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Revista eletrônica: uma proposta pedagógica para a abordagem de

diferentes gêneros discursivos

Dinah Franke Moreira (Professora PDE)1


Dr. Marciano Lopes e Silva (Professor Orientador)2

Resumo:

Este artigo tem por objetivo apresentar uma proposta pedagógica desenvolvida com
alunos do 2º ano do Ensino Médio - a produção de uma revista eletrônica - como
instrumento de incentivo à leitura e motivação à escrita. Tal proposta se justifica
considerando o conceito dos gêneros discursivos (BAHKTIN, 2003, LOPES-ROSSI,
2002) e a importância dos alunos se apropriarem de gêneros jornalísticos, visto que
são textos de grande circulação social e com conteúdos da atualidade. Além disso,
fazer uso da mídia eletrônica para socializar o saber produzido desmistifica o ato de
escrever e democratiza-o. Ao se familiarizar com gêneros argumentativos, como
carta de leitor, editorial, artigo de opinião entre outros, o aluno aprende que pode,
como cidadão, opinar e interferir nos acontecimentos do mundo social, manifestando
publicamente seus pontos de vista.

Palavras-chave: revista eletrônica; gêneros jornalísticos; leitura; produção.

Abstract

This article aims to present an educational project developed by students from 2nd
year high school - the production of an electronic journal-like tool to encourage
reading and to motivate the writing. This proposal is justified considering the concept
of genres (BAHKTIN, 2003, LOPES-ROSSI, 2002) and the importance of students
taking ownership of journalistic genres, as they are texts of major social movement
and content of today. Also, they can use the electronic media to socialize the
knowledge produced demystifies the act of writing and democratize it. By
familiarizing yourself with argumentative genres, such as letter reader, editorial,
opinion piece and others, students learn that can, as a citizen, judge and interfere in
the events of the social world, publicly expressing their views.

Key-words: electronic magazine; journalistic genres, reading; production.


_______________
1. Professora da Rede Estadual de Ensino e integrante do Programa de Desenvolvimento
Educacional – PDE. Contato: dinahfranke@hotmail.com.
2. Professor Orientador – UEM. Contato: etlopes@hotmail.com.
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1. INTRODUÇÃO:

Fundamentado na teoria bakhtiniana e no ensino dos gêneros como conteúdo


básico de Língua Portuguesa (DCEs, 2008), este artigo propõe apresentar uma
proposta pedagógica desenvolvida com alunos do 2º ano do Ensino Médio - a
produção de uma revista eletrônica com o intuito maior de abordar diferentes
gêneros discursivos e realizar um estudo mais minucioso de alguns gêneros
jornalísticos, como notícia, reportagem, entrevista, editorial, carta de leitor e artigo de
opinião, visto que são textos que oportunizam a análise da finalidade ideológica da
comunicação jornalística no conjunto da comunicação social e retratam assuntos da
atualidade. A referida proposta está centrada na leitura, na produção escrita e em
especial, no uso da mídia eletrônica como instrumento de aquisição de informações
e socialização do saber produzido, já que a internet é uma ferramenta tecnológica
com forte capacidade de motivação pelas suas inesgotáveis possibilidades.

Vale salientar que tal proposta proporciona a produção de textos dos mais
variados gêneros para um interlocutor real, rompendo com a tradicional concepção
de ensino em que se escreve textos na escola para cumprir tarefa, tendo como
destinatário o professor.

Fazer uso do ciberespaço para expor as produções dos alunos é expor um


trabalho a críticas e elogios, o que faz aumentar a preocupação e a responsabilidade
diante da autenticidade e da organização do texto, o que contribui significativamente
para o desenvolvimento da capacidade linguística dos mesmos e do “[...]
pensamento organizado, capaz de levar o jovem a uma postura consciente, reflexiva
e crítica frente à realidade social em que vive e atua”(CATTANI e AGUIAR, apud
ZILBERMAN, 1993, p. 33)

O desenvolvimento das atividades se deu através de uma sequência didática,


que consiste num conjunto de atividades organizadas em torno de um gênero
(DOLZ, NOVERRAZ e SCHNEWLY, 2004), possibilitando assim ao aluno melhor
compreender a especificidade e a funcionalidade desse gênero assim como adequar
sua linguagem às diferentes situações de comunicação, tanto da oralidade como a
escrita.
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Atualmente exigem-se níveis de leitura e de escrita diferentes das que


satisfizeram as demandas escolares há tempos atrás, por isso para as produções
dos textos escritos considerou-se o que foi proposto por PRADO, (2002, p. 102):

as condições de produção do gênero escolhido;


o interlocutor eleito ;
a utilização de procedimentos para a elaboração do texto;
o estabelecimento do tema;
pesquisas realizadas para levantamento de ideias e dados;
a utilização de recursos discursivos e linguísticos adequados a cada gênero;
paragrafação;
pontuação e outros sinais gráficos;
versão rascunho;
revisão colaborativa;
versão final;

Em suma, esta proposta objetiva levar o educando a pensar racionalmente,


criativamente e, sobretudo, contribuir para que o mesmo amplie seu discurso e saiba
empregá-lo corretamente nas diferentes situações comunicativas, preparando-se
assim para atuar como cidadão ativo numa sociedade competitiva e num mundo em
constante mutação.

