Você está na página 1de 177

ISSN 1677-812X

Relatório de Estabilidade Financeira

Novembro – 2002
Volume 1 – N°1
ISSN 1677-812X
CGC 00.038.166/0001-05

Relatório de Estabilidade Brasília v. 1 n. 1 nov 2002 P. 1 - 180


Financeira
Relatório de Estabilidade Financeira Novembro 2002

Relatório de Estabilidade Financeira

Publicação semestral do Banco Central do Brasil (Bacen), em conformidade com o Voto BCB 396/2002, de 25.9.2002.

Os textos e os correspondentes quadros estatísticos e gráficos são de responsabilidade dos seguintes componentes:

Departamento Econômico (Depec) (e-mail: depec@bcb.gov.br)

Departamento de Estudos e Pesquisas (Depep) (e-mail: depep@bcb.gov.br)

Departamento de Normas do Sistema Financeiro (Denor) (e-mail: denor@bcb.gov.br)

Departamento de Operações Bancárias e de Sistema de Pagamentos (Deban) (e-mail: deban@bcb.gov.br)

Departamento de Operações do Mercado Aberto (Demab) (e-mail: gabin.demab@bcb.gov.br)

Departamento de Supervisão Indireta (Desin) (e-mail: desin@bcb.gov.br)

É permitida a reprodução das matérias, desde que mencionada a fonte: Relatório de Estabilidade Financeira, Volume 1, nº 1.

Controle Geral de Assinaturas

Banco Central do Brasil


Demap/Disud/Subip
SBS - Quadra 3 - Bloco B
Ed. Sede - 2°ss
Caixa Postal 8670
70074-900 - Brasília (DF)
Telefone (55.61) 414-3165
Fax (55.61) 414-1359

Tiragem: 1.200 exemplares

Convenções Estatísticas
... dados desconhecidos.
- dados nulos ou indicação de que a rubrica assinalada é inexistente.
0 ou 0,0 menor que a metade do último algarismo, à direita, assinalado.
* dados preliminares.

O hífen (-) entre anos (1970-75) indica o total de anos, inclusive o primeiro e o último.
A barra (/) utilizada entre anos (1970/75) indica a média anual dos anos assinalados, inclusive o primeiro e o último, ou ainda, se especificado
no texto, ano-safra, ou ano-convênio.

Eventuais divergências entre dados e totais ou variações percentuais são provenientes de arredondamentos.

Não são citadas as fontes dos quadros e gráficos de autoria exclusiva do Banco Central do Brasil.

Central de Informações do Banco Central do Brasil

Endereço: Secre/Surel/Dinfo
Edifício-Sede, 2º subsolo
SBS - Quadra 3, Zona Central
Telefones: (61) 414 (....) 2401, 2402, 2403, 2404, 2405, 2406
DDG 0800 992345
FAX (61) 321 9453
70074-900 - Brasília (DF)
Internet: http://www.bcb.gov.br
E-mail: cap.secre@bcb.gov.br

2
Relatório de Estabilidade Financeira Novembro 2002

Índice

Apresentação .............................................................................................................. 7
Sumário Executivo ................................................................................................... 9

1 Evolução dos mercados financeiros .................................................... 11


1.1 Mercado financeiro internacional ........................................................... 11
1.1.1 Introdução ...................................................................................................... 11
1.1.2 Evolução recente do mercado financeiro internacional ................... 1 2
1.1.3 Instituições financeiras .............................................................................. 1 8
1.2 Mercado financeiro nacional .................................................................... 2 0
1.3 Conclusão ....................................................................................................... 2 6

2 Sistema Financeiro Nacional ................................................................. 29


2.1 Ativos, Passivos e Patrimônio Líquido ................................................. 2 9
2.1.1 Composição e evolução .............................................................................. 2 9
Ativos .............................................................................................................. 2 9
Passivos .......................................................................................................... 3 1
Patrimônio Líquido (PL) ........................................................................... 3 3
2.2 Resultados ...................................................................................................... 3 4
2.2.1 Composição e evolução .............................................................................. 3 4
2.3 Capital e limites ........................................................................................... 3 8
2.3.1 Índice de Basiléia ........................................................................................ 3 8
Evolução ......................................................................................................... 3 8
Concentração do PR e do PLE ................................................................. 4 0
Sistema bancário .......................................................................................... 4 0
Cooperativas de crédito ............................................................................. 4 1
Sistema não-bancário ................................................................................. 4 1
2.3.2 Limite de imobilização .............................................................................. 4 2
Evolução ......................................................................................................... 4 2
Sistema bancário .......................................................................................... 4 3
Cooperativas de crédito ............................................................................. 4 4
Sistema não-bancário ................................................................................. 4 4
2.4 Riscos .............................................................................................................. 4 9
2.4.1 Operações de crédito ................................................................................... 4 9
Operações baixadas como prejuízo e coobrigações ............................ 5 0
Maiores devedores do SFN ....................................................................... 5 1

3
Relatório de Estabilidade Financeira Novembro 2002

Distribuição dos cem maiores devedores segundo o setor


econômico ...................................................................................................... 5 2
Classificações das operações de crédito ................................................ 5 2
Inadimplência e provisionamento ........................................................... 5 6
Inadimplência ............................................................................................... 5 6
Provisão .......................................................................................................... 5 6
Provisão constituída/provisão mínima .................................................. 5 7
2.4.2 Exposição cambial....................................................................................... 5 7
Exposição líquida em ouro e dólar ......................................................... 5 8
Posições compradas e vendidas em ouro e dólar ................................ 5 9
Exposição líquida nas demais moedas .................................................. 5 9
Exposição líquida em ouro e dólar do segmentos .............................. 6 0
Posições compradas e vendidas em ouro e dólar do segmentos ..... 6 1
2.5 Conclusão ....................................................................................................... 6 1

3 Sistema de pagamento .............................................................................. 63


3.1 Introdução ...................................................................................................... 6 3
3.2 Aspectos legais e regulamentares ........................................................... 6 4
3.3 Elementos da estabilidade no SPB ......................................................... 6 7
3.3.1 O papel do Banco Central do Brasil ...................................................... 6 7
3.3.2 Sistemas de LBTR ....................................................................................... 6 8
3.3.3 Sistemas de pagamento e de liquidação ................................................ 6 9
3.3.4 Depositário central de ativos .................................................................... 7 1
3.3.5 Câmara de câmbio ....................................................................................... 7 3
3.3.6 Risco operacional ........................................................................................ 7 4
3.4 Liquidez intradia ......................................................................................... 7 6
3.4.1 Mecanismo de resolução de filas ............................................................ 7 7
3.4.2 Concessão de crédito intradia .................................................................. 7 8
3.4.3 Movimentação intradia dos recolhimentos compulsórios ................ 8 0
3.5 Conclusão ....................................................................................................... 8 0

4 Cenários de estresse .................................................................................. 81


4.1 Universo analisado ...................................................................................... 8 2
4.2 Estresse de risco de crédito ....................................................................... 8 2
4.3 Estresse de taxa de juros e de câmbio .................................................... 8 2
4.4 Avaliação dos resultados dos cenários na adequação de capital
ao limite de Basiléia ................................................................................... 8 7
Situação inicial ............................................................................................. 8 7
4.4.1 Cenários de estresse de alta ...................................................................... 8 7
Aumento do risco de crédito .................................................................... 8 7
Aumento das taxas de juros e de câmbio .............................................. 8 8
Aumento das taxas de juros e de câmbio e do risco de crédito ...... 8 8
4.4.2 Cenários de estresse de baixa ................................................................... 8 8
Baixa das taxas de juros e de câmbio .................................................... 8 8
4.5 Conclusão ....................................................................................................... 8 9

4
Relatório de Estabilidade Financeira Novembro 2002

5 Normas relativas à regulação prudencial ......................................... 91


5.1 Introdução ...................................................................................................... 9 1
5.2 Principais normativos ................................................................................. 9 2
Adoção do Acordo de Basiléia – Resolução 2.099/1994 .................. 9 2
Central de Risco de Crédito – Resolução 2.390/1997 ....................... 9 4
Operações de swaps – Requerimentos de capital – Resolução
2.399/1997 ..................................................................................................... 9 5
Risco Cambial – Resolução 2.891/2001 ................................................ 9 5
Fundos de investimento – Resoluções 2.451/1997 e 2.486/1998 .. 9 6
Controles internos – Resolução 2.554/1998 ........................................ 9 7
Qualificação dos administradores – Resolução 2.645/1999 ............ 9 7
Classificação das operações de crédito – Resolução 2.682/1999 ... 9 8
Cessão de crédito – Resolução 2.686/2000 .......................................... 9 9
Risco de mercado de taxas de juros – Resolução 2.692/2000 ......... 9 9
Participações e consolidação de demonstrações financeiras
– Resoluções 2.723/2000 e 2.743/2000 ...............................................100
Capital complementar – Resolução 2.837/2001 ...............................101
Risco de liquidez – Resolução 2.804/2000 .........................................102
Informações Financeiras Trimestrais (IFT)
– Circular 2.990/2000 ..............................................................................102
Estatísticas Bancárias Internacionais (EBI)
– Circular 3.047/2001 ..............................................................................103
Internet banking – Resolução 2.817/2001 ..........................................103
Diversificação de risco por cliente – Resolução 2.844/2001 ........104
Defesa dos direitos do cliente – Resoluções 2.878/2001
e 2.892/2001 ................................................................................................105
Derivativos de crédito – Resolução 2.933/2002
e Circular 3.106/2002 ..............................................................................105
Critérios de contabilização – Marcação a mercado
– Circulares 3.068/2001 e 3.082/2002 ................................................106
5.3 Aperfeiçoamento da regulamentação prudencial .............................107

6 Estudos selecionados ...............................................................................109


Avaliação de Métodos de Cálculo de Exigência de Capital
para Risco de Mercado de Carteira de Ações no Brasil ................. 111
Densidades de Probabilidades Neutras ao Risco ..............................131
Metodologia de Avaliação da Capacidade de Geração de
Resultados de Instituições Financeiras ...............................................141

Apêndice .................................................................................................................175

5
Relatório de Estabilidade Financeira Novembro 2002

Apresentação

A publicação de análises sobre o desempenho do sistema financeiro


realizadas pelos bancos centrais é amplamente recomendada sob a
ótica da transparência da autoridade monetária e da convergência
de expectativas dos agentes. Nesse contexto, o Banco Central do
Brasil passará a divulgar semestralmente o Relatório de Estabilidade
Financeira, publicação que objetiva realizar diagnóstico sobre a
eficiência e a solvência do sistema financeiro nacional.

Este relatório tem como referência, principalmente, os dados


ocorridos no primeiro semestre do ano, sendo constituído de seis
capítulos: Evolução dos mercados financeiros; Sistema Financeiro
Nacional (SFN); Sistema de pagamento; Cenários de estresse;
Normas relativas à regulação prudencial; e Estudos selecionados.

No primeiro capítulo, é feita avaliação do comportamento recente


dos mercados financeiros internacional e doméstico. No capítulo
subseqüente, o foco encontra-se na composição e na evolução dos
ativos, dos passivos e do patrimônio líquido, na análise de resultados,
na adequação ao limite de Basiléia e ao limite de imobilização, nos
riscos de crédito e de mercado. O capítulo relativo ao Sistema de
Pagamentos Brasileiro (SPB) contém a descrição geral da sua
reestruturação, o papel do Banco Central do Brasil e das câmaras de
compensação e de liquidação, a liquidez intradia e as modificações
ocorridas nos instrumentos de política monetária. No capítulo
dedicado aos Cenários de estresse são analisados os impactos sobre
a adequação ao limite de Basiléia, considerados elevações ou
rebaixamentos da taxa de câmbio e das taxas de juros e deterioração
da qualidade dos créditos. Quanto à Regulação prudencial, é
apresentada a evolução sobre sua implantação no Brasil em
consonância com os Princípios de Basiléia. Finalmente, no capítulo

7
Relatório de Estabilidade Financeira Novembro 2002

Estudos selecionados, são apresentados três trabalhos cujos temas


são relacionados à condução das políticas monetária e de supervisão.
Nesse sentido, são discutidos métodos de determinação da exigência
de capital para cobertura de risco, decorrente da exposição em ações,
expectativas de mercado com respeito a preços de ativos financeiros
nos mercados de opções domésticas, e a avaliação da capacidade de
geração de resultados das instituições financeiras.

8
Relatório de Estabilidade Financeira Novembro 2002

Sumário executivo

Apesar das incertezas recentes sobre a evolução da economia


internacional, representadas por menor crescimento das economias
mais desenvolvidas, contração dos mercados acionários e ampliação
da aversão ao risco por parte dos investidores internacionais, os
sistemas financeiros, tanto nos países desenvolvidos como nos em
desenvolvimento têm-se mantido sólidos. Dificuldades maiores,
existentes em países específicos, seriam decorrência ou de fatores
estruturais ou de políticas macroeconômicas, em processo de revisão
de curso. Nesse sentido, a crescente adoção de práticas prudenciais
e de supervisão internacionalmente aceitas pode ser responsável pela
presente situação de tranqüilidade dos sistemas bancários nacionais,
diferentemente da observada em outras crises ocorridas na última
década do século passado.

O sistema financeiro brasileiro, nesse contexto, a partir da adoção,


nos últimos anos, de uma série de procedimentos relativos à regulação
prudencial, bem como da implantação, a partir de abril de 2002, do
novo SPB, o qual reduziu riscos e aumentou a eficiência da economia
como um todo, vem crescentemente se fortalecendo, mostrando-se
apto para enfrentar situações de maior instabilidade e,
conseqüentemente, de riscos ampliados.

A atual solidez do sistema financeiro nacional fica evidenciada por


uma série de indicadores, constantes deste Relatório, podendo ser
citados, entre outros: i) contínua expansão dos seus ativos totais; ii)
tendência declinante do custo operacional; iii) estabilidade da taxa
de inadimplência, em um contexto de contenção do nível de atividade
interna; iv) obtenção de taxa de retorno positiva, após resultados
negativos decorrentes de situações isoladas de ajustes aos programa
de privatização/saneamento de instituições públicas; v) manutenção

9
Relatório de Estabilidade Financeira Novembro 2002

do nível de provisões bem acima do mínimo exigido; vi) índice de


Basiléia superior a 16%, em junho de 2002, frente ao mínimo de
11% atualmente fixado, com apenas três instituições desenquadradas,
no segmento bancário, nessa data; e, vii) adequada capitalização,
com o patrimônio de referência, em junho de 2002, superando em
mais de 44% o patrimônio mínimo exigido.

Adicionalmente, o sistema bancário, quando submetido a testes de


estresse, apresentou bons resultados. Considerados cenários isolados,
ou cumulativos, de ampliação dos riscos de crédito e de mercado
(taxas de juro e de câmbio), os bancos mostraram que manteriam,
em geral, o nível de capitalização mínimo exigido pela legislação
vigente. Tais resultados, que ratificam a solidez evidenciada pelo
sistema financeiro no cenário recente de incerteza e alto nível de
volatilidade, demonstram que as políticas e as regras prudenciais
adotadas produziram os efeitos positivos desejados, quais sejam,
dotar o País de um sistema financeiro merecedor da confiança dos
depositantes e dos investidores, tanto nacionais como internacionais.

Importa destacar a publicação, neste volume, de três trabalhos


técnicos de autoria de funcionários do Banco Central do Brasil,
relacionados a aspectos da condução das políticas monetária e de
supervisão. Tal publicação, ampliando os canais já existentes de
divulgação de textos produzidos internamente, contribui para
consolidar a ampla transparência do Banco Central, através do
intercâmbio de pontos de vista e da constante prestação de contas
de suas atividades à sociedade.

10
Relatório de Estabilidade Financeira Novembro 2002

1 Evolução dos mercados financeiros

1.1 Mercado financeiro internacional


1.1.1 Introdução

O sistema financeiro internacional esteve exposto, desde o início


de 2001 até meados do ano subseqüente, à seqüência incomum de
choques adversos com impactos significativos sobre sua estrutura,
funcionamento e rentabilidade. Não obstante, as instituições
bancárias ao redor do mundo continuam, em seu conjunto, bastante
resistentes ao cenário desfavorável, mantendo-se lucrativas e
capitalizadas, afastando a ocorrência de eventos sistêmicos na
maioria dos diversos mercados nacionais. Essa caracterização não
impede, todavia, a ocorrência de crises bancárias localizadas, como
no Japão e na Argentina.

Os choques enfrentados pelo mercado financeiro internacional


originaram-se do setor real, com a recessão mundial capitaneada
pelos Estados Unidos em 2001 e a lenta recuperação do crescimento
econômico prevista para este ano e o próximo, e do setor financeiro,
com o fim da bolha no mercado acionário norte-americano, que se
espalhou das empresas de telecomunicações, mídia e tecnologia
(TMT) para o restante do mercado. A perda de riqueza financeira
afetou a capitalização das empresas, as garantias bancárias, os níveis
relativos de endividamento e a propensão a consumir.

Fator negativo adicional foram as revelações de fraudes contábeis,


seguidas de falências e concordatas, realizadas por grandes empresas
dos Estados Unidos. Essas revelações, afetando mercado já bastante
deprimido, impactaram negativamente a confiança dos investidores
nas informações corporativas e nos órgãos reguladores e, por

11
Relatório de Estabilidade Financeira Novembro 2002

conseqüência, sua disposição de investir. A esse desestímulo ao


investimento somem-se os seguidos anúncios de redução nos lucros
esperados, levando os principais índices das bolsas de valores dos
Estados Unidos a níveis historicamente baixos.

O reflexo do ambiente financeiro nos países industrializados, no que


se refere aos países emergentes, em especial a América Latina,
evidenciou-se na redução dos fluxos líquidos de capitais privados
voluntários e no significativo aumento dos spreads cobrados nos
empréstimos. Para essa contração localizada do crédito internacional
contribuíram a elevação da aversão ao risco dos investidores
estrangeiros e a redução de exposição a países considerados de alto
risco, devido a exigências da regulamentação prudencial e das
agências nacionais de supervisão financeira.

Por fim, assinalem-se os efeitos negativos, sobre o cenário econômico


internacional, decorrentes do crescimento das tensões entre Estados
Unidos e o Reino Unido, por um lado, e Iraque, por outro, conforme
sugere a evolução recente das cotações spot e futuras do barril de
petróleo.

1.1.2 Evolução recente do mercado financeiro


internacional

O cenário atual e as perspectivas para a evolução do mercado


financeiro internacional apresentaram deterioração relativamente ao
início do ano. O ambiente desfavorável diz respeito, especialmente,
à contração dos ingressos líquidos de capitais privados nos países
emergentes e à restrição a financiamento por devedores abaixo do
grau de investimento (investment grade ). As perspectivas para o
comportamento do mercado internacional de capitais no restante
deste ano, e no próximo, projetam a manutenção de cenário de baixa
liquidez global e financiamento mais difícil para devedores com baixo
rating. Decisivo, do ponto de vista da recuperação dos fluxos de
capitais para os mercados emergentes, será a ainda incerta redução
da aversão ao risco por parte de investidores internacionais, que
depende da retomada da confiança desses agentes, da redução da
exposição a risco em seus balanços e portfólios e da manutenção,

12
Relatório de Estabilidade Financeira Novembro 2002

ou adoção, de políticas econômicas sólidas e sustentáveis nos países


receptores de capitais.

Fluxo líquido de capital para países em desenvolvimento Quanto às projeções do movimento internacional
US$ bilhões
de capitais para países em desenvolvimento, as
Discriminação 2000 2001 2002* 2003*
mesmas foram substancialmente refeitas para
Fluxo líquido de capital total 26,7 46,4 66,0 71,9
América Latina 45,1 43,9 26,1 41,1 refletirem a deterioração do ambiente econômico
Capital oficial total 10,7 38,0 37,4 34,0 mundial. De acordo com as duas últimas edições
América Latina -3,5 21,1 15,8 14,6
do World Economic Outlook (WEO), do FMI,
Capital privado total 16,1 8,3 28,6 37,9
América Latina 48,6 22,8 10,3 26,5 de abril e setembro de 2002, os fluxos de capitais
Investimento direto líquido 129,9 147,3 115,5 121,8 totais líquidos para esses países devem ser
América Latina 64,7 66,9 40,4 45,6
Investimento de portfólio líquido -17,9 -51,2 -12,8 -9,4
menores que os esperados, tanto neste ano quanto
América Latina 4,7 -2,2 1,0 7,6 no próximo. Para 2002, a projeção foi revista de
Outros capitais privados -96,0 -87,5 -74,1 -74,5
US$83,9 bilhões para US$66 bilhões e, para o
América Latina -20,8 -41,9 -31,1 -26,7
ano seguinte, de US$85,2 bilhões para US$71,9
Fonte: FMI (World Economic Outlook - September 2002)
bilhões. No caso da América Latina e Caribe, as
* Projeção.
cifras revistas passaram de US$49,5 bilhões para
US$26,1 bilhões e de US$47,6 bilhões para US$41,1 bilhões em
2002 e 2003, respectivamente.

Essa evolução do mercado financeiro internacional pode ser


observada nas estatísticas divulgadas pelo Banco de Compensações
Internacionais (BIS) 1 . No segundo trimestre deste ano, os ativos
bancários internacionais no exterior, que consideram os ativos dos
bancos em países distintos do país da matriz mais os ativos de suas
filiais no estrangeiro, inclusive os mantidos com residentes locais
em moeda local, registraram ligeira elevação, 1,5%, após ajustados
para os efeitos das variações cambiais do dólar em relação às moedas
nas quais os empréstimos foram referenciados. Enquanto os países
em desenvolvimento da Ásia, Europa, África e Oriente Médio
apresentaram incrementos no estoque de empréstimos internacionais,
o desempenho da América Latina permaneceu negativo, em função
tanto do aumento da percepção de risco na região quanto do efeito
estatístico decorrente da depreciação das moedas locais ocorrida no
segundo trimestre, especialmente no Brasil e no México. Esse último
efeito, se não representa corte efetivo de linhas de crédito ou redução

1/ BIS Consolidated Banking Statistics for the Second Quarter of 2002, divulgado em 23 de outubro.
Ver: http://www.bis.org/statistics/index.htm.

13
Relatório de Estabilidade Financeira Novembro 2002

na rolagem de operações vencidas, implica redução, de qualquer


maneira, da exposição no balanço dos bancos internacionais.

Ativos bancários internacionais


1/ O estoque dos ativos bancários internacionais
US$ bilhões mantidos na América Latina situou-se em
2/ 2/
Período Todos os Países América Ásia Europa Brasil
US$491,9 bilhões ao final do segundo trimestre
países em desen- Latina
volvimento e Caribe
de 2002, redução de US$36,2 bilhões, 6,9%, em
2001 I 11 315,5 1 289,9 518,1 388,2 239,3 136,2
relação ao trimestre anterior e de US$70,4
II 11 190,9 1 285,6 521,9 375,0 245,9 139,9 bilhões, 12,5%, na comparação com o final de
III 11 577,2 1 332,4 558,4 375,1 256,0 138,5
2001. Dessa forma, a participação da região no
IV 11 497,5 1 357,4 562,3 376,6 275,8 142,4
total dos ativos bancários mantidos em países em
2002 I 11 464,6 1 327,6 528,1 387,7 270,6 134,9
II 12 419,3 1 333,3 491,9 395,3 293,4 123,9
desenvolvimento reduziu-se para 36,9%, de
Fonte: BIS (BIS Consolidated Banking Statistics )
39,8% e 41,4%, nos mesmos períodos. Dentre
1/ Ativos internacionais mais ativos de filiais de bancos estrangeiros.
os países da região, a maior contração dos
2/ Países em desenvolvimento.
créditos internacionais em 2002 ocorreu na
Argentina, US$31,8 bilhões, 43%, devido a baixas
contábeis, à pesificação do sistema bancário e à redução de
exposição.

O estoque dos ativos bancários internacionais no Brasil atingiu


US$123,9 bilhões em junho de 2002, apresentando redução de
US$18,5 bilhões, 13%, no ano. O BIS destaca a concentração dessa
posição, considerada em termos do risco final mantido no Brasil,
nos setores bancários dos Estados Unidos, Espanha e Holanda, que
juntos respondem por 54,5% dos empréstimos totais ao país,
observando ainda que tais exposições individuais representam,
respectivamente, 0,5%, 1,5% e 0,9% dos ativos internacionais totais
de cada um dos citados sistemas bancários nacionais.

Adicionalmente, a regulamentação prudencial no setor bancário


também pode estar influenciando a redução nos empréstimos
internacionais. A necessidade de considerar e estimar, ex-ante, o risco
envolvido em cada operação para fins de provisionamento no balanço
dos bancos, faz com que a regulamentação, ao buscar proteger a
situação patrimonial de cada instituição, possa assumir características
pró-cíclicas. Isso porque a constituição de provisões tem impacto
negativo direto sobre o capital, diminuindo o índice de Basiléia da
instituição e, no limite, obrigando-a a se capitalizar ou a reduzir
ativos com maior risco. Ressalte-se, no entanto, os efeitos positivos

14
Relatório de Estabilidade Financeira Novembro 2002

da regulamentação na manutenção de sistemas bancários que têm se


mostrado capazes de resistir à atual desaceleração econômica,
mantendo-se fundamentalmente sólidos.

A deterioração torna-se evidente, paralelamente à contração na


concessão de créditos, no aumento dos spreads, tanto para empresas
com grau de investimento, em alguns setores, inclusive financeiro,
conforme o BIS, quanto para as empresas abaixo desse nível que
enfrentam, inclusive, dificuldades para ter acesso a financiamento.
Os países emergentes, especialmente a América Latina, têm sido
atingidos por essa restrição de liquidez.

A evolução recente do mercado acionário nos principais países


industrializados tem sido significativamente negativa. Na década de
90, as bolsas de valores registraram valorização acentuada,
concentrada principalmente nos setores ligados à chamada “nova
economia”. O desempenho do mercado de renda variável foi
importante para aquela expansão na medida em que possibilitou o
crescimento do financiamento em geral, viabilizando, em particular,
novos projetos com o crescimento de ofertas públicas iniciais; e
também favoreceu o aumento dos gastos em consumo, em função
do efeito riqueza.

A partir de meados de 2000, no entanto, os investidores assistiram


ao final da bolha especulativa, com os mercados se caracterizando,
desde então, por longo e acentuado declínio nos índices e na
capitalização das empresas listadas. Dentre as causas apontadas para
esse desempenho estão a lenta recuperação apresentada pelas
economias industrializadas face a recessão de 2001; as fraudes
contábeis em grandes corporações, abalando a confiança dos
investidores; os seguidos anúncios de redução de lucros empresariais,
reduzindo os dividendos a serem pagos; e a elevada volatilidade dos
índices, em ambiente de crescimento da aversão ao risco, o que
contribuiu para aumentar a procura por títulos de renda fixa, ajudando
a explicar a recente redução no rendimento dos títulos de dez anos
do governo dos Estados Unidos.

Em 2002, apesar dos mercados acionários dos Estados Unidos terem


registrado elevações pontuais em fevereiro, maio e agosto, os índices

15
Relatório de Estabilidade Financeira Novembro 2002

Bolsas de valores - EUA Dow Jones, Standard and Poor’s (S&P) 500 e
4.1.2002=100
110 National Association of Securities Dealers
Automated Quotations (Nasdaq) apresentaram
100
perdas entre 26% e 43% no ano, até o final de
90
setembro, com o Dow Jones fechando o mês
80 abaixo de 8 mil pontos e o Nasdaq, a 1.172
70
pontos. Em relação aos maiores valores da série
histórica, observados no início de 2000, a redução
60
da valorização das empresas abertas, medida
50 pelos principais índices, atingiu 35,2% se
8.1 1.3 23.4 19.6 7.8 30.9
2002
Dow Jones S&P 500 Nasdaq
considerado o índice Dow Jones, 46,6% para o
Fonte: Bloomberg S&P 500 e 76,8% para o Nasdaq.

Capitalização acionária - EUA O desempenho negativo das cotações das bolsas de


US$ trilhões
15 valores afeta diretamente a base de capital das
empresas listadas. A redução do seu valor em
12
mercado pode representar, para companhias não-
9
financeiras, necessidade de reforço de garantias em
operações de crédito ou mesmo, no limite, restrições
6 de acesso a financiamento. Para os bancos, essa
perda pode provocar necessidade de capitalização
3
adicional, ou diminuição dos riscos de suas
0
operações ativas, para atender à regulamentação
Jan Fev Mar Abr Mai Jun Jul Ago Set
2002 prudencial. A capitalização conjunta das empresas
NYSE Nasdaq
Fonte: Bloomberg da New York Stock Exchange (NYSE) e da Nasdaq,
que alcançara US$18,2 trilhões em setembro de
2000, reduziu-se a US$11,3 trilhões em setembro
Capitalização acionária nos EUA deste ano, registrando redução de US$3,1 trilhões
US$ trilhões
19 apenas neste ano.
18,23
18

17
Nos mercados acionários europeus e japonês, o
16
comportamento dos índices de ações tem sido
15
similar ao dos Estados Unidos. A bolsa de Londres,
índice Financial Times Securities Exchange Index
14
(FTSE 100), registrou redução de 30,1% neste ano
13
enquanto o índice Deutscher Aktienindex (DAX),
12

11,31
da bolsa de Frankfurt, declinou 47,9%. O índice
11
Jan Mai Set Jan Mai Set Jan Mai Set Jan Mai Set Nikkei, de Tóquio, também apresentou evolução
1999 2000 2001 2002

Fonte: Bloomberg
desfavorável, registrando perda de 13,7% no ano,

16
Relatório de Estabilidade Financeira Novembro 2002

Bolsas de valores - Europa e Japão até fim de setembro. Esses três indicadores
4.1.2002 = 100
120 acionários, considerados os maiores valores
110 atingidos a partir do início de 1999 e a posição
100
ao final de setembro de 2002, revelaram retrações
de 46,3%, 65,7% e 55%, respectivamente.
90

80
No mercado cambial, especialmente a partir de
70
março, observou-se declínio do dólar. Em meados
60 de julho o dólar atingiu seu nível mais depreciado
50 do ano, 1,0117 dólar/euro e 115,81 ienes/dólar,
7.1 14.2 24.3 1.5 8.6 16.7 23.8 30.9
FTSE 100 DAX Nikkey 225
reduções de 13,7% e de 12%, na ordem, em relação
Fonte: Bloomberg ao começo do ano. Não obstante a moeda dos
Estados Unidos tenha, em seguida, se recuperado
ligeiramente, permanecia, ao final de setembro, assinalando depreciação
acumulada de 10,9% em relação ao euro e de 7,5% frente ao iene.

A depreciação do dólar está vinculada à deterioração das expectativas


quanto à recuperação da economia do país e ao desempenho de seu
mercado financeiro, abalado pelos escândalos provocados por
seguidas revelações de fraudes contábeis. Nesse contexto, em que
prevaleceram incertezas quanto ao ritmo e ordenamento do ajuste
das contas externas da economia dos Estados Unidos, o déficit do
balanço em transações correntes, expresso como percentual do PIB,
em expansão a partir do terceiro trimestre de 2001, atingiu 5,01%
no segundo trimestre deste ano.

Cotações do dólar A evolução mais recente, no entanto, sugere que


Dólar/Euro 1/
Iene/Dólar
1,05 100 o ajuste externo deverá ocorrer de maneira gradual
e ordenada, sem implicações contundentes para a
1,00
110
estabilidade financeira mundial. Essa expectativa
0,95 incorpora a manutenção dos ativos financeiros dos
120

0,90
Estados Unidos como benchmark de risco no
mundo, a permanência do dólar como moeda
130
0,85
internacional para operações financeiras e
0,80 140
comerciais e, adicionalmente, o discreto
4.1
2000
16.6 30.11 16.5
2001
30.10 15.4
2002
27.9 dinamismo, em termos de crescimento econômico,
Euro Iene
das economias dos principais países que poderiam
Fonte: Bloomberg
1/ Escala invertida. concorrer com os Estados Unidos em termos de
atração de investimentos.

17
Relatório de Estabilidade Financeira Novembro 2002

1.1.3 Instituições financeiras

Os impactos do ambiente financeiro internacional desfavorável sobre


os bancos, no entanto, têm sido limitados. As instituições financeiras
nos Estados Unidos e na Europa permanecem, em seu conjunto,
sólidas, com capitalização adequada e lucratividade positiva, embora
afetada por perdas domésticas e no exterior. O cenário mais provável
para as instituições financeiras é de manutenção da solidez sistêmica,
ainda que alguns países específicos estejam enfrentando crises
bancárias.

Número de bancos com "problemas" - EUA Nos Estados Unidos, embora o valor de mercado
500 dos bancos tenha apresentado contração acentuada,
reflexo do envolvimento em fraudes contábeis ou
400
de exposição a empresas em concordata, e os
negócios bancários também tenham sido atingidos
300
pela recessão, o setor bancário vem registrando
200 lucros trimestrais crescentes desde o terceiro
trimestre de 2001, de acordo com o Federal Deposit
100
Insurance Corporation (FDIC). No segundo
0
trimestre deste ano, o lucro líquido dos bancos
Dez
1993
Dez
1995
Dez
1997
Dez
1999
Jun
2000
Dez Jun
2001
Dez Jun
2002
comerciais atingiu US$23,4 bilhões, valor mais
Fonte: FDIC, FDIC Quarterly Banking Profile, First Quarter 2002 elevado da série histórica trimestral. Não obstante,
o número e o volume de ativos dos bancos com
problemas vêm aumentando. O número de bancos comerciais
classificados como problemáticos, 115 em junho, é o maior desde o
final de 1996 e os ativos dessas instituições, valores
Ativos de bancos com "problemas" - EUA estáveis desde dezembro de 2001, atingem US$36
US$ bilhões
250 bilhões, os mais elevados desde 1994. Em relação
à dimensão do setor bancário comercial dos Estados
200
Unidos garantido pelo FDIC, o número dos bancos
150
problemáticos equivale a 1,4% e seus ativos, a 0,5%.

100 Quanto às aplicações dos bancos nos Estados


Unidos, o relatório anual Shared National Credit
50
Program, que compila e analisa informações
0
relativas a operações de empréstimos
Dez Dez Dez Dez Jun Dez Jun Dez Jun
1993 1995 1997 1999 2000 2001 2002 sindicalizados acima de US$20 milhões,
Fonte: FDIC, FDIC Quarterly Banking Profile, First Quarter 2002 divulgado em 8 de outubro pelo Board of

18
Relatório de Estabilidade Financeira Novembro 2002

Empréstimos sindicalizados - EUA Governors of the Federal Reserve System (Fed),


US$ bilhões

Adversos Total FDIC e Office of the Comptroller of the Currency


250 2.100
(OCC), revelou continuidade da deterioração da
200 1.800 qualidade do crédito. A base de dados atingiu,
em junho, empréstimos de US$1,9 trilhão, 18%
150 1.500
do PIB, com redução de 8,7% comparativamente
100 1.200 a 2001, envolvendo mais de 9 mil operações para
5,5 mil clientes. Desse total, US$236 bilhões,
50 900
12,6%, foram classificados de maneira adversa
0 600 (adversely rated), englobando os créditos com
1992 1994 1996 1998 2000 2002
dificuldades efetivas e potenciais, com aumento
Empréstimos adversos Total
Fonte: Fed, FDIC e OCC de US$43,3 bilhões em relação ao observado no
ano anterior, que já aumentara, por sua vez,
Empréstimos adversos - EUA US$93,1 bilhões em relação a 2000.
% dos empréstimos totais
16
16,0 A evolução do total desses empréstimos e a dos
12,6
adversos parece seguir de perto a evolução da
12
situação macroeconômica do país, sendo possível
distinguir três momentos distintos. O primeiro,
8
até 1998, quando há crescimento acentuado dos
créditos conjuntamente com declínio dos
4
empréstimos adversos. Em seguida, até 2001, o
crescimento dos empréstimos desacelera e os
0
1991 1992 1993 1994 1995 1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 créditos adversos elevam-se rapidamente,
Fonte: Fed, FDIC e OCC possivelmente em função do relaxamento dos
critérios no período anterior. Por fim, em 2002,
há decréscimo dos empréstimos totais, ampliando ainda mais a
proporção dos créditos problemáticos.

Na Europa, tem sido atingidos especialmente bancos com


participação acionária ou exposição elevada junto a empresas/setores
de TMT e bancos com estratégia de expansão internacional para a
América Latina. Como exemplo, o Banco de España exigiu
provisionamento integral do investimento de bancos espanhóis na
Argentina, o que foi cumprido pelas instituições.

No Japão, o problema dos empréstimos vencidos e não pagos,


agravado pela deficiência no controle empresarial (corporate
governance) tem sido a principal preocupação do país. A política

19
Relatório de Estabilidade Financeira Novembro 2002

fiscal expansionista dos anos 90 também ajudou a adiar a solução


desse problema, ao dar suporte a setores industriais tais como
construção civil, imóveis e serviços financeiros não-bancários,
justamente as principais fontes de empréstimos de má qualidade
no Japão.

A partir de 1º de abril de 2001, os bancos japoneses que


contabilizavam seus ativos pelo valor histórico foram obrigados a
rever seus balanços adotando a metodologia de marcação a mercado,
implicando em mais prejuízos, dado o baixo valor das ações.

Atualmente, o sistema bancário japonês acumula o total de ¥52,4


trilhões (U$428 bilhões) de empréstimos vencidos e não pagos,
afetando adversamente a oferta de crédito. Para liberar o sistema
creditício, o Banco do Japão, repetindo política adotada pelo governo
de Hong Kong em 1988, pretende usar parte de suas reservas externas
de U$456 bilhões para adquirir diretamente dos bancos cerca de
U$200 bilhões em ações. Esta decisão constitui mais uma tentativa
de reduzir as perdas com a queda no preço das ações, pois à medida
que o índice da bolsa cai, os bancos relutam em dar baixa nos
empréstimos vencidos e não pagos.

O sistema bancário argentino apresenta um quadro desfavorável ainda


sob o impacto da prolongada crise econômica e política que mantém
a economia em estado de estagnação. A partir de 2001, o agravamento
do cenário econômico induziu a uma crise de confiança no sistema
que repercutiu em fuga de depósitos ao longo do ano, obrigando o
governo a adotar, em dezembro, severas restrições a saques bancários.
O fim do regime de conversibilidade da moeda no início de 2002 e a
adoção de regras assimétricas para a conversão em moeda local de
ativos e passivos bancários, justificada pelo alto grau de endividamento
em moeda estrangeira da população, agravou o quadro ao provocar
forte desequilíbrio patrimonial nas instituições financeiras.

1.2 Mercado financeiro nacional


Além dos mesmos fatores já examinados na avaliação do mercado
financeiro global, o comportamento do mercado doméstico ao longo

20
Relatório de Estabilidade Financeira Novembro 2002

de 2002 foi também influenciado pelas incertezas associadas ao


processo eleitoral. A maior percepção de risco de crédito do setor
público, o encolhimento dos fluxos externos, as incertezas quanto às
fontes de financiamento do balanço de pagamentos e uma maior aversão
ao risco por parte dos investidores provocaram forte instabilidade no
mercado local e o ajuste no preço dos ativos domésticos.

Não obstante, o mercado financeiro experimentou uma fase de


relativa tranqüilidade e de retomada da confiança até março de 2002,
após um período de extrema volatilidade ao longo do segundo e
terceiro trimestres de 2001, que atingiu seu pico imediatamente após
os eventos de 11 de setembro.

Para esta fase de estabilidade, foram fundamentais as medidas de


política econômica adotadas pelo governo no segundo semestre de
2001, como a assinatura do acordo com o FMI, a elevação da meta
de superávit fiscal, a atuação do Banco Central no mercado de câmbio
através da política de intervenções diárias, a colocação de títulos
cambiais, a elevação dos recolhimentos compulsórios e o aumento
da exigência de capital para exposição cambial. Também contribuiu
a reversão das expectativas quanto aos fatores que motivaram o
exagerado pessimismo em meados de 2001, ou seja, a melhor
percepção por parte dos agentes de mercado das condições de
financiamento do balanço de pagamentos e o descolamento do quadro
macroeconômico do Brasil e da Argentina.

Neste sentido, o período entre novembro de 2001 e março de 2002


foi marcado pela apreciação da taxa de câmbio, pelo declínio do
risco Brasil e pela recuperação do Ibovespa. O quadro
macroeconômico mais positivo e a queda projetada para a inflação
permitiram reduções consecutivas de 25 p.b. na meta da taxa básica
de juros, determinada pelo Copom nos meses de fevereiro e de março.

Já antecipando a possível dificuldade com a rolagem da dívida no


segundo semestre do ano e atento ao comportamento do mercado
financeiro num cenário de incertezas, o Banco Central anunciou, no fim
de fevereiro, a realização de operações de swap cambial em complemento
à venda de títulos cambiais. Estes leilões estrearam no fim de março,
conjugados inicialmente à oferta de LFT pelo Tesouro Nacional.

21
Relatório de Estabilidade Financeira Novembro 2002

Taxa de câmbio Com o novo instrumento, o Banco Central


R$/US$
buscava replicar a venda de títulos cambiais com
3,5
a vantagem de, ao ofertar dois instrumentos ao
3,3
invés de apenas um (swap cambial + LFT versus
3,1
NTN-D), possibilitar ao mercado negociá-los
2,9
separadamente de forma mais eficiente. A nova
2,7
modalidade permitia precificar isoladamente o
2,5
risco da variação cambial, do cupom cambial e
2,3
da LFT, contribuindo assim para a redução dos
2,1
prêmios exigidos nos leilões.
1,9
Jan Fev Abr Mai Jul Ago Out Nov Jan Mar Abr Jun Jul Set
2001 2002
O leilão de swap cambial representou ainda uma
forma de evitar perturbações que se
Embi Brasil observavam na curva de cupom cambial e
Pontos prevenir contra efeitos secundários e
2.500
indesejáveis na execução da política monetária.
2.250
A partir de maio, visando facilitar a rolagem
2.000
do hedge cambial do mercado em um ambiente
1.750
de crescente dificuldade para a venda de títulos
1.500
da dívida pública, o Banco Central passou a
1.250
realizar a colocação direta de swap cambial,
1.000
sem vinculação com a compra de LFT.
750

500
Jan Fev Abr Mai Jul Ago Out Nov Jan Mar Abr Jun Jul Set A estratégia do Tesouro Nacional para a dívida
2001 2002

Fonte: Bloomberg
mobiliária interna no período concentrou-se na
emissão de títulos prefixados (LTN), favorecida
pelo reduzido diferencial entre a taxa Selic e a
Índice Bovespa taxa de juros longa. A curva de juros apresentou
Pontos mesmo inclinação negativa em alguns períodos,
19.000
para o que contribuiu a expectativa de que a meta
para a taxa Selic seria reduzida de forma mais
17.000
agressiva, devido à percepção de ausência de
15.000 pressões de demanda agregada e à sinalização
pelo Banco Central de que a política monetária
13.000
mirava prazos mais longos para o cumprimento
11.000 da meta de inflação. Com efeito, a participação
dos títulos prefixados na dívida pública mobiliária
9.000
Mar Mai Jul Set Nov Jan Abr Jun Ago Set federal passou de 7,8%, em dezembro de 2001,
2001 2002

Fonte: Bovespa
para 9,8% em abril de 2002.

22
Relatório de Estabilidade Financeira Novembro 2002

Evolução das taxas de juros Quanto à dívida indexada à taxa Selic, a


Taxa Selic e swap de 1 mês, 6 meses e 1 ano
colocação de LFT esteve suspensa entre outubro
Taxa % a.a.
32 de 2001 até janeiro de 2002, e sua participação
30
na dívida total recuou para próximo a 50% em
28
26 abril. Já a valorização da taxa de câmbio
24
proporcionou alguma redução, ainda que
22
20 moderada, do estoque da dívida cambial.
18 Registre-se que ao longo de 2001 esta havia
16
14 crescido R$64,8 bilhões, reflexo da depreciação
Jan Fev Abr Jun Ago Set Nov Jan Mar Abr Jun Ago Set
2001 2002
da taxa de câmbio e da emissão líquida de
Taxa Selic 1 mês 6 meses 1 ano R$28,1 bilhões em títulos cambiais,
Fonte: BM&F e Bacen fundamentalmente para atender ao crescimento
da demanda por hedge.

