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CAP6 REF 2015 v1 PDF
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6.1. Introdução
O sistema de um estágio de compressão mecânica visto até agora, é adequado para operar
quando as relações entre as temperaturas do condensador e do evaporador são relativamente
pequenas, entre 50 e 60 °C. Inúmeras aplicações exigem diferenciais de temperaturas maiores
como, por exemplo:
(a) (b)
Pela observação da Fig. 6.1, fica evidente que, à medida que a temperatura do evaporador
diminui ou que a temperatura no condensador sobe:
(a) (b)
Figura 6.3. Processo de resfriamento intermediário representado em (a) um diagrama pxv e (b)
um diagrama pxh.
Considerando o processo de compressão isentrópico, como descrito na Fig. 6.3 (b) pelas
linhas 1-2-2’ e 3-4, pode ser verificado pela análise das linhas de entropia constante do
refrigerante que:
Figura 6.4. Processo de resfriamento intermediário com trocador de calor resfriado a água.
Refrigeração Capítulo 6 Pág. 4
(a) (b)
Nesse processo, a temperatura do vapor pode ser reduzida até a temperatura de saturação,
dependendo da quantidade de líquido injetado. Uma importante questão é como a injeção de
líquido afeta o coeficiente de performance do ciclo uma vez que o refrigerante líquido utilizado
para o desuperaquecimento é aparentemente perdido uma vez que não produzirá efeito de
refrigeração no evaporador.
Para analisar esse efeito considera-se a parte do ciclo 1-2-3-4-5 com a 1-2-4’-5, onde não
há desuperaquecimento, ambas apresentadas na Fig. 6.5(b). O primeiro estágio de ambos é igual,
com um processo de compressão adiabático e reversível desde o estado 1 até o estado 2.
Considera-se que a vazão mássica em ambos é igual, fornecendo a mesma capacidade de
refrigeração no evaporador.
Para o segundo estágio com desuperaquecimento há um incremento da massa de vapor,
devido a injeção de refrigerante, que deverá ser comprimida.
Essa taxa de massa extra pode ser determinada através de um balanço de energia no ponto
de mistura, conforme a Fig. 6.6. Considerando que o local da mistura seja completamente isolado
do meio externo, o balanço de energia é dado pela Eq. 6.2.
Refrigeração Capítulo 6 Pág. 5
m& 3
h3
h6
m& 6
h2
m& 2
e considerando que h6 = h5, os termos da Eq. 6.2 podem ser divididos por m& 2 , resultando na Eq.
6.3. Deve ser notado que m& 1 = m& 2 .
Como:
m& 3 m& 6
m& 3 = m& 6 + m& 2 e dividindo por m& 2 → = +1 (6.4)
m& 2 m& 2
Fazendo:
m& 6 m&
y= e então 3 = (1 + y ) (6.5)
m& 2 m& 2
onde y é a fração da massa de líquido injetada em relação à massa que circula no evaporador
e (1+y) a fração de massa que passa pelo compressor do segundo estágio em relação à massa
que passa pelo compressor do primeiro estágio. Introduzindo essa equação na Eq. 6.3, resulta na
Eq. 6.6.
(h2 − h3 )
h2 − h3 = y (h3 − h5 ) → y = (6.7)
(h3 − h5 )
Como
h5 h2 yh5 + h2
(1 + y ) = y + = (6.8)
h3 h3 h3
Refrigeração Capítulo 6 Pág. 6
h2 − h3 h2 h5 − h3 h5 + (h3 − h5 )h2 h2 h5 − h3 h5 + h2 h3 − h2 h5
h5 + h2
h3 − h5 h3 − h5 h3 − h5
(1 + y ) = = = (6.9)
h3 h3 h3
h2 h3 − h3 h5 h3 (h2 − h5 ) (h2 − h5 )
(1 + y ) = = = (6.10)
(h3 − h5 )h3 h3 (h3 − h5 ) (h3 − h5 )
Considerando uma vazão mássica unitária circulando pelo evaporador, o deslocamento
volumétrico através do compressor do segundo estágio do ciclo 1-2-3-4-5 será proporcional a
(1+y)v3 e para o ciclo 1-2-4’-5 será proporcional a (1.v2), onde v3 e v2 são os volumes específicos
na sucção dos compressores.