2. CONCEPÇÃO TEÓRICA-METODOLÓGICA

A língua na atualidade é entendida como um instrumento dialógico com o


qual o sujeito estabelece comunicação, constrói e desconstrói significados num
emaranhado de relações sociais.

Por ser por meio da linguagem que os sujeitos se comunicam, a mesma


assume um caráter sócio-interacionista e por “principio anula qualquer pressuposto
que tenta referendar o estudo de uma língua isolada do ato
interlocutivo”(PCNs,1999, p. 139).

Para Marcuschi (2005), o efeito de sentido produzido pela língua não se dá


pelo uso de formas ou pelo conhecimento amplo de morfologia ou de sintaxe, mas
pelo emprego adequado da linguagem em cada situação comunicativa. Daí percebe-
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se que o ensino da língua materna não pode estar pautado em normas e regras
descontextualizadas, como acontecia no ensino tradicional da gramática, mas que
as regras precisam ser ensinadas em práticas pedagógicas que levem o aluno a
apropriar-se das articulações da linguagem e a compreender que a língua é
fundamentalmente um fenômeno sócio cultural que integra a organização do mundo
e a organização da própria vida dos cidadãos.

A concepção de linguagem assumida pelas Diretrizes Curriculares


estabelece o discurso como prática social, por isso é de suma importância que nas
aulas de Língua Portuguesa o professor elabore um programa de leitura “que
permita ao aluno entrar em contato com um universo textual amplo e diversificado”
(KLEIMAN, 2001, p.51).

O diálogo leitor/texto se constitui na medida em que a prática de leitura se


efetiva, proporcionando o alargamento de experiências. Lajolo (1997, p. 105)
ressalta que “a literatura constitui uma modalidade privilegiada de leitura, onde a
liberdade e o prazer são virtualmente ilimitados”, mas cumpre lembrar que há muitos
outros textos em que isso acontece, inclusive com maior circulação social, como é o
caso dos gêneros jornalísticos.

Assim, percebe-se que os textos jornalísticos podem ser significativos para


um trabalho pedagógico que aborda a linguagem através do estudo de gêneros
discursivos em sua dimensão sócio-histórica, interacionista e ideológica, uma vez
que são textos de interesse social e com conteúdos da atualidade.

Numa síntese pode-se dizer que o objeto da esfera jornalística se


constitui no horizonte dos acontecimentos, fatos, conhecimentos e
opiniões da atualidade, de interesse público. Nesse contexto, sua
função sócio-ideológica se caracteriza por fazer circular (interpretar,
“traduzir”) periódica e amplamente as informações, conhecimentos e
pontos de vista da atualidade e de interesse público, atualizando o
nível da informação da sociedade (ou de grupos sociais particulares)
(RODRIGUES, 2001, p. 81).

Através da leitura, o aluno torna-se um cidadão proficiente, capaz de


compreender-se no mundo e compreender as relações humanas e sociais. Para
Silva (1996, p.42):
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Leitura é uma atividade essencial a qualquer área do conhecimento e


mais ainda à própria vida do Ser Humano. (O patrimônio simbólico do
homem contém uma herança cultural registrada pela escrita. Estar
com e no mundo pressupõe, então, atos de criação e recriação
direcionados a essa herança [...]).

Na contemporaneidade, frente às necessidades, às atividades sócio-culturais


e às inovações tecnológicas, a diversidade de gêneros tanto orais como escritos se
expande significativamente, visto que “não são instrumentos estanques e
enrijecedores da ação criativa. Caracterizam-se como eventos textuais altamente
maleáveis, dinâmicos e plásticos” (MARCUSCHI, 2003, p. 19).

Desta forma, parte-se do princípio de que é relevante ao aluno compreender


que nos tipos textuais denominados narração, argumentação, descrição, injunção e
exposição há uma multiplicidade de gêneros, fruto das relações sociais, para que ele
possa ser capaz de adequar sua linguagem, tanto oral como escrita, às
características peculiares de cada um. Segundo Lopes-Rossi (2002, p. 22), “esses
modos de organização do discurso [narração, argumentação, entre outros] não são
em si práticas sócio-discursivas de nossa sociedade, ou seja, não se realizam como
formas típicas de enunciados usados nas situações reais da comunicação”

Entendendo que a compreensão e a produção não são processos puramente


racionais, mas dependem do envolvimento emocional leitor/texto, é de vital
importância oportunizar ao aluno conhecer uma diversidade de configurações
textuais para que ele possa cada vez mais desenvolver e aperfeiçoar a sua
capacidade discursiva e adequá-la às reais situações de uso, sobretudo nas
instâncias públicas. Segundo Bakhtin (2003, p.262)

A riqueza e a diversidade dos gêneros são infinitas porque são


inesgotáveis as possibilidade da multiforme atividade humana e
porque em cada campo dessa atividade é integral o repertório de
gêneros do discurso, que cresce e se diferencia à medida que se
desenvolve e complexifica um determinado campo.

