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UNIVERSIDADE FEDERAL DE MINAS GERAIS

FACULDADE DE FILOSOFIA E CIÊNCIAS HUMANAS


Programa de Pós-Graduação em Sociologia

SEA Sociologia do Crime, do Desvio e do Conflito

Prof. Dr. Braulio Figueiredo Alves da Silva

Aluno: José Ricardo Carvalho de Macêdo

Matrícula: 2017684494

Belo Horizonte

2018.
Autocontrole, coesão e o piscinão de Ramos do Guamá
Apresentação

Este texto visa realizar um paralelo entre a teoria do autocontrole dos


criminólogos norte americanos Michael Gottfredson e Travis Hirschi e uma vivência de
trabalho nas dependências da Fundação Papa João XXIII (Funpapa), na cidade de
Belém, no Estado do Pará. A ideia é poder analisar algumas situações vivenciadas em
um período de três anos, tempo que trabalhei no local, tentando reconhecê-las à luz das
teorias criminológicas, mais especificamente, a teoria do autocontrole.

Gottfredson e Hirschi desenvolveram uma teoria que explica o crime de forma a


abarcar todo e qualquer crime, e comportamentos desautorizados pelo Estado. A forma
dos autores perceberem o criminoso leva em conta os atributos comportamentais do
indivíduo, levando em conta que “autocontrole apresentado por um indivíduo que irá
torná-lo mais, ou menos, propenso ao crime.” (WERMELINGER, p.01, 2011). Segundo
os autores, o autocontrole é a capacidade dos indivíduos dominarem seus impulsos
imediatos (ibdem), sendo que eles adquirem ou não capacidade de controle dos
impulsos e do imediatismo por meio da socialização familiar.

Em outras palavras, indivíduos com baixo autocontrole são aqueles que


buscaram/buscam satisfazer seus desejos de forma imediata, sem contabilizar as
consequências desastrosas do meio através do qual, lograram essa satisfação. Com isso,
tais indivíduos apresentam a propensão de ceder as conjunturas momentâneas com o
intuito de saciar essa busca de satisfação e de prazer. Gottfredson e Hirschi nos dizem
que um dos porquês e talvez a principal origem do baixo autocontrole ocorre na
infância, fruto de uma criação negligente, segundo eles, é necessário levar em conta “a
relação entre condição familiar e delinquência.” (GOTTFREDSON e HIRSCHI, 1990),
Em relação ao crime, nessa teoria o “autocontrole é a causa (geral) do crime; muitos
traços aparentes de personalidade também podem ser seus subprodutos.”
(GOTTFREDSON e HISRSCHI, p. 49, 1990).
O bairro do Guamá: entre crianças e crionças.

Entre os anos de 2005 e 2007 trabalhei na Fundação Papa João XXIII (Funpapa),
instituição que visa promover o amparo social de jovens, crianças e idosos e que
“desenvolve atividades de amparo e proteção de populações que vivem em situação de
risco pessoal e social causados pela pobreza, abandono ou isolamento familiar” 1. Fui
professor de Artes Visuais e trabalhei com crianças e jovens nas faixas etárias entre 4 a
7 anos e 11 a 17 respectivamente. O local, onde funcionava um dos projetos da Funpapa
chamado “Agente Jovem”, era conhecido como Lar Fabiano de Cristo, entidade espírita
com uma de suas sedes na capital, Belém do Pará.

As crianças e jovens atendidas eram geralmente filhos de ex detentos, detentos,


usuários de substâncias ilícitas e traficantes de um bairro, o bairro do Guamá,
considerado zona vermelha em Belém. O local é desprovido de uma boa estrutura
urbanística: tem ruas sem pavimentação, esgotos a céu aberto, ausência de coleta de
lixo, altos índices de criminalidade, etc. Neste bairro, um fator generalizante é que, tanto
os adolescentes quanto as crianças, em sua maioria, tinham comportamentos muito
agressivos, posturas corporais, modo de andar, vestir e falar, que denotavam um
convívio muito próximo com situações de criminalidade.

Não acredito que seja comum - dado que eu trabalhava em outras escolas na
época - ver uma criança de 6 anos dizendo que ia me matar, ou simular uma postura
corporal adulta (de enfrentamento), falando que ia pedir para o pai “meter uma azeitona
na minha barriga”. Imagino que este tipo de comportamento era específico, dado as
condições sociais que estas crianças viviam e o que elas, depois fui saber, presenciavam
dentro de suas casas e na comunidade, como falaremos mais a frente.

