ambiente, o conjunto de condições, leis, influências e interações de ordem física,


química e biológica, que permite, abriga e rege a vida em todas as suas formas;

II - degradação da qualidade ambiental, a alteração adversa das características do meio


ambiente;

III - poluição, a degradação da qualidade ambiental resultante de atividades que direta ou


indiretamente:

a) prejudiquem a saúde, a segurança e o bem-estar da população;

b) criem condições adversas às atividades sociais e econômicas;

c) afetem desfavoravelmente a biota;

d) afetem as condições estéticas ou sanitárias do meio ambiente;


3
e) lancem matérias ou energia em desacordo com os padrões ambientais estabelecidos;

IV - poluidor, a pessoa física ou jurídica, de direito público ou privado, responsável, direta


ou indiretamente, por atividade causadora de degradação ambiental;

V - recursos ambientais: a atmosfera, as águas interiores, superficiais e subterrâneas, os


estuários, o mar territorial, o solo, o subsolo, os elementos da biosfera, a fauna e a flora.

A poluição é uma espécie qualificada da degradação. A poluição agrega ao conceito de


degradação o fato de ser resultante de atividades humanas, notadamente, que prejudiquem saúde,
a segurança e o bem-estar da população; criem condições adversas às atividades sociais e
econômicas; afetem desfavoravelmente a biota; afetem as condições estéticas ou sanitárias do meio
ambiente; lacem matérias ou energia em desacordo com os padrões ambientais estabelecidos.

4. ÓRGÃOS QUE ADMINISTRAM O MEIO AMBIENTE – O SISNAMA

De acordo com o art. 225 da CR/88, compete ao Poder Público, predominantemente,


administrar o meio ambiente, ressalvado o controle subsidiário feito pelo povo.

Por óbvio, o Poder Público deve impor as diretrizes e as atividades empresariais, públicas ou
privadas, devem observá-las:

Nenhuma parte deste material poderá ser reproduzida por qualquer meio ou forma sem a prévia autorização do Vorne Cursos,
sob pena de responsabilização civil e criminal (Lei 9.610/98 e CP).
Art. 5º - As diretrizes da Política Nacional do Meio Ambiente serão formuladas em normas
e planos, destinados a orientar a ação dos Governos da União, dos Estados, do Distrito
Federal, dos Territórios e dos Municípios no que se relaciona com a preservação da
qualidade ambiental e manutenção do equilíbrio ecológico, observados os princípios
estabelecidos no art. 2º desta Lei.

Parágrafo único. As atividades empresariais públicas ou privadas serão exercidas em


consonância com as diretrizes da Política Nacional do Meio Ambiente.

De acordo com a PNMA, o meio ambiente será administrado pelo SISNAMA – Sistema
Nacional de Meio Ambiente, o qual compreende um conjunto de órgãos e entidades federais,
estaduais e municipais atuantes no setor2. Ele é integrado por um órgão superior, um órgão
consultivo e deliberativo, um órgão central, um órgão executor, diversos órgãos setoriais, órgãos
seccionais e órgãos locais. Não tem personalidade jurídica. Suas determinações são implementadas
pelos órgãos e entidades que o integram.

É estruturado da seguinte forma:

a) Conselho de Governo: trata-se do órgão superior do SISNAMA, que tem a função de


prestar assessoria ao Presidente da República na formulação da política nacional e nas diretrizes
governamentais. Composto por Ministros de Estado.
4
b) Conselho Nacional do Meio Ambiente (CONAMA): trata-se de órgão federal com
atribuições CONSULTIVAS (apresentação de estudos e pareceres) e DELIBERATIVAS; é o
“cérebro” da determinação do comportamento ambiental brasileiro. Suas resoluções deliberativas
possuem força de lei para todo o sistema3, condicionando e subordinando as demais normas
ambientais publicadas pelos outros entes. Por terem força de leis federais (por expressa delegação
legislativa), suas resoluções possuem o caráter de norma geral, no que tange à competência
concorrente. Entretanto, suas deliberações somente podem ser secundum legem, nunca podendo
contrariar leis formais, revogá-las ou inovar o ordenamento. Essa “força de lei” deve ser entendida
no sentido de obrigar os participantes do SISNAMA. Isso porque evidentemente não poderia uma lei
(PNMA) conferir caráter legislativo abstrato e geral a um diploma em acréscimo àqueles previstos no
capítulo do processo legislativo da Constituição da República.

2 O antecedente do Sisnama foi a Secretaria Especial do Meio Ambiente – SEMA, que surgiu logo após a
Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente Humano- Estocolmo, 1972. Ante a pressão da
comunidade internacional, o SEMA surgiu com declarado objetivo de orientar uma política de conservação do
meio ambiente e o uso racional dos recursos naturais e foi a resposta brasileira neutralizadora das pressões
do momento.
3 O art. 8º da PNMA que confere força normativa às Resoluções do CONAMA:

VII - estabelecer normas, critérios e padrões relativos ao controle e à manutenção da qualidade do meio
ambiente com vistas ao uso racional dos recursos ambientais, principalmente os hídricos.
Nenhuma parte deste material poderá ser reproduzida por qualquer meio ou forma sem a prévia autorização do Vorne Cursos,
sob pena de responsabilização civil e criminal (Lei 9.610/98 e CP).
FACE SUA FORÇA DE LEI, AS RESOLUÇÕES DO CONAMA ESTÃO SUJEITAS AO
CONTROLE CONCENTRADO DE CONSTITUCIONALIDADE PERANTE O STF, SALVO QUANDO
SEU CONTEÚDO MATERIAL FOR DE EFEITOS CONCRETOS OU QUANDO REGULAREM
LEGISLAÇÃO INFRACONSTITUCIONAL: SOMENTE SERÁ CABÍVEL, NA VERDADE, SE
REGULAR DIRETAMENTE DISPOSITIVO DA CONSTITUIÇÃO 4.

Alguns legalistas são contrários às resoluções do CONAMA, mas o Supremo as vem


aceitando, como foi decidido no caso da ADPF dos pneus usados. Ele manteve as resoluções
do CONAMA que vedam esta importação, exceto de países do MERCOSUL, sem que haja lei
federal exigindo isso, mas, tão somente, uma resolução do CONAMA.

Ele é composto por representantes dos 5 setores: federal, estadual, municipal, empresarial e
sociedade civil, sendo formado por representantes do MMA (02), do IBAMA (01), da ANA (01), dos
Governos Estaduais e do DF (um representante de cada Estado, indicados pelos Governadores), por
oito representantes dos Municípios e por 21 representantes dos trabalhadores e da sociedade civil,
oito representantes do empresariado e um membro honorário (70 membros). Suas principais
competências são (art. 8º, PNMA):

1. Estabelecer, mediante proposta do IBAMA, normas e critérios para o licenciamento de 5


atividades efetiva ou potencialmente poluidoras, a ser concedidos pelos Estados e supervisionado
pelo IBAMA;

2. Determinar a realização de estudos das alternativas e das possíveis consequências


ambientais de projetos públicos ou privados, quando julgar necessário;

3. Estabelecer normas e padrões nacionais de controle da poluição por veículos automotores,


aviões e embarcações;

4. Estabelecer normas, critérios e padrões relativos ao controle e à manutenção da qualidade


do meio ambiente com vistas ao uso racional dos recursos ambientais, principalmente os hídricos;

4 EMENTA: ATOS NORMATIVOS DO IBAMA E DO CONAMA. MUTIRÕES AMBIENTAIS. NORMAS DE


NATUREZA SECUNDÁRIA. VIOLAÇÃO INDIRETA. IMPOSSIBILIDADE DE EXAME EM SEDE DE
CONTROLE CONCENTRADO DE CONSTITUCIONALIDADE. É incabível a ação direta de
inconstitucionalidade quando destinada a examinar atos normativos de natureza secundária que não
regulem diretamente dispositivos constitucionais, mas sim normas legais. Violação indireta que não
autoriza a aferição abstrata de conformação constitucional. Precedentes. Ação direta de inconstitucionalidade
não conhecida.
(ADI 2714, Relator(a): Min. MAURÍCIO CORRÊA, Tribunal Pleno, julgado em 13/03/2003, DJ 27-02-2004 PP-
00020 EMENT VOL-02141-03 PP-00614)
Nenhuma parte deste material poderá ser reproduzida por qualquer meio ou forma sem a prévia autorização do Vorne Cursos,
sob pena de responsabilização civil e criminal (Lei 9.610/98 e CP).
5. Determinar, mediante representação do IBAMA, a perda ou restrição de benefícios
fiscais concedidos pelo Poder Público, em caráter geral ou condicional, e a perda ou
suspensão de participação em linhas de financiamento em estabelecimentos oficiais de
crédito.

Apesar dessa competência legislativa ampla, são os Estados, através de seus órgãos
e entidades ambientais, que efetivamente executam as diretrizes da política ambiental
determinada pelo CONAMA.

c) Ministério do Meio Ambiente – MMA: órgão criado em 1992, após a ECO/92. Possui a
competência de coordenar, supervisionar e controlar a política do meio ambiente em nível nacional,
principalmente em assuntos de interesse da União, com impactos sobre mais de um Estado-membro.

d) Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis – IBAMA:


trata-se de uma autarquia federal em regime especial (signatária de contrato de gestão) vinculada
ao MMA, com a finalidade de coordenar, executar e fazer executar, em nível federal, a política
nacional do meio ambiente, as diretrizes governamentais fixadas ao meio ambiente, a preservação,
conservação, uso racional, fiscalização, controle e fomento dos recursos ambientais; e Instituto
Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade - Instituto Chico Mendes (inserido pela Lei 6
12.856 de 2013), também autarquia federal, responsável pelas unidades de conservação federais.
São órgãos executores do Sistema Nacional do Meio Ambiente, a nível federal.

e) Órgão seccionais: são os órgãos e entidades estaduais responsáveis pelos programas e


controle ambiental em seu território. Exercem a competência material ou administrativa. Poderão
elaborar normas que complementem às da União, face a competência concorrente. Como exemplo
tem-se, em Minas Gerais, a Secretaria Estadual de Meio Ambiente (SEMAD), o Instituto Estadual de
Florestas (IEF), o Instituto de Gestão das Águas (IGAM) e a Fundação Estadual do Meio Ambiente
(FEAM). Referida atribuição está em harmonia com o disposto no art. 8º, da Lei Complementar
140/2011.

f) Órgão locais: compreendem os órgãos municipais, que apenas executam e fiscalizam. A


atuação dos Municípios foi realçada pela Resolução nº 237/97 do CONAMA, ao prever a
possibilidade de licenciamento municipal de atividades de impacto local. Referida atribuição
está em harmonia com o disposto no art. 8º, da Lei Complementar 140/2011.

O IBAMA é órgão executor geral, o Instituto Chico Mendes é órgão executor apenas na
atuação das unidades de conservação, é uma autarquia voltada apenas para a gestão das

Nenhuma parte deste material poderá ser reproduzida por qualquer meio ou forma sem a prévia autorização do Vorne Cursos,
sob pena de responsabilização civil e criminal (Lei 9.610/98 e CP).
unidades de conservação. Todas as outras políticas governamentais de meio ambiente, em
nível federal, são executadas pelo IBAMA.

5. A TAXA DE CONTROLE E FISCALIZAÇÃO AMBIENTAL – TCFA

5.1. PREVISÃO NORMATIVA E CONSTITUCIONALIDADE DA TCFA

Criada pela Lei nº 10.165/00 e inserta na PNMA, tem por fato gerador o serviço de controle
das atividades potencialmente poluidoras e a fiscalização da utilização de recursos naturais,
remunerando o exercício do poder de polícia pelo IBAMA.

Art. 17-B. Fica instituída a Taxa de Controle e Fiscalização Ambiental – TCFA, cujo fato
gerador é o exercício regular do poder de polícia conferido ao Instituto Brasileiro do
Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis – Ibama para controle e
fiscalização das atividades potencialmente poluidoras e utilizadoras de recursos
naturais."

Referido tributo já foi declarada constitucional pelo STF:

EMENTA DIREITO TRIBUTÁRIO. TAXA DE CONTROLE E FISCALIZAÇÃO AMBIENTAL


– TCFA. INSTITUTO BRASILEIRO DO MEIO AMBIENTE E RECURSOS NATURAIS
RENOVÁVEIS – IBAMA. LEI Nº 10.165/2000. CONSONÂNCIA DA DECISÃO RECORRIDA
COM A JURISPRUDÊNCIA CRISTALIZADA NO SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL.
RECURSO EXTRAORDINÁRIO QUE NÃO MERECE TRÂNSITO. ACÓRDÃO
7
RECORRIDO PUBLICADO EM 17.4.2009. O entendimento adotado pela Corte de origem,
nos moldes do que assinalado na decisão agravada, não diverge da jurisprudência
firmada no âmbito deste Supremo Tribunal Federal, no sentido de ser constitucional
a Taxa de Controle e Fiscalização Ambiental – TCFA (RE 416.601/DF, Rel. Min. Carlos
Velloso, Pleno, DJ 30.9.2005). As razões do agravo regimental não se mostram aptas a
infirmar os fundamentos que lastrearam a decisão agravada. Agravo regimental conhecido
e não provido.

(AI 860067 AgR, Relator(a): Min. ROSA WEBER, Primeira Turma, julgado em 10/02/2015,
ACÓRDÃO ELETRÔNICO DJe-042 DIVULG 04-03-2015 PUBLIC 05-03-2015)

5.2. O HISTÓRICO NORMATIVO DA TCFA

Nos termos da Constituição Federal de 1988, taxa é uma modalidade de tributo, cujo fato
gerador está vinculado a uma atividade estatal. Esta atividade, por sua vez, poderá consistir no
exercício do chamado poder de polícia ou na ou na utilização, efetiva ou potencial, de serviço público
específico e divisível, prestado ao contribuinte ou posto à sua disposição.

Partindo dessa previsão constitucional, em janeiro do ano 2000, o legislador federal editou
e promulgou a Lei nº. 9.960, que, dentre outras matérias, modificou algumas disposições da Lei nº.
6.938/81 e instituiu a chamada Taxa de Fiscalização Ambiental – TFA.

Nenhuma parte deste material poderá ser reproduzida por qualquer meio ou forma sem a prévia autorização do Vorne Cursos,
sob pena de responsabilização civil e criminal (Lei 9.610/98 e CP).
De acordo com aquele diploma normativo, o fato gerador dessa taxa era o exercício das
atividades mencionadas no inciso II do art. 17 da Lei 6.938/81, com a redação dada pela Lei no 7.804,
de 18 de julho de 1989, ou seja, in verbis:

“Cadastro Técnico Federal de Atividades Potencialmente Poluidoras ou Utilizadoras de


Recursos Ambientais, para registro obrigatório de pessoas físicas ou jurídicas que se
dedicam a atividades potencialmente poluidoras e/ou à extração, produção, transporte e
comercialização de produtos potencialmente perigosos ao meio ambiente, assim como de
produtos e subprodutos da fauna e flora”

Determinado o fato gerador, restou consignado pela referida lei, que os sujeitos passivos
dessa taxa seriam as pessoas físicas ou jurídicas obrigadas ao registro no Cadastro Técnico Federal
de Atividades Potencialmente Poluidoras ou Utilizadoras de Recursos Ambientais.

Além disso, de acordo com a supracitada lei, a TFA era devida em conformidade com o fato
gerador e o seu valor corresponderia à importância de R$ 3.000,00 (três mil reais), sendo que em
alguns casos eram concedidos certos descontos e até isenções.

Evidentemente, a instituição da TFA causou grande impacto nos setores envolvidos, gerando
grandes discussões sobre a constitucionalidade dessa modalidade tributária.

Após toda essa movimentação, a Confederação Nacional das Indústrias propôs ação direta 8
de inconstitucionalidade, visando afastar de vez a cobrança da referida taxa.

De acordo com a Confederação, a TFA guardava como fato gerador a atividade exercida
pelos contribuintes, e não o serviço prestado ou posto à disposição do contribuinte pelo ente público
no exercício do seu poder de polícia – requisito necessário para a instituição de uma taxa, nos termos
do artigo 145, II da Constituição Federal.

Outro tópico discutido nessa ação foi a indicação genérica do sujeito passivo da indigitada
taxa, sem a correta menção de quais atividades seriam consideradas potencialmente poluidoras ou
utilizadoras de recursos ambientais, aptas a gerar a obrigação do pagamento da TFA.

Por fim, mais uma inconstitucionalidade foi argumentada: ausência de definição de alíquotas
ou critério a ser utilizado para o cálculo do valor devido, desrespeitando, neste caso, o princípio da
isonomia, já que dispensa mesmo tratamento a contribuintes de expressão econômica variada.

O pedido de declaração de inconstitucionalidade veio acompanhado de requerimento


de medida liminar, que foi deferido em 29 de março de 2000, suspendendo, assim, a eficácia
do artigo que introduziu a TFA até a decisão final da ação.

Nenhuma parte deste material poderá ser reproduzida por qualquer meio ou forma sem a prévia autorização do Vorne Cursos,
sob pena de responsabilização civil e criminal (Lei 9.610/98 e CP).
Em face da relevância da instituição de uma exação desse naipe, voltada para o atendimento
de políticas de natureza ambiental, o então relator da referida Ação Direita de Inconstitucionalidade,
o Ministro Ilmar Galvão, sugeriu que nova lei fosse promulgada, suprimindo os correspondentes
vícios.

Assim, em dezembro do ano 2000, veio a lume a Lei nº. 10.165, que instituiu a chamada
Taxa de Controle e Fiscalização Ambiental – TCFA. Nesta (que da mesma forma que a anterior,
alterava o artigo 17 da Lei nº. 6.938/81), o fato gerador passou a ser o “exercício regular do poder de
polícia conferido ao Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis –
IBAMA, para controle e fiscalização das atividades potencialmente poluidoras e utilizadoras de
recursos naturais”.

Com a consequente revogação dos dispositivos da Lei 9.960/00, a ADIn 2.178-8 acabou por
perder seu objeto, sendo julgada prejudicada na forma do artigo 21, IX, do Regimento Interno do
Supremo Tribunal Federal, em 14 de janeiro de 2001.

5.3. PRINCIPAIS CARACTERÍSTICAS E INOVAÇÕES DA LEI Nº. 10.165/00

Como dito anteriormente, a Lei nº. 10.165/00 foi promulgada, com vistas a afastar as
inconstitucionalidades apontadas na Lei nº. 9.960//00. Assim, a Taxa de Fiscalização Ambiental –
9
TFA, adquiriu novas características e passou a ser denominada como Taxa de Controle e
Fiscalização Ambiental – TCFA.

De acordo com o novel diploma legal, o fato gerador da TCFA é o exercício regular do
poder de polícia conferido ao Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais
Renováveis – IBAMA para controle e fiscalização das atividades potencialmente poluidoras e
utilizadoras de recursos naturais.

Percebe-se que o sujeito ativo, nesse caso, é o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos
Recursos Naturais Renováveis – IBAMA. Já os sujeitos passivos serão todos aqueles que exercerem
as atividades constantes do Anexo VIII daquela Lei.

Este anexo VIII traz um rol de atividades potencialmente poluidoras e utilizadoras de recursos
ambientais, são elas: 1 – extração e tratamento de minerais; 2- indústria de produtos minerais não
metálicos, 3 – indústria metalúrgica; 4 – indústria mecânica; 5 – indústria de material elétrico,
eletrônico e comunicações; 6 – indústria de material de transporte; 7 – indústria de madeira; 8 –
indústria de papel e celulose; 9 – indústria de borracha; 10 – indústria de couros e peles; 11 – indústria
têxtil, de vestuário, calçados e artigos feitos de tecidos; 12 – indústria de produtos de matéria plástica;
13 – indústria de fumo; 14 – indústrias diversas; 15 – indústria química; 16 – indústria de produtos
Nenhuma parte deste material poderá ser reproduzida por qualquer meio ou forma sem a prévia autorização do Vorne Cursos,
sob pena de responsabilização civil e criminal (Lei 9.610/98 e CP).
alimentares e bebidas; 17 – serviços de utilidade; 18 – transporte, terminais, depósitos e comércio;
19 – turismo; e 20 –uso de recursos naturais.

Há, ainda, uma obrigação acessória a todos os sujeitos passivos. De acordo com a lei, todos
deverão entregar até o dia 31 de março de cada ano, um relatório das atividades exercidas no
ano anterior, cujo modelo será definido pelo IBAMA, para o fim de colaborar com os procedimentos
de controle e fiscalização.

Caso tal obrigação seja descumprida, há ainda a previsão de aplicação de uma multa
equivalente a vinte por cento da TCFA devida, sem prejuízo da exigência desta taxa.

A data de pagamento do referido tributo será sempre no último dia útil de cada trimestre do
ano civil, nos valores fixados no anexo IX da lei, e o recolhimento deverá ser efetuado em conta
bancária vinculada ao IBAMA, por intermédio de documento próprio de arrecadação, até o quinto dia
útil do mês subsequente.

De acordo com a lei, caso a TCFA não seja recolhida nos prazos e nas condições
estabelecidas, será cobrada com acréscimo de juros de mora de 1% ao mês, multa de mora de 20%
e encargo de 20% calculado sobre o total do débito inscrito em Dívida Ativa.
10
Há previsão de isenção do pagamento da TCFA às entidades públicas federais,
distritais, estaduais e municipais, às entidades filantrópicas, àqueles que praticam agricultura
de subsistência e às populações tradicionais.

Vale lembrar que, caso o estabelecimento exerça mais de uma atividade sujeita à fiscalização,
pagará a taxa relativamente a apenas uma delas, pelo valor mais elevado.

Por fim, tendo em vista que muitos estabelecimentos já haviam pago a chamada Taxa
de Fiscalização Ambiental – TFA, restou prevista a possibilidade de compensação com o valor
devido a título de TCFA, até o limite de sessenta por cento e relativamente ao mesmo ano.
Contudo, valores recolhidos ao Estado, ao Município e ao Distrital Federal a qualquer outro título,
tais como taxas ou preços públicos de licenciamento e venda de produtos, não constituem crédito
para compensação com a TCFA.