Oportunizar a produção de uma gama variada de textos e a circulação social


dos mesmos é desenvolver habilidades que permitem ao educando tornar-se um
cidadão crítico, autônomo, agente de sua história e da sociedade, pois:
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Quanto melhor dominamos os gêneros e tanto mais livremente os


empregamos, tanto mais plena e nitidamente descobrimos nossa
individualidade, [...] refletimos de modo mais flexível a sutil e singular
situação da comunicação: em suma, realizamos de modo mais
acabado o nosso livre projeto de discurso (BAHKTIN, 2003, p. 28).

Partindo do pressuposto de que atividades aleatórias ou propostas eventuais


não asseguram o domínio da escrita, propusemos a produção de uma revista
eletrônica, como uma contribuição significativa para o aperfeiçoamento da
capacidade linguística dos alunos, uma vez que proporciona um mergulho prático,
participativo e reflexivo no ato de redigir. Vale ressaltar também que não há como
ignorar a importância das tecnologias da informação e comunicação (TICs) no
âmbito escolar e deixar de usá-las, quando a maioria dos alunos tem acesso à
internet e/ou onde muitas escolas possuem laboratório de informática. Acrescenta-
se a isso que a participação na elaboração de uma revista, assim vivenciando a
experiência de editoração, permite melhor compreender de que maneira as
condições de produção influenciam ou determinam o conteúdo e o formato do
produto cultural.

Quanto ao uso das tecnologias nas práticas escolares, sabe-se que a


internet foi criada entre os anos 60 e 70 e nestas décadas de existência tem sofrido
grandes evoluções, tornando-se o que é hoje: um meio rápido e eficaz de
informação, pesquisa, comunicação e compartilhamento.

Muitos são os recursos e possibilidades de uso do meio eletrônico no


contexto educacional e um dos que podemos destacar são os blogs. A palavra blog
é uma abreviatura de weblog, onde web significa teia, tecido no ambiente virtual e
log significa diário, registro ou postagem. Os blogs surgiram como um campo virtual
livre, onde os internautas denominados “blogueiros” podem postar seus conteúdos
organizados de forma cronológica e atualizá-los frequentemente. Esses espaços
constituídos na web, conhecidos como sites simples e gratuitos, possibilitam
socializar conhecimentos, experiências pessoais e produções escritas. Através dos
blogs, os autores expõem suas produções e as sujeitam a críticas e/ou elogios, o
que de certa forma serve de estimulo à escrita e reflexão de seus conteúdos.
Gomes (2005, p. 312) declara:
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O sucesso dos blogs está muito provavelmente associado ao facto


destes constituírem espaços de publicação na web, facilmente
utilizáveis por internautas sem conhecimentos de construção de
websites, e frequentemente sem custos para os seus criadores
existindo sites que disponibilizam sistemas de criação, gestão e
alojamento gratuito de weblogs..

Por caracterizar-se como um espaço aberto, GOMES (2005) acredita que os


blogs podem ser considerados instrumentos de grande valia para uso no âmbito
escolar, porque possibilitam não só ao professor disponibilizar materiais e
informações, mas socializar as produções dos seus alunos, oportunizando aos
mesmos postarem seus comentários, críticas e reflexões. Cabe salientar que esse
dinamismo pode contribuir para a constituição de um aluno crítico e de um grande
leitor virtual. Fazer uso do ciberespaço para socializar o trabalho do professor e do
aluno democratiza o processo de ensino-aprendizagem e aproxima o trabalho
realizado no interior da escola com a comunidade externa. Ainda na visão de
Gomes (2005, p. 313):

A escola e as actividades nela realizadas ficam mais expostas ao


escrutínio público, mas também mais próximas das comunidades em
que se inserem e abrem-se novas oportunidades para o
envolvimento e colaboração de diversos membros dessas
comunidades.

Outro aspecto relevante a se considerar quanto à produção textual e ao uso


do ciberespaço para a socialização dessas produções é a necessidade de
planejamento e organização. Percebe-se, de maneira geral, que ainda não está
presente nos alunos a cultura do planejar, do produzir, do refazer e do socializar. As
produções realizadas na escola até pouco tempo atrás eram encaminhadas de
maneira superficial, mecânica e direta, sem que o professor fornecesse leituras que
subsidiassem os escritos dos alunos. Assim, os mesmos valiam-se da criatividade e
da imaginação e não de informações ou discursos perante os quais deveriam
interagir ou posicionar-se criticamente, atitudes fundamentais para a elaboração de
um produto final com qualidade. Igualmente não era trabalhada a organização do
pensamento e a compreensão de que para escrever bem é preciso perpassar
etapas de aprendizagem e que para isso é imprescindível que um texto seja
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produzido inicialmente na versão rascunho, para depois ser melhorado com ajuda
dos colegas e do professor.

O ideal é que se crie, com os alunos, a prática do planejamento, a


prática do rascunho, a prática das revisões, à maneira que a primeira
versão de seus textos tenha sempre um caráter de produção
provisória, e os alunos possam viver, como coisa natural, a
experiência de fazer e refazer seus textos, tantas vezes sejam
necessárias, assim como fazem aqueles que se preocupam com a
qualidade do que escrevem (ANTUNES, 2003, p. 65).

