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Revisão Final

MPU
Com base no Edital nº 01/2018 – DOE de 21.08.2018
• Revisão ponto a ponto •

Analista e Técnico do Ministério Público da União

COORDENAÇÃO
Henrique Correia

2018
Direito Administrativo

TÓPICO
CONTEÚDO PREVISTO NO EDITAL PARA
CORRESPONDENTE
ANALISTA DO MPU
DO LIVRO
1 Estado, governo e administração pública: conceitos, elementos, poderes, natureza,
1, 2 e 3
fins e princípios.
2 Direito administrativo: conceito, fontes e princípios. 1e2
3 Ato administrativo. 3.1 Conceito, requisitos, atributos, classificação e espécies. 3.2 In-
4
validação, anulação e revogação. 3.3 Prescrição.
4 Lei nº 8.112/1990 e suas alterações 5
5 Poderes da administração: vinculado, discricionário, hierárquico, disciplinar e regu-
6
lamentar.
6 Serviços públicos: conceito, classificação, regulamentação, formas e competência de
9
prestação.
7 Organização administrativa. 7.1 Administração direta e indireta, centralizada e des-
3
centralizada.
8 Controle e responsabilização da administração. 8.1 Controle administrativo. 8.2 Con-
10 e 11
trole judicial. 8.3 Controle legislativo. 8.4 Responsabilidade civil do Estado.
9 Lei nº 8.666/1993 e suas alterações. 12
10 Lei nº 10.520/2002 e suas alterações e Decreto 5.450/2005 e suas alterações. 12
11 Decreto nº 7.892/2013 e suas alterações. 12

TÓPICO
CONTEÚDO PREVISTO NO EDITAL PARA
CORRESPONDENTE
TÉCNICO DO MPU
DO LIVRO
1. Noções de organização administrativa. 3
2. Administração direta e indireta, centralizada e descentralizada. 3
3. Ato administrativo: conceito, requisitos, atributos, classificação e espécies. 4
4. Processo administrativo. 7
5. Agentes públicos. 5.1 Espécies e classificação. 5.2 Cargo, emprego e função públicos. 5
6. Poderes administrativos. 6.1 Hierárquico, disciplinar, regulamentar e de polícia. 6.2
6
Uso e abuso do poder.
7. Lei nº 8.666/1993 e suas alterações. 12
8. Lei nº 10.520/2002 e suas alterações e Decreto nº 5.450/2005 e suas alterações. 12
9. Decreto nº 7.892/2013 e suas alterações. 12
10. Controle e responsabilização da administração. 10.1 Controles administrativo, judi-
10 e 11
cial e legislativo. 10.2 Responsabilidade civil do Estado.
11 Lei nº 8.112/1990 e suas alterações 5
1. Direito Administrativo: Noções Gerais

Sumário: 1.1. Natureza jurídica. 1.2. Conceito do Direito Administrativo. 1.3. Objeto. 1.4. Fontes. 1.5. Sis-
temas Administrativos

ATENÇÃO!
O presente tema consta, apenas, no conteúdo programático (Direito Administrativo) que será cobrado para o
cargo de Analista do MPU.

1.1. NATUREZA JURÍDICA


O Direito Administrativo é ramo do Direito Público, pois tem por objetivo reger a or-
ganização e o exercício de atividades do Estado, voltadas para a satisfação do interesse
público. O Direito Administrativo regular as relações jurídicas entre as pessoas e os órgãos
do Estado e entre este e a coletividade.
Considerando que o Direito Administrativo é ramo do Direito Público, traz, essencial-
mente, em seu conteúdo, normas de Direito Público. Um cuidado importante: nem toda
norma de ordem pública é norma de ordem pública. Isso porque normas de ordem pública
são aquelas que não podem ser modificadas pela vontade das partes e que também po-
dem existir em ramos do Direito Privado, a exemplo dos impedimentos do casamento, no
âmbito do Direito Civil.

ATENÇÃO!
O Estado possui três elementos: Povo + Território + Governo Soberano. Soberania = independência no âmbito
internacional + supremacia no âmbito nacional. O Estado possui personalidade jurídica de Direito Público – o
fato do Estado atuar tanto no âmbito do Direito Público como no âmbito do Direito Privado não desfaz a perso-
nalidade jurídica de Direito Público do Estado. Por esta razão, não se adota a Teoria da Dupla Personalidade.

