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A contribuição de diferentes profissões na atuação da abordagem Familiar Sistêmica

Vanessa Ruffatto Gregoviski

Para nós que trabalhamos com abordagem Sistêmica na Terapia de Família, não
é incomum adotarmos uma postura “superior” e assumir que esse enfoque não tem
relação com nenhuma outra área que não a Psi (como menciona o texto referência da
semana), porém é sempre preciso lembrarmos não só das raízes históricas dessa
abordagem, como também da riqueza do trabalho multidisciplinar que está ganhando
cada vez mais destaque nos dias atuais, e ampliarmos nosso olhar.

A Teoria Sistêmica nasce, como referencia textos estudados anteriormente, a


partir de achados da teoria geral dos sistemas, da teoria de comunicação, da cibernética
e outras, abrangendo conhecimentos não só da área humana, mas também das exatas,
sendo assim um conhecimento construído levando em conta diversos aspectos.

A família é o ambiente de formação de um indivíduo, sendo que muitas das


atitudes de seus membros reflete a dinâmica existente entre eles. Sendo assim, torna-se
impossível não procurar por uma forma de intervenção que abarque esse sistema. A
partir dessa percepção, diversos profissionais buscam ampliar sua área de atuação se
questinando sobre como podem influenciar um ambiente familiar mais sadio.

Desde o educador físico que percebe que para incentivar uma criança obesa a se
exercitar precisa dos pais, passando pelo pedagogo que nota a importância do sistema
familiar no processo educativo, até os psicólogos e psiquiatras que trabalham em
consultórios em uma abordagem sistêmica familiar, todos têm um ponto em comum,
que é buscar essa intervenção percebendo a importância da inclusão da família, de um
trabalho sistêmico e, muitas vezes, em rede.

Acredito que é necessário falar do processo antimanicomial que vivemos para


caracterizar o protagonismo que a família vem adquirindo. Até não muito tempo atrás,
diversas profissões tinham seu foco voltado para uma pessoa apenas, sem levar em
conta seu contexto historico-social, a exemplo disso tínhamos consequências como o
abandono de doentes mentais em hospitais psiquiátricos. A partir disso, diversas leis, tal
como a do Sistema Único de Saúde (BRASIL, 1990), incluem a família como um fator
de ação para promover saúde e evitar agravos ao bem estar do indivíduo que se mostra
como sintomático.

“Na atualidade a enfermagem brasileira, (...), tem se voltado para a família como
um grupo de grande potencial de acolhimento e socialização de seus membros.”
(GALERA; LUIS, 2002, p.142) Percebe-se assim que, nas singularidades de seus
saberes, cada profissão utiliza a abordagem sistêmica, ou abordagem familiar, com o
intuito de juntar forças para solucionar um dilema.

Como mencionei antes, o movimento de luta antimanicomial trouxe esse olhar


mais abrangente sobre o sujeito, então tomo como exemplo para ilustrar a abordagem de
diferentes profissões na terapia familiar sistêmica dentro de instituições os serviços
prestados no âmbito da saúde pública.

Molina et al (2007) trazem que é preciso conscientizar os profissionais sobre a


importância da presença das famílias, os autores se referem a um âmbito de UTI, mas
esse achado poderia muito bem se aplicar a toda a rede de serviços. Ao recebermos um
paciente, é fundamental fazermos algumas perguntas norteadoras para compreender sua
situação, que vai muito além de sua doença aparente. Entre aqui o início de um Plano
Terapêutico Singular (BRASIL, 2013). No PTS todos os profissionais se mobilizam em
torno do indivíduo e sua família, em uma intervenção que ouso dizer que é sistêmica, já
que engloba diversos aspectos dessa família, mesmo que não chegue a ser uma
psicoterapia propriamente dita.

Esse e muitos outros trabalhos mostram o quanto é rico essa abordagem,


principalmente quando ela é realizada de forma multiprofissional, porém, é importante
destacar que, independente de qual a categoria profissional que se utilizar da abordagem
sistêmica familiar é importante ter todo um suporte teórico forte, para estar preparado
para abraçar as demandas que serão trazidas.

REFERÊNCIAS

BRASIL. Lei nº 8080, de 19 de setembro de 1990. 1990. Disponível em: <


http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L8080.htm>. Acesso em: 25 nov. 2016-11-25
Brasil. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde. Departamento de Atenção
Básica. Saúde mental / Ministério da Saúde, Secretaria de Atenção à Saúde,
Departamento de Atenção Básica, Departamento de Ações Programáticas Estratégicas.
– Brasília : Ministério da Saúde, 2013. 176 p. : il. (Cadernos de Atenção Básica, n. 34)
GALERA; LUIS. Principais Conceitos da Abordagem Sistêmica em Cuidados de
Enfermagem ao Indivíduo e sua Família. Rev. Esc Enferm, 36, 2, 141-7. USP, São
Paulo, 2002. Disponível em: <
http://www.revistas.usp.br/reeusp/article/download/41284/44844>. Acesso em: 25 nov
2016
MOLINA; et al. Presença das Famílias nas Unidades de Terapia Intensiva Pediátrica e
Neonatal: Visão da Equipe Multidisciplinar. Rev. Enferm, 11, 3, 437-44, 2007.
Disponível em: < http://www.scielo.br/pdf/ean/v11n3/v11n3a07>. Acesso em: 25 nov.
2016.

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