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As pessoas fazem sexo pensando fazer amor

Janice Mansur
Remonta a longa data o sofrimento por amor. Já no século XII, os trovadores da
Península Ibérica, escreveram, em galego-português, as cantigas de amor que falavam da
“coita” (esse sofrimento ou mal que dele advém), trazendo à tona a estética do lirismo
provençal, na qual a “coita” era gerada pela não correspondência do ser amado ou
sublimação do amor à maneira cortês. Segundo o dicionário Aurélio eletrônico, coita
também pode significar “pena, dor, aflição; desgraça”. Daí, a palavra “coitado” designar
aquele ser digno de pena. Destinado à dor que sobrevem do amor não correspondido, o
coitado torna-se um sofredor.
Dizem que o prazer e a dor são os lados de uma mesma moeda, por isso queremos
enfocar um assunto pouco discutido em alguns aspectos e que, por vezes, nos causa tanta
dor: a traição. Existem diversas formas de se trair alguém, mas vamos tratar aqui da traição
entre pessoas que se relacionam seriamente, isto é, que resolveram manter um compromisso
comum para suas vidas, independentemente de seres elas heterossexuais.
Algumas pessoas traem o ente amado, seja por motivos “justificáveis” ou por
“esporte”, vício de mudar de parceiros, mesmo já tendo um. Outras não – para estas o que
digo não fará qualquer diferença em suas vidas. Tive um grande amigo que era mestre na
segunda modalidade. Ele era casado, dizia-se feliz, boa esposa, filhos ótimos,
profissionalmente resolvido, estável financeiramente, porém fazia “seus biscates”
regularmente a fim de mudar “de cardápio”. Sua esposa descobrira um relacionamento
extraconjugal de 10 anos que ele negara. Depois vieram outros menores. E, quando pego
em flagrante, ele dizia ser “sem importância”, caso contrário, negava até a morte. Ela,
enfarou-se e desquitou-se (à época). Ele ficou com a última vítima, que depois de tomar
alguns trompaços, resolveu pagar-lhe na mesma moeda. Enfim, o garanhão acabou sozinho
e infeliz.
Outra história menor é a de uma mulher que não se sentia correspondida. Seu
marido era um homem que tinha suas vontades, tinha vida própria, até saudável, dentro da
relação. Gostava de fazer trilha, ler livros, de mexer no computador, de se informar, se
atualizar, de ver filmes. Ela era “dona de casa”, apesar de ter feito um curso técnico
(aceitou a proposta de não ir trabalhar, “ganharia pouco”); cuidava da filha e ia às festinhas
da família; quase nada mais. Um dia, começou a flertar com uma outra pessoa que queria o
tão cobiçado: sexo. Deixou-se levar, foi descoberta e ficou sem marido, desempregada e
com o outro, em situação pior ou igual à dela. Por essas e por outras, digo que as pessoas
fazem sexo pensando fazer amor.
Nem sempre as histórias de infidelidade acabam assim! – me dirão os “puladores de
cerca” de plantão. Claro, às vezes os “pulinhos” não são descobertos...ah, que alívio!
Noutras são boas formas de matar o tempo ou melhorar a relação “oficial” desgastada...ah,
muito bom! Pode resgatar a auto-estima de alguém que se sinta indesejado, pode fazer um
dos parceiros sentirem-se o Brad Pitt ou a Angelina Jolie, ou até fazer a relação antiga
acabar-se em definitivo e ser construída outra melhor,...o que seria bom. Resta somente
uma dúvida: será que se consegue ser feliz assim? Desfazendo-se do outro de maneira tão
objetal? Se você consegue, ótimo, então vá em frente! Mas se parou para pensar em tudo o
que disse até aqui, pode pensar em mudanças, não é?
Coitados de nós...A traição não é feita ao outro, mas a nós mesmos; a nossos
princípios. Algumas emoções feridas ou recalcadas entram em jogo, e esquecemos de que o
amor não pode ser negociado com a barganha da troca: eu lhe dou sexo, você me dá amor.
As pessoas traem pelos motivos mais variados, justificar-se é normal ao ser humano. Mas a
maioria trai à busca de amor e, geralmente, encontra dor e sofrimento. É necessário não
trair? Claro que não! Trai quem quer e fica a critério de cada um! O que quero lembrar é
que nem sempre “sexo gostoso”, faz alguém amar você. Se procura ser amado, não traia
nem se deixe ser traído. Primeiro valorize-se, ame-se. Evite sofrer.

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* Janice Mansur é graduada em Letras, especializada em produção textual pela UFF; poeta premiada,
professora, consultora e revisora. Escreve para jornais e revistas e trabalha para algumas editoras.

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