1.2. CONCEITO DO DIREITO ADMINISTRATIVO


A doutrina apresenta alguns critérios para conceituar Direito Administrativo. Embora
um dos critérios seja o mais completo, é importante que o candidato que se sujeitará ao
presente concurso público conheça os outros critérios e as razões para que não sejam uti-
lizados.
1) Critério da Escola do Serviço Público: Direito Administrativo é a disciplina jurídi-
ca que regula a instituição, organização e o funcionamento dos serviços públicos
e o seu oferecimento aos administrados. É considerada insuficiente, pois existem
outras funções administrativas (além do serviço público, a atividade de fomento, a
intervenção do Estado no domínio econômico e o poder de polícia), que também
constituem objeto do Direito Administrativo.
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2) Critério do Poder Executivo: Direito Administrativo é o conjunto de regras jurídicas que


disciplinam os atos do Poder Executivo. Também é considerada insuficiente, pois exis-
te Administração Pública no âmbito dos três Poderes e não apenas no Poder Executivo.
3) Critério das relações jurídicas: Direito Administrativo é o conjunto de normas que
regem as relações entre a Administração e os administrados. É insuficiente, pois
outros ramos do Direito, a exemplo do Direito Tributário, também têm por objeto
essa relação. Além disso, esse critério não abrange a organização interna da Admi-
nistração Pública, a atividade que ela exerce e os bens de que se utiliza.
4) Critério teleológico: Direito Administrativo é o sistema dos princípios jurídicos que
regulam a atividade do Estado para o cumprimento de seus fins. Embora não esteja
incorreto, é insuficiente, pois, sendo muito genérico, elementos essenciais que fa-
zem parte do estudo deste ramo do Direito.
5) Critério da Administração Pública: este é o critério que melhor conceitua o Direi-
to Administrativo. Segundo Hely Lopes Meirelles, o Direito Administrativo é caracte-
rizado como o “conjunto harmônico de princípios jurídicos, que regem os órgãos,
os agentes e as atividades públicas tendentes a realizar de forma concreta, direta
e imediata os fins desejados pelo Estado.” Deste conceito, extraem-se as característi-
cas da função administrativa: ela é concreta (para diferenciar da atividade legislativa
que é, em regra, abstrata); direta (para diferenciar da atividade jurisdicional que é,
em regra, indireta); e imediata (para diferenciar da atividade mediata, que constitui
a ação social do Estado).

ATENÇÃO!
Em relação à conceituação e compreensão do Direito Administrativo, duas escolas são apresentadas:
1) Escola legalista, exegética, empírica ou caótica: o Direito Administrativo tinha por objeto apenas a INTER-
PRETAÇÃO das leis administrativas e atos complementares – o Direito Administrativo era compreendido
como sinônimo de direito positivo.
2) Critério Técnico-Científico: atribui instituições jurídicas próprias ao Direito Administrativo, concedendo um
caráter científico ao trabalho.

1.3. OBJETO
O objeto central do Direito Administrativo são as funções administrativas. Isso por-
que, todos os temas que fazem parte do estudo do Direito Administrativo estão relaciona-
dos, de algum modo, com as atividades que são desenvolvidas pela Administração Pública
(funções administrativas), no âmbito dos três poderes. Podemos conceituar as funções
administrativas como todas as funções exercidas pelas autoridades administrativas,
sejam do Poder Executivo, do Poder Legislativo e do Poder Judiciário (pois, de acordo com
o art. 37 da CF, existe Administração Pública no âmbito dos três Poderes).
Por esta razão, o Poder Executivo, o Poder Legislativo e o Poder Judiciário podem exer-
cer função administrativa, ou seja, editar atos administrativos. Quando o Poder Legislativo
ou o Poder Judiciário, por exemplo, concede férias aos seus servidores, por exemplo, tais
Poderes estão editando atos administrativos e não editando uma lei (função legislativa) ou
aplicando o Direito (função jurisdicional).
Direito Administrativo 317

Embora os três poderes possam exercer função administrativa, importante ressaltar


que o Poder Executivo exerce função administrativa de forma típica, enquanto os demais
poderes exercem função administrativa de forma atípica.