O deslocamento volumétrico através do compressor do segundo estágio do ciclo com
desuperaquecimento será menor do que o do ciclo sem desuperaquecimento se:
isso é, se
(h2 − h5 ) (h − h5 ) (h3 − h5 )
v3 < v 2 ⇒ 2 < (6.12)
(h3 − h5 ) v2 v3
Como fica evidente pela análise da Fig. 6.1(a), à medida que a temperatura do evaporador
diminui para uma temperatura de condensação constante, a irreversibilidade associada ao
processo de expansão aumenta. Também pode ser verificada que a fração de vapor na saída do
dispositivo de expansão torna-se elevada, isso é, o título na entrada do evaporador aumenta. Esse
vapor formado no processo de estrangulamento, chamado “vapor de flash”, promove a redução
da temperatura do refrigerante ao passar pelo dispositivo de expansão, absorvendo a entalpia de
vaporização. No entanto, sua função no evaporador pouco ou nada contribui para a troca térmica,
pois já se encontra na fase vapor e, além disso, incrementa a perda de pressão (carga) no
evaporador e deve ser recomprimido outra vez até a pressão do condensador, consumindo
trabalho.
Uma forma de reduzir a irreversibilidade do processo de expansão é realizar uma
expansão fracionada.
Refrigeração Capítulo 6 Pág. 8
Uma forma de aumentar o COP do sistema é remover o vapor de flash tão logo seja
formado, evitando sua entrada no evaporador. Como a remoção contínua desse vapor é um
processo difícil de ser realizado, opta-se por fazer uma remoção de vapor a uma pressão
intermediária, utilizando um tanque de “flash”, chamado aqui de tanque separador de líquido.
A eliminação deste vapor é realizada então através de uma expansão desde a pressão do
condensador até uma pressão intermediária onde este vapor é separado do líquido no tanque
separador sendo conduzido, em seguida, a um segundo compressor (de alta) evitando assim sua
passagem no evaporador. Na prática usa-se um sistema tal como o esquematizado na Fig. 6.8.
Neste tanque, o líquido saturado, na pressão de condensação (estado 5), proveniente do
condensador, é estrangulado pela válvula de expansão até uma pressão intermediária
correspondente ao estado 6, sendo então recolhido no tanque, chamado de separador de líquido.
Esta válvula de expansão, tipo boia, é controlada pelo nível de líquido no tanque. O líquido é
separado do vapor e dirigido ao segundo dispositivo de expansão, onde sua pressão será reduzida
até aquela do evaporador (estado 8). O vapor separado no tanque é enviado ao compressor de alta
(estado 3) e comprimido desde a pressão intermediária até a de condensação (estado 4).
(a) (b)
Figura 6.8. Representação esquemática (a) de um ciclo de refrigeração de dois estágios com
remoção de vapor de flash e (b) sua representação em um diagrama pxh.
A capacidade de refrigeração do evaporador, Q& E , pode ser determinada pela Eq. 6.14.
ou, conhecendo essa capacidade, determinar a taxa de massa no evaporador pela Eq. 6.15.
Q& E
m& 1 = (6.15)
(h1 − h8 )
Fazendo um balanço de massa e energia no tanque separador de líquido (SL), conforme
esquema mostrado na Fig. 6.10, obtém-se as seguintes relações:
e resolvendo
m& 7 (h5 − h6 )
= (6.20)
m& 1 (h7 − h5 )
m& h + m& 7 h7
h3 = 1 2 (6.22b)
m& 3
h1 − h8
(6.23)
h1 − h5
Essa relação difere significativamente entre os refrigerantes. Para dar um exemplo, a Tab.
6.1 mostra alguns valores, considerando uma temperatura de vaporização de Te = -40 °C, uma
temperatura intermediária no separador igual à Tint = -5 °C e uma temperatura de condensação,
Tc = 35 °C. Estados de saturação são assumidos nos pontos 1 e 7.
TC + TE
Ti = (6.24)
2
A pressão média geométrica, dada pela Eq. 6.25, utilizada para determinar a pressão
intermediária para minimizar o trabalho de compressão em sistemas de dois estágios,
considerando um gás ideal com resfriamento completo, subestima a pressão ótima para gases
reais no ciclo Economizer.
