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31/05/2019 Os Erros da Ideologia – Russell Kirk - Blog Livros Conservadores

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Os Erros da Ideologia – Russell Kirk

Desde o nal da Segunda Guerra Mundial, a tendência da opinião pública norte-americana


tem sido mais ou menos conservadora. Há certo perigo, no entanto, de que os próprios

conservadores caiam em uma ideologia estreita – muito embora se diga, como Henry Stuart
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Hughes (1916-1999) escreveu há uns quarenta anos, que o conservadorismo é a negação da
ideologia.

O termo ideologia foi cunhado na época de Napoleão Bonaparte (1769-1821). Antoine-Louis-


Claude Destutt de Tracy (1754-1836), o autor de Les Elements d’Ideologie (Os Elementos da
Ideologia), era um “metafísico abstrato” do tipo que, desde então, se tornou comum na
margem esquerda do Sena, um ponto de encontro para ideólogos incipientes, entre os quais,
em décadas recentes, o famoso libertador do Kampuchea Democrático, Pol Pot (1928-1998).
Destutt de Tracy e seus discípulos planejavam uma larga reforma educacional, que seria
fundada sobre uma assim chamada ciência de ideias; eles se inspiraram fortemente na
psicologia de Étienne Bonnot de Condilac (1715-1780) e, em menor grau, na de John Locke
(1632-1704).

Rejeitando a religião e a metafísica, esses primeiros ideólogos acreditavam que poderiam


descobrir um sistema de leis naturais – sistema que, caso obedecido, poderia tornar-se o
fundamento da harmonia e do contentamento universais. Doutrinas de autointeresse,
produtividade econômica e liberdade pessoal estavam ligadas a essas noções. Filhos
temporãos de um moribundo Iluminismo, os ideólogos pressupunham que o conhecimento
derivado das sensações, sistematizado, poderia aperfeiçoar a sociedade por meio de métodos
éticos e educacionais e de uma direção política bem organizada.

Napoleão desprezou os ideólogos ao observar que o mundo não é governado por ideias
abstratas, mas pela imaginação. John Adams (1735-1826) chamou essa recém-criada ideologia
de “ciência da idiotice”. Mesmo assim, durante o século XIX, ideólogos surgiam como se
alguém, à moda de um Cadmo, semeasse dentes de dragão que se transmutavam em
homens armados. Tais ideólogos eram, em geral, inimigos da religião, da tradição, dos
costumes, das convenções, dos usos e dos antigos estatutos.

O conceito de ideologia foi consideravelmente transformado em meados do século XIX, por


Karl Marx (1818-1883) e sua escola. As ideias, Marx argumentou, não são nada além da
expressão de interesses de classe, de nidos em relação à produção econômica. A ideologia, a
assim chamada ciência das ideias, torna-se, então, uma apologia sistemática das demandas
de uma classe – nada mais.

Para expressar esse ponto nos termos diretos e maliciosos do próprio Marx, aquilo que se
chama de loso a política é meramente uma máscara para o egoísmo econômico dos
opressores – assim declararam os marxistas. Marx escreveu numa carta a Friedrich Engels
(1820-1895) que as ideias e normas dominantes constituem uma máscara ilusória sobre a
face da classe dominante, revelada aos explorados como um padrão de conduta, em parte
para ocultar, em parte para prover apoio moral à dominação.

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Entretanto, os explorados, como disse Marx, também desenvolvem sistemas de ideias para
avançar seus projetos revolucionários. Dessa forma, o que chamamos de marxismo é uma
ideologia com o objetivo de alcançar a revolução, o triunfo do proletariado e, por m, o
comunismo. Para o marxista coerente, as ideias não têm nenhum valor em si mesmas: como
toda arte, valem apenas como um meio para alcançar a igualdade de condições e a satisfação
econômica. Ao mesmo tempo em que escarnece das ideologias de todas as outras
convicções, o marxista constrói, com astuciosa paciência, a própria ideologia.

Apesar de ser uma das ideologias mais poderosas, o marxismo – que recentemente tem
perdido força – possui competidores: várias formas de nacionalismo, a ideologia da
negritude, o feminismo, o fascismo – uma quase-ideologia que nunca se concretizou por
completo na Itália -, o nazismo – uma ideologia em embrião, como escreveu Hannah Arendt
(1906-1975) -, o sindicalismo, o anarquismo, a social-democracia e Deus sabe quais mais.
Sem dúvida, outras formas de ideologia ainda serão criadas durante o século XXI.

