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UNIVERSIDADE FEDERAL DO ESPÍRITO SANTO

CENTRO DE EDUCAÇÃO
DEPARTAMENTO DE EDUCAÇÃO, POLÍTICA E
SOCIEDADE
CURSO DE GEOGRAFIA

IZIS COUTINHO
LUCIANA EFÉSIOS
LUIZ CARLOS CARVALHÁS
PATRICK RIBEIRO
RENNAN ATAÍDES

A MÚSICA COMO FERRAMENTA PARA A GEOGRAFIA


ESCOLAR:
UM DEBATE SOBRE INSEGURANÇA URBANA

VITÓRIA – ES
2018
UNIVERSIDADE FEDERAL DO ESPÍRITO SANTO
CENTRO DE EDUCAÇÃO
DEPARTAMENTO DE EDUCAÇÃO, POLÍTICA E
SOCIEDADE
CURSO DE GEOGRAFIA

IZIS COUTINHO
LUCIANA EFÉSIOS
LUIZ CARLOS CARVALHÁS
PATRICK RIBEIRO
RENNAN ATAÍDES

A MÚSICA COMO FERRAMENTA PARA A GEOGRAFIA


ESCOLAR: UM DEBATE SOBRE INSEGURANÇA URBANA

Trabalho de Conclusão de Curso


apresentado ao Departamento de
Educação, Política e Sociedade do
Centro de Educação da
Universidade Federal do Espírito
Santo, como requisito parcial para a
obtenção do grau de Licenciado em
Geografia.
Orientador: Prof. Me. Wagner
Scopel Falcão.

VITÓRIA – ES
2018
COMISSÃO EXAMINADORA

Professor Mestre Wagner Scopel Falcão


Universidade Federal do Espírito Santo
Orientador

Professor Mestre Ítalo Severo Sans Inglez


Instituto Federal do Espírito Santo

Professor Especialista Thiago Barcelos Pereira


Prefeitura Municipal de Cariacica
AGRADECIMENTOS DO GRUPO

A Deus por ter dado saúde е força para superarmos as dificuldades ao longo
do curso.
À Universidade Federal do Espírito Santo pelo ambiente criativo е amigável
que nos proporciona.
Ao Prof. Ms. Wagner Scopel Falcão, pela orientação, apoio е confiança.
A Prof. Dr. Vilmar Borges pelo carinhoso apoio.
Ao Prof. Sérgio Rodrigues pela contribuição na elaboração deste trabalho,
nosso professor parceiro que cedeu suas aulas para que realizássemos o ateliê
educacional.
A Escola Estadual de Ensino Fundamental e Médio Aflordízio Carvalho da
Silva, que abriu suas portas para nós e fomos muito bem recebidos pelos seus
integrantes.
Agradecemos а todos os professores por nos proporcionar о conhecimento
durante nossa trajetória na universidade.
Aos nossos pais, família e amigos pelo amor, incentivo е apoio, que nos
momentos de ausência dedicados ао estudo superior, entenderam qυе о futuro
é feito da dedicação do presente!
Aos nossos companheiros de curso, pois a amizade que fizemos vão continuar
presentes em nossas vidas para sempre.
A todos qυе diretamente оυ indiretamente fizeram parte da nossa formação, о
nosso muito obrigado.
Dando sempre graças por tudo a nosso Deus e Pai, em nome de nosso Senhor
Jesus Cristo;
Efésios 5:20
RESUMO

Este trabalho consiste no uso da música como ferramenta para o ensino da


disciplina de geografia na educação básica. Entre as várias formas que música
pode ser usada, nesse contexto ela servirá como ferramenta pedagógica para
auxiliar o ensino-aprendizagem. Com base em conceitos teóricos
fundamentados pela leitura dos autores: Duarte (1994), Godoy (2009),
Castellar (2005), Da Silva (2015), Romanelli (2009), Soares e Rubio (2012),
Correia (2003), Caregnato (2013), Lima (2010), Visentini (2004), Penna (2010),
Claval (2007), foi possível construir argumentos e as justificativas para a prática
pedagógica, o Ateliê Educacional, teve a participação ativa dos alunos, com
performance criativa e satisfatória. Os alunos foram orientados pelos
graduandos sobre a questão da insegurança urbana, no intuito de construir
uma visão crítica sobre seu cotidiano, destacando a relação aluno x escola x
cidade. A prática contou com as linguagens musicais escolhidas pelos próprios
alunos, com sons, ritmos e melodias. A partir da vivência dos alunos do 3º ano
noturno do ensino médio do 3N1, da escola Estadual de Ensino Fundamental e
Médio Aflordízio Carvalho da Silva, estes recriaram as músicas em forma de
paródias de acordo com a proposta do debate sobre a insegurança urbana em
seu cotidiano sugerido pelo ateliê educacional, com objetivo de reproduzir a
problemática deste conflito urbano por um ponto de vista crítico da realidade
vivida. Em suma, o que foi proposto em mostrar nesse trabalho é que a
subjetividade musical e o pensamento geográfico sobrepostos no ensino da
geografia, com isso foram alcançadas boas articulações através de debates,
dinâmicas de grupo, questionário/diagnósticos, dificuldades e interação com o
conteúdo. Todas essas competências foram essenciais para que os resultados
obtidos fossem verídicos e consequentemente pudesse expandir o pensamento
crítico dos alunos, e assim fortalecesse ainda mais o processo de educação
social, papel admirável na formação e atuação dos professores.

Palavras-chave: Música, Geografia, Ensino, Insegurança urbana e Vivência.


ABSTRACT

This assignment consists on the use of music as a tool to the teaching of


Geography in the Basic Education. Amongst many ways that music can be
used, in this context it will serve as a pedagogical tool to assist the teaching-
learning process. Based on theoretical concepts based on the reading of the
authors: Duarte (1994), Godoy (2009), Castellar (2005), Da Silva (2015),
Romanelli (2009), Soares e Rubio (2012), Correia (2003), Caregnato (2013),
Lima (2010), Visentini (2004), Penna (2010), Claval (2007), it was possible to
construct arguments and justifications to the pedagogical practice. The Ateliê
Educacional had active participation of the students, with creative and
satisfactory performance. The students were oriented by the graduating
students on the issue of urban insecurity, aiming to build a critical vision about
their daily lives, emphasising the relation student x school x city. The pratice
counted with musical languages chosen by the students themselves with
sounds, rhythms and melodies. The High School senior students, night class
3N1, from the “Escola Estadual de Ensino Fundamental e Médio Aflordízio
Carvalho da Silva”, based on their experiences, turned the songs into parodies
accordingly to the proposed on the debate about urban insecurity on their daily
life, suggested by the Ateliê Educacional, with the objective of reproduce the
problematic of this urban conflict under a critical point of view of the reality
experienced. In short, what has been intended to show in this assignment is the
musical subjectivity and the geographical thinking added to the teaching of
Geography. With this it was achieved good articulations through debates, group
activities, questionnaires/diagnosis, difficulties and interaction with the subject.
All these actions were essential to ensure the veracity of the results obtained
and, therefore, to make it possible to expand the critical thinking of the students,
making stronger the process of social education, admirable role in the
background formation and actuation of teachers.

Keywords: Music, Geography, Teaching, Urban Insecurity and Experience.


LISTA DE FIGURAS E GRÁFICOS

Figura 1: EEEFM Aflordízio Carvalho da Silva..................................................18


Figura 2: Fachada da EEEFM Aflordízio Carvalho da Silva, ao fundo o Quartel
da Polícia Militar do ES..................................................................................... 20
Figura 3: Entrada da EEEFM Aflordízio Carvalho da Silva............................... 20
Figura 4: Portão de acesso principal a EEEFM Aflordízio Carvalho da Silva... 21
Figura 5: Perguntas do questionário................................................................. 25
Figura 6: Apresentação do ateliê educacional.................................................. 36
Figura 7: Discussão sobre o tema.................................................................... 37
Figura 8: Preenchimento do questionário......................................................... 37
Figura 9: Divisão dos grupos............................................................................ 39
Figura 10: Produção da paródia....................................................................... 41
Figura 11: Paródia do Grupo 1......................................................................... 44
Figura 12: Paródia do Grupo 2......................................................................... 45
Figura 13: Paródia do Grupo 3......................................................................... 46

Gráfico 1: Bairros que os alunos moram.......................................................... 28


Gráfico 2: Idades dos alunos............................................................................ 29
Gráfico 3: O que é insegurança para você?..................................................... 30
Gráfico 4: A insegurança atrapalha seu desempenho escolar?....................... 31
Gráfico 5: Insegurança no trajeto casa x escola x casa................................... 32
Gráfico 6: Se sim, qual sua insegurança?........................................................ 32
Gráfico 7: Se não, por que?.............................................................................. 33
Gráfico 8: De que forma você acha que a insegurança pode ser
minimizada?...................................................................................................... 34
SUMÁRIO

1 - CONHECENDO A PESQUISA: APRESENTAÇÃO DO DESAFIO............ 10

2 - GEOGRAFIA ESCOLAR E A LINGUAGEM MUSICAL............................. 13

3 - A IDEALIZAÇÃO: ATELIÊ EDUCACIONAL.............................................. 18


3.1. DESCOBRINDO A ESCOLA..................................................................... 18
3.2. PROPOSTA DE APLICAÇÃO................................................................... 21
3.3. METODOLOGIA E APLICAÇÃO............................................................... 23
3.3.1 – Detalhamento da proposta do ateliê educacional à turma.................... 24
3.3.2 – Aplicação do questionário e discussão sobre o tema Insegurança
Urbana.............................................................................................................. 24
3.3.3 – Análise dos questionários e a escolha das músicas a serem
trabalhadas....................................................................................................... 25
3.3.4 – Apresentação das três músicas escolhidas e a divisão da sala em
grupos............................................................................................................... 25
3.3.5 - Construção das paródias a partir das músicas propostas..................... 26
3.3.6 – Avaliações das paródias e interação entre a
turma................................................................................................................. 26

4 - RESULTADOS: OUVINDO E APRENDENDO........................................... 27


4.1. QUESTIONÁRIOS..................................................................................... 27
4.2. PERCEPÇÃO DOS GRADUANDOS/OFICINEIROS EM RELAÇÃO AOS
ALUNOS DURANTE O ATELIÊ........................................................................ 35
4.2.1 – Primeiro encontro.................................................................................. 35
4.2.2 – Segundo encontro................................................................................. 39
4.2.3 – Terceiro encontro.................................................................................. 41
4.3. AVALIAÇÃO E INTERAÇÃO: “EU SO QUE É SER
FELIZ”............................................................................................................... 43