Pi = PC PE (6.25)
(a) (b)
Figura 6.11. Ciclo combinado com expansão fracionada e resfriamento intermediário (a) e sua
representação em um diagrama pressão vs. entalpia (b).
m& 3
h3
h6
m& 6 m& 2
h2
h7
m& 7
Q& E
m& 1 = (6.27)
(h1 − h8 )
Fazendo um balanço de energia no tanque separador/resfriador intermediário, considerado
como adiabático, obtém-se a Eq. 6.28.
Como
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m& 3 (h2 − h7 )
= (6.33)
m& 1 (h3 − h6 )
As taxas de deslocamento dos compressores dos estágios de baixa, V&1 , e alta, V&3 , são
calculadas através da Eq. 6.34, conforme já demonstrado no Cap. 2 na Eq. 2.18.
As potencias dos compressores de alta, W& comp ,1 e baixa, W& comp ,2 , considerando processos
de compressão isentrópicos, são das pela Eq. 6.36.
Para minimizar o consumo de energia nos sistemas de duplo estágio de compressão deve-
se selecionar adequadamente a pressão intermediária. Para sistemas de compressão de ar ou de
gases ideais, a pressão intermediária ótima é dada pela Eq. 6.25, repetida a seguir, representando
a média geométrica entre as temperaturas de condensação e de vaporização.
Pi = PC PE (6.38)
Para sistemas de refrigeração, a Eq. 6.38 não é necessariamente correta uma vez o
resfriamento intermediário envolve o efeito da refrigeração adicional (que não utiliza um meio
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externo de resfriamento), o que não ocorre em um sistema de compressão de ar. Isso fica
evidente ao analisar-se a Fig. 6.13, onde é apresentada a diferença entre a pressão intermediária
calculada pela Eq. 6.38 e a pressão intermediária ótima.
Baseado nisso, outras equações foram propostas para corrigir essa pequena diferença,
como por exemplo, a Eq. 6.39.
Contudo, para aplicações práticas essa discussão é relativizada uma vez que a escolha da
pressão (ou temperatura) intermediária é determinada por outros fatores, como por exemplo, a
necessidade de refrigeração em alguma temperatura intermediária ou pelas capacidades
disponíveis dos compressores comerciais. Sendo assim, pode-se utilizar a Eq. 6.38.
Um aspecto importante que deve ser lembrado é que o subresfriamento intermediário
utilizando o líquido na pressão intermediária no tanque de resfriamento não reduz
necessariamente o trabalho de compressão para todos os refrigerantes. Isso vem do fato que o
calor rejeitado no tanque de resfriamento pelo vapor que está sendo resfriado gera vapor
adicional nesse tanque que será comprimido pelo compressor no estágio de alta pressão. Esse
incremento de massa de refrigerante aumentará a potência mecânica necessária. Para que haja
economia de energia pela introdução do resfriamento intermediário é necessário que a redução do
trabalho específico de compressão (variação de entalpia) compense o aumento de massa de
refrigerante que será comprimida. Ou seja, depende claramente das características de cada
refrigerante.
Uma solução para esse problema é substituir o tanque separador por um trocador de calor,
onde o líquido proveniente do condensador é subresfriado pela vaporização de parte do
refrigerante na pressão intermediária, como mostrado na Fig. 6.14.
Como
Ordenado os termos dessa equação, obtém-se a Eq. 6.43, que representa a relação entre a
taxa de massa do compressor de alta, m& 3 , e a taxa de massa do compressor de baixa, m& 1 .
m& 3 (h2 − h6 )
m& 3 (h3 − h5 ) = m& 1 (h2 − h6 ) = = (6.43)
m& 1 (h3 − h5 )
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A taxa de massa do compressor de baixa, m& 1 , é a mesma que passa pelo evaporador,
sendo determinada a partir da capacidade de refrigeração do sistema, conforme a Eq. 6.44.
Q& E
m& 1 = (6.44)
(h1 − h6 )
As taxas de deslocamento dos compressores dos estágios de baixa, V&1 , e alta, V&3 , são
calculadas através da Eq. 6.45, conforme já demonstrado no Cap. 2 na Eq. 2.18.