Sobre o tema, relevante o seguinte julgado do TRF3:

TRIBUTÁRIO - TAXA DE CONTROLE E FISCALIZAÇÃO AMBIENTAL - TCFA - LEI N.º


10.165/00 - PODER DE POLÍCIA - APELAÇÃO NÃO PROVIDA A Lei n.º 10.165/2000, que
criou a Taxa de Controle e Fiscalização Ambiental, alterando a redação da Lei n.º 6.938/81,
foi editada para substituir a Lei n.º 9.960/00, que trazia a Taxa de Fiscalização Ambiental,
cuja eficácia foi suspensa, cautelarmente, em um primeiro momento, na ADIN n.º 2.178-8,
por sua inconstitucionalidade. O fato gerador da TCFA é o serviço prestado de exercício

Nenhuma parte deste material poderá ser reproduzida por qualquer meio ou forma sem a prévia autorização do Vorne Cursos,
sob pena de responsabilização civil e criminal (Lei 9.610/98 e CP).
de poder de polícia, representado nas metas, competências e instrumentos da
Política Nacional de Meio Ambiente, abarcando muito mais atividades do que apenas
a fiscalização in locu dos estabelecimentos submetidos à tributação. A cobrança da
taxa pelo exercício do poder de polícia não se confunde com a taxa decorrente da prestação
de serviço público e guarda perfeita sintonia com as regras dos artigos 77 e 78 do CTN. O
artigo 23, CF, é norma de competência comum, o que afasta a alegação de competência
exclusiva de órgão estadual - ou municipal - no exercício do poder de polícia em relação a
atividades potencialmente poluidoras do meio ambiente. TANTO OS ESTADOS COMO OS
MUNICÍPIOS PODERÃO, NOS LIMITES DE SUAS COMPETÊNCIAS, EXERCER O
PODER DE POLÍCIA INERENTE AO MEIO AMBIENTE, EXIGINDO PARA TANTO O
PAGAMENTO DE EXAÇÃO, QUE NÃO SE CONFUNDE COM A EXIGÊNCIA DA TCFA
NO ÂMBITO FEDERAL. NÃO OCORRE BITRIBUTAÇÃO. Não se admite que a TCFA
utilize base de cálculo de imposto, porquanto a taxa não é instituída considerando-
se somente o capital da empresa, mas também incide o tributo em função do porte
da pessoa jurídica e sua atividade-fim. Não há infringência aos artigos 154, I, e 145, §
2º, da Constituição Federal, bem como ao artigo 77 do CTN. O cálculo do valor da
TCFA não apresenta qualquer ofensa ao princípio da isonomia tributária. Tendo a
natureza jurídica de taxa, a TCFA não exige, para a respectiva instituição, o requisito
constitutivo formal de lei complementar, bastando a lei ordinária, editada pelo ente político
incumbido de executar o poder de polícia a que se refere a cobrança, que no caso é o
IBAMA, de competência legislativa da União Federal. Apelação não provida.

(TRF3, AC 200861000047879, DESEMBARGADOR FEDERAL NERY JUNIOR,


TERCEIRA TURMA, DJF3 CJ1 DATA:09/03/2010 PÁGINA: 255.)

Além disso, entende o STJ que, à míngua de previsão legal, a TFCA não pode ser
recolhida na sistemática do SIMPLES: 11
PROCESSUAL CIVIL E TRIBUTÁRIO. AÇÃO ANULATÓRIA. TAXA DE CONTROLE E
FISCALIZAÇÃO AMBIENTAL - TCFA. NATUREZA JURÍDICA DA EXAÇÃO
QUESTIONADA DEFINIDA PELO STF, POR OCASIÃO DO JULGAMENTO DO RE
416.601/DF. INCLUSÃO DA TAXA REFERIDA NA SISTEMÁTICA DE ARRECADAÇÃO
SIMPLIFICADA (SIMPLES). DESCABIMENTO. AUSÊNCIA DE PREVISÃO NAS LEIS
9.317/96 E LC 123/2006.

1. Discute-se no recurso especial a possibilidade de inclusão da Taxa de Controle e


Fiscalização Ambiental -TCFA, instituída pela Lei 6.938/81, alterada pela Lei
10.165/2000, destinada ao IBAMA no Sistema Integrado de Recolhimento de Tributos
- SIMPLES.

2. O STF, no que diz respeito à natureza jurídica da Taxa de Controle e Fiscalização


Ambiental - TCFA, instituída pela Lei 10.165/2000, que alterou a Lei 6.938/1981, por ocasião
do julgamento do RE 416.601/DF, decidiu que a hipótese de incidência da taxa em destaque
decorre da fiscalização de atividades poluidoras e utilizadoras de recursos ambientais, ou
seja, remunera o exercício do poder de polícia do Estado exercido pelo IBAMA.

3. A forma simplificada de tributação (SIMPLES) engloba o recolhimento exclusivo de


tributos e contribuições expressamente elencados na Lei 9.317/96 e LC 123/2006.
(grifo nosso). Não se revela possível abranger no sistema de arrecadação
diferenciado, por ausência de previsão legal, a Taxa de Controle e Fiscalização
Ambiental -TCFA, cuja finalidade específica decorre do poder fiscalizador do IBAMA,
em face da previsão contida no art. 145, II, da Constituição Federal de 1988, conforme
já decidiu o STF no julgamento do RE 416.601/DF.

4. Recurso especial provido.

Nenhuma parte deste material poderá ser reproduzida por qualquer meio ou forma sem a prévia autorização do Vorne Cursos,
sob pena de responsabilização civil e criminal (Lei 9.610/98 e CP).
(REsp 1242940/PR, Rel. Ministro BENEDITO GONÇALVES, PRIMEIRA TURMA, julgado
em 23/10/2012, DJe 26/10/2012)

6. INCENTIVOS GOVERNAMENTAIS

Art. 12 - As entidades e órgãos de financiamento e incentivos governamentais


condicionarão a aprovação de projetos habilitados a esses benefícios ao licenciamento, na
forma desta Lei, e ao cumprimento das normas, dos critérios e dos padrões expedidos pelo
CONAMA.

Parágrafo único - As entidades e órgãos referidos no " caput " deste artigo deverão fazer
constar dos projetos a realização de obras e aquisição de equipamentos destinados ao
controle de degradação ambiental e à melhoria da qualidade do meio ambiente.

Art. 13. O Poder Executivo incentivará as atividades voltadas ao meio ambiente, visando:

I - ao desenvolvimento, no País, de pesquisas e processos tecnológicos destinados a


reduzir a degradação da qualidade ambiental;

II - à fabricação de equipamentos antipoluidores;

III - a outras iniciativas que propiciem a racionalização do uso de recursos ambientais.

Parágrafo único. Os órgãos, entidades e programas do Poder Público, destinados ao


incentivo das pesquisas científicas e tecnológicas, considerarão, entre as suas metas
prioritárias, o apoio aos projetos que visem a adquirir e desenvolver conhecimentos básicos 12
e aplicáveis na área ambiental e ecológica.

A disposição do art. 12 trata da incorporação pela PNMA de instrumento econômico para


induzir comportamentos ambientalmente adequados, imputando ao financiador a
responsabilidade por exigir que os empreendimentos financiados sejam conformes as regras
de preservação ambiental. Compara-se aos “Princípios do Equador”, documento internacional que
define critérios socioambientais mínimos para a concessão de crédito. O art. 13, por outro lado, visa
impulsionar atividades técnicas que favoreçam à preservação do meio ambiente.

7. PRINCÍPIOS DO EQUADOR

O QUE SÃO

São critérios mínimos para a concessão de crédito, que asseguram que os projetos
financiados sejam desenvolvidos de forma socialmente e ambientalmente responsável.

ORIGEM

Os Princípios do Equador tiveram a sua gênese em outubro de 2002, quando o International


Finance Corporation (IFC), braço financeiro do Banco Mundial, e um banco holandês (ABN Amro)

Nenhuma parte deste material poderá ser reproduzida por qualquer meio ou forma sem a prévia autorização do Vorne Cursos,
sob pena de responsabilização civil e criminal (Lei 9.610/98 e CP).
promoveram, em Londres, um encontro de altos executivos para discutir experiências com
investimentos em projetos, envolvendo questões sociais e ambientais em mercados emergentes, nos
quais nem sempre existe legislação rígida de proteção do ambiente.

Em 2003, dez dos maiores bancos no financiamento internacional de projetos (ABN Amro,
Barclays, Citigroup, Crédit Lyonnais, Crédit Suisse, HypoVereinsbank (HVB), Rabobank, Royal Bank
of Scotland, WestLB e Westpac), responsáveis por mais de 30% do total de investimentos em todo
o mundo, lançaram as regras dos Princípios do Equador na sua política de concessão de crédito.

OBJETIVO

O objetivo é garantir a sustentabilidade, o equilíbrio ambiental, o impacto social e a


prevenção de acidentes de percurso que possam causar embaraços no transcorrer dos
empreendimentos, reduzindo também o risco de inadimplência.

CONTEÚDO

Na prática, as empresas interessadas em obter recursos no mercado financeiro internacional


deverão incorporar, em suas estruturas de avaliação de Project Finance, quesitos como:

 Gestão de risco ambiental, proteção à biodiversidade e adoção de mecanismos de


13
prevenção e controle de poluição;

 Proteção à saúde, à diversidade cultural e étnica e adoção de Sistemas de Segurança e


Saúde Ocupacional;

 Avaliação de impactos socioeconômicos, incluindo as comunidades e povos indígenas,


proteção a habitats naturais com exigência de alguma forma de compensação para populações
afetadas por um projeto;

 Eficiência na produção, distribuição e consumo de recursos hídricos e energia e uso de


energias renováveis;

 Respeito aos direitos humanos e combate à mão-de-obra infantil.

PASSO-A-PASSO

A aplicação destes princípios é baseada no estabelecimento de um rating socioambiental,


elaborado pelas instituições financeiras, sendo os projetos categorizados em A (alto risco), B (médio
risco) ou C (baixo risco).

Nenhuma parte deste material poderá ser reproduzida por qualquer meio ou forma sem a prévia autorização do Vorne Cursos,
sob pena de responsabilização civil e criminal (Lei 9.610/98 e CP).
Em síntese, somente se concederá empréstimo a projeto que possua Plano de Gestão
Ambiental, devendo estar focado na mitigação, planos de ação, monitoramento e gerenciamento de
riscos e planejamento, levando-se em conta a seguinte classificação:

Categoria A - com possibilidade de apresentar significativos impactos ambientais adversos


que forem sensíveis, diferentes ou sem precedentes. Como sensível, entenda-se aquele que
apresenta possibilidade de ser irreversível, como, por exemplo, levar à perda de um importante
habitat natural ou afetar grupos ou minorias étnicas vulneráveis, envolver deslocamento ou
recolonização involuntária, ou afetar locais de herança cultural significativa.

Categoria B - com potencial de causar impactos ambientais adversos em populações


humanas ou áreas ambientalmente importantes, porém menos adversos que aqueles dos projetos
classificados sob a Categoria A.

Categoria C - com possibilidade de apresentar mínimo ou nenhum impacto ambiental


adverso.

A base da classificação é um conjunto de regras chamadas salvaguardas, criado pelo


International Finance Corporation (IFC) entre 1990 e 1998, e sua aplicação é de responsabilidade
dos bancos que devem investir na qualificação dos analistas de crédito para atender a essas
14
exigências.

Nos projetos classificados como A ou B, os bancos se comprometem a fazer um relatório


socioambiental sugerindo mudanças no projeto para reduzir os riscos à comunidade onde será
implantado, no qual pode estar incluída a alternativa de não concluir o projeto. Para todos os projetos
de categoria A deverá ser elaborado um Plano de Gestão Ambiental e, caso o Banco considere
aconselhável, para qualquer projeto de categoria B.

Caso o tomador deixe de cumprir uma das cláusulas sociais e ambientais, o financiador
trabalhará junto a ele, na busca de soluções para que tal cláusula seja cumprida.

Os Princípios do Equador estão agora em processo de revisão das salvaguardas.

 Em um primeiro momento, o objetivo principal das salvaguardas era fazer com que os
projetos financiados não causassem prejuízos ao meio ambiente e fossem socialmente
responsáveis.

 Em um segundo momento, o IFC procurou garantir que os projetos tivessem um impacto


socioambiental positivo. A intenção é melhorar os mecanismos de proteção ao desenvolver regras

Nenhuma parte deste material poderá ser reproduzida por qualquer meio ou forma sem a prévia autorização do Vorne Cursos,
sob pena de responsabilização civil e criminal (Lei 9.610/98 e CP).
mais claras e fáceis de serem seguidas, mas não necessariamente mais fáceis de serem cumpridas,
pois serão mais restritivas.

Efetivamente a nova versão dos Princípios do Equador prevê critérios mais rigorosos,
principalmente na análise da população atingida pelo projeto financiado, além da redução do valor
de enquadramento do projeto, que passa de US$ 50 milhões para US$ 10 milhões.

É importante salientar que a adoção desses princípios é voluntária, sem qualquer


dependência ou apoio do IFC ou Banco Mundial. Assim, as instituições, que vierem a adotar tais
princípios, deverão tomá-los como base para o desenvolvimento de práticas e políticas internas e
individuais.

RESULTADO

A efetiva implementação dos novos Princípios do Equador e a incorporação de mecanismos


de prestação de contas e de transparência de informações são grande desafio a ser perseguido pelas
instituições financeiras signatárias.

O Brasil conta com a adesão de seus principais bancos de capital nacional. Das
entidades atuantes no país, seguem a lógica dos princípios do equador: Bradesco, Banco do 15
Brasil, Itaú/Itaú BBA/Unibanco, Caixa Econômica Federal e Santander.

Fonte: http://www.institutoatkwhh.org.br/compendio/?q=node/41

8. INSTRUMENTOS DE GESTÃO DO MEIO AMBIENTE

Os Agentes do Poder Público, diante do agravamento da degradação ambiental, se veem


impelidos a enfrentar os problemas ambientais, demonstrando interesse e disposição para resolvê-
los, o que se concretiza pelo exercício do poder de polícia administrativa. “O poder de polícia
administrativa, como é sabido, é a faculdade inerente à Administração Pública de limitar o exercício
dos direitos individuais para assegurar o bem-estar da coletividade”.

A tutela administrativa de proteção ao meio ambiente se utiliza de instrumentos preventivos


e repressivos, conforme tabela abaixo.

INSTRUMENTOS PREVENTIVOS INSTRUMENTOS REPRESSIVOS


Limitações administrativas Multas
Desapropriação Interdições
Estudos de Impacto Ambiental Advertências
Tombamento Perda ou Restrição de Benefícios Fiscais

Nenhuma parte deste material poderá ser reproduzida por qualquer meio ou forma sem a prévia autorização do Vorne Cursos,
sob pena de responsabilização civil e criminal (Lei 9.610/98 e CP).
Inquérito Civil Apreensão de Bens
Zoneamento Ambiental Fechamento de Estabelecimentos
Criação de Unidades de Conservação Outros

Especificamente na PNMA, temos arrolados os seguintes instrumentos:

Art 9º - São instrumentos da Política Nacional do Meio Ambiente:

I - o estabelecimento de padrões de qualidade ambiental: significa definir os parâmetros


socialmente toleráveis para a utilização dos bens naturais. Qual o limite aceitável de impacto
ambiental para determinadas atividades? A definição configurará o padrão de qualidade
ambiental, através de análises técnicas e científicas. Frederico Amado preceitua que os
estados, o DF e os municípios também poderão fixar padrões de qualidade ambiental,
comumente, mais restritivos. Defende que, normalmente, inexiste qualquer conflito quando
as normas estaduais, distritais e municipais são mais restritivas que as federais, ou seja,
instituem regras mais protetivas ao meio ambiente, desde que a lei federal disponha
expressamente acerca dessa possibilidade.

II - o zoneamento ambiental; estudado em tópico específico.

III - a avaliação de impactos ambientais: trata-se do instrumento de política ambiental


formado por um conjunto de procedimentos capazes de assegurar, desde o início do
processo, que se faça um exame sistemático dos impactos ambientais de uma ação
proposta e de suas alternativas, e que os resultados sejam apresentados de forma
adequada ao público e aos responsáveis pela tomada de decisão, e por eles considerados. 16
A AIA É GÊNERO do qual são espécies o EIA, o plano de manejo, o relatório
ambiental, o plano e projeto de controle ambiental, o plano de recuperação de área
degradada, o relatório preliminar ambiental, o diagnóstico ambiental e a análise
preliminar de risco.

IV - o licenciamento e a revisão de atividades efetiva ou potencialmente poluidoras:


estudado em tópico específico.

V - os incentivos à produção e instalação de equipamentos e a criação ou absorção


de tecnologia, voltados para a melhoria da qualidade ambiental: Tal previsão tem
encontrado grande eco, atualmente, por força dos processos de certificação da ISO 9.000
e ISO 11.000.

VI - a criação de espaços territoriais especialmente protegidos pelo Poder Público


federal, estadual e municipal, tais como áreas de proteção ambiental, de relevante
interesse ecológico e reservas extrativistas; estudado em tópico específico.

VII - o sistema nacional de informações sobre o meio ambiente: SINIMA, já totalmente


formalizado e fazendo parte da estrutura do IBAMA, no âmbito do CNIA - Centro Nacional
de Informação Ambiental. Destaque-se que a LC 140/2011, art. 7º, VIII, preceitua que
compete à União, com auxílio dos demais entes federados, organizar e manter o
Sistema Nacional de Informação sobre o Meio Ambiente – SINIMA. Ademais, a mesma
lei prever a criação do Sistema Municipal de Informações sobre o Meio Ambiente. Além
disso, o novo Código Florestal instituiu o Cadastro Ambiental Rural – CAR, obrigatórios
para todos os imóveis rurais, para registros de posse e propriedades rurais.

Nenhuma parte deste material poderá ser reproduzida por qualquer meio ou forma sem a prévia autorização do Vorne Cursos,
sob pena de responsabilização civil e criminal (Lei 9.610/98 e CP).
VIII - o Cadastro Técnico Federal de Atividades e Instrumentos de Defesa Ambiental:
nos termos da Resolução CONAMA 01/88, este Cadastro tem como objetivo proceder ao
registro, com caráter obrigatório, de pessoas físicas ou jurídicas que se dedicam à
consultoria técnica sobre problemas ecológicos e ambientais e à indústria e comércio de
equipamentos, aparelhos e instrumentos destinados ao controle de atividades efetiva ou
potencialmente poluidoras. É administrado pelo IBAMA, nos termos do artigo 17, I da Lei
No. 6.938/81. Existe ainda o CADASTRO NACIONAL DE ENTIDADES AMBIENTALISTAS
- CNEA, criado pela Resolução CONAMA 06/89.

IX - as penalidades disciplinares ou compensatórias ao não cumprimento das


medidas necessárias à preservação ou correção da degradação ambiental: matéria
também erigida a sítio Constitucional, nos termos do artigo 225, § 3º da Constituição
Federal, tendo sido regulamentada pela Lei No. 9.605/1998 e pelo Decreto No. 3.179/1999.
No entanto, sabe-se que a coleção de leis e outros atos normativos dispondo sobre as
sanções administrativas, cíveis ou criminais é extensa. O que precisa é ser eficazmente
implementada, através do fortalecimento institucional dos órgãos responsáveis pela
execução da política ambiental.

X - a instituição do Relatório de Qualidade do Meio Ambiente, a ser divulgado


anualmente pelo Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e Recursos Naturais
Renováveis – IBAMA; pode-se dizer que este item não tem sido cumprido
sistematicamente por parte do IBAMA, mas vale ressaltar a importância e o relevo do
Relatório lançado pelo mesmo, denominado GEO BRASIL 2002 - Perspectivas do meio
ambiente no Brasil. Há, ainda, como relevante, o Relatório emitido em 2013.

XI - a garantia da prestação de informações relativas ao Meio Ambiente, obrigando-


se o Poder Público a produzí-las, quando inexistentes; além da edição da Lei No.
10.650/2003, acima mencionada, vale destacar os serviços postos à disposição do cidadão, 17
através da LINHA VERDE, uma Central de Atendimentos integrante da OUVIDORIA do
IBAMA que, além de receber denúncias, presta informações ou encaminha as solicitações
às unidades internas que possam prestá-las. Funciona através do telefone no. 0800-61-80-
80. Demais disto, nos licenciamentos de projetos de significativos impactos ambientais é
assegurada a realização de Audiências Públicas, nos termos das Resoluções CONAMA
01/86, 09/87 e 237/1997. A lei 10.650/2003, no § 1º, do art. 2º, estabelece que não há
necessidade de comprovação de interesse específico para acesso aos processos
administrativos de natureza ambiental. Nesse aspecto, referida norma, por ser
específica, afasta a aplicação do disposto na Lei 9.051/1991, que dispõe de modo diverso.

XII - o Cadastro Técnico Federal de atividades potencialmente poluidoras e/ou


utilizadoras dos recursos ambientais.

XIII - instrumentos econômicos, como concessão florestal, servidão ambiental,


seguro ambiental e outros.

8.1. ZONEAMENTO AMBIENTAL OU ZONEAMENTO ECOLÓGICO-ECONÔMICO

8.1.1. CONCEITO

Previsto no art. 9º, II, da PNMA.

De acordo com o artigo 2º do Decreto 4.297/02 (Regulamenta o art. 9o, inciso II, da Lei no
6.938, de 31 de agosto de 1981, estabelecendo critérios para o Zoneamento Ecológico-Econômico
do Brasil – ZEE), se trata de um “instrumento de ORGANIZAÇÃO DO TERRITÓRIO a ser

Nenhuma parte deste material poderá ser reproduzida por qualquer meio ou forma sem a prévia autorização do Vorne Cursos,
sob pena de responsabilização civil e criminal (Lei 9.610/98 e CP).
obrigatoriamente seguido na implantação de planos, obras e atividades públicas e privadas,
estabelecendo medidas e padrões de proteção ambiental destinados a assegurar a qualidade
ambiental, dos recursos hídricos e do solo e a conservação da biodiversidade, garantindo o
desenvolvimento sustentável e a melhoria das condições de vida da população”. Ainda, de acordo
com o artigo 3º do regulamento, o zoneamento tem por objetivo geral organizar, de forma vinculada,
as decisões dos agentes públicos e privados quanto a planos, programas, projetos e atividades que,
direta ou indiretamente, utilizem recursos naturais, assegurando a plena manutenção do capital e
dos serviços ambientais dos ecossistemas.

Trata-se de instrumento por intermédio do qual o meio ambiente natural “solo” é planejado,
em caráter abstrato (sem atingir um particular específico), para implementação de uma gestão que
resguarde o binômio meio ambiente/desenvolvimento sustentável5. Assim, delimita-se
geograficamente o solo de acordo com a destinação que o Poder Público, motivadamente, lhe
pretenda conferir, estabelecendo regimes especiais geograficamente delimitados de uso,
gozo e fruição da propriedade.

O zoneamento ambiental é uma das manifestações do poder de polícia administrativa, que


atua com a finalidade de garantir a salubridade, a paz e o bem-estar do povo.
18
Zoneamento é uma forte intervenção estatal, no domínio econômico, organizando a relação
espaço-produção, alocando recursos, interditando áreas, destinando outras para estas e não para
aquelas atividades, incentivando e reprimindo condutas. Traduz a impossibilidade de se permitir
que as forças produtivas ocupem um determinado território sem que haja planejamento prévio
e coordenação, ainda que mínimos. O zoneamento, por si só, não é a solução para os grandes
problemas ambientais, mas já é um grande passo.

Como um dos instrumentos da Política Nacional do Meio Ambiente, o zoneamento ambiental


caracteriza-se como um “procedimento por meio do qual se instituem zonas de atuação com vistas
à preservação, melhoria e recuperação da qualidade ambiental”.

O zoneamento ambiental amplia o conceito de zoneamento urbano, na medida em que


não se limita ao ambiente da cidade, mas envolve um duplo sentido: a ordenação do solo e a
preservação do meio ambiente voltado ao interesse do bem-estar e da realização da qualidade de
vida da população.

