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Depressão e o Ambiente de Trabalho | Palestra com Dr.

Gordilho
DEPRESSÃO
27/04/2017

O Tribunal de Contas do Estado trouxe a Depressão como tema do seu Programa de


Saúde e Bem-Estar, em palestra ministrada por Dr. André Gordilho, psiquiatra da
Holiste.

Uma das maiores causas de afastamento do trabalho do mundo, a depressão é um tema


cada vez mais abordado nos programa de saúde das empresas, sejam elas públicas ou
privadas. O problema é tão sério que este ano a Organização Mundial de Saúde – OMS
elegeu a Depressão como tema do Dia Mundial da Saúde, realizando uma forte campanha
de conscientização e prevenção do transtorno. Com a palestra “Depressão e Tristeza
– como diferenciar?”, o psiquiatra André Gordilho esclareceu pontos importantes aos
colaboradores do TCE Bahia.

Tristeza não é Depressão


Muitas pessoas tendem a confundir o estado de tristeza com a depressão, chegando
até a se auto medicarem, colocando a própria saúde em risco. “Às vezes a pessoa
passa por um evento traumático, uma perda, que leva a um estado de luto, o que é
perfeitamente normal. Se um jovem perde uma matéria na faculdade e fica triste, ou
uma pessoa perde um ente querido, ou tem uma desilusão amorosa, nada mais natural
do que apresentar um quadro de tristeza. Mas isso não quer dizer que a pessoa está
deprimida, que tenha um quadro patológico de sofrimento. É preciso ter consciência
de que são coisas diferentes” – explica o especialista.

Mas, se a tristeza é comum e normal, quando devemos ficar alertas para um possível
quadro de depressão? “A depressão é uma tristeza sem motivo que não passa. Ela pode
até ser desencadeada por algum dos eventos traumáticos que citei anteriormente, mas
ela tende a não melhorar normalmente com o passar do tempo, gerando um prejuízo ao
paciente que não é razoável, é desmedido. Quando esse estado deprimido começa a
atrapalhar a vida do indivíduo no trabalho, nos estudos, nas relação sociais,
quando ele não cuida mais de sua saúde ou ameaça tirar a própria vida por conta
desse sofrimento, fica mais claro o quadro de depressão” – afirma Dr. Gordilho.

Prevenção é fundamental
Não existe um modo de se prevenir efetivamente uma depressão. Hábitos saudáveis e
uma vida equilibrada ajudam, mas não garantem que um indivíduo não venha
desenvolver um quadro depressivo ao longa da vida. Assim, a prevenção está
relacionada a identificação dos sintomas na fase inicial da doença e realização de
um diagnóstico precoce, o que diminui os impactos provocados pela doença e o risco
de uma crise. “É importante identificar a doença o mais rapidamente possível e,
logo em seguida, iniciar o tratamento de forma correta. A educação do paciente
também é muito importante. Geralmente eles enxergam a psiquiatria com preconceito e
isso acaba dificultando o processo de tratamento. No ambiente de trabalho, por
exemplo, é fundamental que a empresa e os gestores fiquem atentos aos sinais de que
algo de errado está acontecendo com o funcionário, quando ele não rende o que
deveria, falta ou se atrasa com frequência, não se relaciona bem com os colegas,
são sinais de que algo está errado. É preciso que haja um espaço de diálogo
confiável entre a empresa e o funcionário, para que ele se sinta seguro e busque a
ajuda necessária” – afirma Gordilho.
Tratamento
O tratamento da depressão tem avançado bastante nos últimos anos. Os medicamentos
atuais permitem que grande parte dos pacientes consigam ter uma vida normal,
mantendo a doença controlada. O psiquiatra chama a atenção para a importância da
continuidade do tratamento, que tem mais efeito quando realizado
multidisciplinarmente. “O tratamento quase sempre envolve um aporte medicamentoso,
mas as psicoterapias e outros cuidados com a saúde são fundamentais para um melhor
desenvolvimento do quadro. Também é importante a constância do tratamento; muitos
pacientes, ao primeiro sinal de melhora, suspendem a medicação por acharem que não
precisam mais dela, e é aí que existe o risco de agravamento da doença”.

Gordilho ainda lembra que, para pacientes que por algum motivo não podem fazer uso
das medicações psiquiátricas (alérgicos, por exemplo), existem as terapias de
neuroestimulação. A Eletroconvulsoterapia e a Estimulação Magnética Transcraniana
são duas alternativas que apresentam bons resultados em pacientes depressivos. “A
eletroconvulsoterapia, também conhecida como eletrochoque, apesar de não ser uma
pratica recente apresenta grandes resultados no tratamento das depressões
profundas, aquelas que apresentam risco de suicídio para os pacientes. A
estimulação magnética também apresenta bons resultados no tratamento, além de ser
uma pratica menos invasiva que dispensa a aplicação de anestesia, senda realizada
com praticidade e com o paciente sentado confortavelmente em uma poltrona” –
finaliza.

CARACTERÍSTICAS DA DEPRESSÃO
Como toda doença, a depressão tem sintomas, duração e forma de evolução
característicos. A pessoa costuma apresentar tristeza ou anedonia associadas a
outros sintomas, como perda de apetite, de peso, insônia, diminuição da energia,
diminuição do apetite sexual. Além disso, esses sintomas precisam ter uma
continuidade de pelo menos 02 semanas para caracterizar uma depressão.

“A depressão é uma patologia da tristeza, onde percebemos uma diminuição da


capacidade de sentir prazer e um tipo de tristeza duradouro e forte pessimismo”,
explica Victor Pablo.

Na depressão, os sentimentos adquirem uma intensidade muito grande, o que fazem com
que eles tenham características essencialmente patológicas, como explica o
psiquiatra Luiz Fernando Pedroso, diretor clínico da Holiste.

“Tristeza, alegria e ansiedade são sentimentos normais. Quando recebemos uma


notícia ruim ficamos tristes; quando estamos diante de alguma ameaça ficamos
apreensivos. Essa reatividade, essa fluição do nosso humor é uma coisa normal.
Mas, no estado patológico, essas reações começam a tomar conta da pessoa de uma
forma incontrolável, insuportável e desconectada com o que está acontecendo à volta
das pessoas.

Ela pode iniciar-se com uma pequena dor e evoluir a uma dor insuportável. Uma dor
grave, mas diferente das dores que estamos acostumados a sentir no nosso corpo. É
uma dor na alma, uma dor moral, uma dor existencial. A pessoa se sente infeliz,
desmoralizada, inferiorizada, incapaz, incompetente… Ela sabe tudo que deve ser
feito, tudo que deveria ser feito e teme que as pessoas não estejam acreditando que
ela esteja doente”.

TIPOS DE DEPRESSÃO
A depressão pode ser classificada como leve, moderada e grave, também conhecida
como depressão maior.

“O sofrimento depressivo tem gradações e durações diferentes. A depressão,


independente de leve ou grave, podem ser de curta duração; outras podem durar
meses; outras podem durar anos e algumas podem durar a vida toda, tornando-se um
caso crônico e extremamente incapacitante” acrescenta Luiz Fernando.

