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Introdução
O presente ensaio é fruto de uma pesquisa na Plataforma Lattes (BRASIL, 2008).
Tem o objetivo de analisar os campo de estudos sobre homofobia com base na ocorrência
desta categoria no título de pesquisas acadêmicas monográficas brasileiras (Trabalhos de
Conclusão de Curso de graduação, Monografias de especialização, Dissertações de
mestrado e Teses de doutorado). Desta forma, se propõe como hipótese inicial que a
homofobia é um tema emergente no campo da produção teórica e, portanto, os campos
de pesquisa sobre a temática não produziram argumentos teóricos sobre homofobia com
o objetivo de subsidiar, seja as pesquisas acadêmicas sobre estas questões e sua
atuação dentro da conjuntura sócio-histórica-política, seja os movimentos sociais
LGBTTT4.
A categoria homofobia
Para Daniel Borrillo (2000), pensador francês e importante teórico da homofobia,
esta agrega em sua expressão sentimentos de repulsa ou hostilidade a pessoas que
possuem um desejo por pessoas do mesmo sexo (ou, ao menos, apresentam esta
possibilidade). Essa repulsa é levada a cabo quando este ser (quase ontológico) é posto
na posição de um outro, tido neste caso como inferior ou anormal. Esta desproporção
entre um eu falante e um outro anormal, distante e praticamente irreconhecível, é um
paradoxo importante, já que alimenta a lacuna constitutiva de um ideal e de um real.
1
Doutorando. Programa de Pós-Graduação Interdisciplinar em Ciências Humanas – PPGICH (felipe.fernandes@cfh.ufsc.br).
2
Orientadora. Programa de Pós-Graduação Interdisciplinar em Ciências Humanas – PPGICH (orientadora).
3
Co-Orientadora. Programa de Pós-Graduação Interdisciplinar em Ciências Humanas – PPGICH (co-orientadora).
4
Lésbicas, gays, bissexuais, travestis, transexuais e transgêneros.
Metodologia
A Plataforma Lattes é uma experiência do Conselho Nacional de Desenvolvimento
Científico e Tecnológico (CNPq) para a integração de bases de dados de currículos e de
instituições acadêmicas brasileiras (BRASIL, 2008). Esta experiência é fruto de um
histórico de organização de currículos acadêmicos em bancos de dados desde a década
de 1980. Lançada em 1999, a Plataforma Lattes possibilitou o aumento de sua
abrangência e uso por pesquisadoras e pesquisadores de todo o país, tornando-se, desta
forma, o padrão de formulário de currículo no âmbito da ciência e tecnologia brasileira. Os
objetivos desta plataforma são: (i) apoiar as atividades de gestão e (ii) apoiar a
formulação de políticas públicas. Segundo o sítio eletrônico da Plataforma Lattes, são
5
O autor (WELZER-LANG, 2001) apresenta as “casas dos homens” de nossa sociedade, espaços esses masculinos por excelência,
onde se aprende, de forma pedagógica, a ser homem e o que é necessário fazer para isso.
Resultados
Os gráficos a seguir foram elaborados para que possamos entender melhor como a
categoria homofobia vem sendo usada nas pesquisas acadêmicas no Brasil. Busca-se,
com isso, esquadrinhar os usos que tem sido feitos da homofobia como uma categoria
teórica e em que medida esta categoria tem sido usada nas diferentes áreas do
conhecimento. As análises aqui presentes também possibilitarão percebermos alguns
aspectos das relações de sexo das pesquisadoras e pesquisadores envolvidos. Estas
relações podem indicar alguma ligação entre o campo dos estudos de gênero, muito
marcados pelo feminismo (enquanto teoria e enquanto ideologia) e a política sexual em
seu sentido mais amplo6. Há também um mapeamento preliminar das instituições e
regiões do país em que as pesquisas vêm sendo concluídas e em que instituições.
Os pesquisadores envolvidos nas pesquisas em que a categoria homofobia consta
no título foram, majoritariamente, homens (GRÁFICO 1). Entretanto, a maioria das
orientadoras eram mulheres (GRÁFICO 2). Não houve duplicidade de orientação, ou seja,
cada orientadora ou orientador que constava nos formulários dos currículos orientou
apenas um dos trabalhos. Sobre a relação entre o sexo de pesquisadoras e
pesquisadores e orientadoras e orientadores, percebe-se que a maioria das
pesquisadoras e pesquisadores foram orientados por mulheres (GRÁFICO 3). Percebe-se
6
Esta argumentação é inicial e diz respeito a um primeiro olhar. O aprofundamento desta questão é essencial para
refletir sobre estas problemáticas.
Gráfico 2
Gráfico 3
Universitat Hamburg
UENF
Gráfico 5
Homossexualidade: Se correr o bicho Homofobia escolar: Homofobia em Jorge Violações dos Homicídios
saber e homofobia pega, se ficar o vivências e atitudes Amado? as personagens direitos obscuros: crimes
bicho come ... um de jovens gays no homossexuais em humanos homofóbicos em
breve estudo sobre ensino médio Capitães da Areia através dos Curitiba entre
homofobia e crimes de ódio: 2000 e 2002
formas de uma análise da
enfrentamento violência
preconizadas por homofóbica no
uma organização Brasil
não-governamental
GLBT do Rio de
Janeiro/RJ
Gráfico 9
Conclusão
O presente ensaio, realizado na Plataforma Lattes, aponta a homofobia como uma
categoria emergente em pesquisas acadêmicas no Brasil, já que, além de serem em
número baixo (se comparado a outras pesquisas no campo dos estudos de gênero), são
também dispersas em diferentes programas e áreas do conhecimento. Ao mesmo tempo,
aponta para o crescimento cada vez mais representativo de pesquisas sobre a temática
ao longo desta década. Os dados do presente ensaio, são inciais e fruto de um primeiro
olhar sobre a Plataforma Lattes. Entretanto, esses dados possibilitam algumas reflexões
que vão de encontro à vontade de ampliação do campo dos Estudos de Gênero e
Sexualidades no Brasil, como enumero a seguir:
1. O avanço da Ciência e Tecnologia no Brasil parece estar diretamente relacionado
ao sexo das pesquisadoras e pesquisadores. A ocupação de mulheres em cargos
Referências
BORRILO, Daniel. Homofobia. Espanha: Bellaterra, 2001.
BRASIL. Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq). A
Plataforma Lattes. Disponível em: <http://lattes.cnpq.br/conteudo/aplataforma.htm>.
Acesso em: 01 dez. 2008.
GROSSI, Miriam Pillar; MINELLA, Luzinete Simões; LOSSO, Juliana Cavilha Mendes.
Gênero e violência: pesquisas acadêmicas brasileiras (1975-2005). Florianópolis: Ed.
Mulheres, 2006. 96 p.
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Contra Mulheres no Brasil. Sexualidade, Gênero e Sociedade, Rio de Janeiro, v. 12, n.
23/24/25, p. 5-8, 2005.
RIOS, Roger Raupp. O conceito de homofobia na perspectiva dos direitos humanos e no
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Lima; VENTURA, Miriam; LEIVAS, Paulo Gilberto Cogo; LOREA, Roberto Arriada (orgs).
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WELZER-LANG, Daniel. A construção do masculino: dominação das mulheres e
homofobia. Revista Estudos Feministas, v.9, n.2, Florianópolis, 2001.