Dívida pública mobiliária federal interna


1/
A partir de abril, a incerteza quanto à política
por tipo de rentabilidade macroeconômica do futuro governo, aliada à
R$ bilhões
Período Prefixados Taxa Índice Câmbio Outros Total piora do cenário externo, levou à deterioração
Selic de preços das expectativas, refletida no aumento do risco
Valor % Valor % Valor % Valor % Valor % Valor
Brasil, na depreciação da taxa de câmbio e na
contração do preço das ações. O Embi Brasil
1999 Dez 40 9,0 252 57,0 25 5,6 101 22,8 25 5,6 441
2000 Dez 75 14,8 267 52,2 30 5,9 114 22,3 24 4,8 511 passou de cerca de 700 p.b. para 2.400 p.b., de
2001 Mar 75 14,1 269 50,1 38 7,1 129 24,1 25 4,6 536
março a setembro, enquanto, no mesmo período,
Jun 63 10,8 292 50,2 42 7,2 156 26,8 29 5,0 581 a taxa de câmbio registrou depreciação de 40% e
Set 57 9,1 310 49,3 42 6,6 197 31,4 23 3,6 629
o Ibovespa, recuo de 35%.
Dez 49 7,8 329 52,8 44 7,0 179 28,6 24 3,8 624

2002 Jan 48 7,6 334 52,6 51 8,1 186 29,4 15 2,4 635
Fev 47 7,5 333 52,7 54 8,6 181 28,7
O aumento da percepção de risco de crédito do
16 2,5 632
Mar 57 9,1 320 51,2 54 8,6 180 28,7 15 2,4 626 setor público e a tensão do mercado financeiro
Abr 62 9,8 317 50,1 56 8,9 183 28,8 15 2,4 633
se refletiram, ainda, na desvalorização e na alta
Mai 61 9,5 313 48,9 57 8,9 194 30,3 15 2,3 639
Jun 56 8,6 308 47,1 58 8,9 217 33,2 15 2,3 654
volatilidade dos títulos públicos em geral. Os
Jul 52 7,7 300 44,5 61 9,0 250 37,0 13 1,9 674 deságios nos preços das LFT apresentaram
Ago 48 7,7 283 45,4 61 9,9 218 35,0 13 2,0 623
tendência crescente, atingindo o pico de 2,75%
Set 43 6,5 272 41,3 63 9,6 268 40,7 13 1,9 659
em agosto de 2002. Neste ambiente de queda do
preço dos títulos públicos, a recomendação da
CVM e do Banco Central aos fundos de investimento para que
cumprissem a obrigatoriedade da marcação a mercado,
regulamentada em 1996, provocou amplo processo de recomposição
de portfólios dos investidores domésticos, com a migração dos
fundos de investimento para depósitos de poupança, depósitos a
prazo e mesmo para depósitos à vista.

23
Relatório de Estabilidade Financeira Novembro 2002

A curva de cupom cambial também passou a refletir o cenário menos


favorável a partir de maio, elevando-se de forma expressiva. A partir
de julho, a curva assumiu declividade negativa, em função
basicamente da escassez de dólares no mercado à vista, da rolagem
da dívida cambial com vencimentos majoritariamente de curto prazo,
e da baixa liquidez na parte longa da curva devido ao reduzido espaço
que as instituições financeiras detinham para tomar risco.

Preço de mercado das LFT - Deságios Para estabilizar este quadro, o Banco Central
Taxa
(% a.a.)
realizou número inédito de leilões de compra e
3,0 de troca de títulos públicos, visando reduzir o
2,5 prazo médio das LFT em poder do mercado e
2,0 reverter o processo de elevação dos deságios no
1,5 preço desses títulos. Efetuaram-se trocas de LFT
1,0 de prazo longo por LFT com vencimentos em
0,5 2002 e 2003, além de diversos leilões de compra.
0,0 Objetivando neutralizar o impacto monetário do
Jan Fev Abr Mai Jul Set
2002 programa de compra de títulos, o Banco Central
16.10.2002 18.6.2003 16.6.2004
15.6.2005 14.6.2006
aumentou, em agosto, em 3 p.p. as alíquotas de
Fonte: Andima
recolhimento compulsório sobre depósitos à vista
e depósitos a prazo, e em 5 p.p., as referentes a
depósitos em poupança. Note-se que, em junho,
o Banco Central já havia elevado, em 5 p.p., as
Cupom cambial alíquotas de recolhimentos compulsórios sobre
Taxa % a.a.
depósito a prazo e poupança.
65

55
O Banco Central realizou, ainda, operações de
45
troca de NBCE e NTN-D por swap cambial e
35
LFT, que, sem alterar a exposição a risco das
25
carteiras dos fundos de investimento,
15
possibilitaram a liberação de volume
5
4 anos 5 anos 6 anos
significativo de margens de garantia na BM&F
1 ano 2 anos 3 anos
-5 pela simples compensação das posições ativas
2 250 498 746 994 1.242

18.1.2002 17.6.2002 30.8.2002 30.9.2002 e passivas dos fundos na bolsa, propiciando


Fonte: BM&F e Bacen maior liquidez e reduzindo a volatilidade das
cotas.

Quanto aos leilões primários de títulos, a atuação do Tesouro a partir


de maio balizou-se pela oferta de LTN de curto prazo e em montante

24
Relatório de Estabilidade Financeira Novembro 2002

inferior ao volume de vencimentos. Com isso, a dívida mobiliária


federal interna manteve-se praticamente estável ao longo do segundo
semestre, a despeito do efeito da depreciação cambial sobre o estoque
de títulos indexados à taxa de câmbio. Em contrapartida, a posição
de excesso de liquidez bancária, expressa pela diferença entre o
montante de reservas bancárias e os depósitos compulsórios sobre
depósitos à vista, esterilizada diariamente pela mesa de operações
de mercado aberto do Banco Central, passou de R$5 bilhões, no
final de abril, para R$27 bilhões, no final de setembro.

1/
Swap cambial - Balcão A dívida indexada à taxa de câmbio, embora tenha
Estoque
US$ bilhões apresentado crescimento em função da
85 depreciação cambial, diminui quando esse efeito
80
é isolado. Assim, o estoque medido em dólares
contraiu de US$77 bilhões, no início do ano, para
75
US$68,8 bilhões, em setembro. O resgate líquido
70 de títulos cambiais somou R$28,5 bilhões no
65
acumulado do ano, praticamente igualando a
colocação líquida dos mesmos títulos em 2001.
60
Ago Set Out Nov Dez Jan Fev Mar Abr Jun Jul Ago Set
É interessante destacar o comportamento oposto
2001 2002
da demanda por papéis cambiais em 2002 vis-à-vis
Fonte: BM&F e Cetip
1/ Inclui contratos registrados na BM&F e na Cetip. o ano anterior. A demanda por hedge cambial do
setor não-financeiro, representada pelos contratos
em aberto de swap cambial na Cetip, apresentou
queda de US$13,7 bilhões em 2002, até o final de setembro,
comparativamente a aumento de US$15 bilhões, em 2001.

A atuação do Banco Central e do Tesouro permitiu estabilizar os


deságios dos títulos públicos e reverter o processo de migração dos
fundos de investimento. É importante destacar que a política
monetária neste estágio esteve facilitada pela atuação preventiva
adotada no período 2000/2001, quando se buscou alongar a dívida
pública mobiliária, evitar vencimentos da dívida entre o último
trimestre de 2002 e o primeiro trimestre de 2003, e formar um colchão
de liquidez para o Tesouro.

25
Relatório de Estabilidade Financeira Novembro 2002

1.3 Conclusão
O cenário atual e as perspectivas para a evolução do mercado
financeiro internacional apresentaram significativa deterioração ao
longo de 2002. O ambiente desfavorável diz respeito, especialmente,
aos ingressos líquidos de capitais privados nos países emergentes,
principalmente os localizados na América Latina, e ao acesso a
financiamento por devedores abaixo do grau de investimento. Dentre
os fatores responsáveis por essas novas condições nos mercados
financeiros podem ser enumerados a recuperação mais vagarosa que
o esperado da economia mundial, especialmente nos Estados Unidos
após sua recessão de 2001; as fraudes corporativas em larga escala
envolvendo grandes empresas multinacionais; as menores
perspectivas de lucratividade empresarial; a redução na confiança
dos empresários e, principalmente, dos consumidores; e o
crescimento acentuado da aversão ao risco por parte de investidores.
Esse conjunto de fatores implicou relativa redução nas condições
de liquidez do mercado internacional.

As perspectivas para o comportamento do mercado internacional


de capitais projetam a manutenção de cenário de baixa liquidez global
e financiamento mais difícil para devedores com baixo rating. Existem
ainda riscos extra-econômicos, como a crescente tensão em torno
de conflitos na região do Oriente Médio, fator que já pressiona as
cotações nos mercados de petróleo.

Apesar dos fatores adversos assinalados em 2001 e 2002, deve-se


ressaltar a ausência de crises bancárias sistêmicas em praticamente
todos os países. De maneira geral, a solidez dos setores bancários
nacionais, traduzida na capitalização adequada e lucratividade
positiva, muito embora, em alguns casos, decrescente ou inferior à
prevista, é devida, entre outros, à maior diversificação do mercado
financeiro, com maior número de agentes dividindo a assunção de
riscos; aos aperfeiçoamentos da regulamentação prudencial, com a
adoção de padrões internacionais por número crescente de países; e
à atual instância acomodativa da política monetária nos principais
países industrializados. Nos casos do Japão e da Argentina, as crises
bancárias devem-se, principalmente, à evolução dos respectivos

26
Relatório de Estabilidade Financeira Novembro 2002

cenários econômicos nacionais e à adoção de políticas econômicas


e setoriais específicas.

No que se refere ao mercado financeiro doméstico, mesmo


influenciado pela conjuntura externa adversa, evidenciada pela
redução da liquidez internacional e pela mudança significativa na
percepção de risco por parte do investidor externo, o seu desempenho
evidenciou solidez e rentabilidade adequadas. O uso dos instrumentos
de política monetária pelo Banco Central, tanto novos, como os
swaps cambiais, quanto tradicionais, como os recolhimentos
compulsórios, foi decisivo para a superação dos efeitos das
volatilidades registradas no mercado financeiro, em 2002.
Adicionalmente, a atuação do Banco Central e do Tesouro permitiu
estabilizar os deságios dos títulos públicos e reverter o processo de
migração de recursos dos fundos de investimento.

27
Relatório de Estabilidade Financeira Novembro 2002

2 Sistema Financeiro Nacional

2.1 Ativos, Passivos e Patrimônio


Líquido
2.1.1 Composição e evolução
Ativos
$WLYRWRWDO6)1
R$ bilhões Os ativos do SFN somaram R$1.147 bilhões ao

1.200 8
final de junho de 2002, representando expansão
de 5,9% no semestre. O sistema bancário possuía
1.100 6
98% dos ativos e as cooperativas de crédito e as
instituições não-bancárias, 2%, caracterizando o
1.000 4 SFN como essencialmente bancário.

900 2 No que se refere à concentração, a evolução dos


ativos dos maiores bancos 2 evidenciou sua
800
Dez Jun Dez Jun
0
expansão, no semestre. Nesse sentido, os ativos
2000 2001 2002
dos 10, 20 e 50 maiores bancos correspondiam a
Ativo total Taxa de crescimento
71,2%, 85,3% e a 94,5% dos ativos totais do
SFN, respectivamente, em junho.
$WLYRWRWDO6)1

Maiores bancos
% Sob a ótica do controle acionário, do total dos
Discriminação 2000 2001 2002
ativos do sistema bancário, que atingiram R$1.124
Dez Jun Dez Jun
bilhões no período, 41,5% eram detidos pelos
10 maiores 70,1 69,4 69,4 71,2
20 maiores 84,9 84,2 83,7 85,3
bancos públicos, 32,6%, pelos bancos privados
50 maiores 94,1 94,0 93,9 94,5 nacionais, e 25,9%, pelos bancos estrangeiros. No
primeiro semestre de 2002, os ativos dos bancos
públicos cresceram 6,5%, dos privados nacionais

2/ Compreende os conglomerados bancários e instituições bancárias independentes.

29
Relatório de Estabilidade Financeira Novembro 2002

$WLYRWRWDO
4,9% e dos estrangeiros 6,3%. As participações
Bancos por controle acionário
% desses segmentos permaneceram em proporções
50
semelhantes às observadas em 2001, mantendo-se
45 a predominância dos bancos públicos sobre os
40
demais.

35
As principais aplicações do SFN, em junho de
30
2002, eram representadas por operações de
25 crédito, 30,7%, títulos e valores mobiliários,
20
30,3%, disponibilidades e aplicações
Dez
2000
Jun
2001
Dez Jun
2002
interfinanceiras de liquidez, 9,8%, ativo
Bancos públicos Bancos privados nacionais Bancos privados estrangeiros permanente, 6,4% e demais aplicações, 22,8%.
Assinale-se que a expansão de 5,9% registrada
nos ativos do SFN, no semestre, esteve associada,
3ULQFLSDLVDSOLFDo}HV6)1

Junho de 2002 fundamentalmente, ao crescimento das carteiras


de títulos e valores mobiliários, 6,3%, e de
6,4% 9,8% operações de crédito, 5,8%, no período.
22,8%

Em abril de 2002, em consonância com padrões


adotados internacionalmente, os títulos e valores
mobiliários no Brasil passaram a ser classificados
30,3%

30,7%
em três categorias, de acordo com a intenção de
utilização. Assim, a carteira do SFN, no mês de
junho de 2002, compunha-se de 38,2% de títulos
Disponibilidades + aplicações interfinanceiras de liquidez
Títulos e valores mobiliários

e valores mobiliários mantidos até o vencimento,


Operações de crédito
Demais ativos
Ativo permanente
de 38,2%, disponíveis para venda, e de 23,6%,
para negociação.
7tWXORVHYDORUHVPRELOLiULRV

Bancos por controle acionário


%
O sistema bancário possuía, em junho de 2002,
50
R$342,7 bilhões de títulos e valores mobiliários,
45 equivalente a 98,4% do total do SFN, distribuídos
40 entre bancos públicos, 45,8%, bancos privados
nacionais, 26,8%, e bancos estrangeiros, 27,4%.
35
Assinale-se a trajetória crescente da participação
30
dos bancos públicos como detentores desse tipo
25 de ativo, explicada pela troca de ativos ruins por
20
títulos públicos em junho de 2001, no âmbito do
Dez
2000
Jun
2001
Dez Jun
2002
Programa de Fortalecimento das Instituições
Bancos públicos Bancos privados nacionais Bancos privados estrangeiros
Financeiras Federais (Proef).

30
Relatório de Estabilidade Financeira Novembro 2002

2SHUDo}HVGHFUpGLWR6)1
R$ bilhões
As operações de crédito apresentaram taxa de
%
expansão de 5,8% no primeiro semestre do ano,
360 9
totalizando R$351,6 bilhões. A contração da taxa,
350 7
no semestre, esteve associada, em parte, à
340 5
elevação das taxas de juros, à conjuntura externa
330 3
desfavorável e à maior seletividade na concessão,
320 1 motivada, em parte, pelo crescimento da
310 -1 inadimplência no período.
300 -3

290 -5
As operações de crédito do SFN compreenderam,
Dez
2000
Jun
2001
Dez Jun
2002
principalmente, empréstimos e títulos
Operações de crédito Taxa de crescimento descontados, e financiamentos, responsáveis por
2SHUDo}HVGHFUpGLWR6)1FRPSRVLomR
39,3% e 37,2%, respectivamente, do total das
Junho de 2002 operações realizadas.

7,5%
15,9% O sistema bancário era responsável por R$332,6
bilhões, ou 94,6% das operações de crédito do
SFN, em junho de 2002. Desse total, os bancos
públicos detinham 37,4%, os bancos privados
nacionais, 36,9%, e os bancos estrangeiros,
25,7%. A redução de 46,2% para 37,4%, da
37,2% 39,3%

participação dos bancos públicos e o proporcional


Empréstimos e títulos descontados aumento das participações dos bancos privados
Financiamentos
Financiamentos rurais e agroindustriais nacionais e estrangeiros, de 53,8% para 62,6%,
Demais financiamentos
verificados no período de dezembro de 2000 a
2SHUDo}HVGHFUpGLWR

Bancos por controle acionário junho de 2002, foi conseqüência, em parte, da


%
implementação de planos de saneamento dos
50
bancos públicos federais e da privatização dos
45
bancos públicos estaduais.
40

35

Passivos
30

25
Os passivos do SFN expandiram-se em 5,9% no
20 primeiro semestre de 2002, totalizando R$1.036
Dez Jun Dez Jun
2000 2001 2002 bilhões ao final de junho. Desse total, R$410
bilhões eram representados por depósitos, R$123
Bancos públicos Bancos privados nacionais Bancos privados estrangeiros

bilhões, por captações no mercado aberto, R$183 bilhões, por


obrigações por empréstimos e repasses e R$321 bilhões, por demais

31
Relatório de Estabilidade Financeira Novembro 2002

3ULQFLSDLVFDSWDo}HV6)1
passivos e resultados de exercícios futuros. Os
Junho de 2002
passivos representaram 90,3% das origens de
recursos do SFN.
39,6%
30,9%

Os depósitos, principal forma de captação do


SFN, elevaram-se 8,9% no primeiro semestre de
2002, representando 39,6% do passivo, sendo
17,6% constituídos, majoritariamente, sob a forma de
depósitos a prazo, 45,8%, depósitos de poupança,
11,9%

Depósitos 30,8%, e depósitos à vista, 14,5%. Da totalidade


Captações mercado aberto
Obrigações por empréstimos e repasses dos depósitos do SFN, 98,5% estavam
Demais obrigações e resultados de exercícios futuros
concentrados no sistema bancário, sendo 47,9%
nos bancos públicos, 33,9% nos bancos privados
'HSyVLWRV6)1
nacionais e 18,2% nos bancos estrangeiros.
%
R$ bilhões

440 12
Os dez bancos com maior volume de depósitos
concentravam 77,2% do total, em junho de 2002,
400 9
assinalando tendência de menor concentração no
360 6
período compreendido de dezembro de 2000 a
junho de 2002. Essa evolução mostrou-se
320 3
semelhante quando considerados os totais
relativos aos vinte e aos cinqüenta maiores
280 0
bancos.
Dez Jun Dez Jun
2000 2001 2002

Depósitos Taxa de crescimento


As obrigações por empréstimos e repasses
representaram 17,6% das origens de recursos do
SFN, com crescimento de 14,1% no primeiro
semestre de 2002, retornando ao patamar de
'HSyVLWRVEDQFRVSRUFRQWUROHDFLRQiULR
%

50 2000. Esse aumento deveu-se, basicamente, às


novas captações e às atualizações decorrentes da
40
intensificação da depreciação do real frente ao
30
dólar no semestre.

20 As demais obrigações constituíram-se no segundo


item mais expressivo do passivo do SFN, no
10
período, apresentando expansão de 16,4% em
0
relação ao patamar registrado em dezembro de
Dez
2000
Jun
2001
Dez Jun
2002
2001. Compunham-se, fundamentalmente, pela
Bancos públicos Bancos privados nacionais Bancos privados estrangeiros rubrica outras obrigações, 72,5%. Essas, eram

32
Relatório de Estabilidade Financeira Novembro 2002

'HSyVLWRVWRWDLVPDLRUHVEDQFRV

%
formadas, basicamente, por obrigações diversas,
Discriminação 2000 2001 2002 55,3%, e carteira de câmbio, 17,3%.
Dez Jun Dez Jun

10 maiores 78,3 79,5 77,2 77,2 As captações no mercado aberto, constituídas


20 maiores 89,1 89,2 88,9 88,9
50 maiores 96,5 96,2 96,3 95,7
pela carteira própria financiada, contraíram-se em
26,4% no semestre, passando a corresponder a
11,9% do passivo.

Patrimônio Líquido (PL)

3DWULP{QLROtTXLGR6)1
%
No período de dezembro de 2000 a junho de
R$ bilhões
115 12 2002, o PL cresceu 24,7%, devido à incorporação
de lucros e aumentos de capital, além de ajustes
108 9
de exercícios anteriores na rubrica de lucros ou
prejuízos acumulados, ocorridos no último
100 6
semestre, necessários ao atendimento aos novos
critérios contábeis para a avaliação dos títulos e
93 3
valores mobiliários. No primeiro semestre de
2002, o PL do SFN cresceu 6,6%.
85 0
Dez
2000
Jun
2001
Dez Jun
2002
O sistema bancário detinha 93,5% dos recursos
Patrimônio líquido Taxa de crescimento próprios do SFN, distribuídos entre bancos
privados nacionais, com 39,5%, bancos
3DWULP{QLROtTXLGR
estrangeiros, com 30,5%, e bancos públicos, com
Bancos por controle acionário
%
30%. Assinale-se que as participações dos bancos
43
privados nacionais e dos bancos públicos têm
declinado, registrando-se, no período de
39
dezembro de 2000 a junho de 2002, contrações
35
de 0,9 p.p. e de 3,2 p.p., respectivamente, nos
segmentos. Em sentido inverso, a participação
31
relativa dos bancos privados estrangeiros cresceu
27
4,1 p.p., no período.

23
Dez Jun Dez Jun
2000 2001 2002
Bancos públicos Bancos privados nacionais Bancos privados estrangeiros

33
Relatório de Estabilidade Financeira Novembro 2002

/XFUROtTXLGR6)1
R$ bilhões % 2.2 Resultados
12 300

8 180
2.2.1 Composição e evolução
4 60 O lucro líquido do SFN3 totalizou R$10,1 bilhões
no primeiro semestre de 2002, crescimento de
88,4% em relação ao registrado no período
0 -60

-4 -180
anterior, sendo constituído, basicamente, pelos
resultados de intermediação financeira, de
-8 -300 receitas de serviços e de participações societárias.
Dez Jun Dez Jun
2000 2001 2002

O lucro líquido auferido pelo sistema bancário,


Lucro líquido Taxa de crescimento

no valor de R$9,8 bilhões, representou 96,8%


/XFUROtTXLGR

Bancos por controle acionário do total do SFN, distribuído entre bancos


R$ bilhões
estrangeiros, 41,5%, bancos privados nacionais,
15
34,2%, e bancos públicos, 24,3%. Assinale-se que
10 a adoção dos novos critérios para contabilização
da carteira de ativos impactou favoravelmente os
5
resultados, na medida em que os ajustes negativos
0 de R$4,7 bilhões, referentes à carteira disponível
para venda, foram lançados diretamente no
-5
patrimônio líquido, conforme determinação da
-10 norma. O impacto associado à correção cambial
Dez Jun Dez Jun
2000 2001 2002 no primeiro semestre de 2002 contribuiu com
R$3,6 bilhões. Sem esse impacto, o lucro líquido
Bancos públicos Bancos privados nacionais Bancos privados estrangeiros

5HVXOWDGRGDLQWHUPHGLDomRILQDQFHLUD
seria reduzido para R$6,2 bilhões.
Taxa de crescimento
R$ bilhões %
30 38 O resultado líquido do SFN apresentou-se
crescente a partir de dezembro de 2001, quando
27 30
foi revertido o prejuízo verificado em junho,
24 22
apurado pelos bancos estrangeiros e pelos bancos
públicos, concentrado em poucas instituições e
21 14
decorrente, fundamentalmente, de ajustes
18 6
patrimoniais relativos à participação em
programas de privatizações das instituições
15
Dez Jun Dez Jun
-2
públicas estaduais e de saneamento das
2000 2001 2002
instituições públicas federais.
Resultado intermediação financeira Taxa de crescimento

3/ O exercício social das instituições financeiras do Brasil é considerado em base semestral.

34
Relatório de Estabilidade Financeira Novembro 2002

5HVXOWDGRGDLQWHUPHGLDomRILQDQFHLUD
Das receitas associadas à intermediação
Composição
R$ bilhões financeira, que totalizaram R$112,6 bilhões, a
120

90
parcela mais representativa, 54,4%, originou-se
60 de operações de crédito e arrendamento mercantil
30 que, apesar de menos relevantes na estrutura dos
0
ativos, produziram retorno anual médio de 59,6%
no semestre. As operações com títulos e valores
-30

-60

-90
mobiliários, cujos retornos anuais acompanharam
Dez
2000
Jun
2001
Dez Jun
2002
a taxa de juros do Selic, contribuíram com 37,2%
Outras despesas de intermediação financeira
Outras receitas de intermediação financeira
das receitas de intermediação financeira.
Empréstimos e repasses
Títulos e valores mobiliários

As despesas de captação, no valor de R$42,3


Captações no mercado
Operações de crédito e arrendamento mercantil

bilhões, consumiram 37,5% das receitas da


5HVXOWDGRGDLQWHUPHGLDomRILQDQFHLUD intermediação financeira e as despesas de
Bancos por controle acionário
%
obrigações por empréstimos e repasses, 28,5%.
50
O crescimento das despesas da intermediação
40
financeira em relação ao semestre precedente
pode ser atribuído, em parte, à depreciação do
30
real frente ao dólar, afetando o custo das
20
captações efetuadas no exterior ou atreladas à
variação cambial. Nesse contexto, o resultado da
10
intermediação financeira cresceu com menos
0
intensidade do que no último semestre de 2001,
Dez Jun Dez Jun quando as despesas da intermediação financeira
2000 2001 2002

Banco públicos Bancos privados nacionais Bancos privados estrangeiros mostravam comportamento com leve tendência
de declínio.

No sistema bancário, o resultado da


&RPSRVLomRGDVUHFHLWDV6)1
R$ bilhões
30
intermediação financeira correspondeu a 96,4%
25
do total do SFN no primeiro semestre de 2002 e
20
distribuiu-se nos bancos estrangeiros, 39,7%, nos
15

10
bancos públicos, 32,5% e nos bancos privados
5
nacionais, 27,8%. Quando comparado com o
0 segundo semestre de 2001, o resultado da
-5 intermediação financeira nos bancos privados
Dez Jun Dez Jun
2000 2001 2002 nacionais declinou 30,6%, enquanto o relativo
Resultado de intermediação financeira
Receitas de prestação de serviços
aos bancos públicos e estrangeiros expandiu-se
Resultado de participações
Outras receitas operacionais
em 59,8% e 26,7%, respectivamente.
Resultado não operacional

35
Relatório de Estabilidade Financeira Novembro 2002

'HVSHVDVDGPLQLVWUDWLYDVHUHFHLWDV
As receitas de prestação de serviços do SFN vêm
GHSUHVWDomRGHVHUYLoRV
R$ bilhões apresentando tendência de crescimento. Nesse
35
sentido, no primeiro semestre de 2002,
30
expandiram-se em 5,4%, ante o patamar
assinalado no período anterior, e em 23%,
25

relativamente ao segundo semestre de 2000. As


20

receitas de prestação de serviços representavam


15

10
43,1% das despesas administrativas, no primeiro
5
semestre de 2002, enquanto no segundo semestre
0
Dez Jun Dez Jun
de 2000 correspondiam a 35,5%. As despesas
2000 2001 2002
administrativas do SFN diminuíram 5% no
Despesas administrativas
Receitas de prestação de serviços primeiro semestre de 2002, situando-se próximas
ao nível do segundo semestre de 2000. Do total
&XVWRRSHUDFLRQDO6)1 dessas despesas, 50,7% referiram-se à expansão,
%
100 0
modernização e manutenção do parque
tecnológico, e 49,3% a despesas com pessoal.
75 -4
No semestre, o número de empregados expandiu-
se em 0,1% e o número de agências, em 0,7%.
50 -8
O custo operacional do SFN, obtido pela divisão
da soma de despesas de pessoal e despesas
25 -12
administrativas pela soma do resultado bruto da
intermediação financeira e da receita de prestação
0 -16
Dez Jun Dez Jun de serviços, vem apresentando tendência
2000 2001 2002
Custo operacional Taxa de crescimento declinante. Nesse sentido, no segundo semestre
de 2001, o total de despesas administrativas e de
pessoal equivaleram a 83,1% do resultado da
intermediação financeira e receitas de prestação de serviços,
comparativamente a 96%, no semestre antecedente. Adicionalmente,
em junho de 2002, o índice de custo operacional totalizou 72,9%,
reflexo do crescimento do resultado da intermediação financeira e
das receitas de serviços e da diminuição das despesas administrativas.

A maior taxa de crescimento do lucro líquido em relação à


apresentada pelos ativos e pelo patrimônio líquido determinou a
evolução favorável dos índices de rentabilidade do sistema bancário,
desde o segundo semestre de 2001. Nesse sentido, o índice que reflete
a relação entre o lucro líquido e os ativos atingiu 0,9% em junho de
2002, ante 0,5% no semestre anterior, e aquele que evidencia a

36
Relatório de Estabilidade Financeira Novembro 2002

7D[DGHUHWRUQR

Sistema bancário
proporção entre o lucro líquido e o patrimônio
% líquido alcançou 9,1%, comparativamente a 5,1%
Discriminação 2000 2001 2002
no segundo semestre de 2001.
Dez Jun Dez Jun

Bancos
Públicos
Entre os bancos públicos, os índices alcançaram
Retorno sobre o 0,5% e 7,6%, respectivamente, ante -0,3% e
Patrimônio líquido 5,5 -12,0 -3,6 7,6
-3,6%, em dezembro de 2001. Esse desempenho
Ativo 0,4 -0,9 -0,3 0,5
esteve associado à reversão do resultado negativo
Privados nacionais
Retorno sobre o
de R$1,1 bilhão para lucro líquido de R$2,4
Patrimônio líquido 9,4 10,5 10,2 8,2 bilhões e à expansão de 6,5% dos ativos,
Ativo 1,1 1,2 1,2 0,9
observadas no período, enquanto o patrimônio
Privados estrangeiros líquido do segmento manteve-se estável.
Retorno sobre o
Patrimônio líquido -6,0 -20,4 7,9 12,8
Ativo -0,6 -1,9 0,8 1,4 No que se refere aos bancos privados nacionais,
Sistema bancário apresentaram redução dos índices no primeiro
Retorno sobre o semestre de 2002, em relação ao período anterior,
Patrimônio líquido 4,1 -4,7 5,1 9,1
Ativo 0,4 -0,4 0,5 0,9
determinada pelo crescimento, em média, de 4,9%
dos ativos e de 3,8% do patrimônio líquido e pela
contração de 17% do lucro líquido. Dessa forma,
5HWRUQRVREUHR3/PDLRUHVEDQFRV em junho de 2002, o retorno sobre o ativo situou-
%
se em 0,9% e o retorno sobre o PL em 8,2%,
Discriminação 2000 2001 2002
Dez Jun Dez Jun comparativamente a 1,2% e 10,2%, em dezembro
10 maiores 2,7 -11,7 8,9 10,0
de 2001, respectivamente.
20 maiores 3,4 -8,5 5,4 9,8
50 maiores 3,8 -6,1 5,3 9,7
Quanto aos bancos estrangeiros, apresentaram
aumento dos índices compatível com os
crescimentos registrados no lucro líquido, 83,3%,
5HWRUQRVREUHR$WLYRPDLRUHVEDQFRV

% nos ativos, 6,3%, e no patrimônio líquido, 13,1%.


Discriminação 2000 2001 2002 Nesse sentido, em junho de 2002, o retorno sobre
Dez Jun Dez Jun
o ativo alcançou 1,4% e o retorno sobre o PL,
10 maiores 0,2 -1,0 0,8 0,8
12,8%, ante, na mesma ordem, 0,8% e 7,9%, no
20 maiores 0,3 -0,7 0,5 0,8
50 maiores 0,3 -0,5 0,5 0,9 segundo semestre de 2001.

Com relação aos maiores bancos, constatou-se o


aumento dos índices no semestre, em consonância
com o observado nos segmentos bancários. Verifica-se que a
rentabilidade do PL dos dez maiores bancos é superior às
rentabilidades dos vinte e cinqüenta maiores bancos, e que esse
mesmo fato não foi observado em relação ao retorno sobre os ativos.

37
Relatório de Estabilidade Financeira Novembro 2002

2.3 Capital e limites


2.3.1 Índice de Basiléia
Neste tópico demonstra-se a adequação das instituições e dos
segmentos que compõem o SFN ao Índice de Basiléia4. Contempla,
ainda, o comportamento dos componentes do limite, ou seja, o
Patrimônio de Referência (PR) e o Patrimônio Líquido Exigido (PLE).

Evolução

ËQGLFHGH%DVLOpLDHYROXomR O Índice de Basiléia do SFN atingiu 16,1% em


SFN
% junho de 2002, registrando-se que o limite mínimo
17 exigido pelas normas vigentes no Brasil é de 11%.
Em relação a março de 2002, ocorreu decréscimo
16
de 0,6 p.p.
15

O PR atingiu R$125,2 bilhões em junho de 2002,


14
expansão de 4,1% relativamente ao trimestre
13 anterior. Os seus componentes, Capital de Nível
I e Capital de Nível II – assinalaram taxas de
crescimento de 2,4% e 14,6%, respectivamente.
12
Jun Set Dez Mar Jun Set Dez Mar Jun
2000 2001 2002

O PLE registrou taxa de crescimento de 9,1% no




segundo trimestre de 2002. O principal aumento


(YROXomRGR35HGR3/(

R$ milhões
Discriminação 2002 Variação nominal, dentre seus componentes, verificou-se
Mar Jun trimestral
nos ativos ponderados pelo risco que se elevaram
Valor % Valor % %
em R$4,2 bilhões, ou 6,1%, conseqüência,
PR 120 221 100,0 125 180 100,0 4,1
Nível I 103 510 86,1 106 027 84,7 2,4
principalmente, do aumento de operações de
Nível II 16 711 13,9 19 153 15,3 14,6 crédito e créditos tributários. Cabe destacar,
PLE 79 346 100,0 86 560 100,0 9,1 ainda, a elevação de R$1,6 bilhão, ou 60,4% da
Ativos 69 587 87,7 73 836 85,3 6,1 exigência de juros prefixados e a elevação de
Juros-pré 2 698 3,4 4 328 5,0 60,4
Câmbio 4 681 5,9 5 886 6,8 25,7
25,7% no componente de exigência de risco
6ZDS 2 380 3,0 2 510 2,9 5,5 cambial, acompanhando a evolução da cotação
1/ O PLE representa o valor mínimo exigido para o PR. do dólar no período.

4/ A Resolução 2.099 e legislação complementar regulamentaram o Limite de Compatibilização das


Posições Ativas, Passivas e de Compensação com o Grau de Risco, conhecido internacionalmente
como Limite de Basiléia.

38
Relatório de Estabilidade Financeira Novembro 2002

Nos últimos 24 meses, as principais variações do Índice de Basiléia


foram:
a) redução de 2,5 p.p. no período de setembro de 2000 a maio de
2001, quando atingiu o menor valor, 12,8%. Essa contração
decorreu, fundamentalmente, do crescimento de 22,7% do PLE,
assinalando-se que, entre seus componentes, as elevações mais
significativas foram:
1. 170% para a exigência por risco de taxa de juros prefixados,
influenciada pelo aumento da volatilidade;
2. 17,9% para a exigência por ativos ponderados, afetada pela
elevação das operações de crédito e do fator de ponderação dos
créditos tributários;
b) elevação para 16%, em junho de 2001, em função do aumento de
12,5% do PR e da redução de 9,9% do PLE, que gerou folga de
capital de R$32,3 bilhões no SFN. Do aumento do PR de R$11,4
bilhões, a parcela de R$10,8 bilhões originou-se nos bancos
públicos, devido à inclusão dos recursos dos fundos constitucionais
por eles administrados como Capital de Nível II. O PLE apresentou
redução de R$7,8 bilhões, salientando-se que os bancos públicos
federais contribuíram de forma significativa, principalmente com
a diminuição de seus ativos ponderados pelo risco. Houve também
aumento de capital e redução de PLE dos bancos públicos federais
por meio da transferência de créditos imobiliários à Empresa
Gestora de Ativos (Emgea), o que provocou uma redução
aproximada de R$30 bilhões na carteira de crédito. Tais variações
ocorreram devido à edição da Medida Provisória 2.155, de
22.6.2001, atualizada pela Medida Provisória 2.196, de 24.8.2001,
que estabeleceu o Proef;
c) decréscimo de 1 p.p. no 3º trimestre de 2001, devido ao aumento
de 13,8% do PLE. Esse desempenho esteve associado à elevação
da exigência por risco cambial, conseqüência direta da depreciação
do real no período;
d) recuperação no último mês de 2001, atingindo 16,4%. O acréscimo
de 9,3% registrado no Índice, quando comparado a setembro de
2001, foi conseqüência do aumento de 3,9% no PR, aliado à
diminuição de 5,3% do PLE. Quanto ao PR, destacou-se o
crescimento de 9,9% do Capital de Nível II e, em relação ao PLE,
a redução de 41,4% na exigência para o risco cambial.

39
Relatório de Estabilidade Financeira Novembro 2002

Concentração do PR e do PLE5

35H3/(FRQFHQWUDomR

Junho de 2002
%

Discriminação Quantidade de instituições financeiras


Para efeito da análise da concentração dos
5 10 20 50
componentes do PR e do PLE no SFN, as
PR 50,3 67,3 79,7 91,0
Nível I 45,7 65,3 78,0 90,1
instituições foram ordenadas de forma
Nível II 75,9 88,2 95,1 99,4 decrescente conforme os valores registrados em
PLE 52,3 71,7 84,4 94,0 cada um dos componentes do PR (Capital de
Ativos 54,6 73,8 85,7 94,3 Nível I e Capital de Nível II) e do PLE (exigência
Juros-pré 53,4 68,1 80,9 93,6
Câmbio 66,9 79,1 91,1 99,1
de capital para ativos ponderados pelo risco, para
6ZDS 50,9 71,1 91,4 99,5 taxas de juros prefixados e para swap).
Posteriormente, as participações foram
1/ Participação do grupo de instituições no total do SFN
por tipo de concentração.
acumuladas, consideradas as cinco, dez, vinte e
35H3/(HYROXomRGRVFRPSRQHQWHV
cinqüenta instituições que registraram os maiores
R$ milhões valores em cada um dos componentes.
Segmento 2002
Mar Jun %
A análise referente à concentração nos
Público
PR 41 099 41 070 -0,1 componentes, em junho de 2002, evidencia que
PLE 26 118 27 129 3,9 no PR, o Capital de Nível II era o componente
Basiléia % 17,3 16,7 -3,8
mais concentrado e que as dez maiores
Privado
instituições detinham 88,2% do total.
PR 75 611 79 039 4,5
PLE 52 170 57 336 9,9 Adicionalmente, revela que, no PLE, a exigência
Basiléia % 15,9 15,2 -4,9 de capital para risco cambial era a mais
Total bancário concentrada, com as dez maiores instituições
PR 116 710 120 109 2,9
detendo 79,1% do total deste risco.
PLE 78 288 84 466 7,9
Basiléia % 16,4 15,6 -4,6

35QRVVHJPHQWRVFRPSRVLomR
Sistema bancário
Junho de 2002
R$ milhões

O Índice de Basiléia relativo ao sistema bancário,
Discriminação Qtde PR IB
Total Nível I Nível II detentor de 97,6% do total do PLE do SFN,
Total do SFN 1 807 125 180 106 027 19 153 16,1 atingiu 15,6% no segundo trimestre de 2002,
Bancário 149 120 109 101 070 19 039 15,6 indicando redução de 4,6%, se comparado ao do
Público 17 41 070 30 384 10 685 16,7
trimestre anterior. Esse decréscimo refletiu
Federal 9 37 986 27 341 10 645 16,5
Estadual 8 3 084 3 044 40 19,3 reduções de 3,8% no setor público e de 4,9% no
Privado 132 79 039 70 686 8 353 15,2 setor privado.
Nacional 79 45 696 39 910 5 786 15,1
Estrangeiro 53 33 343 30 775 2 567 15,2

1/ Índice de Basiléia.

5/ Vide box: Conceitos e Metodologias.

40
Relatório de Estabilidade Financeira Novembro 2002

3/(QRVVHJPHQWRVFRPSRVLomR

Junho de 2002
Registre-se que a contração mostrou-se mais
R$ milhões acentuada no segmento de bancos privados com
Discriminação Total Ativos Juros- Câmbio 6ZDS controle nacional, da ordem de 6,6%, com o
pré
Índice de Basiléia passando de 16,1%, em março
Total do SFN 86 560 73 836 4 328 5 886 2 510
Bancário 84 465 71 955 4 222 5 823 2 465
de 2002, para 15,1%, em junho de 2002, mas
Público 27 129 25 788 891 208 241 mantendo-se confortavelmente acima do limite
Federal 25 371 24 330 748 57 236
mínimo legal.
Estadual 1 757 1 458 142 151 5
Privado 57 336 46 167 3 331 5 615 2 223
Nacional 33 179 27 083 1 012 4 383 701 Em junho de 2002, dentre as instituições bancárias
Estrangeiro 24 157 19 084 2 319 1 232 1 522
em funcionamento, apenas três estavam
desenquadradas no Índice de Basiléia e
representavam cerca de 0,5% do PLE do SFN.

Cooperativas de crédito

O PLE do segmento cooperativas de crédito representava, em


junho de 2002, 1,6% do PLE do SFN. Nessa data-base, de um
total de 1.346 cooperativas, 336 estavam desenquadradas. Com
a edição da Circular 3.147, de 4.9.2002, o fator “F”, aplicável
aos ativos ponderados pelo risco para o segmento de cooperativas
e bancos cooperativos, que era de 0,20 e 0,13, respectivamente,
foi alterado para:
a) 0,11 para bancos cooperativos;
b) 0,13 para cooperativas centrais;
c) 0,15 para cooperativas singulares filiadas a cooperativas centrais
de crédito;
d) 0,20 para as demais.

Em simulação levada a efeito com os dados de junho de 2002, em


consonância com os novos fatores, a quantidade de cooperativas
desenquadradas cairia para 191, representando 14,3% do total do
PLE das cooperativas.

Sistema não-bancário

Em junho de 2002, o PLE do sistema não-bancário representava


2,4% do total do SFN. Existiam onze instituições desenquadradas

41
Relatório de Estabilidade Financeira Novembro 2002

no universo de 313 instituições não-bancárias, representativas de


3,1% do total do PLE dessas instituições.

2.3.2 Limite de imobilização


A Resolução 2.283, de 5.6.1996, limitou a aplicação de recursos no
ativo permanente em 90% do patrimônio. Este percentual tem sido
reduzido gradativamente, conforme o disposto na Resolução 2.669,
de 25.11.1999, que prevê a redução do índice de 60% para 50%, a
partir de dezembro de 2002. Em junho de 2002, 172 instituições
apresentavam índice acima de 60% e 63 encontravam-se na faixa de
50% a 60%.

Evolução

ËQGLFHGHLPRELOL]DomRHYROXomR No período de dezembro de 2000 a junho de


SFN
% 2002, o Índice de Imobilização do SFN reduziu-
60 se de 56,4% para 41,8%. No segundo trimestre
de 2002, a redução atingiu 3,5%, impulsionada
55
pelo decréscimo do Ativo Permanente e pelo
acréscimo do Patrimônio de Referência Ajustado
50
(PR Ajustado)6 do segmento de bancos privados.

45
A redução do índice nos últimos dezoito meses
refletiu as elevações de 45,7% do PR Ajustado,
40
Jun Set Dez Mar Jun Set Dez Mar Jun para R$124,2 bilhões, e de 7,8% do Ativo
2000 2001 2002
Permanente. O PR Ajustado aumentou tanto no
Capital de Nível I, principalmente por
incorporação de resultados, quanto no Capital de Nível II,
essencialmente pelo registro de dívidas subordinadas.

Registre-se que em junho de 2001 o Índice de Imobilização decresceu


6,6 p.p., em relação à posição do mês anterior, evidenciando o
crescimento de R$10,8 bilhões do PR Ajustado no segmento de
bancos públicos e a redução de R$2,5 bilhões do Ativo Permanente,
observados no período. O crescimento do PR Ajustado originou-se
6/ Vide box: Conceitos e Metodologias.

42
Relatório de Estabilidade Financeira Novembro 2002

35$MXVWDGRH$WLYR3HUPDQHQWH
da inclusão no Capital de Nível II dos recursos
SFN
R$ bilhões dos fundos constitucionais administrados. Tais
135
variações ocorreram devido à edição da Medida
115
Provisória que estabeleceu o Proef, citada
anteriormente.
95

75 Em setembro de 2001, o Índice de Imobilização


totalizou 43,1%, mantendo-se em torno desse
patamar até março de 2002. Esse desempenho
55

35 refletiu o aumento do Ativo Permanente no


segmento privado com participação nacional, na
Jun Set Dez Mar Jun Set Dez Mar Jun
2000 2001 2002

PR Ajustado Ativo Permanente mesma proporção do acréscimo do PR Ajustado


do setor público, no período.

No segundo trimestre de 2002, o Índice de Imobilização declinou


1,5 p.p., resultado de aumento de 2,3% do PR Ajustado e de redução
de 1,3% do Ativo Permanente.

Sistema bancário
35$MXVWDGRH$WLYR3HUPDQHQWH A análise do Índice de Imobilização recaiu,
Sistema bancário
basicamente, sobre o sistema bancário, tendo em
Discriminação Quantidade Patrimônio Ativo Índice vista que, em junho de 2002, seu Ativo
Permanente representava 98,9% do total do SFN.

de Referência Permanente de
instituições Ajustado imobilização


Mar Jun Mar Jun Mar Jun Mar Jun

Total 152 149 117 119 52 51 44,5 42,9


No período de março a junho de 2002, o Índice
Público 17 17 41 41 19 20 47,4 48,7 de Imobilização apresentou redução de 44,5%
Privado 135 132 76 78 33 31 42,9 39,9
para 42,9%, reflexo do decréscimo de 7% no
Nacional 73 71 35 36 20 19 56,0 52,2
Participação
segmento de bancos privados e do aumento de
estrangeira 8 8 9 9 5 5 51,7 48,8 2,7% no segmento de bancos públicos.
Estrangeiro 54 53 32 33 8 8 26,0 24,0

O segmento de bancos privados registrou


1/ R$ bilhões.
2/ O limite máximo permitido é de 60%. decréscimo em todos os seus subsegmentos,
ocasionado, principalmente:
a) pela redução de 4,7% e aumento de 3,3%, respectivamente, no
Ativo Permanente e no PR Ajustado dos bancos privados nacionais;
b) pelo acréscimo de 3,7% no PR Ajustado dos bancos privados com
controle estrangeiro.

43
Relatório de Estabilidade Financeira Novembro 2002

No segmento de bancos públicos, o crescimento no Índice de


Imobilização, de 47,4% para 48,7%, se deu em função do aumento
de 2,7% no Ativo Permanente, tendo em vista que o PR Ajustado
permaneceu constante.