DIAGNÓSTICO ESPECIALIZADO
O diagnóstico da depressão é feito por um psiquiatra durante a consulta. A doença
causa sintomas emocionais e físicos, podendo se manifestar inicialmente com uma
crise de vômito ou dores em diversos órgãos, que a princípio pode indicar ser uma
doença clínica, porém não é apontada em nenhum exame clínico.

O desenvolvimento de uma depressão patológica está muito associado a uma herança


genética, que nos predispõe a reagir deprimindo diante de fatores desencadeantes
como o stress, outras doenças clínicas, etc. Tudo isso pode iniciar uma depressão,
desde que a pessoa tenha essa predisposição.

Outro ponto a ser considerado é a questão do preconceito. Todo estigma e


desconhecimento em torno da doença afasta o depressivo da busca por ajuda
especializada. Muitas vezes, a procura pelo especialista acontece apenas quando o
quadro se encontra em um estado avançado, que já incapacita o indivíduo.

“A maior parte dos pacientes, quando chegam, já estão em um nível de incapacitação


que os atrapalha a continuar trabalhando. Mas a gente percebe que eles já estavam
há muito tempo deprimidos, tendo prejuízos com isso, principalmente o sofrimento.
Mas, as pessoas só buscam ajuda, seja por estigma ou desconhecimento, quando começa
a interferir na capacidade produtiva”, acrescenta Vitor Pablo.

O que é depressão e quais as suas possíveis causas?


Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS) a depressão é um transtorno mental que
pode ser identificado por características como:

Mudanças no humor
Oscilações entre sentimentos de culpa e baixa autoestima
Perda de interesse em realizar atividades cotidianas que antes eram prazerosas
Perda de prazer
Distúrbios do sono ou de apetite.
Mas, o que causa a depressão? Muitas pessoas procuram a resposta pra essa pergunta
mas a verdade é que não há um gatilho único que possa causar depressão.

A depressão pode ser ocasionada por diversos fatores biológicos e psicológicos,


inclusive pode ser até mesmo de ordem hereditária. O que se sabe é que ela se
inicia com um episódio de grande estresse, porém, mesmo depois da resolução do
problema, o enfermo continua sentindo os sintomas.

No Brasil, a depressão no trabalho tem sido um problema bastante sério. Segundo a


Organização Mundial de Saúde, 11,5 milhões de brasileiros sofrem de depressão e é o
país com maior prevalência desta doença na América Latina.

A depressão é um questão que tem chamado cada vez mais atenção pois tem se tornado
uma doença bastante comum em vários países e isso tem deixado a OMS em alerta.

Alguns dados sobre a depressão


Novamente de acordo com a Organização Mundial da Saúde a depressão é a principal
causa de doenças e deficiências no mundo inteiro. Atualmente há mais de 300 milhões
de pessoas que vivem com a patologia.

Outro problema que a entidade aponta é o não reconhecimento da depressão como uma
doença. Muitas vezes, a depressão é encarada como um estado passageiro de tristeza
e isso dificulta a busca por ajuda médica por quem demonstra os sintomas. Quem
sofre com depressão se sente inseguro para pedir ajuda e isso só faz com que a
doença se agrave cada vez mais.

Além disso, o investimento em políticas públicas voltadas para o tratamento de


doenças como a depressão é relativamente baixo. Na América, a estimativa é de 2% do
orçamento da saúde é destinado ao tratamento destas doenças.

A depressão no ambiente de trabalho: como lidar?


Fica a reflexão para os proprietários, gestores e líderes de organizações
empresariais: como se comportar em relação a esse cenário tão delicado e em
constante crescimento?

Situações adversas no trabalho podem ter grande influência no quadro depressivo.


Uma das possíveis causas da depressão relacionada ao ambiente profissional diz
respeito a desempenhar uma tarefa da qual o colaborador não se sente preparado ou
capaz de atender a demanda.

O primeiro passo é compreender que a depressão é uma doença e que seus funcionários
podem tê-la e que você deve respeitá-los assim como respeita quem não tem. Pronto?
Após isso, é essencial conversar com áreas como recursos humanos e treinamento e
desenvolvimento de pessoas, pois estas devem construir um plano que inclua
assistência para colaboradores com depressão. Esse planejamento deve considerar:

Ações para manter números positivos da qualidade de vida no trabalho


Avaliação constante do ambiente físico de trabalho
Aplicação e constante avaliação da cultura organizacional
Incentivo e prática de autofeedback e feedback 360°
Treinamento e desenvolvimento de funcionários com cursos, formações,
especializações e mais
Plano de saúde para todos que inclua especialidades como terapia, psicologia e
psiquiatria
Apoio para buscar ajuda profissional caso seja preciso
Respeito com o funcionário que está em tratamento
Outro fator importante para se considerar é a existência de outras doenças também
preocupantes, tais como transtorno bipolar e síndrome do pânico.

Como as organizações podem contribuir com o auxílio aos colaboradores depressivos


Promover a educação continuada, treinamentos, workshop, formações são algumas das
formas de incentivar o colaborador a ser um profissional com mais habilidade
técnicas, além das características relacionadas à personalidade que podem se
desenvolver com a obtenção do conhecimento.

A formação Psicologia Positiva do Instituto Brasileiro de Coaching é uma excelente


forma de trabalhar a evolução pessoal. De acordo com José Roberto Marques, fundador
e presidente do IBC, “a união poderosa da mais moderna vertente da Psicologia
aliado ao processo mais eficaz para desenvolver pessoas.”

O curso é baseado no estudo feito por Martin Seligman, professor da Universidade da


Pensilvânia, nos Estados Unidos. O pesquisador busca encontrar um modo de despertar
e manter a felicidade verdadeira. São 150 horas, em que você poderá entender
profundamente sobre esse ramo da psicologia, compreender os efeitos da
positividade, aprender a criar e sustentar novas perspectivas, aumentar o nível de
controle sobre suas próprias emoções, despertar o potencial das suas capacidades,
identificar e experimentar quais são suas verdadeiras motivações, aumentar hábitos
energizadores e muito mais!

Os sintomas mais frequentes da depressão


Fique atento se alguém próximo a você demonstrar um dos sintomas abaixo com
frequência. Se você é íntimo dessa pessoa é essencial que você se mostre preocupado
e indique que ele busque ajuda profissional. Porém, se você não é próximo,
demonstre que está ao lado da pessoa por meio de ações e palavras gentis. Confira
alguns dos sinais mais comuns de uma pessoa com depressão:

Baixo astral ou tristeza


Perda de interesse em atividades cotidianas
Problemas para dormir ou insônia
Mudança de peso e apetite
Dificuldade em planejar atividades diárias
Dificuldade de concentração
Indecisão
Esquecimento.
Esses sintomas são mais frequentes do que se pode imaginar. E, apesar de tudo,
muitos preferem não se afastar do emprego, já que os sintomas cognitivos são mais
fáceis de esconder. Caso você tenha dúvidas sobre alguns desses sintomas, procure
uma ajuda médica para que se tenha o diagnóstico e tratamento corretos.