5Guarda fortes semelhanças com as limitações administrativas, apesar das finalidades divergirem. Estas visam
efetivamente a impor limites ao exercício de direitos. O zoneamento visa a gerir geograficamente o território,
ainda que, para atingir tal fim, limite direitos.
Nenhuma parte deste material poderá ser reproduzida por qualquer meio ou forma sem a prévia autorização do Vorne Cursos,
sob pena de responsabilização civil e criminal (Lei 9.610/98 e CP).
Percebe-se, assim, que o zoneamento constitui técnica de planejamento adotado pela
Administração Pública, com vistas ao estabelecimento da melhor convivência social possível. Falar
em zoneamento ambiental, então, traz a ideia de regulação de espaços onde serão desenvolvidas
as mais diversas atividades pelos indivíduos, com o fim de harmonizar o desempenho dessas
atividades com a preservação ambiental.

Diversas são as formas como o Poder Público institui os diversos zoneamentos. Tendo em
vista a competência comum em matéria ambiental, inúmeros são os diplomas normativos que
veiculam matéria de zoneamento. Tanto pode ser estabelecido em um Plano Diretor de um
Município como em uma legislação nacional, como a Lei nº 9.985/00, que estabelece uma
espécie de espaços territoriais especialmente protegidos, as unidades de conservação.

Entre os diplomas legais editados pela União com finalidade de estabelecimento de


zoneamento ambiental, podemos destacar a Lei n. 6.803 (zoneamento industrial), Lei nº 4504
(Estatuto da Terra, que estabelece zoneamento agrícola) e a Lei nº 7661 (Plano Nacional de
Gerenciamento Costeiro).

Tendo em vista que o zoneamento guarda estreita relação com os princípios da função
socioambiental da propriedade, da prevenção, da precaução, do poluidor pagador, do usuário 19
pagador, da participação informada, do acesso equitativo e da integração, pode-se afirmar que tal
instrumento é de fundamental importância para o Direito Ambiental. O exemplo mais elucidativo desta
relevância está no zoneamento ambiental industrial que classifica quatro espécies de zonas visando
o disciplinamento de atividades industriais em locais críticos de poluição. As quatro divisões são
as zonas de uso estritamente industrial, zonas de uso predominantemente industrial, zonas
de uso diversificado e zonas de reserva ambiental. Há de se apontar que o intuito do
disciplinamento desta matéria é a necessidade de controle da poluição causada pelas
indústrias e de mantê-las afastadas de centros populacionais habitacionais, além de preservar
recursos naturais da direta exposição aos resíduos emanados dessas atividades.

8.1.2. ZONEAMENTO E DIREITO DE PROPRIEDADE

O zoneamento interfere diretamente no direito de propriedade, de forma legítima, já que se


trata de manifestação do Poder de Polícia e visa a concretizar a função social da propriedade. Há
precedente do STJ no sentido de que não cabe indenização pela restrição, pura e simples,
imposta pelo zoneamento, salvo se for superveniente e diminuir totalmente a utilidade econômica
da propriedade.

DIREITO ADMINISTRATIVO. LICENÇA PARA CONSTRUÇÃO PREJUDICADA POR


ZONEAMENTO SUPERVENIENTE. PROJETADA DESAPROPRIAÇÃO DO IMOVEL QUE

Nenhuma parte deste material poderá ser reproduzida por qualquer meio ou forma sem a prévia autorização do Vorne Cursos,
sob pena de responsabilização civil e criminal (Lei 9.610/98 e CP).
IMPEDE SUA UTILIZAÇÃO. DIREITO A INDENIZAÇÃO. O PROPRIETARIO QUE OBTEM
LICENÇA PARA CONSTRUÇÃO, DEMOLE A EDIFICAÇÃO QUE EXISTIA NO IMOVEL,
FAZ SONDAGENS NO TERRENO E PREPARA O INICIO DA OBRA COM A
COLOCAÇÃO DE TAPUMES, TEM DIREITO A INDENIZAÇÃO, SE TUDO ISSO FICA
PREJUDICADO POR ZONEAMENTO SUPERVENIENTE QUE LHE IMPEDE DE
CONSTRUIR EM CARATER PERMANENTE E SO LHE PERMITE FAZE-LO EM
CARATER PROVISORIO, COM RESTRIÇÕES, UMA DELAS A DE QUE NÃO SERA
INDENIZADO PELAS RESPECTIVAS DESPESAS QUANDO SOBREVIER A
DESAPROPRIAÇÃO PREVISTA; ANULAÇÃO DA PROPRIEDADE, CARACTERIZANDO
DESDE LOGO A DESAPROPRIAÇÃO INDIRETA. RECURSO ESPECIAL CONHECIDO E
PROVIDO EM PARTE.

(REsp 43.806/MG, Rel. Ministro ARI PARGENDLER, SEGUNDA TURMA, julgado em


14/08/1997, DJ 13/10/1997, p. 51553)

8.1.3. COMPETÊNCIA PARA REALIZAR O ZONEAMENTO

Trata-se de competência comum a todos os entes, devendo ser observado o princípio da


predominância do interesse.

A competência para a realização do zoneamento será do Poder Público federal, em caso de


zoneamento nacional ou regional, quando tiver por objeto biomas brasileiros ou territórios abrangidos
por planos e projetos prioritários estabelecidos pelo Governo Federal (art. 6º do Decreto 1.297/02),
nos demais casos observar-se-á se o interesse é puramente regional ou local, hipótese em que, com 20
base na competência constitucional comum, a função caberá ao estado ou ao município.

É importante destacar que a Lei Complementar 140/2011 estabelece ser da União a


competência para promover o zoneamento ambiental de âmbito nacional e regional (art. 7º, XI),
cabendo aos estados a promoção do zoneamento em âmbito estadual, respeitado o zoneamento
nacional e regional. Porém, inexiste previsão específica para os municípios, havendo apenas
previsão de elaboração do Plano Diretor, observados os zoneamentos ambientais,
entendendo a doutrina que em tal competência estaria embutida a do zoneamento.

8.1.4. ZONEAMENTO MUNICIPAL

Não há determinação expressa na CR para que os Municípios realizem o zoneamento


ambiental. Entretanto, ao determinar que os Municípios com mais de 20 mil habitantes elaborem
Plano Diretor, no art. 182, § 1º, a Constituição determinou que este instrumento ordene a cidade
visando ao pleno desenvolvimento de suas funções sociais e ao bem-estar de seus habitantes.

Assim, diagnosticar a vocação ecológica das diferentes áreas do Município está


implicitamente determinado na Carta.

Nenhuma parte deste material poderá ser reproduzida por qualquer meio ou forma sem a prévia autorização do Vorne Cursos,
sob pena de responsabilização civil e criminal (Lei 9.610/98 e CP).
O que acontece se uma determinada região onde havia indústrias instaladas,
devidamente autorizadas pelo Poder Público, passar a ser considerada como de preservação
ambiental ou área residencial?

Para Paulo de Bessa Antunes, somente poderá o Poder Público obstar as atividades dessas
indústrias se efetivar a desapropriação, já que o ato jurídico perfeito não pode ser atacado, nem se
ferir o direito adquirido que elas tinham de ali permanecer.

Entretanto, se elas foram irregularmente instaladas após o zoneamento, não caberá


indenização pela retirada da atividade do local; evidentemente que isso não quer dizer que o dono
do terreno perderá a sua propriedade. Apenas não poderá continuar ali operando aquela atividade.

As regras de higiene, de poluição etc., podem perfeitamente ser alteradas pelo Poder Público,
com incidência imediata sobre quem já estava instalado. HÁ DE SE AFERIR QUAL O TIPO DE
ALTERAÇÃO LEGAL FOI PROMOVIDO, SE REGRAS DE CONDUTA E FUNCIONAMENTO OU
SE REGRAS FULMINANTES DO PRÓPRIO EXERCÍCIO DA ATIVIDADE ANTES INSTALADA. AS
REGRAS DE CONDUTA PODEM PERFEITAMENTE SER EXIGIDAS SEM QUE SURJA DIREITO
À INDENIZAÇÃO. Já as regras acerca do exercício da atividade podem acabar por fulminar o direito
de propriedade, implicando em verdadeira desapropriação indireta. 21
8.1.5. ZONEAMENTO INDUSTRIAL – LEI Nº 6.803/80

Essa lei dispõe sobre as diretrizes básicas para o zoneamento industrial nas áreas críticas
de poluição.

Art . 1º Nas áreas críticas de poluição a que se refere o art. 4º do Decreto-lei nº 1.413, de
14 de agosto de 1975, as zonas destinadas à instalação de indústrias serão definidas em
esquema de zoneamento urbano, aprovado por lei, que compatibilize as atividades
industriais com a proteção ambiental.

§ 1º As zonas de que trata este artigo serão classificadas nas seguintes categorias:

a) zonas de uso estritamente industrial;

b) zonas de uso predominantemente industrial;

c) zonas de uso diversificado.

§ 2º As categorias de zonas referidas no parágrafo anterior poderão ser divididas em


subcategorias, observadas as peculiaridades das áreas críticas a que pertençam e a
natureza das indústrias nelas instaladas.

§ 3º As indústrias ou grupos de indústrias já existentes, que não resultarem


confinadas nas zonas industriais definidas de acordo com esta Lei, SERÃO

Nenhuma parte deste material poderá ser reproduzida por qualquer meio ou forma sem a prévia autorização do Vorne Cursos,
sob pena de responsabilização civil e criminal (Lei 9.610/98 e CP).
SUBMETIDAS À INSTALAÇÃO DE EQUIPAMENTOS ESPECIAIS DE CONTROLE E,
NOS CASOS MAIS GRAVES, À RELOCALIZAÇÃO.

Art. 2º As zonas de uso estritamente industrial destinam-se, preferencialmente, à


localização de estabelecimentos industriais cujos resíduos sólidos, líquidos e gasosos,
ruídos, vibrações, emanações e radiações possam causar perigo à saúde, ao bem-estar e
à segurança das populações, mesmo depois da aplicação de métodos adequados de
controle e tratamento de efluentes, nos termos da legislação vigente.

§ 1º As zonas a que se refere este artigo deverão:

I - situar-se em áreas que apresentem elevadas capacidade de assimilação de efluentes e


proteção ambiental, respeitadas quaisquer restrições legais ao uso do solo;

II - localizar-se em áreas que favoreçam a instalação de infra-estrutura e serviços básicos


necessários ao seu funcionamento e segurança;

III - manter, em seu contorno, anéis verdes de isolamento capazes de proteger as zonas
circunvizinhas contra possíveis efeitos residuais e acidentes;

§ 2º É vedado, nas zonas de uso estritamente industrial, o estabelecimento de quaisquer


atividades não essenciais às suas funções básicas, ou capazes de sofrer efeitos danosos
em decorrência dessas funções.

Art . 3º As zonas de uso predominantemente industrial destinam-se, preferencialmente,


à instalação de indústrias cujos processos, submetidos a métodos adequados de controle
e tratamento de efluentes, não causem incômodos sensíveis às demais atividades urbanas 22
e nem perturbem o repouso noturno das populações.

Parágrafo único. As zonas a que se refere este artigo deverão:

I - localizar-se em áreas cujas condições favoreçam a instalação adequada de infra-


estrutura de serviços básicos necessária a seu funcionamento e segurança;

II - dispor, em seu interior, de áreas de proteção ambiental que minimizem os efeitos da


poluição, em relação a outros usos.

Art . 4º As zonas de uso diversificado destinam-se à localização de estabelecimentos


industriais, cujo processo produtivo seja complementar das atividades do meio urbano ou
rural que se situem, e com elas se compatibilizem, independentemente do uso de métodos
especiais de controle da poluição, não ocasionando, em qualquer caso, inconvenientes à
saúde, ao bem-estar e à segurança das populações vizinhas.

Art . 5º As zonas de uso industrial, independentemente de sua categoria, serão classificadas


em:

I - não saturadas;

II - em vias de saturação;

III - saturadas;

Nenhuma parte deste material poderá ser reproduzida por qualquer meio ou forma sem a prévia autorização do Vorne Cursos,
sob pena de responsabilização civil e criminal (Lei 9.610/98 e CP).
Art . 6º O grau de saturação será aferido e fixado em função da área disponível para uso
industrial da infra-estrutura, bem como dos padrões e normas ambientais fixadas pela
Secretaria Especial do Meio Ambiente - SEMA e pelo Estado e Município, no limite das
respectivas competências.

§ 1º Os programas de controle da poluição e o licenciamento para a instalação, operação


ou aplicação de indústrias, em áreas críticas de poluição, serão objeto de normas
diferenciadas, segundo o nível de saturação, para cada categoria de zona industrial.

§ 2º Os critérios baseados em padrões ambientais, nos termos do disposto neste artigo,


serão estabelecidos tendo em vista as zonas não saturadas, tornando-se mais restritivos,
gradativamente, para as zonas em via de saturação e saturadas.

§ 3º Os critérios baseados em área disponível e infra-estrutura existente, para aferição de


grau de saturação, nos termos do disposto neste artigo, em zonas de uso
predominantemente industrial e de uso diversificado, serão fixados pelo Governo do Estado,
sem prejuízo da legislação municipal aplicável.

Art . 7º Ressalvada a competência da União e observado o disposto nesta Lei, o Governo


do Estado, ouvidos os Municípios interessados, aprovará padrões de uso e ocupação do
solo, bem como de zonas de reserva ambiental, nas quais, por suas características
culturais, ecológicas, paisagísticas, ou pela necessidade de preservação de mananciais e
proteção de áreas especiais, ficará vedada a localização de estabelecimentos industriais.

Art. 8º A implantação de indústrias que, por suas características, devam ter instalações
próximas às fontes de matérias-primas situadas fora dos limites fixados para as zonas de
uso industrial obedecerá a critérios a serem estabelecidos pelos Governos Estaduais, 23
observadas as normas contidas nesta Lei e demais dispositivos legais pertinentes.

Art. 9º O licenciamento para implantação, operação e ampliação de estabelecimentos


industriais, nas áreas críticas de poluição, dependerá da observância do disposto nesta Lei,
bem como do atendimento das normas e padrões ambientais definidos pela SEMA, pelos
organismos estaduais e municipais competentes, notadamente quanto às seguintes
características dos processos de produção:

I - emissão de gases, vapores, ruídos, vibrações e radiações;

II - riscos de explosão, incêndios, vazamentos danosos e outras situações de emergência;

III - volume e qualidade de insumos básicos, de pessoal e de tráfego gerados;

IV - padrões de uso e ocupação do solo;

V - disponibilidade nas redes de energia elétrica, água, esgoto, comunicações e outros;

VI - horários de atividade.

Parágrafo único. O licenciamento previsto no caput deste artigo é da competência dos


órgãos estaduais de controle da poluição e não exclui a exigência de licenças para outros
fins.

Art . 10. Caberá aos Governos Estaduais, observado o disposto nesta Lei e em outras
normas legais em vigor:

Nenhuma parte deste material poderá ser reproduzida por qualquer meio ou forma sem a prévia autorização do Vorne Cursos,
sob pena de responsabilização civil e criminal (Lei 9.610/98 e CP).
I - aprovar a delimitação, a classificação e a implantação de zonas de uso estritamente
industrial e predominantemente industrial;

II - definir, com base nesta Lei e nas normas baixadas pela SEMA, os tipos de
estabelecimentos industriais que poderão ser implantados em cada uma das categorias de
zonas industriais a que se refere o § 1º do art. 1º desta Lei;

III - instalar e manter, nas zonas a que se refere o item anterior, serviços permanentes de
segurança e prevenção de acidentes danosos ao meio ambiente;

IV - fiscalizar, nas zonas de uso estritamente industrial e predominantemente industrial, o


cumprimento dos padrões e normas de proteção ambiental;

V - administrar as zonas industriais de sua responsabilidade direta ou quando esta


responsabilidade decorrer de convênios com a União.

§ 1º Nas Regiões Metropolitanas, as atribuições dos Governos Estaduais previstas neste


artigo serão exercidas através dos respectivos Conselhos Deliberativos.

§ 2º Caberá exclusivamente à União, ouvidos os Governos Estadual e Municipal


interessados, aprovar a delimitação e autorizar a implantação de zonas de uso
estritamente industrial que se destinem à localização de pólos petroquímicos,
cloroquímicos, carboquímicos, bem como a instalações nucleares e outras definidas
em lei.

§ 3º Além dos estudos normalmente exigíveis para o estabelecimento de zoneamento


urbano, a aprovação das zonas a que se refere o parágrafo anterior, será precedida de 24
estudos especiais de alternativas e de avaliações de impacto, que permitam estabelecer a
confiabilidade da solução a ser adotada.

§ 4º Em casos excepcionais, em que se caracterize o interesse público, o Poder Estadual,


mediante a exigência de condições convenientes de controle, e ouvidos a SEMA, o
Conselho Deliberativo da Região Metropolitana e, quando for o caso, o Município, poderá
autorizar a instalação de unidades industriais fora das zonas de que trata o § 1º do artigo
1º desta Lei.

Art . 11. Observado o disposto na Lei Complementar nº 14, de 8 de junho de 1973, sobre a
competência dos Órgãos Metropolitanos, compete aos Municípios:

I - instituir esquema de zoneamento urbano, sem prejuízo do disposto nesta Lei;

II - baixar, observados os limites da sua competência, normas locais de combate à poluição


e controle ambiental.

Art . 12. OS ÓRGÃOS E ENTIDADES GESTORES DE INCENTIVOS GOVERNAMENTAIS


E OS BANCOS OFICIAIS CONDICIONARÃO A CONCESSÃO DE INCENTIVOS E
FINANCIAMENTOS ÀS INDÚSTRIAS, inclusive para participação societária, à
apresentação da licença de que trata esta Lei.

Parágrafo único. Os projetos destinados à relocalização de indústrias e à redução da


poluição ambiental, em especial aqueles em zonas saturadas, terão condições especiais de
financiamento, a serem definidos pelos órgãos competentes.

8.1.6. ZONEAMENTO AGRÍCOLA – LEI Nº 4.504/64


Nenhuma parte deste material poderá ser reproduzida por qualquer meio ou forma sem a prévia autorização do Vorne Cursos,
sob pena de responsabilização civil e criminal (Lei 9.610/98 e CP).
Art. 43. O Instituto Brasileiro de Reforma Agrária promoverá a realização de estudos
para o zoneamento do país em regiões homogêneas do ponto de vista sócio-
econômico e das características da estrutura agrária, visando a definir:

I - as regiões críticas que estão exigindo reforma agrária com progressiva eliminação
dos minifúndios e dos latifúndios;

II - as regiões em estágio mais avançado de desenvolvimento social e econômico, em


que não ocorram tenções nas estruturas demográficas e agrárias;

III - as regiões já economicamente ocupadas em que predomine economia de


subsistência e cujos lavradores e pecuaristas careçam de assistência adequada;

IV - as regiões ainda em fase de ocupação econômica, carentes de programa de


desbravamento, povoamento e colonização de áreas pioneiras.

§ 1° Para a elaboração do zoneamento e caracterização das áreas prioritárias, serão


levados em conta, essencialmente, os seguintes elementos:

a) a posição geográfica das áreas, em relação aos centros econômicos de várias ordens,
existentes no país;

b) o grau de intensidade de ocorrência de áreas em imóveis rurais acima de mil hectares e


abaixo de cinqüenta hectares;

c) o número médio de hectares por pessoa ocupada; 25


d) as populações rurais, seu incremento anual e a densidade específica da população
agrícola;

e) a relação entre o número de proprietários e o número de rendeiros, parceiros e


assalariados em cada área.

§ 2º A declaração de áreas prioritárias será feita por decreto do Presidente da República,


mencionando:

a) a criação da Delegacia Regional do Instituto Brasileiro de Reforma Agrária com a exata


delimitação de sua área de jurisdição;

b) a duração do período de intervenção governamental na área;

c) os objetivos a alcançar, principalmente o número de unidades familiares e cooperativas


a serem criadas;

d) outras medidas destinadas a atender a peculiaridades regionais.

Art. 44. São objetivos dos zoneamentos definidos no artigo anterior:

I - estabelecer as diretrizes da política agrária a ser adotada em cada tipo de região;

II - programar a ação dos órgãos governamentais, para desenvolvimento do setor rural, nas
regiões delimitadas como de maior significação econômica e social.

Nenhuma parte deste material poderá ser reproduzida por qualquer meio ou forma sem a prévia autorização do Vorne Cursos,
sob pena de responsabilização civil e criminal (Lei 9.610/98 e CP).
Art. 45. A fim de completar os trabalhos de zoneamento serão elaborados pelo Instituto
Brasileiro de Reforma Agrária levantamentos e análises para:

I - orientar as disponibilidades agropecuárias nas áreas sob o controle do Instituto Brasileiro


de Reforma Agrária quanto à melhor destinação econômica das terras, adoção de práticas
adequadas segundo as condições ecológicas, capacidade potencial de uso e mercados
interno e externo;

II - recuperar, diretamente, mediante projetos especiais, as áreas degradadas em virtude


de uso predatório e ausência de medidas de proteção dos recursos naturais renováveis e
que se situem em regiões de elevado valor econômico.

Art. 46. O Instituto Brasileiro de Reforma Agrária promoverá levantamentos, com utilização,
nos casos indicados, dos meios previstos no Capítulo II do Título I, para a elaboração do
cadastro dos imóveis rurais em todo o país, mencionando:

I - dados para caracterização dos imóveis rurais com indicação:

a) do proprietário e de sua família;

b) dos títulos de domínio, da natureza da posse e da forma de administração;

c) da localização geográfica;

d) da área com descrição das linhas de divisas e nome dos respectivos confrontantes;
26
e) das dimensões das testadas para vias públicas;

f) do valor das terras, das benfeitorias, dos equipamentos e das instalações existentes
discriminadamente;

II - natureza e condições das vias de acesso e respectivas distâncias dos centros


demográficos mais próximos com população:

a) até 5.000 habitantes;

b) de mais de 5.000 a 10.000 habitantes;

c) de mais de 10.000 a 20.000 habitantes;

d) de mais de 20.000 a 50.000 habitantes;

e) de mais de 50.000 a 100.000 habitantes;

f) de mais de 100.000 habitantes;

III - condições da exploração e do uso da terra, indicando:

a) as percentagens da superfície total em cerrados, matas, pastagens, glebas de cultivo


(especificadamente em exploração e inexplorados) e em áreas inaproveitáveis;

b) os tipos de cultivo e de criação, as formas de proteção e comercialização dos produtos;

Nenhuma parte deste material poderá ser reproduzida por qualquer meio ou forma sem a prévia autorização do Vorne Cursos,
sob pena de responsabilização civil e criminal (Lei 9.610/98 e CP).
c) os sistemas de contrato de trabalho, com discriminação de arrendatários, parceiros e
trabalhadores rurais;

d) as práticas conservacionistas empregadas e o grau de mecanização;

e) os volumes e os índices médios relativos à produção obtida;

f) as condições para o beneficiamento dos produtos agropecuários.