As potencias dos compressores de alta, W& comp ,1 e baixa, W& comp ,3 , considerando processos
de compressão isentrópicos, são das pela Eq. 6.47.
Outra forma de tratar o ciclo da Fig. 6.14 está baseada na ideia que a mesma transferência
de calor e trabalho seria produzida se todo o sistema fosse substituído por dois ciclos em série,
como um sistema em cascata, onde os dois ciclos tivessem o mesmo refrigerante. No circuito de
baixa temperatura, o efeito de refrigeração específico é (h1 – h6) e a capacidade de refrigeração
igual a m& 1 (h1 − h6 ) . Para desuperaquecer e condensar o vapor no circuito de baixa temperatura, a
taxa de transferência de calor de m& 1 (h2 − h6 ) é necessária, e pode ser considerada como uma
carga térmica no circuito de alta temperatura, o qual opera com um efeito de refrigeração
específico igual a (h3 – h5) e uma capacidade de refrigeração igual a m& 3 (h3 − h5 ) .
Consequentemente, conforme a Eq. 6.49
Existem diversos métodos de alimentar o evaporador com o fluido refrigerante, que são
descritos como:
Refrigeração Capítulo 6 Pág. 17
Figura 6.15. Esquema de um sistema com recirculação de líquido para atender o evaporador.
Figura 6.16. Esquema de um sistema com recirculação forçada de líquido para atender os
evaporadores.
Resolvendo essa expressão para a taxa de massa que circula do compressor de primeiro
estágio (ou baixa), chega-se na Eq. 6.53:
m& 1 (h10 − h9 )
= (6.53)
m& 9 (h1 − h8 )
A vazão mássica no evaporador é determinada pela capacidade de refrigeração do
sistema, conforme a Eq. 6.54.
Q& E
m& 9 = (6.54)
(h10 − h9 )
onde h10 é a entalpia da mistura na saída do evaporador.
Figura 6.18. Volumes de controle para a determinação das vazões mássicas dos compressores.
e lembrando que
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m& 3 h2 − h7
= (6.57)
m& 1 h3 − h6
x10 = 1 (6.59)
f
Por exemplo, um número de circulação igual a 1 (um) indica que todo fluxo de
refrigerante vaporiza na passagem do evaporador, saindo na condição de vapor saturado. Para um
número de recirculação f = 3, o título na saída será 1/3 = 0,333.
Valores recomendados para a taxa de recirculação são encontrados na literatura, como por
exemplo, os apresentados na Tab. 6.2, conforme a ASHRAE.
R-717
R-134a 2
6.7. Exercícios
Ex 6.1 Amônia (R-717) na pressão de 119,46 kPa (TE = -30 °C), com 5 K de superaquecimento
útil, é comprimida no primeiro estágio de compressão até 429,41 kPa. A amônia é
desuperaquecida desde este estado até um superaquecimento de 5 K através de injeção de líquido
que chega na válvula de injeção na temperatura de 30 °C. Determine a taxa de deslocamento na
entrada do compressor do segundo estágio (alta) considerando uma capacidade de refrigeração de
60 kW e compare esse valor com a taxa de deslocamento no caso de ausência de
desuperaquecimento. Utilize a notação da Fig. 6.5.
Ex 6.3 Um sistema utilizando amônia (R-717), similar ao representado na Fig. 6.14, opera nas
seguintes condições:
Ex 6.4 Um sistema utilizando amônia (R-717), com dois estágios de compressão, opera entre as
temperaturas de 35 °C e -30 °C. O sistema opera com o evaporador inundado, com capacidade de
100 kW. O número de recirculação utilizado no evaporador é igual a 4. Determine as potências e
as taxas de deslocamento dos compressores.
Bibliografia:
Domanski, P.A., 1995. Theoretical evaluation of the vapor compression cycle with a liquid-
line/suction-line heat exchanger, economizer and ejector. NIST Report 5606. U.S. Department of
Commerce.
Gosney, W.B., Principles of refrigeration. Cambridge University Press, 1982.
Stoecker, W.F., Sainz Jabardo, J.M., Refrigeração industrial. Ed. Edgard Blücher, 2002.