CUIDADO
A coisa julgada administrativa não possui o mesmo significado da coisa julgada na seara judicial. No âmbito
do Direito Administrativo, a coisa julgada administrativa, não possui o poder de decisão final (imutabilidade).
Ao contrário, significa, apenas, que o assunto foi decidido definitivamente na seara administrativa, embora o
tema ainda possa ser discutido na via judicial.

NÃO CONFUNDA
Estado (pessoa jurídica de direito público composta por três elementos: povo, território e governo soberano)
X Governo (Poderes e órgãos constitucionais responsáveis pela função política do Estado): Regime de Go-
verno (Democrático x Autoritário); Forma de Governo (República x Monarquia); Sistema de Governo (Pre-
sidencialismo x Parlamentarismo); e Forma de Estado (Federação x Estado Unitário) – o nosso federalismo é
centrífugo (segregação – o Estado era unitário). Nos EUA, o federalismo é centrípeto (agregação – formação de
uma unidade com o federalismo).

ATENÇÃO!
Uma das perguntas relacionadas às funções administrativas que, corriqueiramente, é encontrada nas provas
de concursos, especialmente da área fim do Direito, diz respeito às bases ideológicas do Direito Administrati-
vo. Considerando que este ramos do Direito teve origem didática (como ramo autônomo dotado de princípios
próprios) a partir do Estado de Direito, que teve como marco histórico as Revoluções Francesas, as bases
ideológicas do Direito Administrativo são as mesmas bases ideológicas do Estado de Direito, ou seja,
legalidade + igualdade + separação dos poderes.

Por fim, cumpre saber quais são as principais funções administrativas. A doutrina apre-
senta, basicamente, quatro espécies: serviço público, poder de polícia, intervenção do
Estado no domínio econômico e atividade de fomento.

1.4. FONTES
As fontes do Direito Administrativo são divididas em primária e secundárias:
a) Fonte primária: Lei.
b) Fontes secundárias: doutrina, costume e jurisprudência.

ATENÇÃO!
Se a prova questionar sobre jurisprudência, marcar que se trata de uma fonte secundária. Se, no entanto, a
prova questionar sobre jurisprudência com caráter vinculante (a exemplo das súmulas vinculantes), marcar
que se trata de uma fonte primária.

1.5. SISTEMAS ADMINISTRATIVOS


Os sistemas administrativos correspondem aos regimes adotados pelo Estado para o
controle dos atos administrativos. Existem duas espécies:
a) Sistema do Contencioso Administrativo OU Sistema da Jurisdição Administra-
tiva OU Sistema da Dualidade de Jurisdição OU Sistema Francês: nesse sistema,
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há uma justiça administrativa (que trata das causas envolvendo a Administração Pú-
blica) e uma justiça comum (que processará e julgará as demais causas).
b) Sistema Judiciário OU Sistema Inglês OU Sistema da Jurisdição Una: há, apenas,
uma justiça, que será responsável por processar e julgar todas as causas, envolvendo
ou não a Administração Pública.
E no Brasil? Tendo em vista que o art. 5º, inc. XXXV, da CF, prevê o Princípio da Inafasta-
bilidade de Jurisdição, conclui-se que o Brasil adota o sistema judiciário, também conhecido
como sistema inglês.

ATENÇÃO 1!
Justiça desportiva (art. 217, § 1º, da CF) e Habeas Data (art. 8º, parágrafo único, da Lei nº 9.507/97: não
constituem ofensa ao princípio da inafastabilidade de jurisdição. Ao contrário, o requisito correspondente ao
esgotamento das vias administrativas tem a natureza de interesse de agir

ATENÇÃO 2!
É inconstitucional a exigência de depósito prévio ou arrolamento de bens como condição de admissibilidade
de recurso na esfera administrativa.
2. Administração Pública: Princípios Básicos

Sumário: 2.1. Considerações Gerais. 2.2. Pedras de toque do Direito Administrativo. 2.3. Princípios cons-
titucionais explícitos. 2.3.1. Princípio da legalidade. 2.3.2. Impessoalidade. 2.3.3. Moralidade. 2.3.4. Publi-
cidade. 2.3.5. Eficiência. 2.4. Princípios constitucionais implícitos. 2.4.1. Finalidade. 2.4.2. Especialidade.
2.4.3. Autotutela. 2.4.4. Motivação. 2.4.5. Continuidade do serviço público. 2.4.6. Proporcionalidade/ra-
zoabilidade. 2.4.7. Segurança Jurídica.