§ 1° Nas áreas prioritárias de reforma agrária serão complementadas as fichas cadastrais


elaboradas para atender às finalidades fiscais, com dados relativos ao relevo, às pendentes,
à drenagem, aos solos e a outras características ecológicas que permitam avaliar a
capacidade do uso atual e potencial, e fixar uma classificação das terras para os fins de
realização de estudos micro-econômicos, visando, essencialmente, à determinação por
amostragem para cada zona e forma de exploração:

a) das áreas mínimas ou módulos de propriedade rural determinados de acordo com


elementos enumerados neste parágrafo e, mais a força de trabalho do conjunto familiar
médio, o nível tecnológico predominante e a renda familiar a ser obtida;

b) dos limites máximos permitidos de áreas dos imóveis rurais, os quais não excederão a
seiscentas vezes o módulo médio da propriedade rural nem a seiscentas vezes a área
média dos imóveis rurais, na respectiva zona;

c) das dimensões ótimas do imóvel rural do ponto de vista do rendimento econômico;

d) do valor das terras em função das características do imóvel rural, da classificação da


27
capacidade potencial de uso e da vocação agrícola das terras;

e) dos limites mínimos de produtividade agrícola para confronto com os mesmos índices
obtidos em cada imóvel nas áreas prioritárias de reforma agrária.

§ 2º Os cadastros serão organizados de acordo com normas e fichas aprovadas pelo


Instituto Brasileiro de Reforma Agrária na forma indicada no regulamento, e poderão ser
executados centralizadamente pelos órgãos de valorização regional, pelos Estados ou
pelos Municípios, caso em que o Instituto Brasileiro de Reforma Agrária lhes prestará
assistência técnica e financeira com o objetivo de acelerar sua realização em áreas
prioritárias de Reforma Agrária.

§ 3º Os cadastros terão em vista a possibilidade de garantir a classificação, a identificação


e o grupamento dos vários imóveis rurais que pertençam a um único proprietário, ainda que
situados em municípios distintos, sendo fornecido ao proprietário o certificado de cadastro
na forma indicada na regulamentação desta Lei.

§ 4º Os cadastros serão continuamente atualizados para inclusão das novas propriedades


que forem sendo constituídas e, no mínimo, de cinco em cinco anos serão feitas revisões
gerais para atualização das fichas já levantadas.

§ 5º Poderão os proprietários requerer a atualização de suas fichas, dentro de um ano da


data das modificações substanciais relativas aos respectivos imóveis rurais, desde que
comprovadas as alterações, a critério do Instituto Brasileiro de Reforma Agrária.

§ 6º No caso de imóvel rural em comum por força de herança, as partes ideais, para os fins
desta Lei, serão consideradas como se divisão houvesse, devendo ser cadastrada a área

Nenhuma parte deste material poderá ser reproduzida por qualquer meio ou forma sem a prévia autorização do Vorne Cursos,
sob pena de responsabilização civil e criminal (Lei 9.610/98 e CP).
que, na partilha, tocaria a cada herdeiro e admitidos os demais dados médios verificados
na área total do imóvel rural.

§ 7º O cadastro inscreverá o valor de cada imóvel de acordo com os elementos enumerados


neste artigo, com base na declaração do proprietário relativa ao valor da terra nua, quando
não impugnado pelo Instituto Brasileiro de Reforma Agrária, ou o valor que resultar da
avaliação cadastral.

8.1.7. ZONEAMENTO COSTEIRO – LEI Nº 7.661/88

Art. 1º. Como parte integrante da Política Nacional para os Recursos do Mar - PNRM e
Política Nacional do Meio Ambiente - PNMA, fica instituído o Plano Nacional de
Gerenciamento Costeiro - PNGC.

Art. 2º. Subordinando-se aos princípios e tendo em vista os objetivos genéricos da PNMA,
fixados respectivamente nos arts. 2º e 4º da Lei nº 6.938, de 31 de agosto de 1981, o PNGC
visará especificamente a orientar a utilização nacional dos recursos na Zona Costeira, de
forma a contribuir para elevar a qualidade da vida de sua população, e a proteção do seu
patrimônio natural, histórico, étnico e cultural.

Parágrafo único. Para os efeitos desta lei, considera-se Zona Costeira o espaço
geográfico de interação do ar, do mar e da terra, incluindo seus recursos renováveis
ou não, abrangendo uma faixa marítima e outra terrestre, que serão definida pelo
Plano.

Art. 3º. O PNGC deverá prever o zoneamento de usos e atividades na Zona Costeira e
dar prioridade à conservação e proteção, entre outros, dos seguintes bens: 28
I - recursos naturais, renováveis e não renováveis; recifes, parcéis e bancos de algas;
ilhas costeiras e oceânicas; sistemas fluviais, estuarinos e lagunares, baías e
enseadas; praias; promontórios, costões e grutas marinhas; restingas e dunas;
florestas litorâneas, manguezais e pradarias submersas;

II - sítios ecológicos de relevância cultural e demais unidades naturais de preservação


permanente;

III - monumentos que integrem o patrimônio natural, histórico, paleontológico,


espeleológico, arqueológico, étnico, cultural e paisagístico.

Art. 4º. O PNGC será elaborado e, quando necessário, atualizado por um Grupo de
Coordenação, dirigido pela Secretaria da Comissão Interministerial para os Recursos do
Mar - SECIRM, cuja composição e forma de atuação serão definidas em decreto do Poder
Executivo.

§ 1º O Plano será submetido pelo Grupo de Coordenação à Comissão Interministerial para


os Recursos do Mar - CIRM, à qual caberá aprová-lo, com audiência do Conselho Nacional
do Meio Ambiente - CONAMA.

§ 2º O Plano será aplicado com a participação da União, dos Estados, dos Territórios e dos
Municípios, através de órgãos e entidades integradas ao Sistema Nacional do Meio
Ambiente - SISNAMA.

Art. 5º. O PNGC será elaborado e executado observando normas, critérios e padrões
relativos ao controle e à manutenção da qualidade do meio ambiente, estabelecidos pelo

Nenhuma parte deste material poderá ser reproduzida por qualquer meio ou forma sem a prévia autorização do Vorne Cursos,
sob pena de responsabilização civil e criminal (Lei 9.610/98 e CP).
CONAMA, que contemplem, entre outros, os seguintes aspectos: urbanização; ocupação e
uso do solo, do subsolo e das águas; parcelamento e remembramento do solo; sistema
viário e de transporte; sistema de produção, transmissão e distribuição de energia;
habitação e saneamento básico; turismo, recreação e lazer; patrimônio natural, histórico,
étnico, cultural e paisagístico.

§ 1º Os Estados e Municípios poderão instituir, através de lei, os respectivos Planos


Estaduais ou Municipais de Gerenciamento Costeiro, observadas as normas e diretrizes do
Plano Nacional e o disposto nesta lei, e designar os órgãos competentes para a execução
desses Planos.

§ 2º Normas e diretrizes sobre o uso do solo, do subsolo e das águas, bem como limitações
à utilização de imóveis, poderão ser estabelecidas nos Planos de Gerenciamento Costeiro,
Nacional, Estadual e Municipal, prevalecendo sempre as disposições de natureza mais
restritiva.

Art. 6º. O licenciamento para parcelamento e remembramento do solo, construção,


instalação, funcionamento e ampliação de atividades, com alterações das características
naturais da Zona Costeira, deverá observar, além do disposto nesta Lei, as demais normas
específicas federais, estaduais e municipais, respeitando as diretrizes dos Planos de
Gerenciamento Costeiro.

§ 1º. A falta ou o descumprimento, mesmo parcial, das condições do licenciamento previsto


neste artigo serão sancionados com interdição, embargo ou demolição, sem prejuízo da
cominação de outras penalidades previstas em lei.

§ 2º Para o licenciamento, o órgão competente solicitará ao responsável pela atividade a 29


elaboração do estudo de impacto ambiental e a apresentação do respectivo Relatório de
Impacto Ambiental - RIMA, devidamente aprovado, na forma da lei.

Art. 7º. A degradação dos ecossistemas, do patrimônio e dos recursos naturais da Zona
Costeira implicará ao agente a obrigação de reparar o dano causado e a sujeição às
penalidades previstas no art. 14 da Lei nº 6.938, de 31 de agosto de 1981, elevado o limite
máximo da multa ao valor correspondente a 100.000(cem mil) Obrigações do Tesouro
Nacional - OTN, sem prejuízo de outras sanções previstas em lei.

Parágrafo único. As sentenças condenatórias e os acordos judiciais (vetado), que


dispuserem sobre a reparação dos danos ao meio ambiente pertinentes a esta lei, deverão
ser comunicados pelo órgão do Ministério Público ao CONAMA.

Art. 8º. Os dados e as informações resultantes do monitoramento exercido sob


responsabilidade municipal, estadual ou federal na Zona Costeira comporão o Subsistema
"Gerenciamento Costeiro", integrante do Sistema Nacional de Informações sobre o Meio
Ambiente - SINIMA.

Parágrafo único. Os órgãos setoriais e locais do SISNAMA, bem como universidades e


demais instituições culturais, científicas e tecnológicas encaminharão ao Subsistema os
dados relativos ao patrimônio natural, histórico, étnico e cultural, à qualidade do meio
ambiente e a estudos de impacto ambiente, da Zona Costeira.

Art. 9º. Para evitar a degradação ou o uso indevido dos ecossistemas, do patrimônio e dos
recursos naturais da Zona Costeira, o PNGC poderá prever a criação de unidades de
conservação permanente, na forma da legislação em vigor.

Nenhuma parte deste material poderá ser reproduzida por qualquer meio ou forma sem a prévia autorização do Vorne Cursos,
sob pena de responsabilização civil e criminal (Lei 9.610/98 e CP).
Art. 10. As praias são bens públicos de uso comum do povo, sendo assegurado, sempre,
livre e franco acesso a elas e ao mar, em qualquer direção e sentido, ressalvados os trechos
considerados de interesse de segurança nacional ou incluídos em áreas protegidas por
legislação específica.

§ 1º. Não será permitida a urbanização ou qualquer forma de utilização do solo na Zona
Costeira que impeça ou dificulte o acesso assegurado no caput deste artigo.

§ 2º. A regulamentação desta lei determinará as características e as modalidades de acesso


que garantam o uso público das praias e do mar.

§ 3º. Entende-se por praia a área coberta e descoberta periodicamente pelas águas,
acrescida da faixa subseqüente de material detrítico, tal como areias, cascalhos, seixos e
pedregulhos, até o limite onde se inicie a vegetação natural, ou, em sua ausência, onde
comece um outro ecossistema.

8.1.8. CLASSIFICAÇÃO

a) Zoneamento ambiental urbano: implementado por meio do Plano Diretor, obrigatório nos
Municípios com mais de vinte mil habitantes. Visa a equacionar o território para determinada
destinação de caráter urbano, tendo por base a discriminação necessária entre as diversas
atividades humanas reclamando cada uma um espaço particular, com a necessária promoção do
ambiente ecológico.
30
b) Zoneamento ambiental rural ecológico-econômico: visa a racionalizar a ocupação dos
espaços rurais e direcionar as atividades do agronegócio, para que elas respeitem ao meio ambiente.

8.2. SERVIDÃO AMBIENTAL

A servidão ambiental é dos instrumentos da política nacional do meio ambiente e consiste


na renúncia voluntária do proprietário rural ao direito de uso, exploração ou supressão dos
recursos naturais existentes em sua propriedade. É uma espécie de servidão administrativa
com regras especiais. A servidão é direito real sobre coisa alheia. Nela, o “prédio dominante”
é o interesse público ambiental. Ela é regulamentada pelo art. 9ª-A da Lei 6.983/81, alterado
pelo Novo Código Florestal, acrescentando ainda os artigos 9º-B e C.

Art. 9º-A. O proprietário ou possuidor de imóvel, pessoa natural ou jurídica, pode, por
instrumento público ou particular ou por termo administrativo firmado perante órgão
integrante do Sisnama, limitar o uso de toda a sua propriedade ou de parte dela para
preservar, conservar ou recuperar os recursos ambientais existentes, instituindo servidão
ambiental.

§ 1º O instrumento ou termo de instituição da servidão ambiental deve incluir, no mínimo,


os seguintes itens:

I - memorial descritivo da área da servidão ambiental, contendo pelo menos um ponto de


amarração georreferenciado;

Nenhuma parte deste material poderá ser reproduzida por qualquer meio ou forma sem a prévia autorização do Vorne Cursos,
sob pena de responsabilização civil e criminal (Lei 9.610/98 e CP).
II - objeto da servidão ambiental;

III - direitos e deveres do proprietário ou possuidor instituidor;

IV - prazo durante o qual a área permanecerá como servidão ambiental.

§ 2º A servidão ambiental não se aplica às Áreas de Preservação Permanente e à


Reserva Legal mínima exigida.

§ 3º A restrição ao uso ou à exploração da vegetação da área sob servidão ambiental deve


ser, no mínimo, a mesma estabelecida para a Reserva Legal.

§ 4º Devem ser objeto de averbação na matrícula do imóvel no registro de imóveis


competente:

I - o instrumento ou termo de instituição da servidão ambiental;

II - o contrato de alienação, cessão ou transferência da servidão ambiental.

§ 5º Na hipótese de compensação de Reserva Legal, a servidão ambiental deve ser


averbada na matrícula de todos os imóveis envolvidos.

§ 6º É vedada, durante o prazo de vigência da servidão ambiental, a alteração da


destinação da área, nos casos de transmissão do imóvel a qualquer título, de
desmembramento ou de retificação dos limites do imóvel.
31
§ 7º As áreas que tenham sido instituídas na forma de servidão florestal, nos termos do art.
44-A da Lei no 1.771, de 15 de setembro de 1965, passam a ser consideradas, pelo efeito
desta Lei, como de servidão ambiental.

Art. 9º-B. A servidão ambiental poderá ser onerosa ou gratuita, temporária ou perpétua.

§ 1º O prazo mínimo da servidão ambiental temporária é de 15 (quinze) anos.

§ 2º A servidão ambiental perpétua equivale, para fins creditícios, tributários e de


acesso aos recursos de fundos públicos, à Reserva Particular do Patrimônio Natural
- RPPN, definida no art. 21 da Lei no 9.985, de 18 de julho de 2000.

§ 3º O detentor da servidão ambiental poderá aliená-la, cedê-la ou transferi-la, total


ou parcialmente, por prazo determinado ou em caráter definitivo, em favor de outro
proprietário ou de entidade pública ou privada que tenha a conservação ambiental
como fim social.

Art. 9º-C. O contrato de alienação, cessão ou transferência da servidão ambiental deve ser
averbado na matrícula do imóvel.

§ 1o O contrato referido no caput deve conter, no mínimo, os seguintes itens:

I - a delimitação da área submetida a preservação, conservação ou recuperação ambiental;

II - o objeto da servidão ambiental;

Nenhuma parte deste material poderá ser reproduzida por qualquer meio ou forma sem a prévia autorização do Vorne Cursos,
sob pena de responsabilização civil e criminal (Lei 9.610/98 e CP).
III - os direitos e deveres do proprietário instituidor e dos futuros adquirentes ou sucessores;

IV - os direitos e deveres do detentor da servidão ambiental;

V - os benefícios de ordem econômica do instituidor e do detentor da servidão ambiental;

VI - a previsão legal para garantir o seu cumprimento, inclusive medidas judiciais


necessárias, em caso de ser descumprido.

§ 2º São deveres do proprietário do imóvel serviente, entre outras obrigações estipuladas


no contrato:

I - manter a área sob servidão ambiental;

II - prestar contas ao detentor da servidão ambiental sobre as condições dos recursos


naturais ou artificiais;

III - permitir a inspeção e a fiscalização da área pelo detentor da servidão ambiental;

IV - defender a posse da área serviente, por todos os meios em direito admitidos.

§ 3º São deveres do detentor da servidão ambiental, entre outras obrigações estipuladas


no contrato:

I - documentar as características ambientais da propriedade;


32
II - monitorar periodicamente a propriedade para verificar se a servidão ambiental está
sendo mantida;

III - prestar informações necessárias a quaisquer interessados na aquisição ou aos


sucessores da propriedade;

IV - manter relatórios e arquivos atualizados com as atividades da área objeto da servidão;

V - defender judicialmente a servidão ambiental.

8.3. UNIDADES DE CONSERVAÇÃO – UC (LEI Nº 9.985/00 E DECRETO Nº 1.340/02)

Unidades de Conservação são também chamadas de espaços especialmente protegidos.


Trata-se dos espaços territoriais e seus recursos ambientais, incluindo as águas jurisdicionais, com
características naturais relevantes, oficialmente instituídos pelo Poder Público, com objetivos de
conservação e limites definidos, sob regime especial de administração, ao qual se aplicam garantias
adequadas de proteção.

Portanto, para a configuração jurídico-ecológica da uma unidade de conservação deve


haver:

a) Relevância natural;

Nenhuma parte deste material poderá ser reproduzida por qualquer meio ou forma sem a prévia autorização do Vorne Cursos,
sob pena de responsabilização civil e criminal (Lei 9.610/98 e CP).
b) Caráter oficial (instituído por lei ou por decreto);

c) Delimitação territorial;

d) Objetivo conservacionista;

e) Regime especial de proteção e administração.

Regulamentando os espaços especialmente protegidos, a Lei nº 9.985/00, com fulcro no art.


225, § 1º, I, II, III e VII da CR instituiu o Sistema Nacional de Unidades de Conservação da Natureza
e revogou expressamente os arts. 5º e 6º do Código Florestal, bem como o art. 18 da Lei nº 6.938/81.

A Lei nº 9.985, de 18 de julho de 2000, deu tratamento unitário a todas as Unidades de


Conservação ao instituir o Sistema Nacional de Unidades de Conservação da Natureza, cujo conceito
de Unidade de Conservação encontra-se previsto no artigo 2º, I, da referida lei, que a define como
espaço territorial e seus recursos ambientais, incluindo as águas jurisdicionais, com
características naturais relevantes, legalmente instituídas pelo Poder Público, com objetivos
de conservação e limites definidos, sob regime especial de administração, ao qual se aplicam
garantias adequadas de proteção. Têm como objetivo “a conservação dos atributos ecológicos do
espaço territorial devidamente delimitado e seus recursos ambientais”. 33
A regulamentação dessa lei se encontra no Decreto nº 4.340, de 22 de agosto de 2002.

No Brasil, a primeira unidade de conservação instituída oficialmente foi o Parque Nacional de


Itatiaia, em 1937, por Getúlio Vargas.

8.4. ESTUDO DE IMPACTO AMBIENTAL (EIA) E RELATÓRIO DE IMPACTO AMBIENTAL


(RIMA)

Os estudos de impacto ambiental foram previstos na Convenção das Nações Unidas para o
Meio Ambiente – Declaração do Rio de Janeiro /92, no princípio 17:

A avaliação de impacto ambiental, como instrumento nacional, deve ser empreendida para
as atividades planejadas que possam vir a ter impacto negativo considerável sobre o meio
ambiente, e que dependam de uma decisão de autoridade nacional competente.

Estudos ambientais são todos e quaisquer estudos relativos aos aspectos ambientais
relacionados à localização, instalação, operação e ampliação de uma atividade ou empreendimento,
apresentado como subsídio para a análise da licença requerida.

Nenhuma parte deste material poderá ser reproduzida por qualquer meio ou forma sem a prévia autorização do Vorne Cursos,
sob pena de responsabilização civil e criminal (Lei 9.610/98 e CP).
Impacto ambiental é qualquer alteração das propriedades físicas, químicas e/ou biológicas
do meio ambiente, causada por qualquer forma de matéria ou energia humana que, direta ou
indiretamente, afetem:

a) A saúde, segurança e bem-estar da população;

b) As atividades sociais e econômicas;

c) A biota;

d) As condições estéticas e sanitárias do meio ambiente;

e) A qualidade dos recursos ambientais.

8.4.1. CONCEITO DE EIA/RIMA – FUNDAMENTOS CONSTITUCIONAIS E HISTÓRICOS

Trata-se de instrumentos formais que precedem a licença ambiental, dela fazendo parte,
sendo de inteira responsabilidade do interessado no empreendimento a sua elaboração,
assim como os custos, sempre que pretender realizar alguma das atividades para cujo exercício a
lei os exija.
34
No caso brasileiro existe, como regra, a obrigatoriedade do prévio estudo de impacto
ambiental para a implantação de projetos potencial ou efetivamente poluidores. Tal exigência
encontra-se prevista no art. 225, § 1º da CRFB. Todavia, a experiência jurídica nacional demonstra
que a norma constitucional tem suscitado muitas dúvidas e divergências no que se refere à sua
correta compreensão.

Sabe-se, outrossim, que a constitucionalização dos Estudos de Impacto Ambiental não foi
acompanhada de uma legislação ordinária apta a concretizar a determinação constitucional no plano
da prática diária administrativa. Em verdade, a norma constitucional é considerada aberta e necessita
que o Poder Executivo defina os parâmetros e critérios capazes de estabelecer, com certa margem
de segurança, qual é o conceito de atividade que efetiva ou potencialmente possa ser causadora de
significativa degradação ambiental. Atualmente, com a finalidade de suprir eventual lacuna
legislativa, a matéria encontra-se regulada por resoluções administrativas do CONAMA.

No ano de 1972 realizava-se a Conferência de Estocolmo que, apesar da inexistência de


obrigatoriedade para os países participantes, trouxe uma série de influências. Para o Brasil, pode-se
dizer que, a partir da referida Conferência, constatou-se o início de uma legislação moderna e
engajada na proteção ao meio ambiente. Durante este período, já na década de 70, a história da

Nenhuma parte deste material poderá ser reproduzida por qualquer meio ou forma sem a prévia autorização do Vorne Cursos,
sob pena de responsabilização civil e criminal (Lei 9.610/98 e CP).
legislação nacional dava conta do surgimento do estudo de impacto ambiental, que teria vindo
à lume através da edição do Decreto-Lei nº 1.413/75.

Já a partir deste novel conjunto de leis, as empresas que tencionassem instalar seus parques
industriais deveriam, primeiramente, providenciar equipamentos capazes de diminuir ou impedir a
poluição produzida por suas atividades. Neste ponto, o vetusto Decreto reclamava uma avaliação ou
estudo dos impactos ambientais que pudessem atingir o meio ambiente a ser explorado.

Para as empresas que já estivessem em operação, o Decreto em questão presumia que estas
observassem a nova legislação, o que não impedia fiscalização do empreendimento. Além disso,
para as empresas instaladas que não estivessem cumprindo com o DL, far-se-ia necessária
adequação à nova ordem normativa.

De fato, toda a legislação posterior ao DL 1.413 de 1975 cuidava de impedir ou reconhecer


o “direito de poluir”, sendo, portanto, sensível à realidade jurídica da época, no sentido de que as
mudanças ocorreriam de forma gradual.

A Lei nº 6.938/81 representou, em certa medida, uma mudança qualitativa no sistema legal
de proteção ambiental, pois buscou criar um sistema estruturado e organicamente coerente de
medidas a serem adotadas para o alcance dos objetivos fixados já a partir do DL 1.413 de 1975.
35
Vale lembrar que a Lei nº 6.938/1981 elevou a Avaliação de Impacto Ambiental (AIA) à categoria
de instrumento da Política Nacional do Meio Ambiente (PNMA). Outrossim, é importante ressaltar
que, mesmo com a Lei nº 6.938/1981, os arts. 9º e 10º da Lei nº 6.803/1980 ainda continuam em
vigor, eis que completamente coerentes com a Lei nº 6.938 de 1981.