Em junho de 2002, nove instituições bancárias, sendo uma pública


e oito privadas, cujo Ativo Permanente totalizava R$13,2 bilhões,
ou 25,7% do total do sistema bancário, apresentavam Índice de
Imobilização superior ao limite estabelecido. A redução necessária
do ativo permanente para o enquadramento dessas instituições ao
limite estabelecido, totalizava cerca de 3% do Ativo Permanente
do SFN.

Cooperativas de crédito

No segmento de cooperativas de crédito, composto por 1.346


instituições, com PR Ajustado de R$2,3 bilhões, o Índice de
Imobilização não era atendido por 135 instituições, cujo Ativo
Permanente representava R$29,8 milhões, ou 7,1% do total do
segmento.

Sistema não-bancário

No sistema não-bancário, de 313 instituições, com PR Ajustado de


R$2,4 bilhões e Ativo Permanente de R$137 milhões, 28 instituições,
encontravam-se desenquadradas, cuja representatividade em relação
ao Ativo Permanente era de 13,5%.

44
Relatório de Estabilidade Financeira Novembro 2002

Conceitos e Metodologias

Conceitos
a) Cosif: Plano Contábil das Instituições do SFN;
b) conglomerado bancário: conjunto de instituições financeiras que consolidam seus
demonstrativos financeiros, utilizando para tanto os documentos 4040 e 4046 do Cosif.
O conglomerado deve possuir pelo menos uma instituição do tipo: banco comercial, banco
múltiplo com carteira comercial ou banco de desenvolvimento;
c) instituições bancárias independentes: instituições financeiras do tipo banco comercial,
banco múltiplo, banco de desenvolvimento e caixa econômica que não fazem parte de
conglomerado, remetendo, nesse caso, os documentos 4010 e 4016 do Cosif;
d) consolidado do SFN: corresponde à agregação de todos os documentos considerados.
Não deve ser confundido ou comparado com outras estatísticas publicadas pelo Banco
Central do Brasil, as quais consideram as informações de cada instituição nos diversos
segmentos do SFN;
e) tipo de controle: identifica a origem do controle de capital dos conglomerados bancários
ou das instituições bancárias independentes. Subdivide-se na seguinte segmentação:
1. público federal;
2. público estadual;
3. privado nacional, incluindo-se aqui os de participação estrangeira;
4. privado com controle estrangeiro.
f) sistema bancário: compreende os conglomerados bancários e as instituições bancárias
independentes;
g) Patrimônio de Referência (PR): definido para fins de apuração dos limites operacionais
como o somatório do Patrimônio Líquido e as contas patrimoniais assim discriminadas:
1. nível I - resultado aritmético dos saldos das rubricas contábeis: Patrimônio Líquido;
Contas de Resultado Credoras; Contas de Resultado Devedoras; excluídas as Reservas
de Reavaliação, as Reservas para Contingências e as Reservas Especiais de Lucros
Relativas a Dividendos Obrigatórios não Distribuídos, deduzidos os valores referentes
a Ações Preferenciais não Cumulativas e a Ações Preferenciais Resgatáveis;
2. nível II - resultado aritmético dos saldos das rubricas contábeis: Reservas de
Reavaliação; Reservas para Contingências; Reservas Especiais de Lucros Relativas a
Dividendos Obrigatórios não Distribuídos; Ações Preferenciais não Cumulativas; Ações
Preferenciais Resgatáveis; Dívidas Subordinadas Elegíveis a Capital e Instrumentos
Híbridos de Capital e Dívida, estando limitado, entre outros, ao montante do Nível I.
h) PR Ajustado: definido como sendo o PR utilizado para fins de cálculo do Índice de
Imobilização;

45
Relatório de Estabilidade Financeira Novembro 2002

i) Patrimônio Líquido Exigido (PLE): é calculado em função dos riscos de crédito e de


mercado (cambial e juros prefixados) conforme descrito no item “c” da metodologia.
Representa o valor mínimo exigido para o PR, com o objetivo de suportar os riscos
existentes na estrutura patrimonial;
j) Índice de Basiléia: o conceito foi definido pelo Comitê de Basiléia que recomenda a
relação mínima de 8% entre o PR e o total dos ativos ponderados pelo risco, conforme
regulamentação em vigor. No Brasil, a relação mínima exigida, em junho de 2002, é de
20% para as cooperativas, de 13% para os bancos cooperativos e de 11% para as demais
instituições financeiras.

Metodologia

a) as análises são desenvolvidas com base em dados contábeis remetidos mensalmente pelas
próprias instituições ao Banco Central do Brasil. Se o demonstrativo financeiro da
instituição não estava disponível na data-base, utilizou-se o último existente;
b) os Índices de Basiléia e de Imobilização têm por base os dados contábeis de conglomerados
ou instituições financeiras; são considerados os demonstrativos de conglomerados
financeiros, quando estes são optantes por apuração consolidada; para os conglomerados
não-optantes, os índices são calculados para cada instituição como se fossem
independentes;
c) O PLE é calculado utilizando-se os dados registrados pelas instituições financeiras em
contas patrimoniais e de compensação referentes a requerimentos de capital para Ativos
Ponderados pelo Risco, Risco de Crédito de Swap, Taxa de Câmbio e Taxa de Juro. De
maneira simplificada, a fórmula do PLE é descrita:
PLE = F · (Ativos Ponderados pelo Risco) + Risco de Crédito de Swap + Taxa de Câmbio
+ Taxa de Juro.
Fator F = fator aplicável aos ativos ponderados pelo risco, estipulado em 0,20 para
cooperativas de crédito; 0,13 para bancos cooperativos; e 0,11 para as demais
instituições financeiras.
d) ativos ponderados pelo risco = total das rubricas do Ativo Circulante e do Realizável a
Longo Prazo multiplicado pelos fatores de risco correspondentes + Ativo Permanente
multiplicado pelo fator de risco correspondente + Coobrigações e Riscos em Garantias
Prestadas multiplicados pelos fatores de risco correspondentes;
Q 1

e) Requerimento de Capital para Risco de Crédito de Swap = ) ’⋅∑ 5&'L L

L =1

F’ = fator aplicável ao risco de crédito das operações de swap, igual a 0,20 (vinte
centésimos);
n1 = número de operações de swap inscritas na conta 3.0.6.10.60-4 do Cosif;

46
Relatório de Estabilidade Financeira Novembro 2002

RCD i = risco de crédito da i-ésima operação de swap inscrita na conta 3.0.6.10.60-4 do


Cosif, consistente na ponderação do valor de referência da operação no momento
da respectiva contratação (VNi) pelo fator de risco potencial correspondente,
considerado seu prazo a decorrer;
2

f) Requerimento de Capital para Risco de Taxa de câmbio = ) ’’⋅ max{ (∑ $SUF − N ⋅ 35);0 },
Q

L =1

onde:

F’’ = fator aplicável às operações com ouro e com ativos e passivos referenciados em
variação cambial, incluídas as realizadas nos mercados de derivativos, igual a 0,50
(cinqüenta centésimos). Em outubro de 2002 o fator F” foi alterado para 1, conforme
a Circular 3.156, de 11 de outubro de 2002;
n2 = número de posições líquidas em cada moeda e em ouro;
Q 2

∑ $SUF = somatório dos valores absolutos das posições líquidas em cada moeda e em ouro;
L =1
L

Q 2

k = 0,05 (cinco centésimos) para ∑ $SUF


L =1
L / PR menor ou igual a 0,05 (cinco centésimos)

Q 2

k = 0 para ∑ $SUF
L =1
L / PR maior que 0,05 (cinco centésimos);

Q 3

g) Requerimento de Capital para Risco de Taxa de Juro = ∑ (&L , onde:


L =1

n3 = número de parcelas representativas do valor de PLE para a cobertura do risco de


mercado de taxa de juros em determinada moeda/base de remuneração;
ECi = Parcela representativa do valor de PLE para a cobertura de risco de mercado de
taxa de juros em determinada moeda/base de remuneração.

35 ⋅ 100
h) Índice de Basiléia = ;
{ $SU + [ 1
⋅ ( -XURV + &kPELR + 6ZDS ) ]}
)

i) os valores apresentados nos textos e nas tabelas estão arredondados, contudo suas
variações percentuais refletem os números originais, considerando todas as casas decimais;
j) o Limite de Imobilização indica o percentual de comprometimento do PR Ajustado em
relação ao Ativo Permanente. O limite máximo permitido é de 60%. Conforme Resolução
2.669, de 25.11.1999, o limite máximo será reduzido para 50% a partir de dezembro de
2002;

47
Relatório de Estabilidade Financeira Novembro 2002

l) para obtenção do Índice de Imobilização, utiliza-se a seguinte fórmula:


$WLYR 3HUPDQHQWH
Índice de Imobilização = .100
35 $MXVWDGR

I. para cálculo do PR Ajustado:


Capital de Nível I
(+) Capital de Nível II
(-) Títulos Patrimoniais de Bolsas de Valores
(-) Títulos Patrimoniais de Bolsas de Mercadorias e de Futuros
(-) Títulos Patrimoniais da Cetip
(-) Ações e Cotas de Empresas de Liquidação e Custódia Vinculadas a Bolsas
(-) (-) Provisão para Perdas em Ações e Cotas de Empresas de Liquidação e Custódia
Vinculadas a Bolsas
(-) (-) Provisão para Perdas em Títulos Patrimoniais*
(-) Títulos Patrimoniais - Outros*
(-) Ágios na Aquisição de Títulos Patrimoniais*
(=) PR Ajustado;
II. para cálculo do Ativo Permanente:
Permanente
(-) Imobilizado de Arrendamento
(-) Perdas em Arrendamento a Amortizar
(-) (-) Amortização Acumulada do Diferido - Perdas em Arrendamento a Amortizar
(-) Títulos Patrimoniais de Bolsas de Valores
(-) Títulos Patrimoniais de Bolsas de Mercadorias e de Futuros
(-) Títulos Patrimoniais da Cetip
(-) Ações e Cotas de Empresas de Liquidação e Custódia Vinculada a Bolsas
(-) (-) Provisão para Perdas em Ações e Cotas de Empresas de Liquidação e Custódia
Vinculada a Bolsas
(-) (-) Provisão para Perdas em Títulos Patrimoniais*
(-) Títulos Patrimoniais - Outros*
(-) Ágios na Aquisição de Títulos Patrimoniais*
(=) Ativo Permanente para Índice de Imobilização.

Todas as referências ao Ativo Permanente neste trabalho dizem respeito ao Ativo


Permanente para Índice de Imobilização.

* Como a “Provisão para Perdas em Títulos Patrimoniais” refere-se a todas as rubricas de títulos patrimoniais, bem como de ágios,
determinou-se que só será considerada nos cálculos do PR Ajustado e do Ativo Permanente - Imobilizado quando seu valor absoluto
ultrapassar a soma das rubricas “Títulos Patrimoniais - Outros” e “Ágios na Aquisição de Títulos Patrimoniais”. Nesses casos, o valor
da provisão a ser considerado fica limitado ao montante que ultrapassar o somatório do saldo de “Títulos Patrimoniais - Outros” com
o saldo de “Ágios na Aquisição de Títulos Patrimoniais”.

48
Relatório de Estabilidade Financeira Novembro 2002

2.4 Riscos
2.4.1 Operações de crédito
2SHUDo}HVGHFUpGLWR
R$ bilhões
O sistema bancário, segregado por controle
400 acionário em bancos públicos, bancos privados
350
nacionais e bancos estrangeiros, detinha, ao final
do semestre 94,6% das operações de crédito do
300

250

200
SFN, com o sistema não-bancário, formado pelas
150
empresas de arrendamento mercantil, sociedades
100 de crédito, financiamento e investimento, entre
50 outras, respondendo pelos demais 5,4%.
0
Dez Jun Dez Jun
2000 2001
Total do SFN
2002 As operações de crédito no SFN cresceram 5,8%
no primeiro semestre de 2002, totalizando
Bancos públicos
Bancos privados nacionais
Bancos privados estrangeiros
Sistema não-bancário R$351,6 bilhões, registrando-se a evolução mais
acentuada, 9,4%, no segmento de bancos públicos.
2SHUDo}HVGHFUpGLWRDJrQFLDVQRH[WHULRU

Junho de 2002
Nos bancos privados nacionais, o crescimento
R$ milhões alcançou 6,6% e nos bancos privados estrangeiros,
Discriminação Carteira Operações %
1,4%. Adicionalmente, o sistema não-bancário
ativa concedidas
no país por agência apresentou decréscimo de 0,7%. A participação
no exterior das operações de crédito por segmento, no
Total do SFN 351 635 25 426 7,2 sistema bancário, atingiu 37,4% nos bancos
Bancário 332 578 25 426 7,6
públicos, 36,9% nos bancos privados nacionais e
Público 124 315 7 813 6,3
Privado 208 263 17 613 8,5 25,7% nos bancos privados estrangeiros.
Nacional 122 776 11 956 9,7
Estrangeiro 85 487 5 658 6,6
As operações de crédito concedidas por agências
Não-bancário 19 057 - -
no exterior totalizaram R$25,4 bilhões em junho
de 2002, representando 7,2% do total das
operações de crédito no SFN. Comparativamente
3DUWLFLSDomRQRFUpGLWRWRWDOGR6)1
a dezembro de 2001, ocorreu aumento de 1,5 p.p.
Maiores conglomerados/instituições
%
na representatividade dessas operações, resultado
Discriminação 2001 2002 associado, fundamentalmente, à depreciação do
Dez Jun
real no período.
10 maiores 69,4 70,3
20 maiores 85,5 85,3
50 maiores 96,6 95,7
O valor total das operações de crédito dos dez
maiores conglomerados e instituições financeiras
atingiu R$247,1 bilhões em junho de 2002. Desse
total, os bancos públicos respondiam por 43,4%,

49
Relatório de Estabilidade Financeira Novembro 2002

2SHUDo}HVGHFUpGLWR

Participação de pessoas físicas e jurídicas


os bancos privados nacionais, por 42,4%, e os
% bancos privados estrangeiros, por 14,2%.
Discriminação 2001 2002
Dez Jun
Registros Carteira Registros Carteira
O nível de concentração, ainda considerando os
ativa ativa dez maiores conglomerados e instituições
Total 100,0 100,0 100,0 100,0 financeiras, elevou-se de 69,4%, em dezembro
Pessoa física 81,9 35,7 82,0 34,8 de 2001, para 70,3%, em junho de 2002.
Sistema bancário Incorporando os cinqüenta maiores
Público 29,7 13,8 31,9 13,6
Privado nacional 20,6 10,0 20,9 9,7
conglomerados e instituições financeiras, a
Privado estrangeiro 24,1 9,1 23,4 9,0 concentração declinou de 96,6% para 95,7%, nas
Sistema não-bancário 7,5 2,8 5,7 2,4
mesmas bases de comparação.
Pessoa jurídica 18,1 64,3 18,0 65,2
Sistema bancário
Público 6,3 20,3 6,8 22,0
Os registros de pessoas físicas no Sistema Central
Privado nacional 6,4 24,8 6,2 24,7 de Risco de Crédito (SCR), em junho de 2002,
Privado estrangeiro 3,7 16,2 3,5 15,7
responderam por 82% do total do SFN,
Sistema não-bancário 1,7 3,1 1,5 2,9
equivalentes a 34,8% do valor das operações. As
pessoas jurídicas, por sua vez, responderam por
18% dos registros e por 65,2% do volume das
2SHUDo}HVGHFUpGLWRSRUIDL[DGHYDORU operações.
%
Faixas Sistema bancário Sistema
(Em R$) Público Privado não- A distribuição das responsabilidades dos clientes,
Nacional Estrangeiro bancário por faixas, quando comparadas as posições de
2001 2002 2001 2002 2001 2002 2001 2002
Dez Jun Dez Jun Dez Jun Dez Jun
junho de 2002 e de dezembro de 2001, mostrou-
se mais estável no sistema bancário. Nesse
Até 5 mil 12,7 11,4 14,3 14,6 11,6 12,4 19,0 23,1
De 5 a 50 segmento, destacaram-se as dívidas nas faixas
mil 2,2 2,3 3,9 3,5 2,8 2,7 4,7 5,0 acima de R$50 milhões, de R$50 mil a R$500
De 50 a 500
mil 23,5 23,4 14,7 14,9 22,3 21,9 33,2 28,7
mil e abaixo de R$5 mil. No sistema não-bancário,
De 500 mil a no qual se destacaram as financeiras e as empresas
1 milhão 12,9 12,3 12,6 11,6 10,9 10,5 20,3 20,5
de arrendamento mercantil, as operações de
De 1 a 5
milhões 5,1 5,0 12,1 10,7 11,1 10,0 9,5 10,1
crédito concentradas nas faixas de R$50 mil a
De 5 a 10 R$500 mil e abaixo de R$5 mil responderam por
milhões 2,7 2,7 6,1 5,8 7,5 7,0 3,8 3,3
51,8% do total, em junho de 2002.
De 10 a 20
milhões 3,8 3,1 6,7 6,5 8,1 8,0 2,5 2,1
De 20 a 50
milhões
Acima de 50
6,0 5,7 9,7 9,6 12,2 12,7 3,4 2,8
Operações baixadas como prejuízo
milhões 31,0 34,1 20,0 22,7 13,5 15,0 3,6 4,2 e coobrigações

O segmento dos bancos privados nacionais foi


responsável por 46,7% da variação total de R$3,1

50
Relatório de Estabilidade Financeira Novembro 2002

&RREULJDo}HVHFUpGLWRVEDL[DGRVFRPRSUHMXt]RV

R$ milhões
bilhões dos créditos baixados como prejuízo,
Discriminação Coobrigações Créditos baixados ocorrido no primeiro semestre de 2002, e o dos
como prejuízo
bancos privados estrangeiros, por 69,7% do
2001 2002 2001 2002
Dez Jun Dez Jun crescimento de R$5,4 bilhões das coobrigações
Sistema bancário 33 819 39 209 66 845 69 573
no SFN.
Público 2 482 2 925 37 217 37 417
Privado 31 337 36 284 29 629 32 155
A participação dos créditos baixados como
Nacional 16 231 17 422 17 315 18 759
Estrangeiro 15 106 18 862 12 313 13 396 prejuízo na carteira de crédito decresceu de
Sistema não-bancário 7 5 4 101 4 463
21,3%, em dezembro de 2001, para 21,1%, em
Total do SFN 33 826 39 214 70 947 74 036
junho de 2002, e a relativa às coobrigações

cresceu de 10,2% para 11,2%, considerada a
Participação 10,2 11,2 21,3 21,1
mesma base de comparação.
1/ De coobrigações e créditos baixados sobre o total da carteira do SFN.

0DLRUHVGHYHGRUHV
Maiores devedores do SFN
R$ bilhões
Devedores 2001 2002
Dez Jun
Na definição dos cem maiores devedores levou-
Carteira
 
Dívida Média

Carteira

Dívida

Média

se em conta apenas os valores que representavam
100 maiores 73,4 74,4 1,5 82,4 83,5 1,5 risco para o SFN, desconsiderando perdas já
1º - 10º maior 19,3 19,3 0,4 21,6 21,9 1,5 ocorridas e valores provisionados. Esse
11º - 20º maior 12,1 12,3 1,9 12,9 12,9 0,4
21º - 50º maior 21,6 22,3 3,0 24,0 24,7 2,9
agrupamento, constituído exclusivamente por
51º - 100º maior 20,4 20,5 0,7 24,0 24,1 0,7 pessoas jurídicas, respondia, em junho de 2002,
Todos 400,6 515,5 6,3 403,2 485,3 5,6 por 20,4% da carteira ativa líquida, acrescida de
coobrigações.
1/ Carteira ativa líquida + coobrigações.
2/ Responsabilidade total.
3/ Provisão média %. Comparativamente a dezembro de 2001, a relação
dos cem maiores elaborada em junho de 2002
revelou crescimento de R$73,4 bilhões para R$82,4 bilhões, com a
manutenção da provisão média ponderada em 1,5%.

Provisão média ponderada é definida como o resultado da


“multiplicação do percentual mínimo de provisão associado a cada
classificação” pelo “valor da respectiva responsabilidade total”,
dividido pela “soma das responsabilidades totais”.

Houve ligeira elevação na concentração dos cem maiores devedores,


que representavam 18,3% de todo o endividamento do SFN – carteira
ativa líquida de provisão, acrescida das coobrigações – em dezembro
de 2001, passando para 20,4% em junho de 2002.

51
Relatório de Estabilidade Financeira Novembro 2002

0DLRUHVGHYHGRUHVVHWRUHVHFRQ{PLFRV

100 maiores devedores - junho de 2002


A provisão média ponderada no grupo dos dez
R$ bilhões maiores devedores que era de 0,4% passou para
1,5%, no mesmo período. Os maiores devedores
  
Discriminação Carteira Dívida Média

Total 82,4 83,5 1,5 possuíam classificação melhor que a média de


Produção e distribuição de energia 10,8 11,0 2,6
Telecomunicações 9,6 9,6 0,9
todos os devedores do SFN nas duas datas-base
Produção de laminados planos de aço 6,6 6,7 0,7 e a provisão média ponderada para o total de
Fabricação de automóveis, 5,2 5,2 1,1
devedores do sistema financeiro reduziu-se de
Fabricação de celulose e outras pastas 3,7 3,7 0,4
Extração de minério de ferro 3,5 3,5 0,2 6,3%, em dezembro de 2001, para 5,6%, em
Produção de ferro, aço e ferro-ligas 2,6 2,6 0,1 junho de 2002.
Administração pública em geral 2,3 2,3 0,4
Abate de aves e pequenos animais 2,3 2,5 8,5
Comércio varejista de outros produtos 2,3 2,3 0,2
Produção de sucos de frutas 2,1 2,1 0,3 Distribuição dos cem maiores
Fabricação de resinas termoplásticas
Fabricação de petroquímicos básicos
1,8
1,7
1,8
1,7
0,6
0,7
devedores segundo o setor econômico
Fabricação de papel 1,6 1,7 0,7
Metalurgia do alumínio 1,6 1,6 0,0
Os setores de energia elétrica, telecomunicações
Fabricação de malte e cervejas 1,5 1,5 0,2
Outras atividades de crédito 1,4 1,4 0,1
e laminados de aço detinham 13,1%, 11,6% e 8%,
Fabricação de outros produtos químicos 1,3 1,3 0,2 respectivamente, da dívida de responsabilidade
Refino de petróleo 1,3 1,3 0,0
dos cem maiores devedores segundo a atividade
Produção de laminados não-planos de aço 1,3 1,3 1,6
Demais 17,9 18,4 2,6 econômica, considerada a amostra relativa a junho
de 2002.
1/ Carteira ativa líquida + coobrigações.
2/ Responsabilidade total.
3/ Provisão média em %.
Segundo a ótica da segmentação das instituições
0DLRUHVGHYHGRUHV
financeiras, os maiores credores desse
Por segmentos de bancos
R$ bilhões agrupamento concentravam-se nos bancos
Segmentos 2001 2002 privados, com 62% em ambas as datas-base.
Dez Jun
     
Desse percentual, em dezembro de 2001, 60%
Carteira Dívida Média Carteira Dívida Média
eram representados pelas instituições nacionais
Total do SFN 73,4 74,4 1,5 82,4 83,5 1,5
Bancos 72,7 73,6 ... 81,9 83,0 ... e 40% pelas estrangeiras. Em junho de 2002, os
Públicos 27,2 28,0 2,9 30,8 31,8 3,0 percentuais passaram para 58% e 42%,
Privados 45,5 45,7 ... 51,1 51,3 ...
Nacional 27,2 27,3 0,5 29,7 29,7 0,5
respectivamente.
Estrangeiro 18,3 18,4 0,8 21,5 21,5 0,7

Demais 0,7 0,8 5,0 0,5 0,5 1,4

Classificações das operações de


1/ Carteira ativa líquida + coobrigações.
2/ Responsabilidade total.
crédito
3/ Provisão média %.

A distribuição dos créditos de acordo com o nível de risco indicou


que a participação do nível AA atingiu 27,9% em junho de 2002,
ante 29,2% em dezembro de 2001. Os créditos classificados nos
níveis A a C totalizaram 59,6% e 58,7%, enquanto os considerados

52
Relatório de Estabilidade Financeira Novembro 2002

&ODVVLILFDomRGRVFUpGLWRV6)1

%
no nível D representaram 4,9% e 4,3% do total,
Nível de risco 2001 2002 nas mesmas bases de comparação.
Dez Jun

AA 29,2 27,9 A provisão mínima, calculada segundo os


A 33,1 33,5
B 17,3 17,3
parâmetros definidos pela Resolução 2.682, de
C 8,3 8,8 22.12.1999, passou de 6,9%, em dezembro de
D 4,3 4,9
2001, para 6,8%, em junho de 2002, evidenciando
E 1,3 1,4
F 1,5 1,3 que não ocorreram variações significativas na
G 0,8 0,9 distribuição dos níveis de risco no período.
H 4,2 4,0
Total 100,0 100,0
Em relação às operações de crédito concedidas
por agências no exterior, que em junho de 2002
representavam R$25,4 bilhões, a distribuição dos
créditos indicou que a participação do nível AA
atingiu 67,8% em junho de 2002, ante 69,9% em dezembro de 2001.
Os créditos classificados nos níveis A, B e C totalizaram 29,8% e
27,8% e os classificados no nível D representaram 1% e 1,6% do
total, nas mesmas datas.

A provisão mínima para essas operações passou de 0,9%, em


dezembro de 2001, para 1,5%, em junho de 2002, refletindo uma
deterioração dessas operações.

53
Relatório de Estabilidade Financeira Novembro 2002

Matriz de Migração de Crédito

A Matriz de Migração de Crédito evidencia as modificações ocorridas nas classificações


dos créditos identificados – devedores cujas responsabilidades sejam superiores a R$5 mil –
informados ao SCR, possibilitando analisar a consistência das classificações das operações
de crédito das instituições financeiras e, conseqüentemente, seus respectivos modelos internos
de classificação.

A Matriz de Migração de Crédito é constituída por valor migrado, levando-se em conta o


valor da operação. Assim, os percentuais apresentados em cada nível de risco, na horizontal,
representam o valor que migrou de um nível de risco para outro. Os percentuais negritados,
apresentados na diagonal, representam os valores remanescentes nos respectivos níveis de
risco originais.

0DWUL]GHPLJUDomRGHFODVVLILFDomR

Em percentual
5LVFR  7RWDO R$ milhões
-XQ Carteira
ativa
$$ $ % & ' ( ) * + 3UHMXt]R 5HGXo}HV Dez/2001
'H] $$ 
 6,3 2,7 1,0 0,4 0,1 0,1 0,1 0,1 0,2 27,2  96 750
$ 5,0 
 6,8 3,1 1,2 0,5 0,3 0,3 0,2 - 26,9  87 358
% 3,2 10,2 
 6,0 3,2 1,0 0,4 0,4 0,6 - 19,6  52 682
& 1,9 8,5 9,6 
 5,5 1,7 1,8 0,9 3,5 0,2 19,3  23 870
' 1,5 4,4 4,6 10,7 
 2,9 2,4 2,8 7,0 0,6 13,8  11 475
( 1,9 6,8 3,6 5,0 7,0 
 3,9 3,3 21,5 1,3 13,2  3 603
) 0,6 3,1 2,9 5,7 4,2 3,5 
 3,4 25,4 1,7 9,9  4 198
* 1,2 2,2 2,0 3,1 2,1 1,2 1,6 
 32,6 6,3 9,3  2 528
+ 2,9 1,6 1,3 1,8 1,5 0,8 0,9 2,3 
 39,1 11,1  9 126
7RWDO 
 
  
  
 
  
 
 
 


R$ Carteira 66 955 63 225 40 943 19 938 10 685 3 278 3 211 2 477 8 184 4 177 68 515 291 588
milhões ativa
Jun/2002

Esse total contempla somente as operações de crédito identificadas, cujos devedores apresentam responsabilidade total superior a R$5 mil. A diferença entre os


valores relativos ao total da carteira ativa nessa tabela e na tabela Movimentações nas classificações - SFN decorre de arredondamentos.

3URYLVmRPpGLDLQLFLDO 'H] 5,8


3URYLVmRPpGLDILQDO -XQ 6,5
DE 0,7

No período de dezembro de 2001 a junho de 2002, a análise da Matriz de Migração de


Crédito apontou que, dos créditos contemplados em dezembro de 2001, 55,4%, ou R$161,6
bilhões, mantiveram-se no mesmo nível de risco. As reduções no período, representadas
basicamente por liquidações de operações, responderam por 23,5%, ou R$68,5 bilhões.

54
Relatório de Estabilidade Financeira Novembro 2002

Os créditos cujas classificações apresentaram deterioração mais expressiva, em termos


relativos, concentraram-se nos níveis E, F e G, registrando-se migração para níveis de maior
risco, inclusive prejuízo, respectivamente, de 30%, 30,5% e 38,9%.

Em termos nominais, os créditos classificados nos níveis AA e A foram os que sofreram


maiores migrações. No nível AA 11% dos créditos, equivalentes a R$10,6 bilhões, foram
rebaixados, principalmente, para os níveis A e B. No que se refere ao nível A, o percentual de
rebaixamento atingiu 12,5%, ou R$10,9 bilhões, principalmente, para os níveis B e C.

Em síntese, as movimentações apontadas pela matriz de migração do SFN evidenciaram


uma situação de normalidade, sem aumento expressivo do risco de crédito, durante o primeiro
semestre de 2002, com destaque para a proximidade da provisão média de 5,8% definida em
dezembro de 2001 e a ocorrida de 6,5% em junho de 2002, denotando, assim, o elevado
nível de aderência dos modelos internos de classificação de risco das instituições financeiras.

0RYLPHQWDo}HVQDVFODVVLILFDo}HV6)1
De dezembro de 2001 a junho de 2002
R$ milhões
Nível Mantidos Movimentados para níveis Reduções Total
no
nível Acima Abaixo Prejuízo

AA 59 792 - 10 449 194 26 316 96 750


A 48 571 4 368 10 875 - 23 543 87 358
B 29 186 7 059 6 111 - 10 326 52 682
C 11 219 4 762 3 223 59 4 607 23 870
D 5 669 2 416 1 733 75 1 584 11 475
E 1 178 867 1 034 48 476 3 603
F 1 667 834 1 209 73 416 4 198
G 973 335 824 160 235 2 528
H 3 349 1 196 - 3 568 1 013 9 126
Total 161 603 21 837 35 458 4 177 68 515 291 590

55
Relatório de Estabilidade Financeira Novembro 2002

Inadimplência e provisionamento

Inadimplência

,QDGLPSOrQFLDRSHUDo}HVGHFUpGLWR
No primeiro semestre de 2002, a inadimplência –
%
considerando-se, neste conceito, vencidas
16
15 integralmente as operações de crédito que
apresentam parcelas vencidas há mais de quinze
14
13
12
dias – expandiu-se 5,3%, totalizando R$28,1
11
10 bilhões. Em virtude do aumento de 5,8%,
registrado nas operações de créditos do SFN no
9
8
7
período, a taxa de inadimplência permaneceu
6
5 estável em 7,9%. No segmento de bancos privados
Dez Jun Dez Jun
2000 2001 2002 nacionais, a inadimplência alcançou R$9,6 bilhões,
Total SFN Bancos públicos
representando crescimento de 9,4% no período.
Bancos privados nacionais Bancos privados estrangeiros

Sistema não-bancário

Assinale-se que a redução de 2,3 p.p. registrada


9DORUHVYHQFLGRV YHUVXV LQDGLPSOrQFLD 
na taxa de inadimplência do SFN, no segundo
%
semestre de 2001, esteve vinculada aos ajustes
Discriminação 2001 2002
Dez Jun pelos quais passaram alguns bancos públicos
Valores Inadimplência Valores Inadimplência federais, com a transferência de operações de
crédito para a Emgea. Nesse sentido, a taxa de
vencidos vencidos

Bancário
inadimplência relativa ao segmento dos bancos
Público 4,6 8,5 4,3 8,3
Privado públicos declinou de 15,4% para 8,5%, no período.
Nacional 3,5 7,5 3,9 7,7

Analisando sob a ótica de valores vencidos, ou


Estrangeiro 3,4 6,5 3,7 6,8

Não-bancário 4,8 13,4 6,7 12,2


seja, sem considerar precipitação das parcelas a
Total do SFN 4,0 7,9 4,1 7,9
vencer, a inadimplência alcançou R$14,4 bilhões,
expansão de 9,6%, no semestre. Nesse conceito,
1/ Comparação entre o percentual de inadimplência e o percentual de valores
vencidos sobre o total das operações de crédito. a taxa de inadimplência cresceu de 4%, em
dezembro de 2001, para 4,1%, em junho de 2002.
Destacou-se o aumento de 38,3% registrado nos valores vencidos
no sistema não-bancário, alcançando R$1,2 bilhão.

Provisão

No primeiro semestre de 2002, as provisões constituídas cresceram


4,2%, para R$25,6 bilhões, movimento registrado com maior

56
Relatório de Estabilidade Financeira Novembro 2002

3URYLVmRRSHUDo}HVGHFUpGLWR
%
intensidade no segmento de bancos privados
11 nacionais, no qual a taxa de expansão alcançou
10 14,1%. Em relação ao total das operações de
9 crédito, a provisão constituída decresceu de
8 7,4% para 7,3%, no semestre.
7

6
Saliente-se que a elevação acentuada da taxa de
provisão observada nos bancos públicos, de
5

4
Dez Jun Dez Jun junho a dezembro de 2001, deveu-se, também,
2000 2001 2002

Total SFN
ao processo de ajustes a que foram submetidos.
Bancos públicos
Bancos privados nacionais
Bancos privados estrangeiros
Sistema não-bancário

Provisão constituída/provisão
mínima

3URYLVmRFRQVWLWXtGDSURYLVmRPtQLPD

% A relação entre provisão constituída e provisão


Discriminação 2000 2001 2002
mínima com base na classificação das operações
Dez Jun Dez Jun
de crédito indicou que, em junho de 2002, a
Bancário
Público 65,0 103,1 104,2 112,3
provisão média do SFN excedia em 12,6% a
Privado mínima exigida. A relação apresentou
Nacional 116,6 116,2 116,6 117,1
crescimento de 4,3% no semestre, ocorrendo
Estrangeiro 104,3 103,3 103,7 104,8
com maior ênfase no segmento de bancos
Não-bancário 105,6 108,1 112,5 114,3
públicos, aumento de 7,7%. Não obstante, o
maior excesso ocorreu no segmento de bancos
Total do SFN 82,1 107,2 108,0 112,6

1/ Conforme classificação dos créditos.


privados nacionais, no qual a provisão
constituída superou a provisão mínima em
17,1%.

2.4.2 Exposição cambial


A exposição cambial é definida como o total da posição em ouro e
em ativos e passivos referenciados em variação cambial, assumido
pelas instituições financeiras e suas controladas diretas e indiretas,
para fins da determinação da exigência de capital e do limite de
exposição cambial.

Em meados de outubro de 2002, o limite de exposição por


instituição/conglomerado foi reduzido de 60% para 30% do PR,

57
Relatório de Estabilidade Financeira Novembro 2002

como parte das medidas destinadas a reduzir os efeitos da volatilidade


cambial sobre o setor financeiro.

De acordo com as regras vigentes, a parcela de capital estrangeiro


que compõe o PR das instituições financeiras, aqui denominada
Patrimônio Líquido Ajustado (PLA) vendido, pode ser considerada
como posição vendida. Porém, esta disposição não foi adotada no
presente trabalho, visto que o objetivo foi estudar a real exposição
das instituições. Assim, definiu-se exposição líquida de acordo com
a seguinte fórmula:

Exposição líquida = Σ (posições compradas) - Σ (posições vendidas


- PLA vendido)

A exposição cambial no primeiro semestre de 2002 revelou pequena


retração da exposição líquida e das posições comprada e vendida
em ouro e em dólar, em face da depreciação do real frente ao dólar
a partir de maio de 2002. Devido à forte variação ocorrida, os dados
relativos a julho de 2002 foram incluídos nessa análise.

Exposição líquida em ouro e dólar

([SRVLomROtTXLGD O SFN vem mantendo, desde junho de 2001,


Em bilhões
30 posição líquida comprada em ouro e dólar. Esta
posição líquida situava-se entre 3,8% e 4,8% do
25
total das posições compradas, nesse período.
20
Quando avaliada em dólares, mantinha-se
15 relativamente estável, na ordem de US$7,5
bilhões, demonstrando que o SFN atua,
10
fundamentalmente, como intermediário de risco
5
cambial, não oferecendo hedge para outros
0 setores da economia.
3.7 14.8 26.9 9.11 24.12 6.2 22.3 7.5 19.6 31.7
2001 2002

R$ US$ A partir de maio de 2002, entretanto, a


deterioração da conjuntura externa, conjugada à
proximidade das eleições, favoreceu o aumento da volatilidade da
taxa de câmbio, contribuindo para que as instituições financeiras
diminuíssem o descasamento de suas posições. Nesse contexto, a

58
Relatório de Estabilidade Financeira Novembro 2002

&RWDomRGRGyODU
exposição líquida em dólar declinou 10% até o
R$/US$
3,60 final do semestre. Adicionalmente, a redução
3,40
atingiu 36% em julho, com a exposição líquida
alcançando US$4,5 bilhões ao final de julho.
3,20

3,00

2,80 Posições compradas e vendidas em


2,60
ouro e dólar
2,40
O crescimento das posições comprada e vendida
2,20 do SFN, em reais, a partir de maio de 2002
3.7 14.8 26.9 9.11 24.12 6.2 22.3 7.5 19.6 31.7
2001 2002 acompanhou parcialmente a variação do dólar,
registrando-se, no bimestre maio-junho,
(YROXomRGDVSRVLo}HVFRPSUDGDHYHQGLGD crescimento médio de 15% nas posições e de 20%
R$ bilhões

650 na cotação da moeda americana. No mesmo


600
sentido, em julho as variações totalizaram 9,5%
e 20%, respectivamente, representando redução
550
no volume total das posições comprada e
vendida.
500

450

400 A redução na posição comprada ocorreu


350 principalmente no item Títulos e Valores
300
Mobiliários, durante a troca parcial de títulos com
3.7
2001
14.8 26.9 9.11 24.12 6.2
2002
22.3 7.5 19.6 31.7
variação cambial (Nota do Tesouro Nacional
R$ comprado R$ vendido (NTN) e NBCE) por LFT conjugadas com swaps
cambiais. No que se refere à posição vendida, o
decréscimo esteve associado à redução das
(YROXomRGDVSRVLo}HVFRPSUDGDHYHQGLGD posições em derivativos.
US$ bilhões
210

200 Exposições líquidas nas demais


moedas
190

180
A exposição líquida do SFN nas demais moedas
sempre foi inexpressiva e, desde abril de 2002,
170 apresenta-se praticamente nula. Seu volume, em
31.7.2002, representou apenas 1,7% do volume
160
3.7 14.8 26.9 9.11 24.12 6.2 22.3 7.5 19.6 31.7
da exposição líquida em ouro e dólar.
2001 2002
US$ comprado US$ vendido

59
Relatório de Estabilidade Financeira Novembro 2002

([SRVLomROtTXLGDGRVVHJPHQWRV
US$ bilhões
Exposição líquida em ouro e dólar
6 dos segmentos
5

4
No final de julho de 2002, a exposição líquida do
3
SFN concentrava-se nos segmentos de bancos
2
privados nacionais e bancos privados
1
estrangeiros, responsáveis, respectivamente, por
0
71,4% e 42,2% do total. O segmento de bancos
-1
públicos, que vinha aumentando sua posição
-2
3.7 14.8 26.9 9.11 24.12 6.2 22.3 7.5 19.6 31.7 vendida desde novembro de 2001, manteve esse
2001 2002
Público Privado nacional comportamento durante todo o semestre
Privado estrangeiro Não-bancário
seguinte, o que inverteu sua exposição líquida a
partir de março de 2002, de comprada para
6HJPHQWRSULYDGRHVWUDQJHLUR vendida. Dessa forma, o segmento teve
US$ bilhões
5 participação negativa de 13,7% no volume total
de exposição líquida do SFN ao final de julho de
4
2002. O sistema não-bancário praticamente não
3
apresentou exposição líquida ao longo do período
2 observado.

1
A redução da exposição líquida do SFN,
0 verificada a partir de maio de 2002, concentrou-
-1
se principalmente no segmento de bancos
3.7
2001
14.8 26.9 9.11 24.12 6.2
2002
22.3 7.5 19.6 31.7
privados estrangeiros. Nesse sentido, o segmento
Exposição líquida
PLA vendido
Exposição cambial
registrou contração de 31% no bimestre maio-
junho e de 47% em julho, atingindo US$1,9
bilhão de exposição líquida no final de julho.
6HJPHQWRSULYDGRQDFLRQDO
US$ bilhões
5
Para fins de exigência de capital, a exposição no
4 segmento de bancos estrangeiros é bastante
reduzida ao considerar a parcela de investimentos
3
estrangeiros como posição vendida (PLA
2 vendido). Esse resultado evidencia que as
1
instituições desse segmento procuram ajustar suas
posições compradas a essa parcela de patrimônio,
0
visando minimizar a exigência de capital para
-1 risco de taxa de câmbio.
3.7 14.8 26.9 9.11 24.12 6.2 22.3 7.5 19.6 31.7
2001 2002
Exposição líquida Exposição cambial
PLA vendido

60
Relatório de Estabilidade Financeira Novembro 2002

No segmento de bancos privados nacionais essa correlação não é


tão intensa, pois a existência de PLA vendido ocorre apenas em
poucas instituições.

Posições compradas e vendidas em ouro e dólar


dos segmentos
(YROXomRGDVSRVLo}HVFRPSUDGDHYHQGLGD

GRVVHJPHQWRV
A evolução das posições compradas e vendidas
US$ bilhões
dos segmentos mostrou comportamento uniforme
120
no primeiro semestre de 2002. Em julho, o
100
segmento de bancos privados nacionais foi o
80 principal responsável pela retração média de 10%
60 das posições comprada e vendida do SFN no mês.
40
Por sua vez, a volatilidade observada nessas
posições esteve associada, fundamentalmente, ao
20
comportamento registrado no segmento de
0
3.7 14.8 26.9 9.11 24.12 6.2 22.3 7.5 19.6 31.7
bancos privados estrangeiros em todo o período.
2001 2002
Público Privado nacional Privado estrangeiro
Posição comprada Posição vendida

2.5 Conclusão
A redução do nível da atividade da economia brasileira, reflexo da
deterioração da conjuntura externa e, mais recentemente, da
ansiedade decorrente da proximidade das eleições, condicionou a
evolução das operações realizadas no âmbito do SFN. Não obstante,
o sistema bancário, em processo de adaptação às novas exigências
do Banco Central do Brasil, vem demonstrando solidez e
rentabilidade adequadas.

Nesse contexto, manteve-se a trajetória de crescimento moderado


das operações de crédito, evidenciando, no que se refere à demanda,
o menor ritmo da atividade interna e a elevação das taxas de juros,
e, relativamente à oferta, a postura mais conservadora das
instituições financeiras para a concessão de recursos. As origens
dos recursos do sistema bancário foram representadas,
principalmente, por depósitos, em especial na modalidade a prazo.

61
Relatório de Estabilidade Financeira Novembro 2002

No que se refere ao Índice de Basiléia do sistema bancário, alcançou


15,6% em junho de 2002, comparativamente ao limite mínimo exigido
de 11%. Estavam desenquadradas, em junho, apenas três instituições
em funcionamento, representativas de 0,5% do PLE do SFN.

O Índice de Imobilização do sistema bancário totalizou 42,9% em


junho de 2002, inferior ao limite legal de 60%. Naquela data nove
instituições, entre as quais oito privadas e uma pública, essa última
representando o maior valor de desenquadramento, não atendiam o
limite estabelecido. A redução necessária do ativo permanente para
o enquadramento dessas instituições ao limite legal atingia cerca de
3% do total do ativo permanente do SFN.

O PL cresceu com mais intensidade que os ativos e passivos,


principalmente pela incorporação de lucros, aumentos de capital e
ajustes de exercícios anteriores decorrentes das novas práticas
contábeis para avaliação da carteira de títulos e valores mobiliários.

O resultado no primeiro semestre de 2002, originado, principalmente,


de receitas de intermediação financeira, de serviços e de participações
societárias, notadamente dos bancos estrangeiros, apresentou taxa
de crescimento superior a 88%, em relação ao patamar do semestre
antecedente. Esse resultado foi influenciado, ainda, pela
reestruturação das instituições que reduziram despesas
administrativas, com reflexos positivos no custo operacional e na
rentabilidade.

Quanto às exposições aos riscos de câmbio, de taxa de juros e de


crédito, apresentaram-se reduzidas, haja vista a constante vigilância
da autoridade monetária e o regramento e precauções exercidas pelas
próprias instituições financeiras em função da intensificação recente
da volatilidade no mercado financeiro.

62
Relatório de Estabilidade Financeira Novembro 2002

3 Sistema de pagamento

3.1 Introdução
Sistemas de pagamento e de liquidação eficientes e seguros têm
fundamental importância para a manutenção da estabilidade financeira,
na medida em que se constituem nos principais canais de transmissão
de eventuais choques sistêmicos. Essa é a razão pela qual o
gerenciamento dos riscos no âmbito desses sistemas tem ocupado a
agenda de discussão dos bancos centrais e dos principais organismos
financeiros internacionais, principalmente a partir do início dos anos 90.

