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O termo primeiramente foi utilizado dentro da antropologia por Edward Tylor, um antopólogo

evolucionista, que estava preocupado em estudar a formação da ciência a partir da religião.


Tylor, influenciado pela antropologia de sua época, acreditava que a humanidade como um
todo seguia uma única linha evolutiva, como se existisse um padrão de amadurecimento da
raça humana que todos os grupos sociais estariam fadados a seguir. Dentro desta visão, a
sociedade européia era a que estava mais avançada.

Tylor preocupava-se na época em explicar o surgimento da ciência a partir da religião. E


para isso, ele explica também as transformações evolutivas que existiam dentro do
segmento religioso, sendo o politeísmo menos evoluído que o monoteísmo. Ao longo deste
estudo Tylor define o que seria para ele a base de toda religião : o animismo.

O termo para o antropólogo significava puramente a crença em seres espirituais, sendo esta
a mais fundamental forma de religião, a base do discurso acerca do não-empírico que existe
e é aceito pela fé e por crenças que segundo o antropólogo seriam irracionais e formavam
uma proto ciência.

Atualmente, o termo animismo vem sendo utilizado dentro de um contexto extremamente


diferente e mesmo na antropologia sua utilização não é a mesma da de Tylor. O aumento
de grupos étnicos e religiosos que se autodenominam animistas vem crescendo e com isso
uma necessidade de definir o que é animismo dentro do cenário atual. Assim como
xamanismo, o termo animismo não pode ser usado sem haver implicitamente um "S" no
final, isso porque a maneira com a qual cada grupo étnico e religioso "animiza" as coisas é
diferente, no entanto ele guarda dentro de si aspectos que são comuns a todos, sobretudo
dentro do campo da epistemologia e da construção do conhecimento.

Pelo senso comum, quando escutamos animismo, somos levados ao animismo norte
americano e o de algumas tribos indígenas brasileiras e africanas. Dentro destes animismos,
tudo é vivo, num sentido de que tudo possui alma ou almas, tal como um humano. Espírito
esse que pode tomar forma humana para se comunicar conosco, inclusive. Este animismo,
acaba sendo diferente do taoísta por exemplo, em que tudo possui yin e yang em certas
quantidades e é influenciado pelo céu e a terra.

Dentre todas as definições contemporâneas que eu já encontrei acerca do termo animismo,


a que mais me cativou foi a de Philipe Descola, pois a meu ver é a única que consegue
englobar todas sem tirar delas sua essência, aquilo que as une. O autor define animismo a
partir de uma análise feita através do estruturalismo. Ele parte do pressuposto de que todo
ser humano sabe que ele possui uma interioridade e uma exterioridade, ou seja,
mente/energia (ou como você preferir chamar) e uma aparência física, algo que é externo.
E a partir desta dualidade, e de seus sentidos, as pessoas começam a interpretar e a
encontrar semelhanças e diferenças entre si mesmas e o mundo que as cerca.
O autor então estipula 4 relações que podem ser estabelecidas: quando algo possui
interioridade e exterioridade similares a sua ele chama de totemismo, quando algo tem
interioridade e exterioridade distintas, analogismo, quando o objeto possui interioridade
semelhante e exterioridade diferente, animismo e por fim quando o objeto nao possui
nenhuma interioridade mas possuio uma aparencia similar, naturalismo.

Não nos interessa muito discutir sobre o naturalismo e o analogismo. Já que somente o
totemismo e o animismo nos atingem em questão de visão de mundo e religião. Deixarei de
lado por hora o totemismo e talvez eu fale um pouco sobre em outro post, já mais voltado
para a prática da forn sed.

Esta definição de animismo retrata a ideia de uma continuidade das almas/espiritos/mente,


no nosso caso a hamr, e uma descontinuidade dos corpos. A referência dada a todos os
seres do mundo ( e nisso os diferentes animismos, diferem em relação ao que é considerado
um ser ou não) é a mesma que é dada a um ser humano. Apesar dos outros seres terem
diferentes corpos, e por isso muitas vezes externalizarem de maneiras diferentes a sua
interioridade que é igual, são todos regrados pelos mesmos padrões de comportamento e
cada grupo tem suas regras, seus códigos éticos e etcs. Importante ressaltar que nessas
culturas, geralmente a palavra atribuída a raça humana é a mesma palavra que é usada
para dizer "nós", de modo que se por algum acaso um antílope falasse, ou se em algum
mito, um animal fala a palavra "nós", ele usará a palavra humano. Isso porque a palavra
humano não especifica uma raça e sim um grupo, com uma innangardr própria, com
costumes e tradições seus. Algo parecido ao nosso kindred, somente através desta noção
é que entendemos como e porque o kindred e a honra são tão importantes ao ponto de
representar em nós o que existe de humano.

Isto na prática nos coloca em um mundo que se correlaciona o tempo inteiro, o mundo se
torna algo vivo, cujas células se comunicam entre si através de suas diferentes formas. E
da mesma maneira que eu devo respeitar um outro ser humano, eu também devo fazer com
todo e qualquer outro ser vivo, que por sua vez também deve me respeitar tal como eu sou
respeitado por outro humano. Toda a vida se torna sagrada e toda vida passa a ter algo em
comum. O mundo se transforma em uma comunidade, com regras de convivência que não
podem ser quebradas sem uma consequência. A história humana é a mesma do mundo
natural, dos animais, das plantas, das águas, do céu e assim vai.

O animismo é uma filosofia apoiada pela prática, é um modo de vida e uma forma de pensar,
isto porque ela só pode ser teorizada quando afastada do contexto específico de cada
sociedade. O animismo, nada mais é do que uma tradição que os povos humanos possuem
e que assim como nós e as plantas, cada animismo possui uma exterioridade diferente, mas
uma interioridade muito semelhante. Dentro de uma visão de mundo animista, não existe
separação do astral e do físico, do mágico e do mundano, tudo é mágico, tudo é espiritual e
ao mesmo tempo tudo é físico e mundano. A vida, o respirar, o cozinhar, o comer e todos
os nossos atos são como micro rituais, são como intercomunicações entre as interioridades
semelhantes em corpos distintos.

O banho físico por exemplo é um rito de limpeza que não fica somente no físico e se expande
para aquilo que nós ocidentais influenciados pela alta magia, chamamos de aura ou corpo
astral. Isto porque a água por si só é viva e carrega com si um espírito com o qual nos
comunicamos e que se respeitado, vai nos auxiliar naquilo que for preciso. Ser
desrespeituoso com a natureza e com o mundo que nos cerca para um animista, além de
ser uma crueldade sem fim é o maior sinal de imbecilidade que se pode ter, pois se você
maltratar a vida ao seu redor, os landvaetr ao seu redor, você será igualmente maltratado e
no fim acabará se prejudicando.

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