Aprimore suas habilidades em liderança e crie um ambiente de trabalho saudável

Meu livro “Leader Coach” vai te explicar melhor. É um presente.

Alguns casos de pessoas com depressão


É importante lembrar que nem somente as pessoas que apresentam alguns dos sintomas
acima com frequência que sofrem de depressão. É possível que indivíduos que não
demonstram tristeza aparente também tenham a doença. Conheça alguns casos de
famosos:

O ex-nadador e maior medalhista olímpico Michael Phelps revelou ter sofrido


depressão chegando a pensar até em suicídio. Segundo ele, uma das piores fases da
doença aconteceu após ganhar 6 medalhas nos Jogos Olímpicos de 2012, em Londres.
A cantora e atriz Barbra Streisand também já revelou ter sofrido com transtornos
mentais. O caso dela se manifestava como síndrome do pânico.
o ator Jim Carrey é conhecido principalmente por seus papéis de comédia, porém ele
já afirmou ter sofrido com depressão e ter tomada o remédio Prozac como parte do
tratamento.
Outro comediante famoso é Robin Williams que, apesar de fazer muitas pessoas
sorrirem, ele sofreu com décadas de depressão ocasionando seu suicídio em 2014.
Agora que você já conhece um pouco mais sobre a depressão já pode ficar mais atento
às pessoas que convivem ao seu redor. Além disso, pode prestar mais atenção a você
mesmo, afinal ninguém está imune a essa doença. Cuidar-se é essencial e não
egoísta!

Como lidar com a depressão no ambiente de trabalho


6 de fevereiro de 2017
Como lidar com a depressão no ambiente de trabalho

Rotinas exaustivas, pressão por excelentes resultados e a necessidade de melhorar


continuamente o desempenho. Esses são apenas alguns dos fatores que geram estresse
aos trabalhadores e afetam sua qualidade de vida e podem causar uma grave doença: a
depressão.

A psiquiatra Silvia Jardim, coordenadora do Programa de Atenção à Saúde Mental dos


Trabalhadores (Prasmet/Ipub/UFRJ), concedeu uma entrevista para “O Debate” onde
aponta a depressão como o grande mal do século. “São tempos em que as pessoas se
queixam da falta de trabalho, da ameaça de perdê-lo ou das pressões a que se
submetem para preservá-lo”, diz.

Não é por acaso que a Organização Mundial de Saúde (OMS) afirma que, até 2020, a
depressão passará da 4ª para a 2ª colocada entre as principais causas de
incapacidade para o trabalho no mundo. Estima-se que 121 milhões de pessoas sofram
com a doença, sendo 17 milhões só no Brasil.

Em 2013, um levantamento feito pelo Ministério da Previdência Social apontou que


mais de 61 mil pessoas receberam auxílio-doença por causa da depressão, número 5,5%
superior ao de 2012. São Paulo é o recordista, com 18.888 benefícios concedidos.
Minas Gerais (8.628) e Rio Grande do Sul (7.835) completam a lista. De acordo com o
Senado Federal, a depressão é hoje a segunda causa de afastamento do trabalho, só
perdendo para as lesões por esforço repetitivo (LER).

Em entrevista para o Tribunal Superior do Trabalho, Duílio Antero de Camargo,


médico e professor do Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas da USP, o
clima organizacional influencia nesse processo. “Nós temos hoje a questão do
estresse ocupacional, causado pelo ritmo frenético que nós temos hoje em relação a
tudo, principalmente no trabalho. O enxugamento que houve nas empresas, a cobrança
excessiva de metas e os conflitos que existem no próprio mundo do trabalho implicam
o estresse ocupacional”, diz.

E por mais que não se possa afirmar que o trabalho é a causa exclusiva da
depressão, já que vários motivos também desencadeiam a doença – como fatores
genéticos, biológicos e psicossociais -, mesmo assim o trabalho contribui de forma
decisiva para o início ou agravamento do quadro.

A influencia do clima organizacional


Em linhas gerais, podemos dividir os ambientes de trabalho em três realidades
diferentes: negativa, neutra e positiva.

Os ambientes negativos podem surgir por influências internas ou externas, que vão
desde crises econômicas até má gestão. É comum encontrar funcionários insatisfeitos
e inseguros com relação ao futuro, conversas de corredor e fofocas cada vez mais
tóxicas e um clima de pessimismo generalizado. Em um cenário como esse, os
empregados não assumem responsabilidades além das que já possuem e, mesmo assim,
temem pelos resultados. O sentimento geral é de que nada vai dar certo, mesmo com o
esforço de todos.

Nos ambientes neutros, o que impera é a apatia. Ninguém se importa em saber para
onde as coisas estão caminhando. A ordem é fazer apenas o que você tem para fazer e
não se envolver demais, seja com o trabalho ou com as pessoas. Críticas e elogios
são objetos raros de se encontrar, já que o sentimento principal é o de que “não
tenho nada a ver com isso”.

Do outro lado do espectro temos os ambientes positivos. Os empregados têm prazer em


se relacionar sem julgamentos, com gentileza e deixando cada um fazer o seu melhor.
Não é o indivíduo que importa, mas sim o coletivo. Inspiração, produtividade e
criatividade são apenas alguns frutos de um cenário como este.

Só pelas descrições é possível perceber qual ambiente gera mais problemas para o
trabalhador. A OMS diz que “a adesão aos princípios dos ambientes de trabalho
saudáveis evita afastamentos; minimiza os custos com saúde e com a alta
rotatividade; e aumenta a produtividade em longo prazo, bem como a qualidade dos
produtos e serviços”. Além disso, um estudo realizado na University of Manchester’s
Business School mostrou que as pessoas que se relacionavam com líderes com traços
psicopatas ou narcisistas tinham menor satisfação no trabalho e tiveram pontuação
alta em uma medida clínica de depressão.

Como identificar o problema


A primeira coisa que devemos fazer é diferenciar a tristeza da depressão. Enquanto
a primeira é apenas um estado momentâneo, a segunda é uma psicopatologia que leva
as pessoas a viver um estado constante de desconforto e angústia. É uma doença
grave e que precisa ser diagnosticada e tratada por um profissional credenciado.

A depressão pode se manifestar de várias maneiras e os sinais podem variar muito de


pessoa para pessoa, mas algumas características aparecem com mais frequência.
Algumas delas são:

• Desânimo, cansaço e indisposição;


• Ansiedade, preocupação, insegurança e indecisão;
• Sensação constante de culpa, inutilidade, incapacidade, desamparo e solidão;
• Alteração no sono – tanto a insônia quanto o excesso de sono -, cansaço fora do
normal;
• Alteração no apetite – excesso ou falta dele;
• Dificuldade de concentração e falhas na memória;
• Ideias de morte ou suicídio;
• Tristeza e/ou irritabilidade persistente, inquietação e isolamento social;
• Perda da capacidade de sentir prazer nas atividades que antes gostava de fazer,
seja no trabalho ou no lazer, inclusive na vida sexual;
• Choro, insatisfação, afastamento das atividades sociais, perda de energia,
preocupação excessiva com os problemas.