5 - O QUE NÓS VEMOS.................................................................................. 48

REFERÊNCIAS................................................................................................ 51

ANEXOS .......................................................................................................... 53
10

1- CONHECENDO A PESQUISA: APRESENTAÇÃO DO DESAFIO

Esta pesquisa discute as possibilidades do ensino da geografia, com


apoio da música como uma ferramenta valiosa de auxílio para o trabalho do
professor em sala de aula, em suas estratégias de ensino, contribuindo para o
desenvolvimento de um pensamento crítico do aluno que busque desenvolver a
sua autonomia. De acordo com Duarte (1994), esta realidade é determinada a
seguir da consciência dos homens, no curso da socialização, isto é, no
processo de aprendizagem do mundo para passar as novas gerações,
tornando-se produto daquilo que próprio produziu.
A leitura e o pensamento crítico do mundo requerem novas práticas de
ensino-aprendizagem, com aplicações de metodologias que possam superar as
formas de memorizações e a aquisição mecânica do conhecimento. E vivendo
em um mundo com dinâmicas de transformações geográficas culturais, físicas,
sociais, políticas e econômicas, manter práticas pedagógicas que já não fluem
juntamente com essas mudanças, desestimulam o entendimento e a
construção de novos conhecimentos que a geografia oferece.
O tema da pesquisa foi escolhido no intuito de reflexão do contexto
dinâmico sócio-político da cidade, peculiarmente com o tema insegurança
urbana, com o apoio da linguagem musical, visando motivar e ampliar as aulas
de geografia de forma que sejam produzidas novas expressões artísticas que
possam falar de forma crítica o problema urbano existente.
Explorar as músicas nas aulas possui uma possibilidade de
aprendizagem aluno-professor e professor-aluno, pois faz com que seu uso no
ensino da geografia vá além do ensinamento no sentido formal, podendo
ampliar as formas de observação do mundo vivido e, consequentemente,
produzir novos olhares, movimentos, conteúdos e sentimentos dos envolvidos
na ação. Os recursos das diversas composições e as ideias lançadas através
da letra e do ritmo, que compõem a música, possibilitam a problematização dos
conteúdos, além de instigar a criatividade dos alunos, pois assim, eles poderão
entender os assuntos e conteúdos geográficos de uma maneira mais fácil.
Conforme Godoy (2009), o papel da música no ensino da geografia é elucidar,
clarear e enfatizar os assuntos relativos à disciplina, aumentando o interesse
dos jovens e, portanto, sua compreensão dos temas.
11

O assunto insegurança urbana foi abordado neste trabalho como


conteúdo geográfico no contexto sócio espacial dos problemas das cidades
brasileiras, nesse sentido, os centros urbanos apresentam uma de suas
principais características: o conflito social e, consequentemente, a violência.
Tal conflito pode ser observado nas ruas pelas lutas de massas sociais,
apresentadas através de manifestações, segregações e fragmentações
urbanas. Numa escala local, na cidade como lugar de experiências, onde as
pluralidades acontecem, pode-se colocar em prática a proposta pedagógica,
com a utilização da música como ferramenta no processo de ensino
aprendizagem.
Os alunos do 3º anodo turno noturno, da turma 3N1, da Escola Estadual
de Ensino Fundamental e Médio Aflordízio Carvalho da Silva, foram base da
aplicação do ateliê1 educacional.
A partir dos conhecimentos prévios sobre o tema, de acordo com o
espaço geográfico no qual eles estão inseridos, os alunos responderam a um
questionário/diagnóstico que indicou suas percepções sobre o assunto
insegurança urbana; e este será o ponto de partida para a discussão da
temática. Na sequência da prática pedagógica, a música foi usada como
instrumento educacional, possibilitando ao aluno desenvolver suas habilidades
e competências de acordo com o conteúdo geográfico ensinado, ampliando
sua capacidade de análise crítica do tema.
O presente trabalho está dividido em três capítulos, no primeiro será
abordado a importância da geografia escolar e da linguagem musical. A
linguagem geográfica sob a perspectiva cultural, que se valida como uso da
música no cotidiano escolar, a diversidade de pontos de vistas e as
possibilidades de assimilação, elevam a capacidade do aluno de construir e
reafirmar seus pressupostos culturais, que muitas vezes são anulados pela
escola. Desta maneira, o ensino de geografia junto à ferramenta música, pode
auxiliar na formação da percepção do aluno frente aos movimentos que os
rodeiam diariamente.

1 Ateliê: Local de trabalho de um artista. Local de trabalho de um artesão. Aula ou


curso prático sobre uma atividade ou um assunto específico - Dicionário Aurélio.
12

Em seguida, serão abordados o planejamento e a metodologia utilizada


ao longo do trabalho, pois estes embasaram toda preparação e a execução das
atividades propostas para o ateliê educacional. A utilização do artifício de
criação de paródias será relevante para os alunos do 3º ano do ensino médio,
visto que estes devem treinar a utilização de diversos gêneros textuais visando
o melhor desempenho no ENEM (Exame Nacional de Ensino Médio).
No último capítulo, serão descritos os resultados obtidos ao longo do
ateliê educacional, tais como as respostas dos questionários, a percepção dos
oficineiros em relação ao comportamento dos alunos ao longo do trabalho e as
avaliações das paródias criadas. O fechamento do ateliê educacional dá-se
pela apresentação das paródias construídas em sala de aula para todos os
colegas da classe, para fins de conhecimento, discussão e maior preparo frente
à temática desenvolvida.
13

2- GEOGRAFIA ESCOLAR E A LINGUAGEM MUSICAL

A sociedade passou por significativas transformações nos últimos


séculos, bem como no atual, neste contexto a geografia não se limita mais aos
conhecimentos enciclopédicos e a simples transferência de informações, mas
se expande no sentido de propiciar a construção do pensamento crítico.
É na linha do pensamento geográfico cultural, com suas singularidades, que
o ensino da geografia escolar reflete a prática da visão sócio construtiva, por
meio da qual o aluno passa a construir através do ensino os seus
conhecimentos, reafirmando suas culturas.

[...] a tarefa do ensino é a de tornar os conteúdos


veiculados objetos de conhecimentos para o aluno, o que
requer constante diálogo do sujeito do conhecimento,
portador de uma cultura determinada, com esses outros
objetos culturais, no sentido de atribuir-lhes significados
próprios, o que é necessário para um processo de
aprendizagem (CASTELLAR, 2005, p.71).

O ensino da geografia escolar implica na mediação do conhecimento


entre professor e aluno, de forma que o aluno construa sua aprendizagem.
Nesse processo a geografia é capaz de formar cidadãos que além do
aprendizado do meio físico, desenvolvem o lado intelectual, o afetivo e o social
do espaço em que vivem.
Desta maneira, o ensino e o estudo da geografia são elementos
imprescindíveis para a formação das percepções: dos impactos ambientais,
globais, locais; das consequências da globalização; dos conflitos sócio-
espaciais nas suas distintas escalas, como a violência urbana de diferentes
particularidades e influências; Tais como dos conflitos como ocorre na Síria;
dos movimentos agrários no Brasil; dos movimentos migratórios; dos efeitos do
modo de vida urbana; dos meios e disseminação tecnológica; das
representações cartográficas, etc.
Portanto, a geografia escolar possui temas que podem ser trabalhados
sistematicamente na edificação do pensar geográfico crítico, de modo didático,
utilizando metodologias alternativas para o aprendizado do aluno.
14

[...] todo esse processo requer que a geografia ensinada


seja confrontada com a cultura geográfica do aluno, com a
chamada geografia do cotidiano, para que esse
confronto/encontro possa resultar em processos de
significação e ampliação da cultura do aluno
(CASTELLAR, 2005, p. 72).

O uso da música como ferramenta de aprendizagem na aula pode


contribuir em diferentes aspectos, como a produção do conhecimento, dando
estímulo nos diferentes sentidos do aluno, para que o mesmo exercite não só a
escrita, mas também a oratória, o senso de interpretação e interação coletiva.
O auxílio dessa ferramenta, quando utilizada de maneira adequada, traz
grandes êxitos para o processo de ensino e aprendizagem do aluno e a
realização profissional do professor. O aluno passa a assimilar e entender o
conteúdo de forma mais rápida e eficiente, além de enriquecer a metodologia
como o professor ensina a geografia nas suas aulas, desta forma, possibilitará
um desenvolvimento cognitivo para ambas as partes formadoras do processo
de ensino-aprendizagem. Mesmo sendo uma metodologia alternativa, trabalhar
a geografia através da música é apenas mais uma das diversas ferramentas
que podem ser implantadas e utilizadas dentro do processo educacional (DA
SILVA, 2015, p. 21).
Seguindo este raciocínio, utilizar ferramentas alternativas na aula, como
a música, pode propiciar influências importantes na esfera social. A música,
linguagem universal, persiste em todas as culturas e encontra um papel em
vários sistemas educacionais, não por causa de seus serviços ou de outras
atividades, mas porque é uma forma simbólica. A música é uma forma de
discurso tão antiga quanto a raça humana, um meio no qual as ideias acerca
de nós mesmos e dos outros são articuladas em formas sonoras (SWANWICK,
2003, p. 29 apud VALKÍRIA, 2007, p. 40).
A escola além de traduzir um viés de ensino, caracteriza-se também
como um espaço cultural, visto que é composta por um corpo de docentes e
discentes muito grande, além de toda comunidade escolar que formam a
instituição, tornando propícia a diversidade entre o coletivo.
Para Romanelli (2009), a música é uma linguagem para todos os seres
humanos e assume diversos papéis na sociedade, como função de prazer
estético, expressão musical, diversão, socialização e comunicação. Na escola,
15

a música é linguagem da arte, é uma possibilidade de estratégia de ensino, ou


seja, é uma ferramenta para auxiliar a aprendizagem de todas as disciplinas.
A linguagem musical na aula favorece o aguçamento do senso de
interpretação e crítico. Segundo Soares e Rubio (2012), a música é
favorecedora do desenvolvimento cognitivo/linguístico, psicomotor e sócio
afetivo do aluno, pois já que estão todos correlacionados; a ação musical deve
induzir comportamentos motores e gestuais, que direcionados às atividades
lúdicas de alfabetização, como a escrita e a leitura facilitam a compreensão,
associação dos códigos e signos linguísticos, gerando uma construção do
saber. É importante que o professor, por meio da música, direcione sua ação
pedagógica a uma formação crítica e sensibilizada, na qual a música ajude os
alunos a aprender, sentir, expressar e pensar a realidade ao seu redor.
Desenvolvendo capacidades, habilidades e competências, criando situações de
comunicação e expressão para que o aluno conecte-se ao imaginário e a
fantasia do processo de criar e interpretar, desenvolvendo a dimensão sensível
que a música traz ao ser humano.
Utilizar-se da linguagem musical na aula, mais precisamente dentro das
disciplinas de ciências humanas, é importante, pois a música é algo atemporal.
As narrativas presentes nas letras tratam desde o passado até o futuro, além
de abranger aspectos significativos de cultura e sociedade, principalmente no
que diz respeito à crítica.