Kenneth Minogue, no livro Alien Pouvers: The Pure Theory of Ideology (Poderes
Estrangeiros: A Teoria Pura da Ideologia), utiliza o termo “ideologia” para “denotar qualquer
doutrina que apresente a verdade salví ca e oculta do mundo sob a forma de análise social. É
característica de todas essas doutrinas a incorporação de uma teoria geral dos erros de todas
as outras.” Essa “verdade salví ca e oculta” é uma fraude – um complexo de “mitos” arti ciais
e falsos, disfarçado de história, sobre a sociedade por nós herdada. Raymond Aron (1905-
1983), no livro L’Opium des Intelectuels (O Ópio dos Intelectuais), analisa os três mitos que
seduziram os intelectuais parisienses: os mitos da esquerda, da revolução e do proletariado.

Para resumir a análise da ideologia levada a cabo por estudiosos tais como os já citados
Kenneth Minogue e Raymond Aron, bem como por Jacob Talmon (1916-1980), Thomas
Molnar (1921-2010), Lewis Feuer (1912-2002) e Hans Barth (1904-1965), esta palavra –
ideologia – signi ca, desde a Segunda Guerra Mundial, qualquer teoria política dogmática
que consista no esforço de colocar objetivos e doutrinas seculares no lugar de objetivos e
doutrinas religiosas; e que prometa derrubar dominações presentes para que os oprimidos
possam ser libertados. As promessas da ideologia são o que Jacob Talmon chama de
“messianismo político”. O ideólogo promete a salvação neste mundo, declarando,
ardentemente, que não existe outro tipo de realidade. Eric Voegelin (1901-1985), Gerhart
Niemeyer (1907-1997) e outros escritores enfatizaram que os ideólogos “imanentizam os
símbolos da transcendência” — isto é, corrompem a visão da salvação pela graça após a
morte, com falsas promessas de completa felicidade neste reino terreno.

A ideologia, em suma, é uma fórmula política que promete um paraíso terreno à


humanidade; mas, de fato, o que a ideologia criou foi uma série de infernos na Terra. Abaixo
listamos alguns dos vícios da ideologia:

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1. A ideologia é uma religião invertida, negando a doutrina cristã de salvação pela graça,
após a morte, e pondo em seu lugar a salvação coletiva, aqui na Terra, por meio da
revolução e da violência. A ideologia herda o fanatismo que, algumas vezes, afetou a fé
religiosa e aplica essa crença intolerante a preocupações seculares.

2. A ideologia faz do entendimento político algo impossível: o ideólogo não aceitará


nenhum desvio da verdade absoluta de sua revelação secular. Essa visão limitada
ocasiona guerras civis, a extirpação dos “reacionários”, e a destruição de instituições
sociais bené cas e em funcionamento.

3. Ideólogos competem entre si, em uma imaginada delidade à sua verdade absoluta; e
são rápidos em denunciar os desviantes ou traidores de sua ortodoxia partidária. Dessa
forma, facções pronunciadas se criam entre os próprios ideólogos, e fazem guerra sem
piedade e sem m, uns com os outros, como zeram os trotskistas e stalinistas.

***

Os sinais da ruína ideológica se encontram à nossa volta. Como a ideologia ainda pode
exercer tanto fascínio na maior parte do mundo?

A resposta a essa questão é dada, em parte, na seguinte observação de Raymond Aron:

Quando o intelectual não se sente mais ligado nem à comunidade nem à religião de seus
antepassados, pede às ideologias progressivas tomarem conta da alma inteira. A
diferença maior entre o progressismo do discípulo de Harold Laski (1893-1950) ou de
Bertrand Russell (1872– 1970) e o comunismo do discípulo de Vladimir Lênin (1870-1924)
relaciona-se menos com o conteúdo do que com o estilo das ideologias e da adesão. São
dogmatismos da doutrina e a adesão incondicional dos militantes que constituem a
originalidade do comunismo, inferior, no plano intelectual, às versões abertas e liberais
das ideologias progressivas e talvez superior para quem está à procura de uma fé. O
intelectual, que não se sente mais ligado a nada, não se contenta com opiniões, quer uma
certeza, um sistema. A revolução traz-lhe seu ópio.