O que fazer
Há alguns anos, as doenças psiquiátricas eram ignoradas pelas empresas, que não
reconheciam a gravidade e a enxergavam apenas como uma tristeza passageira ou como
falta de interesse. Os profissionais sofriam em silêncio e acabavam demitidos por
algo que não podiam controlar. Em muitos lugares, o tema segue como um tabu e
muitos funcionários ainda precisam se esconder para evitar a incompreensão dos
chefes.

Esse cenário, porém, tem mudado. As empresas passaram a entender melhor a doença e
a lidar melhor com os funcionários que convivem com ela. O ponto mais importante
diz respeito à criação de um ambiente de trabalho saudável. Investir em programas
de qualidade de vida, incentivar a realização de atividades físicas e criar
ferramentas para denunciar os abusos são apenas algumas das ferramentas que podem
ser usadas para criar um bom clima organizacional.

Mas nada disso afasta a necessidade de acompanhamento profissional. Algumas


empresas disponibilizam profissionais especializados a seus funcionários. Quando
isso não acontece, é preciso entender o lado de quem sofre com depressão e encará-
la como realmente é: uma doença que merece cuidados.

A depressão no ambiente de trabalho


A depressão é uma das principais causas de incapacidade no trabalho. Embora um
aspecto importante da recuperação da doença seja continuar a participar das
atividades diárias normais tanto quanto possível, condições de estresse e ansiedade
nesse ambiente podem influenciar de forma negativa o quadro depressivo, tais como:

Discriminação ou assédio no emprego; relacionamento hostil entre chefes e


funcionários;
Trabalho com muitas demandas e pressão, que estimula a competitividade ou que
atrapalha a vida pessoal;
Insegurança no cargo prejudica o desempenho, especialmente durante tempos
econômicos difíceis.
Como lidar com a depressão no trabalho

A depressão pode causar lentidão, dificuldade de concentração e de memória. Mas,


como as doenças psiquiátricas ainda são um tabu em alguns ambientes profissionais,
muitos funcionários preferem esconder o problema por medo da incompreensão dos
chefes e colegas. De fato, muitas empresas ainda não reconhecem a gravidade do
distúrbio e tendem a enxergá-lo como uma tristeza passageira ou mesmo falta de
interesse.

Se você tem depressão, é primordial estar sob tratamento adequado. Além disso, se
você está trabalhando, considere adotar as seguintes estratégias para facilitar seu
desempenho:

Coloque sua saúde em primeiro lugar - mesmo em dias atribulados, seu bem-estar não
deve estar em segundo plano. Tente fazer pausas para caminhar por alguns minutos.
Saiba reconhecer os sintomas do seu problema e como lidar com eles se aparecerem
durante o expediente.

Não se cobre demais - saiba reconhecer seus próprios progressos e limitações e


lembre-se que problemas são inevitáveis em qualquer emprego. Nos dias em que o
trabalho pesar, tente focar nos aspectos positivos da sua função. Mais do que as
razões financeiras, trabalhar é importante para sua autoestima.

Defina metas - organizar bem sua agenda profissional é fundamental, assumindo


compromissos com prazos possíveis. Faça listas do que você precisa priorizar e
mantenha sua mesa e arquivos organizados.

Peça ajuda - é sua decisão contar ao seu empregador sobre a depressão. Mas, se você
se sentir sobrecarregado, peça ajuda a um colega ou converse com seu supervisor.

A depressão é a maior causa de queda de produtividade no trabalho”


Dr. Wagner F. Gattaz participa da palestra Equilibrio e Bem-estar pessoal e
profissional
Dr. Wagner F. Gattaz participa da palestra Equilibrio e Bem-estar pessoal e
profissional
A menos de uma semana do Fórum Qualidade de Vida nas Organizações: Gestão de Saúde
e Bem estar, que acontece no dia 19/4, das 9h45 às 17h, no Teatro do Sesc Pompeia,
conversamos o professor Dr. Wagner F. Gattaz, um dos especialistas convidados. O
presidente do Conselho Diretor do Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas
da Faculdade de Medicina da USP e diretor geral da Gattaz Health & escreveu para a
EOnline e deu um breve panorama sobre a saúde mental dos trabalhadores ao redor do
mundo. Ele destaca o impacto que a depressão gera tanto na vida dos funcionários,
quanto na economia da empresa – por causa da depressão, a produtividade dos
funcionários diminui. Dessa forma, Gattaz afirma que a melhor via para se garantir
o bem-estar do empregado e a produtividade da empresa é investir em programas de
saúde mental.

O Fórum Qualidade de Vida nas Organizações: Gestão de Saúde e Bem estar é uma
realização do programa de relacionamento com empresas do Sesc Pompeia. O evento
busca possibilitar às organizações encontrarem novas ferramentas para melhorar as
condições de trabalho, além de abrir um espaço para discutir quais ações podem ser
realizadas pelas empresas com essa finalidade. Para fazer sua inscrição no
encontro, clique aqui.

O Dr. Wagner F. Gattaz apresenta, às 11h, o case do programa de qualidade de vida


do Hospital Sírio Libanês, ao lado de outros especialistas de hospitais da capital
paulista. Confira a análise do professor:

A depressão é uma doença que se caracteriza por um período mínimo de duas semanas
em que a pessoa se sente triste, melancólica ou “para baixo”, com sensações de
aperto no peito (angústia), inquietação (ansiedade), desânimo e falta de energia. O
indivíduo sente-se apático, perde a motivação, acha tudo sem prazer ou sem sentido,
torna-se pessimista e preocupado. Tal estado afeta o organismo como um todo e
compromete o sono, o apetite e a disposição física. O risco de adoecimento ao longo
da vida é de 10% para homens e 15% para mulheres. Estamos, portanto, falando aqui
de uma doença no sentido médico, provavelmente relacionada a uma alteração do
metabolismo cerebral, e não de uma tristeza ou reação de luto ligadas diretamente a
um fator desencadeante. Estudos epidemiológicos nos diferentes países e classes
sociais, mostram que hoje no mundo cerca de 350 milhões de pessoas sofrem com uma
depressão.

Além de intenso sofrimento para o indivíduo, a depressão é a maior causa de queda


de produtividade no trabalho. É aqui interessante notar o achado de Maja Hansson,
que perguntou para 300 pacientes deprimidos qual eles consideravam ser a causa de
sua depressão; 33% deles responderam que a causa era o trabalho. O que observamos
é que existe uma interação entre o trabalho e a depressão. O deprimido, devido aos
sintomas de sua doença, como desânimo, falta de concentração e insegurança, passa a
ter um rendimento menor em seu trabalho, o que causa uma frustração que agrava seu
quadro depressivo.