No tocante às avaliações de estudo de impacto ambiental, temos que a resolução mais


importante é a número 1, de 23 de janeiro de 1986 (alterada pela de nº 237/97). Esta Resolução
buscou dar uma regulamentação, a mais completa possível, sobre o assunto, muito embora diversos
assuntos pertinentes ao tema remanescessem carentes. A mais importante de todas as inovações
operadas diz respeito ao fato de a resolução 1/1986 ter inovado no instituto definido pelo art. 9º, III
da Lei 6.938/1981, pois a Avaliação de Estudo de Impacto Ambiental era efetivada através da
realização de EIA e dos respectivos Relatórios de Impacto Ambiental – RIMA. Posteriormente, a
denominação Estudo de Impacto Ambiental acabou se popularizando. Hoje, bem se sabe que a
exigência de estudos de impacto ambiental, ou de qualquer outra forma de avaliação de
impacto ambiental, é medida tipicamente administrativa e, portanto, praticada pelo Poder
Executivo.

Nenhuma parte deste material poderá ser reproduzida por qualquer meio ou forma sem a prévia autorização do Vorne Cursos,
sob pena de responsabilização civil e criminal (Lei 9.610/98 e CP).
Além disso, a Avaliação de Impacto Ambiental – AIA coloca-se como mecanismo de
realização do desenvolvimento sustentável.

Mas afinal, o que é a AIA?

Tendo em vista que qualquer projeto de desenvolvimento interfere no meio ambiente, mas,
igualmente, sendo certo que o crescimento socioeconômico é um imperativo, deve haver
mecanismos que conciliem tais fatores, minimizando os impactos ecológicos negativos. Um desses
mecanismos é a AIA.

Importante não incidir no equívoco reducionista de entender a AIA como apenas o EIA.
A AIA pode ser implementada tanto para projetos que envolvam execução física de obras e processo
de transformação como para políticas e planos que contemplem diretrizes programáticas, limitadas
ao campo das ideias, neste caso denominada Avaliação Ambiental Estratégica. Já o EIA é apenas
uma ferramenta do licenciamento ambiental.

Nos termos da Resolução CONAMA nº 237/976, A AIA, POR ELA DENOMINADA DE


“ESTUDOS AMBIENTAIS”, É GÊNERO DO QUAL SÃO ESPÉCIES TODOS OS ESTUDOS PARA
ANÁLISE DA LICENÇA AMBIENTAL, TAIS COMO: relatório ambiental, plano e projeto de controle
ambiental, relatório ambiental preliminar, diagnóstico ambiental, plano de manejo, plano de
36
recuperação de área degradada e análise preliminar de risco. Essas outras espécies de Estudos
Ambientais (ou AIAs), poderão ser requisitadas na hipótese de não se exigir o EIA.

8.4.2. ESTUDO DE IMPACTO AMBIENTAL – EIA

O EIA é um dos instrumentos da PNMA, previsto no art. 225, § 1º, IV, CR/88 e no art. 9º, III,
da PNMA. A PNMA concedeu ao CONAMA a competência para estabelecer normas e critérios
para o licenciamento (e não para licenciar) de atividade efetiva ou potencialmente poluidora.

Não invade a competência dos Estados o estabelecimento dessas normas, desde que gerais,
já que a competência para legislar sobre meio ambiente é concorrente.

6Nos termos da Resolução CONAMA 237/97, a AIA, por ela denominada de “Estudos Ambientais”, é gênero
do qual são espécies todos os estudos para análise da licença ambiental, tais como: relatório ambiental, plano e
projeto de controle ambiental, relatório ambiental preliminar, diagnóstico ambiental, plano de manejo, plano de recuperação
de área degradada e análise preliminar de risco. Essas outras espécies de Estudos Ambientais (ou AIAs), poderão
ser requisitadas na hipótese de não se exigir o EIA.

Nenhuma parte deste material poderá ser reproduzida por qualquer meio ou forma sem a prévia autorização do Vorne Cursos,
sob pena de responsabilização civil e criminal (Lei 9.610/98 e CP).
Esse órgão assim o fez, por meio da Resolução CONAMA 001/86 – a qual regulamenta o
EIA, sendo exigido como condição de licenciamento em obras, atividades ou empreendimentos
potencialmente causadores de significativa degradação ambiental.

O EIA pode ser definido como a análise prévia das prováveis modificações ambientais
em decorrência da implantação de uma obra ou atividade potencialmente nociva. Entretanto,
existe outro conceito trazido pela Resolução nº 1/86 do CONAMA, anotando que é o estudo
(procedimento administrativo) que visa a antecipar “qualquer alteração das propriedades físicas,
químicas e biológicas do meio ambiente, que, direta ou indiretamente, afetem a saúde, segurança e
o bem-estar da população; as atividades sociais e econômicas; a biota; as condições estéticas e
sanitárias do meio ambiente, e a qualidade dos recursos ambientais”, com o escopo de permitir seja
verificada a viabilidade ambiental de obra ou atividade potencialmente causadora de degradação,
bem assim as medidas mitigatórias que deverão ser adotadas visando à redução do
mencionado impacto.

Ou ainda: é um mecanismo administrativo preventivo e obrigatório de planejamento


visando à preservação da qualidade ambiental.

Possui natureza jurídica de pré-procedimento administrativo, vinculado ao licenciamento 37


ambiental, de natureza constitucional (CR, art. 225, § 1º, IV), destinado a avaliar impactos e definir
medidas mitigadoras e/ou compensatórias pela introdução de atividade significativamente
degradante. O EIA é feito antes da concessão da licença prévia, como uma condição à expedição
desta. O EIA deve ser prévio, a luz dos princípios da precaução e prevenção, de forma que um estudo
posterior é considerado anômalo.

O caráter do EIA é preventivo e obrigatório. A CR exige o estudo prévio de impacto


ambiental para as atividades potencialmente poluidoras. É norma de caráter absoluto, que
não comporta exceção (STF, ADI 1.086/SC).

O EIA deve:

a) Definir os limites da área geográfica a ser direta ou indiretamente afetada pelos impactos
do projeto;

b) Considerar os planos e programas governamentais, propostos e em implantação na área


de influência do projeto, e sua compatibilidade;

c) Contemplar todas as alternativas tecnológicas e de localização do projeto, confrontando-


as com a hipótese de não executar o projeto;

Nenhuma parte deste material poderá ser reproduzida por qualquer meio ou forma sem a prévia autorização do Vorne Cursos,
sob pena de responsabilização civil e criminal (Lei 9.610/98 e CP).
d) Identificar e avaliar os impactos ambientais do projeto;

e) Apresentar estudos detalhados da área em que o projeto será instalado;

f) Indicar as medidas para corrigir os impactos ambientais desfavoráveis;

g) Demonstrar como serão distribuídos socialmente os ônus e os benefícios do projeto.

Lembrar que o art. 69-A da Lei nº 9.605/98 estabelece que é crime apresentar ou elaborar,
no licenciamento ambiental, laudo ou relatório ambiental falso ou enganoso, seja total ou
parcialmente, inclusive por omissão.

8.4.3. RELATÓRIO DE IMPACTO NO MEIO AMBIENTE – RIMA

Já o RIMA é o documento final que reúne os dados do EIA, apresentado ao órgão ou entidade
de meio ambiente, geralmente do Estado-membro no qual se localiza ou se pretende localizar a
atividade. Por ser documento final, deve ser elaborado após encerrado o EIA. Ele sistematiza os
estudos realizados, trazendo de forma concatenada todas as informações obtidas, as
discussões da equipe multidisciplinar, suas conclusões e as propostas decorrentes dos
levantamentos efetuados na fase de estudo, inclusive quanto a “alternativas tecnológicas e
38
de localização do projeto”.

Ele deverá conter as conclusões deste e demonstrar, no mínimo:

a) Os objetivos e justificativas do projeto;

b) A descrição dos prováveis impactos ambientais da implantação e operação da atividade;

c) A descrição dos efeitos esperados das medidas mitigadoras etc.

8.4.4. ATIVIDADES QUE EXIGEM O EIA/RIMA

O art. 2° da Resolução nº 1/86 estabelece o rol das atividades ou obras cujo licenciamento
não prescindem da realização do EIA. Paulo de Barros defende que “somente para as atividades
expressamente enumeradas pelo CONAMA podem tais instrumentos ser exigidos, face a sujeição
da Administração Pública ao princípio da legalidade”.

Entretanto, esse parece não ser (e não é) o melhor entendimento. Essa Resolução
estabeleceu, na verdade, um mínimo obrigatório, que pode ser ampliado, jamais reduzido. Há,

Nenhuma parte deste material poderá ser reproduzida por qualquer meio ou forma sem a prévia autorização do Vorne Cursos,
sob pena de responsabilização civil e criminal (Lei 9.610/98 e CP).
nessas atividades abaixo listadas, verdadeira presunção absoluta7 de que são potencialmente
causadoras de significativa degradação do meio ambiente.

Assim, poderão todos os entes aumentar este rol em suas legislações. Entretanto, o que não
pode, acredito, é haver a imposição da realização do EIA sem expressa previsão normativa que o
determine.

Serão exigidos tanto para obras públicas quanto particulares. São as seguintes as hipóteses
EXEMPLIFICATIVAS de exigência:

a) Estradas de rodagem com duas ou mais faixas de rolamento;

b) Ferrovias;

c) Portos e terminais de minérios, petróleo e produtos químicos;

d) Aeroportos;

e) Oleodutos, gasodutos, minerodutos, troncos coletores e emissários de esgotos sanitários;

f) Linhas de transmissão de energia elétrica acima de 230 kW;


39
g) Obras hidráulicas para exploração de recursos hídricos;

h) Extração de combustíveis fósseis;

i) Extração de minérios;

j) Usinas de geração de eletricidade;

k) Aterros sanitários;

l) Complexo e unidades industriais e agroindustriais;

m) Distritos industriais;

n) Exploração econômica de madeira ou de lenha, em áreas acima de 100 ha;

o) Qualquer atividade que utilize carvão vegetal, em quantidade superior a 10 toneladas por
dia;

p) Projetos agropecuários que contemple áreas acima de 1.000 ha;

7 Edis Milaré advoga que, segundo a Resolução CONAMA nº 237/97, a presunção é apenas relativa.
Nenhuma parte deste material poderá ser reproduzida por qualquer meio ou forma sem a prévia autorização do Vorne Cursos,
sob pena de responsabilização civil e criminal (Lei 9.610/98 e CP).
q) Instalações nucleares, centrais nucleares e outros reatores nucleares.

8.4.5. COMPETÊNCIA PARA ANÁLISE DO EIA/RIMA

A competência para traçar regras básicas para a realização do EIA/RIMA é, como visto, do
CONAMA. O ente público responsável pela exigência do EIA/RIMA será aquele responsável pelo
licenciamento ambiental da atividade. No estado federativo, “o ponto fundamental que deve ser
considerado é que o licenciamento é basicamente uma atividade a ser exercida pelo Poder Público
estadual. As autoridades federais somente podem atuar em casos definidos ou supletivamente à
autoridade estadual. Os Municípios poderão complementar, no que couber, as exigências dos órgãos
estaduais para atender necessidades locais” (Paulo de Bessa Antunes. Direito Ambiental. 2ª ed.
Lúmen Júris, 1998).

Um dos critérios primordiais que foi estabelecido para o licenciamento e análise do EIA/RIMA
é o da área de influência direta do projeto.

A atribuição administrativa de analisar o EIA/RIMA será dada de acordo com as atribuições


conferidas nos arts. 8º a 10º da LC nº 140/11, que especificam as atribuições de Estados, Municípios
e Distrito Federal.
40
Nesse sentido:

Art. 13. Os empreendimentos e atividades são licenciados ou autorizados, ambientalmente,


por um único ente federativo, em conformidade com as atribuições estabelecidas nos
termos desta Lei Complementar.

§ 1o Os demais entes federativos interessados podem manifestar-se ao órgão responsável


pela licença ou autorização, de maneira não vinculante, respeitados os prazos e
procedimentos do licenciamento ambiental.

§ 2o A supressão de vegetação decorrente de licenciamentos ambientais é autorizada pelo


ente federativo licenciador.

§ 3o Os valores alusivos às taxas de licenciamento ambiental e outros serviços afins devem


guardar relação de proporcionalidade com o custo e a complexidade do serviço prestado
pelo ente federativo.

Art. 14. Os órgãos licenciadores devem observar os prazos estabelecidos para tramitação
dos processos de licenciamento.

§ 1o As exigências de complementação oriundas da análise do empreendimento ou


atividade devem ser comunicadas pela autoridade licenciadora de uma única vez ao
empreendedor, ressalvadas aquelas decorrentes de fatos novos.

§ 2o As exigências de complementação de informações, documentos ou estudos feitas pela


autoridade licenciadora suspendem o prazo de aprovação, que continua a fluir após o seu
atendimento integral pelo empreendedor.
Nenhuma parte deste material poderá ser reproduzida por qualquer meio ou forma sem a prévia autorização do Vorne Cursos,
sob pena de responsabilização civil e criminal (Lei 9.610/98 e CP).
§ 3o O decurso dos prazos de licenciamento, sem a emissão da licença ambiental,
não implica emissão tácita nem autoriza a prática de ato que dela dependa ou decorra,
mas instaura a competência supletiva referida no art. 15.

§ 4o A renovação de licenças ambientais deve ser requerida com antecedência mínima de


120 (cento e vinte) dias da expiração de seu prazo de validade, fixado na respectiva licença,
ficando este automaticamente prorrogado até a manifestação definitiva do órgão ambiental
competente.

8.4.6. DISPENSA DO EIA/RIMA E RELATÓRIO AMBIENTAL SIMPLIFICADO

A Constituição da República não oferece qualquer margem de discricionariedade para se


dispensar o EIA/RIMA em casos de obra ou atividade potencialmente causadora de significativa
degradação do meio ambiente. Qualquer lei ou ato administrativo que assim dispuser será fatalmente
inquinado de vício de inconstitucionalidade, por excepcionar onde o constituinte não o fez.

Quanto ao tema, importante trazer importante esclarecimento doutrinário:

“Empreendedores e Administração Pública têm na relação do art. 2º da Resolução 1/86-


CONAMA a indicação constitucional de atividades que podem provocar significativa
degradação do meio ambiente [...] A Resolução 1/86 do CONAMA, na realidade,
estabeleceu um mínimo obrigatório, que pode ser ampliado, mas jamais reduzido. Há
verdadeira presunção absoluta de que as atividades previstas na referida resolução
são potencialmente causadoras de significativa degradação do meio ambiente”
(MACHADO, Paulo Affonso Leme. Direito Ambiental Brasileiro. 18ª Ed. revi. atual. e ampl.
41
São Paulo: Malheiros, 2010, p. 239-240)

Veja, no entanto, que se o empreendimento não for potencialmente causador de significativo


impacto ambiental, caberá à Administração determinar se será necessário ou não o EIA/RIMA. Nesse
sentido:

Resolução CONAMA nº 237/1997:

Art. 3º- A licença ambiental para empreendimentos e atividades consideradas efetiva ou


potencialmente causadoras de significativa degradação do meio dependerá de prévio
estudo de impacto ambiental e respectivo relatório de impacto sobre o meio ambiente
(EIA/RIMA), ao qual dar-se-á publicidade, garantida a realização de audiências públicas,
quando couber, de acordo com a regulamentação.

Parágrafo único. O órgão ambiental competente, verificando que a atividade ou


empreendimento não é potencialmente causador de significativa degradação do meio
ambiente, definirá os estudos ambientais pertinentes ao respectivo processo de
licenciamento.

Assim, quando o empreendedor solicitar o licenciamento, o órgão ambiental pode: 1)


flexibilizar a sequência desse licenciamento e, 2) flexibilizar a exigência dos estudos
ambientais, se contentando com o relatório ambiental simplificado, porque a atividade não é
potencialmente causadora de significativa degradação ambiental.

Nenhuma parte deste material poderá ser reproduzida por qualquer meio ou forma sem a prévia autorização do Vorne Cursos,
sob pena de responsabilização civil e criminal (Lei 9.610/98 e CP).
Vale lembrar que, quando um órgão dispensa o EIA, ou determina a sua realização por
julgar presentes as suas características, este ato administrativo será vinculado. Inexiste
discricionariedade administrativa na interpretação concreta de impacto ambiental
significativo para fins de o ente ambiental exigir ou não o EIA. Além da doutrina majoritária,
há diversas decisões dos Tribunais Regionais Federais. Em face disso, pode ser afirmado
que, no mérito deste ato, é possível a interferência do poder judiciário através, por exemplo,
de uma ação civil pública.

AÇÃO CIVIL PÚBLICA – AGRAVO DE INSTRUMENTO EXTRAÇÃO MINERAL –


SUSPENSÃO DA PORTARIA DE LAVRA E DA LICENÇA DE OPERAÇÃO,
PARALISAÇÃO DA ATIVIDADE, RECUPERAÇÃO AMBIENTAL E
APRESENTAÇÃO DO ESTUDO DE IMPACTO AMBIENTAL E RESPECTIVO
RELATÓRIO (EIA-RIMA) – ANTECIPAÇÃO DA TUTELA – INDEFERIMENTO PELA
DECISÃO AGRAVADA – ATIVIDADE EFETIVA OU POTENCIALMENTE
CAUSADORA DE IMPACTO AMBIENTAL – EIA/RIMA –
OBRIGATORIEDADE – INEXISTÊNCIA DE DISCRICIONARIEDADE
ADMINISTRATIVA – LICENCIAMENTO IRREGULAR E EVIDÊNCIAS DE LAVRA
ILEGAL HÁ ANOS – RECUPERAÇÃO DO MEIO AMBIENTE – IMPOSIÇÃO LEGAL
E CONSTITUCIONAL – PRINCÍPIO DO POLUIDOR PAGADOR – REFORMA DA
DECISÃO – CONCESSÃO PARCIAL DA LIMINAR.
- O Estudo de Impacto Ambiental e o Relatório de Impacto Ambiental (EIA-RIMA) são
um dos instrumentos de implementação da Política Nacional do Meio Ambiente
(PNMA), de que trata a Lei nº 6.938/81.
- A extração mineral é atividade potencialmente causadora de significativa 42
degradação do meio ambiente, sendo obrigatória a apresentação prévia do EIA-RIMA
no licenciamento ambiental, conforme se extrai dos arts. 174, 176 e 225 da
Constituição de 1988 c/c os arts. 2º da Resolução nº 01/1986 do CONAMA e 47 do
Decreto-lei nº 227/67 (Código de Minas), bem como da Lei nº 6.938/81 (Anexo VIII
incluído pela Lei nº 10.165/2000) e do Cadastro Técnico Federal para Atividades
Potencialmente Poluidoras e Utilizadoras de Recursos Ambientais (CTF/APP), sob a
administração do IBAMA (art. 17, II da Lei nº 6.938/81).
- As deliberações do CONAMA, visando ao cumprimento dos objetivos da PNMA,
não podem violar, ainda que indiretamente, as regras constitucionais, nem o disposto
na própria Lei nº 6.938/81. Tanto a Resolução nº 10/1990 quanto a Resolução nº
237/1997, ao colocarem a exigência do EIA-RIMA no âmbito do poder
discricionário do órgão ambiental competente, ignoram o status de atividade
potencialmente causadora de grande impacto ambiental que a mineração
ostenta na legislação infraconstitucional, bem como vão de encontro às
disposições constitucionais sobre a exploração de recursos minerais
compatibilizada com a preservação do meio ambiente.
- A recuperação dos danos ambientais é obrigação imposta pela Constituição
de 1988 (art. 225, §2º) ao explorador de recursos minerais e pela Lei nº 6.938/81
ao poluidor e ao predador (art. 4º, VII). Além disso, pelo princípio do poluidor
pagador, um dos princípios que orientam o Direito Ambiental, aquele que utiliza
recursos naturais, causando degradação e escassez dos mesmos, deve arcar
com os custos ambientais gerados pela atividade e recuperar a área degradada.
No caso da mineração, só a suspensão temporária dos trabalhos de lavra já obriga o
explorador a manter a mina em bom estado, de modo a proteger o meio ambiente e
permitir a
retomada das operações, sob pena de caducidade da concessão da lavra (art. 47,
XV c/c art. 65, “a” do Código de Minas).
- Presente nos autos prova inequívoca da verossimilhança das alegações,
consubstanciada nas evidências de lavra ilegal há pelo menos dez anos e de
dispensa do EIA/RIMA

Nenhuma parte deste material poderá ser reproduzida por qualquer meio ou forma sem a prévia autorização do Vorne Cursos,
sob pena de responsabilização civil e criminal (Lei 9.610/98 e CP).
pelo IEMA no procedimento de licenciamento, suspendem-se os efeitos do Parecer
nº 453/2011/CONJUR/MME, da Portaria de Lavra nº 81/2011 e da Licença de
Operação - LO nº 52/2011 e, por falta de título de lavra válido, determina-se a
paralisação imediata da atividade, sob pena de multa diária de cinco mil reais,
devendo ainda a empresa agravada, juntamente
com seu sócio administrador, providenciar a elaboração do EIA-RIMA às próprias
expensas e apresentá-lo ao órgão ambiental competente, bem como recuperar a
área degradada integralmente e de acordo com a solução técnica exigida pelo IEMA,
que, de seu turno, deverá encaminhar a solução técnica à empresa no prazo
estipulado no voto e exigir, em relação ao DNPM nº 896.847/1995, o EIA/RIMA para
concessão de licença ambiental para extração mineral na área a que se refere o
procedimento em tela. Ao DNPM, determina-se que se
abstenha de emitir qualquer título minerário em favor da empresa agravada no
procedimento supracitado, enquanto não forem cumpridas todas as exigências do
órgão ambiental competente para a recuperação da área.
- O periculum in mora está presente no alto potencial lesivo da atividade praticada
pela empresa, na existência de fortes indícios de lavra ilegal durante anos, na falta
de EIA-RIMA visando à preservação e restauração do meio ambiente e na
necessidade urgente de se recuperar a área degradada, a fim de evitar a
irreversibilidade dos danos já causados e a repetição da atividade nociva.
- Recurso parcialmente provido, para antecipar em parte os efeitos da tutela.
Prejudicados os embargos de declaração opostos pelo IEMA e pelo MPF apontando,
respectivamente, omissão e contradição no Acórdão do agravo interno interposto
contra a decisão que, antecipando parcialmente os efeitos da tutela recursal,
reconheceu a necessidade do EIA-RIMA no licenciamento em questão, mas não
determinou a paralisação da atividade nem a reparação dos danos causados ao meio
ambiente. (TRF-2 – AG: 0014578532012402000 RJ, Rel. Sergio Schwaitzer,
Julgamento: 20/03/2017, Turma Especializada)
43
8.4.7. PROCEDIMENTO

Inicialmente, o empreendedor realiza uma consulta ao órgão ambiental, o qual emite


instruções normativas e termo de referência, que deverá conter os itens a serem observados para
a elaboração do EIA/RIMA; O termo de referência é um ato administrativo com a relação de estudos
que devem ser realizados no EIA, para a adequada análise e concessão do licenciamento. É com
base neste termo de referência que o empreendedor contratará e pagará a equipe multidisciplinar.