Como resultado, os principais países da comunidade financeira


internacional desenvolveram, entre outras medidas, sistemas de
liquidação em tempo real, operação por operação, voltados
principalmente para transferências de fundos consideradas críticas,
seja pelo seu valor seja pela sua natureza, bem como têm procurado
observar as recomendações feitas por organismos internacionais.
Destacam-se, nesse sentido, os princípios fundamentais estabelecidos
no âmbito do Committee on Payment and Settlement Systems (CPSS)
do BIS e da International Organization of Securities Commissions
(Iosco), em iniciativas isoladas ou conjuntas, para sistemas de
pagamento sistemicamente importantes e para sistemas de liquidação
de operações com títulos e valores mobiliários.

Em linha com essas preocupações, o Banco Central do Brasil vem


promovendo a reforma do sistema de pagamentos brasileiro e, como
uma das principais medidas adotadas, implantou e passou a operar,
a partir de 22 de abril do corrente ano, o Sistema de Transferência
de Reservas (STR). Com isso o Brasil ingressou no grupo de países
em que transferências interbancárias de fundos podem ser liquidadas
em tempo real, em caráter irrevogável e incondicional.

63
Relatório de Estabilidade Financeira Novembro 2002

Esse fato, por si só, possibilita redução dos riscos de liquidação nas
operações interbancárias, com a conseqüente redução do risco
sistêmico, isto é, o risco de que a quebra de um banco provoque a
quebra em cadeia de outros bancos, no chamado “efeito dominó”.

A liquidação bruta em tempo real (LBTR) passou a ser utilizada


também nas operações com títulos públicos federais no Selic, o que
se tornou possível com a interconexão entre esse sistema e o STR.

A reforma do sistema de pagamentos, entretanto, vai além da


implantação do STR. A redução do risco sistêmico foi o objetivo
maior da reforma, onde foram fundamentais os aperfeiçoamentos
legais e regulamentares efetuados, principalmente, por intermédio
da Lei 10.214, de 27 de março de 2001, da Resolução 2.882, de 30
de agosto de 2001, e da Circular 3.057, de 31 de agosto de 2001,
que têm como parâmetros balizadores, sobretudo, os mencionados
princípios fundamentais.

Todas essas alterações têm o propósito de fortalecer o sistema


financeiro, dando, assim, continuidade à reestruturação iniciada em
1995 com o Programa de Estímulo à Reestruturação e ao
Fortalecimento do Sistema Financeiro Nacional (Proer) e
posteriormente com Programa de Incentivo à Redução da
Participação do Setor Público Estadual na Atividade Bancária
(Proes). No início do processo o foco esteve direcionado para o
fortalecimento das instituições financeiras, via fusões e transferências
de controle, e para a redução da presença do setor público na
atividade bancária. A reforma do sistema de pagamentos constitui,
assim, uma nova etapa do processo de reestruturação que, no
conjunto, procura reduzir a possibilidade de ocorrência de crise no
sistema financeiro e, conseqüentemente, no setor real da economia.

3.2 Aspectos legais e regulamentares


De acordo com a Lei 4.595 (Lei da Reforma do SFN), de 31 de
dezembro de 1964, que regula o funcionamento do sistema financeiro
brasileiro, o Conselho Monetário Nacional (CMN) é o órgão
formulador da política da moeda e do crédito, devendo atuar no

64
Relatório de Estabilidade Financeira Novembro 2002

sentido de promover o aperfeiçoamento das instituições e dos


instrumentos financeiros, com vistas à maior eficiência do sistema
de pagamentos e de mobilização de recursos. O Banco Central é o
principal órgão executor da política traçada pelo CMN, cumprindo-
lhe também, nos termos da mencionada lei, autorizar o funcionamento
e exercer a fiscalização das instituições financeiras, emitir moeda e
executar os serviços do meio circulante.

Também de acordo com o ordenamento jurídico em vigor, são


consideradas instituições financeiras as pessoas jurídicas, públicas
ou privadas, que tenham como atividade principal ou acessória a
coleta, a intermediação ou a aplicação de recursos financeiros próprios
ou de terceiros, em moeda nacional ou estrangeira, e a custódia de
valor de propriedade de terceiros. O Banco Central tem competência
legal para submeter as instituições financeiras aos regimes de
administração especial temporária e de intervenção, podendo,
também, decretar sua liquidação extrajudicial (Decreto-Lei 2.321,
de 25 de fevereiro de 1987, e Lei 6.024, de 13 de março de 1974).

A Lei 10.214, marco legal da reforma do sistema de pagamentos


brasileiro, tem, entre outras, as seguintes características:
a) define o sistema de pagamentos e os sistemas que o integram;
b) estabelece que o Banco Central definirá os critérios para que
determinados sistemas sejam considerados sistemicamente
importantes;
c) reconhece a compensação multilateral de obrigações no âmbito de
um sistema de compensação e de liquidação;
d) estabelece que, nos sistemas considerados sistemicamente
importantes, as respectivas câmaras e prestadores de serviços de
compensação e de liquidação devem atuar como contraparte
central e adotar mecanismos e salvaguardas que lhes possibilitem
assegurar a liquidação das operações cursadas;
e) estabelece a impenhorabilidade dos bens oferecidos em garantia
no âmbito dos sistemas de compensação e de liquidação;
f) dispõe que os regimes de insolvência civil, concordata, falência ou
liquidação extrajudicial, a que seja submetido qualquer participante,
não afetam o adimplemento de suas obrigações no âmbito de um
sistema de compensação e de liquidação, as quais serão ultimadas
e liquidadas na forma do regulamento desse sistema.

65
Relatório de Estabilidade Financeira Novembro 2002

A Resolução 2.882, do CMN, com vistas à adequação das câmaras


e dos prestadores de serviços de compensação e de liquidação aos
valores, princípios e regras aplicáveis aos sistemas de pagamento,
determina que o Banco Central deverá regulamentar, autorizar o
funcionamento e supervisionar os sistemas de compensação e de
liquidação, atividades que, no caso de sistemas de compensação e
de liquidação de operações com valores mobiliários, são
compartilhadas com a Comissão de Valores Mobiliários (CVM).
Adicionalmente, o Banco Central pode determinar regras
diferenciadas para as câmaras e os prestadores de serviço de
compensação e de liquidação que ele considerar sistemicamente
importantes.

O funcionamento dos sistemas de compensação e de liquidação é


disciplinado também por dispositivos estabelecidos pelo Banco
Central, principalmente, por intermédio da Circular 3.057, dentre
os quais destacam-se:
a) a obrigatoriedade de que os sistemas de liquidação considerados
sistemicamente importantes promovam a liquidação final dos
resultados neles apurados diretamente em contas mantidas no
Banco Central;
b) a definição dos sistemas de liquidação sistemicamente importantes,
assim considerados todos aqueles que liquidam operações com
títulos, valores mobiliários, outros ativos financeiros, inclusive
moeda estrangeira, e derivativos financeiros, bem como os sistemas
de transferência de fundos por intermédio dos quais sejam feitas
transferências de determinados valores, isto é, R$10 milhões por
operação ou R$5 bilhões de giro diário;
c) o prazo limite para diferimento da liquidação da operação de até:
1. o final do dia, no caso de sistema de transferência de fundos
considerado sistemicamente importante;
2. um dia útil, no caso de operações à vista com títulos e valores
mobiliários, exceto ações;
3. três dias úteis, no caso de operações à vista com ações
realizadas em bolsas de valores. O prazo limite de liquidação
para outras situações é estabelecido pelo Banco Central em
exame caso a caso;
d) a adoção de mecanismos e salvaguardas adequados para assegurar
a liquidação das obrigações, tais como: definição de limites

66
Relatório de Estabilidade Financeira Novembro 2002

operacionais, instituição de mecanismos de compartilhamento de


perdas entre os participantes, constituição de garantias pelos
participantes, constituição de fundo de garantia de liquidação,
contratação de seguro de garantia de liquidação e contratação de
linhas de crédito bancário;
e) a assunção de posição de parte contratante para fins de liquidação
das obrigações, realizadas por seu intermédio, ressalvado o risco
de emissor;
f) a adoção de mecanismos para o gerenciamento do risco
operacional, objetivando a continuidade ininterrupta dos negócios
realizados por seu intermédio;
g) a exigência de que a entidade operadora mantenha patrimônio
líquido compatível com os riscos inerentes aos sistemas de
liquidação que opere, observando limite mínimo de R$30 milhões
ou de R$5 milhões por sistema, conforme ele seja ou não
considerado sistemicamente importante.

Deve-se ressaltar ainda a Medida Provisória 2.200-2, de 24 de agosto


de 2001, que institui a Infra-estrutura de Chaves Públicas Brasileira
(ICP Brasil) para assegurar a autenticidade, a integridade e a validade
jurídica de documentos em forma eletrônica, das aplicações de
suporte e das aplicações habilitadas que utilizem certificados digitais,
bem como a realização de transações eletrônicas seguras.

3.3 Elementos da estabilidade no SPB


3.3.1 O papel do Banco Central do Brasil

O Banco Central exerce diversos papéis importantes no SPB, como


o de responsável pelo monitoramento em tempo real dos sistemas
de liquidação dos participantes do STR, das instituições bancárias e
das câmaras e dos prestadores de serviços de compensação e de
liquidação, bem como o papel de regulador e de supervisor desses
sistemas.

No papel de monitoramento, o Banco Central, além dos poderes


legais e regulamentares que lhe foram atribuídos, utiliza-se da
persuasão moral sobre os participantes do sistema, de forma a garantir

67
Relatório de Estabilidade Financeira Novembro 2002

a adequação aos padrões estabelecidos. Essas atividades englobam


arranjos formais e informais com o objetivo de garantir a estabilidade
do sistema, incluindo-se avaliações, testes tecnológicos periódicos
monitorados, principalmente nos mecanismos de gerenciamento de
riscos adotados pelas câmaras.

O Banco Central executa ainda as seguintes funções:


a) provimento de linhas de crédito intradia para garantir liquidez ao
sistema financeiro;
b) gerenciamento e operação do STR e do Selic. Esses sistemas
caracterizam-se por serem de liquidação na modalidade LBTR,
sendo o primeiro para transferência de fundos e o segundo para
liquidação de títulos públicos federais, em tempo real, dos quais
é o depositário central.

3.3.2 Sistemas de LBTR

A liquidação bruta em tempo real, operação por operação, possibilita


a redução do risco de liquidação nas operações interbancárias.
Especificamente, sistemas LBTR podem reduzir substancialmente a
duração das exposições de crédito e de liquidez, e, por apresentarem
menores riscos, tornam-se o meio adequado para liquidação de
transações críticas, em função do valor ou do prazo de liquidação.
Além disso, sistemas LBTR podem oferecer mecanismo eficaz para
redução do risco sistêmico, devido à substancial redução nas
exposições bancárias intradia, à impossibilidade de desfazimento de
pagamentos e à possibilidade de melhor distribuição dos pagamentos
ao longo do dia.

Pela estruturação do SPB, os sistemas gerenciados e operados pelo


Banco Central, STR e Selic, são do tipo LBTR. No caso brasileiro,
as contas das instituições bancárias para liquidação financeira dos
sistemas LBTR e dos sistemas de LDL 7 são as próprias contas
Reservas Bancárias, mantidas junto ao Banco Central. Essa
sistemática permite que todas as liquidações ocorram diretamente,

7/ Nesses sistemas a liquidação de obrigações ou de transferências entre os participantes ocorre sob a


forma líquida algum tempo após a realização da transação.

68
Relatório de Estabilidade Financeira Novembro 2002

em moeda do Banco Central. As liquidações só são efetivadas caso


existam fundos suficientes, pois o STR não permite saque a
descoberto a qualquer momento do dia na conta Reservas Bancárias.
Dessa forma, a exposição do Banco Central ao risco de liquidação e
de crédito foi reduzida de forma significativa.

Pagamentos cursados no STR Até o final de agosto de 2002, o STR já havia


R$ bilhões
Média diária
liquidado R$12,7 trilhões em pagamentos, com
2002
1/
Abr Mai Jun Jul Ago média diária, nos últimos 22 dias, de R$164,3
Liquidação financeira 93,2 122,1 129,8 142,9 164,3 bilhões. Estima-se que o montante de pagamentos
Fonte: Bacen/STR cursados no STR, nos primeiros doze meses de
1/ Desde o dia 22. funcionamento, totalizará aproximadamente
R$38,8 trilhões. Essa movimentação financeira
equivalerá a 31 vezes o PIB brasileiro ou a um PIB a cada nove dias
de operação.

3.3.3 Sistemas de pagamento e de liquidação

Os sistemas de liquidação operados pelas câmaras e pelos prestadores


de serviço de compensação e de liquidação que integram o SPB
podem ser classificados como sistemicamente importantes,
dependendo do volume e da natureza de seus negócios, conforme
mencionado no item 3.2.

Nos sistemas considerados sistemicamente importantes:


a) a liquidação financeira do resultado compensado das operações
aceitas deve ocorrer diretamente no Banco Central;
b) a liquidação pode ser diferida, em relação ao momento da aceitação
da operação:
1. até o final do dia, no caso de transferência de fundos;
2. por até um dia útil, no caso de operações à vista com títulos e
valores mobiliários, exceto ações;
3. por até três dias úteis, no caso de operações à vista com ações
realizadas em bolsa de valores.

Nesses sistemas, a câmara ou o prestador de serviços de compensação


e de liquidação deve assumir a posição de parte contratante para
fins de liquidação das obrigações, realizadas por seu intermédio,

69
Relatório de Estabilidade Financeira Novembro 2002

ressalvado o risco de emissor, e deve assegurar a liquidação das


obrigações relativas às operações, adotando mecanismos e
salvaguardas adequadas (limites operacionais, garantias, linhas de
crédito, fundos de liquidação, e programa de empréstimos de títulos,
entre outras). A câmara ou o prestador de serviço, ao assumir o
papel de contraparte central, gerencia os riscos de crédito e de
liquidação das operações cursadas em seus ambientes. Ao mesmo
tempo, elimina-se a possibilidade de unwinding (desfazer e
reprocessar a compensação) nos sistemas de compensação
multilateral diferida no tempo, um dos principais fatores de potencial
risco sistêmico, dado que o desfazimento de pagamentos de um
determinado inadimplente pode ter repercussão negativa sobre todos
os demais participantes.

A Lei 10.214 garante às câmaras sistemicamente importantes pleno


direito sobre as garantias nelas depositadas, podendo inclusive, caso
necessário, realizar esses ativos como forma de garantir a liquidação
das operações nelas cursadas, na hipótese de inadimplência de
qualquer participante.

As câmaras realizam, ao longo do dia, o gerenciamento de risco dos


participantes, confrontando o risco da carteira de seus ativos
negociados com a carteira dos ativos oferecidos como garantia dessas
operações. Como forma de assegurar que não haja exposição ao
risco sem prévia garantia, são realizados diversos tipos de testes,
inclusive de stress, para que os ativos depositados estejam em níveis
adequados mesmo para movimentos extremos de preços dos ativos
negociados. Os testes de stress aplicam-se aos ativos negociados e
aos depositados como garantia.

As câmaras e os prestadores de serviços de compensação e de


liquidação que foram autorizados pelo Banco Central promovem
liquidações diretamente no STR, por intermédio de suas respectivas
contas de liquidação, contas essas que devem apresentar saldo zero
ao fim do dia. Isso garante a liquidação final das operações nele
cursadas por meio de transferências entre contas Reservas Bancárias.
Por meio desse sistema o Banco Central monitora em tempo real os
saldos das contas Reservas Bancárias das instituições e das contas
de liquidação das câmaras de compensação autorizadas.

70
Relatório de Estabilidade Financeira Novembro 2002

Sistemas de transferência de fundos


Pode-se mensurar o poder de compensação, ou
Subsistemas Gerenciador Tipo Mercado de atuação seja, a economia de liquidez decorrente da
STR Banco Central LBTR Transferências interbancárias, compensação das operações, comparando-se o
inclusive em nome de clientes
valor liquidado em reservas com o giro das
1/
Compe Banco do Brasil LDL Cheque, documento de
crédito (DOC) e cobrança
operações que resultaram nesse montante
Tecban Mercado LDL Transferência eletrônica de liquidado (posição bruta subjacente ao resultado
fundos de varejo, na forma de
líquido). Esses valores foram apurados para os
ordem de crédito e de débito
meses de maio a agosto de 2002.
1/ Banco controlado pelo Governo Federal, gerenciador da Compe por
delegação do Banco Central do Brasil.
A combinação de câmaras sistemicamente
importantes, atuando como contrapartes centrais,
Sistemas de liquidação de ativos
adotando mecanismos adequados de controle de
Subsistemas Gerenciador Tipo Mercado de atuação riscos e a liquidação pelo valor líquido, foi a
Selic Banco Central LBTR Títulos públicos federais solução encontrada para o balanceamento
BM&F Mercado LDL Físico (à vista), futuro, existente entre a redução do risco e o custo de
Derivativos opções, swap e termo;
referenciados em taxas de
liquidez no SPB.
juros, câmbio, índice de
ações, cupom cambial,
preços de commodities , etc
BM&F Câmbio Mercado LDL Operações de câmbio
3.3.4 Depositário central de ativos
interbancário
CBLC Mercado LDL Títulos de renda variável;
Os processos de compensação e liquidação de
títulos públicos e privados
de renda fixa; derivativos de ativos desempenham papel importante na
ações manutenção da estabilidade e da eficiência do
Cetip Mercado LDL/ Títulos e valores mobiliários
sistema financeiro. No Brasil, o mercado de ativos
LBTR privados de renda fixa;
derivativos; títulos emitidos caracteriza-se pela desmaterialização total,
por estados e municípios; contando, atualmente, com três depositários de
títulos de emissão do
Tesouro Nacional não
ativos: o Selic; a Companhia Brasileira de
registrados no Selic Liquidação e Custódia (CBLC) e a Central de
Central Mercado LDL Títulos públicos e privados
Custódia e de Liquidação Financeira de Títulos
Clearing de renda fixa
(Cetip).

O Selic é um sistema informatizado, operado e


Poder de compensação - Cetip
R$ milhões gerenciado pelo Banco Central, que se destina à
Média diária 2002 custódia de títulos escriturais de emissão do
Mai Jun Jul Ago
Tesouro Nacional e do Banco Central, bem como
Volume financeiro contratado 6 534,9 6 601,4 5 588,4 5 433,9 ao registro e à liquidação de operações com os
Liquidação financeira 1 658,8 2 068,9 1 906,4 2 076,8
Poder de compensação (%) 75 69 66 62
referidos títulos. Ele desempenha também o papel
de depositário central de títulos públicos federais
Fonte: Cetip e Bacen/STR
no Brasil.

71
Relatório de Estabilidade Financeira Novembro 2002

Poder de compensação - Compe


R$ milhões A CBLC atua como depositária de ações de
Média diária 2002 companhias abertas, sendo que a estrutura de seus
Mai Jun Jul Ago
sistemas foi desenvolvida para prover o mesmo
1/
Volume financeiro contratado 14 861,6 14 527,7 14 253,3 12 954,9
tipo de serviço para outros instrumentos
Liquidação financeira 1 298,2 1 214,4 1 197,2 1 118,1
Poder de compensação (%) 91 92 92 91 financeiros como, por exemplo, certificados de
Fonte: Banco do Brasil e Bacen/STR
privatização, debêntures, certificados de
1/ Corresponde ao giro acumulado de DOC, cheque e cobrança. investimento, quotas de fundos imobiliários e
títulos de renda fixa.
Poder de compensação - BM&F Derivativos
R$ milhões
O mercado de atuação da Cetip é o de títulos e
Média diária 2002
Mai Jun Jul Ago de valores mobiliários privados de renda fixa,
Volume financeiro contratado
1/
2 155,8 4 111,2 4 201,5 4 538,9
além de derivativos, de títulos emitidos por
Liquidação financeira 230,5 575,1 614,9 959,6 estados e municípios e do estoque de papéis
Poder de compensação (%) 89 86 85 79
utilizados como moedas de privatização, de
Fonte: BM&F Derivativos e Bacen/STR
emissão do Tesouro Nacional.
1/ Inclui movimentação de garantias.

Nesses sistemas os registros são efetuados em


Poder de compensação - BM&F Câmbio
R$ milhões
contas abertas em nome dos participantes,
Média diária 2002 permitindo a transferência de titularidade por
Mai Jun Jul Ago
meio escritural. Esses sistemas de liquidação
Volume financeiro contratado 1 630,4 1 603,9 1 607,6 1 529,5
encontram-se ligados diretamente ao STR, sendo
Liquidação financeira 507,9 431,6 392,4 495,7
Poder de compensação (%) 69 73 76 68
que as movimentações com resultados financeiros
Fonte: BM&F Câmbio e Bacen/STR
afetam as contas Reservas Bancárias das
instituições liquidantes envolvidas, com adoção
do princípio de entrega contra pagamento (ECP).
Poder de compensação - CBLC
R$ milhões
Média diária 2002 Os sistemas que funcionam em LBTR, isto é, o
Mai Jun Jul Ago
Selic e a Cetip, no que se refere ao mercado
Volume financeiro contratado 747,5 725,9 584,0 744,5
primário de títulos privados, liquidam suas
Liquidação financeira 177,5 106,7 88,9 125,3
Poder de compensação (%) 76 85 85 83 operações observando o chamado modelo 1 de
Fonte: CBLC e Bacen/STR
ECP, conforme denominação utilizada em
relatórios do CPSS/BIS, cuja transferência final
dos títulos do vendedor para o comprador ocorre simultaneamente
à transferência final dos recursos do comprador para o vendedor,
operação por operação.

A Cetip, além do modelo 1 acima mencionado, utiliza também o


modelo 2 de ECP, cuja transferência de títulos é feita operação por
operação e a parte financeira é sob a forma diferida em valores

72
Relatório de Estabilidade Financeira Novembro 2002

líquidos. Os demais sistemas, em LDL, utilizam o Modelo 3 de ECP,


cujas transferências de títulos e de recursos são realizadas de forma
diferida por valores líquidos.

3.3.5 Câmara de câmbio

Uma inovação importante na reestruturação do SPB foi a criação


da câmara de câmbio. A BM&F Câmbio opera o sistema para
liquidação de operações de câmbio contratadas no mercado
interbancário, utilizando a compensação multilateral entre os
participantes. Apesar de seu regulamento abranger a possibilidade
de operar com outras moedas estrangeiras, a BM&F está operando
somente com dólares dos Estados Unidos. Por se tratar de uma
câmara sistemicamente importante, ela garante a certeza de
liquidação das operações cursadas em seu ambiente, reduzindo o
risco de liquidez. Para tanto, a câmara conta com limites
operacionais contratados, junto a seus bancos correspondentes,
para compra e venda de moeda estrangeira que lhe permite concluir
o ciclo de liquidação, mesmo na hipótese de inadimplência do
participante com a maior posição devedora.

Além disso, para limitar sua exposição aos riscos de liquidação, a


câmara estabelece limites operacionais para os participantes, bem
como exige garantias, geralmente na forma de depósitos de títulos
públicos federais, que, se necessário, são usadas para assegurar o
cumprimento das obrigações das operações de câmbio dos
participantes, inclusive para cobrir a volatilidade da taxa de câmbio.

A câmara adota o princípio de pagamento contra pagamento (PVP),


ou seja, as entregas da moeda nacional e da moeda estrangeira são
mutuamente condicionadas, evitando, assim, o risco de principal. A
liquidação em moeda nacional é efetivada na conta Reservas
Bancárias por meio do STR, enquanto a liquidação em moeda
estrangeira é efetivada em contas mantidas pelos participantes e pela
BM&F em bancos correspondentes em Nova Iorque. As
transferências de fundos de moeda estrangeira podem ser feitas entre
contas correntes de um mesmo banco correspondente (book
transfers), quando a câmara e o participante tiverem contas no mesmo

73
Relatório de Estabilidade Financeira Novembro 2002

banco, ou por intermédio do Fedwire8 , quando as transferências


envolverem bancos diferentes.

Tais características tornam a câmara de câmbio uma solução para o


dilema entre a segurança e a eficiência do mercado interbancário de
câmbio brasileiro, ao assegurar o princípio do pagamento contra
pagamento.

3.3.6 Risco operacional

Um dos principais riscos envolvidos em um sistema de pagamentos


moderno é o risco operacional. A principal característica do risco
operacional é a de que ele não é assumido em troca de uma
recompensa esperada, tal como ocorre com o risco de crédito e o
risco de mercado. Sua existência é intrínseca às atividades
corporativas, fato que afeta diretamente sua gestão. Ao mesmo
tempo, sua ocorrência pode depreciar a relação risco-retorno da
instituição, expondo-a a significantes perdas.

O risco operacional pode ser definido como o risco que deficiências


em sistemas de informação ou em controles internos possam resultar
em perdas inesperadas, como, por exemplo, aqueles relacionados
com erros humanos ou com falhas de equipamento, programas de
computadores ou sistemas de comunicação que são imprescindíveis
para a liquidação dos pagamentos, causando ou aumentando os riscos
de crédito ou de liquidez.

Preocupado em minimizar os riscos que o sistema possa enfrentar, o


Banco Central adotou diversas medidas para reduzir o risco operacional.

Entre elas, medidas de segurança para garantir a autenticação, a


integridade e a confidencialidade do sistema estão inseridas no fluxo
de dados do sistema. A autenticação procura garantir que o emitente
de cada mensagem seja inequivocamente identificado. A integridade é
a garantia de que as mensagens são recebidas exatamente como foram
enviadas. A confidencialidade assegura que somente os destinatários
poderão ter acesso aos conteúdos das mensagens enviadas.
8/ Sistema de transferência de fundos operado pelo Fed, com liquidação na modalidade LBTR.

74
Relatório de Estabilidade Financeira Novembro 2002

Foram adotados processos matemáticos de uso universal, que são


conhecidos como algoritmos de criptografia. Com o uso da
criptografia, verifica-se a integridade, a autenticação e a
confiabilidade dos dados constantes das ordens de transferências de
fundos emitidas pelos participantes. Adicionalmente, utiliza-se o
processo de assinatura digital nas mensagens para identificação de
maneira inequívoca do emissor, assegurando a autenticidade da
origem da ordem de transferência de fundos. Para esse fim, a correta
identificação dos participantes do SPB é feita por meio do Certificado
Digital, arquivo gerado por “Cartório Eletrônico”, devidamente
credenciado pelo Grupo Técnico de Segurança do SPB.

Outra medida é a realização periódica de testes operacionais


integrados dos sistemas entre o Banco Central, as câmaras e os
prestadores de serviços de compensação e de liquidação e as
instituições titulares da conta Reservas Bancárias. Alguns pré-
requisitos são exigidos para a realização desses testes:
a) a troca de mensagens deve ser efetuada por meio da Rede do
Sistema Financeiro Nacional (RSFN), sendo a conexão à RSFN
feita por meio de duas provedoras de serviços, com capacidade de
roteamento dinâmico entre elas;
b) as mensagens devem ser trocadas na formatação Extensible Markup
Language (XML), trafegando cifradas e assinadas digitalmente,
sendo reconhecidas pelas instituições destinatárias e vice-versa;
c) exige-se uma proteção de rede da instituição (via dispositivo
firewall) instalada e ativa.

A infra-estrutura de comunicação de dados do SPB baseia-se na


RSFN, criada com a finalidade de suportar o tráfego de mensagens
entre as instituições financeiras titulares de conta Reservas Bancárias,
as câmaras e os prestadores de serviços de compensação e de
liquidação, a Secretaria do Tesouro Nacional (STN) e o Banco
Central. Como forma de garantir segurança e confiabilidade
operacional, todo participante do SPB deve contratar os dois
provedores de serviço da RSFN (Empresa Brasileira de
Telecomunicações - Embratel e American Telephone and Telegraph
Corporation - AT&T), podendo sempre utilizar um deles no caso de
falha do outro.

75
Relatório de Estabilidade Financeira Novembro 2002

No caso dos sistemas gerenciados pelo Banco Central (STR e Selic),


além do contrato com os dois provedores de serviço da RSFN, foram
instalados centros de contingência em locais distintos para garantir
a continuidade do movimento diário em caso de falha nos centros
principais. Além disso, o SPB conta com seis centros de
monitoramento, distribuídos em cinco cidades diferentes.

Os participantes do SPB, no caso de falha de comunicação com o


Banco Central, contam com regimes de contingência, que utilizam
meio alternativo de comunicação (“internet”, fax ou telefone) com
sistemas próprios de chave de segurança e de gravação, no caso de
uso de telefone.

3.4 Liquidez intradia


A escolha balanceada entre segurança e eficiência, esta avaliada em
termos do custo de oportunidade da liquidez intradia, é muito discutida
na determinação do modelo de liquidação a ser escolhido em sistemas
de pagamentos. Nos dois extremos encontram-se os sistemas de
liquidação bruta em tempo real (LBTR) e de liquidação diferida líquida
(LDL). O sistema LBTR puro pode ser considerado como mais seguro,
mas ao mesmo tempo não se mostra muito eficiente, sendo geralmente
utilizado para transferências críticas, grandes valores e urgentes. Por
outro lado, o sistema LDL pode ser visto como o de maior eficiência,
porém menos seguro, sendo mais adequado para ambientes com maior
número de transações e de pequenos valores.

Em função disto, nos últimos anos tem-se desenvolvido sistemas


que aliam características positivas de ambos – LBTR e LDL – de
forma a se alcançar soluções mais adequadas em termos de risco e
eficiência. Tais sistemas denominados híbridos, geralmente,
necessitam de alterações de cunho institucional, legal e
regulamentar, que lhes assegurem a finalização definitiva dos
pagamentos antes mesmo da liquidação em contas mantidas pelos
participantes no banco central. Exemplos de sistemas híbridos são
o New CHIPS da New York Clearing House, o RTGS plus do Deutsche
Bundesbank e o PNS da Centrale des Règlements Interbancaires.

76
Relatório de Estabilidade Financeira Novembro 2002

Dessa forma, buscando oferecer fontes de liquidez intradia aos


sistemas LBTR, o Banco Central adotou no novo desenho do Sistema
de Pagamentos Brasileiro as seguintes possibilidades: concessão de
crédito intradia e livre movimentação intradia dos recursos relativos
aos recolhimentos compulsórios.

Adicionalmente, como a liquidez de um sistema depende


fundamentalmente da distribuição ou concentração de liquidez entre
os participantes, com relação a suas necessidades de pagamento, o
Banco Central adotou mecanismos de resolução de enfileiramento
de ordens de pagamento no STR. Tais mecanismos buscam evitar
situações de travamento (gridlock ) no sistema, quando o fato de
uma ordem de pagamento não podendo ser executada impede que
um número substancial de ordens de pagamento de outros
participantes possam ser executadas.

3.4.1 Mecanismo de resolução de filas

Dada a impossibilidade de saque a descoberto em Reservas Bancárias


ao longo do dia, foi necessário desenvolver formas de oferta de
liquidez intradia aos participantes do SPB, para que fosse evitado o
surgimento de racionamento de crédito no mercado intradia de
reservas bancárias. Uma solução adequada para essa questão foi dotar
o STR de mecanismo de enfileiramento central, observando-se
primeiramente níveis de preferência definidos para as ordens de
transferência de fundos emitidas (A, B, C ou D, em ordem
decrescente), e, em cada nível de preferência, pela ordem cronológica
de chegada na fila, cujo mecanismo de resolução segue o critério PEPS.

Ao longo de uma sessão diária e com vistas à maior eficiência do


sistema, o Banco Central pode ainda acionar rotinas de otimização de
filas, de forma a possibilitar a fluidez dos pagamentos no sistema. As
rotinas de otimização consistem em procedimentos (algoritmos) que
podem ser acionados ao longo de uma sessão diária, quando o Banco
Central julgar necessário. Nesse caso, a rotina de otimização poderá:
não observar o critério de ordenamento das filas de espera; envolver a
compensação de obrigações, sem prejuízo de o registro da liquidação
das ordens ser feito um a um; ou, ter como objetivo, dentre outros,

77
Relatório de Estabilidade Financeira Novembro 2002

liquidar o maior volume financeiro ou a maior quantidade possível


das ordens de transferência de fundos mantidas em filas de espera.

Inicialmente, o Banco Central adotará rotina de otimização que


envolve a compensação de obrigações, condicionada à estrita
observância do critério de ordenamento das filas de espera. Caso a
adoção dessa metodologia não se mostre suficiente para atender as
necessidades de liquidez do momento, o Banco Central poderá adotar
outra solução que contemple, isolada ou cumulativamente os demais
critérios mencionados no parágrafo anterior.

Vale ressaltar que, dado o nível de reservas compulsórias do sistema


e do montante de títulos públicos federais passíveis de ser utilizados
como lastro para o redesconto intradia, o método primeiro a entrar,
primeiro a sair (PEPS) e a rotina de otimização inicial baseada na
compensação dos saldos líquidos multilaterais 9 das ordens de
transferência pendentes sejam suficientes para assegurar a eficiência
do STR. A possibilidade de utilização de outras rotinas de otimização
representa “salvaguardas” adicionais ao STR, objetivando a
continuidade dos negócios no Sistema de Pagamentos Brasileiro.

3.4.2 Concessão de crédito intradia

Com a reestruturação do SPB, a forma de gerenciamento dos saldos


da conta Reservas Bancárias foi alterada, migrando do regime de
controle ex post, com crédito intradia implícito, sem limite e sem
colateral, por parte do Banco Central, para o regime de controle em
tempo real, sem possibilidade de saldos negativos, a qualquer
momento do dia.

Reconhecida a extinção do crédito implícito anteriormente existente,


avaliado em R$6 bilhões de saques a descoberto intradia no período
1998-2000, e visando garantir a fluidez dos pagamentos, foi criada
a modalidade de redesconto intradia de títulos públicos federais
custodiados no Selic. Tal operação consiste em operação de compra
e venda, com compromisso de revenda e recompra, respectivamente,

9/ Essa simulação é utilizada para verificar se a liquidação multilateral da fila resultaria em saldo a
descoberto na conta Reservas Bancárias.

78
Relatório de Estabilidade Financeira Novembro 2002

entre o Banco Central e a instituição financeira detentora de conta


Reservas Bancárias. Essas operações são realizadas a custo zero e
com a aplicação de deságio calculado pelo Banco Central sobre o
preço de mercado desses títulos.

As operações de redesconto intradia foram criadas para assegurar


maior grau de flexibilidade e facilidade operacional na gestão de
liquidez por parte das próprias instituições financeiras, ponto
essencial para um sistema financeiro estável. Um dos exemplos dessa
flexibilidade são as chamadas operações associadas. Tais operações
são extremamente eficientes no sentido de reduzir as necessidades
de liquidez e consistem, basicamente, de operações casadas e
liquidadas simultaneamente.

O potencial de títulos públicos federais passíveis de ser utilizados


em operações de redesconto totalizava R$316,7 bilhões, em 30 de
agosto de 2002.

Assim, como exemplo de operação associada, uma instituição pode


efetuar operação de compra, compromissada ou definitiva, de um
dado título, junto ao Selic, e associá-la a uma operação de venda do
título ao Banco Central, mediante solicitação de redesconto intradia.
De modo inverso, a instituição pode liquidar qualquer operação de
redesconto, com o produto da venda, compromissada ou definitiva,
no âmbito do Selic, do título redescontado. Essa facilidade tem
permitido às instituições financeiras a obtenção de financiamento
intradia para o carregamento de suas carteiras no mercado de títulos
públicos federais.

É ainda permitido que operações de redesconto intradia sejam


convertidas em operações de um dia útil10 . Qualquer instituição que
se veja impossibilitada de recomprar o título redescontado mediante
operação intradia, tem a faculdade de transformá-la em outra
operação de redesconto de um dia útil. No sistema, a operação
original é liquidada e, simultaneamente, é realizada uma nova
operação, com vencimento no dia útil seguinte. Caso a instituição
não converta a operação de redesconto intradia em outra de um dia

10/O redesconto intradia não resgatado é automaticamente convertido no encerramento do sistema


em redesconto de um dia útil.

79
Relatório de Estabilidade Financeira Novembro 2002

útil até determinado horário regulamentar fixado pelo Banco Central,


este promoverá essa conversão de forma automática. A operação de
um dia útil, em qualquer situação, estará sujeita a custo financeiro
equivalente à Taxa Selic acrescida de percentual definido por norma
do Banco Central, atualmente de 6% a.a.

3.4.3 Movimentação intradia dos recolhimentos


compulsórios

Outra maneira de minimizar o problema da restrição de liquidez é


permitir às instituições financeiras o uso dos recolhimentos
compulsórios e encaixes obrigatórios. Todas as formas de compulsórios
passaram a ser livremente movimentáveis ao longo do dia, para fins
de oferta de liquidez intradia, inclusive as modalidades que podem
ser cumpridas com títulos públicos federais, eis que o cumprimento
do compulsório somente é aferido pelos saldos de fim do dia.

Demanda intradia de recursos O potencial de recursos dos recolhimentos e


R$ bilhões
encaixes obrigatórios disponíveis como fonte de
Média diária 2002
Abr
1/
Mai Jun Jul Ago liquidez intradia era de R$45 bilhões, no final de
Compulsório sobre recursos à vista
2/
16,4 16,6 16,9 18,7 19,5
agosto de 2002.
Demais compulsórios 7,0 4,4 4,2 11,6 16,5
Redesconto intradia 26,5 33,6 31,6 29,2 31,7
Observe-se que a principal fonte de recursos intradia
1/ Desde o dia 22. tem sido as operações de redesconto intradia.
2/ Reservas bancárias no início do dia.

3.5 Conclusão
Com as medidas adotadas pelo Banco Central, o Sistema de
Pagamentos Brasileiro passou a observar as melhores práticas aceitas
internacionalmente como, por exemplo, os Princípios Fundamentais
para Sistemas Sistemicamente Importantes do BIS e as
Recomendações para Sistemas de Liquidação de Títulos da Iosco/
CPSS. Entre outros aspectos positivos, a adoção de um sistema de
pagamentos moderno e com maior controle do risco sistêmico retira do
setor público riscos tipicamente privados, fortalece o sistema financeiro
e contribui para a redução do risco do País, além de proporcionar
ganhos de eficiência para todos os setores da economia brasileira.

80
Relatório de Estabilidade Financeira Novembro 2002

4 Cenários de estresse

Os cenários de estresse são simulações para avaliar a adequação de


capital ao limite de Basiléia numa determinada data. Sua finalidade
é medir a capacidade de o PR das instituições bancárias integrantes
do SFN suportar variações no seu PLE provocadas por grandes
oscilações no risco de crédito, e nas taxas de câmbio e de juros
prefixados. O PLE é utilizado como uma medida de risco do sistema,
dado que no seu cálculo são levados em consideração os riscos e
suas proporções, de modo que a necessidade de capitalização das
instituições desenquadradas representaria quanto do risco não estaria
coberto por capital próprio.

Esses cenários não foram aplicados a todas as instituições em face


da não obrigatoriedade de remessa de informações inferiores a
valores mínimos fixados pelo Banco Central em função da
relevância do risco para a instituição e para o sistema, no caso de
exposições à taxa de câmbio e à taxa de juros, ou por não possuírem
carteira de crédito.

O ponto de partida refere-se aos dados ocorridos ao final de junho


de 2002. Para efeito da análise, foram construídos quatro cenários
de estresse considerando as oscilações nas taxas de juros prefixadas
e de câmbio e o rebaixamento na classificação de risco das operações
de crédito, isolados ou simultaneamente.

Para cada cenário, com base nos dados contábeis, da exposição


cambial e da exposição a taxas de juros prefixadas, foram calculados
os resultados e os respectivos efeitos tributários, e recalculados o
PR, o PLE e o Índice de Basiléia.

81
Relatório de Estabilidade Financeira Novembro 2002

Cenários de estresse
Quantidade de instituições financeiras e conglomerados
4.1 Universo analisado
Discriminação Câmbio ou juros-pré Crédito
1/ 2/ 1/ 2/
Foram selecionadas para aplicação dos cenários
A B A B
de estresse 137 instituições bancárias, exceto
Bancário
Público 12 5 17 0
cooperativas, que possuíam informações em
Privado 95 25 112 8 pelo menos um dos fatores analisados,
Nacional 48 22 68 2
representando 97,5% do PLE do SFN. Dessas,
Estrangeiro 47 3 44 6
107 instituições apresentam informações para
Total 107 30 129 8
o risco de mercado (juros e/ou câmbio) e 129
1/ Número de instituições incluídas no teste de estresse.
para risco de crédito.
2/ Número de instituições não incluídas no teste de estresse.

4.2 Estresse de risco de crédito


O estresse de risco de crédito tem como objetivo mensurar o impacto
da deterioração das carteiras de crédito das instituições financeiras
sobre os níveis de adequação de capital.

Para efeito desse estresse realiza-se o rebaixamento de dois


níveis nas classificações para todos os clientes da instituição
financeira, a partir dos dados do balancete – carteira classificada.
Da nova classificação, obtêm-se como resultado uma nova
necessidade de provisão. Desse resultado, subtrai-se a provisão
real a fim de se verificar o aumento de provisão necessário. Em
seguida, calcula-se o efeito do aumento de provisão sobre o
PLE e sobre o PR e, conseqüentemente, apura-se o impacto
sobre o Índice de Basiléia.

4.3 Estresse de taxa de juros e de


câmbio
O cenário escolhido foi o maior resultado entre a volatilidade
implícita nas opções (exclusivamente para a taxa de câmbio) e
cálculos baseados em dois modelos de risco, o Valor em Risco
(VaR) (modelo paramétrico) e o modelo híbrido (modelo não-
paramétrico).

82
Relatório de Estabilidade Financeira Novembro 2002

Metodologia Riskmetrics para Calcular Valor em Risco

A metodologia Riskmetrics (1994), desenvolvida pela instituição financeira J.P. MORGAN,


propõe que o valor em risco (VaR) seja calculado pela equação abaixo:

VaR t = VMTM × zα × ht × ∆t , onde

VMTM é o valor do ativo marcado a mercado na data t;


zα é o quantil da distribuição normal equivalente ao grau de confiança da estimativa do VaR;
ht é a volatilidade condicional na data t para o ativo;
∆ t é intervalo de tempo escolhido para o cálculo do VaR.

A principal hipótese subjacente é a de log-normalidade dos preços dos ativos1 .

Para estimar a volatilidade condicional, Riskmetrics recomenda a utilização do


Exponentially Weighted Moving Average (EWMA), conforme a equação abaixo:

ht = λht2−1 + (1 − λ )rt 2−1 , onde

rt é o retorno do ativo, para o período t, definido como rt = ln(Pt /P t - 1), onde Pt é o preço do
ativo em t;
λ é o fator de decaimento, tal que 0 < λ < 1.

A formulação do EWMA mais utilizada em séries financeiras admite a hipótese de que a


média dos retornos diários dos ativos é igual a zero2 .

Quanto ao fator de decaimento, Riskmetrics sugere λ = 0,94 para dados diários. Porém,
existem métodos para a escolha do λ ótimo, tais como a máxima verossimilhança e o princípio
dos mínimos quadrados. O valor de λ próximo de um reproduz o fato estilizado de a
volatilidade ser altamente persistente.

1/ Deve-se observar também que para se utilizar a raiz do tempo para converter de um horizonte de cálculo do VaR para outro, admite-
se que os preços são log-normalmente distribuídos e seguem um processo de Markov.
2/ Riskmetrics também apresenta a equação na qual admite que a média dos retornos é diferente de zero.

83
Relatório de Estabilidade Financeira Novembro 2002

Na previsão da volatilidade EWMA, a variância condicional dos retornos é composta por


dois termos. O primeiro [λht - 1] se constitui de um termo autorregressivo que expressa a
dependência temporal da variância dos retornos, fato estilizado presente nas séries financeiras.
O segundo [(1−λ) rt2−1 ] representa a contribuição da observação mais recente (inovação) para
a variância estimada.

O cálculo do VaR da carteira é dado por:

VaRt = VaR ' ρ VaR , onde

VaR é o vetor n x 1 contendo o VaR de cada ativo na carteira, e n é o número de instrumentos


no portfólio;
VaR’ é o vetor 1 x n, vetor transposto do vetor VaR;
ρ é a matriz n x n contendo as correlações entre os ativos que compõem a carteira

A correlação, no dia t, entre os ativos i e j é calculada pela seguinte fórmula:


h(i , j ),t
ρ(i, j ),t =
hi ,t h j ,t , onde

h(i,j),t denota a covariância condicional entre os ativos i e j na data t, a qual possui o mesmo
princípio de cálculo da variância condicional, e é obtida pela fórmula:

h(i , j ),t = λh(i , j), t−1 + (1 − λ) ri, t−1r j ,t−1

84
Relatório de Estabilidade Financeira Novembro 2002

Abordagem Híbrida para Calcular Valor em Risco

Nesse box é resumido o trabalho de Boudoukh et al., publicado na Resenha BM&F 122/
1998, utilizado para se calcular o valor em risco nos cenários de estresse de taxa de juros e
câmbio. Essa abordagem, conceituada modelo híbrido, consiste em reconhecer os trade-offs
existentes nos diferentes métodos empregados para cálculo de valor em risco e combinar essas
metodologias de modo a otimizar esse trade-off, buscando manter as respectivas vantagens.

As metodologias mais utilizadas e difundidas de cálculo de valor em risco consistem na


técnica de alisamento exponencial (exemplo clássico é o RiskMetrics) que emprega pesos
decrescentes a retornos passados, o que permite capturar o comportamento da volatilidade,
e a simulação histórica que evita fazer hipóteses sobre a distribuição dos retornos e utiliza os
percentuais empíricos da distribuição histórica dos retornos.

A abordagem híbrida combina essas duas abordagens. A abordagem de simulação histórica


usa pesos iguais para calcular a distribuição condicional. A proposta é de se usar pesos
decrescentes a dados passados e essas ponderações são calculadas de modo semelhante ao
do método de alisamento exponencial.