O professor pode utilizar a música em vários segmentos do


conhecimento, sempre de forma prazerosa, bem como: na
expressão e comunicação, linguagem lógica matemática,
conhecimento científico, saúde e outras. Os currículos de
ensino devem incentivar a interdisciplinaridade e suas
várias possibilidades. A utilização da música pode
incentivar a participação, a cooperação, socialização, e
assim destruir as barreiras que atrasam a democratização
curricular do ensino (CORREIA, 2003, p.84- 85).

Vale ressaltar que a linguagem musical propicia ao aluno desenvolver


potencialidades cognitivas, uma forma diferente de se trabalhar determinado
conteúdo, escapando de um “tradicionalismo metodológico”. Diante disso, a
música surge como uma ferramenta, em que a estrutura do que se planeja
exemplificar através dela já esteja pré-moldada.
16

É necessário que se faça um diagnóstico sobre o tema com os alunos


para que em seguida possa ser efetivada a aplicação da aula lúdica. Isso é
importante, pois a música por si só abre um leque de diferentes interpretações
e contextos, podendo ser percebida de diferentes formas. A música nos remete
a uma ideia de entretenimento, o que faz diferença em utilizá-la é a mensagem
e o conhecimento que ela pode agregar, vale ressaltar que as ferramentas
disponíveis são várias, como por exemplo: filmes, desenhos, fotografias,
quadrinhos e etc., mas cabe ao professor adaptá-las para o ensino-
aprendizagem.

A música é importante na escola justamente porque ela é


“inútil”. Porque, assim como a pintura e as outras formas
de arte, ela não tem funcionalidade, ela se diferencia do
apetrecho ou dos objetos repletos de utilidade com que
travamos contato no nosso cotidiano. É essa “inutilidade”,
ou seja, o valor estético e artístico da música, que os
alunos devem experimentar e conhecer. Quando a música
assume uma função na forma de “música para melhorar o
comportamento”, “música para aumentar a inteligência”,
“música para desenvolver a coordenação motora”, a
música deixa de ser música, deixa de ser arte, e se torna
simplesmente uma coisa utilitária, como as demais que
nos cercam (CAREGNATO, 2013, p. 110).

A música expressa uma simbologia muito particular em cada um,


exercendo sobre todos sentimentos e sensações diferentes, isso está
diretamente ligado aos resultados e a produtividade de cada um. Um aluno
pode dissertar muitas páginas acerca do conhecimento que obteve com a
aplicação de uma determinada música e outro pode escrever apenas um
parágrafo. É importante que o professor tenha sensibilidade e que seja
imparcial nos critérios avaliativos, principalmente se a atividade estiver voltada
para o cotidiano do aluno ou aspectos que refletem condições sociais.
Referente ao desenvolvimento das características sensitivas, Lima
(2010) afirma que é através da música que o educador tem uma forma
privilegiada de alcançar seus objetivos, podendo explorar e desenvolver
características no aluno, pois o indivíduo, através da educação musical cresce
emocionalmente, afetivamente e cognitivamente, desenvolve coordenação
motora, acuidade visual e auditiva, bem como memória e atenção, e ainda
criatividade e capacidade de comunicação.
17

Quanto ao uso e aplicabilidade da música, é necessário que o professor


analise o volume informação que a mesma carrega de acordo com o assunto
trabalhado, visto que a música traz uma bagagem de conhecimentos, logo isso
envolve o caráter metodológico da aula.
Como já foi exemplificado, a música dentro da sala de aula, é apenas
uma ferramenta para auxiliar o processo de ensino-aprendizagem. Não
podendo esquecer que as contribuições da linguagem musical e a forma da
sua aplicabilidade são uma questão metodológica e individual do profissional
da educação.
Dentre as possibilidades que surgem ao se trabalhar a linguagem
musical em sala de aula, pode-se citar como válida a produção da própria
música com a turma, a partir de um gênero musical que esteja em evidencia no
cotidiano dos alunos, isso pode vir a facilitar o desenvolvimento da atividade.
O mais importante é que se leve em consideração o verdadeiro sentido
da linguagem musical, que é romper os limites da educação engessada,
oferecendo aos alunos diferentes alternativas de aprender, somando
musicalidade, didática e metodologia.
18

3 - A IDEALIZAÇÃO: ATELIÊ EDUCACIONAL

3.1. DESCOBRINDO A ESCOLA

A escola em que a presente pesquisa foi desenvolvida é a Escola


Estadual de Ensino Fundamental e Médio Aflordízio Carvalho da Silva,
localizada no Bairro da Penha, Vitória - ES (figura 1). A escola foi criada em
1971 e passou a funcionar em 1973 com o nome Escola Polivalente de
Maruípe “Aflordízio Carvalho da Silva”. Na ocasião, a escola ofertava apenas o
ensino de 1º grau, atualmente chamado de Ensino Fundamental, de acordo
com a Lei de Diretrizes e Bases Educacional Nacional - LDB (Lei 9394/1996).

Figura 1: EEEFM Aflordízio Carvalho da Silva.

Fonte: IJSN/Google Maps.

O nome da escola foi dado em homenagem ao Professor Aflordízio


Carvalho da Silva (1901-1976) pelo mérito adquirido em suas caminhadas em
prol da educação no estado. Durante a sua carreira, o professor Aflordízio
atuou com primor e adquiriu vários cargos, sendo um deles, como destaque, o
19

de Inspetor de alunos do Estado do Espírito Santo, inspecionando e intervindo


em vários educandários da época (ROSA; MACHADO; NUNES, 2017).
No final do ano de 2014, foi inaugurada a última grande reforma em toda
estrutura física da escola, tornando-a mais adequada ao atendimento de sua
demanda. Hoje a escola conta com 14 salas de aula, cada uma dedicada a
uma disciplina, porém sem material de apoio condizente para elas, as salas
possuem armários para que sejam guardados seus materiais e também uma
TV, que o professor pode utilizar como recurso didático através de exposição
de conteúdos audiovisuais.
Sob o ponto de vista estrutural, o espaço físico da escola apresenta
boas condições para o andamento das atividades e para o dia a dia dos alunos.
Possui um bom laboratório de informática, climatizado e com quadro digital, um
bom espaço usado como biblioteca, porém sem profissional responsável e,
consequentemente, não está organizada de modo eficiente. Espaços como
refeitório e pátio estão bem conservados e atendem perfeitamente a demanda
do período noturno e toda parte administrativa da escola.
Uma ressalva deve ser apresentada quanto ao espaço adequado à
prática de atividade física: o ginásio de esportes. Localizado em um anexo ao
terreno da escola prometido para entrega em 2016 ainda não está concluído,
portanto, nas aulas de educação física os alunos utilizam o pátio da escola,
evidenciando o descaso frente a essa situação.
Quanto a sua localização no contexto da capital Vitória, mesmo a escola
estando localizada em frente à Avenida Maruípe (via de grande fluxo da
cidade), a mesma não é afetada pelo ruído produzido pelos carros. Felizmente,
a escola foi removida em sua última grande reforma, para o canto de seu
terreno físico, afastando-a da avenida. Nas figuras a seguir (figuras 2, 3, e 4)
pode-se verificar a fachada da escola.
20

Figura 2: Fachada da EEEFM Aflordízio Carvalho da Silva, ao fundo o Quartel da Polícia Militar
do Espirito Santo.

Foto: Autores.

Figura 3: Entrada da EEEFM Aflordízio Carvalho da Silva.

Foto: Autores.
21

Figura 4: Portão de acesso principal a EEEFM Aflordízio Carvalho da Silva.

Fotos: Autores.

Quanto às possibilidades de deslocamento para alunos e professores, a


escola conta com saídas para a região de Maruípe, Bairro da Penha, Itararé e
São Benedito, caso o deslocamento seja via transporte público, a escola é
atendida por diversas linhas do sistema municipal de transporte e também pelo
sistema metropolitano, facilitando o acesso à escola vindo de qualquer parte da
cidade.
Enfim, retirando a questão da quadra de esportes, o todo da parte
estrutural da escola pode ser considerada boa e atende quase que por
completo as demandas produzidas pelos seus alunos.

3.2. PROPOSTA DE APLICAÇÃO

A proposta de aplicação do ateliê educacional sugerida pelos


graduandos parte da ideia de trabalhar um assunto de extrema importância
dentro da geografia que é a insegurança urbana, juntamente com a realidade
social dos alunos, utilizando-se de uma aula lúdica, que permita o aluno
experimentar diferentes formas de aprendizado.
Foi utilizado o termo ateliê educacional, para se referir a prática
educacional realizada. E para os graduandos foi utilizado o termo “oficineiros”.
22

A proposta desse trabalho é utilizar um dos temas de maior relevância


no atual cenário social do país: a insegurança urbana. Não apenas os alunos
estão incluídos neste contexto, mas também seus familiares, professores, e
todas as esferas populacionais.
Os alunos do turno noturno possuem uma maior tendência à evasão
escolar, uma vez que uma maioria já atingiu a maioridade e se veem obrigados
a conciliar trabalho e estudos, muitos pertencem a camadas populares
residentes de zonas periféricas e carregam uma bagagem de experiências do
cotidiano. Desta forma, a aplicação do ateliê e as vivências de cada um,
posteriormente, refletirão nas atividades desenvolvidas.
A proposta de atividade foi aplicada na turma de 3º ano (3N1), por se
tratar do último ano escolar, visto que posteriormente alguns alunos prestarão o
ENEM. Por este ponto de vista é esperado poder contribuir com o ensino-
aprendizagem dos alunos, principalmente no aprimoramento da escrita e na
produção textual.
Até este ponto do trabalho, foi abordada a importância do uso da música
dentro do ambiente escolar. É importante ressaltar que antes da atividade ser
aplicada é preciso explicar aos alunos detalhes dessa prática, que ocorrerá em
dois momentos: o primeiro consiste na aplicação de um questionário para que
haja uma familiarização com a turma, e em seguida, uma aula centralizada
sobre o tema proposto, para que na hora da produção o assunto não se
disperse. O segundo momento consiste na produção de paródias sobre a
insegurança urbana, as músicas utilizadas foram sugeridas nos questionários
pelos próprios alunos.
A construção de paródias, a partir de músicas conhecidas que retratam o
tema, foi proposital para facilitar a produção por parte do aluno. Carvalho
(2015) ressalta que quando compõem uma paródia de música do seu
conhecimento os alunos criam uma ideia de fenômenos que não são comuns e
escrevem palavras que estavam distantes do seu repertório lexical coloquial.
A composição de paródia musical pode ser usada como uma estratégia
alternativa para trabalhar conceitos considerados pelo aluno de difícil
assimilação. Com este entendimento, serão escolhidas músicas com base nas
respostas dos alunos ao questionário, serão ainda consideradas demais
23

respostas pessoais em relação ao tema tratado e todo esse conjunto servirá


como embasamento para a efetivação da atividade proposta.