2.1. CONSIDERAÇÕES GERAIS


O regime jurídico administrativo pode ser definido como um conjunto sistematizado de
normas jurídicas (regras e princípios) que dão identidade ao Direito Administrativo. A ideia
de autonomia do Direito Administrativo está atrelada à existência de princípios que lhe são
peculiares e que guardam entre si uma relação lógica de coerência e unidade, compondo,
assim, um sistema.
Por que razão os temas “agentes públicos”, “atos administrativos” e “organização admi-
nistrativa”, por exemplo, são estudados em Direito Administrativo e não em Direito Civil?
Diante da existência de normas que são próprias do Direito Administrativo e que compõem
um regime jurídico administrativo.
Desta forma, os princípios que integram o regime jurídico administrativo, podem ser
objetivamente conceituados como postulados fundamentais que inspiram o modo de agir
da Administração Pública.
Importante ressaltar que hoje, para a sua prova de concurso público, o princípio, ao
contrário do que dispõe a Lei de Introdução às Normas do Direito Brasileiro, muito mais do
que um caráter interpretativo e supletivo, possui a natureza jurídica de norma jurídica. E
o que isso representa?
Significa dizer que os princípios possuem uma força cogente/força normativa, capazes
de determinar um comportamento da Administração Pública. Guardem essa frase! Alguns
exemplos reforçam essa assertiva: 1) Por que a Administração Pública não pode nomear
qualquer pessoa para ocupar um cargo público de provimento em comissão? Porque exis-
tem princípios, a exemplo do princípio da moralidade, que fundamenta a edição da Súmula
Vinculante nº 13 (como será analisado mais adiante, ainda neste tópico); 2) Por que a Ad-
ministração Pública realiza concursos públicos para o provimento de cargos públicos de
provimento efetivo? Por que existem princípios, a exemplo do princípio da impessoalidade.

ATENÇÃO!
Todos os princípios da Administração Pública são PRINCÍPIOS CONSTITUCIONAIS, pois possuem um funda-
mento na Constituição Federal.
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Existem, no entanto, princípios constitucionais explícitos, que estão escritos na Consti-


tuição Federal e princípios constitucionais implícitos (também denominados de reconhe-
cidos ou decorrentes, já que a sua existência ocorre a partir do trabalho dos estudiosos
– doutrina – e tribunais – jurisprudência). Importante ressaltar que, embora o princípio
constitucional implícito que não esteja escrito na CF, como acabamos de apontar, a Admi-
nistração Pública deve obediência da mesma forma.
Assim, cuidado com uma pegadinha muito comum de encontrarmos em provas de
concursos públicos: em caso de choque (antinomia) entre um princípio constitucional ex-
plícito e um princípio constitucional implícito, o primeiro deve prevalecer, pois está escrito
na CF? A resposta é NÃO!!! Isso porque, não existe hierarquia entre princípio constitu-
cional explícito e princípio constitucional implícito. Nesta situação, deve ser analisado o
caso concreto e, a partir da adoção da técnica da ponderação, verificado qual o princípio
que deverá prevalecer.

CUIDADO
Alguns princípios são implícitos na Constituição Federal, mas, tendo em vista todo ordenamento jurídico, são
considerados explícitos. Ex: proporcionalidade/ razoabilidade, segurança jurídica (Lei nº 9.784/99) e continui-
dade do serviço público (Lei nº 8.987/95). Esses princípios, embora implícitos na CF, estão escritos/expressos
em leis (normas infraconstitucionais) que integram o ordenamento jurídico brasileiro.

Neste momento, de forma objetiva e resumida, podemos apresentar o seguinte pano-


rama, para facilitar a nossa compreensão:
Legalidade
Impessoalidade
Explícitos Moralidade
Regras
(LIMPE) Publicidade
Eficiência

Normas Jurídicas Finalidade


Especialidade
Autotutela
Princípios Implícitos Motivação
(Constitucionais) (Reconhecidos) Proporcionalidade/razoabil.
Continuidade do serviço públ.
Segurança jurídica.