A queda na produtividade gerada pela depressão tem um impacto na economia e na


empresa. Só nos Estados Unidos a depressão gera anualmente custos diretos e
indiretos que somam U$ 250 bilhões. O presenteísmo, que é a queda de produtividade
no local de trabalho, é o responsável por 50% destes custos. Outras causas
importantes são o absenteísmo, o aumento da rotatividade dos funcionários e o
impacto da depressão nos custos do seguro saúde. O paciente deprimido que tenha,
por exemplo, um diabetes ou uma doença cardiovascular, tem dificuldades para seguir
corretamente as prescrições, tem uma tendência aumentada para o sobrepeso, não
consegue fazer programas de atividade física ou seguir dietas recomendadas. Estes
fatores agravam o prognóstico da doença orgânica, aumentando assim o custo de seu
tratamento. Adicionalmente, a depressão causa queixas que muitas vezes se confundem
com manifestações de doenças orgânicas, como dores musculares, esgotamento e
enxaquecas, o que gera procedimentos diagnósticos (por exemplo exames de imagem ou
de bioquímica), cujos custos vão se refletir no seguro saúde. Estudos mostram que
a depressão quadruplica o custo do tratamento do diabetes, e aumenta em 4 a 6 mil
dólares/ano o custo do tratamento de doenças cardiovasculares e mesmo do câncer.

Existe uma associação quase que óbvia entre depressão e qualidade de vida. Estudos
internacionais das duas ultimas décadas indicam que a qualidade de vida piora com o
aumento da gravidade dos sintomas depressivos, havendo portanto uma relação
inversamente proporcional entre ambas.

Concluindo, a depressão é uma doença de alta prevalência, que causa um forte


impacto na economia e na qualidade de vida, assim como um inigualável sofrimento
para o indivíduo. Em face destes fatos, é surpreendente que, segundo dados da
Organização Mundial de Saúde, globalmente a depressão é, de todas, a doença mais
sub-diagnosticada, sendo que 45% de pessoas com depressão não tem um diagnóstico, e
portanto não recebem um tratamento adequado. Obviamente isto ocorre também dentro
das empresas, causando o sofrimento de seus funcionários e as perdas econômicas
mencionadas acima. Diferentes estudos mostram que programas de saúde mental nas
empresas, focando principalmente no diagnóstico da depressão, restituem em poucas
semanas a saúde de seus funcionários e trazem, dentro de 12 meses, um retorno de 2
a 3 vezes o investido nestes programas. Com isso, podemos afirmar que programas de
saúde mental aumentam a qualidade de vida e os lucros das empresas.

Reportagem especial sobre depressão no trabalho


(04/04/2017)

No dia 07 de abril é comemorado o Dia Mundial da Saúde, data que coincide com a
fundação da Organização Mundial da Saúde, entidade ligada à ONU. O objetivo é
conscientizar a população sobre questões relacionadas à qualidade de vida e
aspectos que envolvem a saúde. Todo ano a entidade lança uma campanha para chamar a
atenção para um tema. Em 2017, o assunto é a depressão.
Depressão não é frescura

Considerado o mal do século por especialistas, a depressão muitas vezes é


confundida com “frescura” e cercada de tabus e preconceito. Mas, na verdade, é uma
doença que pode ser controlada com a abordagem adequada.

A condição é definida pela OMS como transtorno mental comum caracterizado pela
tristeza persistente, falta de interesse em realizar atividades, ausência de
prazer, oscilações entre sentimentos de culpa e baixa autoestima, distúrbios do
sono ou do apetite, além de sensação de cansaço e falta de concentração. A
depressão pode afetar pessoas de qualquer idade em qualquer etapa da vida, podendo
também ser de longa duração ou recorrente. Na sua forma mais grave, pode levar ao
suicídio.

Tristes números

De acordo com dados da OMS, mais de 300 milhões de pessoas sofrem do mal, o que
equivale a 4,4% da população mundial. O número de casos de transtornos mentais
comuns tem crescido a cada ano, principalmente em países de baixa renda. Isto
porque a população está crescendo e mais pessoas alcançam as idades em que a
depressão e a ansiedade são mais frequentes.

Só no Brasil estima-se que mais de 11 milhões de pessoas sejam afetadas pela


depressão, nada menos que 5,8% da população nacional. O país é o que possui mais
casos na América Latina e o segundo nas Américas, ficando atrás apenas dos Estados
Unidos, que têm 5,9% de depressivos. Fora das Américas, batem o recorde do Brasil
em depressão a Austrália, a Estônia e a Ucrânia.

Informação: a chave para combater o mal

“Let’s talk” ou “Vamos conversar” em português é o lema escolhido pela OMS para a
campanha. A intenção é disseminar a informação como forma de encarar o problema e
diminuir o estigma que gira em torno dele. Muitas pessoas não buscam ajuda médica,
até mesmo por desconhecimento.

“Depressão pode ser prevenida e tratada. Um melhor entendimento do que é a doença e


como pode ser prevenida vai ajudar a reduzir o estigma e mais pessoas vão procurar
ajuda”. É o que sugere o material informativo do órgão.

Depressão x trabalho

Os dados são alarmantes: Um estudo de projeção da Organização Mundial de Saúde


prevê que a depressão será a maior causa de incapacidade no mundo até o ano de
2020. No Brasil, é considerada a segunda causa de afastamento do trabalho, só
perdendo para as Lesões por Esforço Repetitivo (LER), também denominados Distúrbios
Osteomusculares Relacionados ao Trabalho (DORT). Uma pesquisa realizada pela
Universidade de Brasília (UnB), em parceria com o Instituto Nacional de Seguro
Social (INSS), revela que 48,8% dos trabalhadores que se afastam por mais de 15
dias do trabalho sofrem com algum transtorno mental, sendo a depressão o principal
deles. As licenças em 2016 relacionadas a transtornos mentais e comportamentais
chegaram a 37,8%, incluindo não apenas a depressão, mas também estresse, ansiedade,
transtornos bipolares, esquizofrenia e transtornos mentais relacionados ao consumo
de drogas, como álcool e cocaína.

A investigação dos transtornos mentais não é tarefa fácil. A depressão pode ser
desencadeada por fatores diversos que atuam concomitantemente. Uma pessoa que já
apresenta predisposição e é submetida a condições de trabalho estressantes, por
exemplo, pode vir a desenvolver a doença. Hoje sabemos que é cada vez maior a
exigência por longas jornadas de trabalho, permanência de conexão por longos
períodos em instrumentos tecnológicos, pressões por resultados e competitividade.
Algumas profissões são mais conhecidas pelas cobranças no dia a dia, como as
ligadas ao mercado financeiro, controladores de voo, dos profissionais da área de
segurança, jornalistas, médicos e enfermeiros etc.

Nos casos em que o trabalho constitui fator responsável por desencadear o problema,
o empregador pode vir a ser responsabilizado. É que, pela lei, ele tem o dever de
manter um ambiente de trabalho seguro e saudável para os seus empregados. Nesta NJ
especial, veremos alguns casos apreciados pelo TRT de Minas e as soluções adotadas
diante do que prevê a legislação e a jurisprudência. Vamos fazer um apanhado de
como a questão vem sendo abordada na Justiça do Trabalho de Minas.