3.3. METODOLOGIA E APLICAÇÃO

O fluxograma 1 a seguir sintetiza as etapas envolvidas no processo de


desenvolvimento do trabalho.

Fluxograma1: Etapas do desenvolvimento do Ateliê Educacional.

Fonte: Autores.

Antes da realização do ateliê educacional foi realizada uma reunião de


planejamento com o professor colaborador Sérgio Rodrigues, no dia 19 de
março de 2018, na qual foi apresentada a proposta do ateliê e solicitada a
autorização para executá-la, também foram definidos o tema “Insegurança
Urbana” e a turma “3N1”.
Conseguinte, foi elaborado pelos oficineiros o plano de aula (anexo A)
para guiar as atividades e o questionário/diagnóstico (anexo B), com o intuito
de analisar e compreender o grau de conhecimento dos alunos sobre o tema
proposto e o gosto musical dos mesmos. O questionário foi apresentado ao
professor Sérgio para a sua aprovação e disponibilização de aulas para a
24

realização do ateliê educacional, que autorizou 5 aulas para a atividade, sendo


2 aulas no dia 19 de abril, 2 aulas no dia 26 de abril e 1 aula no dia 24 de junho
de 2018.
A metodologia da aplicação do ateliê educacional foi dividida em 6 (seis)
etapas: i) detalhamento da proposta do ateliê educacional à turma; ii) aplicação
do questionário e discussão sobre o tema Insegurança Urbana; iii) análise dos
questionários e a escolha das músicas a serem trabalhadas; iv) apresentação
das três músicas escolhidas e a divisão da sala em grupos; v) construção das
paródias; vi) avaliação das paródias e interação entre a turma.

3.3.1–Detalhamento da proposta do ateliê educacional à turma

No primeiro encontro com a turma foi apresentado como seriam as


etapas e as datas do ateliê educacional, que ficou definido:
1° Encontro 19/04/2018
 Aplicação do Questionário;
 Discussão sobre o Tema “Insegurança urbana”.
2° Encontro 26/04/2018
 Apresentação das 3 músicas e divisão da sala em grupos;
 Construção das paródias a partir das músicas propostas.
3° Encontro 24/06/2018
 Avaliação das paródias e interação entre a turma.

3.3.2- Aplicação do questionário e discussão sobre o tema Insegurança


Urbana

O questionário possui 12 perguntas, sendo elas apresentadas na figura


5 a seguir:
25

Figura 5: Perguntas do questionário.

Fonte: Autores.

Após a aplicação do questionário foi apresentada uma aula de exposição


dialogada com o tema insegurança urbana, realizada com apresentação de
slides e com o auxílio de imagens.

3.3.3 - Análise dos questionários e a escolha das músicas a serem


trabalhadas

A maioria das músicas sugeridas pelos alunos fazia apologia ao crime,


então foram selecionadas aquelas que retratam o cotidiano sobre a sensação
de insegurança. As músicas selecionadas foram: “Eu Vejo”, da Banda Ponto de
Equilíbrio (anexo C); “O homem que não tinha nada”, do Cantor Projota (anexo
D); e o “Rap da Felicidade”, de Cidinho e Doca (anexo E).

3.3.4 - Apresentação das três músicas escolhidas e a divisão da sala em


grupos

Na primeira aula a turma foi dividida em 3 grupos, as músicas foram


apresentadas aos alunos juntamente com as letras impressas. Após isso, cada
26

grupo escolheu sua música e se organizaram para a construção das paródias.


Os alunos que chegaram no segundo horário fizeram um novo grupo,
totalizando assim 4 grandes grupos.
As músicas escolhidas pelos alunos foram “O homem que não tinha
nada”, do Cantor Projota e o “Rap da Felicidade”, de Cidinho e Doca. Sendo
que 2 grupos fizeram a paródia de “O homem que não tinha nada”, e 2 grupos
fizeram a paródia do “Rap da Felicidade”.

3.3.5 - Construção das paródias a partir das músicas propostas

Para construção das paródias foram definidas algumas palavras chave:


Cidade, segurança, insegurança, medo, luto, injustiça, justiça, amor, igualdade,
valor, paz e esperança. Sendo assim, foi pedido aos grupos que utilizassem no
mínimo 3 palavras chave na produção das paródias.

3.3. 6 - Avaliações das paródias e interação entre a turma

A aula das apresentações das paródias foi dividida em dois momentos:


primeiro eles se reuniram em seus respectivos grupos para relembrar o que
haviam escrito; e no segundo momento os grupos apresentaram as paródias
para os demais colegas. As apresentações foram muito importantes para os
oficineiros perceberem se os objetivos propostos pelo ateliê foram alcançados.
Para as avaliações das paródias foram feitas as seguintes observações:
a utilização das palavras chave propostas; crítica social; e esforço por parte do
grupo na realização da atividade.
27

4 – RESULTADOS: OUVINDO E APRENDENDO

4.1. QUESTIONÁRIOS

O ensino da geografia apresenta sua importância desde as séries


iniciais, pois suas aplicabilidades relacionam-se com a formação de conceitos
básicos que acompanham os alunos durante todo o limiar da vida escolar,
auxiliando diretamente no desenvolvimento. A geografia das series iniciais tem
também com uma de suas particularidades a formação cidadã do aluno.
A relação entre o que se estuda nas aulas de geografia e o que se
apresenta ao aluno por meio de suas percepções no cotidiano conflitante é de
fundamental importância, pois o ensino da geografia descontextualizado pode
levar a diminuição da sua importância como disciplina. Logo, a geografia atua
como instrumento na compreensão do espaço vivido pelo aluno, fomentando o
uso das práticas de socialização e firmando bases frente a sua identidade e
aos conceitos básicos de lugar, paisagem, espaço e território.

Pode-se dizer que os pressupostos básicos dessa “revolução” ou


reconstrução do saber geográfico consistiram e consistem na criticidade e
no engajamento. Criticidade entendida como uma leitura do real – isto é - do
espaço geográfico – que não omita as suas tensões e contradições, tal
como fazia e faz a geografa tradicional, que ajude a esclarecer a
espacialidade das relações de poder e de dominação. E engajamento visto
como uma geografa não mais “neutra” e sim comprometida com a justiça
social, com a relação das desigualdades socioeconômicas e das
disparidades regionais (VISENTINI, p.222. 2004).

Tendo como proposta do trabalho discutir e trabalhar os termos relativos


à insegurança no cotidiano do aluno, foi disposto um questionário baseado em
perguntas com questões fechadas de múltipla escolha e 5 questões de cunho
pessoal, visando identificar os elementos que pudessem em sua ação
atrapalhar o desenvolvimento escolar desse aluno. Vale destacar que o
questionário não pedia a identificação do aluno.
Tal questionário entregue aos alunos serviu inicialmente para confirmar
algumas questões, como por exemplo, o público alvo da escola, pois foi
constatado que a maioria dos alunos da turma envolvida na atividade é
moradora dos bairros do entorno da escola. Como pode ser percebido no
gráfico 1 a seguir.
28

Gráfico 1: Bairros que os alunos moram.

BAIRROS QUE OS ALUNOS MORAM


6

Fonte: Autores.

O gráfico 1 acima apresenta que não se tem um bairro predominante


onde moram os alunos.
Outra constatação também importante foi em relação à faixa etária dos
alunos, porque sendo uma turma de 3º ano do Ensino Médio, na qual é
esperado que os alunos estejam com idade entre 17 e 18 anos, ficou
evidenciado nos formulários quedos31 alunos, 23 possuem mais de 18 anos
completados, indicando a não execução completa e correta do ciclo escolar
pela Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB), Lei 9493. Segundo
a LDB, conforme o Título III, artigo 4° – Do Direito à Educação e do Dever de
Educar, fica estabelecido:

Art. 4°. O dever do Estado com educação escolar pública será efetivado
mediante a garantia de: I – educação básica obrigatória e gratuita dos 4
(quatro) aos 17 (dezessete) anos de idade, organizada da seguinte forma:
a) pré-escola; b) ensino fundamental; c) ensino médio[...] (LBD 9493/1996)

No gráfico 2 pode-se visualizar a distribuição da faixa etária dos alunos


do 3N1.
29

Gráfico 2: Idades dos alunos.

IDADES DOS ALUNOS


NÃO RESPONDEU
>21 ANOS 3%
6% 17 ANOS
20 ANOS 26%
13%

19 ANOS
26% 18 ANOS
26%

Fonte: Autores.

No gráfico 2 pode-se perceber que a faixa etária predominante dos


alunos é maior de 18 anos, estando fora da faixa etária de acordo com a
legislação vigente.
A não conclusão do ciclo escolar no prazo adequado pode estar
relacionada a problemas de cunho disciplinar, a questões de oportunidades e
problemas sociais (desemprego, desestrutura familiar, envolvimento com o
tráfico, dentre outros), como relatado pelo aluno João (nome fictício) – “ainda
não saí da escola porque reprovei várias vezes”. A partir desse relato e alguns
outros, foi percebido o “fantasma do ensino noturno”. Isto posto, foi lançado aos
oficineiros propor alternativas para que os objetivos sugeridos no plano de aula
fossem todos alcançados.
O uso da temática insegurança urbana foi pensando inicialmente como
uma tentativa de propor aos alunos caminhos para o desenvolvimento dos
conceitos voltados à insegurança urbana, com foco direto no seu deslocamento
diário entre sua casa ou trabalho até a escola e vice e versa.
No gráfico 3 pode-se visualizar o medo da sensação de insegurança,
mesmo que muitos se esforcem para não transparecer essa face. Medo de ser
assaltado, de ser baleado, de não poder andar com nada de valor em mãos,
nem mesmo o celular, algo tão presente na vida dos jovens.
30

Gráfico 3: O que é insegurança para você?

O QUE É INSEGURANÇA PARA VOCÊ?

NÃO VER
POLICIAMENTO
MEDO DE SER
NAS RUAS
ASSALTADA E
7%
ESTUPRADA
19%
MEDO DE SER
ASSALTADO E
AGREDIDO
MEDO DA 13%
VIOLÊNCIA
45%
MEDO DE SER
ASSALTADO
16%

Fonte: Autores.

