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diz de boxeador” sobe no ringue para cionalistas. Disso o autor fornece diver-
disputar “o maior torneio amador do sas referências ao longo do texto. No
Meio-Oeste” (:25), o Golden Gloves, o caso específico de Corpo e Alma, o alvo
tema do último dos três textos que com- da desmistificação é ligeiramente dife-
põem Corpo e Alma. Local das mistu- rente do que aparece em um artigo an-
ras, o relato da entrada de “Busy” Louie teriormente publicado em Mana (2000).
no ringue conjuga observador, experi- Lá, Loïc Wacquant mostra o mundo dos
mentador e observado, observação, des- boxeadores (apresentado por eles mes-
crição e narração, sem solução de con- mos) como sendo extremamente nega-
tinuidade (:271-293). tivo. O boxeador como o explorado, co-
A fronteira entre natureza e cultura mo um jogador da loteria, constante-
não é a única posta em questão e refle- mente comparado a um animal de cor-
xão pelas análises de Loïc Wacquant. te, a uma prostituta, a uma vítima do
Para ele, a produção do boxeador para vampirismo dos empresários. Nos arti-
o “mais individual dos esportes” só é gos que compõem Corps et Âme, o au-
possível através de práticas coletivas, e tor apresenta-nos o boxe como um meio
“oferece uma superação em ato da an- de fugir da realidade da rua, como uma
tinomia entre o individual e o coletivo” possibilidade, como uma arma contra a
(:35), embora em certos casos hesite en- delinqüência. Da formação do boxea-
tre a superação da dicotomia e sua ad- dor – inculcação da disciplina, remode-
missão: “o paradoxo de um esporte ul- lação espiritual, física e mental – ao bo-
tra-individual cuja aprendizagem é xeador profissional, altera-se a relação
completamente coletiva” (:120, ênfases entre o microcosmo e o macrocosmo.
no original). De modo que, ao menos no Descrição etnográfica, análise so-
vocabulário utilizado e nos referenciais ciológica e experiência literária, Corpo
teóricos, em diversas passagens, coleti- e Alma possibilita ainda ao leitor livrar-
vo e individual permanecem em estado se dos clichês e do imaginário prêt-à-
de mistura, mas como entidades distin- porter criado em torno do universo do
tas. O gym continua essencializado, as- boxe.
sim como o corpo sobre o qual ele tra-
balha, funcionando como “comunidade
moral”, como “sistema de crenças e de
práticas” ao modo de Durkheim, con-
forme citação do próprio autor (:120).
Quanto ao meu elenco de virtudes
desta obra, embora mais ou menos evi-
dente, não será ocioso lembrar que ela
é um exemplo rico de como a antropo-
logia e, sobretudo, o gênero etnográfico
é, ou pode ser em certos casos, um po-
deroso agente desmistificador de um
determinado universo social cujos re-
sultados finais são intensamente difun-
didos. Os boxeadores profissionais são
midiatizáveis o que provoca um sem-
número de discursos sobre o boxe de
cunho e objetivos jornalísticos e sensa-