O empreendedor, então, licita, contrata ou providencia a realização do EIA/RIMA; o EIA/RIMA


é elaborado por equipe multidisciplinar; o empreendedor submete os estudos ao órgão
ambiental (ressalte-se que as conclusões do RIMA não vinculam o órgão ambiental); aceitos os
estudos e o relatório, o órgão os coloca à disposição do público, designando a audiência pública;
realizada a audiência, o órgão ambiental elabora a Ata, finaliza a análise do EIA/RIMA e emite o
parecer técnico; após, o órgão ambiental faz exigências, concedendo ou negando a licença
ambiental.

Existia uma disposição da Resolução CONAMA 01/86 que dizia que a equipe técnica
multidisciplinar não poderia estar vinculada ao proponente do projeto. Por este dispositivo, ela não
podia estar vinculada a ele, para garantia de sua autonomia. No entanto, em um grave retrocesso,

Nenhuma parte deste material poderá ser reproduzida por qualquer meio ou forma sem a prévia autorização do Vorne Cursos,
sob pena de responsabilização civil e criminal (Lei 9.610/98 e CP).
este dispositivo foi expressamente revogado por um dispositivo da Resolução CONAMA 237/97.
Assim, tornou-se possível esta atuação vinculada, até mesmo por empregados do proponente do
projeto. Isso gera uma quebra da autonomia da equipe multidisciplinar, que age de acordo com os
interesses daquele que lhe emprega e que busca o empreendimento.

8.4.8. PUBLICIDADE E AUDIÊNCIAS PÚBLICAS

Deve ser dada publicidade ao EIA e ao RIMA, por disposição constitucional. Entretanto, a
publicidade deve dar o devido respeito às matérias de sigilo industrial; não obstante, cabe ao
requerente invocar e demonstrar que o sigilo deve ser preservado.

De acordo com a Resolução nº 1/86 do CONAMA, qualquer interessado poderá obter


cópia desses instrumentos.

Já as audiências públicas visam a permitir a participação de terceiros no processo de


licenciamento ambiental, os quais poderão apresentar dúvidas/críticas/sugestões acerca do projeto
apresentado, além de ser um instrumento de publicização do processo.

Nem sempre elas ocorrerão. Elas serão obrigatórias apenas se previstas na lei do ente
ou se ocorrer as seguintes hipóteses previstas na Resolução nº 9/87, do CONAMA: 44
a) Requeridas pelo Ministério Público;

b) Requerida por entidade civil com assento no Conselho Estadual do Meio Ambiente –
COSEMA;

c) Solicitada por mais de 50 cidadãos (e não pessoas).

Quando obrigatória, a audiência pública funciona como uma condição de regularidade do


licenciamento que eventualmente vier a ser concedido.

Vale ainda conhecer dois importantes julgados tradicionais do STF sobre este assunto. O
primeiro deles foi o caso da ADI 1.505, na qual a Constituição do Espírito Santo dispunha que a
audiência pública deveria ser autorizada por uma comissão da Assembleia Legislativa daquele
Estado, algo atípico que não vem previsto no modelo federal.

1. E ó inconstitucional preceito da Constituição do Estado do Espírito Santo que


submete o Relatório de Impacto Ambiental – RIMA – ao crivo de comissão
permanente e específica da Assembleia Legislativa. 2. A concessão de autorização
para desenvolvimento de atividade potencialmente danosa ao meio ambiente

Nenhuma parte deste material poderá ser reproduzida por qualquer meio ou forma sem a prévia autorização do Vorne Cursos,
sob pena de responsabilização civil e criminal (Lei 9.610/98 e CP).
consubstancia ato do Poder de Polícia – ato da Administração Pública – entenda-se
ato do Poder Executivo (ADI 1.505, de 24.11.2004).

Portanto, entendeu o STF que é de competência do executivo e não do legislativo


analisar sobre a necessidade ou não de realização de audiência pública para discussão sobre
o RIMA.

O outro caso emblemático do Supremo foi o da Constituição de Santa Catarina em que se


previa exceção para a elaboração do EIA-RIMA, o que também foi rechaçado:

(...) A norma impugnada, ao dispensar a elaboração de Estudo Prévio de Impacto


Ambiental no caso de áreas de florestamento ou reflorestamento para fins
empresariais, cria exceção incompatível com o disposto no mencionado inciso IV do
§ 1.o do artigo 225 da Constituição Federal. Ação julgada procedente, para declarar
a inconstitucionalidade do dispositivo constitucional catarinense sob enfoque (ADI
1.086, de 10.08.2001).

8.4.9. VINCULAÇÃO AO EIA/RIMA

A realização do EIA/RIMA NÃO CONFERE DIREITO AO DEFERIMENTO DA LICENÇA ao


empreendedor por parte dos órgãos técnicos, já que é apenas uma etapa no processo de 45
licenciamento da obra ou atividade.

As conclusões do EIA não vinculam o órgão ambiental8. Isso é óbvio, já que o EIA/RIMA é
elaborado no interesse do empreendedor que solicita a licença. O que é vinculativo é sua feitura, nas
hipóteses em que a lei ou a Administração o exigirem. O objetivo do estudo é orientar a decisão da
Administração e informá-la sobre as consequências ambientais de um determinado
empreendimento. Para acolher ou deixar de acolher as diretrizes do EIA/RIMA, o órgão
ambiental deverá fundamentar a sua decisão. Não se exige do órgão ambiental que faça um
estudo de impacto paralelo ou um contraestudo, mas que aprecie em profundidade o estudo do
impacto apresentado.

Certo é que o EIA/RIMA não pode vincular a Administração, já que ele será elaborado pelo
particular, em interesse próprio. Ele é apenas subsídio para a análise pelo órgão competente, que
deve cuidar de seu teor, verificando se realmente confere com a realidade e tomando as conclusões
sobre o licenciamento prévio do empreendimento.

8 Essa é a posição, por exemplo, de Paulo de Bessa Antunes.


Nenhuma parte deste material poderá ser reproduzida por qualquer meio ou forma sem a prévia autorização do Vorne Cursos,
sob pena de responsabilização civil e criminal (Lei 9.610/98 e CP).
O EIA atua no plano da motivação do ato administrativo relativo ao licenciamento. Assim,
sempre que o administrador decidir de maneira divorciada da solução proposta no EIA, ele deverá
motivar a decisão e expor as razões que o levaram a optar por outra solução. Essa motivação poderá
ser examinada pelo Judiciário.

ENTRETANTO, CASO O EIA/RIMA SEJA APROVADO PELO ÓRGÃO AMBIENTAL


COMPETENTE, SERÁ OBRIGATÓRIA A EXPEDIÇÃO DA LICENÇA AMBIENTAL.

Cabe somente à Administração fixar o prazo para se manifestar sobre o EIA/RIMA, o qual,
em qualquer caso, será contado a partir de seu recebimento pelo órgão competente.

8.4.10. EIA/RIMA E ESTUDO DE IMPACTO DE VIZINHANÇA – EIV

O Estatuto da Cidade introduziu na legislação federal o chamado Estudo de Impacto de


Vizinhança (EIV), com vistas a analisar os impactos na qualidade de vida da população do
entorno que possam advir de EMPREENDIMENTOS URBANOS. O EIV, embora guarde
semelhança com o EIA/RIMA, com ele não se confunde. Aquele tem a finalidade de verificar o
impacto do empreendimento no Município, como o aumento do trânsito, a valorização/desvalorização
urbana etc. Já o segundo busca aferir o impacto no meio ambiente.
46
A lei municipal deverá estabelecer quais empreendimentos precisarão do EIV para obter as
licenças de construção, ampliação ou funcionamento. Ele será obrigatório, sendo condição para a
obtenção do alvará de construção. Logo, somente se pode exigir EIV se houver lei municipal que
o preveja.

8.5. LICENCIAMENTO AMBIENTAL

8.5.1. LICENÇA E LICENCIAMENTO AMBIENTAL: CONCEITOS E CARACTERÍSTICAS

Licença ambiental é o ato administrativo pelo qual o órgão ambiental competente


estabelece as condições, restrições e medidas de controle ambiental que deverão ser
obedecidos pelo empreendedor para localizar, instalar, ampliar e operar empreendimentos ou
atividades que utilizam recursos ambientais, considerados efetiva ou potencialmente
poluidores, bem como os capazes, sob qualquer forma, de causar degradação ambiental.

Não há consenso sobre a natureza jurídica da licença ambiental. As posições dividem-se


entre licença e autorização administrativa. A autorização é ato unilateral pelo qual a Administração,
discricionariamente, faculta o exercício de atividade material, tendo caráter precário. Já a licença é
ato vinculado, unilateral, pelo qual a Administração faculta a alguém o exercício de uma atividade.

Nenhuma parte deste material poderá ser reproduzida por qualquer meio ou forma sem a prévia autorização do Vorne Cursos,
sob pena de responsabilização civil e criminal (Lei 9.610/98 e CP).
A licença ambiental é a outorga concedida pelo Poder Público a quem pretende exercer uma
atividade potencialmente nociva ao meio ambiente. Assim, todo aquele que pretender construir,
instalar, ampliar e colocar em funcionamento estabelecimentos e atividades utilizadoras de recursos
ambientais, considerados efetiva ou potencialmente poluidores, deverá requerer perante o órgão
público competente a licença ambiental.

A licença ambiental é concedida pelos órgãos ambientais integrantes do SISNAMA através


de um procedimento administrativo complexo (art. 6º da Lei nº 6.938/81). Referida licença pode ser
concedida pelos órgãos ambientais pertencentes à União, aos Estados ou ao DF e também aos
Municípios, dependendo da natureza de cada atividade e da esfera de interesse de cada ente,
em conformidade com a LC nº 140/11:

Art. 13. Os empreendimentos e atividades são licenciados ou autorizados, ambientalmente,


por um único ente federativo, em conformidade com as atribuições estabelecidas nos
termos desta Lei Complementar.

§ 1o Os demais entes federativos interessados podem manifestar-se ao órgão responsável


pela licença ou autorização, de maneira não vinculante, respeitados os prazos e
procedimentos do licenciamento ambiental.

§ 2o A supressão de vegetação decorrente de licenciamentos ambientais é autorizada pelo


ente federativo licenciador. 47
§ 3o Os valores alusivos às taxas de licenciamento ambiental e outros serviços afins devem
guardar relação de proporcionalidade com o custo e a complexidade do serviço prestado
pelo ente federativo.

Geralmente, a competência é do órgão público estadual. Todavia, o Poder Público federal,


através do CONAMA, tem competência para fixar normas gerais para concessão de licenças.

Licenciamento ambiental é o procedimento9 administrativo pelo qual o órgão


competente licencia a localização, instalação, ampliação e operação de empreendimentos e
atividades utilizadoras de recursos ambientais.

O licenciamento ambiental é plurifuncional, pois podem ser apontadas diversas funções por
ele exercidas:

9 Em relação a ser processo ou procedimento, notem que a lei disse ser procedimento. Recordem-se da
substancial diferença, por exemplo, no direito processual penal, onde, administrativamente, temos o inquérito
que é procedimento (onde não se admite contraditório e ampla defesa) e, judicialmente, temos o processo
(onde vigora contraditório e ampla defesa). Assim, é possível que o legislador tenha desejado informar logo de
início que, no licenciamento ambiental, haverá discricionariedade (e não simples ato vinculado de
concessão da licença uma vez cumpridos os requisitos) com um contraditório ou ampla defesa
mitigada ou inexistente, cujo pano de fundo será a proteção do meio ambiente.
Nenhuma parte deste material poderá ser reproduzida por qualquer meio ou forma sem a prévia autorização do Vorne Cursos,
sob pena de responsabilização civil e criminal (Lei 9.610/98 e CP).
a) Objetiva o controle de atividades potencialmente poluentes, procurando uma atuação
sustentável, para prevenir danos;

b) Operacionaliza os princípios da precaução, prevenção, poluidor-pagador e usuário-


pagador;

c) Impõe medidas mitigadoras e compensatórias para a degradação ambiental que está


prestes a ser autorizada;

d) Possui a potencialidade de inserir determinada atividade em um contexto de programação


e planificação do desenvolvimento econômico nacional, regional ou local – instrumento voltado para
o desenvolvimento sustentável;

e) Instrumento de direito econômico, pois importa no planejamento e na tomada de decisões


sobre o que preservar e o que degradar (texto adaptado de Sílvia Capelli e outras).

Somente será possível, conforme o caput do art. 13 supracitado, exigir licenciamento


ambiental por parte de uma única entidade. Se as demais tiverem interesse, poderão se manifestar
no procedimento administrativo de licenciamento. ACABOU-SE, COM A LC Nº 140/11, A
POSSIBILIDADE DE SE EXIGIR DUPLO OU, ATÉ MESMO, TRIPLO LICENCIAMENTO. 48
Porém, não custa lembrar que há precedente no âmbito do STJ (embora anterior à
edição da LC 140/11) que entende pela viabilidade de duplicidade de licenciamento:

ADMINISTRATIVO E AMBIENTAL. AÇÃO CIVIL PÚBLICA. DESASSOREAMENTO DO


RIO ITAJAÍ-AÇU. LICENCIAMENTO. COMPETÊNCIA DO IBAMA. INTERESSE
NACIONAL.

1. Existem atividades e obras que terão importância ao mesmo tempo para a Nação e
para os Estados e, nesse caso, pode até haver duplicidade de licenciamento.

2. O confronto entre o direito ao desenvolvimento e os princípios do direito ambiental deve


receber solução em prol do último, haja vista a finalidade que este tem de preservar a
qualidade da vida humana na face da terra. O seu objetivo central é proteger patrimônio
pertencente às presentes e futuras gerações.

3. Não merece relevo a discussão sobre ser o Rio Itajaí-Açu estadual ou federal. A
conservação do meio ambiente não se prende a situações geográficas ou referências
históricas, extrapolando os limites impostos pelo homem. A natureza desconhece fronteiras
políticas. Os bens ambientais são transnacionais. A preocupação que motiva a presente
causa não é unicamente o rio, mas, principalmente, o mar territorial afetado. O impacto será
considerável sobre o ecossistema marinho, o qual receberá milhões de toneladas de
detritos.

4. Está diretamente afetada pelas obras de dragagem do Rio Itajaí-Açu toda a zona costeira
e o mar territorial, impondo-se a participação do IBAMA e a necessidade de prévios
EIA/RIMA. A atividade do órgão estadual, in casu, a FATMA, é supletiva. Somente o estudo

Nenhuma parte deste material poderá ser reproduzida por qualquer meio ou forma sem a prévia autorização do Vorne Cursos,
sob pena de responsabilização civil e criminal (Lei 9.610/98 e CP).
e o acompanhamento aprofundado da questão, através dos órgãos ambientais públicos e
privados, poderá aferir quais os contornos do impacto causado pelas dragagens no rio, pelo
depósito dos detritos no mar, bem como, sobre as correntes marítimas, sobre a orla
litorânea, sobre os mangues, sobre as praias, e, enfim, sobre o homem que vive e depende
do rio, do mar e do mangue nessa região.

5. Recursos especiais improvidos.

(REsp 588.022/SC, Rel. Ministro JOSÉ DELGADO, PRIMEIRA TURMA, julgado em


17/02/2004, DJ 05/04/2004, p. 217)

O procedimento tramitará perante o órgão público federal, estadual ou municipal, ou,


supletivamente, perante o órgão público federal (IBAMA) ou estadual, cujo fundamento reside na
possibilidade, constitucionalmente outorgada, de o Poder Público impor condições ao exercício do
direito de propriedade e do direito ao livre empreendimento. O licenciamento insere-se no âmbito
do exercício do poder de polícia.

Ele deve ser revestido de publicidade, permitindo-se o exercício da participação popular, a


ser viabilizada especialmente através das audiências públicas, cujo grande mérito é possibilitar o
controle da discricionariedade administrativa e da motivação do órgão ambiental quanto ao processo
decisório que resultará na concessão ou não da licença.
49
O licenciamento ambiental deve abranger a obra como um todo, não devendo ser
fragmentado, já que só existe em razão da atividade ou da obra que podem oferecer potencial ou
efetiva degradação ao meio ambiente.

Por fim, o licenciamento há de ser previsto em lei do ente, ou deve haver previsão legal para
que norma infralegal o preveja, já que a Administração deve agir sob o manto da legalidade.

8.5.2. LICENÇA AMBIENTAL: ATO DISCRICIONÁRIO OU VINCULADO? CONTROLE JUDICIAL


DA DISPENSA

As licenças são, no Direito Administrativo, atos tradicionalmente tidos por vinculados. No caso
da licença ambiental, há forte controvérsia sobre o assunto. Isso porque a análise administrativa do
atendimento dos requisitos necessários para se obter a licença é fase, apesar de técnica, dotada de
algum grau de discricionariedade para se chegar à conclusão da viabilidade ambiental ou não do
procedimento.

Parece que, não obstante isso, a maior parte da doutrina tende a considerá-la como um ato
vinculado. Sendo o empreendimento ou a atividade ambientalmente viável, não há como se denegar
a licença ambiental.

Nenhuma parte deste material poderá ser reproduzida por qualquer meio ou forma sem a prévia autorização do Vorne Cursos,
sob pena de responsabilização civil e criminal (Lei 9.610/98 e CP).
Essa vinculação, entretanto, é totalmente especial. Por exemplo: a licença pode ser
revogada no futuro, se houver modificação das condições fáticas (está sujeita à cláusula
rebus sic stantibus); quando o Poder Executivo demora inescusavelmente no procedimento
de concessão da licença, o Poder Judiciário, se provocado (via MS ou lei ordinária), não
concede a licença ambiental, antes fixa prazo para que isso seja feito.

Parte da doutrina entende que o termo licença estaria sendo empregado sem o rigor técnico-
jurídico, devendo, no caso, ser entendido como autorização. Essa é a posição de Paulo Affonso
Leme Machado10, Toshio Mukai e de Vladimir Passos de Freitas.

De outro lado, Édis Milaré11 entende que a licença ambiental se trata de verdadeira
licença, uma vez que a capacidade decisória da Administração se resume ao reconhecimento formal
de que os requisitos ambientais para o exercício do direito de propriedade (empreendimento
ou atividade) estão preenchidos. É preciso, na lição de Milaré, diferenciar a licença ambiental da
licença tradicional, de modo a considerá-las apenas parentes e não irmãs gêmeas. Entendem como
licença mesmo: Antônio Inagê de Oliveira e William Freite. Paulo de Bessa Antunes entende
que é sui generis.

A licença ambiental tem uma estabilidade temporal, que não se confunde com a 50
precariedade das autorizações e nem com a definitividade das licenças tradicionais. Garante-
se, no lapso temporal da licença, a inalterabilidade das regras impostas no momento da outorga,
salvo se o interesse público recomendar o contrário.

10 PAULO AFFONSO LEME MACHADO (2002, p. 258): “A CF utilizou o termo ‘autorização’ em seu Título. VII
– Da Ordem Econômica e Financeira, dizendo no artigo 170, parágrafo único: ‘É assegurado a todos o livre
exercício de qualquer atividade econômica, independentemente de autorização de órgãos públicos, salvo nos
casos previstos em lei’. Dessa forma, razoável é concluir que o sistema de licenciamento ambiental passa a
ser feito pelo sistema de autorizações, conforme entendeu o texto constitucional”
[
11 “[...] pelo dito, podemos apontar alguns traços que distinguem a licença ambiental das licenças

administrativas. Uma primeira peculiaridade pode ser enxergada no desdobramento da licença ambiental em
trens subespécies de licença – licença prévia, licença de instalação e licença de operação,–, destinadas a
melhor detectar, monitorar, mitigar e, quando possível, conjurar a danosidade ambiental.
[...]
Uma segunda tem a ver com a exigência de alguma forma de avaliação prévia de impactos, que se
consubstanciará num EIA-RIMA, sempre que a obra ou atividade a ser licenciada puder causar significativa
degradação do ambiente. Uma terceira, e talvez a mais importante, é que a licença ambiental não assegura ao
seu titular a manutenção do status quo vigorante ao tempo de sua expedição, sujeita que se encontra a prazos
de validade, obrigando a renovação com exigências supervenientes a vista do estado da técnica, cuja evolução
é rapidíssima, e da própria alteração das características, ambientais de determinada época e de determinado
local”. (2005, p. 539-540):
Nenhuma parte deste material poderá ser reproduzida por qualquer meio ou forma sem a prévia autorização do Vorne Cursos,
sob pena de responsabilização civil e criminal (Lei 9.610/98 e CP).
Por conta dessa possibilidade de revogação/anulação da autorização/licença no prazo de sua
validade, há a discussão sobre se haveria direito à indenização ou não. O STJ e o STF têm sido
casuísticos, observando, principalmente, o estado das obras.

Importante o julgado abaixo, que dispõe sobre o controle judicial da dispensa da licença.

PROCESSUAL CIVIL E AMBIENTAL. RECURSO ESPECIAL. OFENSA AO ART. 535 DO


CPC. INOCORRÊNCIA. REALIZAÇÃO DE EIA/RIMA. CONCLUSÕES DO IBAMA NA
ESFERA ADMINISTRATIVA PELA SUFICIÊNCIA DE RCA. CONTESTAÇÃO JUDICIAL.
POSSIBILIDADE. ART. 5º, INC. XXXV, DA CR88. INAFASTABILIDADE DO CONTROLE
JURISDICIONAL.

1. Trata-se, na origem, de agravo de instrumento, interposto no âmbito de ação movida por


associação indígena, contra decisão que, no ponto ora objeto de debate, deferiu tutela
antecipada para o fim de determinar que o Ibama apenas concedesse licenciamento
ambiental a empreendimento de derrocamento de rochas sub-aquáticas localizadas no Rio
Paraná após realização e conseqüente análise criteriosa do EIA/Rima, a ser levado a cabo
e custeado pelos empreendedores (União e DNIT).

2. O acórdão recorrido acolheu a tese do DNIT no sentido de só caberia ao Ibama, no


exercício de sua discricionariedade administrativa, definir se é cabível ou não o
licenciamento ambiental, não podendo o Poder Judiciário se imiscuir nesta decisão agora,
a considerar que, no caso concreto, o Ibama já se manifestou pelo não-cabimento de
EIA/Rima, mas apenas de Relatório de Controle Ambiental (RCA).

3. Nas razões recursais, a parte recorrente sustenta ter havido violação aos arts. 535 do
51
Código de Processo Civil (CPC) - ao argumento de que o acórdão é omisso -, 5º da Lei de
Introdução ao Código Civil (atual Lei de Introdução às Normas do Direito Brasileiro), 54, §
3º, da Lei n. 9.605/98, 1º da Lei n. 11.105/05, 8º, inc. I, da Lei n. 6.938/81, entre diversos
outros - uma vez que o princípio da precaução deveria ter sido observado na espécie.

1. Não viola o artigo 535 do CPC, tampouco nega prestação jurisdicional, acórdão que,
mesmo sem ter examinado individualmente cada um dos argumentos trazidos pelo vencido,
adota fundamentação suficiente para decidir de modo integral a controvérsia, conforme
ocorreu no caso em exame.