2.2. PEDRAS DE TOQUE


O sistema administrativo é constituído a partir de dois grandes princípios, que são de-
nominados de “PEDRAS DE TOQUE DO DIREITO ADMINISTRATIVO”. Isso porque todos os
princípios que integram o regime jurídico administrativo possuem fundamento nesses
dois grandes princípios: SUPREMACIA do interesse público sobre o privado e INDISPONIBI-
LIDADE do interesse público pela Administração Pública.
O interesse público presente nas duas pedras de toque, compreende a dimensão pú-
blica dos interesses pessoais, resultando do conjunto dos interesses que os indivíduos,
Direito Administrativo 321

pessoalmente, têm quando considerados em sua qualidade de membros da sociedade e


pelo simples fato de o serem.

CUIDADO
O interesse público que integra o conteúdo das pedras de toque do Direito Administrativo é o interesse pú-
blico primário ou interesse público que compreende os fins que cabe ao Estado proteger, como justiça, segu-
rança pública, e bem-estar social. Não se confunde com o interesse público secundário, que corresponde ao
interesse da pessoa jurídica de direito público de zelas pelos cofres públicos, maximizando-se a arrecadação e
minimizando-se as despesas.

• SUPREMACIA DO INTERESSE PÚBLICO SOBRE O PRIVADO (BENEFÍCIOS): informa que


os interesses públicos devem prevalecer sobre os interesses privados, sendo pressu-
posto de uma ordem social estável.
O princípio da supremacia compreende dois aspectos:
a) Prerrogativas: benefícios que a Administração Pública possui. Exs: prazos proces-
suais ampliados e prazos prescricionais especiais.
b) Supremacia propriamente dita: fundamenta a posição de autoridade (poder de
império) que tem o Poder Público frente ao particular. Exs: requisição administrati-
va; cláusulas exorbitantes nos contratos administrativos.
• INDISPONIBILIDADE, PELA ADMINISTRAÇÃO, DOS INTERESSES PÚBLICOS (RESTRI-
ÇÕES): se, por um lado, a Administração Pública possuem algumas prerrogativas
que decorrem da supremacia do interesse público sobre o interesse privado, por
outro lado, a mesma Administração Pública está sujeita a sujeições/restrições/limi-
tações que são impostas pelo ordenamento jurídico. Isso porque, o administrador
público não pode tratar o interesse público como se fosse sua propriedade. Conclui-
-se, portanto, que o princípio da supremacia é mitigado pelo princípio da indisponi-
bilidade, de modo que não pode ser considerado absoluto.
Podem ser citados como exemplos que decorrem desta segunda pedra de toque: a)
Continuidade do serviço público; b) Controle administrativo de seus atos; c) Um determina-
do servidor público do MPU não pode renunciar uma receita sem previsão legal.

ATENÇÃO!
Por não estarem escritos na Constituição Federal, os princípios da supremacia do interesse público sobre o
interesse privado e o da indisponibilidade do interesse público pela Administração Pública são considerados
princípios constitucionais implícitos.

2.3. PRINCÍPIOS CONSTITUCIONAIS EXPLÍCITOS:


Como citamos acima, tais princípios são aqueles que estão escritos/expressos na Cons-
tituição Federal. De acordo com o art. 37, caput, da CF, são os seguintes: Legalidade, Impes-
soalidade, Moralidade, Publicidade e Eficiência.

2.3.1. Princípio da legalidade:


Inicialmente, é importante ressaltar que existe um significado do princípio da legalida-
de para o particular e para a Administração Pública. Para o particular, a legalidade (geral)
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representa a ideia de vinculação negativa à lei (não contradição à lei), de modo que o par-
ticular pode fazer tudo que não está proibido pela lei. Já para a Administração Pública, a
legalidade (administrativa), representa a ideia de vinculação positiva à lei (subordinação
à lei), impondo que a Administração Pública só pode fazer o que estiver prescrito em lei.