Ao fazer esta combinação duas propriedades indesejáveis dos métodos tradicionais são
deixadas de lado. De um lado, a abordagem do alisamento exponencial assume normalidade
multivariada, o que causa problemas em função das caudas pesadas que se encontram na
maioria dos ativos financeiros. A abordagem de simulação histórica evita hipóteses sobre a
distribuição mas assume pesos constantes para as observações da amostra. Esta última hipótese
é bastante irrealista uma vez que a informação contida nos retornos sobre a distribuição
atual diminui com o tempo.

Desta forma, a abordagem híbrida consiste em aplicar pesos decrescentes a retornos passados
e encontrar o percentual apropriado dessa distribuição empírica ponderada no tempo. Boudoukh
et al. testaram o modelo híbrido para a taxa de câmbio de marco alemão por dólar norte-
americano, preço spot do petróleo do tipo brent, índice Standard & Poors 500 e um índice
genérico de Brady Bonds (J.P. Morgan Brady Bond Index) e concluíram que os resultados
empíricos mostram que o modelo híbrido é superior aos outros dois, principalmente, no caso
de dados com caudas pesadas como os das séries de preços do petróleo e de Brady Bonds.

85
Relatório de Estabilidade Financeira Novembro 2002

Com relação ao VaR, utilizou-se, basicamente, a metodologia do


RiskMetrics11 , que trabalha com a hipótese de comportamento normal
para o logaritmo dos retornos das variáveis em análise. Já o modelo
híbrido12 , utiliza dados históricos mas não traça hipóteses quanto à
distribuição dos retornos das variáveis analisadas, e faz uso da técnica
de alisamentos exponenciais, combinando assim algumas características
do VaR do RiskMetrics e dos métodos de simulação histórica.
Juros de 12 meses
Pontos percentuais de variação

1,0
Para esses dois modelos, utilizou-se o nível de
0,8
confiança de 99,6% (o que equivale a um erro a
cada ano), e um período de manutenção de
0,6
posições de dez dias úteis. Quanto à técnica de
0,4
alisamento exponencial, que visa dar pesos
0,2
maiores às observações mais recentes, foram
0,0
utilizados diversos fatores de decaimento entre
-0,2
0,90 e 1,0 (que basicamente gera pesos iguais para
-0,4 todos os dias da série), observando que, para os
Jan Mai Ago Dez Abr Ago Dez Mar Jul Nov Mar Jun
1999 2000 2001 2002 cenários de redução de taxas, entretanto, foram
Cenários de estresse
Variações efetivamente ocorridas utilizados apenas decaimentos entre 0,94 e 0,90.
Em cada data em que o cálculo é realizado,
utiliza-se uma série de dados que compreende o primeiro dia útil de
janeiro de 1999 até o dia útil imediatamente anterior à data de cálculo,
e o decaimento exponencial escolhido é aquele que gera o maior
resultado. Os resultados obtidos por essa metodologia para o caso
das taxas de juros de prazo igual a doze meses são indicados no
gráfico.

Os cenários de alta consistiram em deslocamento da curva de juros


futura, traduzido na elevação de 13,4 p.p. na taxa de juros de doze
meses, de 26,21% para 39,61%, e no aumento da taxa de câmbio
em R$0,756/US$, de R$2,844/US$ para R$3,600/US$.

11/Ver box: Metodologia Riskmetrics para Calcular Valor em Risco.


12/A esse respeito, sugere-se consultar o artigo O Melhor dos Dois Mundos: Uma Abordagem Híbrida
Para Calcular Value-at-Risk, de autoria de Jacob Boudoukh, Mattheu Richardson e Robert
Whitelaw, publicado em Resenha BM&F 122, fevereiro a março de 1998. O resumo do artigo
encontra-se no box: Abordagem Híbrida para Calcular Valor em Risco.

86
Relatório de Estabilidade Financeira Novembro 2002

Os cenários de baixa consideraram o deslocamento da curva de juros


futura, com a redução da taxa de juros de doze meses em 8,8 p.p.,
de 26,21% para 17,41%; decréscimo da taxa de câmbio em R$0,319/
US$, variando de R$2,844/US$ para R$2,525/US$.

Para o PLE foram considerados os resultados das oscilações das


taxas apenas no valor de exigência para risco de mercado (juros +
câmbio), não se alterando o Ativo Ponderado pelo Risco (APR). No
PR foi considerado o efeito financeiro da variação cambial sobre a
Estresse - situação inicial
exposição líquida.
Em junho de 2002

Discriminação Faixas de Índice de Basiléia


Inferior a 11 Superior a 11 Total
4.4 Avaliação dos resultados
Bancos
Públicos dos cenários na adequação de
Quantidade de IF - 17 17
Índice de Basiléia (%)
Privados nacionais
- 16,7 16,7 capital ao limite de Basiléia
Quantidade de IF 3 67 70
Índice de Basiléia (%) 8,2 15,0 14,9 Situação inicial
Privados estrangeiros
Quantidade de IF 1 49 50
Índice de Basiléia (%) 10,6 15,2 15,1 As 137 instituições selecionadas possuíam, em
Total junho de 2002, PLE de R$84,4 bilhões e PR de
Quantidade de IF 4 133 137
Índice de Basiléia (%) 10,0 15,6 15,5
R$119,2 bilhões, com Índice de Basiléia de
15,5%. Naquele momento, quatro instituições
necessitavam de capital para reenquadramento
Estresse de crédito equivalente a 0,1% do PLE do grupo
Aumento do risco de crédito
selecionado.
Discriminação Faixas de Índice de Basiléia
Inferior a 11 Superior a 11 1/ Total
A

Bancos
Públicos
4.4.1 Cenários de estresse de
Quantidade de IF 3 14 - 17 alta
Índice de Basiléia (%) 8,1 19,1 0,0 13,0
Privados nacionais
Quantidade de IF 11 57 2 70 Aumento do risco de crédito
Índice de Basiléia (%) 10,5 13,3 39,6 12,5
Privados estrangeiros
Quantidade de IF 10 34 6 50
O aumento do risco de crédito reduziria o Índice
Índice de Basiléia (%) 9,3 14,8 23,3 13,4 de Basiléia para 12,9%, em função do acréscimo
Total do PLE, que passaria a totalizar R$84,5 bilhões,
Quantidade de IF 24 105 8 137
Índice de Basiléia (%) 9,1 15,1 25,7 12,9
e da contração do PR, para R$99,3 bilhões. O
maior impacto foi verificado no segmento das
1/ Números de Instituições não incluídas no teste de estresse. instituições públicas, cujo Índice de Basiléia que

87
Relatório de Estabilidade Financeira Novembro 2002

Estresse de alta de juros e câmbio


era de 16,7%, passaria para 13%. Nesse cenário,
Discriminação Faixas de Índice de Basiléia
1/
24 instituições necessitariam de aporte de capital
Inferior a 11 Superior a 11 A Total
na ordem de 6,3% do PLE do grupo selecionado.
Bancos
Públicos
Quantidade de IF 1 11 5 17
Índice de Basiléia (%) 10,0 16,8 61,0 14,3
Privados nacionais Aumento das taxas de juros e de
Quantidade de IF
Índice de Basiléia (%)
12
10,0
36
13,7 31,2
22
13,3
70
câmbio
Privados estrangeiros
Quantidade de IF 15 32 3 50
O Índice de Basiléia seria reduzido para 13,1%,
Índice de Basiléia (%) 9,6 14,8 26,5 11,6
o PR totalizaria R$119,4 bilhões e o PLE,
Total
Quantidade de IF 28 79 30 137 R$100,3 bilhões. O impacto seria similar em todos
Índice de Basiléia (%) 9,8 14,8 43,9 13,1 os segmentos. Nesse contexto, 28 instituições
1/ Números de Instituições não incluídas no teste de estresse. necessitariam de aporte de capital na ordem de
Estresse de alta de juros, câmbio e crédito 4,2% do PLE do grupo selecionado.
Discriminação Faixas de Índice de Basiléia
Inferior a 11 Superior a 11 Total

Bancos Aumento das taxas de juros e de


Públicos
Quantidade de IF 5 12 17
câmbio e do risco de crédito
Índice de Basiléia (%) 7,2 17,5 11,2
Privados nacionais
Quantidade de IF 23 47 70
O Índice de Basiléia seria reduzido para 10,9%.
Índice de Basiléia (%) 9,8 13,2 11,2 O PR e o PLE totalizariam R$99,3 bilhões e
Privados estrangeiros
Quantidade de IF 19 31 50
R$100,4 bilhões, respectivamente. Os maiores
Índice de Basiléia (%) 8,6 15,4 10,3 impactos ocorreriam nas instituições públicas e
Total nas privadas estrangeiras e exigiriam das 47
Quantidade de IF 47 90 137
Índice de Basiléia (%) 8,6 15,2 10,9
instituições desenquadradas uma capitalização de
14,2% do PLE do grupo selecionado.
Estresse de baixa de juros e câmbio

Discriminação Faixas de Índice de Basiléia


Inferior a 11 Superior a 11 A
1/
Total
4.4.2 Cenários de estresse de
Bancos
baixa
Públicos
Quantidade de IF 1 11 5 17
Índice de Basiléia (%) 10,4 17,7 61,0 14,9
Baixa das taxas de juros e de câmbio
Privados nacionais
Quantidade de IF 8 40 22 70
Índice de Basiléia (%) 10,0 14,4 31,2 14,3
O Índice de Basiléia seria reduzido para 14,1%.
Privados estrangeiros O PR somaria R$119,4 bilhões e o PLE, R$93,5
Quantidade de IF 12 35 3 50
bilhões. Os efeitos mais relevantes seriam
Índice de Basiléia (%) 10,5 14,2 26,5 12,7
identificados em instituições privadas
Total
Quantidade de IF 21 86 30 137 estrangeiras. Nesse cenário, a necessidade de
Índice de Basiléia (%) 10,4 15,2 43,9 14,1
capitalização das 21 instituições desenquadradas
1/ Números de Instituições não incluídas no teste de estresse. seria de 1,4% do PLE do grupo selecionado.

88
Relatório de Estabilidade Financeira Novembro 2002

4.5 Conclusão
Considerando as premissas estabelecidas, o sistema bancário, na
maioria dos cenários, manteria o nível de capitalização mínimo
exigido pela regulamentação em vigor, exceto em relação ao cenário
de aumento da taxa de juros, câmbio e do risco de crédito. Nesse
cenário, o sistema bancário apresentaria PR inferior ao PLE em
apenas 1%. As instituições desenquadradas, nos diferentes cenários,
não necessitariam de aporte de capital superior a 14,2% do PLE do
grupo selecionado. Dessa forma, o sistema bancário, na data,
encontrava-se com nível de capitalização suficiente para suportar as
variações nos riscos de crédito e/ou de mercado desenhadas nos
cenários.

89
Relatório de Estabilidade Financeira Novembro 2002

5 Normas relativas à regulação prudencial

5.1 Introdução
Após a implementação do Plano Real, a regulamentação prudencial
no Brasil experimentou grandes aperfeiçoamentos, motivados pela
reestruturação e consolidação da indústria bancária, pela necessidade
de introdução e desenvolvimento de instrumentos para quantificação
e monitoramento de riscos e pela busca de adequação a padrões
adotados internacionalmente.

Até então, as instituições financeiras, em cenário de elevadas taxas


de inflação, especializavam-se nas operações de curtíssimo prazo
(overnight) e obtinham grandes ganhos nas operações de floating e
arbitragem entre diferentes indexadores. Os bancos desenvolviam
instrumentos que lhes possibilitavam obter os benefícios decorrentes
das ineficiências proporcionadas pela inflação e permitiam a
maximização dos ganhos através da rapidez com que transferiam
dinheiro. Em síntese, as receitas geradas pelas distorções do regime
inflacionário eram tão importantes e em tal monta que remetiam a
plano secundário o resultado financeiro associado às atividades
inerentes ao segmento.

O Plano Real reduziu acentuadamente a parcela de ganhos


decorrentes do floating. Nesse contexto, as instituições financeiras
nacionais precisavam adaptar-se ao novo cenário: buscar massa
crítica para operar com spreads reduzidos, conter custos, e ganhar
economia de escala. Paralelamente às modificações observadas no
cenário econômico interno, o SFN também passou por um processo
de globalização e internacionalização. Desde o início do Plano Real,
mais de cem instituições financeiras foram autorizadas a entrar no
país ou a expandir as operações já existentes. Muitas dessas

91
Relatório de Estabilidade Financeira Novembro 2002

envolveram a aquisição do controle ou a participação no capital de


instituições existentes, contribuindo de forma decisiva para o
aumento do nível de competitividade, da oferta de produtos e serviços
e do grau de tecnologia, com nítidas vantagens para o público.
Aqueles bancos que não possuíam estrutura ou massa crítica para
fazer face ao novo cenário tiveram que buscar soluções alternativas.
Nesse contexto de reajustamento do setor financeiro, registrou-se
intenso movimento de fusões e incorporações, com algumas
instituições sendo submetidas a processo de liquidação.

O Banco Central, também impactado por essas mudanças,


implementou uma série de medidas para adequação da sua estrutura
de supervisão às novas necessidades de controle e de monitoramento
do mercado financeiro e de capitais, objetivando, principalmente,
melhor eficiência na administração dos riscos relacionados às
atividades desenvolvidas pelas instituições financeiras, assim como
a redução dos conflitos de interesses na gestão de capitais de
terceiros, a defesa dos direitos dos clientes e o estabelecimento de
princípios de transparência e boas práticas de governança
corporativa. Assinale-se que os principais normativos editados em
conformidade com esses objetivos, analisados a seguir, objetivaram,
além de ampliar a liberdade operacional do mercado financeiro,
incorporar as recomendações estabelecidas pelo Comitê de
Supervisão Bancária de Basiléia, pelo FMI e pelo Banco Mundial,
de forma a harmonizar os procedimentos de supervisão aplicáveis
às instituições integrantes do SFN aos padrões internacionalmente
recomendados, questão importante sob o ponto de vista da
competitividade da indústria bancária brasileira nos mercados
globalizados.

5.2 Principais normativos


Adoção do Acordo de Basiléia – Resolução 2.099/
1994

É considerado um marco regulatório sob o ponto de vista prudencial,


pois a abordagem de supervisão tendo o patrimônio líquido das
instituições como referência (enfoque baseado no passivo) foi

92
Relatório de Estabilidade Financeira Novembro 2002

substituída pelo estabelecimento de limites em função do nível de


risco de crédito gerado pelas operações realizadas pelas instituições
(ativos ponderados pelo risco). Por intermédio da Resolução 2.099,
de 17 de agosto de 1994, foram incorporadas no Brasil as
recomendações estabelecidas pelo Acordo de Basiléia, de 1988, que
determinaram às instituições financeiras em funcionamento no País
a manutenção de nível mínimo de capital, compatível com o grau de
risco de crédito de seus ativos. Essas regras consistem,
resumidamente, na atribuição de fatores de ponderação de risco –
0%, 20%, 50% e 100% – aos ativos, sendo que o capital mínimo
exigido é definido como um percentual aplicado sobre o resultado
dessa ponderação – atualmente, 11%, conforme determinou a
Circular 2.784, de 27 de novembro de 1997.

Por se tratar de metodologia padronizada e dirigida ao mercado


internacional, o Comitê de Supervisão Bancária de Basiléia, ao
divulgar o referido Acordo, adotou posição conservadora quando
da atribuição dos fatores de ponderação, deixando, ainda, a critério
dos órgãos de supervisão bancária de cada país a eventual exigência
de percentual superior aos 8% originais, como forma de atingir o
nível de segurança adequado. É importante ressaltar que, desde a
edição da referida Resolução 2.099, de 1994, várias foram as
alterações promovidas, em âmbito nacional e internacional, motivadas
pela evolução do mercado e dos instrumentos financeiros. Tais
modificações foram efetuadas ora por recomendações do Comitê de
Basiléia, ora pela necessidade de adaptação às práticas adotadas
internacionalmente e em função de critérios particulares vinculados
ao risco específico dos ativos avaliados.

Neste aspecto, merece destaque a revisão de ponto específico que


diz respeito aos ativos representados por créditos tributários, para
os quais este Banco Central havia estabelecido, originalmente, fator
de ponderação de 100%. Alguns fatos trouxeram questionamentos
sobre sua adequação, particularmente em decorrência da real
possibilidade da realização do ativo, tendo em vista que:
a) o art. 15 da Lei 9.065, de 20 de junho de 1995, estabelece que a
compensação de prejuízos fiscais está limitada a 30% do lucro real
de cada exercício;

93
Relatório de Estabilidade Financeira Novembro 2002

b) o art. 31 da Lei 9.249, de 26 de dezembro de 1995, dispõe que um


prejuízo fiscal não operacional só poderá ser compensado com
lucros da mesma natureza.

Objetivando a melhor adequação do fator de ponderação à


capacidade de realização dos ativos representados por créditos
tributários e tendo em conta sua representatividade nos balanços de
algumas instituições, o fator foi elevado para 300%, obedecido o
seguinte cronograma: 150% a partir de 31 de agosto de 1999; 200%
a partir de 31 de dezembro de 1999; 250% a partir de 30 de junho
de 2000; e 300% a partir de 31 de dezembro de 2000.

A Resolução 2.099/1994 estabeleceu ainda novas regras de acesso


para o SFN (constituição de novas instituições, fusões, incorporações
e transferências de controle), assim como medidas corretivas e
penalidades para as instituições que não observassem os padrões
mínimos de capital estabelecidos.

Central de Risco de Crédito – Resolução 2.390/1997

Outro avanço significativo constituiu-se na criação da Central de


Risco de Crédito, a partir da qual as instituições financeiras passaram
a identificar e informar os clientes, sejam pessoas físicas ou jurídicas,
que possuam saldo devedor igual ou superior a R$5.000,00 13 . O
objetivo da Central de Risco é disponibilizar dados relativos ao
montante das dívidas, coobrigações e, ainda, créditos baixados como
prejuízo, discriminados por tomador individual e por conglomerado.

A Central de Risco possibilitou melhor apuração da capacidade de


pagamento do cliente e, conseqüentemente, do risco de crédito global
da carteira de cada instituição. As informações oriundas da Central
de Risco são utilizadas no fortalecimento da atuação de supervisão
bancária, na análise e concentração de risco por devedor, na
mensuração do risco e avaliação da qualidade do portfólio, na
comparabilidade quanto à eficiência e consistência dos modelos de

13/O valor das operações informadas à Central de Risco foi estabelecido inicialmente em R$50 mil,
sendo paulatinamente reduzido até o valor atual.

94
Relatório de Estabilidade Financeira Novembro 2002

classificação e de concessão das operações de crédito utilizados pelas


instituições.

Atualmente, a Central de Risco está sendo reformada com vistas a


ampliar e aperfeiçoar o seu funcionamento, por meio da construção
de uma Central que atenda ao Banco Central, nas suas necessidades
de informação (função regulatória), e ao Sistema Financeiro na busca
pela diminuição da inadimplência e conseqüente aumento do volume
de crédito (função de bureau de crédito).

Operações de swaps – Requerimentos de capital


– Resolução 2.399/1997

Em 1997 foi implementada nova regulamentação estabelecendo


também requerimentos de capital para a cobertura do risco de crédito
das operações de swaps. Duas novas parcelas foram acrescentadas
ao cálculo do PLE:
a) custo de reposição, obtido mediante marcação a mercado, de
todos os contratos que apresentem resultados positivos no processo
de valorização e avaliação;
b) exposição potencial futura, obtida em função do prazo
remanescente da operação.

As operações de swaps são atualmente regulamentadas pela


Resolução 2.873/2001. Por sua versatilidade e baixo custo, este
instrumento é cada vez mais utilizado como um importante
instrumento de hedge pelos agentes econômicos. A permissão para
negociar contratos tendo como referenciais ações e mercadorias,
bem como índices de preços desses ativos, proporciona melhores
condições de controle de seus perfis de risco aos investidores
institucionais, empresas emissoras de ações e fundos de
investimentos.

Risco Cambial – Resolução 2.891/2001

A primeira norma referente ao controle das exposições em ouro e


moeda estrangeira constituiu-se na Resolução 2.606/1999, que

95
Relatório de Estabilidade Financeira Novembro 2002

limitou o descasamento total das exposições ativas e passivas em


moeda estrangeira e estabeleceu o critério de alocação de PLE
para a cobertura do risco de mercado decorrente da exposição à
variação da taxa de câmbio e do preço do ouro, introduzindo,
portanto, o conceito de exigência de patrimônio baseada no risco
de mercado.

O controle do risco cambial, assim, está baseado na aplicação de um


fator de risco sobre o nível de exposição (F, atualmente equivalente
a 100%) e pelo limite máximo de exposição (30%) em relação ao
PR. Este cálculo é aplicável a todas as instituições que possuam
exposição líquida em ouro e câmbio superior a 5% do seu capital.
Tais critérios sofreram diversas atualizações ao longo do tempo,
para ajustarem-se à volatilidade cambial, sendo a última efetuada no
ano de 2002, com a edição da Circular 3.156.

O critério de contabilização, em contas de compensação, para o valor


do patrimônio exigido para a cobertura do risco de taxa de câmbio e
de oscilação do preço do ouro tem por objetivo dar transparência às
informações com relação aos riscos assumidos pelas instituições.

Fundos de investimento – Resoluções 2.451/1997


e 2.486/1998

No tocante a fundos de investimentos, uma série de normativos foi


introduzida com o objetivo de reduzir os conflitos de interesse entre
a administração dos recursos integrantes do patrimônio das
administradoras e dos fundos por elas administrados.

Nesse sentido, a edição das Resoluções 2.451/1997 e 2.486/1998


estabeleceu a segregação das atividades de administração de
recursos de terceiros das demais atividades das instituições
autorizadas a funcionar pelo Banco Central (chinese wall) . O
principal objetivo foi o de conferir maior profissionalismo e
transparência na gestão de fundos, carteiras e clubes de
investimento sob administração de tais instituições, inclusive
mediante a designação de diretor ou sócio-gerente para responder,
exclusivamente, pela administração de tais recursos.

96
Relatório de Estabilidade Financeira Novembro 2002

Outra importante mudança diz respeito à questão da divulgação de


informações e transparência ao investidor (disclosure ) quanto aos
riscos e ao perfil do fundo. Posteriormente, o Banco Central também
reavaliou os critérios de classificação dos fundos de investimento
financeiro e dos fundos de aplicação em quotas de fundos de
investimento, com ênfase para os riscos de crédito e de mercado
referentes às respectivas carteiras, dando continuidade à busca pelo
aumento da transparência dos riscos envolvidos nessas modalidades
de aplicação para o público investidor.

Controles internos – Resolução 2.554/1998

A regulamentação relativa a controles internos trata não somente da


conformidade com as leis e normas aplicáveis à instituição, mas de
toda uma estrutura de divulgação de informação, de controle de
risco, de definição de responsabilidades, de políticas e procedimentos,
de forma a capacitar os diversos níveis de funções da instituição
para o adequado desempenho de suas atividades.

Dessa forma, a Resolução 2.554/1998 inclui a definição de funções,


desde a diretoria até o nível gerencial superior, as quais devem ter
a responsabilidade pela aprovação e revisão períodica das
estratégias globais do negócio e das políticas relevantes para a
instituição financeira. As instituições financeiras devem também
apresentar ao Banco Central o sistema de monitoramento e de
limites de exposição a riscos estabelecidos pela gerência mediante
a utilização de sistemas adequados de controles internos. A norma
aborda ainda questões relacionadas a padrões éticos, lavagem de
dinheiro e defesa do consumidor, entre outras.

Qualificação dos administradores – Resolução


2.645/1999

A adequação da regulamentação relativa a administradores de


instituições financeiras e demais instituições autorizadas a funcionar
pelo Banco Central teve por objetivo atualizar as regras então
vigentes à dinâmica das transformações em curso no SFN.

97
Relatório de Estabilidade Financeira Novembro 2002

Dentre as mudanças introduzidas com a edição da Resolução 2.645


destacou-se a atribuição à sociedade de condições para exercer maior
controle e responsabilidade na aceitação dos nomes propostos à
homologação, por meio da publicação de declaração de propósito
de novos candidatos a cargos no âmbito do sistema financeiro. O
projeto, além de guardar consonância com os procedimentos
internacionalmente utilizados, foi submetido à crítica da sociedade
por meio de edital de audiência pública, incorporando várias
sugestões recebidas, tanto por parte de instituições financeiras quanto
por entidades de classe e pelo público em geral.

Classificação das operações de crédito –


Resolução 2.682/1999

A edição da Resolução 2.682/1999 objetivou, fundamentalmente,


estabelecer procedimentos mais abrangentes para a classificação das
carteiras de crédito, proporcionando a constituição de provisões para
perdas em bases tecnicamente mais adequadas, considerando não
apenas variáveis relativas ao andamento da operação – atraso –,
mas também aquelas de caráter prospectivo tais como capacidade
de geração de fluxo de caixa do devedor, segmento econômico de
atuação, condições macroeconômicas, setoriais, etc.

Uma vez efetuada a análise de crédito de acordo com os


procedimentos descritos no parágrafo anterior, a operação deve ser
classificada em um dos nove níveis estabelecidos na regulamentação.
As classificações possíveis vão de AA (baixíssimo risco) a H (alto
risco ou default), estando cada faixa de ponderação associada a um
nível mínimo de provisionamento. Assim, por exemplo, a provisão
mínima para um crédito classificado como nível D é 10%. Da mesma
forma, créditos em atraso devem sofrer reclassificação observando
os parâmetros estabelecidos na norma que estabelecem, por exemplo,
que operações em atraso entre 15 e 30 dias devem ser classificadas,
no mínimo, como risco B.

Estas regras permitiram também maior nível de transparência, ao


exigir a divulgação de notas explicativas nas demonstrações
financeiras publicadas, evidenciando a classificação das operações

98
Relatório de Estabilidade Financeira Novembro 2002

de crédito por níveis de risco. Além disso, é importante destacar


que o Banco Central pode determinar provisionamento adicional em
função da responsabilidade do devedor junto ao SFN, tomando por
base informações disponíveis na Central de Risco de Crédito.

Cessão de crédito – Resolução 2.686/2000

A Resolução 2.493/1998 autorizou a realização da cessão de créditos


a entidades não pertencentes ao SFN e criou condições para que
companhias constituídas com características específicas, ao
adquirirem tais direitos de crédito, viabilizassem a securitização de
recebíveis. Com o intuito de expandir as possibilidades de
securitização, foi editada a Resolução 2.686/2000 que permitiu a
cessão de crédito com coobrigação.

Tal normativo possibilitou que créditos não recebidos possam


retornar, total ou parcialmente, à instituição cedente. Determinou
também modificações no critério de exigência de patrimônio das
instituições cedentes. O critério adotado é similar ao recomendado
internacionalmente, alertando para a necessidade de ser identificada,
com clareza, a transferência total ou parcial do risco associado aos
créditos cedidos. Desta forma, as instituições deverão manter capital
suficiente para cobrir a coobrigação assumida ou qualquer outro
risco resultante da operação de cessão de créditos.

A expansão das possibilidades de securitização tem vários efeitos


positivos no mercado financeiro, principalmente por permitir maior
pulverização do risco. O resultado esperado é maior eficiência na
alocação de crédito das operações e menor custo de empréstimos
para empresas e pessoas físicas.

Risco de mercado de taxas de juros – Resolução


2.692/2000

Dando continuidade ao processo de implementação dos critérios de


exigência de patrimônio para cobertura de riscos, foi editada a
Resolução 2.692/2000, relativa a risco de mercado de taxas de juros.

99
Relatório de Estabilidade Financeira Novembro 2002

A norma foi conseqüência de extensos estudos sobre risco decorrente


da exposição das operações sujeitas à variação das taxas de juros e
procurou sintetizar os principais fatores das diferentes abordagens
internacionais, tanto por parte do Comitê de Supervisão Bancária
de Basiléia, quanto dos principais reguladores da América Latina.

A metodologia foi desenvolvida a partir da soma das parcelas


representativas do VaR das operações referenciadas em taxa de juro.
A regulamentação incorpora aspectos dinâmicos ao processo de
alocação de PLE e se contrapõe à abordagem padrão estática até
então recomendada pelo Comitê de Supervisão Bancária de Basiléia,
a qual pode produzir uma exigência de capital excessiva em cenários
de normalidade e insuficiente em situações de estresse.

Participações e consolidação de demonstrações


financeiras – Resoluções 2.723/2000 e 2.743/2000

A regulamentação referente à consolidação de demonstrações


financeiras inclui participações societárias no país e no exterior. As
Resoluções 2.723 e 2.743, ambas de 2000, determinaram a
consolidação global de todas as empresas financeiras e não-
financeiras em que haja controle administrativo, financeiro ou
societário, e, também, a uniformização das políticas contábeis.

Somente a partir de um nível de transparência satisfatório, com


informações confiáveis, baseadas em bons princípios contábeis e em
sistemas de controle interno eficientes, é que reguladores,
participantes do mercado, acionistas, investidores e outros usuários
da informação serão capazes de avaliar com precisão a condição
financeira de determinada instituição, seu desempenho, o andamento
de seu negócio e os riscos relacionados às suas atividades.

A referida norma traz à tona a antiga discussão relativa à segregação


das atividades em dois grandes blocos – atividades financeiras e não-
financeiras – e tem como principal preocupação o risco de
contaminação. A partir de sua edição, tornou-se possível avaliar o
risco assumido pelas instituições financeiras em toda sua extensão,
uma vez que o risco incorrido pelas participações não-financeiras é

100
Relatório de Estabilidade Financeira Novembro 2002

capturado no momento da consolidação. Adicionalmente, a aplicação


de limites operacionais sobre bases consolidadas tornou mais oneroso
para a instituição financeira manter participações em empresas não-
financeiras.

Capital complementar – Resolução 2.837/2001

A constante expansão dos mercados e sistemas financeiros vem


exigindo que as instituições financeiras se modernizem e façam
uso de instrumentos cada vez mais dinâmicos e competitivos.
Nesse sentido, a Resolução 2.837/2001 representou importante
passo no aumento das oportunidades e do grau de flexibilidade
das instituições financeiras, ao melhor caracterizar alguns
instrumentos de nível II de PR – chamados instrumentos híbridos
de capital e as dívidas subordinadas – capazes de aumentar o
grau de capitalização e, conseqüentemente, os níveis de
alavancagem da instituição.

A Resolução 2.802/2000 havia introduzido o conceito de PR, para


fins de apuração dos limites operacionais das instituições financeiras
e demais instituições autorizadas a funcionar pelo Banco Central.
Foram definidos dois níveis de capital: o nível I, composto pelo
patrimônio líquido e reservas de capital e lucros; o nível II, composto
por dívidas subordinadas, instrumentos híbridos de capital e dívida,
reservas de reavaliação, contingência e outros. Deve-se observar
que a utilização do capital de nível II na composição do PR precisa
observar alguns limites: as reservas de reavaliação estão limitadas a
25% do PR; as dívidas subordinadas e ações preferenciais resgatáveis
estão limitadas a 50% do capital nível I e o valor total do capital de
nível II está limitado ao valor do capital de nível I.

Contudo, os agentes reguladores devem acompanhar


sistematicamente esses instrumentos, buscando sempre assegurar a
transparência e solidez do sistema financeiro como um todo. Assim
sendo, as normas procuram estabelecer as condições para que os
instrumentos emitidos pelas instituições sejam elegíveis para
composição do PR, as quais devem ser previamente verificadas pelo
Banco Central.

101
Relatório de Estabilidade Financeira Novembro 2002

Risco de liquidez – Resolução 2.804/2000

Complementando o conjunto de decisões tomadas nos últimos anos,


visando à adoção, por parte das instituições financeiras, de modelos
capazes de capturar os riscos decorrentes das operações praticadas
nos mercados financeiros e de capitais, foi editada, em 2000, a
Resolução 2.804, dispondo sobre o risco de liquidez.

Em síntese, o normativo estabelece procedimentos para a manutenção


de sistemas de controle que permitam o acompanhamento permanente
das posições assumidas nos mercados financeiro e de capitais, de
forma a evidenciar o risco de liquidez no desenvolvimento de suas
atividades.

A medida levou em consideração texto publicado em fevereiro de 2000


pelo Comitê de Supervisão Bancária de Basiléia, contendo orientações
para a correta administração desse tipo de risco, bem como os
procedimentos adotados em países com maior tradição nos mercados
financeiros, especialmente Estados Unidos, Reino Unido e Canadá.

Informações Financeiras Trimestrais (IFT) –


Circular 2.990/2000

A Circular 2.990/2000 criou a obrigatoriedade de elaboração e remessa


do documento IFT pelas instituições financeiras. A IFT é destinada ao
Banco Central, sistema financeiro, analistas de mercado e público em
geral, estando disponível na página do Banco Central na internet.

Sua elaboração foi motivada pelo reconhecimento da importância


de garantir ao mercado acesso tempestivo, de forma transparente e
racional, a informações contábeis relativas às atividades das
instituições financeiras, bem como informações sobre a estrutura de
ativos e passivos dessas organizações. Assim, além das informações
contábeis, a IFT incorpora informações financeiras, estatísticas e
gerenciais, representando um grande avanço no sentido de estabelecer
procedimentos padronizados para a divulgação de tais informações,
em linha com o esforço internacional de promover a disciplina de
mercado por meio da transparência.

102
Relatório de Estabilidade Financeira Novembro 2002

Estatísticas Bancárias Internacionais (EBI) -


Circular 3.047/2001

A obrigatoriedade de envio, trimestralmente, do documento EBI,


abrangendo os ativos e passivos internacionais dos bancos localizados
no Brasil, foi instituída pela Circular 3.047/2001. Os dados agregados
destinam-se originalmente ao atendimento de solicitação do BIS,
compreendendo dois conjuntos de informações que irão compor as
estatísticas dessa instituição sobre a atividade bancária internacional
– a Locational e a Consolidated International Bank Statistics,
regularmente publicadas em BIS Quarterly Review – International
Banking and Financial Market Developments.

Tais estatísticas, também disponibilizadas internamente,


compreendem, em resumo: identificação da contraparte por
residência e setor, composição das operações por moedas, principais
instrumentos, prazos remanescentes, e as que envolvem transferência
de risco entre países.

Internet banking – Resolução 2.817/2001

A disseminação da internet como instrumento para a realização de


movimentações financeiras tornou necessária a atuação do Banco
Central no sentido de avaliar o impacto do internet banking sobre o
Sistema Financeiro e de definir as mudanças normativas necessárias
para regulamentá-lo.

Dentro desse objetivo, foi editada a Resolução 2.817, que fixou


as condições para a abertura e movimentação de contas de
depósitos por meio eletrônico, bem como os requisitos mínimos
de segurança a serem observados pelas instituições que ofereçam
essa modalidade de relacionamento com sua clientela. A norma
propõe-se a coibir operações irregulares por meios eletrônicos,
disciplinando a abertura dessas contas e exigindo a observância
de padrões mínimos de transparência e segurança dos sistemas
utilizados, com a perfeita identificação dos seus responsáveis –
administradores e instituição.

103
Relatório de Estabilidade Financeira Novembro 2002

A norma determinou que as instituições financeiras possuam, no


âmbito de seus controles internos, setores responsáveis pelos sistemas
de segurança de informação. Além disso, o normativo estabelece
que as contas de depósito por meio eletrônico poderão receber
recursos oriundos exclusivamente de conta convencional de mesma
titularidade ou de resgates de investimentos que o correntista possua
na instituição mantenedora da conta eletrônica.

Adicionalmente, as instituições financeiras deverão, entre outras


exigências, ter seus sistemas de segurança e de prevenção contra os
crimes de lavagem de dinheiro certificados por entidade externa,
manter central de atendimento telefônico e assumir a responsabilidade
por prejuízos que venham a ser causados aos clientes por ineficiência
ou fragilidade da tecnologia oferecida.

Diversificação de risco por cliente – Resolução


2.844/2001

A Resolução 2.474, de 1998, estabeleceu parâmetros de


diversificação de risco, fixando em 25% do PLA o limite por cliente
a ser observado pelas instituições na contratação de operações de
crédito e de arrendamento mercantil e na prestação de garantias,
bem como em relação aos créditos decorrentes de operações com
derivativos.

Após a edição da Resolução 2.802/2000, que introduziu o conceito


de PR em substituição ao conceito de PLA, para fins de apuração de
limites operacionais, surgiu a necessidade da realização de novos
estudos sobre a matéria.

Tais estudos, que levaram em conta procedimentos adotados


internacionalmente, concluíram ser desejável, do ponto de vista
prudencial, o monitoramento mais preciso de grandes exposições,
envolvendo controles sobre exposições individuais que, embora não
ultrapassem o limite de 25%, são indicativas de concentração de risco.

Assim, foi editada, em junho de 2001, a Resolução 2.844 que


estabeleceu o limite de 600% do PR para a soma das Exposições

104
Relatório de Estabilidade Financeira Novembro 2002

Concentradas (EC), assim consideradas as exposições por cliente


ou por entidade emitente de títulos ou valores mobiliários que
representem 10% ou mais do PR.

Defesa dos direitos do cliente – Resoluções 2.878/


2001 e 2.892/2001

Na esfera do sistema financeiro internacional, a regulamentação


bancária alcança, em grande medida, questões relativas à proteção
aos clientes e aos usuários dos serviços financeiros. Leis e normas
recentes recomendam a preservação dos interesses desses clientes e
usuários e estabelecem alguns procedimentos a serem adotados em
sua defesa.

No Brasil, essa questão assumiu especial relevância nos últimos anos,


tornando necessário trazer, para o escopo da regulamentação de
competência do CMN e do Banco Central, os princípios inerentes à
legislação em vigor aplicáveis à defesa dos direitos dos consumidores.

Dessa forma, com o objetivo de regulamentar a matéria e assegurar


eqüidade nas relações de consumo no âmbito do SFN, foram editadas,
em 2001, as Resoluções 2.878 e 2.892, dispondo sobre os
procedimentos a serem observados pelas instituições financeiras no
seu relacionamento com clientes e usuários.

Entre os principais aspectos abordados pelas normas assinale-se a


questão da garantia de transparência nas relações contratuais de
prestação de serviços e resposta tempestiva às consultas,
reclamações e pedidos de informações; a vedação à contratação
de operações casadas e o atendimento aos portadores de
necessidades especiais.

Derivativos de crédito – Resolução 2.933/2002 e


Circular 3.106/2002

Os derivativos de crédito são instrumentos que permitem a realização


de operações onde há a transferência do risco de crédito para uma

105
Relatório de Estabilidade Financeira Novembro 2002

contraparte receptora, sem a efetiva transferência do ativo subjacente.


Tais instrumentos representam um importantíssimo instrumento de
mitigação de risco de crédito, de fundamental relevância no esforço
de redução do spread bancário.

No Brasil as operações com derivativos de crédito foram


regulamentadas por meio da Resolução 2.933/2002 e da Circular
3.106/2002. Estas normas definem quais instituições podem comprar
ou vender proteção contra risco de crédito, permitindo a negociação
de dois tipos de derivativos de crédito: os credit default swaps (swap
de crédito) e os total return swaps (swaps de taxa de retorno total).
Os contratos de swap de crédito prevêem a transferência do risco da
contraparte transferidora para a receptora, que assume a obrigação
de comprar os créditos referenciados ou, simplesmente, de pagar
determinado valor caso ocorra um evento de deterioração de crédito.
Enquanto isso, o swap de taxa de retorno total prevê que, para um
determinado ativo de referência, todo o fluxo de pagamentos dele
originado será repassado da contraparte transferidora para a
receptora, a qual devolverá à primeira o custo de captação dos
recursos aplicados no ativo de referência. Caso esse ativo não seja
honrado, toda a depreciação incorrida será paga pela contraparte
receptora à transferidora.

As mencionadas regras dão ainda outras providências, tais como


limitar a contratação dessas operações àquelas situações onde o
comprador de proteção detiver o crédito originador ou quando o
ativo subjacente for negociado regularmente em mercados
organizados, ou seja, quando seu preço for passível de verificação,
além de restringir o montante da transferência de risco ao valor do
ativo subjacente.

Critérios de contabilização – Marcação a


mercado – Circulares 3.068/2001 e 3.082/2002

Em novembro de 2001 foi editada a Circular 3.068, e, em janeiro de


2002, a Circular 3.082, estabelecendo, para as instituições financeiras em
geral, critérios recomendados no âmbito internacional para a avaliação
de títulos e valores mobiliários e instrumentos financeiros derivativos.

106
Relatório de Estabilidade Financeira Novembro 2002

Mais precisamente, estas normas buscam adequação ao


pronunciamento do International Accounting Standards Board
(IASB), editado em dezembro de 1998, e do FAS 115 e FAS 133 –
ambos promulgados pelo Financial Accounting Standards Board
(FASB), responsável pela divulgação de normas contábeis,
destacando-se, dentre as principais medidas adotadas, a possibilidade
de classificação dos títulos e valores mobiliários em categorias
distintas, de acordo com a intenção e a capacidade financeira para
negociá-los, ou não, os quais devem ser avaliados pelo valor de
mercado, ou mantidos em carteira até o vencimento.

De forma resumida, a Circular 3.068 estabeleceu três possíveis


categorias para a classificação dos títulos: títulos para negociação, títulos
disponíveis para venda e títulos mantidos até o vencimento. De forma
análoga, a Circular 3.082 incorporou os mesmos procedimentos para
os instrumentos financeiros derivativos (hedging accounts).

5.3 Aperfeiçoamento da regulamentação


prudencial
A dinâmica dos mercados financeiros torna necessário o
acompanhamento contínuo das mudanças em curso, de forma que
os supervisores e reguladores zelem permanentemente pela
manutenção de uma estrutura normativa e de supervisão adequada
às necessidades de controle e monitoramento do sistema financeiro,
defesa dos clientes, transparência e disciplina de mercado. São esses
princípios que norteiam os trabalhos desenvolvidos no Banco Central
nos últimos anos, assim como os projetos atualmente em curso.

Entre os principais projetos registrem-se a reforma nas regras de


acesso ao sistema financeiro, a regulamentação dos acordos de
compensação, o projeto de aprimoramento das regras para atuação
de auditores independentes, a participação nos estudos relativos ao
Novo Acordo de Basiléia, além dos projetos na área de gerenciamento
de riscos, com destaque para a reforma visando a expansão e
aprimoramento da Central de Risco de Crédito e a incorporação de
requerimentos de capital para cobertura do risco de mercado em
ações e commodities.

107
Relatório de Estabilidade Financeira Novembro 2002

Os projetos de reforma nas regras de acesso e regulamentação dos


acordos de compensação já foram submetidos à audiência pública e
deverão, uma vez encerrada a etapa de análise dos comentários
recebidos, ser submetidos à apreciação do CMN.

O Banco Central também se preocupa com a participação nos estudos


de revisão do Acordo de Capital de 1988, conduzido pelo Comitê
de Supervisão Bancária de Basiléia e que deverá representar a maior
mudança nos padrões internacionais de regulamentação prudencial
desde 1988. Dessa forma, foi constituído um grupo de trabalho
específico a fim de acompanhar as discussões relativas ao Novo
Acordo de Basiléia, elaborar propostas e avaliar o grau de adequação
brasileiro, bem como as conseqüências de sua adoção no mercado
doméstico.

108
Relatório de Estabilidade Financeira Novembro 2002

6 Estudos selecionados

Esse capítulo é destinado à publicação de trabalhos cujos temas


estejam correlacionados aos tratados no âmbito do Relatório. Nesse
número são apresentados três trabalhos:

a) Avaliação de Métodos de Cálculo de Exigência de Capital


para risco de Mercado de Carteiras de Ações no Brasil
Este trabalho examina quatro métodos de determinação da
exigência de capital para cobertura de risco de mercado de
instituições financeiras, decorrente da exposição em ações e seus
derivativos, excetuando-se o caso de opções. Para as simulações
foram montadas duas carteiras teóricas com ativos que compõem
o Ibovespa. Os métodos avaliados seguem as orientações do
Comitê de Basiléia, inserindo-se o primeiro método na abordagem
padronizada e os demais na de modelos proprietários, que utilizam
o conceito de Valor em Risco (VaR). A aferição dos métodos
segue metodologia indicada por Basiléia. Adicionalmente, para
os métodos baseados em VaR, é aplicado o teste de Kupiec para
proporção de falhas.

b) Densidades de Probabilidades Neutras ao Risco


Neste artigo discute-se a extração de expectativas de mercado
com respeito a preços de ativos financeiros nos mercados de
opções domésticos. Argumenta-se que a volatilidade implícita
extraída de opções tem maior conteúdo informacional do que
suas contrapartes econométricas e poderia ser utilizada em
modelos de construção de cenários de estresse. Ainda, é possível
extrair as densidades neutras ao risco desses mercados e pode-
se utilizar esta informação com o mesmo objetivo.

109
Relatório de Estabilidade Financeira Novembro 2002

c) Metodologia de Avaliação da Capacidade de Geração de


Resultados de Instituições Financeiras
A avaliação da capacidade de geração de resultados das
instituições financeiras é parte integrante da maioria dos modelos
de supervisão bancária e sistemas de classificação de instituições
utilizados pelas autoridades supervisoras. Este trabalho apresenta
uma metodologia de avaliação da capacidade de geração de
resultados de instituições financeiras criada com o objetivo de
auxiliar os supervisores bancários a obter informações sobre o
nível dos resultados, sua composição e sua sensibilidade a
variações nas condições do mercado, e a formular conclusões
baseadas nestas informações. A metodologia tem uma visão
essencialmente prospectiva, utilizando informações contábeis e
gerenciais sobre a performance passada como indicadores do que
pode ser esperado no futuro.