No gráfico 3 acima tem-se as repostas dos alunos sobre o que pensam a


respeito do tema proposto. De acordo com os alunos, 45% têm medo da
violência no geral, sendo este o fator que mais provoca a sensação de
insegurança.
Assuntos como guerra do tráfico, conflitos entre gangues rivais,
confrontos entre a força policial e o crime organizado e seus constantes toques
de recolher foram frequentes nos relatos dos alunos. “Como cobrar de um
aluno minimamente elementos básicos como respeito em sala de aula sendo
que ele já traz consigo, em sua subjetividade, traços de iminente violência e de
total desrespeito a todos seus direitos?”. Uma situação conflituosa, conflito este
que se desenvolve em sala de aula quando se consolida a dificuldade do
professor em desenvolver seu trabalho.
Visto todo esse cenário de insegurança no trajeto de ida e volta da
escola, foi questionado ao público alvo se esse fato atrapalhava seu
desenvolvimento escolar, como pode ser visto no gráfico 4. Não foi surpresa
quando a análise dos dados apontou que dos 31 questionários respondidos, 22
alunos (71%), relataram que os processos diários de violação das liberdades
31

influem diretamente em seu desenvolvimento na escola. Essa pergunta pedia


também o famoso “porquê”, e os alunos trouxeram à luz questões tais como, o
desânimo por não poder ir a aula devido a conflitos na comunidade, toques de
recolher e até mesmo intimidação entre alunos de comunidades diferentes
dentro da sala de aula.

Gráfico 4: A insegurança atrapalha seu desempenho escolar?

A INSEGURANÇA ATRAPALHA SEU


DESEMPENHO ESCOLAR?
NÃO
RESPONDEU
3%
NÃO
26%

SIM
71%

Fonte: Autores.

É percebido que os alunos acreditam que a sensação de insegurança


afeta no desempenho escolar, pois 71% dos alunos responderam que sim.
Uma questão que novamente apontaram foi o medo de ir até a escola e
não ter certeza de seu retorno, como pode ser visto nos gráficos 5,6 e 7. Nos
questionários foi relatada a dificuldade em não se preocupar apenas com a
aula, visto que a rotina da escola muitas vezes é alterada por toques de
recolher e problemas na comunidade, que forçam o término da aula mais cedo.
E quando a aula termina às 22 horas (horário padrão) há sempre a
preocupação com o retorno.
32

Gráfico 5: Insegurança no trajeto casa x escola x casa.

INSEGURANÇA NO TRAJETO CASA X


ESCOLA X CASA
NÃO
39%

SIM
61%

Fonte: Autores.

O gráfico 5 acima apresenta que 61% dos alunos sentem medo no


trajeto da casa até a escola e vice e versa. E a partir desta mesma pergunta foi
pedido para dizer em caso de resposta positiva, qual a insegurança, e se não,
qual seria o porquê?

Gráfico 6: Se sim, qual sua insegurança?

SE SIM, QUAL SUA INSEGURANÇA?


14

12

10

0
SER ASSALTADO RUA DESERTA COM CONFRONTO POLICIAL O MEU SOBRENOME
POUCA ILUMINAÇÃO X TRAFICO - BALA
PERDIDA

Fonte: Autores.
33

Gráfico 7: Se não, por que?

SE NÃO, POR QUÊ?


6

0
ME SINTO ME SINTO SEGURO PORQUE POSSO PORQUE SOU NÃO
PROTEGIDO PELA MORRER A MUITO CONHECIDO RESPONDERAM
LEI DO TRAFICO QUALQUER HORA NO BAIRRO

Fonte: Autores.

Nos gráficos 6 e 7 foram obtidas respostas variadas, dentre elas foram


agrupadas as mais parecidas.
Foi perguntado aos alunos como a situação de insegurança em seu
cotidiano poderia ser minimizada, como pode ser visto no gráfico 8, e o
resultado foi uma seara de opiniões. Apesar de todo esse distanciamento entre
os pontos de vista, alguns elementos se repetiram em quase todas as
respostas: a necessidade de se melhorar o policiamento; melhorar o
policiamento e a melhorar a iluminação; investimento em educação;
capacitação policial para uma ação mais humanitária.
34

Gráfico 8: De que forma você acha que a insegurança pode ser minimizada?

DE QUE FORMA VOCÊ ACHA QUE A INSEGURANÇA PODE


SER MINIMIZADA?
16
14
12
10
8
6
4
2
0
ME SINTO SEGURA MAIS INVESTIR EM AUMENTAR O AUMENTAR O
NO MEU BAIRRO HUMANIDADE EDUCAÇÃO POLICIAMENTO POLICIAMENTO E
MELHORAR A
ILUMINAÇÃO

Fonte: Autores.

No gráfico 8 acima, pode-se perceber que a maior parte dos alunos


acreditam que o aumento do policiamento e de iluminação são de fundamental
importância para que esse quadro seja revertido. Alternativas como projetos
sociais, mais oportunidades de emprego, valorização e respeito aos indivíduos
foram também respostas das questões.

A capacidade de aprender, não apenas para nos adaptar, mas, sobretudo


para transformar a realidade, para nela intervir, recriando-a, fala de nossa
educabilidade a um nível distinto do nível do adestramento dos outros
animais ou do cultivo das plantas (FREIRE, p.76.1996).

Os resultados da última questão foram muito relevantes pois


demostraram que os alunos possuem um pensamento crítico, são capazes e
podem avançar, não devendo ser subestimados pelos professores.
Vale ser ressaltado que segundo os alunos, o fato da escola ser
margeada pelo Quartel General da Polícia Militar do Espírito Santo, não remete
a sensação de maior segurança, visto que o policiamento é quase inexistente
nessa região.
35

4.2. PERCEPÇÃO DOS GRADUANDOS/OFICINEIROS EM RELAÇÃO AOS


ALUNOS DURANTE O ATELIÊ

4.2.1 – Primeiro encontro

A percepção dos alunos no começo do projeto foi de desconfiança, até


por ser algo desconhecido, uns não se sentiram atraídos, o que é normal e já
era esperado. Mas os oficineiros buscaram introduzir bem o tema e instigar a
proposta da forma mais coesa possível para ser entendida por todos. Porém,
ao ser apresentada à turma o tema insegurança urbana atraiu grande parte dos
alunos, até por viverem tal realidade. Houve vários questionamentos sobre o
assunto, exposição de pontos de vistas diferentes, alguns em tom de
brincadeira e outros muitos sérios.
Apesar de tratar de insegurança urbana, foi dada total liberdade,
inclusive para que dissessem se sentem ou não inseguros no caminho da casa
para escola e vice e versa. Alguns disseram até o contrário do que se
esperava, dizendo que se sentem seguros, com o argumento de que os
traficantes da região protegem a população. Neste momento a sala se
encontrava dividida em relação a quem realmente podem confiar sua
segurança, se na polícia ou nas leis do tráfico da região.
O primeiro momento (figura 6), como dito, foi de desinteresse até verem
como seria feito o trabalho, mas a partir da apresentação da proposta da
paródia, essa barreira foi quebrada. Quando souberam que seriam os
realizadores das paródias, ouvia-se muito de todos os cantos da sala “eu não
consigo”, mas ainda assim a maioria ficou no mínimo curiosa em como seria o
andamento dessa atividade.
36

Figura 6: Apresentação do ateliê educacional

Foto: Autores.

Após a apresentação do tema, os oficineiros tentaram instigar ao


máximo o debate sobre o assunto e ouvir relatos dos alunos, surgindo a
questão da “greve da polícia”, ocorrida no início do ano de 2017 no Estado do
Espírito Santo, fato que eles viveram de perto, devido à localização da escola.
Além da questão da greve da polícia, os oficineiros expuseram um dado
importante, uma comparação que mostra que o número de homicídios do Brasil
é maior que o da Guerra Civil na Síria (figura 7). Fato que os fizeram refletir,
tendo em vista que há poucos dias o mesmo país estava em evidência nas
grandes mídias por conta dessa guerra civil.
Neste debate foi percebido que até a “turma do fundão” que
normalmente é mais bagunceira, demostrava total interesse na discussão e
levantaram algumas dúvidas.
37

Figura 7: Discussão sobre o tema.

Foto: Autores.

Num segundo momento, após receberem o questionário (figura 8), a


questão violência foi ainda mais discutida, pois o tema abriu espaço para que
os alunos pudessem compartilhar situações que eles viveram ou que alguém
próximo viveu. Além do debate sobre insegurança, durante essa aula houve
muitos esclarecimentos, principalmente sobre os direitos que os mesmos como
cidadãos possuem, sempre dando a liberdade para a participação dos alunos.

Figura 8: Preenchimento do questionário.

Foto: Autores.
38

Quando o debate mudou de vertente e foi específico em relação às


mulheres, muitas alunas demonstraram não acreditar nos direitos que
possuem. Quando os oficineiros falaram que a mulher tem direito de pedir ao
motorista do transporte público para que pare no lugar mais seguro para ela
após as 22 horas, muitas alunas da turma desconheciam e passaram a
questionar sobre o direito, praticamente todas demonstraram surpresa com
essa informação. Além de desconhecerem totalmente de instrumentos
tecnológicos que são voltados para a segurança da mulher, como o aplicativo
“SaiPraLá”, algumas até expressaram vontade de contar com essa tecnologia.
Depois da aula expositiva dialogada, foi apresentada a proposta da
música que seria aplicada no próximo encontro e isso atraiu muitos deles,
talvez o ápice da interação na sala de aula. Alguns não acreditaram que
poderiam indicar qualquer música que abordasse a insegurança. Um dos
alunos até apresentou uma música do gênero de funk que ele mesmo produziu
e que seu amigo cantou.
Um fato marcante da interação, foi quando uma aluna incentivada pelos
colegas e encorajada pelos oficineiros, cantou a letra da música escolhida e
apresentou para todos, apesar da timidez que demonstrou no início,
desenvolveu bem a letra da música de seu gosto e arrancou aplausos de todos
os presentes na sala.
Outro momento de grande interação com a turma, principalmente com a
“turma do fundão”, foi quando os oficineiros cantaram a música de funk clássica
chamada “Rap da felicidade”, da dupla Cidinho e Doca, e a turma seguiu, entre
gargalhadas, cantorias e aplausos. Os oficineiros, a temática e a dinâmica
proposta foram bem recebidos pela turma.
Em resumo, no primeiro dia houve uma boa aceitação por grande parte
da turma que se mostrou muito interessada e disposta a participar das
atividades, apesar da desconfiança quanto a própria capacidade. A turma
quase toda (exceto alguns tímidos) debateu o assunto e faziam diálogos entre
si, no que tinham em mente para a elaboração da paródia para próxima aula e
se comprometeram a falar com os colegas que faltaram no dia a não faltar na
próxima semana.
39

4.2.2 – Segundo encontro

No segundo dia as ideias foram colocadas em prática, embora a aula


tenha começado de forma apreensiva, já que a aula iniciou e a sala estava
vazia, mas segundo os poucos que estavam na ocasião, é normal a demora
para a chegada dos alunos. Então foi decidido começar a separação dos
grupos para a atividade. Os alunos representantes dos grupos escolheram os
colegas, seja aquele que tenha mais afinidade ou demonstrasse notável
habilidade relacionada à música (figura 9).

Figura 9: Divisão dos grupos.

Foto: Autores.