5. Inviável sustentar as conclusões do acórdão recorrido. E isto muito menos em razão do


princípio da precaução - pois, para sua estrita observância, a Administração possui mais de
um mecanismo, entre eles o próprio RCA, não se limitando seu cumprimento, portanto,
apenas à realização de EIA/Rima -, e muito mais porque, no Brasil, vige a inafastabilidade
do controle jurisdicional.

6. Quer dizer: salvo em casos excepcionalíssimos (como, por exemplo, o consagrados atos
nitidamente políticos), todo e qualquer ato é, a princípio, controlável pelo Judiciário.

7. Nesta lógica, SE É VERDADE QUE AO IBAMA COMPETE AVALIAR A NECESSIDADE


DE REALIZAÇÃO DE EIA/RIMA, NÃO É MENOS VERDADE QUE QUALQUER
CONCLUSÃO A QUE CHEGUE A REFERIDA AUTARQUIA É SINDICÁVEL NA VIA
JUDICIAL.

8. É de pelo menos muito duvidosa a afirmação, feita peremptoriamente no acórdão


recorrido em corroboração ao que disse o DNIT, ora recorrido, de que os atos
praticados no âmbito do licenciamento ambiental são marcados por alta

Nenhuma parte deste material poderá ser reproduzida por qualquer meio ou forma sem a prévia autorização do Vorne Cursos,
sob pena de responsabilização civil e criminal (Lei 9.610/98 e CP).
discricionariedade administrativa. Se isso é correto em face de alguns atos, trata-se
de conclusão inteiramente inadequada em face de outros. É que A SIMPLES
UTILIZAÇÃO DE CONCEITOS INDETERMINADOS NÃO É SUFICIENTE PARA
CONFERIR A QUALQUER ESCOLHA ADMINISTRATIVA A CORREÇÃO. AO
CONTRÁRIO, A UTILIZAÇÃO DESTE TIPO DE TÉCNICA DE CONSTRUÇÃO
NORMATIVA TEM POR ESCOPO POSSIBILITAR QUE A ADMINISTRAÇÃO
IDENTIFIQUE, NA ANÁLISE CASUÍSTICA, QUAL É A MELHOR ESCOLHA -
QUE, POR SER A MELHOR, É ÚNICA.

9. Mesmo que se admitisse se estar diante de um ato eminentemente discricionário, alegar


que o confronto judicial do mesmo seria inviável equivale a sustentar, em última linha, que
a legislação vigente retirou do Poder Judiciário a possibilidade de analisar impugnações aos
mais diversos atos administrativos, o que é inconstitucional, em face do que dispõe o art.
5º, inc. XXXV, da Constituição da República.

10. Nesse contexto de idéias, o acórdão recorrido merece reforma: não para asseverar que,
na hipótese, o EIA/Rima é pura e simplesmente de realização compulsória, mas para que
o Tribunal Regional avalie o agravo de instrumento interposto para dizer se concorda ou
não com a necessidade de realização do estudo de impacto ambiental no caso concreto
(em lugar do RCA), como sustenta o MPF, afastando-se a conclusão de que os aportes do
Ibama na esfera administrativo-ambiental não são sindicáveis em face do Judiciário.

11. Recurso especial parcialmente provido.

(REsp 1279607/PR, Rel. Ministro MAURO CAMPBELL MARQUES, SEGUNDA TURMA,


julgado em 06/12/2011, DJe 13/12/2011)
52
O Poder Judiciário pode controlar o mérito de uma licença ambiental? De acordo com o
Supremo, não poderá o Poder Judiciário entrar na questão da viabilidade da licença ambiental, no
seu MÉRITO. Este caso chegou ao STF quando da discussão das obras de transposição do Rio São
Francisco:

5. Se não é possível considerar o projeto como inviável do ponto de vista


ambiental, ausente nesta fase processual qualquer violação de norma
constitucional ou legal, potente para o deferimento da cautela
pretendida, a opção por esse projeto escapa inteiramente do âmbito
desta Suprema Corte. Dizer sim ou não à transposição não compete ao
Juiz, que se limita a examinar os aspectos normativos, no caso, para
proteger o meio ambiente. 6. Agravos regimentais desprovidos” (ACO-
MC-AgR 876).

8.5.3. ATRIBUIÇÃO PARA O LICENCIAMENTO AMBIENTAL

A atribuição será determinada de acordo com o órgão/entidade que detém a atribuição de


caráter ambiental prevista dada pela Lei Complementar nº 140/2011.

Nenhuma parte deste material poderá ser reproduzida por qualquer meio ou forma sem a prévia autorização do Vorne Cursos,
sob pena de responsabilização civil e criminal (Lei 9.610/98 e CP).
O IBAMA possui duas ordens de competência: originária, para obras com significativo impacto
ambiental de âmbito nacional, por exemplo, o art. 225, § 4º, da CR, ou regional, por exemplo, quando
possa atingir mais de um Estado ou uma região geográfica; e supletiva, determinadora de sua
atuação no caso de inexistência ou inércia do órgão estadual, ou estadual e municipal, ou de
inépcia de seu licenciamento. A supletividade da atuação do IBAMA, prevista no art. 15 da LC nº
140/201112, limita-se a atender aspectos secundários do licenciamento. Não pode o órgão federal
discordar da licença concedida pelo órgão estadual e, na vigência desta, embargar obras, etc.
Isso só deve ocorrer se o órgão federal demonstrar que a licença estadual está eivada de vício.

IMPORTANTE: em nível federal, a instrução normativa 184/2008 do IBAMA esclarece


várias dúvidas deixadas pela Resolução CONAMA nº 237/97, trabalhando conceitos e procedimentos
sobre o andamento do licenciamento dentro do IBAMA.

Sobre a atuação do CONAMA em matéria de licenciamento há o preceito do art. 8º, I, da Lei


nº 6.938/81 que diz que compete àquele órgão, mediante proposta do IBAMA, instituir normas e
critérios para o licenciamento, o que não se confunde com atribuir competência para os entes
federativos licenciarem. Sob todos os ângulos, constata-se a invasão de competência, o que vem
suscitando a inconstitucionalidade da referida resolução.
53
O critério da dominialidade incidente sobre um recurso natural não tem o condão, per
se, de definir a atribuição para o licenciamento ambiental. Isso porque a CR/88 define a
competência ambiental, tanto material, como legislativa, ratione materiae e não ratione dominium
(arts. 23, III, IV, VI, VII e 24, VI, VII e VIII), valendo-se, ainda, da predominância do interesse como
critério para essa repartição entre União, Estados e Municípios.

Com a edição da LC nº 140/2011, SÓ HÁ A POSSIBILIDADE DE UM ÚNICO


LICENCIAMENTO PARA O EMPREENDIMENTO, NÃO PODENDO OS ENTES EXIGIR
MÚLTIPLOS LICENCIAMENTOS. Isso tudo se dará, repita-se, em conformidade com as atribuições
distribuídas por essa mesma lei. Nesse sentido:

12
Art. 15. Os entes federativos devem atuar em caráter supletivo nas ações administrativas de licenciamento
e na autorização ambiental, nas seguintes hipóteses:
I - inexistindo órgão ambiental capacitado ou conselho de meio ambiente no Estado ou no Distrito Federal, a
União deve desempenhar as ações administrativas estaduais ou distritais até a sua criação;
II - inexistindo órgão ambiental capacitado ou conselho de meio ambiente no Município, o Estado deve
desempenhar as ações administrativas municipais até a sua criação; e
III - inexistindo órgão ambiental capacitado ou conselho de meio ambiente no Estado e no Município, a União
deve desempenhar as ações administrativas até a sua criação em um daqueles entes federativos.
Nenhuma parte deste material poderá ser reproduzida por qualquer meio ou forma sem a prévia autorização do Vorne Cursos,
sob pena de responsabilização civil e criminal (Lei 9.610/98 e CP).
Art. 13. Os empreendimentos e atividades são licenciados ou autorizados, ambientalmente,
por um único ente federativo, em conformidade com as atribuições estabelecidas nos
termos desta Lei Complementar.

Imperioso ressaltar que os Estados, em seus licenciamentos ambientais, deverão observar


as normas gerais da União, obrigatórias no procedimento de autorização. Caso não as observem, ou
o façam parcialmente, suas licenças serão ilegais, devendo ser anuladas.

A LC 140 PREVÊ EXPRESSAMENTE A POSSIBILIDADE DE DELEGAÇÃO DO


LICENCIAMENTO, mediante convênio, ao permitir tanto a delegação das atribuições quanto de
ações específicas, desde que o ente destinatário da delegação disponha de órgão ambiental
capacitado a executar as ações administrativas a serem delegadas e de conselho de meio
ambiente (art. 4°, V e VI e art. 5°).

Considera-se órgão ambiental capacitado, para os efeitos do disposto no caput, aquele que
possui técnicos próprios ou em consórcio, devidamente habilitados e em número compatível
com a demanda das ações administrativas a serem delegadas (parágrafo único do art. 5°)

Contrariando a doutrina e a jurisprudência anterior à lei, a nova Lei estabelece que os


empreendimentos e atividades devem ser licenciados ou autorizados por um único ente federativo.
Os demais entes federativos podem manifestar-se ao órgão responsável pela licença ou autorização,
54
de maneira não vinculante, respeitados os prazos e procedimentos do licenciamento ambiental
(lembre-se que a licença ambiental envolve estudo e avaliação, enquanto que a autorização os
dispensa, por ser a atividade considerada simples e de reduzido impacto ambiental).

O ente competente para licenciar é quem deve autorizar a supressão de vegetação


decorrente dos seus licenciamentos ambientais.

Prevê, ainda, o art. 13, § 3° da LC 140 que os valores alusivos às taxas de licenciamento
ambiental e outros serviços afins devem guardar relação de proporcionalidade com o custo e a
complexidade do serviço prestado pelo ente federativo

8.5.4. O LICENCIAMENTO AMBIENTAL DE ACORDO COM A LC Nº 140/11

Procedimento administrativo destinado a licenciar atividades ou


empreendimentos utilizadores de recursos ambientais, efetiva ou
LICENCIAMENTO potencialmente poluidores ou capazes, sob qualquer forma, de causar
degradação ambiental. Deve ser feito apenas por um ente, podendo os
demais se manifestar perante o órgão com atribuição.

Nenhuma parte deste material poderá ser reproduzida por qualquer meio ou forma sem a prévia autorização do Vorne Cursos,
sob pena de responsabilização civil e criminal (Lei 9.610/98 e CP).
Atividades ou empreendimentos:
a) localizados ou desenvolvidos conjuntamente no Brasil e em país
limítrofe;
b) localizados ou desenvolvidos no mar territorial, na plataforma
continental ou na zona econômica exclusiva;
c) localizados ou desenvolvidos em terras indígenas;
d) localizados ou desenvolvidos em unidades de conservação
instituídas pela União, exceto em Áreas de Proteção Ambiental (APAs);
LICENCIAMENTO e) localizados ou desenvolvidos em 2 (dois) ou mais Estados;
FEDERAL f) de caráter militar, salvo os previstos no preparo e emprego das Forças
(IBAMA) Armadas
g) os relativos à material radioativo ou energia nuclear; ou
h) que atendam tipologia estabelecida por ato do Poder Executivo, a
partir de proposição da Comissão Tripartite Nacional, assegurada a
participação de um membro do Conselho Nacional do Meio Ambiente
(Conama), e considerados os critérios de porte, potencial poluidor e
natureza da atividade ou empreendimento (ou seja, licenciar o que for
determinado por ato do Poder Executivo, por proposição da Comissão
Tripartite Nacional).
A competência para licenciamento pelo Estado é residual, cabendo-lhe
aquilo que não for conferido à União ou ao Município (art. 8º, XIV), in verbis:
a) (é ação administrativa do Estado) promover o licenciamento ambiental
de atividades ou empreendimentos utilizadores de recursos ambientais,
efetiva ou potencialmente poluidores ou capazes, sob qualquer forma, de
LICENCIAMENTO
causar degradação ambiental, ressalvado o disposto nos arts. 7o e 9o;
ESTADUAL
Cabe, ainda, ao Estado: 55
b) promover o licenciamento ambiental de atividades ou
empreendimentos localizados ou desenvolvidos em unidades de
conservação instituídas pelo Estado, exceto em Áreas de Proteção
Ambiental (APAs);
Atividades ou empreendimentos:
a) que causem ou possam causar impacto ambiental de âmbito local,
conforme tipologia definida pelos respectivos Conselhos Estaduais de
LICENCIAMENTO
Meio Ambiente, considerados os critérios de porte, potencial poluidor e
MUNICIPAL
natureza da atividade;
b) localizados em unidades de conservação instituídas pelo Município,
exceto em Áreas de Proteção Ambiental (APAs);
Ação do ente federado que substitui o outro ente que não tenha
ATUAÇÃO SUPLETIVA capacidade técnica de promover o licenciamento e fiscalização. A União
poderá substituir Estados, DF e Municípios. Os Estados, o Município.
ATUAÇÃO Apoio técnico, científico, administrativo ou financeiro dado por um ente,
SUBSIDIÁRIA após solicitação, ao originariamente detentor da atribuição.
A lei permite a delegação entre entes, via convênio, tanto das atribuições
POSSIBILIDADE DE
de licenciamento quanto de ações administrativas pontuais, desde que o
DELEGAÇÃO
delegado tenha órgão ambiental capacitado.
LICENCIAMENTO EM
Será feito pelo ente instituidor, exceto nas APA´s.
UC
LICENCIAMENTO EM
Dependerá da localização geográfica da APA.
APA
LICENCIAMENTO EM
Cabe ao órgão estadual (Novo Código Florestal)
APP

Nenhuma parte deste material poderá ser reproduzida por qualquer meio ou forma sem a prévia autorização do Vorne Cursos,
sob pena de responsabilização civil e criminal (Lei 9.610/98 e CP).
É atribuição comum de todos os entes. O que a lei faz é dispor que cabe
ao órgão responsável pelo licenciamento ou autorização lavrar auto de
FISCALIZAÇÃO infração, prevalecendo o seu ato em caso tal. Porém, nos casos de
iminência ou perigo de degradação, todos os entes podem/devem fazer
cessar ou mitigar o ato.

Observações Importantes

Para o licenciamento federal, há um critério geral, que é o da LOCALIZAÇÃO


GEOGRÁFICA do empreendimento ou atividade (e não mais do impacto ambiental), e dois
critérios suplementares: o da atividade (militar ou nuclear/radioativa) e o do ente instituidor
da unidade de conservação – instituída pela União, o licenciamento é de competência desse
ente (o art. 12 da LC nomeia expressamente esse critério, dizendo não se aplicar às APAs).
Destaca-se, entretanto, que há doutrinador que afirma que o critério da atividade é, na
verdade, ditado pela predominância do interesse (pois é, o tema é muito polêmico!).

Para o licenciamento estadual há dois critérios: o residual, que deve ser orientado pela
regra geral da lei, qual seja, o da localização geográfica do empreendimento ou atividade, e o
do ente instituidor da unidade de conservação – se instituída pelo Estado, é desse ente o
licenciamento na área (que não se aplica às APAs);
56
Para o licenciamento municipal há dois critérios: permanece o do impacto ambiental
local e o do ente instituidor das unidades de conservação (que não se aplica às APAs);

Note que, segundo a LC 140, quem vai definir o que é “impacto de âmbito local”, para
fins de licenciamento, é o Conselho Estadual de Meio Ambiente. Para Paulo de Bessa Antunes
(em palestra proferida no Recife em agosto/2012), isso é inconstitucional, pois órgão administrativo
do Estado estaria definindo competências municipais, o que viola a Constituição (definição de
competências no Estado Federal é atribuição da Constituição e não órgãos administrativos de um
único ente).

Observe que, ao estabelecer o critério da abrangência do impacto para o município, a LC,


implicitamente, admite a utilização desse critério para o Estado, já que, se o impacto superar área do
município, competirá ao Estado o licenciamento da atividade.

O licenciamento que compreenda, concomitantemente, área terrestre e marítima da zona


costeira só será atribuição da União se ato do Poder Executivo o definir, a partir de proposição da
Comissão Tripartite (União não quer se ocupar com pequenos empreendimentos, a exemplo de
pequenas barracas e aluguéis de bananas boat);

Nenhuma parte deste material poderá ser reproduzida por qualquer meio ou forma sem a prévia autorização do Vorne Cursos,
sob pena de responsabilização civil e criminal (Lei 9.610/98 e CP).
Em relação às APAs, temos uma regra diversa da do ente instituidor, que é a regra para as
unidades de conservação. A regra da LC 140 diz que quem institui a unidade de conservação deve
licenciar os empreendimentos na área, excetuando-se as APAs. No caso das APAs, o critério é a
regra geral da Lei Complementar para as demais atividades, ou seja, o da localização
geográfica do empreendimento ou atividade: no limite do município o impacto é local; em se
limitando ao estado a competência é estadual; em mais de um estado é federal. Simples, não?
Lembre-se, entretanto, que isso não exclui a competência da União em relação aos casos de sua
exclusividade (APA em país fronteira com país limítrofe, APA em terra indígena, mar territorial, zona
econômica exclusiva, atividades nucleares em APA...).

Segundo o Novo Código Florestal, o licenciamento em APPs cabe ao órgão estadual


do meio ambiente (arts. 10, 11-A, III e 26).

RESOLUÇÃO CONAMA Nº 237/97 LEI COMPLEMENTAR Nº 140/11


Critério Determinador da Atribuição
Principal: área de influência direta do Principal: localização geográfica do empreendimento
impacto ambiental (subjetividade). (objetividade).
Dominialidade. Outros: critério da atividade (apenas União) (para
atividade militar e com energia nuclear)
Definição por ato do Poder Executivo Federal
segundo proposta do Conselho Tripartite. 57
Ente instituidor de Unidade de Conservação.

8.5.5. DAS ESPÉCIES DE LICENÇA AMBIENTAL

A licença ambiental é outorgada de forma estanque, isolada ou sucessivamente para cada


momento da atividade ou do empreendimento, mas sempre de forma evolutiva e, em todos os casos,
exarados por atos administrativos autônomos (art. 8º, Resolução CONAMA nº 237/97).

O CONAMA pode editar Resoluções criando outras espécies de licenças ambientais ou


licenciamento ambiental simplificado. É inclusive o que dispõe os arts. 9º e 12, da Resolução
CONAMA 237/97, que permite que o CONAMA crie licenças ambientais específicas. É o caso da
Resolução CONAMA 23/94, que trata de procedimentos para o licenciamento das atividades de
exploração e lavra de jazidas de combustíveis líquidos e gás natural, e, no art. 5º cria a LICENÇA
PRÉVIA PARA PERFURAÇÃO - LPper. A Resolução CONAMA 279/2001 trata de licenciamento
ambiental simplificado de empreendimentos elétricos com pequeno potencial de impacto ambiental.
A Resolução CONAMA 377/2006, trata de licenciamento ambiental simplificado de sistemas de
esgotamento sanitário.

São espécies de licença ambiental (prevista na Resolução CONAMA nº 237/97):

Nenhuma parte deste material poderá ser reproduzida por qualquer meio ou forma sem a prévia autorização do Vorne Cursos,
sob pena de responsabilização civil e criminal (Lei 9.610/98 e CP).
a) Licença Prévia – LP: concedida na fase preliminar do planejamento do empreendimento
ou da atividade. Serve para atestar a viabilidade ambiental do projeto e aprovar a sua
concepção, estabelecendo os requisitos básicos e condicionantes a serem atendidos nas próximas
fases de sua implementação. Pode ou não ser precedida de EIA/RIMA, dependendo do impacto
ambiental a ser gerado pela atividade. Deve ser instruída com certidão da Prefeitura atestando a sua
compatibilidade com o uso do solo (conforme estabelecido no Plano Diretor). Não autoriza qualquer
alteração física no empreendimento proposto, tais como corte de árvores, aterros, obras.

b) Licença de Instalação – LI: autoriza a instalação do empreendimento ou atividade de


acordo com as especificações constantes dos planos, programas e projetos aprovados, incluindo as
medidas de controle ambiental e demais condicionantes, da qual constituem motivo determinante.
Permite, portanto, que o empreendedor passe a materializar o projeto aprovado. Se, todavia, o tipo
de empreendimento depender de algum equipamento para operar, estará condicionado à etapa
seguinte.

c) Licença de Operação – LO: autoriza a operação da atividade ou empreendimento após a


verificação do efetivo cumprimento do que consta das licenças anteriores, com as medidas de
controle ambiental e condicionantes determinantes para a operação.
58
PRAZOS

Licença Prévia: máximo de 5 anos.

Licença de Instalação: máximo de 6 anos.

Licença de Operação: mínimo de 4 e máximo de 10 anos.

A implementação pelo empreendedor dos requisitos da licença concedida não o faz ingressar
automaticamente na fase da licença posterior. Esta deve ser requerida e concedida de forma
autônoma.

Se preenchidos os requisitos exigidos pela Administração para a concessão de


determinada licença, ela estará vinculada à sua concessão.

Os Estados e Municípios poderão aumentar as modalidades de licenciamento, adicionar


exigências extras em cada fase de acordo com suas particularidades, mas não poderão estabelecer
exigências menos rígidas do que as previstas pela União.

Nenhuma parte deste material poderá ser reproduzida por qualquer meio ou forma sem a prévia autorização do Vorne Cursos,
sob pena de responsabilização civil e criminal (Lei 9.610/98 e CP).
Veja, no entanto, que com a LC nº 140/11, que definiu as atribuições de cada ente, poderá a
legislação local definir outra nomenclatura e outros tipos de licenças, visto que a esfera de atuação
de cada qual é bem diferenciada.

8.5.6. DO PROCEDIMENTO DE LICENCIAMENTO

O procedimento de licenciamento se inicia com o requerimento por escrito do empreendedor,


o qual poderá ser indeferido liminarmente quando lhe faltar capacidade processual, interesse ou
quando não for juntada a documentação exigida por lei.

A documentação essencial exigida é a Certidão da Prefeitura de que o local e o tipo de


empreendimento estão em conformidade com o plano de uso e ocupação do solo, além da
autorização para supressão de vegetação e outorga para uso de água, quando couber.

O requerimento será, então, publicado pelo órgão oficial, às expensas do interessado. Se as


exigências acerca do requerimento forem cumpridas, o órgão competente marcará, se necessária,
audiência pública; se desnecessária, prolatará parecer técnico conclusivo.

Após formalmente admitido o requerimento, deve ser emitido o parecer técnico conclusivo,
que é a opinião fundamentada e final feita pelo órgão ambiental competente, manifestando-se a favor 59
ou contra o pedido. Quando exigido, deverá ser prolatado, também, parecer jurídico, que se trata
da manifestação acerca da legalidade do pedido de licenciamento.

O parecer jurídico, diferentemente do parecer técnico, não é imprescindível. Somente


deverá ser emitido quando solicitado.

Após a prolação do parecer técnico, será deferida ou indeferida a licença ambiental. CASO O
ATO ADMINISTRATIVO DE CONCESSÃO OU NÃO DE LICENÇA SEJA CONTRÁRIO AOS
PARECERES, DEVERÁ HAVER A DEVIDA FUNDAMENTAÇÃO. Se não houver, o ato
administrativo será não motivado; logo, viciado e passível de controle administrativo e judicial.