ATENÇÃO!
Com a evolução do modelo de Estado, a legalidade administrativa também passar por uma transformação,
de modo que a Administração Pública, além de estar obrigada a cumprir um determinado dispositivo legal
(princípio da legalidade em sentido estrito), deve obediência a todo Direito, incluindo os demais princípios
constitucionais (princípio da legalidade em sentido amplo ou princípio da juridicidade). Assim, se um
servidor do TRT pratica um ato contrário ao princípio da eficiência, poderá ser anulado pela Administração
Pública ou pelo Poder Judiciário, por ofensa ao princípio da legalidade (em sentido amplo).

CUIDADO para não confundir:


1) Princípio da legalidade X Princípio da reserva legal: este significa que algumas ma-
térias somente podem ser reguladas por uma espécie normativa específica denomi-
nada lei. Ex: Criação de cargos públicos dentro do Poder Executivo.
2) Princípio da Reserva Legal X Princípio da Reserva da Administração: para este
princípio, algumas matérias somente podem ser reguladas pela própria Administra-
ção Pública, por meio de ato específico do chefe do Poder Executivo, denominado
decreto autônomo. Tais matérias estão previstas no art. 84, inc. VI, da CF:
a) Organização e funcionamento da Administração Pública, quando não implicar
em aumento de despesa nem criação ou extinção de órgãos públicos;
b) Extinção de funções ou cargos públicos, quando vagos.
3) Circunstâncias de legalidade extraordinária: medida provisória, lei delegada, Esta-
do de Sítio e Estado de Defesa.

2.3.2. Princípio da impessoalidade


Impessoal é aquilo que não pertence a uma pessoa em especial, impondo que a Admi-
nistração Pública atue com uma ausência de subjetividade, tratando os administrados sem
discriminações, boas ou ruins.
Para a nossa prova de concurso público, deve-se entender que o princípio da impes-
soalidade possui um conteúdo jurídico próprio, tendo uma relação direta com dois outros
princípios: finalidade (alcance do interesse público) e isonomia.

PEGADINHA DE PROVA!
O princípio da impessoalidade não veda qualquer tratamento diferenciado na Administração Pública, mas
apenas aqueles que não possuem respaldo no Direito. Assim, é possível que a Administração Pública publique
um edital de concursos públicos apenas para mulheres, sem que tal restrição ofenda o princípio da impes-
soalidade. Basta que essa restrição seja compatível com as atribuições que são próprias do cargo público a
serem ocupados. Exemplo: concurso público destinado ao provimento de cargos públicos, cujas atribuições
compreendem a revista das presidiárias nos presídios femininos.

Por fim, ressalta-se que o princípio da impessoalidade também deve ser analisado sob
a ótica do agente, de modo que o ato por ele praticado pertence à pessoa jurídica da qual
Direito Administrativo 323

ele faz parte. É o que fundamenta a responsabilidade civil objetiva do Estado, prevista no
art. 37, § 6º, da CF.

2.3.3. Princípio da moralidade


A moralidade administrativa deve ser compreendida como um conjunto de regras de
conduta (inspiradas nos valores morais sociais) que são retiradas da rotina e da disciplina
existente internamente na Administração Pública, refletindo o seu modo de atuar e condi-
cionando todo agir administrativo.
A moral que é protegida pelo princípio da moralidade não é a moral comum ou social
(normas sociais de conduta), mas, sim, a moral administrativa ou jurídica, que é definida a
partir da adoção de critérios objetivos extraídos das normas de conduta do agente público
previstas no nosso ordenamento jurídico.

CUIDADO 1
Nem todo ato imoral é ilegal. Ex: atual prefeito que, desejando inviabilizar o orçamento para a Administração
seguinte, concede aumento excessivo aos servidores públicos antes dos 180 dias do término do mandato
(prazo previsto na lei para que haja o referido aumento).

CUIDADO 2
– Moralidade = probidade? Resp.: SIM (como princípios).
– Imoralidade = improbidade? Resp = NÃO (como infrações). Considerando que a Lei nº 8.429/92 prevê três
espécies de atos de improbidade administrativa (enriquecimento ilícito, prejuízo ao erário e ofensa a princí-
pios da Administração Pública), tem-se que a ofensa ao princípio da moralidade (imoralidade) constitui uma
espécie de improbidade (art. 11 da Lei nº 8.429/92).