Como já era de se esperar, alguns poucos alunos não queriam participar


no começo, julgando que seria uma atividade cansativa, mas foram observando
ao redor e vendo que a maioria dos colegas da turma estava empenhada na
composição do grupo e interessados em fazer a atividade, sendo assim, foram
“forçados” a participar. Com o passar dos minutos, foram gostando da atividade
e tiveram total liberdade para produzir.
Quando foram apresentadas as músicas para que eles escolhessem a
mais viável para a paródia, a turma gostou bastante, os que ainda estavam um
pouco desinteressados prestaram a atenção.
A primeira música tocada foi um “Rap”, que foi muito bem aceita e era de
conhecimento da maioria dos que ali estavam. Fato interessante é que
40

enquanto eram tocadas as músicas, os alunos que ainda chegavam e iam se


ajeitando se surpreendiam com o ambiente musical que estava acontecendo
naquele momento. Alguns iam chegando e cantando as canções em alto e bom
tom rindo e se divertindo.
A segunda música tocada foi no ritmo de ‘Reggae’ e apesar de gostarem
da letra, já que possuíam cópias em mãos, se confundiam com a melodia, e
não ficaram tão animados em escolher esta música.
A última música a ser tocada, foi no ritmo “Funk” que além de ser do
gosto da maioria, julgaram mais fácil para a composição da paródia, muitos
deles cantaram enquanto a música estava sendo tocada. Por fim, muitos
acabaram escolhendo-a.
Ao começar a composição das paródias, debateu-se sobre com o que
alguns deles chamaram de “dificuldade”, no momento que os oficineiros
determinaram o uso de algumas palavras chave que deveriam conter na letra
da paródia, alguns já tinham começado e outros ainda se prendiam na primeira
linha. Havia muita discussão sobre qual palavra cairia melhor na rima,
demonstrando total comprometimento com atividade, até mesmo os alunos que
não estavam fazendo muito, ajudaram dando poucas sugestões.
O ambiente de descontração foi importante para aguçar a criatividade de
grande parte deles (figura 10), até os que julgavam a atividade como “muito
difícil” na primeira aula, estavam conseguindo prosseguir rimando as palavras
de acordo com o tema e encaixando as palavras chave solicitadas.
41

Figura 10: Produção da paródia.

Foto: Autores.

Aparentemente gostaram do que estava saindo de todo aquele


amontoado de palavras e frases que rimavam. Estando focados durante duas
aulas, seria normal uma dispersão por parte de alguns deles, mas seguraram o
mesmo ritmo do começo, cada um fazendo uma frase e vendo a mais perfeita
possibilidade de encaixe da melhor palavra para completar a rima. Foi
percebido pouquíssimos alunos desinteressados na atividade, mais
precisamente as alunas que compuseram o grupo 4, pois estas chegaram bem
tarde na aula. Um fato que estimulou a participação da grande maioria foi que o
professor Sérgio usou essa oficina como parte da nota do trimestre.

4.2.3 – Terceiro encontro

Após um período de espera devido a alguns imprevistos, aconteceu o


dia da finalização das práticas, no qual seriam compartilhados os trabalhados
realizados pelos alunos. À medida que os mesmos foram chegando à sala de
aula já iam diretamente reunindo com seus respectivos grupos. Se comparado
com o segundo dia das atividades, a quantidade de alunos era menor, mas não
influenciou no bom aproveitamento da aula. Antes de iniciarem as
apresentações das paródias, foi pedido para que os grupos se reunissem,
foram cedidos 15 minutos para que eles pudessem relembrar o que haviam
feito até o momento, alguns tiveram tempo de mudar o que julgavam não estar
42

bom e outros aproveitaram o tempo para terminar o que ainda estava faltando,
para auxiliá-los foram tocadas as duas músicas usadas no trabalho (a princípio
eram três, mas o Reggae não foi escolhido).
Apesar da turma não estar com a quantidade de alunos que tinha nas
últimas aulas, a turma estava animada para saber o resultado das paródias
feitas pelos colegas. Nesse momento o alvoroço estava pela escolha dos que
iam representar o grupo e apresentar o seu trabalho para a turma primeiro, uns
pedindo aos outros para irem à frente da sala dar seu “show”.
O Grupo 1, que foi o primeiro a se apresentar, fez a paródia sobre o
“Rap da Felicidade”. Nesse grupo, todos estavam envergonhados, como era de
se esperar, mas depois de uma insistência dos colegas, um aluno, que
segundo eles foi responsável por grande parte da paródia, resolveu vencer a
timidez e ir à frente da sala declamar o que havia escrito, alguns riram, outros
não acreditaram que ele tivesse essa “coragem toda”, mas ele não só foi, como
apresentou muito bem o seu trabalho e arrancou aplausos de todos presentes
na sala.
O Grupo 2, o segundo a se apresentar foi ainda mais tímido, houve
muita insistência dos oficineiros e dos demais colegas de sala, com a
justificativa de que estava “muito ruim” pois não conseguiram dar o seu melhor
e segundo eles não conseguiram encontrar as melhores rimas e nem
conseguiram escrever muito, até não quiseram falar no começo, mas com
muita insistência, uma das meninas leu os versos da paródia e também
terminou arrancando aplausos de todos com um bom trabalho.
O Grupo 3, que fez a terceira apresentação encontrou mais dificuldade
pois estavam com poucos integrantes já que muitos faltaram, até tentaram nos
minutos que faltavam terminar a atividade, porém estavam muito
desacreditados, houve ainda mais insistência e mesmo assim eles não
quiseram apresentar, coube a uma integrante dos oficineiros colaborar com
eles, recitando a paródia que fizeram, para mostrá-los que o trabalho ficou bom
de fato, apesar dos integrantes acharem que estava ruim.
O último momento de grande interação dos oficineiros com os alunos
acabou sendo bem marcante, pela descontração de todos. Incentivado por
alguns alunos, o Grupo 1 decidiu cantar a paródia para toda a sala desde que
um dos oficineiros fosse na frente acompanhando e ajudasse a cantar, desafio
43

mais que aceito! A alegria tomou conta da sala, com todos cantando a paródia
do Rap da Felicidade, até os que estavam tímidos durante toda apresentação
resolveram fazer parte desse momento.
No final ainda sobrou tempo para uma brincadeira musical à parte. Um
dos alunos trouxe um Tablet com aplicativo muito utilizado por DJ’s
especialmente no ritmo de funk e perguntou se poderia conectá-lo à caixa de
som que os oficineiros usaram na dinâmica, foi deixado à vontade e com o
equipamento conectado começou a descontração e eles adoraram essa
interação. Alguns sugeriram cantar novamente a paródia que produziram dessa
vez com a batida de funk, mas o sinal acabou tocando e só deu tempo de
agradecê-los pelo período juntos e ouvir muitos elogios por parte deles por
essa aula completamente interativa.
Em resumo, foi uma relação muito boa entre os oficineiros e os alunos
do 3N1, de comportamento não houve problemas, pelo contrário, houve muito
respeito e muito empenho por parte de todos na realização desse trabalho.

4.3. AVALIAÇÃO E INTERAÇÃO: “EU SO QUE É SER FELIZ”

Após a realização da prática e das apresentações, foi o momento de


analisar e avaliar as paródias (figuras 11, 12, e 13), buscando entender um
pouco as inspirações e o conteúdo das letras que as compuseram, foram feitas
as avaliações e análises para cada paródia específica e o seu conteúdo, vale
ressaltar que não houve mudanças por parte dos oficineiros nas letras das
paródias, tudo foi feito pelos alunos.
Desde o início foi frisado que eles teriam total liberdade para se
expressar como quisessem desde executassem os critérios de avaliação:
empregar algumas das respectivas palavras chave exigidas ou qualquer
palavra que tivesse o significado semelhante; realizar uma crítica social; e
empenhar-se na realização da paródia.
44

Figura 11: Paródia do Grupo 1 - Inspirada no “Rap da Felicidade”.

Fonte: Grupo 1.

A música em si, já retrata muito a realidade dos alunos desta escola,


mas a paródia também serviu para que eles externassem algo pessoal que
tenha visto ou até vivido acerca do indivíduo jovem de uma realidade de
insegurança. Logo na primeira estrofe já vem um desejo de “andar com
segurança no meu bairro e meu país”, tendo em vista que a maioria vem da
comunidade e que a realidade deles é de insegurança, uma grande
demonstração de criticidade. A frase “é tanta violência que sinto medo de viver”
é bem o sentimento que foi captado quando o assunto insegurança foi debatido
nas aulas, o medo de andar nas ruas indo de casa para a escola e no retorno.
A violência não se limita só as ruas, infelizmente é um problema social
que invade os lares e isso também teve um destaque na passagem que diz “e
poder me orgulhar de ter segurança fora e dentro do meu lar”. Apesar dos
autores da paródia dizerem que a paródia estava incompleta, tanto que ela
termina com uma frase solta dizendo “já não aguento mais ficar em casa
desempregado...”, a paródia do Grupo 1 foi o que mais se aproximou dos
objetivos propostos dentre as feitas, tanto da forma lida e ainda melhor cantada
na forma de coral pelos alunos, surpreendendo a todos presentes na sala.
Foi unanimidade de todos oficineiros que essa paródia foi a que mais se
aproximou da proposta, por realmente captar com sensibilidade e excelência
45

com as palavras, inclusive ao usar uma linguagem mais informal quando diz
“enquanto os políticos roubam, eu continuo na mesma merda” demostrando um
pouco de radicalidade.

Figura 12: Paródia do Grupo 2 - Inspirada no “O Homem Que Não Ninha Nada”.

Fonte: Grupo 2.

A música “O Homem Que Não Ninha Nada” foi escolhida por


unanimidade pelos integrantes do grupo 2 para fazerem a paródia, pois a
maioria deles conheciam a música e já gostavam do artista. Eles se esforçaram
muito para fazer um bom trabalho, mas focaram apenas em tentar encaixar as
palavras que foram sugeridas, o que acabou limitando um pouco a rima no
texto, mas é de se destacar que quando foi recitada ficou muito boa como uma
poesia bem declamada.
Percebeu-se uma grande insegurança do Grupo 2 em ousar no
momento da escrita, apesar de terem total liberdade para isso. Gostar da
música e conhecer o cantor não tornou o trabalho fácil como esperavam, eles
acharam difícil e trabalhosa a criação da paródia, apesar de um pouco de
preguiça, normal e esperada, mas todos do grupo 2 deram sua contribuição. O
resultado final acabou tendo apenas algumas palavras diferentes como “O
homem que não tinha nada, encontrou outro homem que não tinha amor”.
Outra frase marcante que demonstra um pouco de criticidade da parte do grupo
46

2 é a que diz “ninguém nasce corrupto, então me deixe tentar”, dando um


sentido totalmente diferente da versão original do rapper.
Em resumo o trabalho foi bem realizado, embora ter ficado um pouco
incompleto, agradou os oficineiros. Apesar de alguns faltosos e brigas entre os
componentes do grupo, o grupo 2 soube levar o trabalho até final. Um ponto
negativo foi que a timidez tomou conta, mas no geral o objetivo foi alcançado.