110
Relatório de Estabilidade Financeira Novembro 2002

Avaliação de Métodos de Cálculo de


Exigência de Capital para Risco de Mercado
de Carteiras de Ações no Brasil1

GUSTAVO S. ARAÚJO2
JOÃO MAURÍCIO S. MOREIRA2
RICARDO S. MAIA CLEMENTE2

1 Introdução

O Comitê da Basiléia vem elaborando um conjunto de


propostas que procura fornecer às autoridades de supervisão bancária
nacionais as diretrizes básicas para a regulamentação da exigência
de capital (EC) para cobertura do risco de mercado. As propostas
sugerem, para efeito de alocação de capital, duas alternativas de
cálculo: a abordagem padrão e a abordagem baseada em modelos
internos de gestão de risco3 .

A abordagem padrão apresenta algumas limitações


técnicas na metodologia de cálculo da exigência de capital, como,
por exemplo, sua natureza estática, o que a torna inadequada para
capturar alterações nos padrões de volatilidade e nas correlações
dos fatores de risco. Esta limitação é preocupante, principalmente
em se tratando de mercados sujeitos a oscilações consideráveis nos
preços de seus ativos. A EC baseada em tal método, ao ser calibrada
para determinado cenário, pode rapidamente se tornar excessiva,
caso haja uma redução nos níveis de volatilidade, ou insuficiente em
caso contrário.

A abordagem baseada em modelos internos (ou


proprietários) teve como ponto de partida o consenso de que as
instituições financeiras seriam capazes de elaborar modelos mais
apurados, por terem maior conhecimento das carteiras que

1/ Agradecemos aos colegas Alan Cosme R. da Silva e Flávio M. L. Traiano pela preciosa colaboração
na etapa inicial deste trabalho. Esta é uma versão preliminar do trabalho desenvolvido pelo Depep–
RJ. Quaisquer críticas e sugestões são bem-vindas e podem ser direcionadas para
gustavo.araujo@bcb.gov.br, joao.mauricio@bcb.gov.br, ou ricardo.maia@bcb.gov.br.
2/ Departamento de Pesquisa, Banco Central do Brasil.
3/ Modelos desenvolvidos pelas próprias instituições financeiras.

111
Relatório de Estabilidade Financeira Novembro 2002

administram. A gestão ativa destes modelos proporcionaria maior


eficiência na alocação de capital, em comparação à predefinição de
percentuais aplicados sobre os ativos das instituições e
indistintamente adotados por todo o sistema financeiro. Com a
finalidade de assegurar um grau mínimo de padronização,
transparência e consistência dos resultados obtidos para os diferentes
sistemas proprietários, foram estabelecidas algumas restrições
qualitativas e quantitativas, destacando-se entre estas últimas o
horizonte de investimento (holding period) de dez dias, o nível de
segurança de 99% e o multiplicador mínimo de três4 .

Este trabalho busca avaliar quatro métodos de


determinação da EC, na linha preconizada pelo Comitê de Basiléia,
para a cobertura de risco de mercado em ações no Brasil. O primeiro
método segue a abordagem padrão, enquanto os demais se inserem
na abordagem de modelos internos. Estes últimos utilizam o conceito
de VaR e apresentam a vantagem de se adaptarem a oscilações de
volatilidade.

2 Metodologia

2.1 Dados

Foram utilizadas neste estudo as séries de cotações do


5
Ibovespa e dos preços de dez das ações que hoje o compõem (ver
Tabela 1), registrados no fechamento do pregão, no período de
4.7.1994 a 31.7.2002, bem como a série de preços de fechamento
da Telebrás, no período de 4.7.1994 a 14.10.19996 . Algumas destas
ações não apresentavam a mesma liquidez no início do período em
estudo, não havendo cotações registradas para alguns dias da
amostra. Nestes casos, optou-se por repetir o valor da última cotação
registrada. Uma situação especial envolve o uso das séries da Telebrás
e da Telemar. A série relativa à empresa Telemar inicia-se somente a
partir de 29.9.1998, mas como esta ação tem participado da
composição do Ibovespa com o maior percentual dentre todos os
papéis7 , constituindo-se em ativo com grandes volumes negociados

4/ Ver BASLE COMMITTEE ON BANKING SUPERVISION (1996).


5/ Índice da Bolsa de Valores de São Paulo.
6/ As séries foram obtidas no Sistema de Informações Economáticas.
7/ 13,58% em 30.7.2002. Em segundo lugar, aparece a Petrobrás PN, com 9,16%.

112
Relatório de Estabilidade Financeira Novembro 2002

na bolsa desde então, não parece adequado excluí-la da análise. Em


situação análoga encontrava-se a Telebrás no período anterior. Assim,
nas carteiras construídas, a Telebrás ocupa o lugar da Telemar durante
o período em que esta ainda não era negociada8 .

Desta forma, cada série de cotações de ações apresenta


1.996 observações, o mesmo ocorrendo para a série composta
Telebrás/Telemar. Foram construídas duas carteiras contendo dez
ativos cada, de forma que o valor de cada carteira é constante ao
longo do período estudado, e a proporção wi do valor financeiro
com que cada ação participa em uma dada carteira é constante e
igual em módulo para todas as ações. Para ambas as carteiras,
procurou-se conferir um grau intermediário de diversificação,
considerando-se que tanto mais diversificada seria uma carteira
quanto maior o número de ações que a compõem, quanto menor a
concentração de ações de um mesmo setor e quanto mais expressiva
a participação de tais ações na composição do Ibovespa9 . Buscou-
se ainda variar a composição das carteiras apenas com relação à
existência de posições somente compradas ou posições compradas
e vendidas. As duas carteiras utilizadas encontram-se na Tabela 1.
Em ambas as carteiras atribuiu-se o valor de R$10.000,00 a cada
posição. Desta forma, a carteira I monta a R$100.000,00, uma vez
que todas as posições são compradas. Já a carteira II, por possuir
seis posições compradas e quatro vendidas, detém o montante de
R$20.000,00.

Vale observar que as posições em derivativos de ações,


excetuando-se o caso das opções, podem ser tratadas, no que tange
ao risco de mercado relativo ao fator de risco preço das ações, como
posições no mercado à vista. O risco de taxa de juros envolvido
deve ser tratado em separado no âmbito do fator de risco taxa de
juros.

8/ Na verdade, por razões metodológicas que serão explicitadas mais adiante, a Telebrás comporá as
carteiras até 29.9.1999, embora a Telemar já fosse negociada há um ano. Vale observar que o
Recibo de Carteira Selecionada de Ações Telebrás foi negociado com relativa liquidez até meados
do ano 2000.
9/ De acordo com CERETTA, P.S. e COSTA JR, N.C.A. (2000), a maior parte dos benefícios advindos
da diversificação seria obtida já com 12 ações. A partir de 18 ações, os benefícios adicionais são
praticamente irrelevantes.

113
Relatório de Estabilidade Financeira Novembro 2002

Tabela 1. Composição das Carteiras Utilizadas nas Avaliações de


Métodos de Exigência de Capital para Ações.

Carteira Composição
Carteira I (+)ARCZ6, (+)BBDC4, (+)CMIG4, (+)CSNA3, (+)ELET6, (+)INEP4, (+)ITAU4, (+)PETR4,
(+)RCTB41/TNLP4, (+)VALE5
Carteira II (-)ARCZ6, (+)BBDC4, (+)CMIG4, (-)CSNA3, (+)ELET6, (-)INEP4, (+)ITAU4, (-)PETR4,
(+)RCTB41/TNLP4, (+)VALE5

Obs.: O sinal de (+) ou (-) indica que a posição do ativo na carteira em questão é, respectivamente, comprada ou vendida.
Em ambas as carteiras o período considerado é de 19.10.1995 a 31.7.2002. A Telebrás comporá ambas as carteiras até
29.9.1999, a partir de quando será substituída pela Telemar. Os ativos acima identificados pelos respectivos códigos na
Bovespa referem-se às empresas: Aracruz, Bradesco, Cemig, CSN, Eletrobrás, Inepar, Itaú, Petrobrás, Telebrás/Telemar e
Vale do Rio Doce.

2.2 Cálculo das séries de retornos

O retorno de um ativo financeiro é dado por


Rt =  t p  −1 , onde pt é o preço de fechamento do ativo na data
p
 t −1 

t. Para os métodos paramétricos de cálculo do VaR, utilizamos a


p 
sua aproximação pela forma logarítmica, rt = ln  t p  , onde ln
 t −1 

denota o logaritmo neperiano. A opção por esta aproximação decorre


do melhor ajustamento à distribuição normal da série logarítmica
em comparação à série usual10 .

2.3 Métodos de determinação da exigência de capital

Foram avaliados quatro métodos de determinação da


exigência de capital (EC) para fazer face ao risco de mercado
incorrido por posições assumidas em ações. O primeiro método segue
a abordagem padronizada e se caracteriza por uma EC constante ao
longo do tempo. Os demais se inserem na abordagem de modelos
internos, conforme preconizado pelo Acordo de Basiléia, cuja EC é
diariamente calculada por:

 M 60  
ECt = máx  ∑ VaRt− k +1 ,VaRt 
 60 k =1   ,

onde M = 3 é o multiplicador da média de VaR nos últimos 60 dias.


Neste trabalho, optamos por implementar também M = 2 para todos os
10/Os métodos de VaR paramétricos aqui estudados utilizam a distribuição normal padronizada.

114
Relatório de Estabilidade Financeira Novembro 2002

métodos baseados na abordagem interna. VaRt é o valor em risco, em


unidades monetárias, associado a uma dada carteira de ações. O VaR é
calculado para um horizonte de dez dias. O nível de confiança exigido é
de 99%, ou seja, o nível pré-especificado para o VaR é de 1%.

2.3.1 Método da abordagem padronizada

Neste método são considerados dois tipos de risco:


específico e geral. O risco específico está associado a cada ação em
particular, independentemente do que ocorre com o mercado. É o
chamado risco diversificável ou não sistemático. O risco geral está
associado ao contexto do mercado, quando todos os papéis estão
sujeitos, em maior ou menor intensidade, à influência de fatores
macroeconômicos. É o chamado risco não diversificável ou
sistemático.

A base para o cálculo da exigência de capital para risco


específico é a soma dos módulos das posições compradas e vendidas.
No caso do risco geral, a base de cálculo é dada pelo módulo da
soma de posições compradas e vendidas. Sobre estas bases foram
aplicados, alternativamente, os percentuais de 8%, 12% e 15%. A
EC para cobertura de risco de mercado para ações é dada pela soma
desses dois montantes.

2.3.2 Método diagonal

Este método utiliza-se do VaR paramétrico, com base na


distribuição normal padronizada, calculado para o prazo de um dia
pela fórmula 11 :

VaRt1d = Vc ,t × zα % × σ t ,

onde Vc ,t é o valor financeiro da carteira em t; zα % é o quantil da


distribuição normal padronizada relativo ao percentil α e σ t é o
desvio padrão da carteira em t. O Comitê determina um percentil α

11/Vale observar que o uso desta fórmula impõe uma questão. O valor do VaR foi calculado com base
na série de retornos logarítmicos, por melhor se aproximarem estes da distribuição normal que os
retornos efetivos. Contudo, este valor será usado como estimativa de um quantil da distribuição
empírica de retornos efetivos. A alternativa seria trabalhar apenas com a série de retornos efetivos.
Optamos por manter os cálculos com base nos retornos logarítmicos.

115
Relatório de Estabilidade Financeira Novembro 2002

igual a 1%, de forma que zα % seja aproximadamente -2,33. O VaR


para o intervalo de dez dias em t é obtido por VaRt10d = VaRt1−d10 × 10 .

O cálculo de σ t pode se tornar complexo para um número


grande de ativos, na medida em que envolve o uso de uma matriz de
covariância (ou correlação) de ordem n (número de ativos que
compõem a carteira). Com efeito, para n ativos será necessário o
cálculo de n(n-1)/2 covariâncias e n variâncias, ou seja, n(n+1)/2
parâmetros. Uma tentativa de tornar mais prático este cálculo reside
na utilização dos betas das ações (β i ) para o cálculo da volatilidade
da carteira. Este método é também conhecido como modelo diagonal,
em que a variância da carteira é dada por12 :

n n
σ t2 = σ m2 ,t ∑ ∑ wi, t β i, t w j, t β j ,t + ∑i =1 wi2σ ε2i
N

i =1 j =1

onde σ m2 ,t é a variância do Ibovespa calculada para o dia t13 ; e σ ε2t é


a variância dos resíduos relativos às regressões dos retornos da ação
i sobre os retornos do Ibovespa, realizadas para a obtenção dos
respectivos betas. Com este método, o volume de cálculo é reduzido
sensivelmente, em relação à matriz de covariância tradicional, ao
supor que a movimentação conjunta das ações se origina de um único
fator comum, o mercado14 . Os β i,t foram calculados diariamente com
base em uma janela móvel de 252 dias úteis15 . Em vista isso, com
relação à descontinuidade das séries Telebrás e Telemar, a Telebrás
comporá as carteiras até 29.9.1999, embora a Telemar já fosse
negociada há um ano.

Adicionalmente, implementamos uma forma simplificada,


a qual teria sido sugerida pelo Comitê da Basiléia para refletir o
risco de mercado de carteiras bem diversificadas16 . Nesta
aproximação, é desprezado o termo ∑i =1 wi2σ ε2i , que tende a se tornar
N

irrelevante à medida que cresce a quantidade de títulos na carteira

12/Ver JORION, P. (1998), pp. 154-6.


( )
2
1 n
13/Estimada diariamente pela variância amostral st =
2
∑ rt − µ r
n −1 t=1
, onde µr é a média

dos retornos em uma amostra de 252 dias úteis.


14/O número de parâmetros estimados cai para 2n+1.
15/Vale lembrar que o β i corresponde ao coeficiente angular da regressão da série de retornos da ação
i sobre a série de retornos do Ibovespa.
16/Segundo JORION, P. (1998), p. 155.

116
Relatório de Estabilidade Financeira Novembro 2002

(ao gerar wi pequenos). Embora isto tenda a ocorrer no caso de


carteiras com posições apenas compradas, pode não se verificar para
carteiras com posições mistas, em que o valor total (líquido) da
carteira venha a ser pequeno em relação aos módulos dos montantes
de algumas posições, compradas ou vendidas, gerando pesos
expressivos para as respectivas ações.

2.3.3 Método baseado em alisamento exponencial

Este método segue a metodologia do RiskMetrics17 , onde


o VaR de cada ativo componente da carteira é obtido a partir da sua
volatilidade específica, a qual é calculada com base em alisamento
exponencial (EWMA18 ). Desta forma, o VaR para um dia de cada
ativo seria dado por19 :

VaR1i,dt = Vi ,t × exp ( zα % × hi, t ) ,

em que hi ,t é a volatilidade condicional diária dos retornos do ativo


i estimada para a data t, calculada por alisamento exponencial,
conforme a expressão:

hi,t = λhi2,t −1 + (1 − λ ) ri2,t −1 ,

onde λ é o fator de decaimento exponencial, para o qual foram


usados dois valores. O primeiro, 0,94, corresponde ao valor adotado
pelo RiskMetrics e tem sido amplamente utilizado na prática. O
segundo, 0,90, foi estimado por máxima verossimilhança com base
nos retornos do Ibovespa 20 . Buscou-se assim usar um λ que
espelhasse melhor o mercado acionário brasileiro. O VaR de um dia
para a carteira de ativos será então:
n n
VaR = 1d
t ∑ ∑VaR 1d
i ,t ×VaR1jd,t × ρ ij,t ,
i =1 j =1

17/Metodologia desenvolvida pelo banco norte-americano J. P. Morgan.


18/Exponentially Weighted Moving Average.
19/Aqui não há o mesmo problema encontrado no método diagonal. O uso da função exponencial na
fórmula permite a comparação direta entre as estimativas de VaR e os retornos efetivos, ao
transformar a estimativa do quantil da série de retornos logarítmicos na correspondente estimativa
do quantil da série de retornos efetivos.
20/Foram utilizados os retornos verificados entre 1.12.1994 e 31.7.2002.

117
Relatório de Estabilidade Financeira Novembro 2002

onde a correlação entre os ativos i e j na data t, ρ (i , j ),t , é obtida por


h(i , j ),t
ρ (i , j ),t = , tal que h(i , j ),t denota a covariância condicional entre
hi,t h j ,t

os ativos i e j na data t, obtida pela fórmula:

h(i , j ),t = λh(i , j ),t −1 + (1 − λ )ri, t−1r j,t −1

Estendendo o horizonte para dez dias, o VaR para o ativo


i será dado por:

(
i , t = Vi ,t −10 × exp zα % × hi , t −10 × 10
VaR10 d
)
O VaR da carteira é calculado pela expressão:

n n
VaRt10d = ∑∑ VaR 10 d
i, t × VaR10
j , t × ρ ij ,t
d

i =1 j =1

2.3.4 Método baseado em VaR histórico

Este modelo consiste simplesmente em utilizar um dado


quantil (aqui, referente ao percentil 1%) da distribuição empírica
dos retornos da carteira, em uma janela móvel de 252 dias úteis,
como a estimativa do VaR que comporá o cálculo da exigência de
capital. O retorno da carteira é dado por Rc = ∑ wi × ri , onde Rc
i

será referente a um dia ou dez dias conforme, os ri sejam diários ou


acumulados por dez dias. Para cada data t, os pesos ( wi ) que
ponderam os últimos 252 retornos são os verificados em t, a fim de
que a série de retornos reflita a composição da carteira naquela da21t.a
Cabe enfatizar que o VaR usado no cálculo da exigência de capital
para este método é dado por um quantil da distribuição empírica de
retornos efetivos acumulados por dez dias, e não pela multiplicação
do VaR de um dia por raiz de dez.

21/Neste trabalho, como a composição das carteiras não muda ao longo do tempo, tal aspecto se
verifica automaticamente.

118
Relatório de Estabilidade Financeira Novembro 2002

2.4 Aferição dos métodos

O Comitê da Basiléia argumenta que, em épocas de crise,


a liquidez de muitos ativos pode diminuir sensivelmente, dificultando
a alteração de posições em curtos períodos de tempo. Sugere,
portanto, um prazo de dez dias durante o qual as perdas poderiam
hipoteticamente se acumular. Assim, a comparação se dá entre os
retornos acumulados por dez dias pela carteira e a respectiva
exigência de capital. A aferição engloba o período de 19.10.1995 a
31.7.2002, totalizando 1.675 observações.

Para o método padronizado, verifica-se simplesmente o


número de vezes em que as perdas de uma dada carteira superam a
exigência de capital. A aferição dos métodos baseados em VaR segue
as diretrizes constantes de documento publicado pelo Comitê da
Basiléia especificamente com este propósito22 . Desta forma, a cada
três meses verifica-se a quantidade de vezes em que, nos últimos
250 dias úteis, o VaR diário é superado pela perda verificada no dia,
para cada carteira23 . O período aqui considerado originou 23 sub-
períodos de um ano. Basiléia estabelece um limite superior de quatro
falhas 24 em 250 observações. Um número de falhas entre 5 e 10
pode levar, caso não haja forte justificativa para o desvio, a um
aumento do multiplicador, que pode chegar a 4. Acima de 10 falhas,
a instituição avaliada pode ser intimada a adotar a abordagem
padronizada. Por fim, observa-se o número de vezes em que a perda
acumulada em dez dias excede a exigência de capital.

Vale observar que o procedimento de avaliação dos


modelos (backtesting) recomendado pelo Comitê gera um
comportamento inercial do padrão de falhas. Como as amostras têm
250 observações e são aferidas a cada três meses, a interseção entre
períodos adjacentes é de, aproximadamente, três quartos da amostra.
Adicionalmente, no caso da exigência de capital, o fato de se
considerar retornos acumulados de 10 dias úteis (holding period de

22/Supervisory Framework for the Use of “Backtesting” in Conjunction with the Internal Models
Approach to Market Risk Capital Requirements (1996).
23/Observe-se que, embora o VaR calculado para compor a exigência de capital seja baseado em um
período de dez dias, a aferição do modelo interno utilizado se dá com base no VaR diário.
24/Entende-se por falha a ocorrência de uma perda que exceda à estimativa de VaR para o dia em
questão. Neste trabalho, este conceito também será usado para uma perda acumulada de dez dias
que ultrapasse a respectiva exigência de capital.

119
Relatório de Estabilidade Financeira Novembro 2002

10 dias) pode gerar inércia do número de falhas constatado em um


dado período, na medida em que um retorno diário extremo tem
seus efeitos perpetuados pelos dez dias úteis subseqüentes25 .

Adicionalmente, buscou-se avaliar os métodos estudados


com o auxílio do teste de Kupiec26 para percentual de falhas, aplicado
às mesmas amostras de 250 dias, bem como ao período completo.
Neste trabalho, aplicou-se às séries de projeções de VaR o teste de
Kupiec para a proporção de falhas, com 5% de nível de significância.
Foram construídos intervalos para a não rejeição da hipótese nula
(H0) para a proporção empírica de vezes em que o VaR foi
ultrapassado (ver Tabela 2). Quando a proporção verificada esteve
contida nestes intervalos, H0 não foi rejeitada. Adicionalmente,
calculou-se o p-valor para as proporções encontradas. Dado o nível
de significância do teste, quanto maior for o p-valor em relação aos
5%, maior a margem de segurança para a não rejeição de H0.

Tabela 2. Intervalos de Não Rejeição da Hipótese Nula para a


Proporção Empírica e Número de Falhas com Base no Teste de
Kupiec com 5% de Nível de Significância.

Amostra Falhas Proporção


Período com 250 observações 0a6 0% a 2,46%

Período com 1.675 observações 10 a 25 0,56% a 1,51%

Obs.: A hipótese nula corresponde a admitir que a proporção de falhas verdadeira do modelo é igual ao nível de
segurança pré-especificado para o VaR (1%). Se a proporção empírica estiver contida no intervalo especificado, H0 não
poderá ser rejeitada a um nível de significância de 5% para o teste.

3 Resultados

3.1 Método padronizado

O método padrão mostrou-se ineficiente para uma EC


calculada como 8% do montante da carteira I para cada risco (16%
no total), uma vez que acumulou 35 falhas da exigência de capital
em todo o período estudado (Tabela 4). Com relação ao
comportamento inercial do número de falhas, vale registrar que a
grande maioria das ocorrências se verificou em 9 subperíodos

25/Pois a cada dia se calcula um retorno de dez dias, acumulando-se os últimos dez retornos diários.
26/KUPIEC, P. (1995).

120
Relatório de Estabilidade Financeira Novembro 2002

contíguos de 250 dias, os quais englobam as crises internacionais da


Ásia e da Rússia. Com efeito, 11 falhas foram verificadas no curto
período de pouco mais de duas semanas (27.10.1997 a 12.11.1997),
em que a Bovespa sofreu fortes quedas27 . Da mesma forma, 17 falhas
ocorreram em menos de um mês (12.8.1998 a 10.9.1998)28 . Dado o
fraquíssimo resultado, calculou-se a EC com os percentuais
alternativos de 12% e 15% do montante da carteira 29 . Foram
constatadas três e zero falhas, respectivamente30 .

Como todas as correlações dos ativos considerados neste


trabalho são positivas, as carteiras mistas tendem a ter seu risco
reduzido. O modelo padrão reflete apenas em parte esta redução de
risco, uma vez que o risco específico mantém como base de cálculo
a soma dos módulos das posições. Isto explica em boa medida porque
para a carteira II já não há falhas com 8% (Tabela 5).

3.2 Método diagonal

3.2.1 Método diagonal simplificado

O VaR diário calculado com base no método diagonal


simplificado para a carteira I apresenta mais de quatro falhas em
nove subperíodos. As falhas de VaR concentram-se no período de
14.7.1997 a 30.10.1997 (11 falhas) e o teste de Kupiec refuta a
hipótese nula para oito subperíodos adjacentes, sendo que os piores
resultados contêm aquelas datas. Para a amostra completa, o teste
de Kupiec também rejeita a hipótese nula com 31 falhas, seis acima
do limite máximo definido (Tabela 3). As falhas da exigência de
capital foram duas e zero para o M igual a 2 e 3, respectivamente
(Tabela 4).

Para a carteira II, o método diagonal simplificado mostra


um fraquíssimo desempenho, com mais de quatro falhas do VaR em

27/Por exemplo, em 27.10.1997 o Ibovespa caiu 14,98%, enquanto as ações de Bradesco, Eletrobrás
e Petrobrás caíram 13,15%, 17,36% e 18,68%, respectivamente.
28/Por exemplo, em 12.8.1998 as ações de Eletrobrás e CSN caíram 10,20% e 14,35%,
respectivamente. E em 27.8.1998 as ações de Cemig, Eletrobrás e Petrobrás caíram 10,93%, 13,64%
e 13,10%, respectivamente.
29/Para cada risco, ou seja, 24% e 30% no total, respectivamente.
30/15% foi o primeiro percentual arredondado para o qual não ocorreram falhas da EC.

121
Relatório de Estabilidade Financeira Novembro 2002

21 subperíodos. O mesmo ocorre com relação ao teste de Kupiec.


Para a amostra completa, constataram-se 108 falhas (6,45%),
excedendo sobremaneira o limite máximo do teste de Kupiec (Tabela
3). Este resultado indica que o método simplificado apresenta
problemas quando aplicado a carteiras com posições mistas, quando
podem ocorrer pesos expressivos para algumas ações.

Tabela 3. Resumo dos Resultados do Teste Kupiec para os Métodos


Diagonal, Baseado em Alisamento Exponencial e Histórico - Amostra
Completa.

Carteira I Carteira II

Métodos Falhas % p-valor Falhas % p-valor


Diagonal Simplificado
31 1,85 0,00176 108 6,45 0,00000
Completo
27 1,61 0,02078 25 1,49 0,05937
Baseado em λ = 0,94
36 2,15 0,00004 29 1,73 0,00643
Alisamento
Exponencial λ = 0,90
41 2,45 0,00000 35 2,09 0,00009
Histórico
23 1,37 0,14634 24 1,43 0,09455

Obs. A coluna "p-valor" se refere ao teste de Kupiec com nível de significância de 5%, aplicado apenas ao VaR de 1%.
Logo, p-valores iguais ou maiores que 0,05 indicam que o método de projeção do VaR passou no teste, ou seja, que a
hipótese nula de que a verdadeira proporção de falhas é igual ao nível pré-especificado para o VaR (1%) não pode ser
rejeitada ao nível de significância de 5% do teste. A proporção de falhas é calculada para a amostra completa de 1.675
dias.

Tabela 4. Avaliação das Falhas para a Exigência de Capital (EC) para


os Métodos Padrão, Diagonal, de Alisamento Exponencial e
Histórico para a Carteira I.

Diferenças entre o EC e Diferenças entre o EC e as


as Perdas Superiores à Perdas Inferiores à EC (%)
EC (%)
Métodos Falhas Média Mínimo Máximo Média Mínimo Máximo
Padrão EC = 8% 35 4,14% 0,00% 13,71% 11,71% 0,14% 15,98%
EC = 12% 3 3,03% 1,34% 5,71% 19,03% 0,16% 23,98%
EC = 15% 0 0,00% 0,00% 0,00% 24,94% 0,29% 29,98%
Diagonal Simplificado M = 2
5 2,32% 0,15% 5,51% 26,36% 0,47% 52,33%
M=3 0 0,00% 0,00% 0,00% 41,76% 4,77% 78,53%
Completo M=2 2 3,47% 3,08% 3,86% 28,16% 0,86% 54,53%
M=3 0 0,00% 0,00% 0,00% 44,64% 7,24% 81,84%
Baseado em λ = 0,94 M=2 0 0,00% 0,00% 0,00% 20,81% 0,83% 54,68%
Alisamento
Exponencial M=3 0 0,00% 0,00% 0,00% 33,74% 11,43% 82,11%
λ = 0,90 M=2 0 0,00% 0,00% 0,00% 20,26% 1,04% 55,96%
M=3 0 0,00% 0,00% 0,00% 32,89% 11,27% 84,03%
Histórico M=2 8 3,25% 0,07% 9,10% 26,16% 0,23% 48,12%
M=3 1 0,62% 0,62% 0,62% 41,31% 0,74% 72,19%
Obs.: A diferença entre a EC e a respectiva perda é calculada como percentual do montante de R$100.000,00 da carteira
I.

122
Relatório de Estabilidade Financeira Novembro 2002

A exigência de capital apresenta sete falhas para M=2 e


nenhuma para M=3, o que indica que as deficiências de um dado
modelo de VaR podem ser encobertas por um multiplicador
expressivo, quando se considera apenas as falhas da EC (Tabela 5).

TABELA 5. Avaliação das Falhas para a Exigência de Capital (EC)


para os Métodos Padrão, Diagonal, de Alisamento Exponencial e
Histórico para a Carteira II.
Diferenças entre o EC e Diferenças entre o EC e as
as Perdas Superiores à Perdas Inferiores à EC (%)
EC (%)

Métodos Falhas Média Mínimo Máximo Média Mínimo Máximo


Padrão EC = 8% 0 0,00% 0,00% 0,00% 37,64% 2,44% 47,97%
EC = 12% 0 0,00% 0,00% 0,00% 61,64% 26,44% 71,97%
EC = 15% 0 0,00% 0,00% 0,00% 79,64% 44,44% 89,97%
Diagonal Simplificado M = 2
8 5,44% 0,71% 9,60% 41,56% 0,37% 89,12%
M=3 0 0,00% 0,00% 0,00% 66,81% 4,47% 133,82%
Completo M=2 0 0,00% 0,00% 0,00% 65,15% 11,28% 118,19%
M=3 0 0,00% 0,00% 0,00% 102,90% 37,28% 177,37%
Baseado em λ = 0,94 M=2 0 0,00% 0,00% 0,00% 51,56% 15,59% 114,37%
Alisamento
Exponencial M=3 0 0,00% 0,00% 0,00% 82,52% 39,71% 173,06%
λ = 0,90 M=2 0 0,00% 0,00% 0,00% 51,19% 13,48% 115,91%
M=3 0 0,00% 0,00% 0,00% 81,94% 41,20% 176,68%
Histórico M=2 0 0,00% 0,00% 0,00% 47,07% 5,13% 100,23%
M=3 0 0,00% 0,00% 0,00% 75,79% 23,68% 150,35%

Obs.: A diferença entre a EC e a respectiva perda é calculada como percentual do montante de R$20.000,00 da carteira II.

3.2.2 Método diagonal completo

O desempenho do método diagonal completo foi


significativamente superior ao da sua forma simplificada. Na carteira
I, o número de subperíodos em que ocorreram mais de quatro falhas
caiu de nove para oito, e o número total de falhas caiu de 31 para
27, apenas duas acima do limite máximo permitido por Kupiec 31 .
Quanto aos subperíodos, o teste de Kupiec rejeitou H0 oito vezes.
Com relação à EC, o desempenho foi idêntico ao método
simplificado, com duas falhas para M=2 e zero falhas para M=3.

Para a carteira II, constatou-se uma acentuada queda no


número de falhas. Em sete sub-períodos houve mais de quatro falhas.
Ocorreram 25 falhas para a amostra completa32 , de forma que H0
31/Dez falhas de VaR concentram-se no período de 14.7.1997 a 30.10.1997.
32/Dez falhas ocorreram no período de 15.7.1997 a 30.10.1997.

123
Relatório de Estabilidade Financeira Novembro 2002

não pôde ser rejeitada pelo teste de Kupiec. Para os subperíodos, o


método não passou no teste de Kupiec apenas quatro vezes. Com
relação à EC, o desempenho foi nitidamente superior ao do método
simplificado, com zero falhas para ambos os multiplicadores.

3.3 Método baseado em alisamento exponencial

3.3.1 Fator de alisamento λ = 0,94

Para a carteira I, houve mais de quatro falhas em 14 dos


23 subperíodos. Em muitos casos, o número de exceções foi próximo
de quatro, o que se reflete no teste de Kupiec, que rejeitou H0 nove
vezes. Para toda a amostra, o teste de Kupiec também rejeitou H0.
As falhas estão distribuídas ao longo do período estudado, não
ocorrendo acentuada concentração em curtos períodos de tempo,
como verificado nos métodos anteriores. Não houve falhas da
exigência de capital para M=2 e M=3, o que pode indicar que o
método permite um ajustamento mais efetivo a alterações na
volatilidade.

O método obteve melhores resultados para a carteira II


que para a I. Embora tenha falhado mais de quatro vezes em 12 dos
23 períodos, os números estiveram sempre muito próximos deste
limite. Isto se reflete no teste de Kupiec, que rejeitou H0 em apenas
três subperíodos, todos com sete falhas. Para a amostra completa,
H0 foi rejeitada ao ultrapassar o limite máximo por quatro falhas.
Não houve falhas na exigência de capital para ambos os valores de
M.

3.3.2 Fator de alisamento λ = 0,90

Apesar de estimado para o Ibovespa, o fator de


alisamento λ = 0,90 causou deterioração dos resultados em relação
ao caso anterior. Para a carteira I, houve mais de quatro falhas em
16 dos 23 subperíodos. O teste de Kupiec rejeitou H0 em dez
subperíodos. Para toda a amostra, o teste de Kupiec também rejeitou
H0 com 41 falhas (2,45%). Não houve falhas da exigência de capital
para ambos os multiplicadores.

124
Relatório de Estabilidade Financeira Novembro 2002

Analogamente ao descrito na seção 3.3.1, o método


obteve melhores resultados para a carteira II que para a I, falhando
mais de quatro vezes em 15 subperíodos. Os números estiveram
próximos deste limite, o que se reflete no teste de Kupiec, que rejeitou
H0 em apenas cinco subperíodos. Para a amostra completa, o método
apresentou 35 falhas (2,09%), rejeitando-se H0. Não houve falhas
na exigência de capital para ambos os valores do multiplicador.

3.4 Método histórico

O método histórico apresentou o melhor desempenho


para as estimativas de VaR, com apenas quatro subperíodos em que
ocorreram mais de quatro falhas para a carteira I. Contudo, o
afastamento do limite de 4 falhas foi consideravelmente maior que o
observado para o método baseado em alisamento exponencial (houve
11 falhas em dois subperíodos). Para estes mesmos quatro sub-
períodos, o teste de Kupiec rejeitou H0, tendo as falhas se
concentrado no período de 14.7.1997 a 30.10.1997 (dez falhas). O
melhor desempenho deste método se reflete no p-valor para o período
completo (0,1463), indicando que a hipótese nula do teste de Kupiec
não pode ser rejeitada para 23 falhas, correspondendo a uma
proporção empírica das falhas de 1,37%. Contudo, houve uma falha
da EC para M=3, quando a perda ocorrida em 30.10.1997 excedeu
a EC em 0,62% do montante da carteira. Para M=2, houve 8 falhas
da EC.

Para a carteira II, o método histórico mais uma vez deteve


o melhor desempenho para o VaR, ultrapassando o limite em sete
subperíodos e tendo H0 rejeitada apenas em três. Para a amostra
completa, constataram-se 24 falhas (1,43%), dentro do intervalo de
não-rejeição do teste de Kupiec. Sete falhas ocorreram entre
15.7.1997 a 30.10.1997. Não houve falhas da EC para ambos os
multiplicadores.

4 Conclusão

Os resultados alcançados refletem-se nos Gráficos de 1


a 6, anexos, e podem ser resumidos da seguinte forma:

125
Relatório de Estabilidade Financeira Novembro 2002

a) O método padronizado com EC igual ao percentual sugerido por


Basiléia (8% do montante da carteira para cada risco, específico
e geral) mostrou-se ineficiente para lidar com a volatilidade
exibida pelo mercado acionário brasileiro. O menor percentual
para o qual o método não exibe falhas da EC é de 15%. Como este
método gera uma EC constante, sempre haverá, potencialmente,
momentos em que o risco será subestimado, assim como em
muitas vezes a alocação de capital para cobertura de riscos estará
muito acima do necessário. O não reconhecimento das alterações
nos regimes de volatilidade e nos padrões de correlações entre os
ativos é a principal crítica com relação a este método;
b) O método diagonal completo apresenta desempenho razoável
para ambas as carteiras. Contudo, o ajuste às oscilações da
volatilidade ocorre de forma lenta, o que é caracterizado pelos
longos trechos planos observados nas linhas de VaR. Já a versão
simplificada demonstrou ser inadequada para carteiras com
posições mistas (compradas e vendidas) em que há participação
expressiva de algum ativo, o que desencoraja o seu uso para
situações gerais;
c) O método baseado em alisamento exponencial obteve os seus
melhores resultados com um fator de decaimento igual a 0,94. l.
O fator de 0,90, estimado com base na série de retornos do
Ibovespa, buscando um melhor ajuste ao padrão de volatilidade do
mercado de ações brasileiro, gerou um maior número de falhas
para ambas as carteiras estudadas. Verificou-se a característica
básica do método que é a agilidade de ajuste às alterações da
volatilidade, representada pelo perfil "recortado" da linha de VaR.
Este importante aspecto se traduz na inexistência de falhas da EC
para ambas as carteiras, mesmo utilizando-se um multiplicador
igual a dois (o que só este método conseguiu) e mesmo com um
desempenho insuficiente do VaR de um dia. Reflete-se ainda na
mais baixa média das diferenças entre as exigências de capital
calculadas e as perdas efetivamente verificadas (EC – perdas)
entre todos os métodos, quando consideramos as versões em que
não ocorreram falhas da EC. Mesmo com uma baixa média de [EC
– perdas], a proteção oferecida é a mais eficaz dentre todos os
métodos, se considerarmos que o valor mínimo deste indicador é
quase sempre bem mais alto para este método;

126
Relatório de Estabilidade Financeira Novembro 2002

d) O método histórico apresenta importantes contrastes. Se por um


lado foi o único método, na abordagem de modelos internos, que
passou no teste de Kupiec para a amostra completa em ambas as
carteiras, por outro foi o que apresentou os piores resultados para
a EC: foram oito falhas para M=2 e uma falha para M=3 (foi o
único método que falhou para M=3, mas apenas por 0,62% do
montante da carteira) com relação à carteira I. Tal fato pode ser
explicado pela baixa adaptabilidade do método às flutuações da
volatilidade, o que pode ser identificado pelos longos platôs
exibidos pelas linhas de VaR. Esta característica é conseqüência
da metodologia empregada, que utiliza um dado percentil da
amostra de retornos para VaR, o qual então se move em degraus,
podendo se manter inalterado por períodos relativamente longos.
Vale, contudo, ressaltar a maior vantagem do método que é a sua
simplicidade e facilidade de implementação. Isto explica porque,
apesar de limitado, ainda é um método de VaR muito utilizado na
prática.

Cabe lembrar que boa parte das falhas exibidas pelo VaR
de um dia, em todos os métodos, ocorreu em momentos de graves
crises internacionais. Como todos os métodos se ressentiram desses
eventos, há que se ter um maior cuidado em sua avaliação. Mesmo o
Comitê de Basiléia prevê a possibilidade de que modelos internos
que não atendam ao desempenho mínimo previsto (menos de quatro
falhas do VaR diário em 250 dias úteis) não venham a ser
automaticamente penalizados. Ao contrário, compete à autoridade
reguladora avaliar as circunstâncias em que o fraco desempenho
ocorreu, buscando detectar se o modelo realmente apresenta
inconsistências ou falhas de concepção.

Outro ponto importante surge ao verificarmos que os


métodos de VaR com pior desempenho não apresentaram falhas de
EC para M=3 (excetuando-se uma falha para o método histórico na
carteira I), mesmo em períodos de crise. Isto pode sugerir que o
multiplicador preconizado pelo Comitê, para o cálculo da exigência
de capital, seja excessivo quando aplicado ao mercado acionário
brasileiro. Ou seja, um método com bons resultados no VaR diário
poderia permitir a utilização de um multiplicador menor. Desta forma,
manter-se-ia um nível adequado de proteção ao mesmo tempo em
que se teria maior eficiência na alocação de capital.

127
Relatório de Estabilidade Financeira Novembro 2002

Referências bibliográficas

BASEL COMMITTEE ON BANKING SUPERVISION. Amendment


to the Capital Accord to Incorporate Market Risks. January, 1996.

BASEL COMMITTEE ON BANKING SUPERVISION. Overview


of the Amendment to the Capital Accord to Incorporate Market Risks.
January, 1996.

BASEL COMMITTEE ON BANKING SUPERVISION.


Supervisory Framework for the Use of "Backtesting" in Conjunction
with the Internal Models Approach to Market Risk Capital
Requirements. January, 1996.

CERETTA, P. S.; COSTA JR., N.C.A. Quantas Ações Tornam um


Portfólio Diversificado no Mercado de Capitais Brasileiro?
Mercado de Capitais – Análise Empírica no Brasil – Coleção Coppead
de Administração, 2000.

DEPEP/RJ. Relatório sobre Alocação de Capital para Cobertura


de Riscos de Mercado. Banco Central do Brasil – dezembro de 1999.

EDERINGTON, L.H.; GUAN, W. Forecasting Volatility. Finance


Division, Michael F. Price College of Business, University of
Oklahoma, Working Paper, April, 1999.

JORION, P. Value at Risk: a Nova Fonte de Referência para o


Controle de Risco de Mercado. Bolsa de Mercadorias e Futuros –
São Paulo, 1998.

KUPIEC, P. Techniques for Verifying the Accuracy of Risk


Measurement Models. Journal of Derivatives, 2, 73-84 – 1995.

128
Relatório de Estabilidade Financeira Novembro 2002

Anexos

Gráfico 1. Estimativas de VaR e Retornos Diários


R$ 1.000,00 1/
- Carteira I
30
25
20
15
10
5
0
-5
-10
-15
-20
19.10 5.6 14.1 26.8 3.4 16.11 1.7 10.2 19.9 4.5 12.12 29.7
1995 1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002
Retorno 1 dia VaR Diagonal Completo
VaR Alisamento Exponencial VaR Histórico
1/ A carteira I possui o montante de R$100.000,00.

Gráfico 2. Estimativas de EC com M=2 e Retornos de 10 dias


R$ 1.000,00 1/
- Carteira I
80
60
40
20
0
-20
-40
-60
-80
-100
19.10 5.6 14.1 26.8 3.4 16.11 1.7 10.2 19.9 4.5 12.12 29.7
1995 1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002
Retorno 10 dias EC Diagonal Completo
EC Alisamento Exponencial EC Histórico
EC Padrão 15%
1/ A carteira I possui o montante de R$100.000,00.

Gráfico 3. Estimativas de EC com M=3 e Retornos de 10 dias


1/
R$ 1.000,00 - Carteira I
80
60
40
20
0
-20
-40
-60
-80
-100
19.10 5.6 14.1 26.8 3.4 16.11 1.7 10.2 19.9 4.5 12.12 29.7
1995 1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002
Retorno 10 dias EC Diagonal Completo
EC Alisamento Exponencial EC Histórico
EC Padrão 15%
1/ A carteira I possui o montante de R$100.000,00.

129
Relatório de Estabilidade Financeira Novembro 2002

Gráfico 4. Estimativas de VaR e Retornos Diários


R$ 1.000,00 1/
10
- Carteira II

-2

-4

-6

-8
19.10 5.6 14.1 26.8 3.4 16.11 1.7 10.2 19.9 4.5 12.12 29.7
1995 1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002
Retorno 1 dia VaR Diagonal Completo

VaR Alisamento Exponencial VaR Histórico


1/ A carteira II possui o montante de R$20.000,00.

Gráfico 5. Estimativas de EC com M=2 e Retornos de 10 dias


R$ 1.000,00 1/
- Carteira II
20

10

-10

-20

-30

-40
19.10 5.6 14.1 26.8 3.4 16.11 1.7 10.2 19.9 4.5 12.12 29.7
1995 1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002

Retorno 10 dias EC Diagonal Completo


EC Alisamento Exponencial EC Histórico
EC Padrão 15%
1/ A carteira II possui o montante de R$20.000,00.

Gráfico 6. Estimativas de EC com M=3 e Retornos de 10 dias


R$ 1.000,00 1/
- Carteira II
30

20

10

-10

-20

-30

-40
19.10 5.6 14.1 26.8 3.4 16.11 1.7 10.2 19.9 4.5 12.12 29.7
1995 1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002
Retorno 10 dias EC Diagonal Completo
EC Alisamento Exponencial EC Histórico
EC Padrão 15%
1/ A carteira II possui o montante de R$20.000,00.

130
Relatório de Estabilidade Financeira Novembro 2002

Densidades de Probabilidades Neutras ao


Risco1

EUI JUNG CHANG2


BENJAMIN MIRANDA TABAK3

1 Introdução

Em artigo recente, Andrade e Tabak (2001) mostraram


que a volatilidade implícita do câmbio, extraída de opções cambiais,
negociadas no mercado doméstico, contém mais informação do que
modelos de séries temporais como o GARCH(1,1) ou médias móveis.

Este resultado é consistente com a literatura em finanças.


Inúmeros testes empíricos já foram realizados para uma infinidade
de países e mercados e os resultados apontam, em geral, que a
volatilidade extraída de opções possui maior conteúdo informacional
do que modelos econométricos que buscam prever a volatilidade
futura a se realizar4 . Em geral, recupera-se a previsão de volatilidade
a se realizar no futuro através de modelos de precificação de opções
baseados em Black e Scholes (1973).

Nos anos noventa, a pesquisa em finanças foi bem além


da extração de volatilidade através de modelos baseados em Black e
Scholes (1973). Desenvolveu-se uma série de metodologias para
extrair expectativas de mercado implícitas em preços de opções. A
idéia consistia basicamente em recuperar a função densidade (PDFs)
do preço do ativo subjacente na data de vencimento de opções
negociadas no mercado5 .