As Diretrizes Curriculares de Língua Portuguesa da Educação Básica no


PARANÁ (2008) estabelecem os fundamentos teóricos metodológicos norteadores
do currículo alertando para o fato de que as mudanças ocorridas no meio social e as
inúmeras relações de discurso que perpassam a sociedade atual exigem do
professor uma percepção crítica da realidade e mudanças na sua prática
pedagógica. Assim, as aulas de Língua Portuguesa devem propor situações de
interlocução que fomentarão atividades não só de produção, mas também de
reflexão.

Segundo Azevedo e Tardelli, (2004, p. 45):

Produzir um texto na escola é, pois, realizar uma atividade de


elaboração que se apura nas situações interlocutivas criadas em sala
de aula; é um trabalho de reflexão individual e coletiva e não um ato
mecânico, espontaneísta ou meramente reprodutivo.

Em síntese, pode-se concluir que as práticas pedagógicas para o ensino da


língua materna precisam ser significativas e adequadas, capazes de possibilitar ao
educando ampliar cada vez mais seus horizontes de leitura e aperfeiçoar sua
capacidade de escrita funcional, elementos indispensáveis para a ascensão social e
para bem desempenhar o exercício da cidadania.

3. DESENVOLVIMENTO DA PROPOSTA PEDAGÓGICA:

Tanto o encaminhamento de leitura como a produção textual significativa


para o aluno, são preocupações que nos afligem como profissionais da educação,
visto que os Parâmetros Curriculares Nacionais de Língua Portuguesa (PCNLP,
1999), já propõem que tais atividades sejam desenvolvidas de forma interativa e
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inseridas em um processo discursivo que possibilite ao aluno compreender como se


constituem as relações sociais e que é por meio dos gêneros discursivos que as
práticas de linguagem incorporam-se nas atividades dos educandos.

Entende-se por gêneros textuais ou gêneros discursivos (BAKHTIN, 2003) os


diferentes textos que circulam em sociedade, no nosso dia a dia, seja em casa, no
trabalho, na rua, nos meios de comunicação, enfim, espalhados por todos os lugares
e com os quais nos deparamos constantemente. Assim, a linguagem é
compreendida como forma de interação humana, uma vez que permeia todos os
nossos atos, articulando nossas relações com os outros, constituindo-nos como
sujeitos e ao mesmo tempo diferenciando-nos dos animais. O desenvolvimento do
processo de leitura e produção é uma consequência do domínio do funcionamento
da linguagem em situações reais de comunicação.

Para as Diretrizes Curriculares da Educação Básica (PARANÁ, 2008), é


papel da Escola e em especial da disciplina de Língua Portuguesa, assegurar a
formação do leitor, do produtor de texto e de modo geral contribuir para a
constituição do sujeito histórico. Assim, considera-se que as práticas pedagógicas
tenham como instrumento de interlocução o texto, pois:

Conceber o texto como unidade de ensino-aprendizagem é entendê-


lo como lugar de entrada para este diálogo com outros textos, que
remetem a textos passados e que farão surgir textos futuros.
Conceber o aluno como produtor de texto é concebê-lo como
participante ativo desse diálogo contínuo: com texto e com leitores
( GERALDI, 2004, p. 22).

Diante do pré-estabelecido, nos propusemos a produzir uma revista


eletrônica, com o objetivo de abordar diferentes gêneros discursivos e assim estudar
os gêneros jornalísticos: notícia, reportagem, entrevista, editorial, carta de leitor e
artigo de opinião além de fazer uso do ciberespaço para assegurar um leitor para as
produções dos alunos, já que estes, na sua maioria, sentem-se atraídos pela
tecnologia, em especial pela internet, e possuem grande afinidade com a mesma.
Vale salientar também que esta proposta visa desmistificar a ideia de que os textos
produzidos na escola só servem para serem submetidos à apreciação do professor
ou para aquisição de nota.
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Para o desenvolvimento dos trabalhos, optamos por organizar as atividades


e aplicá-las através de uma sequência didática, que para Dolz, Noverraz e Schnewly
(2004, p.95) é “um conjunto de atividades escolares organizadas de maneira
sistemática em torno de um gênero textual (oral ou escrito)”. A finalidade dessa
forma de encaminhamento é a de “ajudar o aluno a dominar melhor um gênero de
texto, permitindo-lhe assim, escrever ou falar de maneira mais adequada numa dada
situação de comunicação” (Idem, p. 97). A referida proposta consiste na
apresentação de uma situação, a seleção do gênero a ser estudado, o
reconhecimento do mesmo através de leitura e análise, a exploração quanto a sua
função social, ao conteúdo temático, à estrutura composicional e ao estilo.
Concluído esse processo, ocorre a produção do gênero estudado, o qual deve ser
lido pelos colegas de classe e/ou pelo professor e devolvido ao autor, para que seja
realizada a reescritura do texto, com o intuito de aproximá-lo o mais possível dos
“modelos” que circulam socialmente. A etapa final e mais importante é a circulação
das produções do gênero, quando se concretiza a proposta inicial; momento em que
o aluno percebe a funcionalidade da língua em situação real de uso.