Esse tipo de percepção, de que as crianças e os jovens traziam muitos códigos


verbais e corporais, valores e hábitos de casa e da comunidade, era uma constante.
Contudo, com o tempo, fui vendo nos adolescentes que, a forma de falar, a postura
corporal e as vezes, as roupas, eram estratégias deles para sobreviver ali naquele bairro,
ou uma forma de eles serem assimilados no bairro, como parte do mesmo, ou seja, os

1.http://www.belem.pa.gov.br/app/c2ms/v/?id=16 acessado em 30 de outubro de 2018 as 19h32.


trejeitos, comportamentos e valores que cada um desses rapazes carregava consigo
funcionavam como uma armadura que os protegia de serem confundidos pela
bandidagem local como X9, ou como alguém que poderia repudiar de alguma forma o
que acontecia (assaltos, estupros, brigas entre gangues, roubo e violência, muita
violência, depois fui saber), ali dentro da comunidade. E era uma maneira também deles
serem assimilados como “parte do grupo”.

Percebi que as crianças iam assimilando determinados comportamentos junto


aos pais e a comunidade em que viviam. Segundo os criminólogos Gottfredson e
Hirschi e sua teoria de autocontrole3, é na infância em meio a família que um indivíduo
recebe boa parte dos estímulos e fica propenso, não determinado fatalmente a praticar
atos criminosos mas, propenso a prática de comportamentos delinquentes.

Isso seria o que os autores chamam de baixo autocontrole, ou em outras


palavras, quando a vigilância que deveria ser exercida pelos pais em relação aos seus
filhos falha, e as crianças vão aos poucos caindo nas práticas de condutas desviantes,
para os autores, uma das formas de “controle da criminalidade deveria envolver ações
que tem a família como foco, em especial os adultos.” (WERMELINGER, p.03, 2011),
sendo que deveriam “aprender os requisitos da socialização infantil, particularmente
vigiar e reconhecer os sinais de baixo autocontrole e puní-los.” (Gottfredson & Hirschi,
p.269, 1990).

Neste sentido, o baixo autocontrole “supõe que a propensão ao comportamento


criminoso remete à estrutura psíquica do indivíduo e depende da socialização
intrafamiliar.” (WERMELINGER, p. 03, 2011), e o corpo, um dos suportes dessas
variações entre auto e baixoautocontrole, seria um dos fatores observáveis nessas
crianças e adolescentes, as quais eu dava aulas: o corpo e as atitudes materializavam as
assimilações e as influências dos pais e dos vizinhos, aqueles cujo semblante e gestos
falava sempre de uma realidade brutal.

Marcel Mauss escreveu o prefácio do livro Sua Alteza Real, do escritor alemão
Thomas Mann. Neste prefácio ele nos dizia que o príncipe é alguém de gestos
extraterrenos, alguém imbuído de movimentos lentos, singularizados, calculados e nada
parecidos com o da plebe. Imagino que essa constatação tenha seu contraponto naqueles
que vivem na marginalidade, na periferia e na criminalidade, contudo, mesmo com
posturas corporais que remitiam a pessoas muito perigosas, percebi que muitos desses
jovens eram o contrário do que aparentavam. Se misturavam a bandidagem, mas não
eram bandidos, andavam, falavam e se vestiam como se o fossem, para poder andar no
bairro sem ser importunado, sem ser “multado” (ter de “emprestar” dinheiro a algum
malandro local), ou “levar o guelo” (ser furtado).

Quando saiamos para pesquisas de campo, via esses jovens sempre


cumprimentado a bandidagem local nas esquinas, mas eu observava que os jovens
mantinham certa distância, esse deixar-se assimilar era um meio de fazer parte da
coesão grupal para não virar uma vítima. Entretanto, não havia uma constância de
relações com esses jovens que ficavam nas esquinas do bairro. Quando a relação se
intensificava, quando o jovem começava a assimilar e apreender formas de ganhar
dinheiro por meio da bandidagem local, quando ele entrava no sistema, os jovens que
gostavam de trabalhar ou estudar, diziam que ele tinha sido “cooptado” ou
“teleguiado”(essa gíria é nasceu de um paralelo àqueles que assistem muita TV e são
por ela influenciados).