A ideologia oferece uma imitação de religião e uma loso a fraudulenta, confortando, dessa
forma, aqueles que perderam, ou que nunca tiveram, uma fé religiosa genuína e aqueles que
não possuem inteligência su ciente para aprender loso a de verdade. A razão fundamental
por que devemos francamente nos opôr à ideologia – assim escreveu o sábio editor suíço
Hans Barth – é que a ideologia é contrária à verdade: nega a possibilidade da verdade na
política ou em qualquer outro campo, pondo motivos econômicos e interesses de classe no
lugar de normas permanentes. A ideologia nega até a consciência e o poder de decisão dos
seres humanos. Nas palavras de Barth: “O efeito desastroso do pensamento ideológico em

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sua forma radical não é apenas lançar dúvidas a respeito da qualidade e da estrutura da
mente humana, características distintivas do ser humano, mas também enfraquecer as bases
da vida social”.

A ideologia pode atrair os entediados da classe culta, que se desligaram da religião e da


comunidade, e que desejam exercer o poder. A ideologia pode encantar os jovens,
parcamente educados, que, em sua solidão, se mostram prontos a projetar um entusiasmo
latente em qualquer causa excitante e violenta. E as promessas dos ideólogos podem
arregimentar seguidores dentre os grupos sociais postos contra a parede – ainda que tais
recrutas possam não entender quase nada das doutrinas dos ideólogos. A composição inicial
do partido nazista ilustra, su cientemente, o poder de uma ideologia para atrair elementos
tão diversos.

Na primeira página deste ensaio, sugeri que alguns norte-americanos, dentre eles alguns
com inclinações conservadoras, poderiam vir a abraçar uma ideologia do capitalismo
democrático, ou da Nova Ordem Mundial, ou de um democratismo internacional.
Entretanto, a maioria dos norte-americanos, com um afeto dissimulado pela palavra
ideologia, não busca varrer violentamente todas as dominações e todos os poderes
existentes. O que essas pessoas, de fato, demandam quando exigem uma “ideologia
democrática” é uma fórmula para a religião civil, uma ideologia do americanismo ou, talvez,
do mundo livre. O problema com essa noção de religião civil reside no fato de que a grande
maioria dos norte-americanos acredita que já tenha uma religião própria, e não uma fé
preparada por algum departamento governamental em Washington, D.C. Se tal religião civil
o cial, ou essa suave ideologia, viesse a ser projetada para, por meio de algum processo
insidioso, suplantar as miríades de credos que, atualmente, orescem nesta Terra – ora, a
hostilidade para com a crença no transcendente seria enorme, bem como seria tamanho o
desprezo pelas “altas religiões”. Eis precisamente o artigo mais amargo do credo dessas
ideologias, que têm castigado o mundo pelas últimas oito décadas.

Provavelmente, tudo o que pretendem os entusiastas dessa nova proposta de ideologia


anticomunista é uma declaração de princípios e conceitos econômicos, amplamente
promulgados, aprovados legislativamente como um guia para políticas públicas, e ensinados
em escolas públicas. Se isso é tudo o que se espera por que insistir em rotular tal noção
como uma ideologia? Uma ideologia inocente é tão improvável quanto seria o “diabolismo
cristão”; aplicar à alguma ideia o sinistro rótulo de “ideologia” seria como convidar os amigos
para uma inocente fogueira de Halloween, anunciando, porém, a festa como o “novo
Holocausto”.

Caso essa “ideologia democrática” acabasse por se revelar, na prática, como nada além de um
programa nacional de civismo para escolas, ainda assim mereceria ser vigiada com muito

cuidado. Exaltar sobejamente as belezas do capitalismo democrático em todas as salas de
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aula entediaria a maioria dos alunos e provocaria repulsa nos mais inteligentes. E não são
aulas de educação cívica que formam, primariamente, as mentes e a consciência das novas
gerações: esse é, sobretudo, o papel do ensino das humanidades. Não gostaria de ver o que
resta dos estudos literários na escola pública típica sendo suplantado por uma propaganda
o cial sobre a santidade do American Way of Life , do mundo livre ou do capitalismo
democrático.

Não compartilho da opinião de que seria bom jogar o inebriante vinho de uma nova
ideologia goela abaixo dos jovens norte-americanos. Se invocarmos os espíritos das
profundezas abissais, será que poderemos esconjurá-los? O que precisamos transmitir é
prudência política, não beligerância política. A ideologia é a doença, não a cura. Todas as
ideologias, incluindo a ideologia da vox populi vox Dei, são hostis à permanência da ordem,
da liberdade e da justiça. A ideologia é a política da irracionalidade apaixonada.

***

Permiti-me, portanto, tecer aqui, em uns poucos parágrafos, algumas re exões sobre a
prudência política, em oposição à ideologia.

