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Resenha - 20.3.

2018 - Thiago Brisolla


Evolução Social da Música no Brasil

A música brasileira teve de se forçar para se adequar a moldes da música mundial,


não tendo o privilégio de existir por si só, sem influência externa e europeia. Seu
desenvolvimento se deu na ordem Deus, amor e nacionalidade, e se diferencia das outras
artes porque não depende das condições do meio externo. Os artistas superavam os limites
técnicos impostos pela nossa sociedade atrasada tecnologicamente em relação à Europa,
tomando a iniciativa de importar materiais.

Mário relaciona a superação das dificuldades técnicas pelo artista, na Música, com o
desenvolvimento pianístico brasileiro através da expansão dos pianos dentro da burguesia
durante o Império. Destaca a importação de professores de piano para São Paulo, dentre
eles Chiaffarelli, que iniciou uma febre pelo instrumento chamada pelo autor de “pianolatria”.
Segundo Mário, o piano teve rápida decadência em terras paulistanas justamente por não
ter quase nenhuma função social, mas esse movimento de importação, mais do que apenas
a pianolatria, trouxe para o Brasil uma vasta literatura musical, pois editoras se instalaram
na região a fim de suprir a demanda dos pianistas que surgiam. Nesse quadro foi possível o
desenvolvimento pedagógico e a formação musical de compositores ,dentre eles, Francisco
Mignone, Camargo Guarnieri, Artur Pereira e Frutuoso Viana, por exemplo.

A música é para o autor a mais coletivista de todas as artes, e dessa forma as


necessidades coletivas suplantam as necessidades individuais. Por esta razão o
Conservatório de São Paulo virou um centro de composição e musicologia, e não de
pianistas virtuosos: a virtuosidade instrumental, para ele, era algo forçado, individual e de
nula função social; o coletivo “não tinha dedos” nem tradição para tocar o que Chiaffarelli
queria ensinar.

Mário nos dá um exemplo, dizendo que seria impossível que um compositor com a
genialidade de Bach ou Palestrina se estabelecesse na Colônia, porque os músicos daqui
nunca conseguiriam executar essa música, e nem havia capelas com a acústica necessária.
Dessa forma, conclui que a ténica do coletivo é predeterminante no desenvolvimento do
indivíduo musical. Longe então de idealizar a técnica dos primeiros compositores da
Colônia, o autor chama suas técnicas de medíocres, e aponta a facilidade de encontrar isso
nas próprias partituras de padre José Maurício, por exemplo.

Deus, o amor e depois a nacionalidade: essa foi a evolução da música na Colônia.


Deus primeiro porque havia a necessidade de catequização dos colonos e escravos.O canto
era o instrumento predominante, por ser tradicional da música católica e por trazer consigo
essa função social da catequização, e além disso, a falta da técnica vocal apurada tornava
as diferenças sociais mínimas, durante a execução dos cantos jesuítas. Com o
estabelecimento dos primeiros grandes centros, a música perde essa função original que
igualava a todos, pois inicia a escravidão negra. Deus passou a repudiar a escravidão
indígena mas a apoiar a negra. A música passa a se tornar, cada vez mais, para poucos,.e
não pretende contemplar a diversidade da coletividade.

Com a Independência e a nova nobreza, nasce a música profana começa a se


proliferar. Duas manifestações se destacaram, provenientes da sensualidade sexual: a
modinha e o melodrama. Mário a chama de “nem popular, nem erudita” e a identifica como
expressão da burguesia. É no melodrama que encontramos a manifestação musical erudita
do Império. O Brasil possuía a maior casa de óperas da América de então, mas não possuía
solistas a altura, por isso houve a necessidade de importar-se. Nessa época Francisco
Manuel da Silva funda o Conservatório, concentrando o ensino de música, e segundo o
autor, apenas isso tornou possível a existência de Carlos Gomes.
Carlos Gomes sintetiza a primeira fase estética da nossa música, chamada por
Mário de “Internacionalismo Musical”. Nesta fase os músicos ainda tinham uma consciência
de colonos, e afirmavam sua condição subalterna fazendo música exatamente igual à dos
europeus, quase como se enfeitando com as quinquilharias obtidas através do escambo.

Com a República, o esperado era que, se alinhando a um sentido americano, a


nossa música esquecesse a “excrescência” aristocrática. Mas não foi o que aconteceu. Para
Mário, nossa música já tinha técnica o suficiente para caminhar por si própria, mas
continuou sob a tutela da Europa.
Nessa época também começa a se reconhecer a música popular - a música da
Colônia não é considerada popular brasileira, porque o Brasil, como nação, não existia.
Inspirado pelo Grupo dos Cinco, russo, Alberto Nepomuceno e Alexandre Levy tentaram
nacionalizar a música por meio da temática popular.
A música no Brasil, então começou a ter um interesse cada vez maior pelo que é
genuinamente brasileiro, e Mário chama a fase a qual é contemporâneo de Fase
Nacionalista, composta por compositores tais quais Villa Lobos, Camargo Guarnieri,
Francisco Mignone, Frutuoso Viana, Radamés Gnatalli entre outros. O maior entrave para a
música é a falta geral de técnica do compositor brasileiro, atribuída por ele a fatores
econômicos.

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