Figura 13: Paródia do Grupo 3 – Inspirada no “O Homem Que Não Tinha Nada”.

Fonte: Grupo 3.

O Grupo 3 foi o que demonstrou maior disposição na realização da


paródia, até chegar no resultado final eles buscaram muitas ideias na criação
para que ficasse bem diferente da versão final. Antes de chegar à conclusão de
que seria a “criança” o personagem da paródia, tiveram outras tentativas, por
exemplo, usar “estudante” como personagem.
Os integrantes do Grupo 3 chegaram no último dia com receio de
apresentar, pois a paródia ainda não estava pronta e o grupo não estava
completo, ou seja, quem havia feito algumas partes não foi na escola no dia.
No entanto os poucos que estavam elegeram uma representante para
transcrever as partes e juntá-las, mesmo achando que não estava boa.
No processo de criação houve tanto empenho que em várias folhas
tinham partes de versos, pois foi entregue algumas folhas com a letra da
47

música original para auxiliá-los e nesses anexos existiam vários rascunhos de


rimas e frases que poderiam ser usadas na paródia. As poucas rimas, não
influenciaram negativamente e o resultado foi um belo trabalho dos alunos que
estavam incrédulos até ouvirem os aplausos dos colegas.
O enredo que fala de uma criança como futuro tendo muitos obstáculos
no presente, principalmente a dificuldade de realizar seus sonhos por conta da
sua condição social, no caso da paródia a relação de uma criança pobre da
periferia que apesar da insegurança e todas as condições adversas, tem o
sonho de ser jogador de futebol. Mostrando que apesar da criança não ter
nada, ela deve ter esperança e que o sonho nada e ninguém tiraria. O Grupo 3
demonstrou sensibilidade e crítica social ao fazer essa versão de “O homem
que não tinha nada”, dando nome de “A criança que não tinha nada”,
atendendo os critérios de avaliação.
O Grupo 4 foi desfeito de última hora por conta da falta das integrantes,
duas integrantes foram transferidas de turma e as outras duas não foram no
dia, apesar da paródia do grupo 4 nem ter sido iniciada na aula anterior, logo
não teve material suficiente para uma análise e avaliação.
48

5 – O QUE NÓS VEMOS

A partir da metodologia aplicada foi possível compreender a importância


do uso da ferramenta música aliada ao ensino da geografia. A proposta do
ateliê educacional demonstrou tanto nas respostas dos questionários, quanto
nas paródias produzidas, que essa metodologia só agrega conhecimento aos
alunos e é uma excelente prática a ser utilizada nas aulas.
Conforme Penna (2010) pode-se perceber que o uso da ferramenta
música significa um processo educacional que se destina a todos na situação
escolar, e que necessita de ser sempre aprimorada. Independentemente de
serem adolescentes ou adultos, os alunos podem desenvolver diferentes
percepções da realidade que estão inseridos, afirmando assim, as diversas
pesquisas e práticas pedagógicas que apresentam o meio cultural como
formador de cidadãos.
Segundo Claval (2007) a geografia cultural é demostrada bravamente
nas relações dos grupos com o ambiente, ou seja, a dinâmica ocorrida na sala
de aula dos alunos do 3N1 demonstrou que a linguagem musical é uma ótima
ferramenta no ensino da geografia, e também no ensino de outras ciências.
Propor este trabalho numa escola pública de período noturno era um
desafio, mas com muito esforço acabou sendo prazeroso tanto para os
oficineiros quanto para os alunos. A escolha da temática insegurança urbana
surgiu por parte de todo o contexto observado e pela localização geográfica da
escola. Alguns episódios ajudaram na discussão do tema proposto, como por
exemplo, a greve da polícia militar no Estado do Espírito, pelo fato dos alunos
terem acompanhado de perto esse acontecimento, uma vez que a escola é
vizinha do quartel da polícia militar, além dos altos de índices criminalidade do
Estado e o fato dos alunos estarem inseridos em um contexto periférico.
No contexto da violência nas cidades, perguntas sobre insegurança
urbana foram discutidas, tais como: O que é insegurança para você? A
insegurança atrapalha seu desempenho escolar? De que forma você acha que
a insegurança pode ser minimizada? Dentre outras.
Como parte da metodologia empregada, o questionário entregue aos
alunos fez parte da primeira etapa utilizada neste trabalho. O questionário
serviu como norteador para reconhecimento dos saberes vividos que cada
49

aluno possui sobre o tema, principalmente na etapa da escolha das músicas, e


posteriormente a produção das paródias.
As respostas obtidas pelo questionário foram úteis para o
desenvolvimento do ateliê educacional, pois apresentaram informações
qualitativas e quantitativas, que mostraram o perfil dos alunos.
Grande parte dos alunos do ensino noturno estão “fora do padrão
escolar” em relação à idade, consequentemente estes disputam o tempo de
estudo com o tempo de descanso pós-trabalho. A maior parte das respostas
dos questionários levaram os graduandos a perceber que a
violência/insegurança urbana está presente na vida dos alunos desde a saída
de casa até a escola e vice-versa, evidenciando assim que este fato afeta no
rendimento escolar de muitos alunos. Pois vários alunos afirmaram em suas
respostas o quanto essa sensação de insegurança atrapalha o seu
desenvolvimento escolar, como em situações de encerramento adiantado do
turno de aula ou a não abertura da escola em dias de toque de recolher na
comunidade.
Uma etapa importante do ateliê educacional foram as escolhas das
músicas, pois foi dada liberdade aos alunos que escolhessem as músicas que
gostassem. As músicas “Rap da Felicidade”, “O Homem que Não Tinha Nada”
e “Eu Vejo” foram as escolhas dos alunos, estas músicas são contemporâneas
e bem críticas além de possuir o conteúdo insegurança urbana em sua
essência e fazem parte do gosto musical da turma.
Contudo, as paródias produzidas diante da percepção da sensação de
insegurança urbana em relação ao trajeto casa x escola x casa, conseguiu se
identificar as carências e medos que os alunos possuem, as respostas
alcançadas pelos questionários foram ilustradas nos gráficos.
Poder reconhecer as esperanças dos alunos ao final do ateliê
educacional em relação às suas perspectivas de melhoria do contexto vivido,
por meio do diálogo democrático e pela as exposições das ideias com o apoio
das recriações musicais, fizeram com que o trabalho de conclusão de curso,
admita a eficiência do processo de reflexão sobre o modo de ensinar de
maneira simples e compreensível, onde foi exigido apenas atenção por parte
dos alunos, relatos de seu cotidiano, criatividade, autonomia e senso crítico.
50

Entretanto, o uso da música como estratégia para o processo de ensino-


aprendizagem ainda há desafios, como por exemplo, se na ocasião da
elaboração desse trabalho, tivesse um aluno surdo na sala de aula, neste caso,
a proposta do ensino utilizando a linguagem musical ficaria um pouco mais
desafiadora.
Desta forma, diante do que foi visto, temos que ampliar nosso campo de
conhecimento, não ficando apenas nos métodos tradicionais, buscando sempre
outras formas de ensinar, aprimorando os saberes, e consequentemente
alcançando a meta de formar cidadãos críticos e conscientes do seu papel na
sociedade.
51

REFERÊNCIAS

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diretrizes e bases da educação nacional: Lei nº 9.394, de 20 de dezembro
de 1996, que estabelece as diretrizes e bases da educação nacional. – 11. ed.
– Brasília: Câmara dos Deputados, Edições Câmara, 2015. – (Série legislação;
n. 159). Disponível em: https://www.ufsj.edu.br/portal2-
repositorio/File/proen/ldb_11ed.pdf

BRASIL, Lei de Diretrizes e B. Lei nº 9.394/96, de 20 de dezembro de 1996.

CASTELLAR, S. M. V. (org.). Educação Geográfica: Teorias e práticas


docentes. 2. ed. São Paulo: Contexto, 2007.

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desenvolvimento extramusical. Revista Música Hodie, v.13, n. 2, p. 99-114,
2013. Disponível em:
https://www.revistas.ufg.br/musica/article/view/28011/16037. Acessado em
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musicais do ensino de biologia na EJA. 2015. Disponível em:
http://www.biblioteca.pucminas.br/teses/EnCiMat_CarvalhoVF_1.pdf. Acessado
em 24/04/2018.

CLAVAL, Paul. A geografia a cultural. Florianópolis, EDUFSC, 2007

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SWANWICK, 2003, p. 29 apud VALKÍRIA, 2007, p. 40. Disponível em:
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DEZOTTI, Marisa dos Santos, ORTIZ, Ail Conceição Meireles: O Ensino de


geografia em escola de educação básica na cidade de Santa maria: Uma
análise metodológica. Revista Disc. Scientia. Ano 2010

DUARTE JUNIOR, João Francisco. O que é Realidade. Editora Brasiliense:


São Paulo, 1994 (Coleção Primeiros Passos).

FERREIRA, Aurélio Buarque de Holanda. Dicionário da língua portuguesa. 5.


ed.

FREIRE, Paulo. Pedagogia da autonomia: Saberes necessários à prática


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GODOY, Moema Lavínia Puga de. A música, o ensino e a Geografia.


Monografia (Bacharelado) – Universidade Federal de Uberlândia, Curso de
Graduação em Geografia, Uberlândia, 2009.
52

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Artigo – Diretório de Artigos Gratuitos. 2010. Disponível em:
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PENNA, Maura. Música (s) e seu ensino. 2 ed. rer e ampl.- Porto Alegre:
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ROMANELLI, Guilherme. Como a música conversa com as outras áreas do


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Disponível em:
http://www.cfp.ufcg.edu.br/geo/monografias/RENAGILA%20SOARES%20DA%
20SILVA.pdf

ROSA, Gustavo S.; MACHADO, Jhullyana P.; NUNES, Julhia D.


Caracterização da Escola Estadual de Ensino Fundamental e Médio
Aflordízio Carvalho Da Silva, Vitória – ES. 2017.Trabalho de estágio
supervisionado 1 (Graduação do Curso de Geografia), Universidade Federal do
Espírito Santo, Vitória.

SILVA, Renágila Soares da. A importância da música nas aulas de


geografia: Práticas e métodos diferenciados no uso da música como
metodologia de ensino nas aulas de geografia. Universidade Federal De
Campina Grande (UFCG). Cajazeiras - PB, 2015. Disponível em:
http://www.eng2016.agb.org.br/resources/anais/7/1467674144_ARQUIVO_AM
USICAEAPOESIANAGEOGRAFIAESCOLAR.pdf. Acesso em: 24/04/18.