1/ As opiniões expressas neste artigo não necessariamente refletem a opinião do Banco Central do
Brasil. Os autores agradecem a Paulo Castor de Castro pela fecunda discussão sobre a extração de
densidades implícitas. Eventuais erros são de responsabilidade dos autores, exclusivamente.
2/ Departamento de Pesquisa, Banco Central do Brasil, eui.jung@bcb.gov.br.
3/ Departamento de Pesquisa, Banco Central do Brasil, benjamin.tabak@bcb.gov.br.
4/ Veja CANINA, L. e FIGKEWSKI, S. (1993), XU, X. e TAYLOR, S. J. (1995), AMIN e NG,
(1997), ANDERSEN, e BOLLERSLEV (1998), CAMPA e CHANG (1998), CHRISTENSEN e
PRABHALA (1998), GWILYM e BUCKLE (1999) e GWILYM (2001).
5/ Veja SHIMKO (1993), CAMPA, J. M. et al. (1997), MALZ (1997), MELICK e THOMAS (1997)
e, para o caso brasileiro, CASTRO (2002).

131
Relatório de Estabilidade Financeira Novembro 2002

Este enfoque baseado nas PDFs tem sido bastante


utilizado na literatura internacional, na detecção de mudanças
qualitativas nas expectativas dos agentes de mercado com respeito
aos possíveis eventos da natureza e dos preços que seriam observados
em cada um desses estados. A vantagem da utilização desses métodos
de previsão é que eles são forward-looking. Por causa dessa
propriedade, em geral, estes métodos apontam mudanças nas
expectativas bem antes de modelos que utilizam técnicas de séries
temporais. É de se esperar, assim como no caso das volatilidades
implícitas, que essas previsões tenham maior conteúdo informacional
do que previsões baseadas em séries temporais.

Na seção 2 discute-se a precificação de opções e a


extração de previsões de volatilidade através de um modelo simples.
A seção 3 apresenta a metodologia para se extrairem as densidades
neutras ao risco, e um exercício é realizado para o câmbio doméstico.
A seção 4 conclui o artigo.

2 Opções e volatilidade implícita

O modelo de precificação de opções de Garman e


Kohalgen (1983) é um dos mais utilizados para precificar opções
cambiais. O preço de uma opção de compra C t é função da
volatilidade implícita σ i,T que deve ser calculada numericamente
resolvendo a equação:

Ct =
1
[
(1 + rt )T t t
(
F N (d ) − Kt N dt − σ t,T T )] (1)

onde

ln ( Ft Kt ) 1
dt = + σ t ,T T (2)
σ t,T T 2

T denota o número de dias até o vencimento;


rt é a taxa de juros diária;
Ft é o preço de ajuste do futuro de R$/US$ que vence em T dias;
N ( .) é a distribuição normal padrão acumulada;
Kt é o preço de exercício da opção;
σt,T é a volatilidade projetada no instante t até o vencimento da opção
em T.

132
Relatório de Estabilidade Financeira Novembro 2002

A única variável que não é conhecida ao se calcular o


prêmio de uma opção é a volatilidade, σ i,T. Esta volatilidade é a
projeção de variação dos preços do ativo subjacente à opção que os
agentes acreditam que deve se realizar até o vencimento da opção.
Assim, a volatilidade implícita extraída do modelo acima consiste
na previsão de mercado para a variação do câmbio até o vencimento
da opção.

Andrade e Tabak (2001) chegam à conclusão que as


previsões de volatilidade extraídas da equação (1) possuem conteúdo
informacional, que não está contido em modelos de séries temporais
como GARCH(1,1) ou de médias móveis (MA). Os autores utilizam
o R2 ajustado para comparar esses modelos de previsão e constatam
empiricamente que para o período de fevereiro de 1999 a junho de
2001 as volatilidades implícitas explicam melhor a volatilidade
realizada6 . Tabak e Chang (2002) analisam o mesmo problema para
um período mais recente que chega a junho de 2002, e concluem
que modelos de séries temporais de previsão de volatilidade, como
de médias móveis exponenciais e GARCH(1,1), não agregam
informação na construção de previsões de volatilidade futura à
informação que já existe nas implícitas.

A construção de cenários para variáveis como câmbio,


juros, renda variável, entre outras variáveis financeiras, utiliza como
insumo a previsão de volatilidades dessas mesmas variáveis. Estas
previsões podem ser feitas com modelos de séries temporais ou
utilizando-se as expectativas de mercados implícitas nos preços de
opções. Dado que a literatura encontra resultados sugerindo que as
volatilidades implícitas possuem maior conteúdo informacional, seria
importante levar em consideração estas previsões nos cenários que
são construídos.

Na próxima seção será discutida a extração das


expectativas para a densidade neutra ao risco do ativo subjacente.
Adicionalmente, será apresentada uma aplicação para o câmbio
doméstico.

6/ Os modelos GARCH foram originalmente desenvolvidos por BOLLERSLEV, T. (1986).

133
Relatório de Estabilidade Financeira Novembro 2002

3 Densidades neutras ao risco

A literatura em finanças avançou bastante na extração


de densidades neutras ao risco de opções nos últimos anos. Uma
série de métodos para se estimar essas densidades foram propostos
na literatura. Dois métodos ganharam notoriedade nos últimos anos.

Um enfoque consiste em especificar uma forma


paramétrica funcional para a densidade neutra ao risco e ajustar esta
distribuição aos preços observados de opções através de mínimos
quadrados não lineares. A forma funcional mais utilizada na literatura
tem sido uma mistura de duas log-normais 7 . Outra abordagem
interpola o sorriso de volatilidade e emprega o resultado de Breeden
e Litzenberger (1978) para recuperar a densidade neutra ao risco.
Esta última abordagem, conhecida na literatura como smile approach,
será empregada neste artigo.

Grande parte da literatura financeira parte do resultado


encontrado por Breeden e Litzenberger (1978):

∂ 2C[K ] − rTt
= e × f (S ) (3)
∂K 2

A equação (3) garante que é possível recuperar a


densidade de probabilidades neutra ao risco de um ativo subjacente
S da derivada segunda do prêmio de uma opção com respeito ao
preço de exercício K.

Existem várias maneiras de se recuperar a densidade


através da equação (3). Shimko (1993) sugere uma forma
relativamente simples, que consiste em se interpolar as volatilidades
implícitas calculadas para o mesmo vencimento e diferentes preços
de exercício.

A idéia seria se gerar a densidade estimada em 4 etapas:

1. calculam-se as volatilidades implícitas para os preços observados


no mercado;

7/ Desta forma, a densidade é suficientemente flexível para capturar caraterísticas como excesso de
curtose, assimetria e até bimodalidade.

134
Relatório de Estabilidade Financeira Novembro 2002

2. as volatilidades implícitas são interpoladas gerando uma curva


de volatilidade smile8 ;
3. calculam-se os preços das opções para cada ponto da curva de
volatilidade interpolada usando-se Garman e Kohalgen (1983);
4. com auxílio da equação (3) gera-se a densidade neutra ao risco
estimada.

Este exercício foi realizado para opções cambiais no


mercado doméstico no último dia útil de junho de 2002 (27.6). O
Gráfico 1 mostra o sorriso de volatilidade para essas opções. Neste
dia, existiam três opções cuja diferença consistia em que tinham três
preços de exercício distintos para o mesmo vencimento (último dia
útil de julho): R$2,7/US$; R$2,8/US$; e R$2,9/US$.

Gráfico 1. Sorriso de Volatilidade (Smile )


%
32,5

32,0

31,5

31,0

30,5

30,0

29,5
2,65 2,7 2,75 2,8 2,85 2,9 2,95

Com três preços de exercícios diferentes de opções


negociadas foi possível calcular as volatilidades implícitas e interpolar
essas volatilidades usando uma fórmula quadrática semelhante ao
sugerido por Castro (2002). É importante ressaltar que são
necessários pelo menos três preços de exercício para se interpolar
as volatilidades implícitas e construir o sorriso de volatilidade, da
maneira como foi proposto. Portanto, um dos pré-requisitos
indispensáveis para se estimar as densidades neutras ao risco é um
mercado que tenha liquidez para diferentes preços de exercício.

Finalmente, pode-se extrair a densidade de probabilidade


neutra ao risco, que é apresentada no Gráfico 2.

8/ Diferentes autores interpolam essa curva de várias maneiras, utilizando formas quadráticas, cubic
splines, etc.

135
Relatório de Estabilidade Financeira Novembro 2002

Gráfico 2. Densidade de Probabilidade Neutra ao Risco


2,5

1,5

0,5

0
2 2,2 2,4 2,6 2,8 3 3,2 3,4 3,6 3,8 4

Como podemos ver no gráfico acima, a distribuição


neutra ao risco é bimodal, o que pode sugerir que os agentes atribuíam
uma alta probabilidade a um cenário onde o câmbio poderia se situar
acima dos R$3,6/US$. Esta expectativa não é passível de se observar
através do futuro de câmbio (linha rosa do Gráfico 2) 9 . Este
comportamento é compatível com a literatura internacional que
verifica bimodalidade nas distribuições, principalmente às vésperas
de eleições.

A literatura internacional encontra este tipo de


distribuição quando dois resultados são possíveis no futuro: na
eminência de uma guerra, às vésperas de eleições onde existem
candidatos com propostas bem diferentes, entre outros.

A distribuição neutra ao risco reflete não apenas a chance


que os agentes econômicos atribuem a determinados eventos, mas
também pode espelhar o valor que os agentes atribuem a essa taxa
de câmbio mais elevada; vale dizer, os agentes econômicos podem
estar dispostos a pagar um prêmio de risco para se proteger contra
essa possibilidade. Separar esses dois efeitos é complicado e devem
ser levados em consideração na análise dessas distribuições.

O importante a se ressaltar aqui é que a densidade neutra


ao risco acima traz informação que não está presente em outros
instrumentos, como futuro de câmbio ou mesmo em modelos
backward-looking. No exemplo acima, existem duas interpretações
possíveis, como já foi mencionado. De qualquer modo, espelham a
preocupação do mercado com uma alta do dólar para um determinado
patamar.
9/ Na realidade, os contratos futuros não espelham necessariamente as expectativas dos agentes sobre
a realização dos preços do ativo subjacente na data de vencimento.

136
Relatório de Estabilidade Financeira Novembro 2002

No Gráfico 3 apresentamos a evolução da taxa de câmbio


R$/US$ (Ptax) ao longo do ano de 2002. Como podemos ver, as
expectativas (via densidades neutras ao risco) ao final de junho, início
de julho, já refletiam uma certa preocupação com uma alta mais
pronunciada da taxa de câmbio doméstica, que de fato se verificou
em julho, com a Ptax atingindo R$3,4281/US$, em 31.7.2002.

Gráfico 3. Ptax
4
3,8
3,6
3,4
3,2
3
2,8
2,6
2,4
2,2
2
Jan Fev Mar Abr Mai Jun Jul Ago Set
2002

Ao repetir o mesmo exercício para 28.5.2002, para


opções cambiais com vencimento em 28.6.2002, temos a seguinte
densidade neutra ao risco:

Gráfico 4. Densidade de Probabilidade Neutra ao Risco

3,5

2,5

1,5

0,5

0
2 2,2 2,4 2,6 2,8 3 3,2 3,4 3,6

É possível perceber que a densidade acima tem assimetria


ligeiramente positiva evidenciando uma maior probabilidade de
elevação nas taxas de câmbio. Ainda, é difícil extrair este tipo de
informação dos futuros de câmbio (linha rosa do Gráfico 4).

Podemos concluir que as densidades neutras ao risco


possuem conteúdo informacional que pode ser utilizado para aferir,
em algum grau, as expectativas do mercado. Contudo, uma das

137
Relatório de Estabilidade Financeira Novembro 2002

preocupações que deve estar presente neste tipo de análise diz


respeito à liquidez dessas opções e ao volume de negócios. É
importante ter opções negociadas para vários preços de exercício
para um mesmo vencimento, para que se possam extrair as
densidades. Isto nem sempre ocorre, dificultando a utilização deste
tipo de instrumental na construção de cenários.

Outro problema de implementação se refere ao fato de


que, em geral, as opções com liquidez suficiente para que seja feito
este tipo de análise têm 1 ou, no máximo, 2 meses até o vencimento.
Deste modo, não é possível construir densidades para prazos mais
longos e os cenários que podem ser construídos deverão ser sempre
de curto prazo.

4 Conclusões

É possível extrair informação de opções a respeito da


trajetória esperada de variáveis importantes, como câmbio e juros.
A literatura mostra que a volatilidade implícita extraída desses
instrumentos possui maior conteúdo informacional do que modelos
de séries temporais e, portanto, pode trazer benefícios na construção
de cenários para o futuro.

Ainda, pode-se extrair toda a densidade esperada neutra


ao risco para o ativo subjacente. Estas densidades trazem informação
(em algum grau) sobre as expectativas dos agentes da economia a
respeito da distribuição de probabilidade do ativo subjacente na data
de vencimento da opção.

A interpretação dessas densidades neutras ao risco não é


fácil. Como utilizar essas densidades para auxiliar na definição e
implementação de política econômica ainda é uma questão que suscita
inúmeros debates. Contudo, a mensagem é clara: estas densidades
possuem informação importante que pode e deve ser levada em
consideração na construção de cenários relevantes para o futuro.

138
Relatório de Estabilidade Financeira Novembro 2002

Referências bibliográficas

AMIN, K.; NG, V. (1997). Inferring future volatility from the


information in implied volatility in eurodollar options: a new
approach, Review of Financial Studies, 10, 333-367.

ANDERSEN, T.G; BOLLERSLEV, T. (1998). Answering the


skeptics: yes, standard volatility models do provide accurate
forecasts, International Economic Review 39, 885-905.

ANDRADE, S.C.; TABAK, B. M. (2001). Is it Worth Tracking


Dollar/Real Implied Volatility?, Revista de Economia Aplicada 5,
471-489.

BAHRA, B. (1997). Implied risk-neutral probability density


functions from option prices: theory and application, Working Paper
no. 66, Bank of England, London.

BLACK, F.; SCHOLES, M. (1973). The Pricing of Options and


Corporate Liabilities, Journal of Political Economy 81, 637-659.

BOLLERSLEV, T. (1986). Generalized autoregressive conditional


heteroskedasticity, Journal of Econometrics 31, 307-327.

BREEDEN, D.; LITZENBERGER, R. (1978). Prices of State


Contingent Claims Implicit in Options Prices, Journal of Business
51, 621-651.

CAMPA, J.M.; CHANG, P.H.K.; REIDER, R.L. (1997). Implied


exchange rate distributions: evidence from OTC option markets,
Working Paper no. 6179, NBER, Cambridge, MA.

CAMPA, J.M.; CHANG, P.H.K. (1998). The forecasting ability of


correlations implied in foreign exchange options, Journal of
International Money and Finance 17, 855-880.

CANINA, L.; FIGKEWSKI, S. (1993). The informational content


of implied volatility, Review of Financial Studies 6, 659-681.

139
Relatório de Estabilidade Financeira Novembro 2002

CASTRO, P. C. (2002). Opções sobre Dólar Comercial e


Expectativas a Respeito do Comportamento da Taxa de Câmbio,
Trabalho para discussão do Banco Central do Brasil 39.

CHRISTENSEN, B.J.; PRABHALA, N.R. (1998). The relation


between implied and realized volatility, Journal of Financial
Economics 50, 125-150.

GARMAN, M.B.; KOHALGEN, S. (1983). Foreign Currency


Option Values, Journal of International Money and Finance 2, 231-
238.

GWILYM, O. A.; BUCKLE, M. (1999). Volatility Forecasting in


the framework of the option expiration cycle, The European Journal
of Finance 5, 73-94.

GWILYM, O. A. (2001). Forecasting volatility for options pricing


for the U.K. stock market, Journal of Financial Management and
Analysis 14, 55-62.

MALZ, A. (1997). Estimating the probability distribution of the


future exchange rate from option prices, The Journal of Derivatives,
20-36.

MELICK, W.R.; THOMAS, C.P. (1997). Recovering an asset's


implied pdf from option prices, Journal of Financial and Quantitative
Analysis 32, 91-115.

SHIMKO, D. (1993). Bounds of Probability, Risk 6, 33-37.

TABAK, B.M.; CHANG, E.J. (2002). Forecasting Exchange Rate


Volatility, Anais do XXIV Congresso da Sociedade Brasileira de
Econometria.

XU, X.; TAYLOR, S.J. (1995). Conditional volatility and the


informational efficiency of the PHLX currency options markets,
Journal of Banking and Finance 19, 803-821.

140
Relatório de Estabilidade Financeira Novembro 2002

Metodologia de Avaliação da Capacidade de


Geração de Resultados de Instituições
Financeiras
RODRIGO LUÍS ROSA COUTO1

1 Introdução

A metodologia de avaliação da capacidade de geração


de resultados aqui apresentada foi criada para ajudar os supervisores
bancários a responder a três perguntas muito importantes sobre uma
instituição financeira: qual o seu resultado esperado, considerando
a informação disponível e um determinado conjunto de condições
de mercado? qual a origem deste resultado? qual a sensibilidade do
mesmo a modificações nas taxas de juros, spreads, volumes aplicados
em operações de crédito e outras variáveis do setor financeiro?

Supervisores bancários têm repetidamente levantado


essas questões, e esforços têm sido realizados para satisfazer suas
necessidades deste tipo de informação. A metodologia evoluiu através
da acumulação de experiências e das extensões e adaptações feitas
para atender a necessidades específicas e adequar os procedimentos
às circunstâncias únicas de cada caso. Esta metodologia já foi
aplicada, em diferentes estágios de desenvolvimento, a oito bancos
brasileiros, incluindo alguns dos principais, nos últimos quatro anos.
A informação produzida nas análises tem servido de base para
decisões de grande importância no âmbito da supervisão bancária.

Avaliar a capacidade de geração de resultados de uma


instituição financeira, ou de qualquer empreendimento, é uma tarefa
de notória dificuldade. Tal avaliação pode facilmente chegar a
conclusões erradas, devido à falta de informações adequadas ou de
habilidade analítica, e pode também perder relevância rapidamente,
devido a modificações significativas nas condições de mercado.
Nenhuma metodologia de análise é capaz de gerar previsões precisas
e confiáveis sobre os resultados futuros, e este não é o objetivo da
metodologia aqui apresentada.
1/ Departamento de Supervisão Direta, Banco Central do Brasil, rodrigo.couto@bcb.gov.br.

141
Relatório de Estabilidade Financeira Novembro 2002

Entretanto, a avaliação da capacidade de geração de


resultados é parte integrante da maioria dos modelos de supervisão
bancária e dos sistemas de classificação de instituições utilizados
pelas autoridades supervisoras. Além disso, as questões apresentadas
acima são essenciais demais para serem ignoradas. Embora não seja
possível fazer previsões confiáveis sobre os resultados, é possível,
em muitas situações relevantes, chegar a conclusões bem
fundamentadas sobre a capacidade de geração de resultados de uma
instituição financeira, e também gerar informações úteis para outras
áreas sob exame da supervisão bancária.

2 Objetivos

2.1 Questões a serem respondidas através da utilização da


metodologia

a) Qual o resultado esperado de uma instituição


financeira, considerando a informação disponível e
um determinado conjunto de condições de mercado?

A viabilidade a longo prazo de uma instituição financeira


depende, em grande parte, de sua capacidade de gerar resultados
suficientes para proteger e fortalecer seu capital, bem como
remunerar seus acionistas. Perdas enfraquecem o capital e a liquidez
da instituição, e podem abalar a confiança dos depositantes. A
acumulação de perdas traz o risco de descontinuidade da instituição,
com todas as suas potencialmente desastrosas conseqüências para
os depositantes da instituição e mesmo para o sistema financeiro
como um todo.

Os resultados são um importante indicador da saúde


financeira de uma instituição e, em muitos casos, um indicador
precoce de sua vulnerabilidade. Uma vez que a mercadoria de uma
instituição financeira é o próprio dinheiro, ela pode sustentar perdas
por muito tempo antes de consumir inteiramente o seu caixa.
Adicionalmente, instituições com resultados negativos ou declinantes
podem vir a assumir riscos excessivos no afã de reverter seus
resultados, o que pode acelerar a deterioração de sua situação
financeira. Portanto, a detecção de situações de deficiência na
geração de resultados pode permitir ao supervisor agir antes que a

142
Relatório de Estabilidade Financeira Novembro 2002

solvência da instituição esteja seriamente ameaçada, e antes que esta


comece a assumir crescentes riscos na tentativa de alcançar a
lucratividade.

O simples exame da série histórica de resultados não


permite ao supervisor formar uma opinião consistente sobre a
capacidade de geração de resultados. A série histórica é uma
demonstração de resultados passados cujos efeitos já estão
consumados no balanço patrimonial, enquanto que, para que suas
conclusões possam servir como base para ação tempestiva, o
supervisor deve se preocupar com os resultados futuros esperados
ou indicados e o seu impacto na situação financeira da instituição.

Não há dúvida de que os resultados passados são um


indicador importante do que pode ser esperado no futuro. O estudo
de eventos passados que tiveram reflexos sobre os resultados pode
dar ao analista informações relevantes que o ajudarão a entender a
situação atual e a antecipar o futuro. A experiência tem demonstrado,
no entanto, que condições e eventos extraordinários freqüentemente
influenciam os resultados e podem gerar distorções relevantes, e
que os resultados reportados podem se desviar significativamente
da realidade devido à manipulação contábil. Portanto, a série histórica
não pode ser utilizada como uma indicação dos resultados futuros
sem que sofra os necessários ajustes e uma interpretação crítica.

Considere-se a situação de uma instituição financeira


onde uma inspeção identifica problemas de qualidade dos ativos e/
ou passivos não reconhecidos. Os resultados apresentados até então
terão sido necessariamente maiores do que os reais porque perdas
ocorridas ao longo do tempo não foram adequadamente
reconhecidas, juros apropriados sobre ativos não realizáveis
integraram as receitas e as despesas não incluíram juros e atualização
monetária sobre passivos não reconhecidos.

Nesses casos, nos quais os resultados não estão


corretamente representados nas demonstrações financeiras, é
importante que os supervisores saibam quais são, ou deveriam ser,
os reais resultados, considerando a verdadeira situação patrimonial
da instituição. Os resultados reais determinarão se, e em que ritmo,
a situação financeira do banco deverá melhorar ou piorar ainda mais.
Quando uma injeção de capital está sendo considerada, é importante

143
Relatório de Estabilidade Financeira Novembro 2002

estimar o volume de recursos necessário para restaurar não só o


capital da instituição, mas também sua lucratividade. Situações como
estas motivaram o desenvolvimento e proporcionaram as primeiras
oportunidades de aplicação da presente metodologia de avaliação.
A avaliação da capacidade de geração de resultados complementa a
avaliação patrimonial, porque produz informações sobre a tendência
de evolução da real situação patrimonial encontrada e sobre o efeito
provável de mudanças propostas nesta situação.

Instituições financeiras freqüentemente escondem suas


perdas por diversas razões, como, por exemplo, na tentativa de
manter a confiança dos depositantes, para evitar a desvalorização
de seus papéis ou para evitar a ação da supervisão bancária, que
pode resultar em liquidação e responsabilização de administradores
por atos irregulares de gestão. Algumas instituições escondem suas
perdas por um longo tempo, e terminam por serem liquidadas por
fragilidade financeira sem jamais terem apresentado resultados
negativos em suas demonstrações financeiras.

Entretanto, a manipulação de resultados não ocorre


somente nos casos extremos de instituições vulneráveis escondendo
perdas que ameaçam sua continuidade, mas também de maneira mais
sutil. Manobras contábeis, geralmente envolvendo provisões, ativos
intangíveis ou contingentes, resultados provenientes de subsidiárias
e de transações com títulos, são encontradas com freqüência em
instituições financeiras, independentemente de sua situação
financeira. Existem diversas maneiras de manipular resultados sem
que fique caracterizada fraude, e a experiência tem demonstrado
que as instituições financeiras o fazem por diversas razões.

A manipulação de resultados, a ocorrência freqüente de


ganhos ou perdas extraordinários e as rápidas mudanças nas condições
de mercado em que as instituições atuam tornam extremamente difícil
para o supervisor bancário avaliar a capacidade de geração de resultado
de uma instituição financeira sem a ajuda de uma metodologia que o
auxilie a lidar, de forma sistemática, com os múltiplos e complexos
elementos envolvidos em uma análise deste tipo.

O objetivo da presente metodologia é auxiliar os


supervisores bancários no tratamento e interpretação de informações,
possibilitando que eles façam uma avaliação da capacidade de geração

144
Relatório de Estabilidade Financeira Novembro 2002

de resultado que produza conclusões úteis, bem fundamentadas e


tempestivas. Mesmo quando a análise fica restrita às informações
contidas nas demonstrações financeiras, a metodologia permite que
se obtenha informações suficientes para que o analista possa formar
uma idéia preliminar sobre a capacidade de geração de resultados.
Quando integralmente implementada, a metodologia permite que se
faça uma estimativa de resultados indicados, considerando as atuais
ou prováveis condições de mercado e a ausência de eventos
extraordinários que afetem os resultados. Esses são os resultados
futuros que irão determinar a viabilidade da instituição e, portanto,
é sobre eles que o interesse do supervisor bancário deve se
concentrar.

b) Como a instituição gera resultado?

Para entender as operações de uma instituição, é essencial


saber como ela gera resultado. O exame de uma instituição não pode
ser considerado completo se não contiver informações abrangentes
sobre como ela ganha dinheiro. Esta informação deve cobrir dois
aspectos: a contribuição de cada uma das atividades da instituição
para o resultado; e a proporção do resultado que provém de fontes
sustentáveis e de fontes não-sustentáveis.

Quanto mais o resultado de uma instituição financeira


provém de fontes sustentáveis e operacionais, mais consistente e
estável é este resultado. Os resultados provenientes destas fontes
devem ser suficientes para cobrir provisões e impostos, além de
permitir um retorno adequado sobre o capital. A dependência de
resultados não-recorrentes é um sinal de deficiência na geração de
resultados e pode significar que a instituição está adotando práticas
de alto risco na tentativa de incrementar sua lucratividade.

A contribuição relativa para o resultado de cada uma das


atividades da instituição é um bom indicador de como o risco está
distribuído entre elas. Uma avaliação com base neste critério pode
conduzir a conclusões bem diferentes das da avaliação usualmente
realizada, baseada tão somente na materialidade dos valores
envolvidos. A contribuição para o resultado pode ser utilizada pelos
supervisores bancários como um dos critérios para alocação de tempo
e pessoal em uma inspeção.

145
Relatório de Estabilidade Financeira Novembro 2002

A metodologia estabelece diretrizes para a interpretação


e classificação dos itens de receita e despesa como sustentáveis ou
não-recorrentes. Uma de suas preocupações centrais é permitir ao
analista avaliar o efeito de itens não-recorrentes sobre o resultado e
medir a dependência dos mesmos de fontes não-sustentáveis de
geração de receitas. Muito embora informações sobre a contribuição
de cada uma das atividades da instituição para o seu resultado sejam
geralmente fáceis de obter, este nem sempre é o caso. A metodologia
permite ao analista quantificar esta contribuição e, desta forma,
avaliar a importância relativa de cada atividade para a lucratividade
da instituição.

c) Qual a sensibilidade do resultado a modificações nas


taxas de juros, spreads, volumes aplicados em
operações de crédito e outras variáveis do setor
financeiro?

A mensuração da sensibilidade do resultado a


modificações nas condições de mercado é uma parte importante da
avaliação de riscos. Ela permite aos supervisores bancários identificar
as variáveis que têm maior impacto sobre a lucratividade e prever o
impacto sobre a instituição de possíveis mudanças nas condições de
mercado.

Quando a metodologia é implementada integralmente, é


possível testar hipóteses acerca das condições de mercado relevantes
e estimar seu impacto sobre os resultados. O impacto de modificações
na estratégia da instituição também pode ser medido. É possível
realizar testes de stress, permitindo ao analista estimar, por exemplo,
o quanto as taxas de juros poderiam cair sem reduzir o lucro a zero,
ou em quanto a instituição teria que expandir sua carteira de crédito,
sob determinadas premissas, para atingir o ponto de equilíbrio. Este
tipo de informação acrescenta uma outra perspectiva à análise e
promove um melhor entendimento sobre a situação de resultados
por parte do supervisor bancário.

2.2 Maior importância destas questões no caso de


instituições financeiras em economias emergentes

A importância das três questões apresentadas acima é


maior no caso de instituições financeiras em países com mercados

146
Relatório de Estabilidade Financeira Novembro 2002

emergentes, assim como é a dificuldade em respondê-las. Os


resultados sofrem flutuações maiores, devido à maior instabilidade
econômica destes países, e resultados extraordinários são freqüentes
e significativos, mascarando a real lucratividade das instituições.

A alta inadimplência e o alto risco legal característicos


das economias emergentes, que resultam em provisões elevadas para
perdas em créditos e para contingências legais, proporcionam amplas
oportunidades para a manipulação de resultados, pois pequenos
aumentos ou reduções arbitrários nestas provisões têm impacto
significativo sobre os resultados. Provisões para perdas em créditos
e para contingências legais são dois itens freqüentemente utilizados
para manipular os resultados.

Avaliar a viabilidade de longo prazo das instituições


financeiras se torna mais importante em economias emergentes. A
instabilidade financeira freqüentemente faz com que apareçam
condições anômalas de mercado, tais como o período de hiperinflação
no Brasil, que afetam a lucratividade das instituições. Tais condições
podem causar o crescimento anormal do setor financeiro, cuja
subsequente redução força a saída de muitas instituições do mercado.

Quando o setor financeiro passa por um processo de


consolidação, a concorrência se intensifica, provocando a redução
das margens de lucro das instituições. Durante tal processo, torna-
se particularmente importante avaliar a viabilidade das instituições
financeiras, de maneira a identificar e monitorar aquelas em posições
vulneráveis.

Em economias emergentes, informações sobre a origem


dos resultados também se tornam mais relevantes para a avaliação
da viabilidade a longo prazo das instituições financeiras, porque elas
permitem a identificação de ganhos não-sustentáveis derivados de
condições anômalas de mercado e a avaliação da dependência da
instituição deste tipo de ganho. A habilidade de medir o efeito de
modificações nas condições de mercado também adquire maior
importância em economias emergentes, porque as condições estão
sujeitas a mudanças mais radicais e repentinas.

147
Relatório de Estabilidade Financeira Novembro 2002

3 Conceitos

3.1 Classificação de itens da demonstração de resultado

As receitas e despesas são classificadas em duas


categorias: determinantes estruturais da lucratividade e determinantes
secundários da lucratividade.

a) Determinantes estruturais da lucratividade

Os determinantes estruturais da lucratividade são as


receitas e despesas que satisfazem três condições: ter origem nas
atividades operacionais da instituição; ser sustentável, no caso das
receitas e recorrente, no caso das despesas; e não ser particularmente
suscetível à manipulação.

A receita líquida de juros, as receitas de serviços e as


despesas operacionais, conforme definidas no item 3.2, são os
determinantes estruturais da lucratividade. São os principais
grupamentos de receita e despesa de uma instituição financeira, e
são governados por fatores essenciais da atividade financeira tais
como volume de ativos, tamanho da base de clientes, margens de
lucro, capitalização e eficiência de custos. A hipótese mais importante
subjacente à metodologia é a de que, em uma instituição de grande
porte operando em um mercado competitivo, estes fatores são
relativamente estáveis e o comportamento passado dos determinantes
estruturais pode, portanto, ser considerado uma boa indicação para
o futuro.

Se não existe um conjunto de receitas sustentáveis e


despesas recorrentes, ou se as receitas e despesas não-recorrentes
são muito relevantes em relação ao total, é impossível ter qualquer
idéia clara sobre os resultados da instituição utilizando esta
metodologia de análise. Portanto, a metodologia é mais adequada
para aplicação em instituições grandes, relativamente maduras, cujas
receitas se originam, predominantemente, de formas tradicionais de
intermediação financeira e prestação de serviços, que têm uma base
de clientes bem diversificada e são relativamente conservadoras em
suas exposições a riscos de mercado.

O resultado operacional bruto, aqui definido como a


diferença entre receitas e despesas estruturais, deve ser suficiente

148
Relatório de Estabilidade Financeira Novembro 2002

para permitir à instituição constituir provisões adequadas para fazer


frente a perdas nos seus créditos e aos seus passivos contingentes,
bem como para proporcionar um retorno satisfatório sobre o seu
capital, após impostos. A relação entre receitas e despesas estruturais
pode ser expressa por um índice tal como o amplamente conhecido
cost:income ratio.

A evolução do resultado operacional bruto é um excelente


indicativo do andamento dos negócios de uma instituição financeira.
Na sistemática de análise aqui proposta, o resultado operacional bruto
é o principal indicador da tendência dos resultados, porque ele reflete
a evolução dos fatores essenciais da atividade financeira. O
comportamento relativo das receitas e despesas estruturais é o ponto
de partida para as análises que buscam identificar as causas de
modificações na lucratividade.

Para ser considerado estrutural, um item de receita ou


despesa deve satisfazer as condições mencionadas acima,
independentemente de sua denominação na demonstração de
resultado. O fato de um determinado item fazer parte da receita
líquida de juros, das receitas de serviços ou das despesas
operacionais não significa necessariamente que ele deva ser incluído
entre os determinantes estruturais da lucratividade para efeito de
análise.

b) Determinantes secundários da lucratividade

Itens de receita e despesa que não satisfazem os três


requisitos mencionados acima são os determinantes secundários da
lucratividade. Alguns itens muito relevantes de receitas e despesas
operacionais, tais como despesas de provisões e resultados de
exposições a risco cambial e de taxas de juros, serão incluídos nos
determinantes secundários, seja por serem não-recorrentes ou sujeitos
à manipulação.

Determinantes secundários freqüentemente apresentam


grandes variações ao longo do tempo e podem ter uma influência
determinante sobre os resultados de períodos individuais. Entretanto,
se a hipótese subjacente à metodologia de análise é válida, as receitas
e despesas não-recorrentes não terão um impacto significativo na
lucratividade a longo prazo, e os efeitos das manipulações contábeis

149
Relatório de Estabilidade Financeira Novembro 2002

não causarão distorções nos resultados indefinidamente sem serem


corrigidos.

Receitas não-operacionais surgem principalmente de


investimentos em subsidiárias e em bens que não têm relação com a
atividade financeira. A maioria dos países proíbe ou define limites
bastante restritivos em relação a este tipo de investimento. Estes
investimentos são, de fato, empreendimentos a parte que se utilizam
da mesma base de capital de instituições financeiras. O resultado de
um empreendimento como este e o capital nele empregado devem,
portanto, ser apartados e analisados independentemente dos da
instituição financeira. Os resultados da atividade financeira devem
ser suficientes para remunerar o capital alocado a esta atividade. A
avaliação de lucratividade de atividades não-financeiras não faz parte
do escopo deste trabalho.

Entretanto, subsidiárias que se utilizam da mesma infra-


estrutura, pessoal e/ou canais de distribuição de instituições
financeiras, e que atendem à mesma base de clientes das instituições,
trazem sérias dificuldades para a análise, porque os resultados das
subsidiárias e das instituições financeiras são freqüentemente
distorcidos devido à ausência de mecanismos adequados de
compensação entre as empresas por serviços prestados, prospecção
de clientes e utilização de infra-estrutura e canais de distribuição.

Receitas não-sustentáveis – tais como as que se originam


de exposições a risco de mercado ou de oportunidades de ganho
que se espera tenham vida curta – não são bases sólidas para a
manutenção da viabilidade a longo prazo de uma instituição
financeira, e portanto não podem ser incluídas entre os determinantes
estruturais da lucratividade. Freqüentemente, é difícil julgar a
sustentabilidade de fontes de receita e o horizonte de tempo para o
qual se está avaliando a viabilidade da instituição deve ser levado
em consideração ao se fazer este tipo de julgamento. A estabilidade
ao longo do tempo é o principal critério quantitativo para este
julgamento, mas a natureza da receita também tem que ser levada
em conta, porque parte de um fluxo de receitas muito variável pode
ter origem em negócios sustentáveis, enquanto que um fluxo de
receitas aparentemente estável, mas que se origina de uma
oportunidade de negócios de curto prazo, não pode ser considerado
sustentável.

150
Relatório de Estabilidade Financeira Novembro 2002

Despesas não-recorrentes e eventos extraordinários que


têm efeitos negativos sobre os resultados devem também ser
excluídos dos determinantes estruturais da lucratividade por não
terem efeito sobre os resultados futuros, exceto indiretamente pelo
seu impacto negativo sobre o capital e a liquidez da instituição. Os
critérios para a classificação de despesas como estruturais ou
secundárias são os mesmos utilizados para classificar as receitas.
Ou seja, os itens são classificados com base em sua estabilidade ao
longo do tempo, levando em consideração a sua natureza recorrente
ou não-recorrente. É importante ter em mente, entretanto, que
algumas despesas podem parecer não-recorrentes em virtude de
manipulações contábeis. Por exemplo, despesas incorridas em vários
períodos podem ser reconhecidas contabilmente em um único período
posterior, fazendo com que a série histórica apresente grande
variabilidade que não significa que a despesa é não-recorrente, mas
sim que ela não foi adequadamente reconhecida ao longo do tempo.

Provisões para inadimplência e para passivos


contingentes, despesas diferidas, amortização de ágio, ativos
contingentes e resultados de negociações e de variações no valor de
mercado de títulos e valores mobiliários são os principais itens de
receita e despesa que têm se apresentado mais suscetíveis à
manipulação contábil. Esta lista de forma alguma contém todos os
itens sujeitos à manipulação e todos os itens de receita e despesa
devem ser cuidadosamente examinados. Manipulações ocorrem
usualmente quando há um espaço de tempo entre o reconhecimento
de receitas e despesas na contabilidade e a sua efetiva realização
financeira, e itens de receita e despesa que têm este atributo em
maior grau são mais suscetíveis à manipulação.

Existe um paralelo interessante entre os critérios, o


processo e o timing de contabilização dos itens de receita e despesa
e a sua vulnerabilidade à manipulação:

Itens registrados com base em fatos objetivos, tais como


a apropriação dos juros de um empréstimo e o pagamento de uma
despesa corrente, geralmente têm critérios claros de contabilização.
Seu registro segue um esquema contábil pre-determinado que é
disparado automaticamente pela entrada dos dados da operação no
sistema de controle, o que normalmente é feito pela unidade contábil
(agência ou departamento, por exemplo) responsável pela operação.

151
Relatório de Estabilidade Financeira Novembro 2002

Os sistemas informatizados executam estes esquemas contábeis e


fazem os lançamentos pertinentes automaticamente, dia-a-dia,
durante toda a vida da transação. A contabilização destes itens é
objetiva e a administração da instituição tem apenas uma influência
indireta sobre as operações e sua contabilização. A vulnerabilidade
destes itens à manipulação é, portanto, reduzida.

Por outro lado, a contabilização de alguns itens, tais como


provisões e despesas que afetam mais de um período, é baseada em
expectativas e estimativas. A administração da instituição geralmente
tem considerável discricionariedade sobre a definição dos critérios
e parâmetros de contabilização destes itens. A unidade contábil
central é geralmente responsável por fazer lançamentos nestas contas,
o que geralmente acontece no encerramento de cada mês, quando
os resultados preliminares já são conhecidos. Uma vez que a
contabilização destes itens é baseada em expectativas e estimativas,
eles contêm um elemento inerente de incerteza que os faz vulneráveis
à manipulação. Além disso, o fato de que sua contabilização é
centralizada e realizada no final do período, quando os resultados
preliminares são conhecidos, faz com que estes itens sejam
especialmente propícios para as finalidades de manipulação dos
resultados contábeis.

Os critérios de avaliação de alguns ativos e passivos, tais


como títulos e valores mobiliários, também podem dar origem a
lucros ou prejuízos não realizados. Estes resultados são reconhecidos
contabilmente quando o ativo ou passivo é negociado ou movido de
uma conta para outra, o que a administração da instituição pode
fazer ou deixar de fazer de acordo com suas conveniências, de modo
a transferir resultados de um período para o outro ou para retardar
o reconhecimento de lucros ou prejuízos. Estas ações podem
facilmente ser realizadas ao final do período contábil, quando os
resultados são conhecidos, o que faz delas meios convenientes para
a manipulação dos resultados contábeis.

Dependendo dos resultados preliminares, a administração


da instituição pode decidir, por exemplo, fazer uma provisão maior
para perdas em créditos, ou reconhecer de uma vez despesas que
poderiam ser diferidas, reduzindo desta forma os resultados
apresentados. Se os resultados preliminares forem inferiores ao
desejado, a administração pode decidir reconhecer lucros embutidos

152
Relatório de Estabilidade Financeira Novembro 2002

na carteira de títulos através de day-trades com empresas ligadas,


ou fazer uma provisão menor para contingências legais, por exemplo.
É comum aparecerem efeitos positivos sobre os resultados,
decorrentes de variações nos determinantes secundários, exatamente
no momento em que o banco está sofrendo perdas de algum outro
tipo. Da mesma forma, vê-se muitas vezes um maior conservadorismo
em relação aos itens secundários em épocas de lucros altos. O
conservadorismo freqüentemente flutua junto com os resultados,
porque a administração busca amenizar oscilações nos resultados
ou mesmo esconder lucros ou prejuízos inteiramente, pelas razões
apresentadas no item 2.1.

A análise em separado destes itens particularmente


sujeitos à manipulação dá ao analista alguma visão sobre estas
manobras manipulatórias. Elas podem ser indicações de um
fortalecimento ou enfraquecimento da lucratividade estrutural, bem
como evidenciarem práticas contábeis duvidosas e,
conseqüentemente, inconsistências nas demonstrações financeiras.

3.2 Estrutura proposta para a demonstração de resultado


para efeito de análise

De acordo com os conceitos de determinantes estruturais


e secundários da lucratividade, é proposta a seguinte estrutura para
a demonstração de resultado:

Tabela 1. Estrutura proposta para a demonstração de resultado


Receita Líquida de Juros
Estrutural

Receitas de Serviços
Despesas Operacionais
LUCRO OPERACIONAL BRUTO
Provisão para Perdas em Créditos
Outras Despesas Secundárias
LUCRO APÓS DESPESAS SECUNDÁRIAS
Secundário

Resultado da Tesouraria
Outras Receitas Secundárias
LUCRO/(PREJUÍZO) DA ATIVIDADE
FINANCEIRA
Resultados de Atividades Não-Financeiras
LUCRO/(PREJUÍZO) ANTES DE IMPOSTOS
Impostos Sobre o Lucro
LUCRO/(PREJUÍZO) LÍQUIDO

153
Relatório de Estabilidade Financeira Novembro 2002

Esta estrutura pode ser usada tanto para a reapresentação


de demonstrativos financeiros de períodos passados quanto para a
apresentação de resultados projetados. Itens de receita e despesa
são agrupados, como é usual, de acordo com sua natureza, mas
também de acordo com o seu caráter estrutural ou secundário. Assim,
a evolução dos itens estruturais, que podem ser utilizados como
indicadores sobre a lucratividade futura, pode ser vista separadamente
das influências dos determinantes secundários, que apresentam maior
variabilidade e cuja contabilização tem um caráter de maior
subjetividade.

Comentários sobre alguns dos grupamentos de receitas


e despesas:

– a receita líquida de juros é, de maneira geral, a diferença entre


as receitas de juros obtidas sobre os ativos e as despesas de
juros incorridas sobre os passivos. Ela é o resultado bruto da
intermediação financeira. Para os propósitos da análise,
entretanto, um custo de oportunidade do dinheiro precisa ser
considerado na determinação da contribuição dos ativos e
passivos para a receita líquida de juros. Esta contribuição
decorre dos spreads obtidos nos diversos produtos ativos e
passivos, e o custo de oportunidade é o parâmetro para a
medição destes spreads. Os sistemas de contabilidade gerencial
geralmente contemplam este conceito de custo de oportunidade
do dinheiro, que é implementado através da utilização de um
caixa central que capta e empresta recursos para as outras
áreas de negócios à taxa de juros de oportunidade. Assim, a
contribuição de um ativo para a receita líquida de juros em um
determinado período é dada pelos juros apropriados sobre
aquele ativo, menos a despesa gerencial de juros calculada
aplicando a taxa de oportunidade sobre o volume médio do
ativo no período. No caso de um passivo, a contribuição é
dada pela receita gerencial de juros calculada aplicando a taxa
de oportunidade sobre o volume médio do passivo, menos a
real despesa de juros incorrida no período. Para os propósitos
de análise, também é desejável que os efeitos de movimentos
nas taxas de juros e de câmbio sejam segregados da receita
líquida de juros. As instituições financeiras conseguem isso
utilizando preços de transferência dos recursos, através dos
quais a tesouraria assume todo o risco cambial e de taxas de

154
Relatório de Estabilidade Financeira Novembro 2002

juros. Quando esterilizada dos efeitos das variações cambiais


e de taxas de juros, a receita líquida de juros reflete mais
adequadamente os ganhos obtidos pela captação e aplicação
de recursos com spreads positivos, que é, obviamente, a
principal atividade da maioria das instituições financeiras. A
receita líquida de juros assim esterilizada é função tão somente
do volume de recursos aplicados e captados, dos spreads e do
capital de giro, que são variáveis essenciais que devem estar
refletidas nos determinantes estruturais da lucratividade;

– resultado da tesouraria é aqui definido como aquele derivado


de exposições a risco cambial e de taxas de juros, e a risco
de mercado, de maneira geral. Esta definição pressupõe que
o risco cambial e de taxas de juros, que se origina das
operações de todas as outras áreas de negócios da instituição,
é efetivamente transferido para a tesouraria através de um
sistema de preços de transferência. Os resultados derivados
destas exposições, bem como o das atividades de trading da
tesouraria, são altamente incertos por natureza e, portanto,
devem ser incluídos nos determinantes secundários da
lucratividade;

– todas as receitas que não satisfazem as condições para


inclusão nos determinantes estruturais devem ser agrupadas
em outras receitas secundárias. Receitas não-sustentáveis ou
extraordinárias devem, portanto, ser aqui incluídas, e pode
ser necessário dividir alguns itens de receita em uma porção
estável e outra variável, devendo a porção estável ser incluída
entre os determinantes estruturais e a variável em outras
receitas secundárias. Resultados extraordinários positivos
identificados em períodos passados devem obviamente ser
incluídos em outras receitas secundárias;

– outras despesas secundárias são aquelas que não se qualificam


como despesas estruturais. Provisões para passivos
contingentes e outros itens de despesa cuja contabilização
depende de expectativas ou estimativas serão incluídos neste
grupamento, bem como todas as perdas extraordinárias;

– impostos sobre o lucro são uma conseqüência, e não um


determinante da capacidade de geração de resultados, e

155
Relatório de Estabilidade Financeira Novembro 2002

portanto não são levados em consideração na análise. Este


tratamento dos impostos sobre o lucro tem importantes
conseqüências para a análise de bancos brasileiros, porque a
ativação e a baixa de créditos tributários, com conseqüente
efeito sobre os resultados, são os meios mais utilizados por
eles para manipularem seus resultados contábeis. Este pode
ser um meio importante para a manipulação aonde quer que
os créditos tributários sejam grandes e as regras contábeis
permitam a sua ativação.