Assim, a proposta de produção de um site foi apresentada aos alunos e bem


aceita pelos mesmos, embora a maioria demonstrasse pouco conhecimento sobre
as características e/ou funcionamento de uma revista eletrônica. Objetivando
desenvolver um trabalho numa concepção dialógica, os alunos foram orientados de
como se daria o desenvolvimento das atividades. Igualmente enviamos comunicado
aos pais para assegurar a compreensão e o apoio dos mesmos, já que a realização
de algumas tarefas precisaria acontecer fora do horário de aula dos alunos.

Num diálogo inicial sobre os gêneros jornalísticos que iriam ser estudados e
consequentemente produzidos, constatamos que um número elevado de alunos da
classe não tinha o hábito de leitura de revistas e jornais e utilizavam-se da internet
mais para acessar Orkut e MSN. Embora não estivesse previsto na Sequência
Didática, iniciamos as atividades levando para a sala de aula diferentes exemplares
de revistas impressas: Superinteressante, Caras, Galileu-Galilei, Isto é, Nova visão e
revista Veja. Inicialmente as revistas circularam livremente na sala e como já era
esperado, a atenção estava mais voltada para as imagens, sobre as quais surgiram
muitos burburinhos. Como tínhamos um número grande de exemplares da revista
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Veja, cada aluno recebeu um exemplar e passamos então à leitura e análise da


capa, seguindo um primeiro roteiro previamente elaborado:

Editora
Edição
Ano
Número do exemplar
Data
Reportagem destaque da capa
Imagem da capa
A relação da imagem com a manchete
Outras matérias destacadas na capa

Neste primeiro momento, vários alunos relataram que nunca haviam


observado certas detalhes da capa, tampouco a dimensão de leitura que a mesma
possibilita.

Num segundo plano, passamos à leitura do índice, para que todos


percebessem os assuntos abordados bem como a forma de organização, ou seja, as
seções que compõem a revista. Pelo índice os alunos localizaram as matérias e
assim realizaram leitura silenciosa de vários textos. Por sugestão deles próprios,
cada aluno escolheu a matéria que mais lhe chamou a atenção e vários deles
compartilharam o texto selecionado com os demais, fazendo leitura em voz alta.
Muitos comentários surgiram em torno dos assuntos lidos. Em seguida, passamos
a analisar o estilo, as cores utilizadas nas imagens e nas ilustrações presentes, os
destaques, os interlocutores, enfim, para que público leitor a revista foi produzida

Esse processo de leitura e análise foi realizado com os outros exemplares


que tínhamos em mãos também, para que os educandos compreendessem que por
trás de um processo de editoração, há objetivos definidos e todo um planejamento,
pois o modo de organização, a escolha das matérias, das imagens, das cores, e até
a forma de linguagem estão diretamente relacionados ao público leitor a que o
veículo se destina.

A mesma análise foi feita com exemplares eletrônicos, num momento em


que os alunos foram levados para o laboratório de informática.
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Para um melhor entendimento sobre a organização dos veículos de


comunicação impressos, analisamos também o jornal Folha de Londrina,
observando:

sua caracterização;
quais folhas o compõem;
que gêneros são rapidamente identificados num jornal;
o que é manchete;
onde ela aparece;
por que um assunto se torna manchete;
que textos aparecem na folha de opinião;
qual a razão de jornais destinarem uma seção para opinião.

Durante esse processo, observamos que os alunos não tinham


conhecimento do papel do editor, do diagramador, como muitas vezes se dá a
captação das informações e até mesmo por qual processo passa um jornal até
estar pronto para ser distribuído e chegar às mãos dos leitores. Diante da
constatação, organizamos uma visita a um jornal da cidade (TRIBUNA DE
CIANORTE), para que as dúvidas fossem sanadas. Na oportunidade, os alunos
foram recebidos pelos jornalistas que apresentaram os diferentes setores, como a
sala de redação, a diagramação e o parque gráfico, onde puderam acompanhar a
impressão dos primeiros jornais que iriam chegar às mãos dos leitores no dia
seguinte. O próprio veículo valeu-se da visita e dos objetivos da mesma, e produziu
uma matéria que foi publicada no dia 05/05/2009, na página 8 do jornal

Entendendo que todo trabalho demanda planejamento e organização, o


encaminhamento da proposta se deu num processo democrático, onde os alunos
opinaram sobre o nome da revista, ficando definido como revistaativ@idade, e que
a mesma seria constituída de no mínimo sete gêneros: I) reportagens, II)
entrevistas, III) artigos, IV) contos V) crônicas, VI) poemas e VII) texto imagético (
fotos). Os alunos, a partir de então se organizaram em equipes com no máximo
quatro integrantes, segundo seus interesses e definiram que saúde, moda,
drogas, beleza, amor, meio ambiente, o jovem no mercado de trabalho e cidade
(Cianorte) seriam os temas abordados dentre os gêneros mencionados.
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Com o intuito de capacitar os alunos para as produções textuais, passamos


ao estudo dos gêneros jornalísticos através da produção didática, desenvolvida
como parte integrante do Programa de Desenvolvimento Educacional (PDE).
Iniciamos pelo gênero entrevista, por entendermos que a produção de uma
entrevista não se limita apenas à passagem do texto oral para o texto escrito por
meio de um processo mecânico e espontaneísta. Requer uma atividade de
retextualização, que segundo Marcuschi, (2005, p. 48) “trata-se de um processo que
envolve operações complexas e que interferem tanto no código como no sentido”.