CUIDADO 3
Súmula Vinculante nº 13 (vedação à prática do nepotismo): “A nomeação de cônjuge, companheiro ou paren-
te em linha reta, colateral ou por afinidade, até o terceiro grau, inclusive, da autoridade nomeante ou de ser-
vidor da mesma pessoa jurídica investido em cargo de direção, chefia ou assessoramento, para o exercício de
cargo em comissão ou de confiança ou, ainda, de função gratificada na administração pública direta e indireta
em qualquer dos poderes da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios, compreendido o ajuste
mediante designações recíprocas, viola a Constituição Federal.”

Observações importantes sobre a SV nº 13:


a) A vedação à prática do nepotismo independe de lei em sentido formal, pois os prin-
cípios constitucionais da Administração Pública, especialmente os princípios da mo-
ralidade, impessoalidade e eficiência, por si só, vedam tal prática.
b) De acordo com a orientação do STF, os agentes políticos, a exemplo dos Secretários
de Estado, quando estes são os destinatários da nomeação, não são atingidos pela
SV nº 13. Assim, o Governador do Estado pode nomear a sua esposa para o cargo de
Secretária de Estado da Ação Social, sem que essa nomeação constitua nepotismo.
c) Também de acordo com a orientação do STF, os membros do Tribunal de Contas,
não obstante a forma de investidura, não são considerados agentes políticos, mas,
ao contrário, agentes administrativos, de modo que, a sua nomeação é atingida pelo
teor da Súmula Vinculante nº 13.
324 Revisão Final – MPU

d) Para o STF, o Tribunal de Contas tem competência para analisar a existência de ne-
potismo nas nomeações.
e) Em recente julgado, o STF entendeu que pode ser afastada a aplicação da SV nº 13
se não houver subordinação funcional ou hierárquica, direta ou indireta, entre os
nomeados e se não for demonstrada a influência na nomeação. No caso concreto,
o sobrinho do chefe de gabinete de um dos conselheiros foi nomeado para ocupar
outro cargo em comissão. O STF entendeu que a presunção de ofensa aos princípios
da Administração Pública é relativa, de modo que, se não for demonstrada a influên-
cia na nomeação, não deve incidir a SV nº 13.

2.3.4. Princípio da publicidade:


O princípio da publicidade determina que as informações sejam, como regra, divul-
gadas, a fim de que haja a transparência do ato administrativo e facilite o controle do
próprio ato. Estas são as duas finalidades que se destacam do princípio da publicidade e
que você, concurseiro, precisa guardar: transparência + controle.
Para a nossa prova de concurso, devemos entender que o princípio da publicidade é
relativo, pois algumas informações são protegidas pelo sigilo (informações relacionadas à
intimidade das pessoas; à segurança da sociedade e do Estado).
A publicidade é condição para a eficácia do ato administrativo (aptidão para produ-
zir efeitos e, como regra, ocorre com a publicação no Diário Oficial. “Como regra” porque
eventualmente a informação é publicada em outro meio, como, por exemplo, jornal diário
de grande circulação, quando não há imprensa oficial.

2.3.5. Princípio da eficiência:


O princípio da eficiência exige que a Administração atue com economicidade (fazer
mais com o menos), de modo que sejam eliminados processos considerados burocráticos.
Este princípio foi explicitado na Constituição Federal pela Emenda Constitucional nº
19/98, que teve por objetivo implantar na Administração Pública brasileira a figura do Estado
Gerencial. Algumas decorrências do princípio da eficiência são comuns de serem cobradas
em provas de concursos públicos: a) Estabelecimento de metas; b) Aferição de resultados;
c) Ampliação de autonomia dos entes administrativos; d) Redução dos controles de ativida-
des-meio; e) Contrato de gestão; f) Avaliação especial de desempenho; g) Avaliação periódi-
ca de desempenho; h) Gestão participativa dos usuários no serviço público (art. 37, § 3º, CF).
Importante ressaltar que o princípio da eficiência incide tanto no âmbito interno, quan-
to no âmbito externo, nos seguintes termos:

Serviços Externos Direitos dos usuários


(usuários do SP) Responsabilidade dos prestadores
Eficiência
Serviços Internos Economicidade
(agentes públicos) Boa-qualidade

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