Ser “prudente” signi ca ser judicioso, cauto, sagaz. Platão (427347 a.C.), e mais tarde Edmund
Burke (1729-1797), ensinaram-nos que, no estadista, a prudência é a primeira das virtudes.
Um estadista prudente é aquele que olha antes de se lançar; que tem visão de longo alcance,
que sabe que a política é a arte do possível.

Algumas páginas atrás especi quei três erros profundos (vícios) do político ideológico.
Agora, contrasto-os com certos princípios da política da prudência: 

1. Conforme dito antes, a ideologia é uma religião invertida. No entanto, o político


prudente sabe que “utopia” signi ca “lugar nenhum”; que não se pode marchar em
direção a uma Sião terrena; que a natureza e as instituições humanas são imperfeitas;
que a “justiça” agressiva na política acaba em massacre. A verdadeira religião é uma
disciplina para a alma, não para o Estado.

2. A ideologia torna impossível o compromisso político, como z notar. O político


prudente, au contraire, tem plena consciência de que o propósito original do Estado é
manter a paz. Isso só pode ser alcançado via a manutenção de um equilíbrio tolerável
entre os grandes interesses da sociedade. Partidos, interesses, grupos e classes sociais
devem realizar acordos, caso queiram manter as facas longes dos pescoços. Quando o
fanatismo ideológico rejeita qualquer solução conciliatória, os fracos vão para o paredão.
As atrocidades ideológicas do “Terceiro Mundo”, nas últimas décadas, ilustram o ponto:


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os massacres políticos no Congo, Timor, Guiné Equatorial, Chade, Camboja, Uganda,
Iêmen, El Salvador, Afeganistão e Somália. A política prudencial busca a reconciliação,
não o extermínio.

3. As ideologias são acometidas de um feroz facciosismo, na base do princípio da


fraternidade – ou morte. As revoluções devoram os seus lhos. Por outro lado, os
políticos prudentes, rejeitando a ilusão de uma verdade política absoluta, diante da qual
todo cidadão deve se curvar, entendem que as estruturas políticas e econômicas não são
meros produtos de uma teoria, a serem erigidos num dia e demolidos noutro; pelo
contrário, instituições sociais se desenvolvem ao longo dos séculos, como se fossem
orgânicas. O reformador radical, proclamando-se onisciente, derruba todos os rivais
para chegar mais rapidamente ao Paraíso terreno. Conservadores, em nítido contraste,
têm o hábito de jantar com a oposição.

Na frase anterior utilizei, deliberadamente, a palavras conservador, na realidade, como


sinônimo da expressão “político prudente”. É o líder conservador que determinado a resistir
a todas ideologias, é guiado pelo que Patrick Henry (1736-1799) chamou de “o lume da
experiência”. No século XX, foi o conjunto das opiniões geralmente denominado de
conservador que defendeu as “coisas permanentes” contra os assaltos dos ideólogos.

Desde o nal da Segunda Guerra Mundial, o público norte-americano tem visto, de modo
cada vez mais favorável, o termo conservador. Pesquisas de opinião sugerem que, em
política, a maioria dos eleitores se considera conservadora. Se eles entendem bem os
princípios políticos conservadores, isso é outra questão.

No meio da segunda administração do presidente Ronald Reagan (1911-2004), um estudante


universitário de minhas relações conversava, em Washington, D.C., com um jovem que
havia conseguido um cargo político na administração federal. Aquele jovem e inexperiente
homem público começou a falar de uma “ideologia conservadora”. O universitário
recordou-lhe, de modo algo ríspido, o signi cado malé co da palavra “ideologia”. “Bem,
você sabe o que quero dizer”, respondeu-lhe o jovem político, meio sem jeito.

De toda forma, não é certo que aquele recém-empossado funcionário público soubesse, ele
mesmo, o que verdadeiramente signi cava aquilo. Será tinha em mente ideologia como um
corpo de princípios políticos bem estruturados? Queria ele talvez descobrir um conjunto de
fórmulas simplistas, pelas quais o capitalismo pudesse se estender a todo o mundo? Ou
desejava, de fato, derrubar, por meio de ações violentas, nossa ordem social vigente e
substituí-la por uma sociedade arti cial mais próxima de seus ideais?

Vivemos numa época em que o signi cado de antigas palavras, como tantas outras coisas, se

tornou inseguro. “As palavras se distendem, / Estalam e muitas vezes se quebram, sob a
carga”, como T. S. Eliot (1888-1965) o diz. “No princípio era o Verbo” ( Jo 1,1). Hoje em dia,
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porém, o Verbo está sendo confrontado pela ideologia gigante, que perverte a palavra falada
e escrita.