Outro fator para além da questão familiar, que ajuda muito a compreender o
porquê da maior parte desses jovens caírem na marginalidade, era o fato de que o bairro
não tinha nenhuma estrutura, era cheio de casas destruídas, sujo, sem quadras
poliesportivas, sem praças e nem centro cultural. O que existia ali era o Lar Fabiano de
Cristo com suas oficinas e cursos para todas as idades e um CRAS 2 da Funpapa, nada
mais. O bairro naturalmente sofria segregação, pois era tachado de antro de marginais
pela população belenense e motivo de pilheria. Era afastado do centro da cidade e cheio
de feiras abertas em qualquer lugar, até no meio da rua disputando lugar com os carros,
isso ajudava a reforçar estereótipos, preconceitos e receios sobre o bairro.

Uma das ruas do bairro do Guamá, 2013.


Uma das feiras do bairro do Guamá,
2013.

2.Um CRAS é um centro de atendimento de jovens que também oferta oficinas e capacitação para os
professores da rede FUNPAPA.
Por outro lado, o bairro era coeso também nas relações entre os vizinhos, por
exemplo, quando íamos fazer os acompanhamentos na casa das famílias dos jovens e
das crianças, atravessávamos as palafitas3 e chegávamos até as moradias, que por vezes,
eram da medida de um quarto, e nele viviam mãe, pai e filhos (geralmente, dois ou três),
nesses quartos as fronteiras entre um cômodo e outro era um lençol estendido do teto ao
chão, isso dividia a cozinha da cama das crianças e da cama da mãe e do pai (quando
havia um pai em casa, pois na maioria dos casos, a casa era sustentada pela mãe ou pela
avó). Essa fronteira quase inexistente e permeável também funcionava entre as casas,
geralmente umas coladas às outras. Então quando íamos a uma das casas, tínhamos de
passar por dentro de várias outras para chegar na casa que queríamos, e em cada casa
tínhamos de parar para tomar um cafezinho.

Os níveis de coesão social entre esses vizinhos era muito grande, a intimidade e
a privacidade, contudo, eram inexistentes, pois as paredes eram de madeira e as vezes
víamos o que estava ocorrendo no vizinho pela fresta das tábuas. Percebi o quanto as
portas eram abertas a todo momento, e o quanto de gente vinha ali para pegar alguma
coisa emprestada: café, açúcar, panelas, DVDs, etc, a todo momento, durante todos os
anos em que trabalhei lá, era a mesma coisa: havia uma coesão social entre a
comunidade que estilhaçava os liames da privacidade, quando alguém perdia um objeto,
por exemplo, víamos nisso o funcionamento da eficácia coletiva, pois não demorava
muito para saber onde tal objeto estava.

Entretanto, paradoxalmente a essa coesão, quando queríamos saber algo sobre


algum jovem, com quem ele estava andando, se estava estudando, se perguntássemos
para um vizinho desse mesmo jovem, a resposta era sempre evasiva, e já sabíamos que
este jovem estava metido em problemas, a recusa na resposta ocorria quando o jovem
estava andando com os traficantes locais, o medo e o receio de repassar informações
calava a comunidade, eles eram muito desconfiados entre si, havia menos controle
informal, tanto por receio de ser encarado como X-9, tanto quanto havia um
menosprezo pela situação do outro quanto este estava metido em problemas, não havia
um compromisso com a melhora da vida do vizinho, somente com a própria, e mesmo
assim, cada vizinho atravessava a intimidade do outro, mas não havia confiança entre
eles.

3.Caminhos e passarelas feitos de ripas de madeira, geralmente em cima de braços de rios.


Os níveis de interação no chamado piscinão de Ramos do Guamá

Como eu já havia comentado, não havia uma área de encontro, um espaço de


convívio, praça ou centro cultural no bairro, o que se tinha, eram as esquinas, algumas
locadoras de videogames, o CRAS ou o Lar Fabiano de Cristo, ode crianças e jovens se
reuniam. Sabemos que, nos bairros estruturalmente/economicamente mais favorecidos,
as pessoas têm geralmente acesso a controles informais mais efetivos, tanto estes quanto
os controles formais, caso precisem de ações policiais para alguma eventualidade, em
alguns desses bairros há mais eficácia coletiva: reunião para melhoria do bairro,
caixinha para festas de São joão, caixinha para pintar a rua e os postes em dias de copa
do mundo, etc. Existe até um certo grau de confiança e de proximidade entre os
vizinhos. Existem praças, espaços de convívio, pátios nas casas, calçadas, etc. Contudo,
o que dizer dos bairros que não tem esses espaços? Existe uma reação por parte da
comunidade a ausência de controle formal do Estado e ao desejo de espaços para
atividades coletivas ou colaborativas? Isso é o que procurarei mostrar nos próximos
parágrafos, em relação a criatividade dos moradores do bairro do Guamá.