Então, vamos conversar sobre depressão?

Depressão pode ser considerada doença ocupacional

A pressão excessiva do mundo moderno pode gerar uma série de problemas de ordem
emocional, como depressão, estresse, ataques de ansiedade ou síndrome do pânico.
Essas doenças, muitas vezes, têm suas causas no trabalho, estando associadas ao
isolamento, pressão psicológica, ritmo agressivo de trabalho, dificuldades ou
desentendimentos no ambiente de trabalho ou, ainda, carga horária excessiva.

Esses problemas de ordem emocional não são encarados com a seriedade que merecem,
pois, à primeira vista, podem até ser imperceptíveis. Entretanto, quando
negligenciados, são devastadores para a vida do profissional, a ponto de se
tornarem irreversíveis e de levarem ao afastamento definitivo do trabalhador de sua
atividade.

De acordo com pesquisa da International Stress Management Association Brasil, 70%


dos brasileiros sofrem de sequelas decorrentes do estresse profissional. Entre
algumas delas, estão dores, cansaço crônico e depressão. Desse total, 30% estão no
nível mais elevado, configurando a chamada "síndrome de burnout" ou síndrome do
esgotamento profissional.

Você conhece a síndrome de burnout?

Baixa concentração, cansaço físico, emocional ou mental extremo provocado pelo


excesso de pressão no trabalho. Estas são algumas características de um risco
ocupacional que tem merecido diversos estudos: a síndrome de burnout, também
conhecida como síndrome do esgotamento profissional. A síndrome de burnout (do
inglês "to burn out", queimar por completo) é um distúrbio psíquico descrito em
1974 por Freudenberger, um médico americano. Essa síndrome ocorre quando a
dedicação e as exigências impostas pelo trabalho sugam, ou "queimam" tanto a
energias do profissional que, simplesmente, ele não aguenta mais!

Segundo estudiosos, a síndrome de burnout atinge, principalmente, os profissionais


da área da saúde, educação e assistência social. Agentes penitenciários, policiais,
bombeiros, bancários e profissionais de comunicação também são muito atingidos.

De acordo com o conhecido médico, Dr. Drauzio Varella, a principal característica


da síndrome de burnout é o estado de tensão emocional e estresse crônicos provocado
por condições de trabalho físicas, emocionais e psicológicas desgastantes. O
profissional sofre, além de problemas de ordem psicológica, forte desgaste físico,
gerando fadiga e exaustão.

Como não poderia deixar de ser, a síndrome de burnout tem sido objeto de inúmeras
ações trabalhistas. Os profissionais, muitas vezes os mais dedicados, após ficarem
doentes, esgotados, ou mesmo totalmente incapacitados para o trabalho, procuram a
Justiça pretendendo receber dos empregadores indenização pelos prejuízos
decorrentes dos elevados níveis de pressão e estresse aos quais foram submetidos em
sua lida diária.

Em um caso relatado pela desembargadora Lucilde D'Ajuda Lyra de Almeida, a 10ª


Turma do TRT-MG julgou desfavoravelmente um recurso do Banco do Brasil, confirmando
a sentença que o condenou a pagar a uma bancária, diagnosticada com a síndrome
burnout, indenização pelos danos morais causados pela doença.

Consta na decisão que a empregada narrou a existência de um ambiente de trabalho


competitivo e desumano, com cobranças excessivas, inclusive, com um ranking de
produtividade entre os gerentes (função que chegou a exercer por um período), o que
desestruturou sua saúde psíquica, levando-a a um quadro de distúrbios de
comportamento (fobias), transtorno do pânico e sofrimento mental. Tudo isso a levou
a se afastar do serviço por dois períodos de cerca de nove meses no total.

Ao analisar as características dos sintomas apresentados pela bancária, todos


relacionados às condições de trabalho e às atividades que exercia no banco, o
médico perito concluiu que ela era portadora da Síndrome de Burnout, além do quadro
de Depressão/ Ansiedade. Conforme explicou, o Decreto n° 3.048, de 6 de maio de
1999, em seu anexo II, cita a "Sensação de Estar Acabado" ("Síndrome de Burnout',
"Síndrome do Esgotamento Profissional"), como doença relacionada ao trabalho, ou
seja, uma doença ocupacional. Explicou o perito em seu laudo: "O termo burnout é
definido, segundo um jargão inglês, como aquilo que deixou de funcionar por
absoluta falta de energia. Metaforicamente é aquilo, ou aquele, que chegou ao seu
limite, com grande prejuízo em seu desempenho físico ou mental.”

A exaustão emocional da síndrome, de acordo com o perito médico, abrange vários


sentimentos como desesperança, solidão, depressão, raiva, impaciência,
irritabilidade, tensão, sensação de baixa energia, fraqueza, preocupação. Segundo
ele, a doença também aumenta a predisposição a cefaléias, náuseas, tensão muscular,
dor lombar ou cervical e distúrbios do sono.

A conclusão do perito foi acolhida pela Turma que, com fundamento no instituto da
responsabilidade civil previsto no inciso XXVIII do artigo 7º da Constituição
Federal de 1988, entendeu que o banco empregador é responsável pelo pagamento de
indenização decorrente da doença ocupacional da reclamante. É que, para os
julgadores, o empregador foi negligente em relação às normas de segurança do
trabalho ou de seu dever geral de cautela, contribuindo, com culpa, para a doença
da bancária. A afirmação de uma testemunha de que poderia haver a perda da comissão
no caso de não-atingimento de metas também contribuiu para mostrar a pressão
psicológica a que se submetia a bancária. Portanto, foi mantida a condenação
imposta na sentença, apenas sendo reduzido o valor da indenização de 30 mil para 20
mil reais. (02430-2013-044-03-00-7. Acórdão em 17/02/2016).

Empregador é condenado a indenizar trabalhadora que cumpria longas jornadas,


comprometendo convívio com família

Embora a depressão não esteja relacionada no rol de doenças ocupacionais elaborado


pelo Ministério do Trabalho e pela Previdência Social (Decreto nº 3.048/99), o
artigo 20, parágrafo 2º, da Lei nº 8.213/91, deixa claro que esse rol é
exemplificativo. Em casos excepcionais, a doença não incluída nessa relação pode
ser considerada como acidente do trabalho. A explicação é do desembargador Sércio
da Silva Peçanha, ao apreciar na 8ª Turma do TRT de Minas um recurso envolvendo o
tema.

No caso, as provas, incluindo perícia médica, autorizaram a conclusão de que as


condições de trabalho impostas a uma auxiliar administrativo contribuíram para que
ela desenvolvesse quadro de depressão. A mulher trabalhava em uma empresa de
serviços automotivos cumprindo longas jornadas. Além de estafante, ficou claro
pelas provas que as condições impostas pelo patrão comprometiam o convívio dela com
o marido e filho e a realização de afazeres domésticos típicos de qualquer mãe de
família. A trabalhadora acabou adoecendo e a relação do trabalho com a estafa
mental foi reconhecida judicialmente.