Não são apenas os talentos políticos emergentes de nosso tempo que não conseguem
apreender o uso apropriado de certas palavras importantes – e que, particularmente,
entendem mal o emprego de ideologia. Uma senhora idosa me escreve em defesa do antigo
movimento chamado “Rearmamento Moral”, que, há três décadas, a rmava oferecer uma
ideologia aos Estados Unidos. “Talvez eu me engane, mas sempre me pareceu que ideologia
signi ca o poder das ideias”, diz essa correspondente. “O mundo é governado por ideias,
boas e más. Precisamos de uma grande ideia ou de um ideal para substituir as falsas ideias,
hoje dominantes. Quanto tempo podemos sobreviver como uma nação livre, uma vez que a
palavra liberdade foi corrompida?”

A conclusão dessa senhora é perspicaz. Contudo, tenho de acrescentar, “Por quanto tempo
podemos sobreviver como uma nação livre, uma vez que a palavra ideologia, com seu poder
corruptor, foi confundida como a guardiã da liberdade ordenada?”

Não tenho a intenção de escarnecer, pois encontro essa confusão em pessoas que conheço
bem e respeito profundamente. Uma dessas pessoas, uma escritora capaz e de espírito
arrojado retruca possuir dicionários – Webster e Oxford – que discordam da de nição mais
extensa de ideologia proposta por Russel Kirk. “Se o Oxford está certo e ideologia signi ca ‘a
ciência das ideias’, não poderiam ser boas ideias? Concordo plenamente que muitas
ideologias causam grande mal, mas certamente não são todas, não é? De qualquer maneira,
sou uma pragmatista inata”, conclui a senhora, “e a semântica não é o meu ponto forte”.

Não, senhora, todas as ideologias causam confusão. Fico mais animado pela carta escrita por
um publicista conservador in uente e experiente, que aplaude a minha crítica aos jovens
ideólogos que se imaginam conservadores, e aos jovens conservadores esperando
apaixonadamente se converterem em ideólogos. Esse último correspondente concorda
comigo que a ideologia está fundamentada meramente sobre “ideias” – isto é, sobre
abstrações, sonhos, sem relação, na maior parte das vezes, com a realidade pessoal e social;
enquanto as visões conservadoras estão fundadas sobre costumes, convenções, na longa
experiência da espécie humana. Ele se vê confrontado, de tempos em tempos, por jovens,
que se autodenominam conservadores, que não têm noção alguma de prudência,
temperança, compromisso, tradições da civilidade ou patrimônio cultural.

“Os bosques estão cheios dessas criaturas”, escreve esse cavalheiro. “O ‘movimento’
conservador parece ter criado uma nova geração de in exíveis ideólogos. Preocupa-me
encontrá-los tão numerosos e em tantas instituições. É claro, vários são libertários, não
conservadores. Do que quer que se chamem, são ruins para nosso país e nossa civilização. A
concepção de vida deles é brutal, desumana”. 
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Amém. O conservadorismo é uma ideologia? Somente se, junto com Humpty Dumpty,
arrogarmo-nos a prerrogativa de forçar as palavras a signi car o que quer que desejemos
que signi quem, de modo que a questão “é saber quem é que vai mandar – só isso”. Que nós,
conservadores, conservemos a língua inglesa, juntamente com várias outras boas coisas que
restam. Levantemos a bandeira de um vocabulário honesto e preciso. Venturemo-nos, sejam
quais forem os riscos, a lutar contra a “novafala” dos ideólogos.

O triunfo da ideologia seria o triunfo do que Edmund Burke chamou de “mundo


antagonista” – o mundo da desordem; ao passo que aquilo que o conservador busca
conservar é o mundo da ordem que herdamos, ainda que em estado imperfeito, de nossos
ancestrais. A mentalidade conservadora e a ideológica gravitam em polos opostos, e a
controvérsia entre as duas mentalidades não será menos ardorosa no século XXI do que o foi
no século XX. Possivelmente, este ensaio poderá auxiliar aqueles da nova geração que têm a
coragem de fazer oposição aos zelotas ideológicos.

FONTE: A Política da Prudência – Russell Kirk  (http://livrosconservadores.com.br/a-


politica-da-prudencia-russell-kirk/)

Conservadorismo (http://blog.livrosconservadores.com.br/artigos/conservadorismo/),
Filoso a (http://blog.livrosconservadores.com.br/artigos/ loso a/), Russell Kirk
(http://blog.livrosconservadores.com.br/autor/russell-kirk/)


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