Várias são as atividades que perpassam a produção desse gênero, desde o


planejamento para aquisição das informações, a elaboração das perguntas, a
transposição do sonoro para a forma gráfica e finalmente a retextualização, que
requer operações textual-discursivas, tais como:

eliminação das marcas da oralidade;


adequação da pontuação e introdução de parágrafos;
retirada das repetições e redundâncias;
reconstrução de estruturas truncadas;
reordenação tópica do texto;
reorganização da sequência argumentativa;
agrupamento de argumentos condensando ideias;
reestruturação, observando a concordância, regência e os conectivos;

Salientamos que, para desenvolver o processo de retextualização o aluno


precisa inicialmente realizar a atividade cognitiva de compreensão, como lembra
MARCUSCHI (2005), já que se trata de reorganizar as ideias de outrem, mantendo a
fidelidade nas informações.

Considerando que diferentes gêneros apresentam diferentes características,


julgamos relevante estudar também textos da natureza do narrar, como notícias e
reportagens, já que as pessoas atualmente estão cada vez mais sedentas de
informação e estes textos vêm ocupando um espaço importante nos meios de
comunicação. Como o gênero reportagem é muito frequente em revistas e é comum
o aluno confundir com notícia, optamos por trabalhar os dois gêneros, de forma
paralela. Iniciamos pela definição de cada texto segundo o manual de redação da
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Folha de São Paulo. Analisamos a notícia sobre a lei seca sancionada pelo
Presidente da República Luiz Inácio Lula da Silva, disponível em
<http://portal.rpc..com.br/gazetadopovo/vidacidadania>, publicado em 20/06/2008 e
acessado em 20/09/2008 e a reportagem que aborda a redução do número de
vítimas diante da lei seca, disponível em <http://g1.com/bomdiabrasil/>, acessado
em 23/09/2008, conforme o roteiro:

O que diferencia uma notícia de uma reportagem?


Qual a função social de cada gênero?
Onde são veiculados esses textos?
Para que público leitor foram produzidos os textos em questão?
O que leva um (a) repórter a escrever uma notícia ou uma reportagem?
Uma reportagem pode ser constituída por vários textos. Como se explica essa
afirmação?
Para incluir e/ou marcar no texto escrito falas de pessoas entrevistadas, qual
o procedimento do redator?
Que recursos gráficos podem complementar uma reportagem?
Nas formas verbais, qual o tempo predominante nos dois gêneros?Por quê?
Há diferenças entre uma reportagem veiculada num jornal ou em uma revista?

O processo de análise se deu também com outras reportagens e notícias


selecionadas e trazidas pelos alunos.

Para a produção de reportagens, os alunos definiram os assuntos ou temas


e a partir daí realizaram leituras e pesquisas para obter informações que
subsidiassem a produção textual. Entrevistas e visitas também foram realizadas
para aquisição de dados, bem como providenciados os recursos gráficos e as
imagens ou fotografias que se fizeram necessárias.

Como jornais e revistas de modo geral destinam um espaço para opinião,


entendemos ser de suma importância para os alunos compreenderem também os
gêneros jornalísticos de natureza argumentativa. Para isso, estudamos a carta do
leitor, o editorial e o artigo de opinião. Prado ( 2002, p. 102), ressalta que :

... nas atividades de ensino é necessário abordar gêneros diversos,


observando sua estrutura, aspectos lingüísticos, aspectos
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discursivos, função e relevância social, para, assim, dar condições ao


aprendiz de utilizar a língua de modo variado para produzir diferentes
efeitos de sentido e adequar o texto a diferentes situações de
interlocução oral e escrita.

No mundo globalizado em que vivemos para constituir-se um sujeito crítico e


histórico (DCEs, 2008) é preciso saber discutir e posicionar-se frente aos
acontecimentos do mundo e às ações humanas. Lopes-Rossi (2002, p. 23), também
observa que “a argumentação é uma necessidade cotidiana e, como as outras
formas de organização do discurso, realiza-se por meio de características textuais,
condições de produção e circulação específicas”. Opinar sobre um determinado
assunto e ser capaz de sustentar um ponto de vista com argumentos consistentes e
convincentes é uma competência necessária para um melhor desempenho do
exercício da cidadania.

Assim, levamos para a sala de aula seções de jornais denominada “Folha de


opinião” para que os alunos tomassem conhecimento de que gêneros são
publicados nestas seções, identificassem as cartas de leitor e compreendessem que
esse gênero discursivo visa estabelecer um diálogo entre os leitores ou do leitor
com o editor, sendo um instrumento que possibilita àquele discordar, comentar,
reclamar, elogiar ou denunciar um problema de interesse social. Assim expressando
seu ponto de vista ou tecendo comentários sobre algum assunto ou matéria
publicada em edições anteriores.