8.5.7. PRAZO PARA SE FINDAR O PROCEDIMENTO DE LICENCIAMENTO

Art. 14 da Resolução nº 237/1997 do CONAMA:

Art. 14 - O órgão ambiental competente poderá estabelecer prazos de análise diferenciados


para cada modalidade de licença (LP, LI e LO), em função das peculiaridades da atividade
ou empreendimento, bem como para a formulação de exigências complementares, desde
que observado o prazo máximo de 6 (seis) meses a contar do ato de protocolar o
requerimento até seu deferimento ou indeferimento, ressalvados os casos em que
houver EIA/RIMA e/ou audiência pública, quando o prazo será de até 12 (doze) meses.

Nenhuma parte deste material poderá ser reproduzida por qualquer meio ou forma sem a prévia autorização do Vorne Cursos,
sob pena de responsabilização civil e criminal (Lei 9.610/98 e CP).
§ 1º - A contagem do prazo previsto no caput deste artigo será suspensa durante a
elaboração dos estudos ambientais complementares ou preparação de esclarecimentos
pelo empreendedor.

§ 2º - Os prazos estipulados no caput poderão ser alterados, desde que justificados e com
a concordância do empreendedor e do órgão ambiental competente.

Então, o licenciamento que comportar EIA/RIMA e/ou audiência pública tem prazo de 12
meses para finalizar. Quando não presentes estes instrumentos ambientais, se abrevia para 6
meses. Raramente elas respeitam este prazo, motivo pelo qual merece atenção o parágrafo primeiro
do art. 14.

É bom lembrar que esse licenciamento ambiental é um “vai e vem” danado. O empreendedor
pede algo, o Poder Público faz exigência, o empreendedor para e formula o EIA e o RIMA. Então,
quando o processo está com o empreendedor, esse prazo é paralisado, o processo volta, esse prazo
é retomado. Então, na verdade, é um ano contado apenas quando o processo está na mão do
Poder Público. Quando alguma fase do processo de licenciamento ambiental depender do
empreendedor, obviamente o prazo não é contado. Então não se pode falar em um ano corrido, mas
sim de um ano (ou seis meses) de trabalho do Poder Público em cima do licenciamento ambiental.
Pode parecer pouco, mas não é, um ano realmente é extremamente suficiente para tal. O grande
problema é a ineficiência administrativa.
60

Importante novidade trouxe a LC nº 140/11:

Art. 14. Os órgãos licenciadores devem observar os prazos estabelecidos para tramitação
dos processos de licenciamento.

[...] continua a fluir após o seu atendimento integral pelo empreendedor.

§ 3o O DECURSO DOS PRAZOS DE LICENCIAMENTO, SEM A EMISSÃO DA LICENÇA


AMBIENTAL, NÃO IMPLICA EMISSÃO TÁCITA NEM AUTORIZA A PRÁTICA DE ATO
QUE DELA DEPENDA OU DECORRA, MAS INSTAURA A COMPETÊNCIA SUPLETIVA
referida no art. 15.

[...]

Art. 15. Os entes federativos devem atuar em caráter supletivo nas ações administrativas
de licenciamento e na autorização ambiental, nas seguintes hipóteses:

I - inexistindo órgão ambiental capacitado ou conselho de meio ambiente no Estado ou no


Distrito Federal, a União deve desempenhar as ações administrativas estaduais ou distritais
até a sua criação;

II - inexistindo órgão ambiental capacitado ou conselho de meio ambiente no Município, o


Estado deve desempenhar as ações administrativas municipais até a sua criação; e

Nenhuma parte deste material poderá ser reproduzida por qualquer meio ou forma sem a prévia autorização do Vorne Cursos,
sob pena de responsabilização civil e criminal (Lei 9.610/98 e CP).
III - inexistindo órgão ambiental capacitado ou conselho de meio ambiente no Estado e no
Município, a União deve desempenhar as ações administrativas até a sua criação em um
daqueles entes federativos.

8.5.8. DO PROCEDIMENTO SIMPLIFICADO

Nem sempre a atividade para a qual se solicita o licenciamento é potencialmente


causadora de significativa degradação ambiental, podendo, em razão disso, as autoridades
competentes (federais, estaduais e municipais) flexibilizarem não só a sequência das licenças
(LP, LI e LO), liberando a realização de uma delas ou unindo duas, realizando dois atos apenas,
como também flexibilizar os estudos a serem exigidos.

O procedimento simplificado está previsto no art. 12, § 1º, da Resolução CONAMA nº 237/97,
podendo ser aplicado para os empreendimentos que tenham pequeno potencial de impacto
ambiental, desde que seja aprovado pelos Conselhos Ambientais.

Art. 12 [...]

§ 1º - Poderão ser estabelecidos procedimentos simplificados para as atividades e


empreendimentos de pequeno potencial de impacto ambiental, que deverão ser aprovados
pelos respectivos Conselhos de Meio Ambiente.
61
Na verdade, a Resolução não criou o procedimento em si, mas permitiu que os Conselhos
estaduais, municipais e federal o criassem.

8.5.9. DO PROCEDIMENTO UNIFICADO

Previsto no art. 12, § 2º, da Resolução CONAMA nº 237/97, é o procedimento único passível
de ser observado para diversos pequenos empreendimentos e atividades similares e vizinhas,
ou ainda, para aqueles integrantes de planos de desenvolvimento aprovados, previamente, pelo
órgão governamental competente, desde que definida a responsabilidade legal pelo conjunto de
empreendimentos ou atividades.

Art. 12 [...]

§ 2º - Poderá ser admitido um único processo de licenciamento ambiental para pequenos


empreendimentos e atividades similares e vizinhos ou para aqueles integrantes de
planos de desenvolvimento aprovados, previamente, pelo órgão governamental
competente, desde que definida a responsabilidade legal pelo conjunto de
empreendimentos ou atividades.

8.5.10. PRAZO DE VALIDADE E RENOVAÇÃO DAS LICENÇAS

Nenhuma parte deste material poderá ser reproduzida por qualquer meio ou forma sem a prévia autorização do Vorne Cursos,
sob pena de responsabilização civil e criminal (Lei 9.610/98 e CP).
Art. 18 - O órgão ambiental competente estabelecerá os prazos de validade de cada tipo de
licença, especificando-os no respectivo documento, levando em consideração os seguintes
aspectos:

I - O prazo de validade da Licença Prévia (LP) deverá ser, no mínimo, o estabelecido pelo
cronograma de elaboração dos planos, programas e projetos relativos ao empreendimento
ou atividade, não podendo ser superior a 5 (cinco) anos.

II - O prazo de validade da Licença de Instalação (LI) deverá ser, no mínimo, o estabelecido


pelo cronograma de instalação do empreendimento ou atividade, não podendo ser superior
a 6 (seis) anos.

III - O prazo de validade da Licença de Operação (LO) deverá considerar os planos de


controle ambiental e será de, no mínimo, 4 (quatro) anos e, no máximo, 10 (dez) anos.

§ 1º - A Licença Prévia (LP) e a Licença de Instalação (LI) poderão ter os prazos de validade
prorrogados, desde que não ultrapassem os prazos máximos estabelecidos nos incisos I e
II

§ 2º - O órgão ambiental competente poderá estabelecer prazos de validade específicos


para a Licença de Operação (LO) de empreendimentos ou atividades que, por sua natureza
e peculiaridades, estejam sujeitos a encerramento ou modificação em prazos inferiores.

§ 3º - Na renovação da Licença de Operação (LO) de uma atividade ou empreendimento, o


órgão ambiental competente poderá, mediante decisão motivada, aumentar ou diminuir o
seu prazo de validade, após avaliação do desempenho ambiental da atividade ou
empreendimento no período de vigência anterior, respeitados os limites estabelecidos no 62
inciso III.

§ 4º - A renovação da Licença de Operação(LO) de uma atividade ou empreendimento


deverá ser requerida com antecedência mínima de 120 (cento e vinte) dias da expiração de
seu prazo de validade, fixado na respectiva licença, ficando este automaticamente
prorrogado até a manifestação definitiva do órgão ambiental competente.

As licenças ambientais não possuem prazos de validade ilimitados, devendo elas ser
renovadas periodicamente. Os prazos são os seguintes:

Licença Prévia: máximo de 5 anos.

Licença de Instalação: máximo de 6 anos.

Licença de Operação: mínimo de 4 e máximo de 10 anos.

Entretanto, poderá o órgão ambiental competente estabelecer prazo inferior ao mínimo


para a Licença de Operação, caso a atividade ou empreendimento, por sua natureza e
peculiaridade, estiverem sujeitos a encerramento ou modificação em prazos inferiores.

Quanto à renovação, esta poderá ser feita por prazo inferior ou superior ao previamente
concedido pelo órgão ambiental, desde que seja por decisão motivada em que se verifique o
desempenho ambiental da atividade exercida durante a vigência da licença anterior.

Nenhuma parte deste material poderá ser reproduzida por qualquer meio ou forma sem a prévia autorização do Vorne Cursos,
sob pena de responsabilização civil e criminal (Lei 9.610/98 e CP).
Ela deverá ser requerida em até 120 dias antes do final do prazo de validade da licença
que se quer renovar. Caso obedecida essa regra, até que sobre ela se decida o órgão ambiental,
ficará automaticamente prorrogada LC nº 140/11:

Art. 14. Os órgãos licenciadores devem observar os prazos estabelecidos para tramitação
dos processos de licenciamento.

[...]

§ 4o A renovação de licenças ambientais deve ser requerida com antecedência mínima


de 120 (cento e vinte) dias da expiração de seu prazo de validade, fixado na respectiva
licença, ficando este automaticamente prorrogado até a manifestação definitiva do órgão
ambiental competente.

LICENÇAS AMBIENTAIS – ALGUNS PRAZOS


Prazo de Validade (Resolução CONAMA 237/97)
Licença Prévia Máximo de 05 anos.
Licença de Instalação Máximo de 06 anos.
Mínimo de 04 e máximo de 10 anos, podendo ser
Licença de Operação
modificado de acordo com a atividade.
A renovação de licenças ambientais deve ser requerida com antecedência mínima de 120
(cento e vinte) dias da expiração de seu prazo de validade, fixado na respectiva licença,
ficando este automaticamente prorrogado até a manifestação definitiva do órgão ambiental
competente (LC nº 140/11, art. 11. § 4º). 63
Prazo de Análise da Emissão de Licença (Resolução CONAMA 237/97)
Se houver EIA/RIMA ou audiência pública 12 meses para cada licença
Se não houver 06 meses para cada licença
O não atendimento desses prazos não implica em licenciamento tácito, mas instaura a
competência supletiva do art. 15 (LC nº 140/11)

8.5.11. CANCELAMENTO, SUSPENSÃO E REVOGAÇÃO DAS LICENÇAS

A posição majoritária hoje, em que pese acima tenha sido dito sobre natureza de
autorização, é enxergar a licença ambiental como uma licença realmente; uma licença
abraçada por características próprias de um ramo do direito. Uma licença que, em razão de
princípios, precisa ter um prazo de validade, e enquanto a validade estiver em andamento, ela
está licenciada.

Se o empreendedor recebe uma licença de operação por dez anos, o Poder Público só pode
fazer qualquer tipo de alteração passado o prazo de dez anos, quer dizer, não se lhe permite fazer
uma reavaliação a qualquer hora; se assim pudesse, seria autorização. Se ele recebe um prazo de
operação por seis anos, qualquer nova tecnologia tem que esperar o prazo de seis anos para ser
exigível, ou então deve o Poder Público negociar, tendo que convencer o empresário a já fazer uso
de uma nova tecnologia, o que obviamente é perfeitamente possível. Mas, enquanto a licença está
funcionando, ela tem a natureza de licença, não se podendo alterar o que foi definido. Então ela está

Nenhuma parte deste material poderá ser reproduzida por qualquer meio ou forma sem a prévia autorização do Vorne Cursos,
sob pena de responsabilização civil e criminal (Lei 9.610/98 e CP).
licenciada, que é a posição esmagadora no direito ambiental. É uma licença com prazo determinado,
mas enquanto o prazo estiver em andamento, a atividade está licenciada, não é autorização, não
admitindo revogação a qualquer momento.

Pergunta: é possível, se no meio do empreendimento ficar constatado que ele é agressivo,


que a licença seja cancelada?

O órgão ambiental competente, mediante decisão motivada, poderá modificar os


condicionantes e as medidas de controle e adequação, suspender ou cancelar uma licença
expedida, quando ocorrer (art. 19, I, II, III, Resolução CONAMA nº 237/97):

a) Violação ou inadequação de quaisquer condicionantes ou normas legais;

b) Omissão ou falsa descrição de informações relevantes que subsidiaram a expedição da


licença;

c) Superveniência de graves riscos ambientais e de saúde.

Entretanto, sempre deverá ser obedecido o devido processo administrativo para impor
o gravame ao empreendedor, sendo este uma garantia constitucional, cláusula pétrea e direito
fundamental.
64

A jurisprudência do STF (RE 105634) e do STJ (REsp 103298/PR) vem realizando distinção
sobre o cabimento ou não de indenização em razão da revogação de licença conforme o estado das
obras. Assim, na hipótese de concessão de licença prévia, em que ainda não se cogita do início
das obras, não caberia qualquer indenização diante da revogação da licença, porquanto o
titular teria mera expectativa de direito quanto à futura instalação e operação da atividade.

Comumente as normas locais estabelecem prazo para aprovação do projeto e de validade do


alvará de licença para início e conclusão da obra. Quanto à caducidade da licença, opera-se ao final
do prazo para início da obra se esta não estiver começada, nos termos definidos pelo Código de
Obras, que poderá também fixar limites de tempo para sua conclusão. Vencidos estes prazos, a
licença perde sua eficácia, devendo ser requerida sua renovação. Pode surgir, então, o problema
das normas supervenientes. Se ao tempo da renovação do alvará a legislação for a mesma de
sua expedição, nada obsta ao atendimento do pedido; se, porém, a legislação for outra, o
requerente terá que adaptar o projeto ou a construção inconclusa às novas normas, pois a
caducidade do alvará faz perecer o direito que ele lhe assegurava pela legislação anterior.

O início da obra gera direito adquirido à sua continuidade pela legislação em que foi
aprovado o projeto, e, mais que isso, o só ingresso do projeto em conformidade com a legislação
Nenhuma parte deste material poderá ser reproduzida por qualquer meio ou forma sem a prévia autorização do Vorne Cursos,
sob pena de responsabilização civil e criminal (Lei 9.610/98 e CP).
vigente assegura ao requerente a sua aplicação. Todavia, se houver prazo legal para a conclusão
da obra e esta, embora aprovada e iniciada tempestivamente, não se concluir na vigência da licença,
o primeiro alvará somente poderá ser renovado com adaptação da construção às novas imposições
legais.

8.5.12. A LICENÇA CONFERE DIREITO ADQUIRIDO?

Uma vez obtida regularmente licença ambiental para a prática de determinada atividade, é
possível dizer que o beneficiário do ato possui direito adquirido à execução da atividade licenciada?

O questionamento veiculado é objeto de séria divergência doutrinária. A celeuma talvez


tenha surgido em razão de a licença, no âmbito do Direito Administrativo, constituir ato vinculado, de
modo que, uma vez preenchidos os requisitos dispostos objetivamente na lei, o interessado possui
direito à expedição do ato, o qual não poderá ser revogado pela autoridade administrativa
concedente, já que não haveria espaço para considerações no que concerne à conveniência e
oportunidade de sua manutenção. Ou se estão presentes seus requisitos e a licença deve ser
expedida (mantida), ou não estão e ela deve ser negada (ou anulada, caso concedida ilegalmente).

Ocorre que na seara do Direito Ambiental cuidamos de bens jurídicos de natureza


distintas daqueles pertinentes ao Direito Administrativo, o que faz com que os atos aqui
65
ostentem peculiaridades próprias. A licença ambiental, por exemplo, possui a finalidade de
autorizar a prática de atividades potencialmente poluidoras, impondo-se, se for o caso,
condicionamentos para sua efetivação válida.

Com efeito, na literalidade do art. 1º, II, da Resolução CONAMA nº 237/97, licença ambiental
é o “ato administrativo pelo qual o órgão ambiental competente estabelece as condições, restrições
e medidas de controle ambiental que deverão ser obedecidas pelo empreendedor, pessoa física ou
jurídica, para localizar, instalar, ampliar e operar empreendimentos ou atividades utilizadoras dos
recursos ambientais consideradas efetiva ou potencialmente poluidoras ou aquelas que, sob
qualquer forma, possam causar degradação ambiental”.

Pois bem, presentes os princípios da intangibilidade e imprescritibilidade do bem


ambiental, além dos princípios da prevenção e da precaução, entende-se que a licença
ambiental sempre é concedida de forma precária, com uma implícita cláusula rebus sic
stantibus.

ASSIM, SEJA EM RAZÃO DO APRIMORAMENTO DAS TÉCNICAS DE INVESTIGAÇÃO,


SEJA EM FUNÇÃO DE UMA SIMPLES REANALISE DO CASO, UMA VEZ CONSTATADO NÃO
SER MAIS AMBIENTALMENTE ACONSELHÁVEL A MANUTENÇÃO DA LICENÇA (OU DA
Nenhuma parte deste material poderá ser reproduzida por qualquer meio ou forma sem a prévia autorização do Vorne Cursos,
sob pena de responsabilização civil e criminal (Lei 9.610/98 e CP).
MANUTENÇÃO NA FORMA COMO CONCEDIDA), PODERÁ A ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA
AMBIENTAL REVOGAR O ATO, sem que o licenciado possa invocar direito adquirido.

A corroborar esse entendimento, pode-se invocar o fato de o inciso IV do art. 9º da Lei nº


6.938/81 dizer que são instrumentos da Política Nacional do Meio Ambiente o licenciamento e a
revisão de atividades efetiva ou potencialmente poluidoras, além do que vem disposto no art. 19 da
retromencionada resolução do CONAMA.

Sobre o assunto, traz-se à baila a lição de dois renomados autores.

Para ÉDIS MILARÉ:

“A licença ambiental não assegura ao seu titular a manutenção do status quo vigorante ao
tempo de sua expedição, sujeita que se encontra a prazos de validade, obrigando à
renovação com exigências superveniente à vista do estado da técnica, cuja evolução é
rapidíssima, e da própria alteração das características ambientais de determinada época e
de determinado local.”

Já para FREDERICO AUGUSTO DI TRINDADE AMADO:

“Pode ocorrer que a licença ambiental tenha o regime jurídico similar ou idêntico ao da
autorização administrativa, em razão da possibilidade de alteração ulterior do interesse
ambiental, da certa margem de discricionariedade e da presença constante de conceitos 66
abertos na legislação ambiental (conceitos jurídicos e ajurídicos indeterminados), muitos
ligados a outras ciências (como não poderia deixar de ser, dado o caráter multidisciplinar
do Direito Ambiental), a exemplo da biologia, engenharia florestal e oceanografia. (...) Mas
é certo que a licença ambiental não gera direito adquirido ao seu titular, podendo a
qualquer momento ter o seu regime jurídico alterado, a exemplo da incidência de
nova legislação mais restritiva, ou da descoberta de impactos negativos não
previstos anteriormente. Ou seja, inexiste direito adquirido de poluir.”. (in Direito Ambiental
Esquematizado, Editora Método).

Outra questão bastante discutida na doutrina e na jurisprudência é de saber se a revogação


da licença ambiental geraria direito à indenização em favor do licenciado.

Sobre o ponto valemo-nos novamente dos ensinamentos FREDERICO AUGUSTO DI


TRINDADE AMADO, com os quais concordamos:

“Questão polêmica é a necessidade de indenização da entidade licenciante ao licenciado,


na hipótese de revogação do ato, pois normalmente o agente econômico investe no
empreendimento, sendo que a alteração do regime jurídico de sua licença que o mesmo
não concorreu para ocorrer. Pensa-se que o empreendedor tem plena noção dos riscos de
sua atividade, especialmente as mais impactantes, sendo descabida, em regra, a
indenização pela revogação da licença ambiental, salvo quando sua causa
determinante puder ser imputada diretamente à Administração Pública Ambiental. (...)
Em todas as hipóteses de reparação pecuniária ao empreendedor, entende-se ser cabível
a reparação dos danos emergentes, apenas os diretos e imediatos, mas não dos lucros
cessantes, haja vista o caráter temporário da licença ambiental.” (in Ob. Cit).

Nenhuma parte deste material poderá ser reproduzida por qualquer meio ou forma sem a prévia autorização do Vorne Cursos,
sob pena de responsabilização civil e criminal (Lei 9.610/98 e CP).
8.5.13. CASOS DE RETIRADA DA LICENÇA AMBIENTAL

Hipóteses previstas na Resolução CONAMA nº 237/97:

RETIRADA DE LICENÇA AMBIENTAL


É a retirada temporária da licença, quando houver possibilidade de adequação
da atividade. Ocorre nos casos de suspeita de risco ambiental grave, mesmo
SUSPENSÃO
que superveniente ao licenciamento, e quando for identificada irregularidade não
tão grave no licenciamento.
É retirada definitiva, que ocorre por irregularidade na concessão da licença
ANULAÇÃO ambiental, que desconsiderou os preceitos legais. Omissão ou falsidade de
informações relevantes que servirem para fundamentar a expedição da licença.
Irregularidade posterior à concessão da licença ambiental, em razão do
CASSAÇÃO
descumprimento das condicionantes ou da legislação ambiental.
REVOGAÇÃO Superveniência de graves riscos para o meio ambiente e para a saúde pública.

Em havendo circunstância superveniente que implique a suspensão ou a retirada da licença


ambiental, sem que o empreendedor tenha dado causa a elas, ele faz jus ao ressarcimento de seu
investimento, bem como aos lucros cessantes e perdas e danos. Caso contrário, a hipótese
representaria verdadeiro confisco. Basta lembrar que o Estado responde por dano provocado até por
ato lícito.

8.5.14. LICENCIAMENTO E CRIME AMBIENTAL 67


O art. 60, da Lei nº 9.605/98, estabelece ser crime

“Construir, reformar, ampliar, instalar ou fazer funcionar, em qualquer parte do território


nacional, estabelecimentos, obras ou serviços potencialmente poluidores, sem licença ou
autorização dos órgãos ambientais competentes, ou contrariando as normas legais e
regulamentares pertinentes”.

Trata-se de crime de perigo abstrato, formal, já que não exige efetiva poluição ao meio
ambiente.

8.5.15. LICENCIAMENTO AMBIENTAL E CADASTRO TÉCNICO FEDERAL DE ATIVIDADES


POTENCIALMENTE POLUIDORAS

Esse Cadastro Técnico foi criado pela Lei nº 7.804/89, que inseriu o art. 9º, XII, da Lei nº
6.938/81.

Esse registro deve ser feito para que a União possa acompanhar as atividades
potencialmente poluidoras e aquelas utilizadoras da fauna e da flora, não se confundindo com o
licenciamento ambiental. Assim, ele não confere qualquer direito ao registrado.

Somente devem ser registradas as atividades previstas na legislação.

Nenhuma parte deste material poderá ser reproduzida por qualquer meio ou forma sem a prévia autorização do Vorne Cursos,
sob pena de responsabilização civil e criminal (Lei 9.610/98 e CP).

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