4 Análise das demonstrações financeiras

4.1 Informações necessárias

A aplicação da metodologia requer que as informações


financeiras sejam apresentadas em um grau significativo de detalhe
e que as denominações e descrições dos itens patrimoniais e de receita
e despesa transmitam ao analista uma noção adequada de sua
composição. Dados mensais ou, no mínimo, trimestrais são
necessários e devem preferencialmente cobrir um período de três a
cinco anos. Uma série trimestral que cubra um ano é o mínimo
indispensável. Não obstante, uma série tão pouco abrangente cria
dificuldades e limitações importantes para a análise.

Na discussão abaixo, será assumido como premissa que


a composição dos principais grupamentos de contas – tais como
receitas de serviços e despesas operacionais – é evidenciada e que
as denominações das contas dão uma idéia razoavelmente precisa
sobre suas composições. Quando as informações disponíveis não
têm este nível de detalhamento, não é possível realizar o tipo de
análise em profundidade de informações financeiras para a qual esta
metodologia é uma ferramenta.

Quando se está lidando com conglomerados financeiros,


é desejável que se utilizem demonstrativos contábeis consolidados
das empresas financeiras do conglomerado para a análise, por duas
razões principais: primeira, porque estas empresas são geralmente
administradas como um todo integrado, que serve aos mesmos
clientes e tem pessoal e infra-estrutura comuns, devendo portanto
ser analisado como tal; segundo, porque a administração tem o poder

156
Relatório de Estabilidade Financeira Novembro 2002

de transferir resultado de uma empresa para a outra, distorcendo


desta forma os resultados das empresas individuais. No caso de
conglomerados financeiros compostos de múltiplas unidades
integradas deste tipo, cada uma deve ser analisada
independentemente, a menos que o grau de integração entre elas
determine que elas devam ser analisadas integradamente.

4.2 Análise da demonstração de resultado

A estratégia de análise pode ser resumida da seguinte


forma:

a) classificar os itens de receita e despesa de acordo com a


estrutura proposta no item 3;
b) analisar a evolução dos principais grupos de
determinantes estruturais (receita líquida de juros, receita
de serviços e despesas administrativas) e projetar sua
evolução futura considerando as médias e tendências
observadas;
c) analisar a evolução dos determinantes secundários e
estimar as receitas e despesas secundárias recorrentes.
Para fazer esta estimativa, o analista buscará identificar
itens extraordinários que devam ser eliminados, e tomará
por base a média no caso de itens que tenham apresentado
flutuações anormais;
d) comparar o lucro operacional bruto estimado (receitas
estruturais menos despesas estruturais) com as receitas
e as despesas secundárias estimadas para determinar os
resultados futuros estimados.

Os resultados futuros estimados podem ser entendidos


como os indicados pela evolução projetada dos determinantes
estruturais, considerando uma margem adequada para cobrir as
despesas recorrentes secundárias. Eles representam o lucro ou o
prejuízo esperado para a instituição em um ano típico dada a sua
capacidade de geração de resultados, servindo portanto como medida
desta capacidade, que é o objeto da avaliação. A atual capacidade
de geração de resultados é relevante para os resultados futuros, e
portanto para a viabilidade a longo prazo, por ser ela determinada,
na maior parte, pelos fatores essenciais da lucratividade de
instituições financeiras, tais como tamanho, margens de lucros,

157
Relatório de Estabilidade Financeira Novembro 2002

capitalização e eficiência de custos, os quais não se modificam


repentina e radicalmente.

O princípio básico que governa o processo de estimação


é o de que as estimativas devem refletir o que pode ser
conservadoramente esperado para o futuro, baseado no
comportamento passado dos itens. A avaliação geral sobre a
capacidade de geração de resultados não deve ser afetada
significativamente por um grau razoável de conservadorismo na
estimação dos resultados, e os supervisores bancários têm boas
razões para pecar pelo excesso de cuidado nestas situações. Uma
vez que as estimativas são feitas com o objetivo de medir a atual
capacidade de geração de resultados, o período estimado não deve
ser muito longo. Um ano, por exemplo, costuma ser um período
conveniente.

O analista deve considerar a tendência na estimativa de


itens estruturais, mas deve ser cuidadoso ao fazê-lo porque, muito
embora seja provável que estes itens não venham a sofrer variações
extremas e repentinas, não pode ser dado como certo que suas
respectivas tendências irão continuar indefinidamente no futuro. O
analista deve estimar itens estruturais baseado na média de períodos
representativos, considerando a tendência apenas acessoriamente na
formação de sua opinião sobre a evolução futura das receitas e
despesas.

A série histórica de itens secundários não dá ao analista


uma base muito sólida para estimação, e, portanto, as estimativas
destes itens tendem a ser menos confiáveis do que as dos itens
estruturais. O impacto do uso de estimativas alternativas para estes
itens deve ser considerado e, caso seja significativo, o analista pode
ser forçado a expressar suas conclusões através de múltiplos cenários
refletindo os resultados estimados considerando cada uma das
alternativas. Conclusões expressas desta forma não são, é claro,
inteiramente satisfatórias, mas ao menos o analista terá sido capaz
de restringir as questões sobre os resultados a um ou a alguns poucos
itens que não podem ser estimados com um grau mínimo de
confiabilidade.

Mesmo assumindo que a demonstração de resultados e


suas notas explicativas sejam razoavelmente completas e detalhadas,

158
Relatório de Estabilidade Financeira Novembro 2002

o analista terá dificuldades para fazer a segregação entre a receita


líquida de juros estrutural e a secundária, e provavelmente não
conseguirá progredir muito nesta segregação. Isso porque é difícil
separar a receita derivada da atividade de captar e aplicar fundos
obtendo um spread positivo, que é um determinante estrutural da
lucratividade, daquela decorrente da assunção de risco cambial e de
taxa de juros, que é não-recorrente e, portanto, secundária. Mesmo
quando as instituições financeiras evidenciam separadamente estes
dois tipos de receita, o analista precisa estar convencido de que os
critérios de separação são satisfatórios para os propósitos da análise
antes que estes critérios possam ser aceitos como base para a sua
própria classificação. A experiência tem demonstrado que é pior ter
uma separação inadequada entre receitas estruturais e secundárias
do que não ter nenhuma.

O exame da série histórica dos itens de receitas de


serviços e despesas operacionais geralmente permite ao analista
identificar receitas e despesas que devem ser classificadas como
secundárias, seja por parecerem não-recorrentes ou porque elas
podem ter sido objeto de manipulação. Pode ser apropriado dividir
alguns itens em duas porções, uma estrutural e uma secundária,
correspondendo, respectivamente, à porção das receitas ou despesas
que é estável ao longo do tempo e àquela que não é. Métodos
estatísticos podem ser empregados para identificar itens com alta
variabilidade e determinar as suas porções estável e variável.

Contas que têm uma composição heterogênea ou incerta,


tais como a maioria das que possuem a palavra “outros” no nome,
devem ser classificadas como secundárias. Todas as despesas de
provisões também devem ser classificadas como secundárias e
tratadas posteriormente, a menos que elas sejam irrelevantes ou se
tenha confiança de que elas representam adequadamente desembolsos
futuros certos ou prováveis. O analista deve considerar se as despesas
de amortização e depreciação devem ser classificadas como
estruturais ou secundárias, porque a administração tem um certo
grau de discricionariedade sobre a definição do período de
depreciação/amortização, bem como sobre as decisões de ativar,
manter ou baixar os ativos do balanço patrimonial. A menos que a
legislação ou a regulamentação contábil estabeleça regras estritas
para a contabilização destes itens, eles devem ser classificados como
secundários.

159
Relatório de Estabilidade Financeira Novembro 2002

Os itens secundários devem agora ser tratados. Itens


relevantes terão sido, provavelmente, classificados como secundários,
seja porque eles são claramente não-recorrentes, porque sua série
histórica apresenta flutuações substanciais e abruptas ou porque eles
foram considerados particularmente vulneráveis à manipulação.

Geralmente, o mais relevante destes itens é a provisão


para perdas em créditos, que é, na imensa maioria dos casos, um
fator importante para a lucratividade, mas que é classificada como
secundária por ser particularmente sujeita à manipulação. A provisão
para perdas em créditos é uma despesa recorrente que deve
necessariamente ser levada em conta na análise. O analista deve,
portanto, procurar fazer uma estimativa conservadora das despesas
de provisão adequadas.

Um método eficaz para fazer esta estimativa é utilizar


a razão entre as despesas de provisão e as receitas de juros sobre
créditos, que dá uma indicação razoável sobre o grau de
conservadorismo da instituição em seu provisionamento para perdas
em créditos. Este índice leva em consideração não apenas os
volumes como também as taxas de juros dos créditos, que são
geralmente positivamente correlacionadas com o seu risco de
crédito. Embora esta correlação positiva não seja constante nem
perfeitamente proporcional ao risco, a experiência tem demonstrado
que onde os spreads são extremamente altos e variam grandemente
entre produtos de crédito, como no Brasil e em outras economias
emergentes, a razão entre as despesas de provisão e as receitas de
juros é um indicador mais preciso do que a razão entre as despesa
de provisão e os volumes, por ser, ainda que de maneira imperfeita,
ajustada ao risco.

Analisando a evolução da razão entre despesas de


provisão e receitas de juros sobre créditos e comparando este índice
com o de instituições similares, o analista provavelmente será capaz
de formar uma idéia razoável sobre o índice adequado para a
instituição sob exame. Multiplicando este índice pela receita de juros
sobre créditos projetada, o analista obterá uma estimativa das
despesas de provisão a serem deduzidas do lucro operacional bruto.
Esta estimativa é, provavelmente, a melhor que pode ser feita com
base somente nas informações das demonstrações financeiras, e pode
ser desejável considerar cenários alternativos prováveis, de modo a

160
Relatório de Estabilidade Financeira Novembro 2002

avaliar a sensibilidade dos resultados a modificações nas despesas


de provisões para créditos.

Provisões para passivos contingentes, na sua maior parte


relacionados a demandas judiciais, também são despesas secundárias
relevantes. É muito difícil estimar estas provisões, mesmo para as
próprias instituições, porque o risco legal costuma ser difícil de medir.
O analista pode buscar informações sobre as contingências nas notas
explicativas e pode ser capaz de identificar as causas de variações
acentuadas nas despesas de provisões. Mas a estimativa se baseará,
principalmente, na média histórica ajustada pela eliminação de efeitos
extraordinários. Novamente, o analista poderá ser forçado a
considerar, nas suas conclusões, o efeito sobre os resultados de vários
níveis de provisionamento.

Algumas vezes, as instituições financeiras demonstram


os resultados das exposições a riscos de mercado sob um título tal
como “resultado de tesouraria”. Os critérios de apuração destes
resultados variam significativamente, mas o analista pode geralmente
considerá-los não-recorrentes e classificá-los como secundários,
dentro do grupamento pertinente. O “resultado de tesouraria” pode
incluir, no todo ou em parte, os efeitos de flutuações nas taxas de
juros e de câmbio que devem ser eliminados da receita líquida de
juros para efeito de análise. O analista não deve assumir, entretanto,
que a receita líquida de juros demonstrada está livre dos efeitos dessas
flutuações, a menos que ele esteja convencido de que os critérios de
apuração asseguram que estes efeitos estejam integralmente refletidos
no “resultado de tesouraria”.

Itens de receita que apresentam alta variabilidade, a


porção variável destes itens que tenham sido divididos e itens de
receita sujeitos à manipulação podem ser estimados utilizando-se a
média histórica, se eles tiverem caráter recorrente. Outras despesas
secundárias também podem ser estimadas desta forma. Todos estes
itens continuarão sendo classificados como secundários e suas
estimativas terão necessariamente um grau menor de confiabilidade.

Por princípio, os resultados de subsidiárias não-


financeiras não deverão ser considerados na avaliação da capacidade
de geração de resultados de instituições financeiras. Não obstante,
no caso de subsidiárias não-financeiras que tenham um alto grau de

161
Relatório de Estabilidade Financeira Novembro 2002

integração com as instituições financeiras do conglomerado, o


analista deve estar ciente de que a administração das empresas tem
a faculdade de transferir resultado entre elas, bem como do problema
da compensação entre empresas do mesmo grupo por serviços
prestados ou benefícios proporcionados por umas às outras. O
analista deve considerar a lucratividade global do conglomerado e a
contribuição para a mesma das atividades financeiras e não-
financeiras. Se a lucratividade global é alta, mas o resultado das
atividades financeiras é fraco, por exemplo, isso não significa
necessariamente que as atividades financeiras são pouco rentáveis e
que as não-financeiras são altamente lucrativas, porque existe a
possibilidade de que esteja ocorrendo transferência de resultado entre
as empresas financeiras e as não-financeiras, deliberadamente ou não.
O analista pode ter que mencionar esta possibilidade em suas
conclusões sobre a capacidade de geração de resultados das
atividades financeiras.

Até o ponto em que uma adequada separação de receitas


e despesas estruturais e secundárias for efetivamente atingida, a
evolução dos principais fatores subjacentes à atividade financeira
estará refletida nos determinantes estruturais, enquanto que os efeitos
não-recorrentes se refletirão nos determinantes secundários.
Analisando os itens em cada categoria, será possível ter uma idéia
da evolução da lucratividade estrutural e da influência dos
determinantes secundários sobre os resultados. Será também possível
identificar eventos que tiveram impacto significativo sobre os
resultados e possivelmente revelar manobras contábeis utilizadas pela
administração para esconder ou compensar estes impactos.

Passando à análise das receitas e despesas estimadas, o


lucro operacional bruto estimado deve primeiramente ser comparado
com as despesas secundárias recorrentes estimadas. A margem do
lucro bruto operacional sobre as despesas secundárias recorrentes é
uma indicação conservadora dos resultados futuros. Uma margem
saudável é sinal de lucratividade sustentável, enquanto que uma
margem pequena ou negativa é sinal de capacidade insuficiente de
geração de resultados.

A informação contida nas demonstrações financeiras


geralmente permite ao analista fazer apenas uma estimativa grosseira
dos resultados. Dúvidas significativas sobre itens relevantes

162
Relatório de Estabilidade Financeira Novembro 2002

provavelmente restarão, e o analista será tão somente capaz de definir


uma faixa aonde os resultados futuros deverão se situar. Mas mesmo
tal faixa, ainda que imprecisamente definida, poderá se constituir
em uma indicação razoável da capacidade de geração de resultados
da instituição. O analista pode utilizar os níveis de capacidade de
geração de resultados descritos no item 6 como um guia geral para
a formulação de conclusões sobre a capacidade de geração de
resultados, baseadas nos resultados estimados e em outras
informações.

Apenas informações muito genéricas sobre a composição


dos resultados podem ser obtidas nas demonstrações financeiras. A
proporção entre a receita líquida de juros e a receita de serviços
pode ser calculada, mas o analista deve ter em mente que a receita
líquida de juros estará provavelmente contaminada pelos efeitos de
flutuações nas taxas de juros e de câmbio. Uma estimativa grosseira
da distribuição das receitas entre fontes sustentáveis e não-
sustentáveis pode ser obtida comparando-se as receitas estruturais
com as secundárias. Para avaliar a contribuição relativa das várias
atividades financeiras para os resultados, o analista dependerá
inteiramente da informação que o banco decida divulgar sobre o
assunto. Sobre a sensibilidade dos resultados a modificações nas
condições de mercado, o analista terá apenas a indicação dada pela
reação das receitas e das despesas a modificações passadas nas
condições.

5 Análise de informações gerenciais

5.1 Introdução

O acesso a informações gerenciais abrangentes,


detalhadas e precisas permite ao analista implementar integralmente
a metodologia de avaliação. Os sistemas de informações gerenciais
utilizados pelas instituições financeiras, para medir o desempenho
de unidades de negócios, produtos e clientes, geralmente são ricos
em informações que podem ser aproveitadas para os propósitos da
análise. Quando estes sistemas se encontram bem desenvolvidos,
eles são a principal fonte de dados para a análise, muito embora
outras fontes, incluindo os próprios sistemas informatizados que
processam as transações, precisem algumas vezes ser utilizadas.

163
Relatório de Estabilidade Financeira Novembro 2002

O analista precisa avaliar a qualidade das informações


fornecidas pelos sistemas de medição de desempenho para determinar
até que ponto ele pode confiar nestas informações para os seus
propósitos2 . Adequação conceitual, consistência na implementação
e precisão nos dados recebidos pelo sistema são necessários para
que se possa confiar nas informações produzidas por estes sistemas.
Quando os dados de entrada são precisos, mas o sistema apresenta
defeitos internos que distorcem suas medições, o analista pode ainda
assim utilizar os dados brutos recebidos pelo sistema, embora não
possa utilizar as informações de saída produzidas pelo mesmo.

Na discussão abaixo, será assumido como premissa que


o sistema gerencial de mensuração de desempenho da instituição
sob análise contempla o conceito de custo de oportunidade do
dinheiro para a determinação da contribuição de ativos e passivos
para a receita líquida de juros, conforme discutido no item 3.2. Será
assumido também que os efeitos de flutuações nas taxas de juros e
de câmbio são capturados num caixa central, aqui denominado
tesouraria, que é o único responsável pelo gerenciamento destes riscos.

Os relatórios dos sistemas internos de mensuração de


performance são geralmente muito mais detalhados e utilizam
definições muito mais precisas para os itens de receita e despesa do
que as demonstrações financeiras. Isto permite ao analista realizar
uma melhor separação entre itens estruturais e secundários,
melhorando a precisão das estimativas e a confiabilidade das
conclusões da análise.

Os relatórios gerenciais de lucratividade apresentam a


receita líquida de juros derivada de cada ativo e passivo como o
produto de seu volume médio e spread, livre dos efeitos de
modificações nas taxas de juros e de câmbio. Isto permite ao analista
enxergar a composição da receita líquida de juros e medir os efeitos
de alterações hipotéticas nos volumes e spreads.

A maneira como os resultados de subsidiárias não-


financeiras são apresentados nos relatórios internos de mensuração
de desempenho provavelmente dá a melhor indicação sobre como
2/ De modo a evitar dupla contagem e outras inconsistências, o analista deve estar seguro de que as
informações gerenciais sobre lucratividade estejam adequadamente reconciliadas com as informações
contábeis e que todas as diferenças sejam entendidas e tratadas quando as informações gerenciais
forem utilizadas na análise.

164
Relatório de Estabilidade Financeira Novembro 2002

estes resultados devem ser tratados para efeito de análise. As


subsidiárias que têm um alto grau de integração com as instituições
financeiras aparecerão geralmente consolidadas com as mesmas
nestes relatórios, enquanto que as subsidiárias não relacionadas com
as atividades financeiras aparecerão em separado.

5.2 Procedimentos para a classificação de itens de receita e


despesa e estimação de resultados indicados

A estratégia é a mesma utilizada para a análise da


demonstração de resultados. Para os itens não discutidos abaixo, o
processo de classificação e estimação é o mesmo descrito no item 4.
Entretanto, o analista terá melhores condições para classificar itens
de receita e despesa devido à maior abrangência e profundidade da
informação encontrada nos sistemas gerenciais de mensuração de
desempenho.

O analista conseguirá progressos significativos na


determinação da receita líquida de juros estrutural e secundária,
porque os relatórios gerenciais de resultados demonstram em muito
maior detalhe a contribuição dos ativos e passivos para a receita
líquida de juros. Ele terá à sua disposição séries históricas individuais
dos volumes e dos spreads de cada ativo e passivo, o que auxilia
grandemente na avaliação da estabilidade e natureza recorrente dos
componentes da receita líquida de juros. Os ativos e passivos também
estarão alocados a unidades e áreas de negócios, o que dá indicações
adicionais sobre sua natureza.

A regra geral para classificação dos itens componentes


da receita líquida de juros como estruturais ou secundários é que
quanto mais estáveis os volumes e os spreads das operações que
geram estas receitas, e quanto mais elas forem identificadas com as
atividades principais da instituição, mais forte será o argumento em
favor de sua classificação como estruturais.

A receita líquida de juros gerada por cada ativo de renda


e passivo oneroso deve ser estimada multiplicando-se os volumes e
os spreads médios observados ao longo de um número de períodos
representativos. Para os ativos e passivos sem remuneração, a receita
ou a despesa é obtida multiplicando-se a taxa básica de juros pelo
volume médio do ativo ou passivo.

165
Relatório de Estabilidade Financeira Novembro 2002

O resultado da tesouraria merece atenção especial. A


tesouraria centraliza e gerencia o risco cambial e de taxas de juros
derivado das operações de todas as áreas de negócios da instituição.
A tesouraria também possui sua própria carteira de ativos e passivos,
tais como títulos, aplicações e captações em operações
compromissadas, depósitos interbancários e instrumentos de
gerenciamento de risco utilizados para gerenciar suas próprias
exposições ou vendidos a clientes.

A tesouraria geralmente realiza operações de trading


(definidas como aquelas em que risco de mercado, cambial ou de
taxa de juros é assumido) e também operações de intermediação
financeira que não envolvem estes riscos. As operações de trading
são especulativas e, portanto, não-sustentáveis como fontes
permanentes de receita, enquanto que as operações de intermediação
podem ou não ser sustentáveis.

Parte das receitas da tesouraria tem origem em atividades


que podem não ser mais (podendo até ser menos) arriscadas ou
variáveis em volume e spread do que as atividades de captar depósitos
e fazer empréstimos ao público. A receita destas atividades da
tesouraria poderia ser adequadamente classificada como receita
líquida de juros estrutural. A outra parte das receitas da tesouraria,
que tem origem em operações de trading, conforme aqui definidas,
é altamente incerta por natureza e deve, portanto, ser classificada
como secundária.

Entretanto, há argumentos convincentes em favor de


classificar todo o resultado da tesouraria como secundário: primeiro,
é difícil determinar a linha que separa as operações de trading
daquelas de intermediação financeira; e segundo, operações de
tesouraria, mesmo aquelas de intermediação financeira stricto sensu,
são sujeitas a condições de mercado que se modificam mais
rapidamente e a janelas de oportunidade mais estreitas do que a
maioria das atividades financeiras. O analista deve considerar estes
argumentos ao decidir sobre a classificação do resultado da
tesouraria, mas não há regras definitivas para esta classificação, que
deve ser decidida caso a caso, à luz da regra geral estabelecida
anteriormente.

166
Relatório de Estabilidade Financeira Novembro 2002

O analista deve ser conservador ao estimar o resultado


da tesouraria e outras receitas líquidas de juros 3 secundárias. Ele
pode calcular as receitas médias, ou os volumes e spreads médios,
excluindo da série as observações com valores mais elevados, por
exemplo. Mesmo se a porção estável é significativa, ela pode refletir
resultados decorrentes de condições de mercado anômalas, tais como
altas taxas de juros internas em relação às externas. Muito embora
estas condições anômalas possam persistir por um tempo
considerável, o analista deve assumir que elas irão deixar de existir
e que os resultados delas decorrentes são não-sustentáveis.

Sistemas gerenciais de mensuração de desempenho


geralmente contêm informações detalhadas sobre a provisão para
perdas em créditos, incluindo os montantes de provisões e de perdas
para cada linha de crédito. Um histórico detalhado das provisões e
perdas é de grande auxílio para o analista na estimação de despesas
de provisões. Ele deve, entretanto, examinar cuidadosamente a série
histórica correspondente a cada linha de crédito de maneira a
identificar mudanças significativas na razão entre despesas de
provisão e volume. Mudanças neste índice podem ser reflexo de
mudanças no conservadorismo ou mesmo no nível de risco de crédito.
O analista pode ter interesse em investigar a causa destas mudanças
antes de escolher os períodos representativos, para efeito de
determinação da taxa de perda a ser utilizada para a estimação das
despesas de provisão relativas a cada linha de crédito.

A classificação mais adequada das receitas e despesas


como estruturais ou secundárias, tornada possível pelo uso de
informações gerenciais, dá ao analista uma visão mais clara da
evolução dos determinantes estruturais da lucratividade e dos efeitos
dos determinantes secundários. O analista também poderá enxergar
separadamente a evolução de volumes e spreads, o que auxilia
grandemente na identificação das causas subjacentes a variações na
receita líquida de juros.

A utilização de informações gerenciais provavelmente


permitirá ao analista fazer uma estimativa de resultados mais
confiável do que é possível se fazer utilizando-se dados contábeis
apenas. O analista deverá ser capaz também de definir uma faixa
3/ Receitas líquidas de juros secundárias têm origem em ativos e passivos cujos volumes são considerados,
no todo ou em parte, não-sustentáveis.

167
Relatório de Estabilidade Financeira Novembro 2002

mais estreita para os resultados futuros esperados.


Conseqüentemente, será possível formular conclusões mais
definitivas sobre a capacidade de geração de resultados da instituição
financeira.

A classificação das receitas realizada para efeito de


estimação de resultados é a base para a análise da contribuição de
fontes sustentáveis e insustentáveis de receitas para o resultado. A
margem de receitas sustentáveis sobre as despesas recorrentes e os
índices de receitas não-sustentáveis sobre o total das receitas e sobre
o resultado são indicadores muito importantes da sustentabilidade
das receitas e da lucratividade a longo prazo. Diretrizes para a
interpretação de informações sobre a contribuição de receitas
sustentáveis e não-sustentáveis para os resultados podem ser
encontradas no item 6.

Os sistemas gerenciais de mensuração de desempenho


geralmente calculam os resultados por unidades de negócios,
produtos e clientes, e o analista pode se valer desta informação de
modo a identificar as principais fontes de resultado. É preciso
cuidado, entretanto, porque estas medições são freqüentemente
distorcidas por critérios inadequados de alocação de receitas e
despesas. É razoável crer que riscos significativos estarão associados
às principais fontes de resultados, e os supervisores bancários podem
querer levar isso em consideração em suas decisões sobre a alocação
de recursos de supervisão.

O analista será capaz de avaliar os efeitos sobre os


resultados de modificações nos volumes e spreads dos ativos e
passivos, nos níveis de provisionamento para perdas em créditos, na
taxa básica de juros e nos níveis de receitas de serviços e despesas
administrativas, substituindo os dados estimados por valores
hipotéticos correspondentes às hipóteses que queira testar. Testes
de stress também podem ser realizados, modificando o valor de uma
variável, tal como a taxa básica de juros, até que os resultados
cheguem a um nível predeterminado.

Hipóteses relevantes a serem testadas poderiam ser:


desenvolvimentos esperados nas condições de mercado, tais como
reduções nos spreads ou na receita de serviços; reduções nos volumes
de ativos devido a problemas de qualidade de ativos; modificações

168
Relatório de Estabilidade Financeira Novembro 2002

na capitalização, com conseqüentes alterações no ativo total e na


composição do mesmo; e não atingimento apenas parcial de receitas
ou despesas orçadas.

Para a formulação de cenários complexos que


compreendam muitas variáveis, o analista pode se utilizar do
planejamento operacional e do orçamento corporativo, que refletem
as expectativas da instituição para a maioria dos fatores relevantes.
O analista pode comparar estas expectativas com a performance
passada e formular cenários considerando, por exemplo, atingimento
parcial de melhoras de desempenho esperadas.

Ao fazer a análise de acordo com os procedimentos


apresentados acima, o analista terá obtido um conjunto de
informações sobre o nível, composição e sensibilidade dos resultados.
O item 6 contém diretrizes para a interpretação destas informações
e a formulação de uma conclusão geral sobre a capacidade de geração
de resultados de instituições financeiras.

6 Níveis de capacidade de geração de resultados

Com o objetivo de auxiliar o analista na formulação de


suas conclusões, as principais situações usualmente encontradas em
relação à capacidade de geração de resultados das instituições
financeiras (no que diz respeito ao nível de resultados, à distribuição
das receitas entre sustentáveis e não-sustentáveis e à sensibilidade
dos resultados a modificações nas condições de mercado) foram
agrupadas abaixo em três categorias representando níveis sucessivos
de capacidade de geração de resultados. A capacidade de geração
de resultados de uma instituição financeira pode ser considerada:

a) Satisfatória

– os resultados provavelmente cobrirão consistentemente o


custo de capital. Bancos com resultados satisfatórios atingem
suas metas de rentabilidade, que refletem o custo de capital
percebido4 pela instituição e são usualmente utilizadas pelos

4/ O custo de capital percebido internamente pela instituição pode ser aceito como benchmark para a
avaliação da capacidade de geração de resultados, a menos que ele se desvie significativamente de
padrões de mercado sem boas razões para isso.

169
Relatório de Estabilidade Financeira Novembro 2002

sistemas gerenciais de mensuração de performance como


parâmetro para cálculo do custo sobre o capital alocado a
unidades de negócios e à organização como um todo;
– os resultados são baseados em fontes sustentáveis. O lucro
operacional bruto é suficiente para cobrir provisões e outras
despesas secundárias recorrentes, e para proporcionar um
retorno atrativo, do ponto de vista do investidor, sobre o
capital. Resultados oriundos de fontes não-sustentáveis
incrementam os lucros, mas a instituição não depende deles
para atingir suas metas de rentabilidade;
– a instituição pode resistir a modificações adversas relevantes
nas condições de mercado sem ter sua lucratividade
significativamente prejudicada. Isso significa que a instituição
pode suportar uma recessão, um aumento na concorrência
ou uma elevação nos custos operacionais sem se tornar
deficitária, o que aconteceria somente se modificações
adversas extremas, e improváveis, ocorressem.

Uma posição de mercado forte no segmento, uma sólida


base de capital e práticas prudentes de gerenciamento de riscos
complementam o quadro de uma instituição com boa capacidade de
geração de resultados, indicando que esta situação deve permanecer
no futuro.

Bancos com capacidade satisfatória de geração de


resultados recorrem à manipulação de resultados contábeis
principalmente por razões tributárias e de mercado. Eles podem
retardar o reconhecimento de resultados de modo a protelar o
pagamento de impostos, por exemplo, bem como manipular os
resultados divulgados na tentativa de influenciar o preço de mercado
dos seus papéis, principalmente pela atenuação de flutuações
acentuadas nos lucros. Estas instituições podem ser excessivamente
conservadoras em suas práticas contábeis de maneira a não
reconhecer parte dos resultados de períodos bons, acumulando assim
alguns lucros escondidos que podem ser utilizados para incrementar
os resultados de períodos ruins. Entretanto, em bancos com
capacidade satisfatória de geração de resultados, mesmo quando o
conservadorismo contábil é reduzido com o objetivo de aumentar o
lucro contábil, não é provável que ele seja reduzido abaixo de padrões
mínimos aceitáveis.

170
Relatório de Estabilidade Financeira Novembro 2002

b) Insatisfatória

– os resultados indicados da instituição são positivos, mas


insuficientes para cobrir o custo de capital. Os resultados
futuros provavelmente não atingirão as metas de rentabilidade
a menos que mudanças estruturais positivas ocorram e/ou
que as condições de mercado melhorem consideravelmente;
– a instituição depende de resultados de fontes insustentáveis
para atingir as metas de rentabilidade. O lucro operacional
bruto deixa apenas uma pequena margem sobre as despesas
secundárias recorrentes e, a menos que a instituição obtenha
resultados não-recorrentes substanciais, os lucros são baixos;
– modificações adversas relevantes nas condições de mercado
prejudicariam severamente a lucratividade da instituição.
Desenvolvimentos adversos concebíveis, quando considerado
o conjunto de cenários prováveis de negócios, causariam
reduções drásticas nos resultados. A ocorrência de perdas
extraordinárias, proporcionais aos riscos usualmente
incorridos, seria suficiente para eliminar os lucros ou causar
prejuízos.

Instituições com lucratividade insatisfatória podem, por


exemplo, estar sofrendo competição pesada, ter uma escala de
operações insuficiente, ter baixa eficiência de custos e/ou ter recursos
insuficientes para investimento e expansão de ativos, apresentando
estreitas margens de capital e liquidez em suas demonstrações
financeiras. Estas instituições podem recorrer a um aumento nas
suas exposições a riscos na tentativa de melhorar seus resultados, o
que pode levar a perdas graves e à deterioração de sua situação
financeira. Evidências destas situações, juntamente com baixos
resultados indicados, sugerem perspectivas duvidosas de
lucratividade futura.

Razões tributárias e de mercado também são as principais


que motivam a manipulação de resultados no caso de instituições
com lucratividade insatisfatória. Razões de mercado, entretanto,
provavelmente terão maior importância, porque os resultados tendem
a flutuar mais e os prejuízos a serem mais freqüentes. Às vezes, o
conservadorismo contábil pode cair abaixo de padrões mínimos
aceitáveis.

171
Relatório de Estabilidade Financeira Novembro 2002

c) Altamente insatisfatória

– os resultados indicados para a instituição são negativos e


deverão, provavelmente, piorar à medida que as perdas
consomem o capital e a liquidez, a menos que modificações
estruturais importantes ocorram, tais como uma extensiva
reestruturação envolvendo, na maioria das vezes, injeção de
novo capital, ou que as condições de mercado melhorem
dramaticamente;
– o lucro operacional bruto é negativo ou insuficiente para
cobrir as provisões e outras despesas secundárias recorrentes,
e a instituição depende de resultados de fontes não-
sustentáveis para cobrir despesas recorrentes. A ausência de
resultados não-recorrentes significativos resulta em prejuízos
relevantes no período;
– modificações positivas substanciais nas condições de mercado
não seriam suficientes para restaurar a lucratividade; apenas
melhoramentos extremos, e altamente improváveis, seriam.
A ocorrência de perdas proporcionais às exposições a riscos
causaria prejuízos graves no período.

Pode-se esperar que uma instituição com capacidade de


geração de resultados altamente insatisfatória apresente uma situação
financeira frágil, com liquidez decrescente e uma combalida base de
capital. Um relaxamento nos padrões de prudência no gerenciamento
de riscos também pode ser esperado, como um reflexo de tentativas
desesperadas da instituição de reverter seus prejuízos, através de
operações de alto risco, cortes de despesas nas áreas de controles e
critérios de aprovação de crédito mais liberais, por exemplo.
Resultados indicados fracos, combinados com sinais de deterioração
da situação financeira e aumento imprudente das exposições a risco,
apontam para perspectivas de lucratividade altamente negativas.

A principal razão para manipulação de resultados


contábeis por instituições financeiras com capacidade de geração de
resultados altamente insatisfatória é a preocupação de esconder os
seus prejuízos do mercado, do público e das autoridades supervisoras.
Estas instituições podem deixar de fazer provisões suficientes para
perdas prováveis e podem também deixar de reconhecer perdas já
ocorridas. Receitas de juros podem continuar a ser apropriadas sobre
ativos irrealizáveis, inflando os resultados com receitas que não

172
Relatório de Estabilidade Financeira Novembro 2002

devem ser recebidas. Estas práticas levam à apresentação de


resultados melhores do que os reais, e instituições que recorrem a
este tipo de manipulação freqüentemente pagam impostos
substanciais sobre lucros não efetivamente auferidos. Bancos que
procuram esconder perdas significativas e recorrentes
freqüentemente deixam de atender os padrões mínimos aceitáveis
de conservadorismo contábil, e uma inspeção provavelmente
encontrará sérias inconsistências nas suas demonstrações financeiras.

O analista deve considerar também a evolução dos


resultados e a capacidade da instituição de melhorá-los, que depende
dos seus recursos e da capacidade dos seus administradores. Uma
instituição com resultados insatisfatórios, mas com amplo acesso a
capital para investimento e uma boa administração, tem obviamente
melhores chances de melhorar sua posição do que uma instituição
com resultados declinantes que tem pouco acesso a capital e carece
de capacidade gerencial.

Instituições com capacidade de geração de resultados


satisfatória são demonstradamente viáveis e é improvável que sua
situação se deteriore rapidamente. Instituições com capacidade de
geração de resultados insatisfatória tem uma viabilidade mais precária
e sua situação pode declinar se não forem obtidos progressos
organizacionais ou se as condições de mercado se deteriorarem
substancialmente. Estas instituições demandam monitoramento para
detectar qualquer deterioração na capacidade de geração de
resultados que possa indicar perda de viabilidade econômica e risco
potencial de dificuldades financeiras. Instituições com capacidade
de geração de resultados altamente insatisfatória são inviáveis e
provavelmente se tornarão insolventes em algum momento no futuro,
a menos que ações corretivas adequadas sejam tomadas pelos
administradores ou pela autoridade supervisora. Estas instituições
demandam ação imediata por parte da supervisão bancária, com o
objetivo de avaliar a extensão das perdas que já possam ter sido
incorridas e de monitorar seus resultados e a evolução de sua situação
financeira.

173
Relatório de Estabilidade Financeira Novembro 2002

Referências bibliográficas

THE STAFF OF ERNST & YOUNG LLP. The Ernst & Young Guide
to Performance Measurement for Financial Institutions: Methods
for Managing Business Results. McGraw-Hill Professional
Publishing; ISBN: 1557387370; revised edition (November 1, 1994).

ANTHONY SAUNDERS. Financial Institutions Management .


Irwin/McGraw-Hill; ISBN: 007303259X; 3rd edition (July 29, 1999).

GRAHAM, Benjamin; DODD, David. Security Analysis: The Classic


1934 Edition. McGraw-Hill Professional Publishing; ISBN:
0070244960 (October 1, 1996).

MATTEN, Christopher. Managing Bank Capital: Capital Allocation


and Performance Measurement . John Wiley & Sons; ISBN:
0471851965; 2nd edition (May 23, 2000).

BASEL COMMITTEE ON BANKING SUPERVISION (2002).


Supervisory Guidance on Dealing with Weak Banks. Report of the
Task Force on Dealing with Weak Banks. Basel: Bank for
International Settlements.

GROUP OF TEN (1997). Financial Stability in Emerging Market


Economies. Report of the Working Party on Financial Stability in
Emerging Market Economies. (E) April, 1997; ISBN: 9291319023.

174
Relatório de Estabilidade Financeira Novembro 2002

Apêndice

Administração do Banco Central do Brasil

Unidades centrais do Banco Central do Brasil

Siglas

175
Relatório de Estabilidade Financeira Novembro 2002

Administração do Banco Central do Brasil

Diretoria Colegiada

Armínio Fraga Neto


Presidente

Carlos Eduardo de Freitas


Diretor

Beny Parnes
Diretor

Edison Bernardes dos Santos


Diretor

Ilan Goldfajn
Diretor

Luiz Fernando Figueiredo


Diretor

Sérgio Darcy da Silva Alves


Diretor

Tereza Cristina Grossi Togni


Diretor

177
Relatório de Estabilidade Financeira Novembro 2002

Unidades centrais do Banco Central do Brasil (31-julho-2002)

Departamento de Administração Financeira (Deafi) Procuradoria-Geral (Dejur)


Chefe: Jefferson Moreira Procurador Geral: Carlos Eduardo da Silva Monteiro

Departamento de Gestão de Recursos Humanos e Departamento do Meio Circulante (Mecir)


Organização (Depes) Chefe: José dos Santos Barbosa
Chefe: João Antônio Fleury Teixeira
Departamento de Normas do Sistema Financeiro (Denor)
Departamento de Administração de Recursos Materiais Chefe: Carlos Eduardo Sampaio Lofrano
(Demap)
Chefe: Belmivam Borges Borba Departamento de Operações Bancárias e de Sistema de
Pagamentos (Deban)
Departamento de Auditoria Interna (Deaud) Chefe: José Antônio Marciano
Chefe: Luiz Pereira Leite
Departamento de Operações de Mercado Aberto (Demab)
Departamento de Gestão de Informações do Sistema Chefe: Sérgio Goldenstein
Financeiro (Defin)
Chefe: Sérgio Almeida de Souza Lima Departamento de Operações das Reservas Internacionais
(Depin)
Departamento de Capitais Estrangeiros e Câmbio (Decec) Chefe: Daso Maranhão Coimbra
Chefe: José Maria Ferreira de Carvalho
Departamento da Dívida Externa e Relações
Departamento de Liquidações Extrajudiciais (Deliq) Internacionais (Derin)
Chefe: José Irenaldo Leite de Ataíde Chefe: José Linaldo Gomes de Aguiar

Departamento Econômico (Depec) Departamento de Organização do Sistema Financeiro


Chefe: Altamir Lopes (Deorf)
Chefe: Luiz Edson Feltrim
Departamento de Supervisão Indireta (Desin)
Chefe: Vânio César Pickler Aguiar Departamento de Planejamento e Orçamento (Depla)
Chefe: José Clóvis Batista Dattoli
Departamento de Supervisão Direta (Desup)
Chefe: Paulo Sérgio Cavalheiro Departamento de Estudos e Pesquisas (Depep)
Chefe: Marcelo Kfoury Muinhos
Departamento de Informática (Deinf)
Chefe: José Antonio Eirado Neto Departamento de Combate a Ilícitos Cambiais e
Financeiros (Decif)
Chefe: Ricardo Liao

178
Relatório de Estabilidade Financeira Novembro 2002

Siglas

APR Ativo Ponderado pelo Risco


AT&T American Telephone and Telegraph Corporation
BCE Banco Central Europeu
BIS Banco de Compensações Internacionais
BM&F Bolsa de Mercadorias & Futuros
CBLC Companhia Brasileira de Liquidação e Custódia
Cetip Central de Custódia e de Liquidação Financeira de Títulos
CMN Conselho Monetário Nacional
Copom Comitê de Política Monetária
Cosif Plano Contábil das Instituições do SFN
CPSS Committee on Payment and Settlement Systems
CVM Comissão de Valores Mobiliários
DAX Deutscher Aktienindex
DPMFi Dívida pública mobiliária federal interna
EBI Estatísticas Bancárias Internacionais
EC Exposições Concentradas
ECP Entrega contra pagamento
Embi Brasil Emerging Market Bond Index - Brasil
Embratel Empresa Brasileira de Telecomunicações
Emgea Empresa Gestora de Ativos
ETTJ Estrutura a termo de taxa de juros
EWMA Exponentially Weighted Moving Average
FASB Financial Accounting Standards Board
FDIC Federal Deposit Insurance Corporation
Fed Federal Reserve Bank
FMI Fundo Monetário Internacional
FTSE 100 Financial Times Securities Exchange Index
IASB International Accounting Standards Board
Ibovespa Índice Bovespa
ICP Brasil Infra-estrutura de Chaves Públicas Brasileira
IFT Informações Financeiras Trimestrais
Iosco International Organization of Securities Commissions
ISM Institute for Supply Management
LBTR Liquidação bruta em tempo real
LDL Liquidação Diferida Líquida
LFT Letras Financeiras do Tesouro

179
Relatório de Estabilidade Financeira Novembro 2002

Nasdaq National Association of Securities Dealers Automated Quotations


NBCE Nota do Banco Central - Série E
NTN Nota do Tesouro Nacional
NYSE New York Stock Exchange
OCC Office of the Comptroller of the Currency
PEPS Primeiro que entra primeiro que sai
PIB Produto Interno Bruto
PL Patrimônio Líquido
PLA Patrimônio Líquido Ajustado
PLE Patrimônio Líquido Exigido
PR Patrimônio de Referência
PR Ajustado Patrimônio de Referência Ajustado
Proef Programa de Fortalecimento das Instituições Financeiras Federais
Proer Programa de Estímulo à Reestruturação e ao Fortalecimento do Sistema Financeiro Nacional
Proes Programa de Incentivo à Redução da Participação do Setor Público Estadual na Atividade
Bancária
PVP Pagamento contra pagamento
RSFN Rede do Sistema Financeiro Nacional
SCR Sistema Central de Risco de Crédito
Selic Sistema Especial de Liquidação e de Custódia
S&P Standard and Poor’s
SFN Sistema Financeiro Nacional
SPB Sistema de Pagamentos Brasileiro
STN Secretaria do Tesouro Nacional
STR Sistema de Transferência de Reservas
TMT Empresas de telecomunicações, mídia e tecnologia
VaR Valor em Risco
WEO World Economic Outlook
XML Extensible Markup Language

180

Você também pode gostar