Gostaria de começar a responder essas duas questões a partir de um paralelo com


um dos trabalhos da fotógrafa cearense Bárbara Wagner e sua série “Brasília teimosa”,
trabalho de 2005/2007. Bárbara a primeira vista, elabora uma visão um tanto quanto
estereotipada de elementos que produzem coesões sociais (rodas de samba, saídas em
ônibus fretados pela comunidade, etc), nesses tipos de subgrupos periféricos, contudo,
só a primeira vista, o que ela faz realmente é produzir simulacros e paralelos tendo por
base comportamentos glamourizados nas camadas sociais de elite: fotos para revistas,
posturas de glamour (o copo na mão, o jogo de luz para efetivar uma boa foto, uma
produção visual típica de revistas como a Caras, por exemplo), mas as situações por ela
registradas são materializações de dispositivos [espaços físicos como a praia e situações
(como juntar os amigos para uma bebedeira)], que resultam em maior grau de coesão
social.

Longe de serem condescendentes, suas fotos mostram as atividades às vezes


absurdas, mas muitas vezes puramente hedonistas, que acontecem em
Brasília Teimosa: o homem que monta seu carro esportivo amarelo na areia
ou o grupo de mulheres que ficam com um playboy de meia idade. Outros
mostram uma estratégia popular empregada por muitos brasileiros,
conhecidos como “gambiarras”, arranjos improvisados feitos por pessoas
para resolver problemas usando o que está à mão, como o carro com uma
roda quebrada que se tornou o contêiner do 'Ultra Som'. (MAZZUCCHELLI,
2008)

Esse tipo de situação, por sua vez, em vez de ser vista como exótica ou cafona e
até mesmo feio visualmente, resulta em um flagrante processo de redesenho dos valores
da sociedade brasileira de elite, mas ao avesso.

Bárbara Wagner, Brasília Teimosa, 2005-2007.

Bárbara Wagner, Brasília


Teimosa, 2005-2007.

Materializam um grupamento específico cujo emblema é a fusão entre eles e a


tentativa de mudar o contexto em que vivem em vez de abandoná-lo. Pois, a praia em
Recife que esse grupo frequenta funciona em um outro extremo da praia badalada,
procurada pelos turistas e pelas outras classes sociais. Outro ponto a ser levado em
conta é que, os frequentadores da praia se negam a sair desse local, assumindo ele pra si
como uma opção válida, segundo a crítica de arte Kiki Mazzucchelli, eles são “um
incomodo para os investidores que querem que eles saiam para que possam explorar o
potencial turístico da região, a multidão de Brasília Teimosa tornou-se objeto de um
ensaio fotográfico que pisa o caminho arriscado de documentar os
desfavorecidos.”(MAZZUCCHELLI, 2008)

Gostaria de frisar um paralelo visual entre o que eu vi no “Piscinão de Ramos do


Guamá” e esses registros de Bárbara.
Bárbara Wagner, Brasília Teimosa, 2005-2007. Bárbara Wagner, Brasília Teimosa, 2005-2007.

Segundo Bárbara:

Durante quase dois anos, sempre aos domingos, fui a Brasília


Teimosa com a ideia de trazer luz a questoes raramente tocadas
diretamente pela midia, que por natureza estigmatiza as
questoes de gosto, de consumo e de comportamentos
experimentados em bairros de classes populares brasileiras.
Durante o processo, o que mais me atraiu foi perceber uma
sabedoria particular por tras de toda aquela energia e
vulgaridade, que tem tudo, menos pena de si propria.
(WAGNER, 2015).

Bárbara Wagner, Brasília


Teimosa, 2005-2007.