Uma vez reconhecido o gênero, os alunos receberam uma coletânea de


cartas com diferentes finalidades, extraídas de jornais e revistas, para que
identificassem:

Quem escreveu:
Cidade:
Veículo de publicação:
Destinatário:
Intenção:
Assunto:
Argumentos utilizados:
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Tipo de linguagem:
Partes omitidas:

Os alunos puderam compreender que o gênero carta do leitor tem a estrutura


de outras cartas, ou seja, local, data, vocativo, corpo do texto, despedida, nome e
ocupação do remetente e que a maneira como jornais e revistas exibem a carta não
corresponde à maneira como esses textos são escritos. Algumas informações
consideradas desnecessárias são omitidas e as mesmas são agrupadas por
assuntos, recebendo então título.

Outros aspectos relevantes a se considerar neste gênero são o uso de


argumentos adequados à finalidade da carta e os conectores, responsáveis pela
coesão do texto.

Sabendo que é possível superar o tradicional ensino de Língua Portuguesa


em que os alunos são submetidos à produção de textos dissertativos, atividades
estas que se restringiam exclusivamente ao âmbito escolar, optamos por estudar os
gêneros editorial e artigo de opinião com a finalidade de levar os educandos a
compreender a funcionalidade da argumentação dentro de cada um. O editorial é
um gênero textual com finalidade persuasiva e normalmente escrito pelo editor-chefe
de um jornal ou revista para expressar formalmente a opinião do próprio veículo a
respeito de algo que vem acontecendo na sociedade. Assim, tomamos como base
de estudo o editorial publicado no jornal Folha de Londrina, do dia 28/08/2008, que
trata da necessidade do voto consciente, já que em período eleitoral afloram virtudes
e defeitos dos postulantes que se expõem nas vitrinas para conquistar o voto
popular.

Como o gênero editorial possui a estrutura do texto dissertativo, analisamos


os aspectos a seguir:

Onde foi publicado e em que data.


Que fato levou os editorialistas a escreverem esse texto.
Quem seriam os interlocutores do texto.
Qual a tese do texto.
Qual a posição do jornal em relação ao tema.
Que argumentos o editor apresenta para sustentar seu ponto de vista.
17

Embora a linguagem seja impessoal, que marcas anunciam a posição de


quem escreveu o texto.
Quais os conectores presentes no texto e qual a finalidade dos mesmos.
Que outros conectivos poderiam ser empregados em substituição aos do
texto, sem alteração de significado.

Com algumas diferenças em relação ao editorial, que é um texto sem


assinatura, estudamos também o gênero artigo de opinião, que são textos escritos
de modo geral por especialistas em algum assunto ou pessoas reconhecidas na
sociedade, os denominados articulistas, que tomam uma posição diante de um fato
de interesse social ou de algo veiculado em edições anteriores.

Vários textos foram selecionados pelos alunos e utilizados para subsidiar os


estudos, mas para o reconhecimento do gênero nos valemos dos artigos: “A licença
paternidade” produzido por um advogado e especialista em Direito material e
processual do trabalho, veiculado na Folha de Londrina, no dia 28/0//2008, e do
artigo intitulado “Armadilhas da lei seca”, de Luiz Leitão, disponível em
<http://opiniaoenoticia.com.br> e acessado em 25/09/2008.

Como é papel da escola usar estratégias de leitura que possibilitem aos


educandos realizar uma leitura inferencial, ou seja, ativar os conhecimentos prévios
e interagir com as informações presentes no texto , seguimos roteiros de análise
que perpassassem os diferentes eixos, conforme proposto pelas Diretrizes
Curriculares da Educação Básica (2008). Marcuschi (2005, p. 46) também alerta
para as práticas de leitura, lembrando que:

... a compreensão não se dá como fruto da simples apreensão do


significado literal das palavras e sentenças. Mais: compreender uma
sentença ou um texto exige mais do que situá-los em seus contextos
de ocorrência. Exige também uma contextualização cognitiva
dependente da própria organização dos conhecimentos e
experiências pessoais.

Assim, no eixo da oralidade procuramos observar:

onde o texto foi publicado e quem é o autor;


de que ponto de vista ou posição social o autor escreve;
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qual a finalidade do texto e para que público leitor ele se destina;


qual o tema abordado;
qual a tese do autor e que argumentos utilizou para sustentar sua tese;
que argumentos contrários ao pensamento do autor o texto apresenta;
como o autor concluiu o texto;
qual a sua posição (do aluno) em relação ao ponto de vista o autor;
o título é sugestivo ou poderia ser melhor;
que influência o leitor pode sofrer com a leitura desse gênero;
por que saber ler e produzir esse gênero textual;

Para o estudo dos diferentes gêneros jornalísticos escolhemos como tema a


lei seca, por ser um assunto de interesse social, estendendo-se também aos
interesses dos jovens. Desta forma, para embasar os argumentos dos alunos, foi
solicitado que pesquisassem sobre a lei nº 11.705 de 20/06/2008, para saberem
sobre em que ela defere da lei anterior, quais os índices de acidentes após a
implementação da lei, os fatores que influenciam a medida do álcool no sangue e os
benefícios trazidos pela Lei. De posse dessas informações, realizou-se um debate
na sala, onde parte dos alunos posicionou-se contra a lei seca e outros a favor. Do
debate, resultou uma produção escrita inicial para nortear os aspectos textuais,
linguísticos e discursivos a serem estudados.