Como a auxiliar não tinha histórico de transtornos mentais, teve tempo hábil para
se tratar e foi afastada do trabalho. O perito avaliou que ela ficou saudável
depois e sem restrições do ponto de vista psiquiátrico. A Turma de julgadores
manteve a sentença que condenou a ex-empregadora ao pagamento de indenização
estabilitária e indenização por danos morais no valor de R$3 mil. (TRT da 3ª
Região; Processo: 0000476-30.2012.5.03.0092 RO; Data de Publicação: 08/11/2013;
Disponibilização: 07/11/2013, DEJT, Página 120; Órgão Julgador: Oitava Turma;
Relator: desembargador Sercio da Silva Pecanha; Revisor: desembargador Marcio
Ribeiro do Valle)

Vale lembrar que a estabilidade é prevista no artigo 118 da Lei nº 8.213/91,


segundo o qual: "O segurado que sofreu acidente de trabalho tem garantida, pelo
prazo mínimo de 12 (doze) meses, a manutenção do seu contrato de trabalho na
empresa, após a cessação do auxílio-doença acidentário, independentemente de
percepção de auxílio-acidente".

Trabalho de risco e sob tensão contribuiu para transtorno psíquico que levou à
aposentadoria por invalidez de vigilante

Você já ouviu em falar em “concausa”? De acordo com a desembargadora Ana Maria


Amorim Rebouças, trata-se de outra causa que, não sendo a principal, concorre para
a eclosão ou agravamento da doença. Nesse contexto, se o ambiente de trabalho
contribui, de alguma forma, para o desencadeamento ou piora da patologia que
acomete o empregado, está configurada a doença ocupacional ou o acidente do
trabalho.

Foi o que aconteceu no caso examinado pela magistrada na 8ª Turma do TRT-MG. Um


vigilante patrimonial, que prestou serviços para uma instituição bancária,
conseguiu demonstrar que o trabalho de risco, envolvendo tensão constante,
contribuiu para o desencadeamento de um transtorno psíquico que culminou em sua
aposentadoria por invalidez. A perícia médica realizada constatou que ele
trabalhava como vigilante interno, podendo entrar em ação diante de qualquer
ameaça.

Relatórios médicos juntados aos autos dão uma ideia do quadro do vigilante, ao
registrarem termos como: “transtorno de personalidade com instabilidade emocional”,
“esquizofrenia paranoide”, “alucinações auditivas e visuais de cunho persecutório”,
“agitação psicomotora importante com ameaça à vida de terceiros”, “quadro de
delírio”, “desorganização psicomotora”.

Em sua avaliação, o perito médico não teve dúvidas de que o trabalho atuou como
concausa para a patologia do vigilante. Sobre a questão, a desembargadora explicou
que nem sempre uma patologia adquirida durante a vigência da relação de emprego é
suficiente para caracterizar a relação entre uma coisa e outra, o chamado “nexo de
causalidade”. As causas podem ser inúmeras, havendo casos em que o trabalhador está
vulnerável às doenças independentemente das condições de trabalho.

Ainda segundo a magistrada, a doença pode ocorrer no trabalho, mas não


necessariamente pelo trabalho. É por isto que a própria lei acidentária exclui do
conceito de doenças do trabalho as enfermidades degenerativas e aquelas inerentes
ao grupo etário (Lei nº 8.213/91, artigo 20, parágrafo 1º). Se o trabalho
contribuir, de alguma forma, para o desencadeamento ou piora da patologia, está
configurada a doença ocupacional ou o acidente de trabalho. Isto ainda que o quadro
patológico do trabalhador decorra de causas degenerativas e de seu histórico
laboral, não relacionadas ao ambiente de trabalho.

Nesse sentido, o artigo 21 da Lei nº 8.213/91 prevê que “Equiparam-se também ao


acidente do trabalho, para efeitos desta Lei: I - o acidente ligado ao trabalho
que, embora não tenha sido a causa única, haja contribuído diretamente para a morte
do segurado, para redução ou perda da sua capacidade para o trabalho, ou produzido
lesão que exija atenção médica para a sua recuperação".

Com base nesse dispositivo, a decisão destacou que a doença decorrente de causas
múltiplas não perde o enquadramento como patologia ocupacional, se houver pelo
menos uma causa laboral que contribua diretamente para a sua eclosão ou
agravamento. No caso, o transtorno mental que acometeu o trabalhador foi
claramente desencadeado também em razão das condições de trabalho desenvolvido em
prol da instituição bancária, gerando a redução da capacidade permanente que levou
à aposentadoria por invalidez.

Assim, a doença profissional ficou plenamente caracterizada, ainda que existissem


causas anteriores ou paralelas. Ao reconhecer a responsabilidade objetiva do
empregador, a relatora lembrou que o Código Civil de 2002 adotou a teoria do risco
criado, ou seja, a reparação do dano é devida simplesmente em decorrência dos
riscos advindos da atividade. “O meio ambiente de trabalho adequado e seguro é um
dos mais importantes e fundamentais direitos do cidadão trabalhador. Se
desrespeitado, provoca agressão a toda sociedade, que no final das contas responde
pelas mazelas decorrentes dos acidentes do trabalho ou das doenças ocupacionais”,
ponderou no voto.

Por outro lado, a julgadora entendeu por bem reduzir a indenização por danos morais
para R$10 mil e a de danos materiais para R$50 mil. A Turma de julgadores,
acompanhando o voto, deu provimento ao recurso das reclamadas nesses aspectos.
(TRT da 3.ª Região; PJe: 0010248-44.2016.5.03.0070 (RO); Disponibilização:
20/02/2017, DEJT/TRT3/Cad.Jud, Página 599; Órgão Julgador: Oitava Turma; Relator:
desembargadora Ana Maria Amorim Rebouças).

Doença constatada depois de encerrado o contrato de trabalho garante estabilidade a


profissional de segurança

Já em outro recurso envolvendo serviços de segurança, apreciado pela 2ª Turma do


TRT-MG, a relação entre a depressão e as atividades foi constada em perícia médica
realizada após a cessação do contrato de trabalho. Atuando como relator, o juiz
convocado Rodrigo Ribeiro Bueno aplicou o item II da Súmula 378 do TST, que garante
ao empregado o direito à estabilidade, se constatada, após a despedida, doença
profissional que guarde relação de causalidade com a execução do contrato de
emprego.

No exercício de suas funções, o trabalhador foi abordado por meliantes e acabou


presenciando um colega ser morto por criminosos. A prova pericial reconheceu que o
episódio desencadeou perturbação mental no empregado durante meses, persistindo o
quadro depressivo mesmo após o retorno ao trabalho.