SOARES, Maura A.; RUBIO, Juliana A. S. A Utilização da música no


processo de alfabetização. Publicado na Rev. Eletrônica Saberes da
Educação. Volume 3, nº 1, 2012. Disponível em:
http://docs.uninove.br/arte/fac/publicacoes/pdf/v3-n1-2012/Maura.pdf Acessado
em 24/04/2018.

SWANWICK, 2003, p. 29 apud VALKÍRIA, 2007, p. 40. Disponível em:


http://www.scielo.br/pdf/er/n36/a10n36.pdf P.136. Acessado em 24/04/2018.

VESENTINI, José William. Realidades e perspectivas do Ensino de


Geografia no Brasil. O ensino de Geografia no século XXI. São Paulo:
Papirus, 2004.
53

ANEXOS
54

ANEXO A - PLANO DE AULA

PLANO DE AULA
19/04/2018 e 26/04/2018

Escola: EEEFM Aflordizio Carvalho Da Silva


Disciplina: Geografia
Professores: Izis Coutinho, Luciana Efésios, Luiz Carlos Carvalhás, Patrick
Ribeiro, Rennan Ataídes.
Número de Aula: 4 aulas (3 horas e 20 minutos)
Turma: 3° ano – 3N1
Tema: Atelier Educacional: Abordagem sobre a Insegurança escolar, utilizando
a ferramenta música.

Objetivo Geral:
Desenvolver o raciocínio e contribuir para uma melhor compreensão do tema
insegurança, utilizando o recurso da música com a finalidade de criação de
paródias.

Objetivos Específicos:
 Analisar como a insegurança pode influenciar no dia a dia e no
desempenho escolar;
 Refletir sobre músicas que trate do tema proposto;
 Confecções de paródias.

Desenvolvimento:
A aula será dividida em dois encontros, e em dois momentos (duas aulas cada
dia):

Primeiro encontro - 19/04/2018


1º momento:
 Exposição da programação da oficina com explicação das etapas e
objetivos.
55

 Aplicação de um diagnóstico/questionário com intuito de analisar e


compreender o grau de conhecimento dos alunos adquiridos nos seus
anos de escolaridade.

2º momento:
 Abordagem do contexto da dinâmica social da cidade e o problema da
insegurança.

Secundo encontro - 26/04/2018


1º momento:
 Com base nas respostas dos questionários, apresentaremos três
músicas que atendem as questões trabalhadas no encontro anterior.
Sendo assim iremos ouvi-las e analisa-las.
2º momento:
 Dividiremos a sala em três grupos e a partir da música escolhida terão
que elaborar uma paródia, que possa representar o enredo musical de
forma crítica. E depois, essas paródias serão apresentadas pelos
alunos, de modo que todos indivíduos envolvidos possam se integrar no
processo ensino-aprendizagem.

Metodologia:
Oficina

Recursos:
Questionário;
Exposição dialogada e de imagens;
Musicas;
Paródias.

Avaliação:
A avaliação será realizada nas apresentações das paródias pelos alunos,
analisaremos se todos indivíduos envolvidos se integraram no processo
ensino-aprendizagem.
56

ANEXO B - QUESTIONÁRIO
57
58

ANEXO C

Eu Vejo
Ponto De Equilibrio

Eu vejo na televisão
A tropa invadindo o complexo do alemão
eu leio nos jornais, novas notícias de guerras mortais
Eu vejo muita corrupção
Enquanto irmão, mata irmão (2x)
O bonde dos amigos invadindo
o bonde dos irmãos

Tanta guerra pra nada, nada, nada, nada, nada (4)

No breu da favela, na madrugada


A única luz que se vê, é a faisca de uma rajada
No breu da favela, na madrugada
O único som que se ouve, é o apito de uma matraca
É fogo cruzado, é tiro pra tudo que é lado
Pegue a criança no colo, agora e saia voado éh
Foi um alarde geral, tira a criança daí
Ai meu Deus do céu, proteja o meu filhinho
Proteja seus filho de fé
Deus, Deus do céu
Proteja seu filho de fé

Eu vejo na televisão
A tropa invadindo o complexo do alemão
eu leio nos jornais, novas notícias de guerras mortais
Eu vejo muita corrupção
Enquanto irmão, mata irmão (2x)
O bonde dos amigos invadindo
o bonde dos irmãos

Tanta guerra pra nada, nada, nada, nada, nada (4)

Cuidado com o Caveirão


Tire a criança daí
Não deixe ela ver isso não
Ela não merece ver isso, não
Não chore mais irmão
Não chore mais irmão
Não chore mais papai
Não chore, não chore, não chore mais mamãe
A justiça de Jah chegará
Ela tarda pra não falhar
59

A justiça de Jah chegará


A todo povo pobre da favela

Uôh-Uôh-Uôh-Uôh!

E pra você ainda é pouco?!


E pra você... ainda é pouco?!
60

ANEXO D

O Homem Que Não Tinha Nada (part. Negra Li)


Projota

O homem que não tinha nada acordou bem cedo


Com a luz do sol já que não tem despertador
Ele não tinha nada, então também não tinha medo
E foi pra luta como faz um bom trabalhador

O homem que não tinha nada enfrentou o trem lotado


Às sete horas da manhã com sorriso no rosto
Se despediu de sua mulher com um beijo molhado
Pra provar do seu amor e pra marcar seu posto

O homem que não tinha nada tinha de tudo


Artrose, artrite, diabetes e o que mais tiver
Mas tinha dentro da sua alma muito conteúdo
E mesmo sem ter quase nada ele ainda tinha fé

O homem que não tinha nada tinha um trabalho


Com um esfregão limpando aquele chão sem fim
Mesmo que alguém sujasse de propósito o assoalho
Ele sorria alegremente, e dizia assim

O ser humano é falho, hoje mesmo eu falhei


Ninguém nasce sabendo, então me deixe tentar (me deixe tentar)
O ser humano é falho, hoje mesmo eu falhei
Ninguém nasce sabendo (ninguém), então me deixe tentar

O homem que não tinha nada tinha Marizete


Maria Flor, Marina, Mário, que era o seu menor
Um tinha nove, uma doze, outra dezessete
A de quarenta sempre foi o seu amor maior

O homem que não tinha nada tinha um problema


Um dia antes mesmo foi cortada a sua luz
Subiu no poste experiente, fez o seu esquema
Mas à noite reforçou o pedido pra Jesus

O homem que não tinha nada seguiu a sua trilha


Mesmo caminho, mesmo horário, mas foi diferente
Ligou pra casa pra dizer que amava sua família
Achou que ali já pressentia o que vinha na frente

O homem que não tinha nada


Encontrou outro homem que não tinha nada
61

Mas este tinha uma faca


Queria o pouco que ele tinha, ou seja, nada
Na paranoia, nóia que não ganha te ataca

O homem que não tinha nada agora já não tinha vida


Deixou pra trás três filhos e sua mulher
O povo queimou pneu, fechou a avenida
E escreveu no asfalto "saudade do Josué"

O ser humano é falho, hoje mesmo eu falhei


Ninguém nasce sabendo, então me deixe tentar (me deixe tentar)
O ser humano é falho, hoje mesmo eu falhei
Ninguém nasce sabendo (ninguém), então me deixe tentar

Então me deixe tentar


Então me deixe tentar
Então me deixe tentar
62

ANEXO E

Rap da Felicidade
Cidinho e Doca

Eu só quero é ser feliz


Andar tranquilamente na favela onde eu nasci, é
E poder me orgulhar
E ter a consciência que o pobre tem seu lugar
Fé em Deus, DJ

Eu só quero é ser feliz


Andar tranquilamente na favela onde eu nasci, é
E poder me orgulhar
E ter a consciência que o pobre tem seu lugar
Mas eu só quero é ser feliz, feliz, feliz, feliz, feliz
Onde eu nasci, han
E poder me orgulhar
E ter a consciência que o pobre tem seu lugar

Minha cara autoridade, eu já não sei o que fazer


Com tanta violência eu sinto medo de viver
Pois moro na favela e sou muito desrespeitado
A tristeza e alegria aqui caminham lado a lado
Eu faço uma oração para uma santa protetora
Mas sou interrompido à tiros de metralhadora
Enquanto os ricos moram numa casa grande e bela
O pobre é humilhado, esculachado na favela
Já não aguento mais essa onda de violência
Só peço a autoridade um pouco mais de competência

Eu só quero é ser feliz


Andar tranquilamente na favela onde eu nasci, han
E poder me orgulhar
E ter a consciência que o pobre tem seu lugar
Mas eu só quero é ser feliz, feliz, feliz, feliz, feliz
Onde eu nasci, é
E poder me orgulhar
E ter a consciência que o pobre tem seu lugar

Diversão hoje em dia não podemos nem pensar


Pois até lá nos bailes, eles vem nos humilhar
Fica lá na praça que era tudo tão normal
Agora virou moda a violência no local
Pessoas inocentes que não tem nada a ver
Estão perdendo hoje o seu direito de viver
Nunca vi cartão postal que se destaque uma favela
Só vejo paisagem muito linda e muito bela
63

Quem vai pro exterior da favela sente saudade


O gringo vem aqui e não conhece a realidade
Vai pra zona sul pra conhecer água de côco
E o pobre na favela vive passando sufoco
Trocaram a presidência, uma nova esperança
Sofri na tempestade, agora eu quero abonança
O povo tem a força, precisa descobrir
Se eles lá não fazem nada, faremos tudo daqui

Eu só quero é ser feliz


Andar tranquilamente na favela onde eu nasci, é
E poder me orgulhar
E ter a consciência que o pobre tem seu lugar, eu
Eu só quero é ser feliz, feliz, feliz, feliz, feliz
Onde eu nasci, han
E poder me orgulhar, é
O pobre tem o seu lugar

Diversão hoje em dia, nem pensar


Pois até lá nos bailes, eles vem nos humilhar
Fica lá na praça que era tudo tão normal
Agora virou moda a violência no local
Pessoas inocentes que não tem nada a ver
Estão perdendo hoje o seu direito de viver
Nunca vi cartão postal que se destaque uma favela
Só vejo paisagem muito linda e muito bela
Quem vai pro exterior da favela sente saudade
O gringo vem aqui e não conhece a realidade
Vai pra zona sul pra conhecer água de côco
E o pobre na favela, passando sufoco
Trocada a presidência, uma nova esperança
Sofri na tempestade, agora eu quero abonança
O povo tem a força, só precisa descobrir
Se eles lá não fazem nada, faremos tudo daqui

Eu só quero é ser feliz


Andar tranquilamente na favela onde eu nasci, é
E poder me orgulhar
E ter a consciência que o pobre tem seu lugar, é
Eu só quero é ser feliz, feliz, feliz, feliz, feliz
Onde eu nasci, han
E poder me orgulhar
E ter a consciência que o pobre tem seu lugar
E poder me orgulhar
E ter a consciência que o pobre tem seu lugar

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