Essa sabedoria particular, que fala Wagner, que encontra-se por trás dessa estética
vulgar para a maior parte das pessoas, talvez estabeleça laços e vínculos que estendem a
roda de samba até tarde da noite. É o que faz de qualquer espaço físico um agregador,
quando não há predisposição da prefeitura ou do governo, há pela necessidade,
predisposição da comunidade para promover espaços de convívio, mesmo que sejam
ajambrados, improvisados, etc.
No caso do bairro do Guamá, não havia uma associação, tão pouco havia coesão
suficiente para gerar uma, os grupos eram muito distintos, e os problemas no bairro se
avolumavam. Contudo, um dos moradores teve uma ideia: abrir sua casa aos domingos
para receber as pessoas em sua piscina ao preço de R$ 1,00 por pessoa. A piscina era
bem pequena e ao redor dela, lajotas vermelhas saiam, por vezes, do chão. Pessoas
vinham de todo o Guamá para o piscinão, entre elas, bandidos, vendedores de coxinhas
de frango oleosas, vendedores de picolés caseiros, moças que gostavam de se bronzear e
muitas crianças, a ponto de não se ver o fundo da piscina de tanta gente dentro dela,
todos esses atores ficavam juntos na mesma água, o glutinum mundi4 que une.
A frequência dessas interações, todos os domingos, foram resultando em maior
frequência de contato entre pessoas que antes não se falavam, a princípio me disseram
que ocorriam muitas brigas de gangues na saída do domingo na piscina, mas depois essa
fase passou, e a interação logrou resultado de forma espontânea. Resultado: bandidos
começaram a respeitar o dia de lazer e não mais brigavam entre si, gangues começaram
a se afastar de confrontos diretos e constantes, vizinhos começaram a se reconhecer e
interagir. Entre papéis de seda gordurosos de coxinhas de frango, flutuando na água da
piscina cheia de óleo de bronzear dos corpos femininos, a macharada bebia litros de
cerveja e escutava muito tecnobrega, juntos. As fotos de Wagner servem também para
que tenhamos uma ideia ilustrativa do ambiente, dos comportamentos e das posturas.
Alguns grupos se formaram ali dentro: grupos para concertos coletivo de telhados
até grupos para remendar ruas que estavam com o asfalto esburacado, vários se
dispuseram a ajudar. A ausência de controle formal do Estado foi substituído por
vigilantes que de bicicleta rodavam algumas ruas para vigiar. Uma associação foi criada
e hoje sei que existe uma praça pequena no bairro, fruto dos pedidos dessa associação, a
praça Benedito Monteiro.
Hoje as crianças brincam nesta praça, um espaço que ajudou a modificar a auto
imagem do bairro. Hoje eu percebo que, o local por vezes promove ambientes propícios
a constituição de interações, essas interações podem gerar outros dispositivos de
encontros: jogos de cartas, rodas de samba, divisão de lanche entre pessoas que
acabaram de se conhecer, etc, tudo isso parece constituir zonas proximais entre aqueles
que antes não se conheciam, constituir coesão social para assim, não ter de retirar as
pessoas do lugar, por ele não ter condições de ser ocupado, mas sim, melhorar o lugar
para ofertar qualidade de vida aquela pessoa que vive ali a décadas.

4.Glutinun Mundi é um termo utilizado pelo sociólogo francês Michel Maffesoli, segundo ele, é “uma
força impessoal, um fluxo vital, no qual cada um e cada coisa participa numa misteriosa correspondência
atractiva.” (MAFFESOLI, 2001, p. 32)
REFERÊNCIAS

GOTTFREDSON e HIRSCHI. Commentary: testing the general theory of crime.


Travis Hirschi e Michael Gottfredson. Journal of Research in crime and delinquency,
Vol 30 No. 1, February 1993 47-54, 1993, Sage Publications, Inc.

MAFFESOLI, Michel. O tempo das tribos: o declínio do individualismo nas


sociedades de massa. Tradução de Mária de Lourdes Menezes. Rio de Janeiro, Forense
Universitária, 1998.

WERMELINGER, Claudia. Autocontrole e criminalidade: Contribuições da


Sociologia Figuracional à Teoria Geral do Crime. Claudia Wermelinger, paper
apresentado noXIII Simpósio Internacional Processo Civilizador
(09a12denovembrode2010), Bogotá – Colômbia.

SITES

https://barbarawagner.com.br/Brasilia-Teimosa-Stubborn-Brasilia acessado em 02.11.2018 as


14h33.

http://corporalidades.com.br/site/2015/04/05/brasilia-teimosa-de-barbara-wagner/ acessado
em 02.11.2018 as 12h05.

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