Nesse contexto, o relator confirmou a sentença que deferiu a indenização


substitutiva da estabilidade acidentária da data da dispensa até doze meses após a
cessação do benefício previdenciário. Para o julgador, o episódio traumático
vivenciado, além do afastamento/inaptidão para o trabalho por mais de 30 dias em
razão do quadro depressivo, autorizam o reconhecimento do dano moral. O valor de
R$15 mil fixado em 1º Grau foi considerado adequado, tendo em vista os parâmetros
envolvendo o caso e outras situações similares examinadas pela Turma julgadora.
(TRT da 3.ª Região; PJe: 0010454-16.2016.5.03.0181 (RO); Disponibilização:
03/02/2017, DEJT/TRT3/Cad.Jud, Página 205; Órgão Julgador: Segunda Turma; Relator:
juiz convocado Rodrigo Ribeiro Bueno).

Depressão não relacionada ao trabalho não gera indenização

Já no caso examinado pela 6ª Turma do TRT-MG, uma bancária afirmou ter sido
destituída, injustificadamente, do seu cargo, sofrendo rebaixamento de atribuições
e responsabilidades. Segundo ela, a condição humilhante lhe causou grave depressão
psicológica, razão pela qual pedia a compensação por danos morais. No entanto, a
pretensão foi indeferida pelo desembargador Rogério Valle Ferreira, que deu
provimento ao recurso da instituição bancária para excluir a condenação por danos
morais deferida em 1º Grau.

Em primeiro lugar, o relator considerou que a perda da função não foi motivada por
perseguição ou qualquer conduta abusiva por parte do empregador, como confirmou uma
testemunha ouvida a pedido da própria bancária. Embora a perícia tenha registrado
que os fatos ocorridos no ambiente de trabalho atuaram como concausa para o
agravamento do quadro de depressão da reclamante, informou também tratar-se de
quadro preexistente, decorrente de histórico pessoal. O laudo concluiu que a
situação não se enquadrava como doença ocupacional e que não houve perda da
capacidade laborativa.

Na visão do relator, a conduta do banco foi lícita, não sendo devida nenhuma
reparação. “As circunstâncias relacionadas ao trabalho apenas agregaram dissabores
à sua vida, estes sim, dada a percepção pessoal da reclamante em relação aos fatos,
capazes de ensejar o agravamento de sua condição”, destacou. A Turma de julgadores
acompanhou o entendimento. (TRT da 3ª Região; Processo: 0000449-79.2010.5.03.0104
RO; Data de Publicação: 01/07/2013; Órgão Julgador: Sexta Turma; Relator:
desembargador Rogerio Valle Ferreira; Revisor: desembargador Jorge Berg de
Mendonça).

Dispensa de empregado com depressão é considerada discriminatória

Situação diferente é quando o empregado é dispensado por ter problemas graves de


saúde. A Súmula 443 do TST pacificou o entendimento no sentido de se presumir
discriminatória a despedida de empregado portador do vírus HIV ou de outra doença
grave que suscite estigma ou preconceito. Inválido o ato, o empregado tem direito à
reintegração no emprego.

Aplicando o verbete, a 1ª Turma concluiu pela caracterização de dispensa


discriminatória de um trabalhador portador de quadro de depressão por uma empresa
do ramo de transportes e armazenagem. Para a relatora, desembargadora Maria Cecília
Alves Pinto, a depressão suscita estigma ou preconceito, razão pela qual entendeu
que cabia à empresa provar a ausência de dispensa discriminatória, o que não
ocorreu.
O histórico do empregado demonstrou que ele se afastou de suas atividades
profissionais nos meses que antecederam à sua dispensa, apresentando atestados
médicos recorrentes. Ele foi dispensado oito dias depois do último atestado médico
apresentado. Por sua vez, um relatório médico datado de dias depois registrou que
ele apresentava quadro depressivo, ansioso, irritado, desanimado e com ideias de
ruína e de auto-extermínio. Tanto que tentou suicídio cinco vezes. O médico que
assinou o atestado entendeu que o paciente não estava em condições de trabalhar na
data da avaliação.

Diante desse contexto, a magistrada chegou à seguinte conclusão: a empresa, já


pressupondo novas intercorrências, optou por dispensar o reclamante. No seu modo de
entender, a conduta foi discriminatória. Reforçou esse entendimento o Enunciado de
nº 02, aprovado 1ª Jornada de Direito Material e Processual na Justiça do Trabalho
(23.11.2007), pelo qual, diante da omissão legislativa, o Poder Judiciário deve
zelar pela efetivação da norma constitucional, declarando nulas as dispensas
consideradas discriminatórias, abusivas ou que atentem contra direitos
fundamentais. E, nesses casos, incumbe ao empregador o ônus de provar que agiu sob
motivação lícita.

Ainda conforme registrado no voto, o Brasil ratificou a Convenção nº 111 da OIT,


que trata da discriminação em matéria de emprego e ocupação, definindo como
"discriminação" qualquer distinção, exclusão ou preferência que tenha por efeito
destruir ou alterar a igualdade de oportunidades ou tratamento em matéria de
emprego ou profissão.

Diante da ausência de prova de motivo distinto para a ruptura contratual, tratando-


se de portador de grave quadro de depressão, a magistrada entendeu prevalecer, no
caso, a alegação de abuso do direito da empregadora de rescindir o contrato de
trabalho. Para ela, houve violação aos princípios da dignidade da pessoa humana, da
valorização social do trabalho e da função social da empresa. “Conclui-se que a
dispensa do obreiro foi discriminatória, não devendo ser tolerada a conduta
patronal, porquanto extrapola os limites de atuação do seu poder diretivo, em claro
abuso de direito (art. 187/CC), violando os princípios que regem o Direito do
Trabalho, voltados à valorização social do trabalho e inspirado pelo integral
respeito à dignidade da pessoa humana (alçados ao patamar de fundamento da
República Federativa do Brasil)”, destacou.

A decisão também registrou que a Lei nº 9.029, de 13 de abril de 1995, estabelece,


em seu artigo 4º, que o rompimento da relação de trabalho por ato discriminatório,
além do direito à reparação pelo dano moral, faculta ao empregado optar entre a
readmissão com ressarcimento integral de todo o período de afastamento, mediante
pagamento das remunerações devidas, corrigidas monetariamente, acrescidas dos juros
legais (inciso I), ou o recebimento, em dobro, da remuneração do período de
afastamento, corrigida monetariamente e acrescida dos juros legais (inciso II).

O recurso foi parcialmente provido para condenar a empresa do ramo de transportes e


armazenagem ao pagamento de indenização por danos morais no importe de R$20 mil,
bem como para declarar a nulidade da dispensa. Foi determinado que a reclamada
reintegre o trabalhador ao emprego, prosseguindo o vínculo contratual, como se não
tivesse havido ruptura, com pagamento das parcelas salariais e FGTS desde a
dispensa até a efetiva reintegração. (TRT da 3.ª Região; PJe: 0011914-
92.2015.5.03.0142 (RO); Disponibilização: 24/02/2017; Órgão Julgador: Primeira
Turma; Relatora: desembargadora Maria Cecilia Alves Pinto).

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