Aspectos do texto: SIM NÃO PRECISA


MELHORAR
1. Traz uma questão polêmica.
2. Está clara a posição assumida.
3.Apresenta pensamento dos opositores.
4. Possui argumentos confiáveis.
5.O título é sugestivo.
6. Utiliza corretamente os conectivos para introduzir
argumentos.
7. Os parágrafos estão organizados em introdução,
desenvolvimento e conclusão.
8 Há erros de concordância.
9. A pontuação está correta.
10. Apresenta erros ortográficos ou gramaticais
19

O gênero artigo de opinião tem como característica enfocar problemas sociais


controversos, organizados de forma argumentativa, baseados na sustentação ou
refutação de pontos de vista. Por esta razão foram levados ao conhecimento dos
alunos, através de atividades de explicação e exemplificação, argumentos de causa
e consequência, de princípio e crença, de provas, de autoridades e de
exemplificação, considerados mais utilizados e mais confiáveis. Outros aspectos
abordados foram os elementos articuladores, responsáveis pela coesão do texto.

Em todas as produções propostas, as atividades de análise linguística foram


realizadas de forma integrada a cada gênero e retomados os aspectos onde
emergiam mais erros e dúvidas, já que estes, segundo as DCEs (2008), são
elementos constitutivos do processo ensino-aprendizagem.

Por decisão dos alunos, dos gêneros jornalísticos estudados, somente as


produções de entrevistas, reportagens e artigos integraram a revista eletrônica. Os
demais gêneros produzidos foram expostos na sala de aula. Em virtude do público
leitor a que a revista se destina, os alunos optaram também por produzir uma seção
de contos e crônicas e outra de poemas, já que estes gêneros exercitam a
imaginação, a sensibilidade e possibilitam compartilhar sentimentos.

Uma vez constituída, a Revista Ativ@idade foi editada e encontra-se


disponível no site: www.revistaatividade.com.

4. Considerações finais:

O uso da língua com base nos postulados bakhtinianos não decorre de modo
dissociado de uma situação comunicativa, e para Marcuschi (2003), nada do que o
ser humano produz linguisticamente estará fora de ser feito em algum gênero.
Assim, podemos dizer que, embora não existam gêneros específicos a serem
estudados em sala de aula, trabalhar com textos jornalísticos é uma maneira eficaz
de levar o educando a apreender não só o conceito de gênero, mas compreender
que há uma diversidade de configurações textuais, fruto das relações humanas. Por
sua vez, estas possuem especificidades e funcionalidades próprias e são dotadas de
valores, frutos de uma determinada ação social. Outro aspecto relevante que
podemos destacar é o trabalho com textos que não se limitam apenas ao âmbito
escolar, mas com gêneros de grande circulação social e com conteúdos da
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atualidade. Oportunizar ao aluno apropriar-se dos aspectos linguísticos e discursivos


de textos jornalísticos (entrevista, notícia, reportagem, carta de leitor, editorial e
artigo de opinião) e usá-los corretamente no momento da produção, é uma forma de
melhorar a competência linguística, fator imprescindível na formação do indivíduo.

Vale salientar também que a produção de uma revista eletrônica a partir da


constituição de um site é uma possibilidade de trabalho onde a escola deixa de ser
lugar de simulação de ações com a linguagem, e o aluno passa a socializar suas
produções e consequentemente seu saber através da mídia eletrônica, tornando-se
assim usuário da língua escrita em situações reais de comunicação.

Embora os alunos na sua maioria tenham grande afinidade com a tecnologia


e em especial com a internet, constatamos que pela sua estrutura e organização, a
constituição de um site demanda a contratação de um profissional da informática
denominado web-designer, se entre os alunos não houver alguém com domínio
nesta área. Outro aspecto a se considerar é o custo para a manutenção de um site.
Assim, acreditamos que a constituição de um blog pode ser uma alternativa
importante, eficaz e econômica para socializar o trabalho do professor e as
produções dos alunos, já que o mesmo pode ser alimentado constantemente e não
requer despesas.

Em suma, podemos dizer que a proposta em questão é significativa, mas


requer grande empenho do professor e alunos. Vale destacar também que produzir
uma revista eletrônica a partir do estudo de diferentes gêneros, conforme o proposto
demanda um número menor de alunos em sala do que o ocorrido, (tínhamos 49!),
para favorecer o trabalho em equipe, possibilitar que todos possam fazer uso do
laboratório de informática, bem como receber atendimento individualizado pelo
professor, fatores imprescindíveis para um trabalho de excelência.

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